A fascinação weberiana: as origens da obra de Max Weber

July 31, 2017 | Autor: Sergio da Mata | Categoria: Max Weber, German history and German historiography
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As origens da obra de Max Weber

A FASCINAÇÃO WEBERIANA

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Max Weber

SÉRGIO DA MATA

Sérgio da Mata é doutor em História pela Universität zu Köln e professor do Departamento de História da Universidade Federal de Ouro Preto. Publicou os livros Chão de Deus (Wissenschaftlicher Verlag Berlin, 2002) e História & religião (Autêntica, 2010).

O político deve e necessita fazer concessões. Mas eu sou por profissão e vocação: erudito. O erudito não deve fazer quaisquer concessões.

A FASCINAÇÃO WEBERIANA

As relações de Weber com o historicismo, sua dívida intelectual para com Rickert, Jellinek, Carlyle, Meitzen e Wellhausen, a teologia política subjacente ao estudo sobre A ética protestante, tudo isso é explorado aqui numa perspectiva situada a meio termo entre a história intelectual e a história das ideias. O retrato de Weber que emerge destas investigações não chega a ser inteiramente novo, mas é sem dúvida mais complexo. A reconstrução histórica de seus anos de aprendizagem, assim como da variedade de campos disciplinares pelos quais transitou, permitem compreender melhor as razões que o levaram, mais tarde, a definir a história e a sociologia como “ciências da realidade”. Um projeto que se diria inacabado, e, por esta razão mesma, ainda digno de atenção do leitor contemporâneo. Pois como diz Weber em sua Wissenschaftslehre, “em parte alguma o interesse da ciência é, com o passar do tempo, mais intensamente posto de lado do que naquelas circunstâncias em que não se quer ver os fatos incômodos e as realidades da vida em sua dureza”.

ISBN 978 - 85 - 8054 -116 - 8

9 788580 541168

SÉRGIO DA MATA

Se há duas décadas Wolfgang Schluchter viu na A ética protestante e o espírito do capitalismo uma “história das mentalidades”, hoje estaríamos tentados a evocar a opinião de Meinecke, para quem este estudo é uma “investigação em história das ideias”. Seria possível ir ainda mais longe, e considerá-lo um predecessor distante – dado que contém uma sofisticada história do conceito de vocação/profissão (Beruf) em Lutero – da moderna Begriffsgeschichte. Os estudos reunidos neste livro, entretanto, têm outra preocupação. Ancorados num extenso trabalho de pesquisa em arquivos e bibliotecas alemãs, eles buscam lançar luz sobre as origens da obra de Max Weber, e, sobretudo, mostrar como a ciência histórica tornou-se para ele uma autêntica Grundwissenschaft. Através do estudo das constelações intelectuais que marcaram a primeira fase de sua trajetória acadêmica (do início dos seus estudos universitários em 1882 ao seu sociological turn, em 1909), o leitor será chamado a ir além das disputas metodológicas da economia política alemã de fins do século XIX, e a se familiarizar também com os intensos debates historiográficos, teológicos, filosóficos e jurídicos que marcaram as ciências humanas de seu tempo.

A fascinação weberiana As origens da obra de Max Weber

Sérgio da Mata

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M375f Mata, Sérgio da A fascinação weberiana : as origens da obra de Max Weber / Sérgio da Mata. - 1. ed. - Belo Horizonte : Fino Traço, 2013. 248 p. : il. (História ; 34) Inclui bibliografia ISBN 978-85-8054-124-6 1. Weber, Max, 1864-1920. 2. Sociologia - Alemanha - História. 3. Sociologia - História. 4. Sociologia - Filosofia. I. Título. II. Série. 13-02114 CDD: 301 CDU: 316 14/06/2013 14/06/2013

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Wer kann was Dummes, wer kann was Kluges denken, Das nicht die Vorwelt schon degacht! Goethe

Para Giulle, Lis e Maísa

Sumário A fascinação weberiana 11 Capítulo i Anos de aprendizagem de um jurista formado “numa perspectiva histórica”: Weber e o historicismo 23 Capítulo ii Da história do direito à economia: em busca da clavis weberiana 37 Excurso Depois do puritanismo: Thomas Carlyle e as raízes da filosofia weberiana da história 55 Capítulo iii Rickert e os fundamentos teóricos do pensamento histórico de Weber 67 Capítulo iv Variações histórico-conceituais sobre a gênese do tipo ideal weberiano 87 Capítulo v “O dever-ser é coisa do diabo”? Sobre o problema da neutralidade axiológica em Max Weber 101 Capítulo vi Max Weber e a ciência histórica 115 Excurso Max Weber e o destino do “despotismo oriental” 129 Capítulo vii A crítica da teologia como alternativa ao “embuste romântico”: a religião de Max Weber 135 Capítulo viii Há uma teologia política por trás d’A ética protestante? 153 Capítulo ix O mito de A ética protestante e o espírito do capitalismo como obra de sociologia 171

Capítulo x Weberianismo tropical: caminhos e fronteiras da recepção da obra de Max Weber no brasil 189 Realidade como vocação 209 Fontes e bibliografia 215

A fascinação weberiana

Em março de 1913, chegava a Heidelberg um correspondente do diário francês Le Figaro. Seu objetivo: realizar uma entrevista com Max Weber. Protestante, tido na França como um expert em assuntos germânicos, Gaston Riou não deve ter tido maior dificuldade para entabular um animado diálogo com o “mito de Heidelberg”. Interessado em conhecer melhor as novas correntes religiosas na Alemanha, Riou chegara a ele por indicação de Ernst Troeltsch. Numa carta a Lukács escrita pouco depois, Weber disse ter tido ótima impressão do jovem jornalista estrangeiro. Esta entrevista jamais veio a público. Em obra aparecida durante a primeira guerra mundial, Riou deixou-nos uma única frase sobre seu ilustre entrevistado, certamente expressão daquele encontro ocorrido três anos antes, às margens do Neckar: L’esprit le plus vivant que j’aie vu (Riou, 1916:4).1 Com esta pequena história, uma história de sedução, já estamos a falar do nosso tema: a fascinação weberiana. Tal expressão, ao que parece, foi cunhada na década de 1950 por Nelson Werneck Sodré (1985). A fascinação denota um tipo de encantamento intelectual, uma sedução, uma paixão sem a qual é impossível explicar porque tantas pessoas ainda se interessam por Weber e sua obra, da América ao Japão. Ao mesmo tempo, e é o que demonstra o caráter ambivalente do fenômeno, a fascinação frequentemente leva a uma obliteração daquilo que deveria ser o bem mais caro do intelectual: sua autonomia. Da fascinação ao sacrifício do intelecto, a distância muitas vezes é curta. Ninguém ignora, porém, que de nada vale a excelência de uma obra sem a existência de mediadores dispostos a mobilizar recursos capazes de garantir a construção e a manutenção do estatuto de clássico de um determinado autor. Ideias sem “ancoragem” institucional – de grupos de devotos a instituições de ensino ou editoras – estão condenadas a desmancharem no ar. No que diz respeito a Weber, a primeira pessoa a ter clareza disso, por motivos um tanto óbvios, foi sua esposa Marianne. “A mesa de trabalho de Max Weber é agora o meu altar”, escreveu ela em suas memórias. Com efeito, não é despropositada a caracterização que dela fez Golo Mann, ao chamá-la “vicária de Max Weber sobre a terra” (apud Hanke, 2006:30-31). Muitos dos jovens que acompanharam a última fase da vida acadêmica de Weber caíram vítimas do mesmo encantamento. Carl Schmitt, Karl Löwith, Helmuth 1 Um dos críticos de Riou afirmou que seus escritos vinham tendo “uma grande repercussão, principalmente na Alemanha” (Le Figaro, 15/09/1910). Weber se referiu duas vezes ao episódio desta entrevista (MWG II/8:107, 115). Troeltsch (1977:634) também mencionou sua própria conversa com Riou.

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