A fotografia como instrumento para (re)pensar a cidade: reflexões a partir de experimentos coletivos realizados em Pelotas e Oxford

September 5, 2017 | Autor: Fernanda Tomiello | Categoria: Photography, Landscape Architecture, Urban Design, Expanded Photography
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A FOTOGRAFIA COMO INSTRUMENTO PARA (RE)PENSAR A CIDADE Reflexões a partir de experimentos coletivos realizados em Pelotas e Oxford Fernanda Tomiello1 Eduardo Rocha2 Laura Novo de Azevedo3 Bárbara de Bárbara Hypolito4 Débora Souto Allemand5

Palavras-chave: fotografia; cidade; contemporaneidade; desenho urbano. A contemporaneidade pressupõe repensar e reinventar a cidade e suas relações. Assim, emerge a necessidade de construir conhecimento amparado em múltiplos instrumentos – capazes de contemplar a diversidade de opiniões, necessidades, ideias e alternativas para a cidade contemporânea. Este ensaio discute a utilização da fotografia como instrumento para (re)pensar a cidade a partir de experimentos realizados no projeto “Diferenças culturais e desenho urbano: experiência de transferenciabilidade de princípios entre as cidades de Pelotas e Oxford”. O projeto em questão, que foi apelidado de CrossCult, é dedicado ao estudo de qualidades de desenho urbano nas regiões centrais das cidades de Pelotas (Brasil) e Oxford (Inglaterra). Em Pelotas, a área de estudo é um trecho da Rua Andrade Neves e em Oxford, um trecho da Cornmarket Street. A metodologia do projeto CrossCult está pautada pelos princípios dos experimentos coletivos (Latour, 2004) e das cartografias urbanas (Rocha, 2008), com a estratégia de ação dividida em 3 etapas: territorialização, desterritorialização e reterritorialização (Guattari, 1993; Haesbaert, 2006). Tendo como objetivo geral compreender e sistematizar os princípios de desenho urbano experimentados nas cidades de Pelotas e Oxford, a pesquisa ocorre simultaneamente nas áreas centrais das duas cidades (mais informações sobre esse projeto estão disponíveis no site http://crosscult.com.br/). O projeto está em andamento e deverá ser concluído em março de 2015. Nas etapas de territorialização e desterritorialização, que já ocorreram – em Pelotas e 1

Estudante no PROGRAU/FAUrb/UFPel. [email protected]. Professor no PROGRAU/FAUrb/UFPel. [email protected]. 3 Professora na Oxford Brookes University. [email protected]. 4 Estudante no PROGRAU/FAUrb/UFPel. [email protected]. 5 Estudante no PROGRAU/FAUrb/UFPel. [email protected]. 2

Oxford, respectivamente – os experimentos coletivos consistiram na realização de duas oficinas de fotografia em cada cidade. A primeira oficina, “Espiando o desenho urbano”, teve ênfase no reconhecimento do lugar. Assim, os participantes tiveram a oportunidade de experimentar e registrar as qualidades de desenho urbano encontradas. A segunda oficina, “Fotografia Expandida”, teve um caráter propositivo, ou seja, os participantes sugeriram, através da produção de imagens fotográficas, a incorporação de qualidades de desenho urbano à área de estudo. A fotografia expandida, segundo Fernandes Júnior (2006), tem ênfase no fazer, no processo de criação do artista. Sua finalidade é a produção de imagens perturbadoras, apontando para uma reorientação dos paradigmas estéticos e ampliação dos limites da fotografia enquanto linguagem. A fotografia expandida é uma possibilidade de expressão que foge da homogeneidade visual repetida à exaustão. Uma espécie de resistência e libertação. De resistência, por utilizar os mais diferentes procedimentos que possam garantir um fazer e uma experiência artística diferente dos automatismos generalizados; de libertação, porque seus diferentes procedimentos, quando articulados criativamente, apontam para um inesgotável repertório de combinações que a torna ainda mais ameaçadora diante do vulnerável mundo das imagens técnicas (Fernandes Júnior, 2006, p. 19).

Algumas das características apontadas pelos participantes da primeira oficina como configuradoras de um bom lugar foram: identidade cultural (patrimônio histórico edificado, chimarrão); escala e dimensões do espaço aberto; diversidade de usos e idades; existência de locais de permanência adequados para diferentes públicos (figura 1a); moldabilidade e flexibilidade para diferentes usos e atividades (figura 1b).

a b Figura 1 (a e b): imagens da oficina “Espiando o Desenho Urbano” realizada em Pelotas. Fonte a) Isabel Cristina Pires dos Santos; b) Eliene Barbachan Dubreuilh. 2014.

Na oficina “Expandida” os participantes foram estimulados a utilizar aplicativos e programas de edição de imagens que permitissem ampliar as possibilidades de composição mediante a sobreposição e justaposição de imagens, por exemplo. Nessa oficina, algumas sugestões de qualidades que poderiam ser agregadas ao local foram: aumento da permeabilidade visual e física; criação de visuais mais abertas; aumento da diferenciação entre lugares de permanência e de passagem; inclusão de cores mais vivas (figura 2a) e de vegetação em áreas muito pavimentadas (figura 2b).

a b Figura 2 (a e b): imagens da oficina “Fotografia Expandida” realizada em Pelotas. Fonte a) Rafaela Barros de Pinho; b) Fernanda Tomiello. 2014.

Na Cornmarket Street, em Oxford, algumas qualidades apontadas na oficina “Espiando” foram: sinuosidade da rua; experiência sonora; multiplicidade de texturas e detalhes arquitetônicos; boa permeabilidade visual (figura 3a) e conexões através de galerias (figura 3b). Na oficina “Expandida” foram sugeridos: divisão de um espaço amplo em pequenos espaços, inclusão de vegetação; variação no ritmo das construções; criação de espaços de permanência (figura 4ª) e incentivo à novos comportamentos (figura 4b).

a b Figura 3 (a e b): imagens da oficina “Taking a Peek at Urban Design” realizada em Oxford. Fonte a) Charlie Herd; b) Pablo Newberry. 2014.

a b Figura 4 (a e b): imagens da oficina “Expanded Photography” realizada em Oxford. Fonte a) Laura Novo de Azevedo; b) Senem Doyduk. 2014.

Tanto em Pelotas quanto em Oxford houve uma resistência inicial ao desafio de registrar apenas as qualidades do lugar na primeira oficina. No entanto, essa resistência potencializou o trabalho da segunda oficina, na qual os aspectos negativos que haviam sido observados anteriormente foram transformados em propostas ou sugestões para a área estudada, através da fotografia expandida. A utilização de técnicas fotográficas convencionais na primeira oficina permitiu manter o foco na discussão no tema das qualidades que fazem um bom lugar. Já na segunda oficina, os aspectos técnicos da construção de imagens com caráter propositivo tiveram uma importância maior. Assim, foi possível (re)pensar os lugares través da fotografia, sugerindo novos usos, atividades e configurações espaciais mediante a manipulação de imagens. Destaca-se ainda nesse processo, a rapidez e facilidade de manipulação de imagens, as múltiplas possibilidades de edição e as diferentes alternativas para a construção das imagens – que incluem as possibilidades do próprio equipamento e a utilização de aplicativos ou programas de computador.

AGRADECIMENTOS Os autores agradecem o financiamento do Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS) para a realização do projeto e a colaboração do Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo (PROGRAU), do Joint Centre for Urban Design (JCUD) e do Laboratório de Urbanismo da FAUrb (LABUrb).

REFERÊNCIAS FERNANDES JÚNIOR, R. Processos de Criação na Fotografia apontamentos para o entendimento dos vetores e das variáveis da produção fotográfica. Facom, n. 16, 2006. GUATARRI, F. As três ecologías. Campinas: Papirus, 1993. HAESBAERT, R. O mito da desterritorialização: do fim dos territórios a multiterritorialidade. Rio de janeiro: Bertrand Brasil, 2006. LATOUR, B. As políticas da natureza. Florianópolis: EDUSC, 2004. ROCHA, E. Cartografias Urbanas. In: Revista Projectare. n. 2. p.162-172. Pelotas: UFPel, 2008.

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