A exploração de Desmond Holdridge à zona fronteiriça de Roraima e o índio do “mundo perdido” entre ciência e romance.

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A exploração de Desmond Holdridge à zona fronteiriça de Roraima e o índio do “mundo perdido” entre ciência e romance. CARLO ROMANI1 A região de fronteira entre os atuais Estados de Roraima com a Guiana e a Venezuela foi palco de diferentes disputas limítrofes solucionadas somente no início do século XX. Um dos motivos para o acirramento do conflito diplomático entre o Brasil e o Reino Unido na década de 1840 foi a acusação feita pelo governo britânico ao brasileiro de escravização de indígenas Makushis e Wapishanas na região de Pirara, atualmente pertencente à Guiana. Desde então uma série de expedições científicas e outras nem tanto assim, encabeçadas por geógrafos, engenheiros, naturalistas, ou simplesmente exploradores, percorreu essas terras fronteiriças do alto Rio Branco, para descrever o território, a fauna, a flora e, também, suas populações nativas. Nesta comunicação enfocaremos as expedições científicas lideradas pelo explorador Desmond Holdridge, que esteve a serviço do Brooklyn Museum entre os anos de 1930 e 1933. Holdridge, um aventureiro norte-americano que já havia explorado anteriormente o Ártico e o Caribe em busca de material para suas narrativas de romance etnográfico, alcançou o norte de Roraima em duas oportunidades subindo o rio Branco entre os anos de 1930 e 1932. Além dos relatórios da viagem publicados na American Geographical Review, Holdridge escreveu uma extensa obra literária em que produziu uma representação idealizada desse indígena amazônico em suas fronteiras mais interiores (o que ele chama de mundo perdido). Um índio prestes a ser submetido, como o foram seus antecessores, ao contato predatório com o homem “civilizado”. Seu primeiro livro sobre o Brasil, Pindorama jungle to you (1933), funcionou como uma divulgação do caráter exótico da sociedade brasileira aos olhos estrangeiros. Mas, é o tema da superioridade moral desse índio naif, quando em contato com homens ocidentais e exploradores sem caráter, que aparece no caso do protagonista de Death of a commom man (1940), também transposto para o cinema com o título de End of River (1947). Abordaremos nesta comunicação a construção dessa dupla narrativa (literária e cinematográfica) sobre a positividade da moral indígena na literatura e no cinema nesses meados do século XX. Comparando esse romance aos outros romances de Holdridge ambientados na Guiana, trabalharemos com a hipótese da permanência do antigo discurso anglo-saxão, desde a época do conflito limítrofe de Pirara, da proteção ao índio sul-americano perseguido por uma civilização ibérica escravista e desumanizada.

1 Professor Adjunto da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Unirio. Doutor em História Cultural pela Universidade Estadual de Campinas, Unicamp.

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