A FORMAÇÃO MATEMÁTICA DE PROFESSORES NA SUPERAÇÃO DAS DIFICULDADES DO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM DESTA DISCIPLINA

October 17, 2017 | Autor: Fernanda Rebeca | Categoria: Mathematics Education
Share Embed


Descrição do Produto

A FORMAÇÃO MATEMÁTICA DE PROFESSORES NA SUPERAÇÃO DAS DIFICULDADES DO
PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM DESTA DISCIPLINA


Fernanda Rebeca Araújo da Silva[1]
RESUMO
Este trabalho trata a respeito do surgimento das dificuldades encontradas
pelos alunos das séries iniciais (e também dos professores) no processo
ensino-aprendizagem da disciplina matemática. Com a finalidade de buscar um
ensino que desenvolva a construção do pensamento lógico-matemático
procurando favorecer a aprendizagem significativa do aluno, habilitando-o
de elementos básicos para uma vida participante na sociedade. Entendemos
que no limiar da vida escolar, a criança constrói o conhecimento de acordo
com sua etapa de cognição e o ensino neste período é crucial para essa
construção, devendo despertar a vontade de aprender no aluno, além de estar
pautado na investigação e instigação, fazendo-o um sujeito participante do
processo.
PALAVRAS-CHAVE: Aprendizagem, Prática Pedagógica, Matemática.

INTRODUÇÃO

A visão que se tem da disciplina matemática nas escolas pelos alunos é
aquela que acaba por colocá-la num lugar não muito desejável, uma vez que
inúmeras são as reclamações e grande a aversão pela matemática
sistematizada. Levando em conta que "o aprendizado das crianças começa
muito antes de elas freqüentarem a escola" (VIGOTSKY apud NETO, 2000,
p.43), essa visão recebe contribuições de todos os lados por determinantes
dentro e fora do ambiente escolar como: a concepção de matemática que
permeia a família, a sociedade e o professor; as inúmeras relações travadas
na escola, dentro e fora da sala de aula; o distanciamento do conhecimento
com a realidade do aluno, o que acaba por fazê-la uma disciplina
inutilizável (do ponto de vista do educando), e isso partindo do que Paulo
Freire (2002) diz: temos disposição maior para aprender aquilo que é útil e
interessante para a nossa vida.
Dessa forma não podemos negar o caráter social da aprendizagem da
matemática, sendo que, "toda sociedade deve estar envolvida na construção
de um ambiente rico e motivador para as crianças" (NETO, 2000, p.43). Ou
seja, devemos ter a visão da aprendizagem como um processo social.
Sendo a escola palco de muitas relações, e tendo ciência de que
nenhuma delas é indiferente quanto ao processo ensino-aprendizagem, a
relação professor-aluno, no que tange a prática pedagógica do professor e
o processo de aprendizagem do aluno; é a relação que depende de um olhar
mais apurado, a fim de se entender as dificuldades encontradas na
matemática pelos docentes, uma vez que é na sala de aula que o aluno se
encontra com o saber sistematizado, e é na sala de aula que o professor
desempenha o papel de mediador do conhecimento; evocando a posição
interacionista na qual o conhecimento é construído pelo próprio sujeito a
partir de sua interação com o ambiente; cabendo ao professor, segundo
Kaimi: encorajar o pensamento espontâneo da criança, o que é muito
difícil porque a maioria de nós foi treinada para obter das crianças a
produção de respostas "certas". (2003, pág.39)
Dessa forma, considerando o aluno como protagonista dessa relação,
que acontece com ele e para ele, segundo Neto (2000) a prática pedagógica
se pautará no princípio de que a criança se desenvolve normalmente se o
ambiente for fecundo e desafiador.
As dificuldades em matemática tendem a se prolongar por toda a vida
escolar do aluno, percebe-se que o desenvolvimento dessas dificuldades
ocorre em um nível mais primário, no qual a criança constrói o conceito
de número e desenvolve a sua inteligência lógico-matemática.
Nossa principal indagação é: Por qual motivo -ou motivos-, a criança
encontra dificuldades na aprendizagem em matemática? Partimos da sala de
aula ao levar em conta a influência da prática pedagógica ao proporcionar
mecanismos para que o conhecimento se desenvolva, sabendo que "o número é
construído por cada criança a partir de todos os tipos de relações que
ela cria entre os objetos" (PIAGET apud KAIMII, 1990, p.13), e que
"qualquer situação de aprendizado com a qual a criança se defronta na
escola tem sempre uma história prévia" (VIGOTSKY apud Neto, 2000, p.43);
segundo Vergnaud (2009) "o grande desafio do professor é ampliar as
dificuldades para as crianças sabendo o que está fazendo e aonde quer
chegar".
Nos níveis cognitivo, social e moral a boa aprendizagem em
matemática e o desenvolvimento da inteligência lógico-matemática acabam
por favorecer não só o aproveitamento dessa matéria nas escolas, mas o
pensar sistematizado, a habilidade de pensar de forma lógica, coerente e
sistematizada, nas outras disciplinas e nas situações do dia a dia; o que
viria acompanhado de uma autonomia, que de acordo com Kaimii é
indissociavelmente social, moral e intelectual. A autonomia do pensamento
faz parte do sucesso da escola ao somar as coisas que aprendemos na
escola e que foram úteis ao desenvolvimento da autonomia, era isso o que
Piaget, segundo Kaimii, quis dizer quando se referiu aos dois círculos
representados abaixo: "quando a autonomia se transformar na meta da
educação, os educadores tentarão aumentar a área de interseção entre os
dois círculos."
Figura 01. A relação da autonomia como finalidade da educação e
sucesso na escola




1. Entendendo as dificuldades


É muito importante entender quais são as dificuldades mais
freqüentes que a criança encontra na matemática e como ela forma o
conhecimento, para atuar de forma mais eficaz, ampliando a aprendizagem
significativa do indivíduo. Segundo Neto:


Poderá o professor atuar junto à criança para que forme um
conhecimento, sem saber o que é esse conhecimento e como
ele aparece? Claro que não! E não se trata de conhecer o
cérebro ou neurofisiologia, trata-se de se posicionar
quanto ao conhecimento. (p.27, 2000)


Se posicionar quanto ao conhecimento implica também, na verificação
de como se dá o ensino da matemática, uma vez que repousa sobre o
professor a tarefa de mediar esse conhecimento.
Esses dois elementos: o ensino e o professor são indissociáveis e de
suma importância para o êxito que se reflete na aprendizagem do educando
e possuem uma dinâmica que permeia todo o processo de ensino-
aprendizagem.
A partir do que vimos, propomos que esses dois elementos combinam a
chave para se compreender o surgimento das dificuldades na disciplina
matemática nas séries iniciais. E que analisaremos a seguir.


2. A formação


Segundo Ponte (1995), a ação dos professores "e o seu modo de estar
marcam de foram decisiva as aprendizagens dos alunos com quem contacta
diariamente." Esse modo de estar, diz respeito às concepções que o
professor carrega e que influenciam sua prática em sala de aula. Sobre as
estruturas curriculares Ardiles apud Rampal, (1992) afirmou que "muitos
professores têm uma formação deficiente nos aspectos relacionados à
Filosofia da Ciência. Estes aspectos ocupam um lugar menor nos planos de
estudo dos professores, tendo como resultado o desenvolvimento, por parte
dos docentes, de concepções inadequadas, com freqüência ingênua sobre a
natureza da ciência e do conhecimento cientifico."
Para tal objetivo analisamos, inicialmente, a formação do professor no
que diz respeito à grade curricular de sua graduação, uma vez que, segundo
Darsie e Carvalho (1998), o professor não está sozinho em sala de aula, ele
é acompanhado pela bagagem de suas concepções em relação à disciplina e ao
ensino. Um dos fatores determinantes da prática docente, e não poderia
deixar de ser, é a formação acadêmica do professor.
Dessa análise percebemos que os componentes curriculares na formação
de professores, não contemplam a complementaridade entre os saberes da
disciplina, e os saberes pedagógicos. Nos cursos de pedagogia, enfatizam-se
os saberes pedagógicos, em detrimento dos conteúdos da disciplina
matemática; em contrapartida, nas licenciaturas em ciências matemáticas, os
saberes e conteúdos da disciplina e conteúdos são mais trabalhados, do que
os saberes pedagógicos.
3. Como se dá o ensino


Com o que foi proposto acima, volvemos nosso olhar à prática
pedagógica que, mediante um primeiro contato, não explora devidamente as
potencialidades dos educandos. Dessa forma, faço das palavras de
Wardsworth apud Aranão, as minhas:
"Se Piaget estiver certo, o fracasso dos alunos
em desenvolver compreensão da matemática não implica
em qualquer falta de inteligência ou habilidade para
aprender os conceitos mas resulta do tipo de ensino
ao qual as crianças são expostas nas escolas; ensino
da matemática, mesmo nas primeiras séries,
normalmente assume a forma de apresentações orais e
escritas (simbólicas) dos conceitos e procedimentos
para a computação de respostas a problemas. Eles não
se baseiam em métodos ativos que permitem que a
criança construa conceitos matemáticos do único modo
que pode adquiri-los.'"


E o que observamos inicialmente, através de leituras, reportagens,
entrevistas e uma observação não-formal é que atualmente o ensino da
matemática se apresenta descontextualizado da realidade dos educandos,
inflexível, sendo considerado a disciplina que requer de "dom". O aluno é,
muitas vezes, um mero expectador e não um sujeito participante, sendo a
maior preocupação dos professores cumprir o programa. Os conteúdos e a
metodologia não se articulam com os objetivos de um ensino que sirva à
inserção social das crianças, ao desenvolvimento do seu potencial, de sua
expressão e interação com o meio.


CONCLUSÃO


Segundo as leituras, as dificuldades no processo ensino-aprendizagem
da disciplina matemática decorrem de fatores variados, dentro e fora da
escola, dos quais destacamos: a prática pedagógica do professor aliada à
sua formação.
Todos têm a capacidade de ter sucesso em "aprender" matemática,
segundo constatado nas leituras. Inicialmente, pudemos verificar que todo
ser humano começa seu aprendizado muito cedo, desde o nascimento, e que, em
cada etapa da vida, ele apreende o conhecimento de uma maneira
característica tendo por base os conhecimentos já construídos, isso indica
que, se um indivíduo não recebe o estímulo necessário para desenvolver
determinada potencialidade no momento propício para isso, terá dificuldades
para subir os degraus à frente. Desse modo o processo de ensino e
aprendizagem da Matemática deve ser bem trabalhado nas escolas, para que
futuramente os alunos não apresentem dificuldades graves, quanto à
construção deficiente do pensamento lógico-abstrato. Segundo Kaimii (p.-
1990):
Dado que a noção de número só pode emergir a partir da
atividade de colocar todos os tipos de coisas em todos os
tipos de relações, daí decorre que o primeiro princípio de
ensino é o de atribuir importância ao fato de encorajar as
crianças a estarem alertas e colocarem todas as espécies de
objetos, eventos e ações em todos os tipos de relações.


O professor pode trabalhar isso mediando sempre situações-problemas
que estejam de acordo com a realidade dos alunos a fim de que eles percebam
que o pensar matemático está presente em nosso dia a dia, e, além disso
propiciando a reflexão de situações do cotidiano. Para tal, a utilização de
técnicas lúdicas e material concreto estimula e aguça a curiosidade.
Além disso, outro viés se apresenta: a urgência de darmos a
importância merecida ao ensino base nas nossas escolas, ou seja, investir
na "prevenção" para que os futuros profissionais da educação e futuros
cidadãos propiciem para a geração futura o ambiente rico e motivador para o
desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático.
-----------------------
[1] Aluna do Mestrado
Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.