A Formação Profissional tem valor estratégico para as empresas Portuguesas?

June 15, 2017 | Autor: Susana Cunha | Categoria: Training and Development, Human Resources Development
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Instituto de Estudos Superiores Financeiros e Fiscais - Atlântico Business School

Mestrado em Gestão e Negócios

A Formação Profissional tem valor estratégico para as empresas Portuguesas?

Autores: Cunha, Susana Henriques Peixoto, João Paulo

Vila Nova de Gaia, 27 de Novembro 2015

A Formação Profissional tem valor estratégico para as empresas Portuguesas?

Índice 1.

Resumo

2.

Abstract

3.

Capítulo 1 – Introdução

4.

Capítulo 2 – Revisão Teórica

5.

Capítulo 3 – Análise Empírica a)

Definição do Problema

b)

Dados

c)

Metodologia

d)

Hipóteses

e)

Análise dos Dados

6.

Capítulo 4 – Resultados

7.

Capítulo 5 – Conclusões

8.

Capítulo 6 – Limitações e Investigação Futura

9.

Capítulo 7 – Implicações na Gestão Empresarial

10.

Agradecimentos

11.

Referências Bibliográficas

12.

Anexos

13.

Apêndice 1: Resumo Executivo

14.

Apêndice 2: Revisão da Literatura

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Índice de Gráficos

Gráfico 1: Dimensão Tipologia Gráfico 2: Dimensão Localização Gráfico 3: Existência de um Plano de Formação Gráfico 4: Realização de Diagnóstico de Necessidades de Formação Gráfico 5: Realização de Formação Profissional Gráfico 6: Razões para não realizar Formação Profissional Gráfico 7: Financiamento da Formação Profissional Gráfico 8: Áreas de Formação Profissional Gráfico 9: Razões para realizar Formação Profissional Gráfico 10: Formas de desenvolver Formação Profissional Gráfico 11: O que mais se valoriza na Formação Profissional

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1. RESUMO As empresas portuguesas estão ainda aquém dos indicadores europeus ao nível do desenvolvimento da Formação Profissional. Mas após quatro quadros comunitários de apoio com grande foco na formação, será que as empresas já apostam mais na formação como um investimento estratégico? Partindo da Tese “As empresas portuguesas não atribuem valor estratégico à Formação Profissional”, aprofundamos estudos relacionados que concluíram: - A aposta na formação contínua é ainda pouco significativa nas empresas portuguesas - O investimento na formação profissional está muito aquém da média europeia - As empresas estão muito dependentes de financiamentos públicos para desenvolver formação - As PME não investem em formação principalmente por escassez de meios financeiros - As Não PME são as que mais apostam na Formação profissional

Complementamos os estudos analisados com o estudo dos resultados de um inquérito por questionário aplicado a PME e Não PME. O inquérito por questionário foi desenvolvido e aplicado por uma entidade formadora em 2013. A amostra foi composta por 213 empresas portuguesas dos diversos sectores de atividade. Foram validados e analisados 151 questionários. Concluímos que as empresas portuguesas, PME e Não PME, atribuem mais valor instrumental do que valor estratégico Formação Profissional. A formação é valorizada pela função de desenvolvimento de competências e melhoria técnicas, resolução de problemas de desempenho e resposta a exigências legais e/ou de mercado/clientes. De um modo geral as empresas não valorizam tanto o valor estratégico desta face à inovação, à internacionalização e ao seu papel no aumento da competitividade.

Palavras-chave: Formação profissional, Competências, PME, Financiamento de formação profissional, Competitividade, Valor estratégico da formação

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2. ABSTRACT Portuguese companies are still far from the European indicators on the training development. The question is: are Portuguese companies ready to a new training mindset after 4 EU Structural funding Programmes with a strong focus on training? In order to confirm the assumption “Portuguese companies do not attach strategic importance to Vocational Training", we found related studies that concluded: - Investment in training is still minimal for Portuguese companies - Investment in training is far below the European average - Companies are very dependent on public funding to develop training - SMEs do not invest in training mainly by lack of financial resources - The Non SMEs are the most developed on professional training

We complement the studies analyzed in the study of the results of a survey applied to Portuguese companies. The survey was developed and applied by a training organization in 2013. The sample consisted on 213 Portuguese companies of various activity sectors. There were validated and analyzed 151 questionnaires. We conclude that Portuguese companies, SMEs and non-SMEs, attach more functional than strategic value to Training. Training is most used for development of skills and technical improvement, performance, troubleshooting and response to legal and / or market / customers impositions. Generally Portuguese companies do not focus as much on strategic value of Training for innovation, internationalization and competitiveness. Key-Words: Training, Skills, SME, Training financing, Competitiveness, Strategic value of training

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3. CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO Neste artigo propomos abordar o tema do valor percebido da formação profissional por parte das empresas portuguesas: sob que motivações é desenvolvida a formação profissional e com que meios.

Após quatro quadros comunitários de apoio, todos eles com grande foco na formação profissional, o que retiraram/aprenderam as empresas portuguesas? Conseguiram os apoios comunitários incorporar a formação contínua no ADN da sua cultura organizacional? É a Formação Profissional é uma ferramenta estratégica para aumentar a competitividade e gerar inovação nas empresas portuguesas?

A competitividade e inovação, para além dos chavões do momento, são também o grande desafio colocado às empresas portuguesas e que pode mudar a nossa matriz económica. O novo quadro comunitário de apoio – o Portugal 20201 que agora começa promete acelerar a nossa economia nos próximos 5 a 7 anos e apoiar as empresas nesse propósito mas introduz um foco em resultados nunca antes exigido e que vai obrigar as empresas, PME em particular, a mudanças estruturais e consolidadas na sua estrutura de competências, na sua capacitação e não apenas a operações de estética e ilusória de investimento.

Mas a escassez de recursos, a crise em que mergulhamos e os vícios de décadas de financiamento fácil de formação profissional sem estratégia adequada às PME levou a que a maioria veja a formação profissional como uma obrigação por um lado e um investimento sem retorno por outro.

Pretende-se assim confirmar se as empresas portuguesas investem em formação profissional como uma ferramenta estratégica, se lhe atribuem tal valor e a potenciam para a competitividade.

A metodologia seguida foi a análise documental complementada pela análise dos resultados de um inquérito por questionário levado a cabo por uma entidade formadora que envolveu 151 empresas nacionais.

A primeira tentação de resposta à questão levantada será não, devido à conhecida insuficiência de recursos das empresas mas outras hipóteses se elevarão: existirão ofertas 1 Acordo de Parceria de Portugal 2014-2020 para os FEEI – Fundos Europeus Estruturais e de Investimento

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de formação realmente adequadas às necessidades das empresas? Serão os modelos de formação existentes ajustados à dinâmica das empresas?

Encontramo-nos numa fase inicial do novo e presumivelmente último quadro comunitário de apoio – o já referido Portugal 2020. Este artigo pretende alertar e desafiar as empresas portuguesas para uma reflexão urgente face à estratégia a adotar perante as oportunidades de financiamento da formação profissional do Portugal 2020. Atentando nas conclusões disponíveis do estudo sobre Formação Contínua nas empresas em 2010 e 2011 do GEE2. Os resultados deste estudo indicam que vale a pena investir em formação profissional. Os encargos de formação profissional e o número de trabalhadores abrangidos por ações de formação estão associados positivamente à performance económica das empresas. Esta relação subsiste mesmo retirando o efeito das características intrínsecas a cada empresa, ao nível da sua dimensão e do sector económico em que exerce a sua atividade. Pese embora o estudo acautele para a fraca robustez desta interpretação, uma vez que se decorre apenas de um ano de observação, este vem confirmar a pertinência desta temática numa fase de arranque de novo quadro comunitário, mas será que empresas estão devidamente sensibilizadas!? Será desta que vamos fazer uma aprendizagem coletiva e mudar mentalidades perante o valor da Formação profissional para as empresas!?

2 Temas Económicos Dezembro 2013, Número 21

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4. CAPÍTULO 2 - REVISÃO TEÓRICA A formação profissional terá como principal foco os profissionais que pretendem adquirir, melhor ou aperfeiçoar a sua atividade profissional e assim acrescentar valor e ao seu desempenho e gerar competitividade na empresa. Mas o valor percebido da Formação Profissional nas empresas muitas vezes difere do seu valor real.

Selecionamos 3 estudos para confirmar se as empresas portuguesas investem em formação profissional como ferramenta estratégica: Estudo 1: Tese de Mestrado “A Importância da Formação Profissional Contínua nas Empresas Portuguesas” do autor Paulo Jorge Martinho da Fonseca; Estudo 2: Tese de Mestrado “Análise da Produção Científica sobre Formação em PME no século XXI: a relevância dos estudos empíricos” da autora Ana Cláudia Ramos Barata Estudo 3: Artigo Científico “ A Formação Profissional nas Empresas Portuguesas: entre a tradição e os desafios da competitividade” dos autores António José Almeida e Natália Alves Optamos por estes três estudos por serem estudos de empresa portuguesas e versarem as problemáticas do investimento em formação profissional das empresas portuguesas.

Estudo 1 O autor Paulo Jorge Martinho da Fonseca, Mestre em Sociologia Económica e das Organizações pela Universidade Técnica de Lisboa - Instituto Superior de Economia e Gestão, realizou o estudo A Importância da Formação Profissional Contínua nas Empresas Portuguesas no âmbito da sua Tese de Mestrado em 2008, sob orientação da Professora Doutora Ilona Zsuzasanna Kovács.

Um dos objetivos deste estudo é o de descortinar o papel da aprendizagem ao longo da vida na valorização do trabalho e averiguar qual o grau de envolvimento das empresas portuguesas no processo de participação dos trabalhadores, em acções de formação profissional. Tendo como questão de partida: No quadro das transformações técnico-organizacionais que têm surgido nos últimos anos, no panorama empresarial português, estará a formação contínua a ser objecto de um

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investimento crescente conducente à adequação e melhoria das qualificações dos trabalhadores com vista ao aumento da competitividade das empresas? O autor segue a metodologia de análise documental através da consulta bibliográfica de obras de especialistas nacionais e estrangeiros. Complementou a sua consulta bibliográfica com pesquisas electrónicas em diversos sites/links nacionais e internacionais. O estudo refere as mudanças tecnológicas e a globalização como os principais factores que nos últimos anos potenciaram mudanças organizacionais culturais. No tema em estudo destacamos o nível de desenvolvimento das políticas de Recursos Humanos em geral e do desenvolvimento de Recursos Humanos / Formação em particular. A competitividade começou portanto a ser associada a domínios como a qualificação, a formação profissional ou mesmo a motivação dos trabalhadores. As empresas são confrontadas com uma forte concorrência e crescente incerteza do mercado. É-lhes exigida cada vez mais uma capacidade de resposta rápida a baixos custos. Os recursos humanos devem desempenhar um papel fundamental nesta dinâmica. Os dados estatísticos, reforçam que o investimento em formação contínua é diminuto, o que resulta num cenário desolador que nos coloca na cauda da Europa, revelando acentuadas assimetrias de oportunidades no acesso à formação profissional, tendo os trabalhadores menos escolarizados menores oportunidades, quer de aprendizagem, quer de condições de trabalho. No mundo do trabalho há um domínio do trabalho desqualificado e as condições de trabalho são precárias. A aprendizagem no posto de trabalho requer uma significativa mudança da mentalidade dos dirigentes das empresas portuguesas, ao nível da organização do tempo de trabalho, do investimento financeiro, valorização dos recursos humanos e na aprendizagem ao longo da vida profissional. Em suma, as empresas têm de apostar no processo de aprendizagem ao longo da vida. Na opinião do autor, é urgente e fundamental a valorização dos recursos humanos pela via da formação contínua, ou seja, investir na formação profissional. A ainda baixa participação dos trabalhadores portugueses em formação contínua face à média europeia agrava problemas como as baixas qualificações e o emprego não qualificado.

Por outro lado o autor conclui que as empresas que apresentaram um maior número de pedidos de formação financiada (programas de financiamento do Quadro Comunitário de Apoio) foram as PME. No entanto regista-se maior participação na promoção de ações de formação nas empresas de maior dimensão e sem recurso a financiamento.

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Consideramos assim que os principais contributos desta tese para a nossa pesquisa: - A aposta na formação contínua é ainda pouco significativa; - O investimento na formação profissional, apesar de registar um maior envolvimento das empresas está muito aquém do satisfatório; - As empresas Não PME são as que mais apostam na Formação profissional, independentemente do financiamento; - As empresas PME são as que mais recorrem a programas de financiamento para desenvolver a formação profissional.

Estudo 2 Já a autora Ana Cláudia Ramos Barata, Mestre em Gestão de Recursos Humanos pela Universidade Técnica de Lisboa - Instituto Superior de Economia e Gestão, na sua tese Análise da Produção Científica sobre Formação em PME no século XXI: a relevância dos estudos empíricos, de 2011, sob orientação da Prof. Dra. Carla Maria Lopes Curado, concluiu que as PME estudadas pelos vários autores analisados não recorreram frequentemente à formação formal/individual. Este estudo científico focou-se na recolha e análise de estudos empíricos sobre formação nas PME ao longo de uma década (entre Janeiro 2000 e Junho 2011) com o objectivo de elaborar uma matriz de análise de formação e verificar quais os métodos de formação mais utilizados por este tipo de empresas. Os estudos considerados visaram PME de diferentes países. A autora refere que focou o seu estudo nas PME pois estas têm cada vez mais um contributo importante na criação de emprego, rendimento e prosperidade (Lange, Ottens & Taylor, 2000). No entanto, apesar destas empresas dependerem da aquisição de competências e conhecimentos dos seus colaboradores, geralmente não têm uma cultura organizacional apoiada em atividades de aprendizagem e desenvolvimento. A autora aponta inúmeras causas para que as PME não invistam mais na formação dos seus colaboradores, tais como: os custos da formação, pois dispões de poucos recursos financeiros, o facto do investimento em formação estar associado ao risco, uma vez que muitas destas empresas têm receio de apostar na formação dos seus colaboradores e depois eles abandonem a empresa. O acesso e provisão são outros fatores apontados, uma vez que a maioria das PME apenas recorrem à formação quando sentem uma necessidade premente, e muitas vezes não escolhem um método adequado às suas necessidades. A sensibilização também é outro fator apontado e que é significativo, nomeadamente a falta

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de informação adequada e a falta de iniciativas de formação no mercado que possam efetivamente contribuir para o desenvolvimento das competências e qualificação das PME. A pouca importância atribuída pelas PME ao planeamento estratégico e a falta de tempo que a sua gestão tem a se dedicar a esse planeamento, constituem outro dos motivos que pode explicar o baixo investimento em formação. Este trabalho fornece assim uma visão geral sobre quais os modelos de formação mais utilizados pelas PME com base em resultados de estudos científicos efectuados e validados por outros autores na década de 2000-2011. No entanto não se foca especificamente nas razões desta clivagem entre as PME e a Formação deixando pistas relacionadas com a escassez de meios financeiros. A título de conclusão, Ana Cláudia Ramos Barata fornece considerações importantes, ainda que por inferência, relativamente à temática da valorização da Formação Profissional pelas PME portuguesas: - As PME não têm uma cultura de formação contínua - As PME não têm estratégias de médio/longo prazo, o que se repercute nas políticas de desenvolvimento de formação - As PME não investem em formação principalmente por escassez de meios e pelo risco de perder o investimento - As PME não estão devidamente sensibilizadas/informadas sobre as potencialidades da formação para o seu negócio. Face ao estudo anterior de Paulo Fonseca, este estudo introduz a pertinência do planeamento estratégico nas PME para que estas entendam o investimento na Formação e a sensibilização/correta informação destas. Estudo 3 Chamando os autores António José Almeida, Mestre em Sociologia do Trabalho e docente do Instituto Politécnico de Setúbal e Natália Alves, Doutora em Ciências da Educação e docente da Universidade de Lisboa, no seu artigo científico de 2011: A Formação Profissional nas Empresas Portuguesas: entre a tradição e os desafios da competitividade, que versa sobre a problemática das práticas de formação profissional levadas a cabo pelas empresas portuguesas.

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A metodologia deste artigo concentrou-se na análise estatística dos dados provenientes de fontes estatísticas oficiais, do Ministério do Trabalho e Solidariedade Social (MTSS). Essas fontes estatísticas consistem nos Inquéritos à Execução das Ações de Formação Profissional e nos Inquérito ao Impacte das Ações de Formação Profissional nas Empresas. Desde logo a análise da evolução dos principais indicadores da formação profissional em Portugal mostra que estamos com um atraso estrutural na promoção de formação nas empresas quando nos comparamos com os países da União Europeia. Estas estatísticas perspetivam a formação profissional contínua nas empresas portuguesas ainda numa conceção taylorista e não com um papel estratégico e estruturante face ao atual contexto globalizante, competitivo e fortemente marcado por estratégias de qualidade e de inovação. Apesar de denotar uma evolução positiva ao nível da participação de trabalhadores em Formação, o número médio de horas de formação por participante apresenta valores relativamente reduzidos, já que, em média, um trabalhador tem acesso a menos de 30 horas anuais de formação. Outro indicador que merece destaque é o que reflete a dependência das empresas das políticas de financiamento público da formação, já que a participação ativas das empresas nos custos da formação apresenta oscilações significativas com tendência para diminuir nos últimos anos. Aliás, os autores referem-se a esta como sendo uma das principais características do mercado de formação português – a apetência pelos fundos públicos para o seu desenvolvimento. Das principais conclusões que contribuem para a problemática do presente artigo, salientamos: - A Formação ainda não é considerada estratégica para as empresas portuguesas - O desenvolvimento de formação nas empresas está aquém da média europeia - As empresas estão muito dependentes de financiamentos públicos para desenvolver formação

Cruzando estas 3 abordagens desde logo apontamos as conclusões que influenciam a nossa pesquisa e que todas confirmam, podendo vir a ser pistas de resposta:

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1. A aposta na formação contínua é ainda pouco significativa nas empresas portuguesas 2. O investimento na formação profissional, apesar de registar um maior envolvimento das empresas está muito aquém da média europeia 3. As empresas estão muito dependentes de financiamentos públicos para desenvolver formação 4. As PME não investem em formação principalmente por escassez de meios financeiros Resumindo, todos os estudos referem conclusões sobre a importância da formação profissional para a competitividade das empresas por um lado e sobre a baixa participação/realização de formação profissional por outro e a dependência das empresas face aos financiamentos públicos para apoio à formação. Os estudos mencionados utilizaram metodologias de pesquisa social exploratória através de técnicas de análise documental. Paulo Jorge Martinho da Fonseca, por exemplo, aponta na sua Tese limitações pelo fato de não contemplar entrevistas a escolas/entidades de formação ou de não se ter realizado um inquérito às empresas. Deste modo, propomo-nos neste Artigo complementar a visão deste e dos outros dois estudos com a perceção dos próprios atores, os empresários e responsáveis das empresas. Vamos então analisar uma abordagem metodológica de Pesquisa Social Exploratória através da técnica de recolha de dados inquérito por questionário. Para tal vamos utilizar os resultados de um inquérito por questionado aplicado a empresas nacionais do Continente sobre a importância, modelos e formas de organização de formação, desenvolvido e aplicado por uma instituição de formação, uma das maiores ao nível nacional. Esperamos assim confirmar a nossa Tese e contribuir para aprofundar do conhecimento da cultura de formação das empresas portuguesas numa fase de mudança estrutural, imperativa da nossa matriz empresarial a breve trecho!

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CAPÍTULO 3 – ANÁLISE EMPÍRICA

a) Definição do Problema As empresas portuguesas estão muito vulneráveis ao contexto económico-financeiro. Os benefícios da formação profissional numa perspetiva potenciadora de eficiência e competitividade não são fáceis de medir e de relacionar diretamente com os resultados do negócio. As empresas portuguesas não dispõem normalmente de meios financeiros abundantes e têm que orientar os seus investimentos face a retornos de curto prazo e o planeamento estratégico é muitas vezes descurado face às necessidades de encaixe financeiro imediato. O investimento em Formação Profissional é um investimento estratégico e, pese embora possa ter uma relação com o sucesso do negócio, não é visto como uma prioridade sobretudo quando os meios são escassos.

Assim confirmam os estudos analisados que, resumidamente inferem: - O investimento em formação profissional nas PME está associado positivamente à performance económica das empresas; - A competitividade começou a ser associada a domínios como a qualificação e a formação profissional; - O investimento em formação profissional nas PME está aquém do desejável; - O défice de investimento em formação profissional nas PME pode estar relacionado com restrições financeiras. Numa altura em que assistimos ao arranque de mais um, o quinto quadro comunitário de apoio, desta feita chamado Portugal 2020, vale a pena repescar esta reflexão. O objetivo deste artigo é o de confirmar então a tese: “As empresas portuguesas não atribuem valor estratégico à Formação Profissional.” A qualidade da formação desenvolvida nem sempre corresponde às expectativas por muitas vezes não ser desenvolvida à medida das necessidades. As modalidades e horários de formação profissional nas empresas não são adequados às suas contingências. Não são realizados diagnósticos de necessidades de competências específicas. E muitas outras razões, todas válidas, poderiam ser apontadas. Artigo Científico | Mestrado Gestão e Negócios | Susana Cunha

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Os estudos analisados utilizaram a metodologia de pesquisa exploratória através da análise documental para inferir estas conclusões. Entendemos valer a pena retomar esta temática e complementar a análise com a visão das próprias empresas e a sua perceção face à decisão de investir ou não em formação profissional. Deste modo, vamos complementar as análises através da metodologia de inquérito por questionário a empresas, utilizando para tal um inquérito realizado por uma entidade formadora a cerca de 200 empresas nacionais. As hipóteses expectáveis para esta tese são: Face à importância estratégica da Formação Profissional: Hipótese 1: As empresas portuguesas atribuem maior valor estratégico à formação profissional Hipótese 2: As empresas portuguesas atribuem maior valor instrumental à formação profissional Hipótese 3: As empresas portuguesas atribuem igual valor instrumental e estratégico à formação profissional

Uma vez que foram inquiridas PME e Não PME temos ainda as hipóteses secundárias: Hipótese 4: As PME portuguesas atribuem menos valor estratégico à Formação Profissional que as Não PME Hipótese 5: As PME portuguesas atribuem o mesmo valor estratégico à Formação Profissional que as Não PME Hipótese 6: As PME portuguesas atribuem mais valor estratégico à Formação Profissional que as Não PME

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b)

Dados

Universo do estudo O universo deste estudo são as PME de acordo com a definição da Recomendação da Comissão n.º 2003/361/CE portuguesas, de todos os sectores de atividade.

Descrição da amostra A amostra é composta por 151 empresas com sede em Portugal continental que constavam da Base de Dados de empresas da Direção de Formação do Instituto de Soldadura e Qualidade à data de 23/09/2013 que responderam ao inquérito por questionário enviado por email através da ferramenta surveyonline entre os dias 23 de Setembro e 7 de Outubro 2013. Foram enviados questionários a 4.300 empresas e rececionadas 213 respostas. Destas foram validadas 151 respostas completas. A amostra que vamos caracterizar é assim de 151 empresas. Vamos caracterizar a amostra. No que concerne a tipologia de empresa:

PME Não PME

Gráfico 1: Dimensão Tipologia

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A maioria das empresas são PME, 79%, o que espelha a realidade do tecido empresarial nacional. No que concerne a região de origem, temos:

Norte Centro Sul

Gráfico 2: Dimensão Localização

A maioria das empresas situa-se no Sul (cerca de 50%). Segue-se a região Norte com 32% de empresas.

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c) Metodologia Propusemos complementar a visão dos estudos analisados com a perceção das próprias empresas, nomeadamente as PME. Adotamos a metodologia de Pesquisa Social Exploratória através da técnica de recolha de dados inquérito por questionário. O inquérito por questionário enquanto técnica de recolha de dados apresenta tanto vantagens como inconvenientes. Se por um lado economiza tempo e recursos, atinge um maior número de inquiridos simultaneamente e permite uma maior uniformização de tratamento, incorre-se no risco de obter um elevado número de questões não respondidas e uma baixa taxa de retorno (Giglione, R. Matalon, B.,1997). No caso deste estudo, optou-se pela técnica de inquérito por questionário para abranger uma amostra significativa e porque o tempo e demais recursos envolvidos não nos permitiam optar por um inquérito por entrevista, por exemplo. Assim, a metodologia deste estudo seguiu as etapas da pesquisa social exploratória: planeamento, desenvolvimento dos instrumentos de recolha de dados, recolha de dados, análise e interpretação e compilação dos resultados em relatório junto do Universo PME portuguesas. O inquérito3 por questionário foi desenvolvido e aplicado pela Direção de Formação de uma entidade formadora com atividade nacional – o Instituto de Soldadura e Qualidade (ISQ). A amostra é composta pela Base de Dados de PME da Direção de Formação do ISQ e compreende 4.300 empresas portuguesas dos diversos sectores de atividade. A Direção de Formação do Instituto de Soldadura e Qualidade é uma entidade formadora há cerca de 50 anos e uma das maiores do país. O

inquérito

foi

disponibilizado

para

resposta

online,

através

da

ferramenta

FreeOnlineSurvey. Foi enviado o link por email para os endereços de empresários e/ou responsáveis das PME acima caracterizadas. As respostas foram recolhidas entre os dias 23 de Setembro e 7 de Outubro de 2013. Os dados recolhidos foram descarregados numa folha de Excel.

d) Hipóteses

3 Inquérito em Anexo

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Perante a Tese que resulta de uma perceção generalizada: “As empresas portuguesas não atribuem valor estratégico à Formação Profissional”, Consideramos as seguintes hipóteses: Na área da Importância estratégica da Formação Profissional: Hipótese 1: As empresas portuguesas atribuem maior valor estratégico à formação profissional Hipótese 2: As empresas portuguesas atribuem maior valor instrumental à formação profissional Hipótese 3: As empresas portuguesas atribuem igual valor instrumental e estratégico à formação profissional

Da análise efetuada foi possível extrair e comparar as respostas de empresa PME e Não PME e surgiram as seguintes hipóteses secundárias: Hipótese 4: As PME portuguesas atribuem menos valor estratégico à Formação Profissional que as Não PME Hipótese 5: As PME portuguesas atribuem o mesmo valor estratégico à Formação Profissional que as Não PME Hipótese 6: As PME portuguesas atribuem mais valor estratégico à Formação Profissional que as Não PME

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e) Análise dos Dados Por forma a confirmar as hipóteses formuladas, e após recolha das respostas – que foram automaticamente vertidas pela ferramenta surveyonline numa folha de Excel, seguiu-se o tratamento dos dados através das ferramentas de análise que o Excel disponibiliza.

Foi utilizada a fórmula “Statistical COUNTIF” para fazer a contagem automática das respostas às várias opções de resposta que o questionário apresentava. Foram criadas tabelas com a segregação dos dados por cada questão e aferidas percentagens de resposta através da fórmula “Statistical AVERAGE” De seguida foram criados gráficos ilustrativos para apresentação dos resultados, através da ferramenta Chart wizard.

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6. CAPÍTULO 4 - RESULTADOS Foram obtidas 213 respostas, o que correspondeu a uma taxa de retorno de 5%. Das respostas recebidas foram validados 151 questionários completos. Estes 151 questionários foram tratados diferenciadamente entre PME e Não PME. Foi então feita uma análise comparativa entre os resultados das PME e das Não PME. Os resultados apresentam-se de seguida.

Q: A empresa tem ou está a desenvolver um Plano de Formação para 2014?

100% 90% 80% 70% 60% 50%

PME

40%

Não PME

30% 20% 10% 0% Sim

Não

Gráfico 3: Existência de um Plano de Formação

A maioria das empresas inquiridas apresenta um Plano de Formação.

Q: Em que momento do ano a empresa realiza o Diagnóstico de Necessidades de Formação?

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45% 40% 35% 30% 25% 20% 15%

PME

10%

Não PME

5% 0%

Gráfico 4: Realização de Diagnóstico de Necessidades de Formação

A maioria das empresas afirma realizar o Diagnóstico de Formação no 4º trimestre. Cerca de 12% das PME assumem não realizar Diagnostico. Q: A empresa realizou formação profissional nos últimos 3 anos (2011, 2012, 2013)? 120% 100% 80% 60%

PME

40%

Não PME

20% 0% Sim, todos os anos Sim, num ou dois anos

Não

Gráfico 5: Realização de Formação Profissional

De notar que nenhuma PME realizou formação nos anos todos e cerca de 4% não realizaram Formação em nenhum dos 3 anos mas a maioria realizou formação todos os anos.

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Q: Razões para não executar formação, nos últimos 3 anos?

35% 30% 25% 20% 15% 10% 5%

PME

0%

Não PME

Gráfico 6: Razões para não realizar Formação Profissional

Todas as Não PME realizaram Formação pelo menos num dos anos e por isso não apontaram razões para a não realização de formação. As PME identificam como principais entraves o reduzido orçamento (32%), a falta de tempo dos colaboradores e a incompatibilidade de horários. Q: A empresa recorreu a algum tipo de financiamento para a realização das ações de Formação Profissional nos últimos 3 anos?

70% 60% 50% 40% PME

30%

Não PME 20% 10% 0% Sim, para todas as Sim, para uma parte acções das acções

Não

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Gráfico 7: Financiamento da Formação Profissional

A maioria das empresas recorreu a financiamento para realizar a formação. Mais de 60% das PME não recorreu a financiamento.

Q: Quais as áreas de formação mais relevantes para o seu negócio nos próximos três anos (2014, 2015, 2016)?

18% 16% 14% 12% 10% 8% 6% 4% 2% 0%

PME Não PME

Gráfico 8: Áreas de Formação Profissional

Tanto PME como Não PME apontam as mesmas tendências no que concerne as áreas de Formação necessárias, destacando-se a área da Segurança, seguida das áreas da Qualidade, da Produção e Comportamental. Q: Quais as principais razões que o levam a realizar formação profissional?

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A Formação Profissional tem valor estratégico para as empresas Portuguesas?

25% 20% 15% PME

10%

Não PME

5% 0%

Gráfico 9: Razões para realizar Formação Profissional

A principal razão apontada por todas as inquiridas é o desenvolvimento de competências técnicas, seguida da introdução de novas tecnologias e da resolução de problemas e o cumprimento de obrigações legais. Apontam como menores as razões de natureza estratégica, a internacionalização, inovação, motivação.

Q: Como pretende desenvolver a formação de que necessita?

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A Formação Profissional tem valor estratégico para as empresas Portuguesas?

40% 35% 30% 25% 20% 15% 10% 5%

PME

0%

Não PME

Gráfico 10: Formas de desenvolver Formação Profissional

As PME e as Não PME apontam, no que concerne a organização e forma de desenvolvimento da Formação, recorrer mais a colaboradores internos e à contratação de entidades formadoras e ainda à aquisição de formação padronizada no mercado.

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A Formação Profissional tem valor estratégico para as empresas Portuguesas?

Q: O que mais valoriza na formação profissional? 18% 16% 14% 12% 10% 8% 6% 4% 2% 0%

PME Não PME

Gráfico 11: O que mais se valoriza na Formação Profissional

As PME e as Não PME atribuem um grau de importância elevado aos aspetos da Formação: adequação às necessidades, a aplicabilidade dos conhecimentos e os efeitos da Formação na Organização.

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A Formação Profissional tem valor estratégico para as empresas Portuguesas?

CAPÍTULO 5 - CONCLUSÕES Perante a Tese “As empresas portuguesas não atribuem valor estratégico à Formação Profissional”, definimos três hipóteses, que agora validamos ou infirmamos. Da análise efetuada concluímos resumidamente: A maioria das PME e Não PME realizam Planos de formação anuais. Pese embora maiores insuficiências face à capacidade de realização de um Diagnóstico de Formação, apenas 12% das PME assumem não o fazer. Apenas de 4% das PME inquiridas não realizou Formação nos 3 anos anteriores ao estudo. Ambas PME e Não PME recorreram a algum tipo de financiamento para realizar a Formação mas mais de 60% das PME não o fez. Mas é curioso notar que o financiamento é a principal razão que estas apontam para a não realização da Formação.

Tanto PME como Não PME mostram as mesmas tendências no que concerne as áreas de Formação necessárias, destacando-se a área da Segurança, seguida das áreas da Qualidade, da Produção e Comportamental.

As principais razões para desenvolver Formação Profissional não divergem entre PME e Não PME. A principal razão apontada por ambas é o desenvolvimento de competências técnicas, seguida da introdução de novas tecnologias e da resolução de problemas e o cumprimento de obrigações legais. Ambas as tipologias apontam como menores as razões de natureza estratégica, a internacionalização, inovação, motivação.

As PME e as Não PME não se diferem igualmente no que concerne a organização e forma de desenvolvimento da Formação. Ambas recorrem mais a colaboradores internos e à contratação de entidades formadoras e a aquisição de formação padronizada disponível no mercado (catálogo).

Mais uma vez as PME e Não PME não se diferenciam muito face à importância que atribuem aos diversos aspetos da Formação e afirmam ambas destacar como muito importante a adequação às necessidades, a aplicabilidade dos conhecimentos e os efeitos da Formação na Organização.

Assim, perante as Hipótese apontadas: Na área da Importância estratégica da Formação Profissional: Hipótese 1: As empresas portuguesas atribuem maior valor estratégico à formação profissional Artigo Científico | Mestrado Gestão e Negócios | Susana Cunha

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A Formação Profissional tem valor estratégico para as empresas Portuguesas?

Hipótese 2: As empresas portuguesas atribuem maior valor instrumental à formação profissional Hipótese 3: As empresas portuguesas atribuem igual valor instrumental e estratégico à formação profissional

Da análise efetuada foi possível extrair e comparar as respostas de empresa PME e Não PME e surgiram as seguintes hipóteses secundárias: Hipótese 4: As PME portuguesas atribuem menos valor estratégico à Formação Profissional que as Não PME Hipótese 5: As PME portuguesas atribuem o mesmo valor estratégico à Formação Profissional que as Não PME Hipótese 6: As PME portuguesas atribuem mais valor estratégico à Formação Profissional que as Não PME

Hipótese 1: As empresas portuguesas atribuem maior valor estratégico à formação profissional Grande parte das empresas realiza formação. Mas nem todos a realizam de modo sistemático e consistente e há ainda uma boa parte que não realiza um Diagnóstico estruturado. Denota-se também ainda alguma dependência de financiamentos para a organização de formação e este investimento não se apresenta prioritário face a outros de índole produtiva, por exemplo. Mas a questão do financiamento pode ser uma falsa questão, uma vez que grande parte das PME afirmou não ter recorrido a financiamento. A insuficiência de orçamento, a falta de disponibilidade e os horários da formação são as principais razões apontadas para a não realização de formação.

Deste modo infirmamos a Hipótese 1.

Hipótese 2: As empresas portuguesas atribuem valor maior instrumental à formação profissional A formação é valorizada por todas as empresas perante os desafios de melhoria técnica, resolução de problemas de desempenho e resposta a exigências legais e/ou de mercado/clientes. Os gráficos 8 e 9 referem-se especificamente ao valor atribuídos à formação profissional. No que concerne as áreas de formação mais estratégicas: - Gestão Estratégica

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A Formação Profissional tem valor estratégico para as empresas Portuguesas?

- Gestão de Projetos - Finanças - Ambiente - Comportamental - Coaching

Apenas as áreas Comportamental e Ambiente denotam maior expressão em termos das escolhas das empresas. Já as áreas instrumentais, mais “hard”, ligadas à vertente técnica, de produção e desempenho ganham mais força nas escolhas das empresas, como sejam: - Segurança - Qualidade - Produção - Manutenção - Automação - Energia - Soldadura Por outro lado, no que concerne as principais motivações para que as empresas desenvolvam Formação (gráfico 9), assistimos novamente a opções mais ligadas à função instrumental da formação: - Desenvolvimento de Competências técnicas - Cumprimento de obrigações legais e decorrentes de exigências de clientes e/ou mercado/setor - Melhorias de desempenho - Adaptação a novos equipamentos ou tecnologias.

São apontados em muito menos escala opções de investimento relacionadas com a vertente estratégica como a inovação/novos produtos, internacionalização e motivação dos colaboradores.

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A Formação Profissional tem valor estratégico para as empresas Portuguesas?

A principal razão apontada para a realização de formação é o desenvolvimento de competências técnicas, seguida da introdução de novas tecnologias e da resolução de problemas e o cumprimento de obrigações legais. Ambas as tipologias apontam como menores as razões de natureza estratégica, a internacionalização, inovação, motivação. O que todas mais valorizam na formação é a sua aplicabilidade, o seu impacto na organização, nomeadamente na produtividade e a sua adequação à realidade específica de cada empresa. As empresas que reponderam ao inquérito não se posicionam estrategicamente de um modo geral no desenvolvimento da Formação Profissional.

Validamos assim a Hipótese 2: as empresas atribuem maior valor instrumental à formação

Hipótese 3: As empresas portuguesas atribuem igual valor instrumental e estratégico à formação profissional

Pese embora se confirme que as empresas portuguesas atribuem valor estratégico e instrumental à Formação Profissional, não lhe atribuem o meso valor e das conclusões explanadas anteriormente, infirma-se esta Hipótese 3.

Hipótese 4: As PME atribuem menos valor estratégico à Formação Profissional do que as Não PME. Não se denota uma diferença significativa perante a valorização da Formação Profissional entre PME e Não PME, pelo que se infirma esta Hipótese 4, pois ambas as tipologias apontam igual importância ao desenvolvimento de competências técnicas, seguida da introdução de novas tecnologias e da resolução de problemas e o cumprimento de obrigações legais. Assim infirma-se a hipótese 4.

Hipótese 5: As PME portuguesas atribuem o mesmo valor estratégico à Formação Profissional que as Não PME. As empresas que reponderam ao inquérito não se posicionam estrategicamente no desenvolvimento da Formação Profissional e não se diferencia este posicionamento entre PME e Não PME. As principais razões para desenvolver Formação Profissional não divergem entre PME e Não PME. Artigo Científico | Mestrado Gestão e Negócios | Susana Cunha

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A Formação Profissional tem valor estratégico para as empresas Portuguesas?

Validamos a Hipótese 5: as PME portuguesas atribuem o mesmo valor estratégico à Formação Profissional que as Não PME. Arriscamos apostar apenas que tendo genericamente as Não PME mais recursos, denotem maior robustez e retorno da Formação profissional na qual investem.

Hipótese 6: As PME portuguesas atribuem mais valor estratégico à Formação Profissional que as Não PME. Das conclusões explanadas anteriormente, infirma-se esta Hipótese 6.

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A Formação Profissional tem valor estratégico para as empresas Portuguesas?

7. CAPÍTULO 6 – LIMITAÇÕES E INVESTIGAÇÃO FUTURA

O presente estudo enferma, como tosos os estudos, de limitações relacionadas desde logo com o próprio tema da Formação Profissional, que em Portugal não apresenta uma literatura científica cabal no que concerne a visão das empresas. Assim, a produção científica utilizada apresenta limitações por não ser exclusivamente focada na problemática em estudo do valor estratégica da Formação para as empresas e alguns estudo não são atuais. Por outro lado o inquérito utilizado como base de análise foi realizado em 2013 e com um propósito instrumental por parte da entidade formadora, o que poderá ter condicionado as respostas. As empresas participantes no estudo são maioritariamente PME do Sul do País, o que por si não caracteriza mormente o tecido empresarial português. A análise às respostas não diferenciou setores de atividade e isso pode ter deturpado as conclusões.

Seria pertinente que estudos futuros controlassem a amostra de modo a que esta fosse efetivamente representativa do tecido empresarial português. Seria crucial atualizar a aplicação do inquérito e focar este exclusivamente nas questões de ordem estratégica para as empresas.

Sugerimos como interessante a diferenciação do tratamento dos dados face aos diferentes setores de atividade, uma vez que as empresas se posicionam muitas vezes de forma diferenciada face ao setor em que atuam. Da análise desenvolvida surgem-nos interessantes pistas para estudo como sejam os modelos de financiamento da formação nas empresas, que aparentemente é um fator crítico, os modelos de formação praticados e ainda a influência da informação/conhecimento sobre os benefícios de formação nas empresas para a competitividade sobre a perceção de valor que as empresas têm da formação profissional.

Finalmente, em termos metodológicos seria estimulante adotar o estudo de caso de uma empresa de cada tipologia e de cada setor de atividade e comparar resultados.

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8. CAPÍTULO 7 – IMPLICAÇÕES NA GESTÃO EMPRESARIAL

No nosso país, a maioria das empresas ainda não desenvolveu uma cultura de formação contínua, particularmente as PME. O financiamento de formação profissional através de meios públicos é também já uma tradição em Portugal este mecanismo pode ter tido um efeito contrário ao de espoletar uma cultura de formação nas empresas que subsista para além dos financiamentos.

Tendo por base o potencial da formação profissional para a competitividade do negócio, perguntamo-nos: Têm as empresas uma cultura organizacional de formação contínua? A Formação Profissional é uma ferramenta estratégica para aumentar a competitividade e gerar inovação nas empresas?

As empresas portuguesas são muito particulares nas suas dinâmicas e modelos de gestão. Geralmente não têm uma cultura organizacional apoiada em atividades de aprendizagem e desenvolvimento. Os atuais desafios são mormente colocados às que, menos capacitadas e com escassos recursos, vão ter que corresponder aos mesmos indicadores de Inovação e de internacionalização da Europa.

São estes tempos de mudança e de oportunidades que nos levam a retratar os modelos atuais da formação profissional nas empresas portuguesas e analisar o valor que esta representa, as suas virtudes e os seus constrangimentos, por forma a contribuir para uma reflexão mais alargada que nos permita introduzir os drivers adequados às oportunidades que se avizinham, quer do ponto de vista dos modelos de organização da formação nas empresas quer do ponto de vista da conceção dos Projetos de formação por parte dos prestadores de serviço ou mesmo das Autoridades de Gestão do Portugal 2020 para esta matéria.

Desta reflexão podem perspetivar um modelo de atuação perante a formação que os leve a aproveitar os instrumentos de financiamento da Formação com uma nova intencionalidade – a de desenvolver um modelo de formação sustentável e gerar uma cultura de formação contínua impactante na sua competitividade.

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9. AGRADECIMENTOS Aos autores dos estudos que suportaram este artigo, pela coragem de aprofundar um tema pouco explorado no âmbito empresarial e tão pouco valorizado. À Direção de Formação do ISQ, nomeadamente à Dra. Marisa pais e à Dra. Madalena Pereira, pelo apoio no acesso aos dados que permitiram este estudo. Às 151 empresas que responderam ao inquérito e que assim deram já um passo em frente face à valorização da Formação enquanto recurso estratégico ara o seu negócio. Ao Professor Dr. João Paulo Peixoto pelo seu contributo na elaboração deste artigo. Aos meus colegas de curso, pelo companheirismo e ânimo constates. Finalmente, à minha família, em especial ao meu marido e filhos, pelo tempo que lhes roubei… espero ser merecedora e capaz de os recompensar!

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10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Comissão (2003), Recomendação da Comissão n.º 2003/361/CE de 6 de Maio de 2003 relativa à definição de micro, pequenas e médias empresas INE (2010). “Empresas em Portugal – 2008”

GEE (2013). Relatório Anual de Formação Contínua 2010-2011, Ministério da Economia (ME) GEE (2013) Temas Económicos Dezembro 2013, Formação Contínua nas empresas em 2010 e 2011, Número 21

Gomes, J., Cunha, P., Rego, A., Cunha, R., Cabral-Cardoso, C., & Marques, C. (2008). Manual de Gestão de Pessoas e do Capital Humano. (1ª ed. Lisboa) Sílabo Meignant, A. (1999). A Gestão da Formação, Lisboa, Publicações Dom Quixote

Barata, A. (2011). Análise da produção científica sobre formação em PME no século XXI: a relevância dos estudos empíricos, Tese de Mestrado, Universidade Técnica de Lisboa Instituto Superior de Economia e Gestão

Fonseca, P. (2008). A Importância da Formação Profissional Contínua nas Empresas Portuguesas, Tese de Mestrado, Universidade Técnica de Lisboa - Instituto Superior de Economia e Gestão

Lee, G., McGuiggan, R. (2009). Small business training needs, preferred channels, and barriers, Journal of Academy of Business and Economics, International Academy of Business and Economics, Vol. 9 Issue 2

Smith, T. L., Stoney, S. B., & Walker, E. A. (2009). An Analysis of Small Business Owners Participation in Online Learning

Marques J., Câmara P., Martins P. (1999). Novas Perspectivas de Gestão. Pergaminho

Silva Melo I., Alberto Leitão J., Trigo M. (2002). Educação e Formação de Adultos – Factores de Desenvolvimento e Inovação e Competitividade. ANEFA Artigo Científico | Mestrado Gestão e Negócios | Susana Cunha

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Caldeira, M. (1998). Understanding the adoption and use of information systems/ information technology in small and medium-sized Manufacturing enterprises: a study in Portuguese industry. Tese de Doutoramento, School of Management, Cranfield

Coetzer, A. (2006). Managers as learning facilitators in small manufacturing firms. Journal of small business and Enterprise Development, vol. 13, n. º 3

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11. ANEXOS Anexo 1: Inquérito

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Anexo 2: Tabelas A empresa tem ou está a desenvolver um Plano de Formação para 2014? Sim Não PME 77% 23% Não PME 90% 10%

Em que momento do ano a empresa realiza o Diagnóstico de Necessidades de Formação? 1º 2º 3º 4º Não realiza Trimestre Trimestre Trimestre Trimestre Durante todo o ano Diagnóstico PME 31% 1% 4% 21% 33% 11% Não PME 29% 6% 3% 42% 19% 0%

A empresa realizou formação profissional nos últimos 3 anos (2011, 2012, 2013)? Sim, todos os anos Sim, num ou dois anos Não PME 76% 22% 3% Não PME 100%

Razões para não executar formação, nos últimos 3 anos?[Escolha até um máximo de 3 opções] Insuficiência de orçamento Inexistência de oferta adequada Falta de tempo Falta dosdecolaboradores informação Horários sobre incompatíveis a oferta de formação Por não se ver vantagem PME 33% 16% 21% 9% 20% 1% Não PME 0% 0% 0% 0% 0% 0%

A empresa recorreu a algum tipo de financiamento para a realização das ações de Formação Profissional nos últimos 3 anos? Sim, para todas as ações Sim, para uma parte das ações Não PME 3% 32% 65% Não PME 3% 55% 42% Quais as áreas de formação mais relevantes para o seu negócio nos próximos três anos (2014, 2015,2016)? [Escolha até um máximo de 5 opções]

Qualidade PME Não PME

Ambiente 13% 11%

Segurança Gestão Estratégica Finanças 11% 16% 7% 9% 17% 5%

Gestão Projectos 4% 4%

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Produção Coaching Comportamental Energia AutomaçãoManutençãoSoldadura 6% 8% 3% 10% 5% 3% 9% 5% 6% 11% 3% 11% 5% 3% 10% 4%

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Quais as principais razões que o levam a realizar formação profissional para os seus colaboradores? [Escolha até um máximo de 5 opções]

Desenvolvimento de competências Certificar técnicas a empresa no âmbito deIntroduzir uma Normanovas Desenvolver (qualidade, tecnologias/equipamentos ambiente, novos Resolverprodutos problemas soldadura,deenergia, desempenho Resolveretc.)problemas de motivação DiminuirdosoAumentar número colaboradores deAumentar o reclamações volume deCumprir o volume vendasobrigações dee/ou Cumprir produção volume requisitos legais Internacionalização de facturação de clientes /m PME 22% 8% 8% 3% 10% 7% 4% 8% 5% 12% 9% 4% Não PME 20% 8% 11% 5% 12% 5% 6% 7% 5% 8% 10% 4% Como pretende desenvolver a formação de que necessita? Utilizando os colaboradores Recrutando formadores externosContratando uma Recorrendo Entidade a ofertas Recrutando formadora de Catálogo novos colaboradores PME 26% 12% 35% 25% 2% Não PME 29% 12% 33% 21% 5%

Numa escala de 1 a 4, indique, por favor, o que mais valoriza na formação profissional? Pouco Importância Muito Importante Moderada Importante Importante A Qualidade dos conteúdos 2 2 41 O Desempenho dos formadores 0 3 42 A adequação às necessidades 1 2 20 O Cumprimento de prazos 0 17 73 Os horários praticados 1 18 79 Os Preços praticados 1 8 42 A Entidade Formadora 3 24 73 Aplicabilidade dos conhecimentos 1 1 20 Os efeitos na organização 1 2 26

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75 75 97 30 22 69 20 98 91

A Formação Profissional tem valor estratégico para as empresas Portuguesas?

12. APÊNDICE 1: RESUMO EXECUTIVO As empresas portuguesas estão ainda aquém dos indicadores europeus ao nível do desenvolvimento da Formação Profissional. Mas após quatro quadros comunitários de apoio com grande foco na formação, será que as empresas já apostam mais na formação como um investimento estratégico?

A competitividade e inovação, para além dos chavões do momento, são também o grande desafio colocado às empresas portuguesas e que pode mudar a nossa matriz económica. O novo quadro comunitário de apoio – o Portugal 20204 que agora começa promete acelerar a nossa economia nos próximos 5 a 7 anos e apoiar as empresas nesse propósito mas introduz um foco em resultados nunca antes exigido e que vai obrigar as empresas, PME em particular, a mudanças estruturais e consolidadas na sua estrutura de competências, na sua capacitação e não apenas a operações de estética e ilusória de investimento.

Mas a escassez de recursos, a crise em que mergulhamos e os vícios de décadas de financiamento fácil de formação profissional sem estratégia adequada às PME levou a que a maioria veja a formação profissional como uma obrigação por um lado e um investimento sem retorno por outro.

Encontramo-nos numa fase inicial do novo e presumivelmente último quadro comunitário de apoio – o já referido Portugal 2020. Este artigo pretende alertar e desafiar as empresas portuguesas para uma reflexão urgente face à estratégia a adotar perante as oportunidades de financiamento da formação profissional do Portugal 2020. Atentando nas conclusões disponíveis do estudo sobre Formação Contínua nas empresas em 2010 e 2011 do GEE5. Os resultados deste estudo indicam que vale a pena investir em formação profissional. Os encargos de formação profissional e o número de trabalhadores abrangidos por ações de formação estão associados positivamente à performance económica das empresas. Esta relação subsiste mesmo retirando o efeito das características intrínsecas a cada empresa, ao nível da sua dimensão e do sector económico em que exerce a sua atividade. Pese embora o estudo acautele para a fraca robustez desta interpretação, uma vez que se decorre apenas de um ano de observação, este vem confirmar a pertinência desta temática

4 Acordo de Parceria de Portugal 2014-2020 para os FEEI – Fundos Europeus Estruturais e de Investimento 5 Temas Económicos Dezembro 2013, Número 21

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numa fase de arranque de novo quadro comunitário, mas será que empresas estão devidamente sensibilizadas!? Será desta que vamos fazer uma aprendizagem coletiva e mudar mentalidades perante o valor da Formação profissional para as empresas!? Paulo Jorge Martinho da Fonseca refere no seu estudo ‘A Importância da Formação Profissional Contínua nas Empresas Portuguesas’ que as mudanças tecnológicas e a globalização são os principais fatores que nos últimos anos potenciaram mudanças organizacionais culturais. A competitividade começou a ser associada a domínios como a qualificação, a formação profissional ou mesmo a motivação dos trabalhadores. As empresas são confrontadas com uma forte concorrência e crescente incerteza do mercado. É-lhes exigida cada vez mais uma capacidade de resposta rápida a baixos custos. Os recursos humanos devem desempenhar um papel fundamental nesta dinâmica. Os dados estatísticos reforçam que o investimento em formação contínua é diminuto, o que resulta num cenário desolador que nos coloca na cauda da Europa, revelando acentuadas assimetrias de oportunidades no acesso à formação profissional, tendo os trabalhadores menos escolarizados menores oportunidades, quer de aprendizagem, quer de condições de trabalho. Na opinião do autor, é urgente e fundamental a valorização dos recursos humanos pela via da formação contínua, ou seja, investir na formação profissional. Ana Cláudia Ramos, na sua tese ‘Análise da Produção Científica sobre Formação em PME no século XXI’, aponta inúmeras causas para que as PME não invistam mais na formação dos seus colaboradores, tais como: os custos da formação, pois dispões de poucos recursos financeiros, o facto do investimento em formação estar associado ao risco, uma vez que muitas destas empresas têm receio de apostar na formação dos seus colaboradores e depois eles abandonem a empresa. Refere ainda que a pouca importância atribuída pelas PME ao planeamento estratégico e a falta de tempo que a sua gestão tem a se dedicar a esse planeamento, constituem outro dos motivos que pode explicar o baixo investimento em formação. O trabalho realizado procura demonstrar que se as empresas portuguesas investem em formação profissional como uma ferramenta estratégica, se lhe atribuem tal valor e a potenciam para a competitividade.

Complementando os estudos referidos, desenvolvemos um estudo dos resultados de um inquérito aplicado a PME e Não PME sobre o valor atribuído e modelos de formação Artigo Científico | Mestrado Gestão e Negócios | Susana Cunha

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profissional praticados. A amostra foi composta por 151 empresas portuguesas dos diversos sectores de atividade. Concluímos que as empresas portuguesas, PME e Não PME, atribuem mais valor instrumental do que valor estratégico Formação Profissional. A formação é valorizada pela função de desenvolvimento de competências e melhoria técnicas, resolução de problemas de desempenho e resposta a exigências legais e/ou de mercado/clientes. De um modo geral as empresas não consideram tanto o valor estratégico desta face à inovação, à internacionalização e ao seu papel no aumento da competitividade. Concluímos ainda que não se diferencia a valorização estratégica da formação entre PME e Não PME: as PME portuguesas atribuem o mesmo valor estratégico à Formação Profissional que as Não PME. Arriscamos apostar no entanto que as Não PME tendo genericamente acesso a mais recursos, denotem maior robustez e retorno da Formação profissional na qual investem. São estes tempos de mudança e de oportunidades que nos levam a retratar os modelos atuais da formação profissional nas empresas portuguesas e analisar o valor que esta representa, as suas virtudes e os seus constrangimentos, por forma a contribuir para uma reflexão mais alargada que nos permita introduzir os drivers adequados às oportunidades que se avizinham, quer do ponto de vista dos modelos de organização da formação nas empresas quer do ponto de vista da conceção dos Projetos de formação por parte dos prestadores de serviço ou mesmo das Autoridades de Gestão do Portugal 2020 para esta matéria.

Desta reflexão podem perspetivar um modelo de atuação perante a formação que os leve a aproveitar os instrumentos de financiamento da Formação com uma nova intencionalidade – a de desenvolver um modelo de formação sustentável e gerar uma cultura de formação contínua impactante na sua competitividade.

Palavras-chave: Formação profissional, Competências, PME, Financiamento de formação profissional, Competitividade, Valor estratégico da formação.

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13. APÊNDICE 2: REVISÃO DA LITERATURA Os temas mais importantes para este estudo são: a) Conceitos de Formação Profissional b) Contexto da Formação Profissional em Portugal c) PME d) Competência

a) Conceitos de Formação Profissional

O conceito de formação assenta no desenvolvimento de competências a nível profissional, no trabalho. (Gomes et al, 2008).

A formação profissional é um processo global e permanente pelo qual os trabalhadores, através da aquisição e desenvolvimento de competências, se preparam para o exercício de uma atividade profissional ou para a melhoria do seu desempenho, qualificando-os.

Responde, numa primeira instância, às necessidades de especialização e permanente atualização profissional dos recursos humanos na perspetiva de aumentar a eficácia, eficiência e qualidade dos serviços e de melhorar o seu desempenho.

Responde ainda às necessidades de competências das entidades empregadoras para cumprimento da sua estratégia e garantia de qualidade dos seus serviços e do sucesso do seu negócio.

Serve também como instrumento de desenvolvimento e de valorização pessoal e profissional, com vista ao aumento da produtividade, da motivação e da responsabilização. Formação Profissional Formação Profissional é dar forma a competências - através de uma aprendizagem que prepara as pessoas para o exercício de uma tarefa ou de uma profissão. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a Formação Profissional é “um processo organizado de educação graças ao qual as pessoas enriquecem os seus conhecimentos, desenvolvem as suas capacidades

e melhoram as suas atitudes ou

comportamentos, aumentando deste modo as suas qualificações técnicas ou profissionais, com vista à felicidade e realização, bem como à participação no desenvolvimento socioeconómico e cultural da sociedade”. Artigo Científico | Mestrado Gestão e Negócios | Susana Cunha

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A Formação Profissional na Organização Uma organização é um sistema no qual entram inputs que as pessoas transformam em produtos ou serviços cuja qualidade e adequação aos mercados respetivos asseguram o seu sucesso ou fracasso. As pessoas ocupam, assim, o centro deste processo, na medida em que são quem seleciona matérias-primas e equipamentos a utilizar, decide acerca dos meios financeiros que permitem obtê-los e produz os outputs (produtos e serviços) com maior ou menor qualidade, adequados a mercados que previamente definiu. A Formação Profissional permite intervir exatamente ao nível da capacidade de escolha de alternativas, da tomada de decisão em áreas definidas, pelo que constitui um instrumento estratégico de gestão, seja para uma empresa com fins lucrativos ou para uma instituição sem fins lucrativos, independentemente da sua dimensão, na medida em que intervém sobre o seu fator chave: os Recursos Humanos.

A Formação Profissional como elemento estratégico da Gestão de Recursos Humanos A Formação profissional apresenta-se como um instrumento de gestão com uma dimensão estratégica: é a atividade facilitadora da mudança em sentido lato, que propicia uma melhor adequação dos Recursos Humanos aos novos recursos materiais existentes, através da sua qualificação e reconversão quando necessárias; permitindo assim uma maior flexibilidade das organizações para fazer face a um futuro difícil de prever. Desta forma, a Formação Profissional é a atividade essencial de uma organização para a obtenção da flexibilidade necessária à Gestão de Recursos Humanos, a qual por sua vez permite a atualização do capital humano e a sua adequação aos objetivos mais globais da política da empresa. Permite a obtenção de vantagens face à concorrência, melhoria de qualidade, aumento de eficácia e diminuição de custos.

Tipos de Formação As ações de Formação Profissional destinam-se a jovens ou adultos e têm diferentes tempos de duração, metodologias e pressupostos, de acordo com os objetivos definidos. Artigo Científico | Mestrado Gestão e Negócios | Susana Cunha

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Neste sentido, existem alguns tipos característicos de ações de formação, sendo eles:

Aperfeiçoamento Profissional Ação de formação que tem como público-alvo pessoas que já têm formação inicial e que pretendem completar e melhorar conhecimentos, competências práticas, atitudes e comportamentos, no âmbito da função exercida.

Especialização Profissional Formação que vida reforça, desenvolver e aprofundar capacidades práticas, atitudes, comportamentos ou conhecimentos já adquiridos por um indivíduo ou grupo, e que são necessários ao melhor desempenho de tarefas profissionais específicas.

Formação em Alternância Formação profissional repartida por períodos passados na organização e na escola, combinando assim o trabalho ( ou formação de caracter prático) com o estudo (ou formação de carácter teórico).

Formação Profissional Inicial Formação que visa aquisição de capacidades indispensáveis para se poder iniciar uma profissão. Trata-se do primeiro programa de formação completo que habilita o desempenho das tarefas que constituem uma função ou profissão.

Reciclagem Formação que visa atualização de novos conhecimentos, capacidades práticas, atitudes e comportamentos dentro da mesma profissão, devido à necessidade de atualização resultante dos processos científicos e tecnológicos.

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A Formação Profissional tem valor estratégico para as empresas Portuguesas?

Reconversão profissional Formação que visa atribuir a um indivíduo uma qualificação diferente da já possuída, para que se possa exercer uma nova atividade profissional.

b) Contexto da Formação Profissional em Portugal

O quadro legal português determina a obrigatoriedade de formação profissional aos trabalhadores. Por outro lado, a necessidade de desenvolvimento de competências é cada vez mais específico e urgente.

Segundo o relatório de Relatório Anual de Formação Contínua 2010-2011 do Gabinete de Estratégia e Estudos (GEE) do Ministério da Economia (ME), 2013, a formação é particularmente importante no contexto da economia portuguesa, em que as empresas necessitam de ganhar capacidade para serem mais competitivas nos mercados externos. Portugal apresenta uma das produtividades por hora trabalhada mais baixas da zona Euro, correspondente a 64% da média da UE27 em 2012. Os dados mostram que apenas 17% (cerca de 50 mil) das empresas nacionais realizaram formação contínua em 2010 e em 2011, indiciando a necessidade de reforçar a aposta nas qualificações dos trabalhadores portugueses. Entre as empresas que proporcionam formação aos seus trabalhadores, as que realizam uma maior aposta apresentam um superior desempenho económico, medido pelo volume de vendas, o que parece confirmar os efeitos positivos da aposta na qualificação. Entre estas, as empresas de grande dimensão são as que realizaram mais formação em 2010 e 2011 (93% do total) e as microempresas as que proporcionaram menos formação aos seus empregados (só 13%), indiciando que a dimensão pode ser relevante para gerir os custos que lhe estão associados. Em média, 62% dos trabalhadores em grandes empresas, mas apenas 10,5% dos que trabalham em microempresas, realizaram 35 horas de formação em 2011. A formação realizada foi, em grande parte, da iniciativa das empresas (84% do total em 2011) e desenvolvida na própria empresa (cerca de 63% do total das ações).

A Formação Profissional e o Desenvolvimento Pessoal são mecanismos fundamentais na mudança de uma cultura organizacional face à de promoção da competitividade e da inovação. As PME são os agentes dessa mudança na matriz empresarial portuguesa. E são Artigo Científico | Mestrado Gestão e Negócios | Susana Cunha

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elas as mais deficitárias em termos de acesso, promoção e valorização da formação profissional

c) PME De acordo com o disposto na Recomendação da Comissão de 6 de Maio de 2003 relativa à definição de micro, pequenas e médias empresas (2003/361/CE) são classificadas como PME as empresas com menos de 250 trabalhadores cujo volume de negócios anual não excede 50 milhões de euros ou cujo balanço total anual não excede 43 milhões de euros. Na categoria das PME, uma pequena empresa é definida como uma empresa que emprega menos de 50 pessoas e cujo volume de negócios anual ou balanço total anual não excede 10 milhões de euros e uma microempresa é definida como uma empresa que emprega menos de 10 pessoas e cujo volume de negócios anual ou balanço total anual não excede 2 milhões de euros.

d) Competência O conceito de competência é complexo e nada consensual, divergindo entre vários autores pois tem significados distintos para os diferentes campos disciplinares. Le Boterf (1998) define competência como “uma disposição para agir de modo pertinente em relação a uma situação específica”. A competência “é um sistema, uma organização estruturada que associa de forma combinatória diversos elementos” A noção de competência está associada à noção de comportamento: as competências traduzem-se por comportamentos que contribuem para o sucesso numa tarefa. Competência é a capacidade de mobilizar saberes e habilidades adequados a cada situação/desafio concreto.

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