A formação do monitor para atividades de divulgação científica: o caso do Projeto “Astronomia no Recôncavo da Bahia”

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A FORMAÇÃO DO MONITOR PARA ATIVIDADES DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA: O CASO DO PROJETO “ASTRONOMIA NO RECÔNCAVO DA BAHIA” Lucas Guimarães Barros1, Sergio Luiz Bragatto Boss2, Glênon Dutra3 1

Universidade Federal do Recôncavo da Bahia/Centro de Formação de Professores/[email protected]

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Universidade Federal do Recôncavo da Bahia/Centro de Formação de Professores/[email protected] @gmail.com

Resumo O desenvolvimento deste trabalho se deu com o objetivo de analisar a formação dos monitores do projeto de divulgação científica itinerante, intitulado “Astronomia no Recôncavo da Bahia” (PARB). Faz-se, inicialmente, uma breve descrição do Projeto, passando em seguida ao problema de pesquisa. No âmbito teórico, foi realizada uma revisão de literatura no que diz respeito à formação e atuação de monitores nas atividades de divulgação científica em espaços como museus e centros de ciências. Para coleta de dados foram elaborados questionários para os monitores e entrevistas semiestruturadas com dois professores integrantes do Projeto. Como resultado da pesquisa desenvolvida, constatou-se que o processo formativo atual vivenciado pelos monitores do PARB apresenta-se ineficiente no que diz respeito à sua estrutura, organização das atividades e na preparação dos monitores para as atividades de campo. Por fim, busca-se propor algumas modificações no processo formativo, com o objetivo de sanar tais problemas e melhorar a prática dos monitores do Projeto. Palavras-chave: Divulgação científica. Formação de monitores. Exposição itinerante. Astronomia. Introdução Este trabalho apresenta os resultados de uma pesquisa realizada no ano de 2013 com os monitores do projeto de divulgação científica itinerante “Astronomia no Recôncavo da Bahia”, no Centro de Formação de Professores (CFP) da UFRB. Entendemos como divulgação científica atividades caracterizadas pela “tradução de uma linguagem especializada para uma leiga, visando atingir um público mais amplo” (ALBAGLI, 1996, p. 397), destinadas à capacitação do cidadão. Espaços como museus, centros de ciências e determinadas atividades itinerantes são exemplos de ambientes característicos onde acontecem essas atividades. É importante destacar que “divulgar” não significa necessariamente “ensinar”, tendo em vista que os objetivos de ambos são distintos. Os objetivos da divulgação científica podem contemplar tanto uma transposição de uma determinada linguagem científica, como também pode se tornar um instrumento motivador e/ou pedagógico (MARANDINO et. al., 2003, p. 1-5). Sendo assim, os objetivos dessa divulgação se constituem de maneira diversificada em função do contexto e das características dos espaços em que ocorrem as atividades. Para Vogt (2008), o objetivo da divulgação ____________________________________________________________________________________________________ 26 a 30 de janeiro de 2015

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científica é instruir o cidadão a fim de que este possa “ter opiniões e uma crítica de todo processo envolvido na produção do conhecimento científico com sua circulação e assim por diante” (VOGT, 2008, p. 2). Do ponto de vista prático, isso significa que, dentre outras coisas, tal instrução permitirá ao cidadão: (...) desmistificar a representação social da Ciência como verdade absoluta, feita por gênios, fruto de descobertas pessoais, em que o processo de produção do saber científico é idealizado e distorcido. [Permitindo] que o público entenda a Ciência como uma construção humana, dinâmica, falível e compreenda o complexo caminho por onde passa um conhecimento científico antes de ser aceito pela comunidade científica de forma consensual (ARAUJO; CALUZI; CALDEIRA, 2006, p. 18).

Vale ressaltar que o conceito de divulgação científica pode diferir de outros conceitos geralmente encontrados na literatura, tais como: alfabetização científica; letramento científico; e popularização da ciência. Não há um consenso sobre o significado de cada um desses termos. Autores como Albagli (1996, p. 397) entendem que os conceitos “divulgação científica” e “popularização da ciência” possuem o mesmo significado. Já em Germano e Kulesza (2007, p. 14-20), que analisam tais conceitos à luz da concepção educacional freireana, o conceito de divulgação científica é baseado em visões distorcidas da ciência, enquanto que a popularização da ciência é a colocação da ciência “no campo de participação popular e sob o crivo do diálogo com os movimentos sociais”. Os saberes do monitor A divulgação científica passa pelo processo de comunicação. Numa atividade de exposição, por exemplo, a comunicação ocorre efetivamente quando a atividade promove a participação dos visitantes, despertando-lhes a curiosidade. Isso porque a exposição é “um meio de comunicação que permite ao público aprender e vivenciar experiências não somente intelectuais, mas também emocionais” (CHELINI; LOPES, 2008, p. 207). Há nesta fase, portanto, uma interação entre os visitantes da exposição e o sujeito responsável por mediar a atividade – o monitor. A atividade da mediação é a colocação do sujeito numa posição de menor distanciamento entre o visitante e o objeto da exposição. É neste processo que surge a figura do monitor, cujo trabalho consiste em aproximar o público da exposição, incorporando um discurso que permita a troca de experiências e conhecimentos, refletindo e contrapondo as concepções espontâneas. Bem como deve “traduzir” o conteúdo, chamando a atenção do público, dando à exposição um aspecto lúdico, desempenhando atividades que envolvam a participação dos visitantes, apresentando o conhecimento das exposições. Utilizando para isso um vocabulário apropriado para se comunicar com o público. (SILVA, 2009, p. 20). Investigando o processo de mediação de duas monitoras de um museu de astronomia, Queiroz et. al. (2002, p. 82-85) apresentam um conjunto de saberes que estão presentes nas atividades realizadas pelo monitor. Tais saberes são organizados em três categorias que reúnem subcategorias: 1). Saberes compartilhados com a escola: Saber disciplinar; Saber da transposição didática; Saber do diálogo; Saber da linguagem. 2) Saberes compartilhados com a escola no que diz respeito à educação em ciência: Saber da história da ciência; Saber da visão da ciência; Saber das concepções alternativas. 3) Saberes mais propriamente de museus: Saber da história da instituição; Saber da conexão; Saber da história da humanidade; Saber da expressão corporal; Saber da manipulação. ____________________________________________________________________________________________________ 26 a 30 de janeiro de 2015

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O processo para aquisição de tais saberes pelo monitor passa pela prática reflexiva de modo que, diante das situações que surgem durante as atividades de interação com o público, o monitor possa criar soluções para sanar os problemas. Essa atitude do monitor em buscar a resolução de um problema, que pode ser chamada de tomada de decisão, o faz acumular experiências (SILVA, 2009, p. 24). Frente a isso, o processo formativo do monitor envolve: i) reflexão sobre a ação realizada, com o objetivo de encontrar erros na tomada de decisão e; ii) reflexão sobre a reflexão sobre a ação, em que se faz uma análise sobre a reflexão passada, buscando aperfeiçoá-la (Idem, 2009, p. 24). O projeto “Astronomia no Recôncavo da Bahia” O projeto “Astronomia no Recôncavo da Bahia” surgiu em dezembro de 2008, como projeto de extensão, voltado para a divulgação científica itinerante em cidades do Recôncavo Sul do Estado da Bahia. Os objetivos definidos a princípio são: a) preparar e formar disseminadores da astronomia entre os docentes e os discentes do Centro de Formação de Professores (CFP) da UFRB; b) realizar pesquisa de caráter diagnóstico no entorno local com o objetivo de mapear o ensino de astronomia para possíveis intervenções e; c) divulgação científica entre as escolas e comunidades da região onde se localiza o CFP/UFRB (BAHIA, 2009, p. 8). Tendo sido criado por professores do curso de Licenciatura em Física, inicialmente, o Projeto era formado por alunos provenientes deste mesmo curso. Atualmente, existem monitores provenientes de outras licenciaturas, totalizando 281 monitores ativos no Projeto. As atividades desenvolvidas pelo Projeto envolvem a observação do céu com telescópios; exibição de filmes no planetário móvel; oficinas e palestras sobre temas relacionados à Astronomia; e exposição de painéis de Astronomia. Levando em consideração as ações de divulgação científica desenvolvidas pelo Projeto, começamos a pensar a respeito da atuação dos seus monitores nos diferentes locais onde são realizadas as atividades de divulgação (universidade, escolas, praças públicas etc.), levantando questionamentos2 sobre: a) as concepções dos monitores sobre aprendizagem em diferentes espaços; b) as concepções sobre divulgação científica (teoria e prática); c) o “grau” de domínio dos conhecimentos teóricos para as atividades de divulgação; d) interação com o público visitante e; e) atitudes dos monitores em face aos questionamentos feitos pelo público. A partir dessas questões delimitamos o problema de pesquisa e os objetivos da mesma, respectivamente. i) O atual processo formativo de monitores do PARB tem formado “agentes de divulgação científica” capazes de fazer o Projeto atingir os seus objetivos? ii) Analisar criticamente o processo formativo dos monitores do projeto “Astronomia no Recôncavo da Bahia”. Metodologia Esta é uma pesquisa de natureza qualitativa, caracterizada por uma abordagem que prioriza “aspectos da realidade que não podem ser quantificados, 1

Quantidade de monitores no período em que a pesquisa foi realizada, no ano de 2013. Esses questionamentos culminaram no desenvolvimento do Trabalho de Conclusão de Curso de um dos autores deste trabalho. 2

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centrando-se na compreensão da dinâmica das relações sociais” (SILVEIRA; CÓRDOVA, 2009, p. 32). De maneira geral: Como instrumento para a coleta de dados, optamos pelo questionário (contendo 19 questões abertas) para mapear algumas informações dos monitores, e pela entrevista semiestruturada gravada em vídeo com dois professores que participam do Projeto. Além disso, com base no roteiro da entrevista semiestruturada, foi elaborado outro questionário destinado a um terceiro professor ex-integrante do PARB, que não pôde realizar a entrevista à época da pesquisa. Uma vez elaborados os instrumentos, os mesmos passaram pelo processo de validação de conteúdo, no qual há o “julgamento de diferentes examinadores, que analisam a representatividade dos itens em relação às áreas de conteúdo e à relevância dos objetivos a medir” (VIANNA, 1978, p. 173). Nesse processo, enviamos os instrumentos por e-mail para seis ex-monitores do PARB e três professores externos, da área de Astronomia e Ensino de Ciências. Dos nove sujeitos que solicitamos auxílio na validação de conteúdo, quatro destes retornaram sugerindo alterações nos instrumentos. A análise dos dados da pesquisa foi feita por meio da Análise de Conteúdo (BARDIN, 2009). No caso da entrevista semiestruturada, analisamos os vídeos gravados através da seleção de trechos contendo situações-chave (CARVALHO, 2004). Para Carvalho (1996), a gravação é um recurso que oferece uma riqueza de conteúdo, uma vez que ao rever o vídeo diversas vezes pode-se obter “dados novos que não seriam observados pelo melhor observador” (CARVALHO, 1996, p. 6), além de proporcionar a coleta de possíveis elementos que podem passar despercebidos durante a aplicação (idem, p. 6). Discussão dos resultados Os resultados desta pesquisa foram agrupados em temas3. As informações encontradas serão apresentadas na forma de tabelas, especificando as variáveis encontradas e a frequência absoluta dessas variáveis. Visando preservar a identidade dos sujeitos participantes da pesquisa durante as falas, representaremos os monitores e os professores pelas letras “M” e “P” seguidas de numeração. 1. O PARB e suas atividades Para este tema, foram organizadas duas questões que versam, respectivamente, sobre as concepções dos monitores a respeito dos objetivos do PARB e sobre os saberes que o monitor de uma exposição itinerante deve possuir. No caso da primeira questão, quase a totalidade dos monitores (89%) afirmou conhecer os objetivos do Projeto, sendo que dois monitores deixaram a questão em branco. Os dados encontrados estão reunidos na Tabela 14.

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Os dados na pesquisa foram organizados em quatro temas. Discutiremos, porém, apenas dois desses temas neste trabalho, devido ao limite de páginas. 4

O total de respostas pode ser maior que o número de sujeitos da pesquisa porque cada respondente poderia expressar mais de uma opinião. ____________________________________________________________________________________________________ 26 a 30 de janeiro de 2015

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Tabela 01: Categorias das questões 01 e 02 Categorias

Frequência absoluta

Questão 01 (os objetivos do PARB) Divulgar a astronomia no Recôncavo Baiano

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Formar monitores para as atividades

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Questão 02 (os saberes do monitor) Saber as atividades de divulgação do Projeto

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Saber manusear os equipamentos do Projeto

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Saber transpor os assuntos para o público

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Não respondeu à pergunta

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1.1) Os objetivos do PARB Aproximadamente 89% dos monitores apontaram a divulgação científica como objetivo alçado pelo PARB, como evidenciado na fala de dois monitores integrantes do Projeto: (...) [os objetivos do PARB são:] Divulgar e explorar o conhecimento acerca [sic] da astronomia. (M14) (...) levar o conhecimento científico, as comunidades principalmente estas que não tem ou não tiveram a oportunidade de conhecer ou saber. (M10).

Consultando, porém, os objetivos do Projeto descritos no documento submetido às agências de fomento (i.e., FAPESB e CNPq), constatamos que os objetivos gerais contemplam não apenas o aspecto da divulgação, mas também a preparação de docentes e discentes para tal finalidade. Isto evidencia uma diferença entre as respostas dos monitores e os objetivos estabelecidos pelo documento. É possível que isto ocorra devido aos monitores tomarem conhecimento dos objetivos do Projeto apenas “na prática”, isto é, adquirirem a noção de que o objetivo do PARB é a divulgação científica com base nas atividades de campo realizadas por eles, em vez de passarem por um momento sistematizado em que se discuta isso. Nos chama a atenção a pouca ênfase dada ao processo de formação, sendo mencionada por apenas 25% dos monitores. As frequências encontradas para ambas as categorias sinalizam que o processo formativo atual provavelmente tem enfatizado pouco os objetivos estabelecidos como eixos norteadores da própria formação dos monitores. Isto nos parece preocupante, porque aponta para a possibilidade de os monitores não terem a compreensão de que a formação deles é fundamental para que eles possam fazer o Projeto atingir seus objetivos. E, na medida em que não há tal compreensão, pode ocorrer de os monitores não atribuírem à formação deles a devida importância e respeito, culminando em um desinteresse pelo aprimoramento contínuo pelo qual devem passar. 1.2) Os saberes de um monitor de uma exposição itinerante De acordo com 52% dos monitores, para que o monitor do PARB atue em uma exposição ele deve dominar apenas determinados conteúdos de astronomia,

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por exemplo, em uma exposição ele deve dominar determinados conteúdos de astronomia. Sobre isso um monitor responde: Como o foco é voltado para a astronomia, o monitor deve ter em mente os conceitos básicos da astronomia, da astrofísica, emfim [sic]; precisa saber por exemplo: como surgiu o universo (M24).

Ter domínio conceitual é imprescindível para trabalhar de forma eficiente em um Projeto como o PARB. Todavia, compreender os conhecimentos em astronomia não é suficiente, dado que é necessário aos monitores vivenciarem uma formação sólida que os leve a outros saberes, tais como: o do diálogo; da linguagem; das concepções alternativas do público; entre outros (QUEIROZ et. al., 2002). Já 37% dos monitores disseram que o monitor deve dominar os equipamentos do Projeto. Esse deverá ser um saber ao mesmo tempo instrumental – do ponto de vista da montagem dos equipamentos – bem como um saber do diálogo (QUEIROZ et al., 2002). Na visão de um dos professores entrevistados, o monitor não deve possuir unicamente a habilidade de manusear os equipamentos em si, mas de utilizá-los de maneira que motive o visitante, conhecendo as suas expectativas e estimulando-o. Quando isso não acontece, o visitante pode acabar se frustrando com a atividade: A gente vai pra praça, coloca o telescópio empolgado e as pessoas saem frustradas. Então, a gente tem que trabalhar isso com o monitor [dizendo a ele]: Olha, é necessário estimular, é necessário direcionar a visão... Então, quando a gente fala de telescópio, o monitor é aquele que vai direcionar o olhar do espectador a olhar... A perceber coisas que ele não perceberia se olhasse o telescópio sozinho (P1).

Cerca de 30% dos monitores enfatizaram a importância do monitor conhecer o seu público visitante, influenciando na forma como sua prática é conduzida, e transpondo esse conhecimento para aquele público específico. Precisa estar ciente e preparado para lhe dar [sic] com a diversidade, com os imprevistos e seguro do que vai expor, sabendo que não é detentor do saber, mas que precisa [estar] em constante aprendizado. (M14).

Isto nos remete à prática reflexiva, em que o monitor deve estar a todo o momento refletindo sobre a sua prática, visto que o processo formativo é limitado diante da gama de situações que ocorrem em seu cotidiano. Percebemos, portanto, que a necessidade do monitor estar atento às nuances da sua atividade é pouco explorada pelo processo formativo do PARB, contribuindo muito pouco para a reflexão por parte dos mesmos sobre as atividades desenvolvidas. Além disso, nenhum dos monitores mencionou a necessidade do monitor saber mediar as atividades. Portanto, é possível que os monitores desconheçam a relevância da mediação para as atividades junto ao público. 2) A formação dos monitores segundo os professores integrantes do PARB Analisando as entrevistas feitas com os professores, constatamos que o processo formativo dos monitores do PARB foi desenvolvido através de quatro gerações de monitores, de modo que cada geração vivenciou um processo formativo diferenciado. A primeira geração era formada pelos primeiros alunos integrantes do Projeto, recém-constituído. Nessa geração, a formação era voltada para estudos teóricos de astronomia.

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(...) Como que o Professor trabalhava? Pegava um livro desse de Astronomia [apontando para o livro], entregava para o aluno, mandava ler e depois ele [o monitor] apresentava o seminário. E depois ele discutia, e ali tava [sic] todo mundo aprendendo sobre o assunto. (P1).

Era, portanto, uma geração cuja formação enfatizou fortemente o domínio dos conhecimentos teóricos e conceituais de astronomia. [as dificuldades encontradas foram a falta de:] tempo hábil para formação em astronomia teórica; (...) tempo para discutir a divulgação científica, bem como desenvolver atividades para colocar a divulgação em prática. (P3).

A segunda geração passou por um processo semelhante ao da primeira. Porém, a formação dessa geração envolveu o estudo de conteúdos relacionados tanto à astronomia como também à divulgação científica, concepções espontâneas, etc. Foi uma geração em que o processo formativo parece ter sido mais eficaz. (...) Eu preparava pré-testes, trazia pré-testes pros alunos pra verificar como é que eles estavam, e acabava que o pré-teste virava o pretexto pra... Pra trabalhar os conteúdos, porque eles [os monitores] percebiam que tinham uma deficiência naqueles conhecimentos e queriam saber sobre aquilo. (P1).

A terceira e quarta geração é formada pelos atuais monitores do PARB. Visando oferecer uma formação adequada, os monitores foram organizados em grupos, em que cada grupo é responsável por trabalhar determinado recurso do Projeto. (...) grupo de telescópio ele vai estudar a parte do telescópio (...). Uma parte do grupo que trabalha também com... Filmes. Então, esses alunos do filme eles vão aprender toda parte do guia [roteiro básico] como construção de filmes e aí ele vai mostrar nas reuniões para os demais. (P2).

Porém, diversos problemas surgiram durante o processo formativo da terceira e quarta geração. Tais problemas dizem respeito a períodos de greve ocorridos na universidade, à saída de um número significativo de professores que pertenciam ao PARB, entre outros. Consequentemente, a formação foi seriamente comprometida. (...) É bem nítido quando a gente [o PARB] viaja e alguns monitores têm muita dificuldade em muitos conteúdos, e alguns são bem dinâmicos, sabe!? Mas têm dificuldades no conteúdo. E alguns monitores não têm esse dinamismo de trabalhar com o público. (P1).

Considerações Finais Diante dos resultados, é necessário repensar todo o processo formativo do PARB, visto que os dados apontam para a ineficiência do mesmo em diversas esferas. Na esfera conceitual, é bastante ausente o embasamento teórico para a maioria dos monitores. Na esfera das atividades de divulgação, há uma compreensão bastante superficial sobre o conceito de divulgação científica. Urge também a necessidade do processo formativo levar o monitor a refletir sobre o seu papel e postura durante as exposições itinerantes, de modo que se afaste de uma postura tradicional. Para isso, é necessário que os monitores dominem saberes como os da transposição didática, bem como busquem estabelecer diálogo com o público, trocando experiências e conhecimentos. Outra preocupação que deve estar presente no processo formativo é a atenção ao tipo de público que estará participando das atividades do Projeto, determinando como essas atividades serão ____________________________________________________________________________________________________ 26 a 30 de janeiro de 2015

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desenvolvidas. Finalmente, é fundamental a necessidade da troca de experiências entre os monitores do Projeto após as atividades de campo. De posse de registros (em cadernos de nota, gravações, etc.) das suas atividades realizadas, os monitores poderão relatar dificuldades encontradas e situações das mais diversas ocorridas, efetuando-se, assim, de maneira conjunta, reflexões sobre necessárias mudanças às atividades, contribuindo para um melhor aproveitamento da prática do monitor. Referências ALBAGLI, S. Divulgação científica: informação científica para a cidadania? Ciência da Informação, v.25, n.3, p. 396-404, 1996. ARAUJO, E.S.N.N. de; CALUZI, J.J.; CALDEIRA, A.M. de A. Divulgação e cultura científica. In: Divulgação Científica e Ensino de Ciências: estudos e experiências. São Paulo: Escrituras Editora, 2006, p. 15-34. BAHIA, A.R. Edital CNPq/SECIS/MCT/ Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa, n. 64/2009. BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2009. CARVALHO, A.M.P. O uso do vídeo na tomada de dados: pesquisando o desenvolvimento do ensino em sala de aula. Revista Pró-Posições, v.7, n.19, p.513, 1996. CARVALHO, A.M.P. Metodologia de pesquisa em Ensino de física: uma proposta para estudar os processos de ensino e aprendizagem. Trabalho apresentado no IX Encontro de Pesquisa em Ensino de Física. Jaboticatubas – MG, 2004. CHELINI, M.J.E.; LOPES, S.G.B. de C. Exposições em museus de ciências: reflexões e critérios para análise. Anais do Museu Paulista, v.16, n.2, p.205-238, jul./dez. 2008. GERMANO,M.G.; KULESZA, W.A. Popularização da ciência: uma revisão conceitual. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v.24, n.50, p. 27-38. jan./mar. 2006. MARANDINO, M. et. al. A educação não formal e a divulgação científica: o que pensa quem faz? Trabalho apresentado no IV Encontro Nacional de Pesquisa e Educação em Ciências. Bauru – SP, 2003. QUEIROZ, G. et. al. Construindo saberes da mediação na educação em museus de ciências: o caso dos mediadores do museu de astronomia e ciências afins MAST/Brasil. Trabalho apresentado no I Encontro Ibero-Americano sobre Investigação em Educação em Ciências. Burgos, Espanha, p.77-88, 2002. SILVA, C.S. da. Formação de monitores de visitas escolares a um centro de ciências: saberes e prática reflexiva. Dissertação de mestrado. Bauru – SP: Unesp, 2009. SILVEIRA, D.T.; CÓRDOVA, F.P. A pesquisa científica. In.: Métodos de Pesquisa. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009, p. 31-42. VIANA, H.M. Testes em Educação. São Paulo: IBRASA, 1978. VOGT, C. Divulgação e cultura científica. Disponível em: , acesso em 11 fev. 2014. ____________________________________________________________________________________________________ 26 a 30 de janeiro de 2015

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