A filosofia como saber crítico

A filosofia como saber crítico

No intuito de conceber a filosofia como saber crítico, cabe analisar alguns aspectos fundamentais: a natureza humana, o próprio surgimento da filosofia e sua diferenciação do senso comum. Quanto ao homem, uma de suas maiores características é, sem dúvida, o senso de maravilha diante da realidade, procurando entendê-la. Essa capacidade de racionalidade e de comunicação – o logos – que distingue o homem dos demais animais faz com que o sujeito construa múltiplas formas de explicação, mais ou menos sólidas conforme os procedimentos lógico-metodológicos que adota ou não.
É nesse sentido que cabe analisar o surgimento da filosofia. Antes dela, predominam, na sociedade grega antiga, berço dessa disciplina, as concepções mitológicas às quais faltava um rigor nos procedimentos e explicações, fixando-se na superficialidade. A filosofia surge, portanto, como um questionamento radical, isto é, que, diferentemente do mito, buscava as raízes, os 'porquês' dos fenômenos observados no mundo exterior. Dessa forma, o saber filosófico caracteriza-se pela procura incessante pelas essências (eîdos) das coisas através de um processo contínuo e rigoroso de desocultação (aletheia). Em outras palavras, há uma busca pelo que há de imutável (as formas) por trás das aparências.
E é justamente esse conhecimento profundo das coisas que empodera o homem. É a filosofia que proporciona a força para o sujeito, conhecendo a realidade e questionando acerca dela, agir e transformá-la. Isso reforça a ideia da filosofia como um saber crítico, porque o diferencia do senso comum. Este último, diferentemente do primeiro, ao limitar-se à reprodução de opiniões comuns e socialmente compartilhadas não contribui para mudar a realidade, mas, pelo contrário, para mantê-la tal como está posta.
Por tudo isso, a filosofia, em suma, ao se elevar de um simples olhar comum sobre a realidade, que se reduz às aparências, e buscar, de forma rigorosa e metódica os 'porquês' e essências dos fenômenos, caracteriza-se como senso crítico. E é como tal que permite que o homem aja continuamente sobre o mundo que o cerca, transformando-o.