A Fugacidade do Capital Retratado em Wall Street I e II

June 14, 2017 | Autor: Renato Torquato | Categoria: Mestrado
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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI RENATO TORQUATO

A FUGACIDADE DO CAPITAL RETRATADOS EM WALL STREET I E II

SÃO PAULO 2014

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RENATO TORQUATO

A FUGACIDADE DO CAPITAL RETRATADOS EM WALL STREET I E WALL STREET II

Dissertação de Mestrado apresentada à Banca Examinadora, como exigência para a obtenção do título de Mestre do Programa de Mestrado em Comunicação, área de concentração em Comunicação Contemporânea da Universidade Anhembi Morumbi, sob a orientação da Profª. Dra. Maria Ignês Carlos Magno

SÃO PAULO 2014

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RENATO TORQUATO

A FUGACIDADE DO CAPITAL RETRATADOS EM WALL STREET I E II

Dissertação de Mestrado apresentada à Banca Examinadora, como exigência para a obtenção do título de Mestre do Programa de Mestrado em Comunicação, área de concentração em Comunicação Contemporânea da Universidade Anhembi Morumbi, sob a orientação da Profª. Dra. Maria Ignês Carlos Magno

Aprovado em ----/-----/-----

Prof.ª Dra. Maria Ignês Carlos Magno

Prof. Dr. Gelson Santana Penha

Prof.ª Dra. Tânia Callegaro

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AGRADECIMENTOS O primeiro agradecimento é a Deus, pois para concretizar esse objetivo pessoal em minha vida, foi necessário algo tão simples e tão essencial ao ser humano que é a saúde. A minha esposa Claudete e filhas Priscilla, Cintia e Viviane por me ensinarem que a vida é mais que o momento e pelo apoio perene em todas e quaisquer circunstâncias. Ao meu ex-gestor Marcelo Vasconcelos, o qual viabilizou a possibilidade de realizar meu mestrado e a Alessandra Marota por todo o apoio junto na parte burocrática do mestrado. A Profª. Maria Ignês pelo cuidado e dedicação na orientação do mestrado em todas as etapas, na gentileza de conseguir escutar meus pontos de vista, muitas vezes confusos e transformá-los em algo tão objetivo, qualitativo e direcionado em meus estudos. Ao casal que levo comigo por toda a vida Professores Gelson Santana e Bernadette Lyra pela ampliação de meu olhar para vários outros pontos de vista do cinema e da sociedade em que vivemos, pelo lado humano engrandecedor, pela escuta ativa ao possibilitar me expressar, pelas suas inesquecíveis aulas, pela grandeza de conhecimento e de alma. Obrigado à vida por conhecê-los. Aos Professores Renato Pucci e Sheila Schvarzman pelas tão bem pontuadas questões históricas do cinema e suas transformações até a pós-modernidade. Aos amigos de sempre Augusto Roque, Walter Chiquetto e Marcello Cacavallo como meus grandes incentivadores, apoiadores em todo o período do mestrado e pelas dicas e escuta ativa para os meus desabafos.

“Porque o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males.” I Timóteo 6:10

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RESUMO A proposta desta pesquisa está na apreciação dos filmes Wall Street I Poder e Cobiça (1987), Wall Street II O Dinheiro Nunca Dorme (2010) e suas relações com as transformações do capital. A ideia central é tratar sobre os efeitos da pósmodernidade, no mercado financeiro e as grandes mudanças que ocorreram na mobilidade do dinheiro, desse capital fugaz, no período aproximado de pouco mais vinte anos, entre os dois filmes. A narrativa dos filmes acontece em um cenário de uma economia já desregulamentada em seu sistema financeiro e realizando seus movimentos de capitais excedentes, cada vez mais intensos, refletindo os efeitos de uma economia globalizada. Busca-se compreender como esses filmes retratam essa riqueza ou perda quase que instantânea conquistada através dos recursos investidos no capital especulativo das bolsas de valores e a intangibilidade desse tipo de capital. A metodologia pautou-se pelo estudo dos dois filmes e pesquisas teóricas que tratam das transformações do capital, procurar associar como os filmes relacionam essas transformações do capital produtivo para o especulativo num espaço de vinte anos e como as sociabilidades na era desse capital especulativo, também foram influenciadas. Os resultados pretendidos nessa pesquisa são o de identificar como os dois filmes retratam esse tipo de capital especulativo e sua presença cada vez mais constante na sociedade pós-moderna.

Palavras-Chave: Cinema. Wall Street I e II. Capital. Especulação.

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ABSTRACT The purpose of this research is the examination of the films Wall Street Greed and power I (1987), Wall Street II Money Never Sleeps (2010) and its relations with the transformations of capital. The central idea is to treat the effects of postmodernity, the financial market and the major changes that occurred in the mobility of money, this elusive capital, the approximate period of just over twenty years between the two films. The narrative of the film takes place against a backdrop of an economy already in deregulated its financial system and performing their movements increasingly intense capital surplus, reflecting the effects of a globalized economy. We seek to understand how these films portray that wealth or loss almost instantly conquered by the resources invested in speculative capital from the stock exchanges and the intangibility of such capital. The methodology was guided by the study of both films and theoretical research dealing with transformations of capital, seek to involve how films relate these transformations of productive capital to a speculative space of twenty years and sociability as the speculative capital that was also were influenced. The results of this research are intended to identify how the two films portray this kind of speculative capital and its constant presence in the increasingly postmodern society.

Keywords : Movie. Wall Street I and II. Capital. Speculation.

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LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Pânico dos investidores em frente os portões de Wall Street...................19 Figura 2 – Os 10 Estados mais envolvidos na crise do subprime..............................26 Figura 3 - Gordon Gekko............................................................................................30 Figura 4 - Discurso de Gordon Gekko ao grupo de acionistas da Teldar Paper........31 Figura 5 – Escritório de Gordon Gekko......................................................................32 Figura 6 – Bud Fox na corretora em que trabalha......................................................33 Figura 7 - Bud Fox e seu pai Carl Fox........................................................................35 Figura 8 - Cena do bar em que Carl Fox passa a informação ao Bud Fox sobre a Bluestar......................................................................................................................36 Figura 9 - Bud Fox no escritório de Gekko passando uma informação privilegiada..37 Figura 10 - O investidor Larry Wildman, Bud Fox e Gordon Gekko...........................38 Figura 11 - Bretton James e Julie Steinhardt reunião no banco central americano...39 Figura 12 - Jacob Moore e sua mãe...........................................................................40 Figura 13 – Bolhas representadas em Wall Street O Dinheiro Nunca Dorme...........41 Figura 14 – Jacob Moore e Louis Zabel caminhando no parque...............................42 Figura 15 - Jacob Moore, Bretton James e Gordon Gekko........................................43 Figura 16 – Gordon Gekko e o medidor de pressão para inibir Bud Fox...................44 Figura 17 – Gekko tem a informação privilegiada de Bud Fox...................................45 Figura 18 – Jacob Moore e a presença constante da tecnologia...............................46 Figura 19 - Bud Fox e Gordon Gekko modelo Yuppie dos anos 80...........................48 Figura 20 – Gekko, Darien Taylor e Bud Fox.............................................................49 Figura 21 - Capa da revista Newsweek Magazine de 31/12/84.................................50 Figura 22 – Bud Fox e a decoradora Darien Taylor...................................................51 Figura 23 – Bud Fox encontra com seu pai Carl Fox.................................................52

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Figura 24 – Larry Wildman oponente de Gekko.........................................................55 Figura 25 - Gekko utilizando o primeiro modelo de celular Motorola DynaTAC.........56 Figura 26 – Celular Motorola Dyna TAC devolvido a Gordon Gekko………….…......57 Figura 27 – Jacob Moore e Winnie Gekko no filme Wall Street II………….……....…58 Figura 28 – A chegada dos celulares e computadores pessoais em Wall Street I....60 Figura 29 - Bretton James em seu escritório Wall Street II........................................62 Figura 30 – Gekko entrega o cheque da primeira operação com Bud.......................63 Figura 31 – Lou Mannheim e Bud Fox na Corretora..................................................64 Figura 32 – A polícia dá voz de prisão a Bud Fox......................................................65 Figura 33 – Gordon Gekko e sua filha Winnie............................................................68

LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 Comportamento dos preços da Tulipa entre 1636 e 1637..........................14 Gráfico 2 Comportamento do Índice Dow Jones entre 1920 a 1932..........................18 Gráfico 3 Nasdaq composite history index 1995 through 2009..................................24 Gráfico 4 Taxa de Desemprego nos Estados Unidos entre 1980 a 2012..................29

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................................10 2. WALL STREET NO CONTEXTO DO CAPITALISMO ESPECULATIVO............29 2.1 O uso da Informação Privilegiada..................................................................36 2.2 O Dinheiro nunca dorme: a Informação está disseminada............................38 3. WALL STREET I E II ESPAÇOS E SOCIABILIDADES NA ERA DO CAPITAL ESPECULATIVO.....................................................................................................47 3.1 O Espaço Social da Geração Yuppie.............................................................49 3.2 O Desaparecimento da Distância...................................................................57 3.3 O Espaço Social do Consumo.......................................................................59 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................63 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................71 FILMOGRAFIA........................................................................................................72

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INTRODUÇÃO

Ao tratar do assunto capital e sua relação com os filmes Wall Street I Poder e Cobiça (1987) e Wall Street II O Dinheiro Nunca Dorme (2010) há a necessidade de se percorrer um pouco da história, trajetória e transformações desse mesmo capita, pois como diz Leo Huberman em sua obra A História da Riqueza do Homem1, a ciência triste continuará triste, enquanto ensinada e estudada em um vácuo histórico. Huberman compreende na expressão “ciência triste” citada em sua obra, a importância de se explicar a história de uma sociedade através do estudo da teoria econômica, possibilitando uma interrelação ou intersecção essencial entre os dois temas: econômico e histórico numa sociedade. Os dois filmes Wall Street I Poder e Cobiça e Wall Street II O Dinheiro Nunca Dorme retratam em sua narrativa essas mudanças econômicas e nas transformações do capital num período de pouco mais de vinte anos entre 1987 a 2010. Ao longo da história sempre existiu a riqueza e a pobreza, a fartura e a miséria, os servos e seus senhores, convivendo numa mesma sociedade. Na maior parte da idade média (período compreendido aproximadamente entre os séculos V e XV) a riqueza era então percebida pela quantidade de terras que uma determinada pessoa, família ou entidade possuíam. Com a rápida expansão do comércio na Europa, a partir do século XI, um dos efeitos mais perceptíveis dessa expansão foi o crescimento das cidades. Também a expansão do comércio traz a essas sociedades um novo tipo de riqueza, que não apenas a riqueza em terras. Surge a riqueza em capital, a riqueza em dinheiro onde é definida estruturas do capitalismo, o qual tem o seu início histórico no continente europeu, com as expansões marítimas e o comércio veneziano, surgimento dos bancos e da burguesia, a qual passa a usufruir desse novo tipo de riqueza conquistada através do lucro financeiro do comércio de bens. O dinheiro, conforme citado a seguir por Huberman vai mudando de sentido e criando novas identidades em sua relação com a sociedade:

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O trecho citado faz parte da clássica obra de Leo Huberman: A História da Riqueza do Homem, datada de julho de 1936, onde o mesmo procura explicar a Economia através do estudo da história.

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“Os direitos que mercadores e cidades conquistaram refletem a importância crescente do comércio como fonte de riqueza. E a posição dos mercadores na cidade reflete a importância crescente da riqueza em capital, em contraste, com a riqueza em terras. Nos primórdios do feudalismo, a terra, por si só, constituía a medida da riqueza de um homem. Com a expansão do comércio, surgiu um novo tipo de riqueza – a riqueza em dinheiro.” (HUBERMAN, 1986 p.35)

Nesse período da idade média, os ricos financeiros passam a arrumar formas de dar dinâmica ao dinheiro e começam a emprestar dinheiro para outras pessoas com necessidades do mesmo, só que surge um conflito com a Igreja: cobrar juros sobre um empréstimo realizado em dinheiro era chamado de Usura 2 e pela Igreja Cristã também de Pecado. Jacques Le Goff em sua obra: A bolsa e a vida: a usura na idade média aborda com clareza como se estabelecia um conflito entre o dinheiro e o inferno, a riqueza ou o paraíso e como o lucro e a nova forma do dinheiro foi se incorporando ao novo sistema do capital. “O usurário cristão tinha escolhido, dentre os valores terrestres em alta, o mais abominável, mesmo sendo materialmente cada vez mais procurado: o dinheiro. Não faço do usurário cristão uma vítima, mas um culpado que partilha sua culpa com o conjunto da sociedade, que mesmo o desprezando e perseguindo, servia-se dele e partilhava sua sede pelo dinheiro..” (GOFF, 1986 p.35)

A Usura também era condenada pelos Governos considerando que a mesma era um dos vícios mais odiosos e detestáveis de uma sociedade. A partir do século XIV surge outro fenômeno no capital: a desvalorização da moeda, que na época significava menor quantidade de ouro e prata nas moedas. Por exemplo, vamos supor que para um dólar, existisse um grama de ouro contido na nota. A desvalorização por parte dos países acontecia da seguinte forma: ao invés de um grama de ouro, reduzia-se para a metade, ou seja, em cada nota de um dólar, a mesma teria apenas ½ grama de ouro. Nesse caso: o valor nominal da moeda continua, porém seu poder de compra era menor pela desvalorização. Esse movimento aumentava a riqueza dos países. As mudanças vão ocorrendo de forma rápida ao final da idade média, próximo ao século XV, sendo a ascensão de uma classe média, principalmente nas grandes cidades, um dos fatos importantes desse período. Essa mesma classe média passa a entrar em conflito com a religião católica dominante, conforme cita Huberman: 2

No século XV chamava-se de usura a prática de cobrar juros de qualquer espécie sem relação com a produção ou mesmo com as possibilidades de produção, pois entendia-se na época que dinheiro não poderia gerar dinheiro.

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“Esse novo grupo, a nascente classe média, sentia que havia um obstáculo no caminho do seu desenvolvimento: o ultrapassado sistema feudal. A classe média compreendia que seu progresso estava bloqueado pela Igreja Católica, que era a fortaleza de tal sistema”. (HUBERMAN, 2010 p.82)

Também nesse período acontece o surgimento das casas bancárias. No ano de 1434, em Florença na Itália, o principado dos Médici, tradicional família de burgueses que comandava Florença. Os banqueiros que emergiram nesse período detinham um recurso escasso (que não era mais uma mercadoria) que é o dinheiro e emprestavam recursos aos mercadores e até aos governos. O capital vai se transformando cada vez mais. Durante o século XV, a cidade de Antuérpia (Bélgica) se torna o centro de toda a atividade comercial e financeira do continente europeu, com a implantação de várias casas bancárias e surgimento das bolsas de valores, possibilitando maior expansão para o capital. A reforma protestante também acontece no século XV onde o capital passa a se acumular rapidamente e há um sentimento de culpa, por seus enriquecidos, quanto à questão dos princípios da vida cristã. Nesse novo movimento do capital, um investidor se tornava acionista de uma empresa, de posse de um título, porém sem participar ou trabalhar na mesma. O recurso vindo desses investidores servia para que a empresa captasse recurso para poder crescer, porém o risco de dar algo errado agora também era compartilhado. A partir desse período o ato de levantar capital não dependeria apenas de uma ou duas pessoas individualmente, mas contando com o apoio de muitos investidores que compravam papéis dessas empresas para que elas, com os recursos obtidos, investissem em empreendimentos de expansão na América, África e Ásia. Com o sucesso inicial da bolsa de valores, até mesmo as expedições de corsários, conseguiam realizar suas viagens com recursos de acionistas investidores. Com essa rápida expansão surge também os primeiros movimentos de especulação financeira. Max Weber, em sua clássica obra A Ética Protestante3 denomina o capital como “espírito” estabelecendo que através da ética, poderia se estabelecer uma procura

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O livro a Ética Protestante de Max Weber foi uma obra escrita no período entre 1904 e 1905 onde o autor investiga as origens do capitalismo convergências entre as ideias religiosas e o comportamento econômico de uma sociedade

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racional pelo ganho econômico. A partir daí vários sinônimos e adjetivos são acrescentados à palavra Capital. Weber comenta: “Lembre-se que o dinheiro é de natureza prolífica e geradora. O dinheiro pode gerar dinheiro, e seu produto gerar mais, e assim por diante. Cinco shillings circulando são seis; circulando de novo são sete e três pence e assim por diante, até se tornarem cem libras. Quanto mais dele houver, mais produz a cada aplicação, de modo que seus juros aumentam cada vez mais rapidamente. Aquele que mata uma porca prenhe destrói sua descendência até a milésima geração. Aquele que “mata” uma coroa destrói tudo aquilo que poderia ter produzido, até muitas libras”. (WEBER, 2010 p.16)

Conforme Weber, o culto ao capitalismo está destinado à sua própria culpa, principalmente em seu início devido a questão religiosa. Os ensinamentos Calvinistas procuram estabelecer um bom convívio entre o capitalismo e a religião. Nesse período ocorre a possibilidade de convergência entre o capital e religião, sem que o capitalista ficasse com o sentimento de culpa de sua riqueza conquistada. “Por que razão a renda com negócios, não pode ser maior do que a renda com a propriedade da terra? De onde vem os lucros do comerciante, senão de sua diligência e indústria.” (HUBERMAN, 1986, p.169) Com uma economia no século XVI, já vivendo uma espécie de globalização, os banqueiros criam formas para que as transações entre os países, não sejam pagas mais através de dinheiro físico e sim virtual: criam-se certificados, recibos e letras de câmbio, apenas com os valores transacionados, como citado por Huberman: “Se a Inglaterra deve à França 100 mil onças de prata, para o balanço do comércio, se a França deve 100 mil onças à Holanda, e se a Holanda deve 100 mil onças à Inglaterra, essas quantias poderão ser encaminhadas através de letras de câmbio entre os respectivos banqueiros desses três Estados, sem a necessidade de enviar dinheiro a qualquer deles. ” (HUBERMAN, 1986, p.96)

Os primeiros movimentos do que se pode denominar fugacidade do dinheiro, teve como principal centro financeiro Amsterdã na Holanda onde, com o passar do tempo, as transações financeiras passam a superar as próprias transações do comércio. Porém essa expansão traz consigo suas consequências nem sempre positivas. No início do século XVII, em 1602, surge a Bolsa de Valores em Amsterdã, na Holanda, onde o cenário econômico apresentava algo extremamente positivo. As

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ações da Companhia das Índias estavam em alta, gerando nos investidores um clima de euforia e de êxtase. Também ocorre nesse período um crescimento econômico na produção de Tulipas, onde o mercado externo se vislumbrava com esse plantio, o qual tinha padronização, qualidade e identificação de procedência. O sistema financeiro se engendra na produção das Tulipas, criando um mecanismo semelhante ao mercado de ações onde os investidores poderiam comprar títulos de bulbos de Tulipa para vendê-los futuramente na colheita obtendo uma vantagem na valorização, pois o produto estava com os preços em alta. Esse sistema, semelhante ao que podemos chamar atualmente de mercado futuro, durante um período de tempo o investidor teria que esperar que os bulbos florescessem, entre 1636 e colheita no início de 1637. Os preços dispararam. Em 3 de fevereiro desse mesmo ano, a bolha estoura. Percebe-se um sistema financeiro em que foram vendidos mais títulos do que a capacidade de produção, boatos de que os compradores não pagariam os preços tão elevados do produto e os contratos não foram honrados, gerando assim um efeito dominó, pois os produtores que tinham recebido o dinheiro não tinham como devolver o retorno aos investidores, pois não havia compradores da produção. O sistema se autodestrói gerando uma perda a milhares de investidores.

Gráfico 1: Comportamento dos preços da Tulipa entre 1636 e 1637. Fonte: mysmp.com

Tal episódio entrou na história econômica até os dias atuais e também é comentado por Gordon Gekko, no filme Wall Street II, onde ele possui uma gravura da Tulipomania e explica o que foi esse fenômeno ao Jacob Moore.

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Weber também utiliza a expressão do capitalismo “aventureiro” ao comentar que esse formato se expande em toda a sociedade, o “comércio” do uso do dinheiro e suas oportunidades em exploração de impostos, empréstimos ao Estado e financiamento de guerras zombando de qualquer limitação ética. No lado do capital produtivo também ocorre uma franca expansão. O capital produtivo, na visão de Adam Smith4, o mesmo associa o capital produtivo à geração de Valor e Utilidade de um bem. Comenta Adam Smith “a palavra Valor tem dois significados: às vezes o designa a utilidade de um determinado objeto, e outras vezes, o poder de compra que referido objeto possui, em relação a outras mercadorias. O primeiro pode se chamar Valor de Uso e o segundo Valor de Troca. A coisa que tem mais alto valor de uso, frequentemente, tem pouco ou nenhum valor de troca; vice-versa, o bem que tem o mais alto valor de troca muitas vezes tem pouco ou nenhum valor de uso.” (SMITH, 1988 p.35)

Adam Smith identifica quatro maneiras para o Capital ser aplicado: 1) para obter produção natural ou bruta da terra, 2) para manufaturar e preparar esta produção bruta da terra, 3) para transportar a produção bruta ou produção manufaturada e 4) para distribuir esses produtos brutos ou manufaturados em pequenas parcelas, de acordo com a demanda local. Porém, com os altos retornos proporcionados pelo capital produtivo e sua revolução industrial começam a trazer então um conflito, até então restrito às mercadorias. O que fazer com toda a produção excedente? Huberman comenta sobre esse conflito. “Portanto, o desejo de controlar as fontes de matérias-primas foi um segundo fator do imperialismo. O primeiro sabe o leitor, foi a necessidade de encontrar mercado para os artigos excedentes. Havia um outro excedente, também buscando um mercado adequado e que constitui a terceira e talvez a mais importante causa do imperialismo. Foi o excesso de capital. A indústria monopolista trouxe grandes lucros a seus donos e superlucros. Mais dinheiro do que eles poderiam imaginar. O resultado foi uma superacumulação do Capital.” (HUBERMAN, 1986, p.248)

O século XVIII também é marcado no continente Europeu com a revolução industrial5. A Revolução Industrial dá maior força ao capital produtivo, marcando um

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Adam Smith, em sua obra A Riqueza das Nações é composto por cinco volumes, publicado pela primeira vez em Londres no ano de 1776. Os principais temas abordados na obra são referentes a divisão do trabalho, valor, distribuição da renda e a acumulação do capital. 5 A Revolução Industrial teve início no século XVIII, na Inglaterra, com a mecanização dos sistemas de produção. Enquanto na Idade Média o artesanato era a forma de produzir mais utilizada, na Idade Moderna tudo mudou. A burguesia industrial, ávida por maiores lucros, menores custos e produção acelerada, buscou alternativas para

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período de enorme crescimento econômico em detrimento também de um alto custo social, pois as utilizações das máquinas passam a ser o foco central do processo produtivo. “Eclodiram várias revoltas contra o sistema fabril: multidões de trabalhadores arremetiam-se contra as máquinas e as instalações das fábricas, destruindo o que julgavam ser a causa de seu sofrimento. ” (MOTTA, 2008 p.19)

Um episódio em destaque pode ser o caso do Esquema Mississipi, elaborado por John Law (MELLO; SPOLADOR, 2012, p.164-165) no começo do século XVIII, onde a emissão de títulos da companhia prometia aos investidores um retorno de 120% nas ações. Essa promessa gerou uma procura frenética dos investidores franceses. Essas ações foram gerando tanta rentabilidade quem foram chamadas na época de milionaire. John Law se tornou o homem mais rico e poderoso no início do século XVIII onde, dentre os seus ativos tinha o Banco Royale, o qual representava o Banco Central da França. Essa bolha estourou quando foi percebida a incapacidade de expansão da empresa, para devolver os recursos produtivos esperados. No século XIX, principalmente com o advento da revolução industrial, o dinheiro também passa a ter o seu capital excedente. Esse capital excedente passou a encontrar refúgio em países mais pobres em seu desenvolvimento e que estavam carentes de infraestrutura. Porém da mesma forma que ocorre o “êxtase” do capital, também o próprio sistema por ele criado, o faz passar por crises. Percebe-se que o sistema do capital passa a conviver também com crises como crise da moeda, hiperinflação, quebra de bolsa de valores e juntamente com os adjetivos e sinônimos que foram aplicados ao capital, se percebe um capital em “crise” durante diversas etapas da história. O capital vai passando por crises regulares, em diferentes momentos da história e também diferentes crises em suas formas. A história do capital passa a conviver com termos como especulação, hiperinflação, desvalorização da moeda, desemprego, quebra da bolsa, bolhas e crise. Conforme comenta Pedro C. de Mello:

melhorar a produção de mercadorias. Também podemos apontar o crescimento populacional, que trouxe maior demanda de produtos e mercadorias.

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“A repetição de crises, nas quais aparecem os mesmos elementos comuns, leva-nos a questionar porque as pessoas não aprenderam com a história. Por que se repetem os episódios de especulação e o drama da insanidade em massa.”(MELLO, 2012 p.39)

No século XIX e todos os efeitos da modernidade, se observa mais uma grande crise do capital, mais precisamente em 1873, período no qual se vivenciou a mais grave crise após a revolução industrial. Um autor começa e elaborar ensaios sobre o assunto dinheiro. Georg Simmel6 escreve sobre o Significado do dinheiro para o ritmo da vida (1897), O Papel do dinheiro nas relações entre os sexos (1898), a Filosofia do dinheiro (1900) e Dinheiro e Alimentação (1915). Marx em seus famosos Manuscritos Econômico-Filosóficos denomina o dinheiro como a “prostituta universal” e que mantém o “poder alienado da humanidade”. No século XX, com a organização racional do trabalho e surgimento da Administração, surge a teoria do Homo Economicus conceito em que todo ser humano é influenciado por recompensas salariais, econômicas e materiais. É uma relação em que a pessoa procurar obter o melhor ganho possível com o mínimo de esforço. O capital vive nesse período outro período de grande euforia e crise entre 1926 a 1933, conforme podemos verificar no gráfico 1. Entre os anos de 1920 a 1929 ocorreu uma valorização de quase 300% no preço das ações, trazendo um período extremamente saudável para os investidores americanos. O cenário era tão positivo que vários pequenos investidores realizaram empréstimos bancários para, com esse recurso, investir no mercado de ações e ficar com a expectativa de pagar o empréstimo com os juros e ainda ficar com recursos do lucro da operação.

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Georg Simmel foi um sociólogo alemão (1858-1918) onde dentre todas as suas obras elabora em 1900 a Filosofia do Dinheiro, um dos grandes tratados sociológicos sobre a vida moderna. Em 2009 foi publicado pelo editor português Texto & Grafia, o livro A Psicologia do Dinheiro e outros Ensaios.

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Gráfico 2: Comportamento do Índice Dow Jones entre 1920 a 1932

Em 23/24 de Outubro de 1929 ocorre a grande quebra da Bolsa devido a excessiva valorização do preço das ações gerando pânico na sociedade. Nesse período os acionistas investidores percebem a fugacidade do capital na sua parte mais vil. Os bancos fecham porque estão sem recursos para pagar, os investidores que tinham tomado empréstimos para investir em ações ficaram sem dinheiro, porém agora tinham uma dívida para pagar. Muitas famílias ficam sem suas casas, pois a maior parte dos empréstimos era com garantias hipotecárias e acaba a sensação dessa classe média da época, de sentir-se no mesmo patamar dos homens de classe mais alta. A taxa de desemprego sai de 3% para quase 25% também nesse mesmo período.

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Figura 1 – Pânico dos investidores em frente os portões de Wall Street. Fonte: http://veja.abril.com.br/historia/crash-bolsa-nova-york/especial-quebrou-panico-acoes-wall-street.shtml

Para combater todo o impacto mundial da crise de 1929 e suas consequências econômicas e sociais foi necessária uma ação mais enérgica do governo americano, através da necessidade de regulamentar o sistema financeiro do país e implantando o plano New Deal, que ocorre entre 1933 a 1937, no governo do presidente Roosevelt, com uma série de medidas para recuperar a economia americana, estimular a produção, o consumo, aumentar o volume de emprego e redistribuir melhor a renda. Dentre as principais medidas constavam o investimento maciço em obras públicas, destruir estoques excedentes para conter a queda de preços e diminuir a jornada de trabalho para gerar mais vagas. Em Julho de 1944 ocorre a conferência de acordo global chamado chamado Bretton Woods, implantando mecanismos e estabelecendo regras para as questões comerciais e financeiras no sistema financeiro. Desse acordo é estabelecido o BIRD (Banco Interamericano de Reconstrução e Desenvolvimento) onde cada país teria que adotar uma política monetária para manter uma taxa de câmbio da moeda local dentro de um determinado valor indexado ao dólar, que também estaria associado ao ouro, numa base fixa de $ 35, dólares por onça troy7. Essas medidas se tornam necessárias, pois o mundo passa a conviver com os efeitos do capitalismo como citado por (GARBER, 2001) as bolhas integram a intersecção entre finanças, economia e psicologia. As crises econômicas, antes ocorridas em situações pontuais, agora se tornam frequentes diante do novo cenário do capital, principalmente nos séculos XX. Após as consequências das crises 7

Uma onça é uma unidade de medida em massa, com dois valores diferentes. No sistema troy (sistema relativo a metais preciosos) a onça vale 31,1034768 gramas.

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econômicas o Estado identificou que as regras mais “frouxas” para o capital especulativo trazem dentro de si maior concentração de rendas, mais poder dos bancos e maior velocidade na mobilidade do dinheiro com esse destino. As bolhas econômicas, as crises econômicas retratam que aquele capital fugaz, de rápida migração e de difícil compreensão agora também faz seus reféns dentro do sistema do capital especulativo. Abaixo algumas das principais crises econômicas do capital especulativo: 1629-1622: Crise Kipper-und Wipperzeit (crise da moeda) 1637: Inflação da Tulipomania (inflação de preços) 1710-1720: Esquema Mississipi (especulação) 1720: Crise South Sea Bubble (empresa inglesa lançada em bolsa e que vai a falência) 1873: A primeira grande crise na era Industrial (excedentes de estoque) 1907: The Panic of 1907 (primeiro sinal de crise na bolsa de Wall Street) 1929: Crash da Bolsa de Wall Street 1987: Crash na Bolsa de Wall Street (queda de 20% em um único dia em Wall Street) 1994-1995: Crise do México (crise cambial e endividamento) 1997: Crise do Sudeste Asiático (cinco países atingidos pela crise econômica, representado por bolha nos mercados imobiliários e de ações) 1998: Crise da Rússia (ataque especulativo que força a desvalorização do Rublo) 1999: Crise no Brasil (crise fiscal e ataque especulativo contra a moeda Real) 1999-2001: Crise da Bolha das Empresas “ponto.com” (1ª bolha da internet) 2001: Crise Argentina (descontrole nas finanças públicas) 2008: Crise do Subprime (crise imobiliária nos Estados Unidos) 2010: Crise dos PIIGS Zona do Euro (envolvem Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha) Até a década de 70 o capital comprava mão de obra para o seu processo produtivo, ou seja, o controle do capital era estabelecido pela oferta de trabalho. Enquanto a experiência da crise de 29, com o crash da Bolsa de Nova York conhecida também como a Grande Depressão, a década de 70 é marcada pelo fim do regime de Bretton Woods8 possibilitando assim a volta da flexibilidade aos bancos nas 8

Definido como o sistema Bretton Woods (cidade que fica em New Hampshire) foi implantado em julho de 1944, com 44 nações aliadas, estabelecendo um gerenciamento econômico internacional, para as relações comerciais e financeiras dos países industrializados.”

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transações de capital especulativo. Nesse mesmo período, com o fim do acordo, os bancos criam os fundos de investimento com produtos mais complexos e o mercado de derivativos9. Em 1971, o Governo Nixon, com o fim do acordo de Bretton Woods, atende às pressões do congresso americano. A ruptura desse acordo decreta o fim do padrãoouro (determinação de que a quantidade de dinheiro em circulação deveria ter lastro em ouro) e as moedas dos países tornaram-se muito voláteis. O dinheiro esvazia-se de qualquer necessidade de outro valor que não fosse o puramente auto referencial. O capital nesse novo período não tinha mais a necessidade de ser direcionado ao capital produtivo da economia e sim ao especulativo. Nos anos 80 ocorrem a desregulamentação mais ampla da economia e o próprio fenômeno da globalização possibilitam uma economia mais integrada e uma forma totalmente nova de se relacionar com o capital especulativo. O epicentro do capital especulativo volta a percorrer países em desenvolvimento. Na Inglaterra a primeira-ministra Margareth Thatcher, dirige a economia britânica entre os anos de 1979 a 1990. Nos Estados Unidos o Presidente Ronald Reagan governa o país no período de 1981 a 1989. Nesse período, mais precisamente em 1987 é que está situado o contexto de Wall Street I Poder e Cobiça dirigido por Oliver Stone. O filme retrata um capital sem fronteiras e sem regulamentação, com termos e novos jargões do mercado financeiro, até então desconhecido para a maioria dos investidores. O filme retrata exatamente um segmento da sociedade que se beneficia dessa política desregulamentada: o mercado financeiro, pois permite o ingresso de forma mais pragmática dos Bancos, como grandes aliados econômicos e parceiros do Estado. A política do Estado é que passa a interferir diretamente na economia, sob a influência do poder dos banqueiros. O excedente que tratamos anteriormente que vinha do capital produtivo e agora também do especulativo, muitas vezes não consegue espaço para se expandir dentro da própria produção.

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Derivativos são instrumentos financeiros cujo preço de mercado deriva do preço de mercado de um ativo/bem ou outro instrumento financeiro que lhe serve de referência. O instrumento ou produto derivativo é um contrato ou título conversível cujo valor depende integral ou parcialmente do valor de determinado ativo ou de outro instrumento financeiro. Fonte: http://www.terrafuturos.com.br/mercados_derivativos.php

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E o capital passa a ser “migratório” se movendo à busca de novas oportunidades de jorrar esses excedentes. A sociedade começa a viver uma sensação de incerteza, diante dessas direções das economias mundiais. Para que então o sistema financeiro pudesse atuar com maior liberdade os Bancos precisavam de normas mais flexíveis, de maior liberdade para o fluxo de capitais estrangeiros e especulativos e, com isso, ocorre de forma gradual na década de 80 a desregulamentação da economia, selando um termo com o Consenso de Washington em novembro de 1989. A desregulamentação econômica dos anos oitenta e devidamente homologada na Convenção de Washington (conjunto de dez medidas econômicas, formulada em Novembro de 1989 nos EUA) permitiu ao setor financeiro criar mecanismos e inovações financeiras para alavancar mais rapidamente o capital especulativo, onde se ganha dinheiro apostando e jogando com esse próprio dinheiro. Dentre as dez medidas uma se referia a desregulamentação com o afrouxamento das leis econômicas e trabalhistas. Os investimentos do capital especulativo acham nessa época um período e ambiente propícios para sua expansão, como explicado por Jameson: “Agora esse capital livremente flutuante, em sua busca frenética por investimentos mais rentáveis começará viver sua vida em um novo contexto, não mais nas fábricas e nos espaços de extração e produção, mas no solo do mercado de ações.” (JAMESON, 1998 p.229)

O capital especulativo cada vez mais se intensifica e se torna um capital migratório, que passa de mãos (ou simplesmente de máquinas) rapidamente, sem sequer que os envolvidos se conheçam. Os anos 90 traz a era da expansão da internet, com a chegada de navegadores como Netscape Navigator10 e posteriormente a Internet Explorer. Com o avanço dos computadores pessoais e chegada da internet a expansão de usuários é exponencial, numa velocidade extremamente rápida. A NASDAQ11 também expande o número de empresas de tecnologia, que agora abrem o capital para a bolsa de valores e captando 10

A Netscape Communications é uma empresa de serviços de computadores nos EUA, fundada em 4/abril/1994 por Marc Andreessen e James H. Clark. É mais conhecida pelo seu pioneirismo como navegador na web. Quando era uma empresa independente, a sua sede foi em Mountain View, Califórnia. 11

NASDAQ Stock Market ou simplesmente NASDAQ (acrônimo de National Association of Securities Dealers Automated Quotations; em português, "Associação Nacional de Corretores de Títulos de Cotações Automáticas") é um mercado de ações automatizado norte-americano1 onde estão listadas mais de 2800 ações de diferentes empresas, em sua maioria de pequena e média capitalização.

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milhares de investidores, devido o lançamento de várias empresas ponto.com. O capital especulativo, agora livre e sem regulamentação encontra abrigo agora nas empresas ponto.com que traziam consigo um perfil diferente das empresas convencionais da Bolsa de Nova York. As empresas ponto.com recebiam investimentos e aportes com base em análise potencial de negócio da mesma e não pelo seu valor contábil ou financeiro efetivo. O risco desse novo formato era de se superestimar uma empresa ou mesmo subestimá-la devido a falta de análises financeiras mais precisas para tomada de decisão. Com os efeitos da acelerada expansão, o índice da Nasdaq dispara no final dos anos 90 e atinge um patamar próximo a 5.000 pontos no início do século XXI. Após esse período podemos perceber os novos efeitos da desregulamentação econômica, surge uma nova bolha. Os preços das ações de tecnologia estavam supervalorizados e no final dos anos 90 ocorre a bolha da internet. Num período de alta elevação e que atingiu o seu ápice em 10 de março de 2000 totalizando 5.132,52 pontos, algumas empresas viram um fracasso ao apresentar seus resultados e prejuízos contábeis. Conforme HARVEY (2011) nos últimos trinta anos boa parte dos investimentos não foram destinados à produção, mas para ativos e valorização desses ativos mais intangíveis com, por exemplo, empresas na área de tecnologia. Identifica-se no gráfico da Nasdaq como os preços dos ativos de empresas na área de tecnologia tem uma rápida ascensão de preços e depois muitas cotações desabam, levando a crise muitos investidores.

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Gráfico 3 Nasdaq composite history index 1995 through 2009

No final do século XX, com o a chegada da Internet, o dinheiro passa a ficar virtualizado em suas transações, transcendendo agora puramente questões locais para ambientes totalmente globalizados e que passam a não depender dos Bancos. Um dos pioneiros nessa virtualização e que não tem nenhuma origem bancária é Elon Musk que cria em 1998 o ZIP2 como meio de se transacionar dinheiro através de compras pela internet, de forma totalmente segura. Posteriormente também surge o PayPal12. O dinheiro físico que antes só tinha uma função se for transformado em produtos de consumo e aquisição de bens, no século XXI fica totalmente virtualizado e não tem mais a necessidade de ser transformado em nada. O dinheiro utilizado na forma de investimentos, onde um investidor aplica esses recursos para obter um retorno maior dos recursos investidos. Dentro desse mercado, a ênfase desta pesquisa é o mercado de capitais especulativo e sua fugacidade, que proporciona aos seus participantes ganhos ou perdas mais rápidas.

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é um sistema que permite a transferência de dinheiro entre indivíduos ou negociantes usando um endereço de e-mail, assim, evitando métodos tradicionais como cheques e boleto bancário. A empresa que criou e rege tal sistema situa-se em São José na Califórnia. O PayPal foi criado por Peter Thiel e Max Levchin, em 1998, para atender a necessidade de alguns usuários de efetuarem pagamentos via PDAs, que rapidamente se popularizou. Em pouco tempo se tornou a grande inovação com relação a pagamentos on-line.

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No século XXI praticamente o capital transformado está em nada passam a conviver com moedas virtuais em que não há regulamentação, um banco central que coordene ou mesmo um endereço sede que o identifique. Dentre algumas moedas virtuais, a era digital passa a transitar pela internet uma moeda digital chamada Bitcoin13. Desenvolvido mais precisamente em 04 de fevereiro de 2009, essa moeda não há um presidente que a comande ou mesmo uma sede, pois os bitcoins são controlados por computadores conectados a internet, ou seja, é totalmente descentralizado e não depende de nenhuma empresa ou banco central de um país para controlá-lo. Conforme dados do site www.mercadobitcoin.com.br em junho de 2014 a soma de todos os bitcoins existentes no mercado totalizam seis bilhões de dólares e os estabelecimentos que o aceitam podem ser identificados no mapa www.coinmap.org. Em 2008 acontece uma das bolhas financeiras mais impressionantes crises mundiais, a qual vira um estudo mundial. Governos, banqueiros, capitalistas, investidores, imprensa, sociólogos, a sociedade e o cinema passam a compreender ou tentar compreender como ocorreu essa crise de 2008 e como ela proporcionou tantas sequelas em todas as esferas sociais. Harvey comenta: “Novos mercados estranhos surgiram, liderados pelo que se tornou conhecido como “sistema de banco às escuras”, permitindo o investimento em trocas de crédito, derivativos de moeda e assim por diante. O mercado de futuros abarcou tudo desde o comércio de direitos de poluição até apostas sobre o tempo. De quase nada em 1990, esses mercados cresceram e passaram a circular aproximadamente 250 trilhões de dólares em 2005 (a produção total mundial foi então de apenas 45 trilhões de dólares) e talvez algo como 600 trilhões de dólares em 2008.” (HARVEY, 2011, p.26)

É perceptível nesse relato, que praticamente o capital especulativo atingiu o equivalente a “doze planetas” de capital produtivo. Com a ampla expansão do crédito americano e das hipotecas, os primeiros sinais de bolha aconteceram em 2006, nas cidades de Cleveland e Detroit, pois começa a inadimplência nas carteiras de hipoteca e por consequência um elevado número de despejos. Nesse período pouca atenção

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O bitcoin é transferido de ponto a ponto, de uma carteira virtual para outra, sem passar por nenhuma instituição financeira, como bancos ou bandeiras de cartão de crédito. Dessa forma, o sistema de pagamento não é regulado por nenhum governo ou sistema financeiro. Para garantir a privacidade das transações, os pontos da troca, ou seja, quem transfere e quem recebe as moedas, permanecem anônimos, mas a ida de bitcoins de um ponto a outro é registrado e permanece público. Fonte: http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2014/07/fundacao-por-tras-da-wikipedia-comeca-aceitar-doacoes-embitcoin.html

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foi dada pela maioria dos analistas e pela mídia, por serem regiões de pessoas de mais baixa renda. A percepção de alguma bolha só começa a chamar a atenção, quando essa mesma crise atinge a classe média americana como Arizona, Nevada, Flórida e Califórnia. Harvey comenta que em 2007 praticamente dois milhões de pessoas haviam perdido suas casas. Na escala do poder e da riqueza, enquanto milhões de pessoas tiveram suas poupanças e economias dizimadas e poucos se beneficiaram de tamanha catástrofe e esses poucos ficaram ainda mais ricos e mais fortalecidos. Na figura 2 nota-se o impacto dos estados que foram afetados em 2008, mais fortemente, pela bolha da crise hipotecária americana.

Figura 2: Os 10 Estados mais envolvidos na crise do subprime: Fonte http://www.fbi.gov/statsservices/publications/mortgage-fraud-2010 (acessado em 02/08/14)

É nesse contexto, de pouco mais de vinte anos, entre 1987 e 2010, num ambiente econômico em que o dinheiro já é ficcional, especulativo e fugaz no mercado financeiro, que é realizada a pesquisa sobre os filmes Wall Street I Poder e Cobiça (1987) e Wall Street II O Dinheiro Nunca Dorme (1987) ambos sob a direção de Oliver Stone. Os filmes narram esse cenário da transformação do capital, que ocorrem na economia americana, duas crises econômicas sendo uma delas em 1987 (Crash da

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Bolsa de Nova York) e 2008 (Crise do Subprime ou Hipotecária), a chegada intensa da tecnologia, das riquezas obtidas através da especulação e perdas instantâneas do mesmo, os espaços sociais da explosão do consumo de uma classe média ascendente, da geração yuppie14, das bolhas econômicas, dos termos desconhecidos de operações financeiras e do endividamento da sociedade que essa pesquisa se fundamenta.

Nos capítulos seguintes é discutida a narrativa dos dois filmes Wall Street I Poder e Cobiça (1987) e Wall Street II O Dinheiro Nunca Dorme (2010) e suas relações com os momentos econômicos que, principalmente a sociedade americana estava vivendo, entre o final dos anos oitenta e início do século XXI e como o dinheiro é tratado cada vez mais, de forma tão fugaz, vil, veloz e intangível no mercado financeiro, ou também chamado, mercado de capitais. Nas considerações finais é discutido o contexto dos filmes nas transformações do capital, no período de pouco mais de vinte anos e como os mesmos mostram também as mudanças ocorridas na fugacidade do capital especulativo. Um capital transformado que também possibilitou uma transformação nas sociabilidades, na relação da sociedade com o dinheiro, sua fugacidade pois alguns o tratam com desprezo, alguns como o senhor de suas vidas, alguns trocam uma expectativa futura dele para o consumo imediato no presente, alguns acumulam muito dele como se fosse durar para a eternidade, uma grande maioria não tem muito acesso a ele, pois é mal distribuído ao longo da história e cada vez ficou mais concentrado, mais intangível, mais efêmero, mais cobiçado e numa espiral evolutiva parece que ele não tem fim, pois os que não tem o dinheiro sonham com ele, os que o tem demais querem ainda mais e nisso o dinheiro vai transitando por todos os meios e em alguns casos se transformam em bolhas, pois aparecem de repente, tomam forma e simplesmente desaparecem. No filme Wall Street II O Dinheiro Nunca Dorme, Gordon Gekko é convidado para dar uma palestra a um grupo de universitários. Desde sua saída da prisão a imprensa procura Gordon Gekko para conceder entrevistas e também lança um livro. Mesmo tendo sido preso por fraude, mesmo tendo saído da mídia durante aquele período da prisão, o filme deixa claro que ele ainda é um mito, parece que as pessoas

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Em inglês, no original: Young, Urban, Professional, cujas iniciais Y.U.P. formam a designação do Yuppie.

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que sonham com o dinheiro veem no Gekko uma pessoa que lhes direciona para esse caminho, o caminho da fugacidade do dinheiro. Trechos a seguir, do discurso que Gordon Gekko faz a um grupo de universitários logo após sua prisão expressam todas essas transformações do capital citadas anteriormente: “Alguém me lembrou um dia desses que eu disse que a ganância é boa. Agora parece que está legalizada. Mas pessoal, é a ganância que faz o meu garçom comprar três casas que não pode pagar, sem dar nada de entrada. É a ganância que faz os seus pais refinanciarem a casa de 200 mil por 250 mil e então pegar esses 50 mil a mais para fazer compras. Compram uma TV de Plasma, celulares, computadores, um carro esportivo e por que não uma segunda casa? Afinal sabemos que os preços dos imóveis dos Estados Unidos sempre sobem não é? Enquanto estive preso, parece que a cobiça ficou mais gulosa e juntou-se a ela um pouco de inveja. Os especuladores levavam pra casa U$ 50, U$ 100 milhões por ano. Agora ele começa a alavancar suas participações até 40, 50 para um, com o seu dinheiro. Não o dele, o de vocês, porque ele tem esse poder. No ano passado, senhoras e senhores, quarenta por cento de todo o lucro empresarial americano, veio de serviços financeiros. Não da produção, nem de nada remotamente ligado às necessidades do povo. A verdade é que somos parte do fracasso. Bancos, consumidores, estamos movendo o dinheiro em círculos. Pegamos um dólar, o enchemos de anabolizantes e chamamos isso de alavancagem. Talvez tenha ficado preso por muito tempo, mas às vezes, é só na cadeia que se mantém a sanidade. Olhamos por entre as barras e perguntamos: “Ei! Estão todos loucos aí fora?” É claro como água para quem presta atenção. A mãe de todos os males é a especulação, dívida alavancada, resultado líquido e empréstimos a perder de vista. Sinto muito dizer isto a vocês, mas esse é um modelo de trabalho falido. Não vai dar certo. É sistêmico, maligno e global, como um câncer. É uma doença e temos de atacá-la.”

WALL Street Poder e Cobiça. Direção de Oliver Stone. Produção de Fox Films. 2010. (133 min.), DVD, son., color. Legendado.

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2. WALL STREET I E II NO CONTEXTO DO CAPITALISMO ESPECULATIVO

O filme Wall Street I Poder e Cobiça (1987) mostra um mundo, no lançamento do filme ao público, não muito familiar para a maioria da sociedade do mercado de ações, seja por desconhecimento ou mesmo por temor de todas as crises citadas na introdução e que afetaram uma boa parte da sociedade no século XX. O Wall Street I traz o personagem do especulador e como o uso da informação privilegiada se tornava um diferencial para um ganho mais imediato de capital, para o investidor com esse perfil. A especulação se torna uma constante na narrativa do filme, o uso de informação privilegiada para obter ganhos rápidos, personagens que ficam milionários com os ganhos obtidos desse mecanismo, a fugacidade do dinheiro e a velocidade do mesmo, com a chegada da tecnologia e que retratam as mudanças em uma economia agora desregulamentada e globalizada dos anos 80. Conforme comenta MELLO (2012, p.55) o especulador em sua origem é uma pessoa que tem a capacidade de enxergar situações de longo prazo, extrair conclusões, voltar ao presente e desenvolver estratégias de atuação. No mercado financeiro essa conotação tem tomado formas cada vez mais negativas na figura do especulador, como aquele que obtém seus ganhos de forma não lícita. O especulador normalmente, devido os altos investimentos que possui no mercado, consegue maior poder de concentração nas carteiras e com isso pode influir no preço dos papéis tanto no aspecto positivo como negativo. “A especulação faz parte, merecidamente ou não, da área cinzenta das finanças. O mesmo acontece com o risco financeiro exacerbado, tal como existiu no recente período pré-crise de 2008. Alguns especuladores ganham muito dinheiro – são efetivamente poucos – enquanto a grande maioria sofre perdas e desiste desse ofício” (MELLO, 2012, p.71)

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Figura 3 – Gordon Gekko – Fonte: http://www.thelostogle.com/2013/03/19/cringe-worthy-picsof-oklahoma-ceos/url-5/

O personagem Gordon Gekko é um especulador que encanta. A frase que marca o personagem é “greed is good.” traduzido na língua portuguesa para “a ganância é boa.” Essa frase é utilizada em um discurso clássico de Gekko a uma plateia de acionistas da empresa Teldar Paper, adquirida por ele e que estão receosos por sua presença, pois ele era conhecido no mercado financeiro como predador, pois comprava empresas a um preço barato, melhorava os indicadores da mesma para que o preço da ação se valorizasse e depois a destruía vendendo as suas ações na alta, quando o preço da ação ficava muito acima do que realmente a empresa valia. Gekko se torna um mito para os executivos e aspirantes no mercado da bolsa de valores. Ao longo do filme cita frases de Sun Tzu como também frases de impacto, que procuram traçar esse novo perfil do jovem yuppie e workaholic dos anos 80. Algumas de suas célebres frases são: “É tudo sobre dinheiro, o mais é conversa.”, “almoço é para fracos.” e “nós fazemos as regras.” Um personagem, hábil, inteligente, vencedor e ganancioso por dinheiro faz com que Gekko não se torne um vilão no filme e sim um modelo a seguir.

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Figura 4 – Discurso de Gordon Gekko ao grupo de acionistas da Teldar Paper.

A seguir parte do seu discurso ao grupo de investidores da Teldar Paper: “A ganância é boa, a ganância esclarece. Ela funciona e capta a essência do espírito evolutivo. A ganância, em todas as suas formas, a cobiça pela vida, pelo dinheiro, pelo amor e pelo conhecimento, tem marcado o impulso evolutivo da humanidade.”

Ambicioso por poder e dinheiro, Gekko mostra um tipo de executivo que venceu no mercado especulativo e que inspira muitos executivos além das fronteiras do cinema e jovens ambiciosos pela riqueza ganha de forma rápida, se tornando um mito até hoje estudado. Como exemplo, em 2000 foi produzido um filme chamado O Primeiro Milhão15, dirigido por Ben Younger onde, em uma das cenas do filme, os jovens e ambiciosos corretores de valores, para treinarem bem os seus argumentos de venda junto aos potenciais clientes utilizam como recurso o filme Wall Street I Poder e Cobiça e as frases de Gordon Gekko. Nesse filme o Gekko representa um modelo imagético de sucesso para eles.

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O primeiro milhão é um filme produzido em 2000, em que o personagem Seth Davis (Giovanni Ribisi) um jovem trambiqueiro que montou um pequeno cassino em seu apartamento possui dois sonhos na vida: ganhar seu primeiro milhão de dólares e conquistar o respeito do pai, um importante juiz federal. Para isso, ele tenta deixar de lado sua vida ilegal e sai em busca de um emprego de verdade. Consegue uma vaga numa empresa que promete transformar seus empregados em milionários. Mas a felicidade dura pouco, pois logo Seth descobre que existe algo de ilegal na empresa. Fonte: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-25636/ (acesso em 01/08/2014)

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Enquanto um executivo de uma empresa produtiva administra uma empresa de produtos tangíveis gerando empregos, suprindo o mercado consumidor e movimentando a economia de um país, os ganhos da especulação geram resultados do nada, do comprar e vender ações que na maioria das vezes se desconhece até a localização física das empresas, de especular possibilidades de ganhos na aquisição de ações de empresas sem ter que gerir diretamente as mesmas. Compra-se e vendem-se ações por oportunidade, por ganho imediato e não por visão empresarial de longo prazo. O especulador não necessita gerar muitos empregos, máquinas, instalações e armazenagem. No filme Gordon Gekko utiliza poucos funcionários. Seu grande aparato técnico está nos computadores de seu escritório. A tecnologia é que produz as informações mais rápidas para a sua tomada de decisão e forma de atuação especulativa. Gekko quando perguntado ao telefone se iria almoçar, o mesmo comenta que almoço é para os fracos.

Figura 5 – Escritório de Gordon Gekko

A riqueza está praticamente concentrada num escritório, nos computadores e com uma equipe bem enxuta se comparado a uma empresa do setor produtivo. Essa pulverização do dinheiro ocorre principalmente no governo Ronald Reagan16 devido a desregulamentação citada anteriormente. 16

Ronald Reagan foi o 40º presidente dos Estados Unidos da América e seu mandato foi entre 20 de janeiro de 1981 à 20 de janeiro de 1989.

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Os anos 80 se torna a década do consumo, pois esse dinheiro era o que comprava e sustenta uma família. No filme Wall Street I Poder e Cobiça (1987) e Wall Street II O Dinheiro Nunca Dorme (2010) possuem uma convergência quanto ao imediatismo do dinheiro. Tudo é imediato e em segundos uma pessoa pode se tornar rica ou pobre com a especulação. No filme Wall Street I Poder e Cobiça os corretores gritam nos corredores da corretora, digitam rapidamente nos computadores ainda de tela verde, características dos primeiros computadores pessoais que estavam nos escritórios das empresas, suas operações negociadas. Nos computadores aparecem gráficos com preços de ações que sobem e descem. Gritarias nos pregões, termos técnicos desse mercado e seus jargões, a tecnologia presente como meio para a rapidez da informação, que até mesmo os próprios protagonistas do filme, nos documentários do making off, afirmavam desconhecê-los completamente.

Figura 6 – Bud Fox na corretora em que trabalhava

Em Wall Street I Poder e Cobiça há o personagem que retrata o especulador do mercado financeiro, nesse caso, Gordon Gekko. Um especulador frio, articulado, ganancioso e que não conhece outra palavra que não seja ganhar, onde os fins justificam os meios.

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O filme narra de forma muito peculiar, os movimentos fugazes do dinheiro em um tipo de capital, chamado de especulativo, onde o dinheiro migra de um lugar a outro em questão de segundos, os quais levam uma pessoa a ganhar ou perder milhões de dólares. É um capital especulativo migratório permitido por um processo americano de desregulamentação, ocorrido nos anos 80, onde o fluxo de capitais fica cada vez mais flexível ao sistema. O especulador Gordon Gekko ao comprar ações no mercado não se interessava pela perenidade da empresa, por uma visão de longo prazo, geração de empregos ou maior participação de mercado. Ele vivia de informações privilegiadas, de oportunidades de ganho rápido, da aposta, do risco e com isso, na maioria das vezes, o rompimento da barreira ética, pois o uso da informação privilegiada é considerado falta de ética até nos dias atuais. Ao mesmo tempo em que ocorre essa expansão concentrada do capital especulativo, a sociedade americana ainda se recupera dos efeitos das altas taxas de desemprego ocorrida no início dos anos 80.

Gráfico 4: Taxa de Desemprego nos Estados Unidos entre 1980 a 2012

2.1 O Uso da Informação Privilegiada

Em Wall Street I Poder e Cobiça, dirigido por Oliver Stone em 1987, o mesmo retrata essa fugacidade do dinheiro em um mercado de especulação, dentro dos ambientes internos das bolsas de valores e o filme narra a busca incessante de um

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jovem corretor de valores Bud Fox (Charlie Sheen), o qual retrata com excelência o novo perfil do jovem yuppie e ambicioso dos anos 80. O jovem americano, filho de uma família de classe média e pai com profissão do chamado “colarinho azul” o mecânico de aviões Carl Fox (Martin Sheen), o pai que conseguiu um emprego numa empresa para nela se aposentar. Bud Fox tem como objetivo se tornar rico rapidamente, não passar pelas dificuldades que seus pais tiveram, não ter a profissão de colarinho azul do pai e sim se aposentar rápido para desfrutar da riqueza conquistada e, para isso, tem como objetivo arrumar emprego em uma corretora de valores para mostrar que venceu sem precisar de apoio do pai e ser o colarinho branco da família.

Figura 7 – Bud Fox e seu pai Carl Fox

Bud Fox tem como alvo pessoal, profissional e de admiração o especulador do mercado financeiro Gordon Gekko. A trama do filme vem através do uso de informações privilegiadas, que no mercado financeiro é chamado de insider information, que são informações ainda não tornadas públicas ao mercado, que podem alterar o movimento do preço das ações de uma companhia de forma positiva ou negativa, elevá-la ao céu ou ao abismo. O jovem corretor Bud Fox, na busca de conquistar o grande cliente Gordon Gekko para a corretora em que trabalha, lhe passa uma informação privilegiada obtida numa conversa informal com seu pai Carl Fox, sobre uma ação na justiça, da Cia. Aérea Bluestar, referente um acidente que tinha ocorrido no ano anterior e que Bluestar conseguira o ganho de causa e voltará a ter novas rotas de voos.

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Após o encontro de Bud com o pai, o qual comenta na cena do bar que seu filho mudou o olhar com aquela informação, esse insider information é passado por Bud Fox ao especulador Gordon Gekko, sem que o pai soubesse e com isso Bud conquista-o como cliente de sua corretora.

Figura 8 – Cena do bar em que Carl Fox passa a informação ao Bud Fox sobre a Bluestar

Essa conquista irá trazer ao Bud uma ascensão profissional rápida, poder e o acesso ao dinheiro, o ganho rápido e fácil do capital especulativo, que se transformará em bens de alto valor como imóvel, obras de arte, status e também, na mesma proporção, maior risco. Bud não se sente bem ao sair do escritório de Gordon Gekko, pois sabe que utilizou uma informação dada por seu pai de forma confiável e como meio para conquistar uma pessoa que nunca tinha tido um contato pessoal. Nesse momento fica claro na narrativa do filme qual tinha sido a opção de Bud Fox para conseguir o seu objetivo, mesmo que isso afetasse suas relações pessoais com o pai.

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Figura 9 – Bud Fox no escritório de Gekko passando uma informação privilegiada.

Bud atinge seu objetivo. Na manhã seguinte Gekko liga para a corretora para que o mesmo invista um valor em ações. O cheque é entregue em um restaurante escolhido por Gekko. Como um conhecido especulador as orientações foram na aquisição de algumas ações já avaliadas por ele. Gekko também lhe sugere vestir um terno melhor e indica seu alfaiate pessoal. Gekko sai sem almoçar, mostrando o perfil do executivo moderno pois, como ele comentava, almoço era para os fracos. O Bud sai do restaurante com um grande desafio pessoal, um cheque de alto valor para a corretora em que trabalho, uma meta de conquistar bons resultados para Gekko e para sua corretora, pois aí também acumularia seus ganhos e realizaria seu objetivo. Essa relação começa a desmoronar quando Bud Fox percebe que Gekko realmente só quer especular com a Cia Aérea Bluestar e depois pretende fechá-la. Carl Fox chega a ficar hospitalizado, devido a situação da Cia. e de ter seu filho estar envolvido nessa história. Bud Fox só vê uma possibilidade de se redimir de toda essa situação usando as armas de informação privilegiada que Gekko utiliza para destruir seus oponentes no mercado, só que agora contra ele mesmo. Bud Fox procura Larry Wildman, o grande oponente de Gekko e pede seu apoio, juntamente com os amigos do pai, ligados ao sindicato da empresa, para agora levar Gordon Gekko a ter uma grande perda na especulação e que a Bluestar saia do seu controle acionário.

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Figura 10 – O investidor Larry Wildman, Bud Fox e Gordon Gekko.

Bud Fox tem êxito em seu objetivo, mas Gordon Gekko o denuncia à S.E.C. Securities and Exchange Comission, órgão fiscalizador do mercado de ações americano e com isso Bud Fox é encaminhado a prisão. Gekko novamente mostra seu lado inescrupuloso ante a uma possível ameaça de Bud. Como no início do filme Bud assina os contratos de Gekko para tornar-se o seu procurador, o mesmo o responsabiliza pelos danos causados e as torna objetos de acusação contra o próprio Bud. Como forma de se livrar da prisão, ele usa a possibilidade da delação premiada, que é um benefício da lei concedido a um criminoso delator. Há um encontro com Gekko num parque, aonde ele vai a esse encontro com um gravador escondido e grava toda a conversa de ambos. Essa fita é entregue aos fiscais da S.E.C. e, com isso, se inverte a ordem de prisão para o Gekko. Esse gesto foi uma forma de Bud se redimir com seu pai e apoiar a reestruturação da cia aérea Bluestar.

2.2 O Dinheiro nunca dorme: a informação disseminada

No filme Wall Street II O Dinheiro Nunca Dorme (2010) vários dos elementos retratados no filme Poder e Cobiça agora estão incorporados ao sistema da tecnologia do século XXI. Não há mais a figura de um mega especulador isolado. Agora a

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especulação está em todo o sistema financeiro onde no filme fica claro o poder dominante dos Bancos no mercado especulativo. O sistema é afetado por uma crise econômica de grandes proporções, crise esta que ocorreu de forma real na economia mundial em 2008 afetando a maior parte de todo o sistema financeiro mundial. Como o filme narra exatamente esse período contextualizado da crise econômica de 2008, os protagonistas do filme passam a ser os banqueiros interpretados nos personagens Louis Zabel, Julie Steinhardt e Bretton James que sentem e passam por essa crise procurando criar mecanismos de autoproteção como, por exemplo, exigindo um apoio financeiro de elevado montante do Federal Reserve17, o banco central americano, e também decidindo qual Banco cai, para acalmar o mercado, mantendo assim os demais Bancos fortalecidos pelo sistema financeiro.

Figura 11 – Bretton James e Julie Steinhardt na reunião no banco central americano

Também já não há a figura isolada de um jovem corretor e sim de corretores sendo afetados pela crise, inclusive com a perda dos empregos, devido o fechamento da corretora KLZ de Louis Zabel em que trabalham.

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Esse encontro no Banco Central ocorreu na vida real durante a crise de 2008. No dia 13 de setembro de 2008, Timothy Geithner, então presidente do Federal Reserve, o banco central americano, convocou os principais banqueiros dos Estados Unidos para uma reunião em Wall Street, o distrito financeiro de Nova York. Geithner anunciou que a situação do Lehman Brothers, na época o quarto maior banco de investimentos dos Estados Unidos, era grave e que era preciso evitar que o problema se alastrasse para todo o sistema. Dois dias depois, com a recusa do governo em salvar o banco com dinheiro público, o Lehman Brothers quebrou. Foi a maior falência da história americana e o marco zero de uma crise que levou outros gigantes do mercado à lona, contaminando a economia mundial. FONTE: http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/economia/20131004/banqueirosobama/127778.shtml

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O uso da tecnologia, que nos anos 80 aparecia apenas nos escritórios e nas casas dos mais endinheirados, agora está em tudo, como um meio natural e essencial para o acesso a informação. No filme Wall Street II O dinheiro nunca dorme há cenas em que Jacob está falando ao celular com um cliente de outro país, no próprio capacete que utilizava ao dirigir a moto. As residências estão permeadas de computadores e aparatos tecnológicos. Os núcleos familiares que já passam por crise nos anos 80, estão praticamente dissolvidos em O Dinheiro Nunca Dorme. Poucas cenas estão associadas a relações familiares e quando as mesmas acontecem são em situações complicadas com o a mãe do Jacob, que só o procura para pedir empréstimos para saldar dívidas.

Figura 12 – Jacob Moore e sua mãe

O filme começa com Gekko saindo da prisão e ninguém vai recebê-lo, situação essa que lhe gera desconforto e um posterior desabafo para Jacob Moore, devido a rejeição da filha Winnie. A cena demonstra o isolamento de Gekko sofreu durante a prisão. Isolamento esse da família, de seus amigos e de seus antigos aliado. Winnie não fala com o pai, o vê como responsável por toda a crise familiar que ela vivenciou, vem de uma família de pais separados e afetada pela perda do irmão, que falece decorrente de overdose. Esse irmão da Winnie aparece numa cena do Wall Street I Poder e Cobiça, ainda criança, numa cena na residência de Gekko.

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Ela namora Jacob Moore que também atua no mercado financeiro na corretora de seu mentor Louis Zabel. Inteligente, hábil e muito ligado a investimentos em empresas de energias sustentáveis e é elogiado constantemente por seu mentor Louis Zabel. Com a crise financeira de 2008, chamada de bolha econômica e demonstrada pelo diretor Oliver Stone no filme, através de crianças brincando num parque de assoprar bolhas de sabão, ocorre a reunião dos banqueiros, no Banco Central, dentre eles Julie Steinhardt e Bretton James juntamente com Louis Zabel e se decide na mesa não socorrer o banco do Louis Zabel, KZI.

Figura 13 – Bolhas representadas em Wall Street O Dinheiro Nunca Dorme

Esta decisão vem carregada de vingança, por parte de Bretton James, com o que lhe foi feito na Bolha da Internet em 2001, comentada na introdução. Com essa perda, a desvalorização quase instantânea do preço das ações de seu banco, Louis decide se matar em uma estação de metrô. Mesmo com toda a experiência no mercado financeiro, o próprio banqueiro Louis Zabel, demonstra um conflito pessoal, ao conversar com Jacob Moore dentro do próprio capital especulativo em que atua, com uma questão: - um banqueiro me falou para ficar tranqüilo, pois estamos ganhando dinheiro com a crise. Como se ganha dinheiro com a crise? questiona próprio Zabel.

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Figura 14 – Jacob Moore e Louis Zabel caminhando no parque

Quando Jacob Moore se aproxima e estabelece um relacionamento com Gordon Gekko ele passa a compreender que Bretton James, que liquida o banco de Louis Zabel, foi o mesmo que também delatou Gordon Gekko, nos anos 80, levandoo assim à prisão. Dessa forma Jacob Moore decide vingar a morte de seu mentor, com o apoio das informações de Gordon Gekko levando Bretton James à falência e a prisão. Para isso aceita o convite de trabalhar para a corretora de Bretton James e assim conseguir estar mais próximo do seu objetivo. O que para Bretton era simplesmente uma questão de negócios, para Jacob se tornou pessoal. Seu principal objetivo com essa aproximação é a vingança e nisso é que são estabelecidos os seus encontros.

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Figura 15– Jacob Moore, Bretton James e Gordon Gekko

Com o seu núcleo familiar dissolvido e sete anos após sua saída da prisão, Gordon Gekko usa Jacob Moore para se retomar o relacionamento com sua filha, a qual lhe é a única referência fora do mundo de mercado financeiro em que viveu. Gekko possui ainda recursos financeiros em paraísos fiscais mas está sem amigos, sem família e sem referências. Passa a viver do lançamento de seu livro A ganância é boa? e também de palestras em universidades. O filme parte para um final previsível quando Gordon Gekko realmente se aproxima da filha, ela tem um filho e também passa a se aproximar da mãe de Jacob. A ênfase está nas mudanças ocorridas com o dinheiro do capital especulativo nesses 20 anos de diferença entre os dois filmes. No filme Wall Street, o jovem corretor Bud Fox busca de forma insistente uma oportunidade de ganhar a conta do magnata e grande investidor Gordon Gekko. Bud Fox representa com clareza o perfil daquele jovem e ganancioso corretor yuppie dos anos 80, o qual tinha a nobre missão de orientar endinheirados, abastados, ricos aposentados e executivos a colocarem seus recursos financeiros, nesse tão nebuloso mercado especulativo, com a promessa de multiplicar ou alavancar ainda mais seus investimentos pessoais. Um de seus potenciais clientes mais cobiçados é o personagem Gordon Gekko, onde Bud Fox telefona de forma persistente para a secretária de Gekko para conseguir agendar uma visita. Com as constantes negativas da secretária, quando Bud Fox descobre que Gekko está fazendo aniversário e compra um presente e vai direto ao prédio do

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megainvestidor para procurar entregá-lo pessoalmente. A secretária se vê surpresa ao saber que o jovem sequer marcou horário e, depois de alguma insistência do Bud Fox, ela comunica ao Sr. Gekko a presença do mesmo. Bud Fox finalmente consegue se ver diante do seu maior ídolo, o seu modelo de futuro, a imagem de um homem genial em tudo o que faz: Gekko. O mesmo procura em poucas palavras inibir o rapaz, inclusive colocando em seu braço um medidor de pressão arterial comentando ao rapaz a eficiência daquela “engenhoca” que inclusive já lhe poupa uma visita ao médico conforme ele comenta.

Figura 16 – Gordon Gekko e o medidor de pressão para inibir Bud Fox

Bud Fox tem sua oportunidade, onde ele compreende como única, de encantar aquele grande investidor. Cita papeis que são oportunidade de ganhos, mas Gekko trata com desdém. A inibição continua até o momento em que Gekko deixa uma frase clara para encerrar aquele encontro: - Traga alguma informação que eu ainda não sei. Hoje é meu aniversário, não me aborreça. Nesse instante Gekko pega o cartão de aniversário que o Bud tinha lhe entregue junto com o presente e o coloca em uma fragmentadora. Nesse momento Bud comenta de uma informação privilegiada que obteve com o seu pai Carl, que pode ser de uma grande oportunidade para Gekko. Bud Fox no início da trama vai procurar seu pai, mecânico de avião de uma Cia Aérea chamada Bluestar e pedir trezentos dólares emprestados, para cobrir uma operação que seu

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cliente não tinha honrado porque as ações tinham desvalorizado. Seu pai insiste numa breve conversa para Bud largar esse mundo de mercado de ações e ir trabalhar em sua Cia. Aérea Bluestar, voltar para a sua cidade de origem e largar aquela profissão que seu pai mal entendia do que se tratava. Durante essa conversa o pai comenta com seu filho que a Cia irá ganhar uma causa referente um acidente aéreo, pois teria sido provado que a culpa era do fornecedor. Com isso a Bluestar ganharia novas concessões de rotas. Bud Fox, após escutar esse depoimento, pede certeza ao pai da informação. Seu pai o olha e o compara com os tempos de criança devido a mudança do seu olhar. Bud sai de lá recomendando ao pai que compre ações da Bluestar, mas a conversa fica naquela informalidade. O Bud Fox troca uma relação de confiança com seu pai por uma relação de traição. A traição ocorre exatamente porque uma conversa amistosa entre um pai e filho vira um produto de especulação e de insider trading para Bud Fox negociar sua “alma” com Gekko. Após essa “entrega” Bud Fox sai abatido do encontro, com um olhar mais soturno, um olhar mais soturno, talvez o olhar de quem traiu alguém que ama.

Figura 17 – Gekko tem a informação privilegiada de Bud Fox

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3.

WALL STREET I e II ESPAÇOS E SOCIABILIDADES NA ERA DO

CAPITAL ESPECULATIVO

A expansão econômica, a riqueza obtida de forma rápida, o uso da especulação e a prosperidade trazem um otimismo constante para o investidor especulativo. Instantaneidade e simultaneidade são as palavras de ordem nesse mercado. O capital instantâneo passa a ser regido não pela sua produção, mas por indicadores, coeficientes e índices. Tudo é previsto por estatísticas, matemáticas e gráficos.

Figura 18 – Jacob Moore e a presença constante da tecnologia

O capital especulativo, nos dois filmes pesquisados, mostra sua proximidade com a arte. No filme Wall Street I os quadros de arte possuem um valor intrínseco de status. Compram-se quadros de arte, por sua beleza estética e também como oportunidade de investir os capitais excedentes em outros ativos. Os objetos de arte se tornam um ativo na percepção de investidores nesse mercado. Tanto no escritório de Gekko como em sua residência, os quadros de arte estão presentes no filme. Bud Fox ao mudar para um novo apartamento também adquire um quadro de arte para decorar seu apartamento, porém sem compreender seu valor estético.

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No filme Wall Street II O dinheiro nunca dorme a arte agora é obtida pelo especulador, como um puro investimento ou oportunidade de angariar um valor futuro maior com o ativo. O especulador Gekko traz na tela do cinema, um tipo de personagem e uma forma de ganhar dinheiro rápido que até então era desconhecido da maior parte das pessoas. No capital produtivo uma pessoa bilionária estava associada aos grandes nomes da indústria como Ford, Carnegie, Hershey´s, Rockfeller entre outros. O termo especulador que pode ser interpretado como uma pessoa que busca oportunidades, no filme atinge seu tom mais vil. O universo dos especuladores é representado no filme por Gordon Gekko, o qual atua no mercado financeiro com o objetivo de identificar oportunidades para um ganho rápido no mercado de ações, às vezes em apenas um dia no chamado no mercado de day trade18 e, às vezes num período de curto prazo como no mercado de derivativos (um ativo que deriva de outro ativo). O personagem do especulador é uma pessoa mais fria, acostumada a riscos e aparece mais fortemente em períodos de crises financeiras ou de quedas contínuas nas bolsas de valores, pois é onde o mesmo costuma comprar papeis por preços muito mais baratos ou sub-valorizados que são vendidos pelas pessoas que, emocionalmente, ficam mais inseguras quanto ao que irá acontecer no mercado. Uma forma mais usual de se conseguir especular e ganhar dinheiro de forma mais oportuna, ocorre através de um mecanismo chamado Informação Privilegiada ou Insider Information19. A narrativa do filme Wall Street I tem como ponto fundamental o uso da informação privilegiada. Essa prática é que diferencia nesse filme do final dos anos 80, o especulador dos demais investidores no mercado.

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Conforme a BOVESPA Considera-se day trade a operação ou a conjugação de operações iniciadas e encerradas em um mesmo dia, com o mesmo ativo, em uma mesma instituição intermediadora, em que a quantidade negociada tenha sido liquidada, total ou parcialmente. Disponível em: http://www.bmfbovespa.com.br/ptbr/servicos/custos-e-tributos/tributacao/imposto-de-renda-day-trade.aspx?idioma=pt-br (acesso em 23/07/14) 19 Conforme instrução da CVM Comissão de Valores Mobiliários no Brasil, Informações Privilegiadas doutrinariamente, são aquelas pessoas que podem influir de modo ponderável na cotação dos valores mobiliários de emissão da companhia, afetando a decisão dos investidores de vender, comprar ou reter esses papéis. Disponível em http://www.cvm.gov.br/port/public/publ/Publ_600.asp (acesso em 11/03/14)

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Figura 19 – Bud Fox e Gordon Gekko modelo Yuppie dos anos 80

3.1. O Espaço Social do Filme: Geração Yuppie

O modelo Yuppie retratado no filme Wall Street através do personagem Bud Fox afeta o comportamento dos jovens do mercado de trabalho no final dos anos 80 e durante a década de 90. O jovem da geração dos anos 80 surge na tela do cinema como essa figura autônoma, alguém que tenta se libertar dos pais como figura ideal e passam a buscar o seu próprio modelo de sucesso É a substituição do emprego do colarinho azul numa fábrica para o colarinho branco de um corretor de valores. Bud Fox estabelece essa relação imagética na figura imponente de Gordon Gesso, como um modelo a seguir. Há uma cena no Wall Street I Poder e Cobiça, do Bud Fox em seu computador pessoal ligado, já demonstrando ao mundo uma mudança na relação casa x trabalho, com uma mulher em sua cama e ele trabalhando de frente a esse computador durante a madrugada. Um rosto sem barba, o gel nos cabelos, ternos bem alinhados, suspensórios, um perfil de executivo que agora extrapola o horário convencional de trabalho, não se limitando mais a apenas um horário padrão. Bud acessa informações do mercado financeiro em sua casa, de madrugada e o jovem vê essa atitude como um diferencial na sociedade.

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Figura 20 – Gekko, Darien Taylor e Bud Fox

O perfil de uma pessoa que dedica muito mais horas ao trabalho que em sua vida pessoal ou familiar, mas contando com uma compensação de elementos de lazer e prazer como, por exemplo, lancha, casa na praia, residência ampla e a prática de esporte. Interessante que ao observar os personagens do filme, apenas os dois: Bud Fox e Gordon Gekko usam gel nos cabelos. Nesse período, algumas matérias sobre as bolsas de valores no mundo mostravam fotos do pregão e se percebe vários “Bud Fox” com o mesmo modelo imagético. A identidade do jovem dos anos 80 é bem mais próxima do Bud Fox pelo contexto em que viviam, porém ambicionada pela imagem do modelo Gordon Gekko de riqueza. Um ex-hippie e militante que se tornou Yuppie, Dany Cohn-Bendit comenta: “Quero ser bem sucedido na vida, não quero ser um fracassado a mais. E para dar certo nos Estados Unidos da América é necessário entrar no mercado financeiro” (BENDIT-COHN, 1986 p.37)

Os yuppies de 80 se tornam a geração do ter. No início dos anos 80 ainda vigorava na economia americana, um grande mal estar social, efeitos da recessão dos anos 70. Com os yuppies o consumo vira quase uma idolatria e um modelo da

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individuação. O dinheiro, conforme tratado anteriormente em sua trajetória histórica, encontra na geração yuppie um porto ideal. O dinheiro e o consumo traz a sensação do poder, um meio para se conseguir o que deseja, prestígio junto as pessoas e estabelece as relações pessoais meramente agora relacionais com a circunstância que o dinheiro traz. A posse de bens de consumo é como se o transcendesse acima das questões da vida cotidiana, formando também uma geração com pouca significância política, também fruto de uma política econômica e governos com pouca, são bem retratados no Wall Street I pois nada é abordado sobre política ou crítica governamental, em diálogos entre os executivos ou mesmo no mercado financeiro em que operavam. A evolução do marketing, desde a década de 50, agora permite identificar e segmentar esse novo perfil demográfico. Algumas revistas passam a identificar o modelo yuppie na sociedade americana como na figura abaixo de um exemplar da revista Newsweek de 1984.

Figura 21 – Capa da revista Newsweek Magazine de 31/12/84

São jovens que mais conservadores quanto a visão política e com pouca visão crítica, viciados em trabalho, ambiciosos em poder conseguir a riqueza num curto espaço de tempo, diferente das trajetórias de seus pais. Buscam a significância mantendo a tradição de alguns valores como casamento, lar e família.

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Não querem a profissão do pai e de todo o esforço que o mesmo teve para sustentar uma casa. Querem o dinheiro rápido, aceitam romper escrúpulos, pois há a o sentimento de que, assim que conseguirem o objetivo de ser ricos, conseguirão sair dos esquemas até então envolvidos e voltarão a uma vida cotidiana comum. No filme Wall Street I Poder e Cobiça o jovem yuppie Bud Fox é retratado exatamente esse imaginário nas telas, pois ele é jovem, ambicioso, ávido por conseguir riqueza rapidamente, uma necessidade interna de mostrar aos pais que fez sucesso em suas escolhas, a imagem através do uso de roupas de grife, boa aparência e status que parecem ser os pontos fundamentais nesse novo perfil demográfico. Também no lado conservador, Bud Fox pretende casar-se cedo, ter filhos e se aposentar bem, com seu sucesso do trabalho estabelecendo assim, nas tradições, os motivos de sua ambição. No filme Bud Fox se casa com Darien Taylor, decoradora e amante de Gordon Gekko.

Figura 22 – Bud Fox e a decoradora Darien Taylor

Como a geração yuppie tem a necessidade de que sua riqueza seja mostrada, Bud se muda e decora toda a casa.

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O filme mostra uma diferença social entre Bud Fox e Gordon Gekko. Gekko é o especulador milionário em que o modelo yuppie se encaixa em sua plenitude. A riqueza mostrada é a riqueza possuída e excedente para ser gasta. Já no caso de Bud Fox ainda é um jovem batalhador que tem acesso a uma riqueza mais temporal, ainda não firmada em bases sólidas, mas que ao ser demonstrada procura-se com isso se aproximar dos que possuem essa riqueza. Quando ocorre o primeiro encontro entre Bud Fox e seu pai Carl Fox num bar, onde Carl e alguns amigos almoçavam, Bud é visto pelos amigos de Carl como um “milionário” da Bolsa, um jovem bem sucedido e pedem dicas de como ficar ricos.

Figura 23 – Bud Fox encontra com seu pai Carl Fox

Essa imagem é totalmente cuidada. A geração yuppie retratada através do personagem Bud Fox é um perfil de pessoa que se preocupa com a imagem, em ter coisas e definem o status pois a imagem vai representando quem eles são ou, na verdade, desejam ser. O fracasso para esse perfil do jovem yuppie da década de 80 é muito trágico, pois representa o fracasso da vida. Como o propósito de vida pessoal é de alçar um voo solo, independente da trajetória dos pais, o revés tem um peso muito grande em sua imagem pessoal.

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Na ascensão pessoal do Bud Fox, durante o filme Wall Street I Poder e Cobiça, é nítida sua mudança e alinhamento de suas expectativas pois muda seus hábitos ainda mais, passa a ler Sun Tzu, autor do clássico livro a Arte da Guerra, pois é o livro citado regularmente no filme por Gordon Gekko compra um apartamento de quase um milhão de dólares, chama a mesma decoradora Darien Taylor do Gordon Gekko para decorar o apartamento onde exatamente pretende casar e morar com a ela. “Dissimular é fingir não ter o que não se tem. Simular é fingir ter o que não se tem. O primeiro refere-se a uma presença, o segundo a uma ausência.” BAUDRILLARD (1991, p.9). O personagem Bud Fox vê em Gordon Gekko um modelo para seguir. Nesse modelo imaginário de especulador milionário do filme, não há origem ou realidade sendo identificados. Nesse simulacro20 não importa a origem de quem foi Gordon Gekko, sua biografia e nem se o que se vê é real. Basta a imagem do que se tem. A imagem passa a modelar a identidade. É interessante durante a narrativa perceber as mudanças que ocorrem em Bud Fox. Ele passa a se comportar como Gordon Gekko, em seus hábitos, trejeitos, cita frases que Gekko lhe citou, decora seu apartamento com obras de arte e com a mesma decoradora do Gekko, a Darien Taylor. Esse imaginário do real vai se ajustando a partir da imagem do outro. Esse modelo imagético de Gordon Gekko como um homem correto, de sucesso, que ganha seu dinheiro de forma correta, de família, bem relacionado, conectado vai simulando verdades. “O simulacro permite você simular verdades”. (BAUDRILLARD, 1991). Em jogo o conflito de Bud Fox que é convencer seu pai Carl Fox de que sua profissão será mais promissora que a do pai, que é mecânico de aviões, trabalha de forma árdua, tem uma vida comum e padronizada pelas circunstâncias. Para isso tem para utilizar como exemplo Gordon Gekko em sua visão um homem genial, que é destaque no mercado financeiro, bilionário e com grande sucesso no que faz e vê.

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Ver Renato dos Santos Barbosa, “O simulacro segundo Baudrillard”. Disponível em: http://ataraxiadaalma.blogspot.com.br/2013/01/o-simulacro-segundo-baudrillard.html trata o simulacro como o mapa que precede o território. É o simulacro que engendra os territórios cujos fragmentos apodrecem sobre a extensão do mapa.

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Na estrutura narrativa do filme Wall Street I Poder e Cobiça, o pai Carl Fox trabalha com algo concreto, numa empresa que representa o capital produtivo de uma economia, das grandes corporações americanas e o fato de ser uma companhia aérea também é representativo, pois as companhias aéreas americanas21 foram criadas após a crise econômica de 1929 também uma profissão e uma função padronizada, enquanto o filho Bud Fox não trabalha com nada concreto, trabalha com algo superficial, com bolsa de valores e qual seu pai não compreende como se fica rico nesse tipo de trabalho. Bud Fox, sem perceber talvez, idolatra Gekko e durante a sequencia do filme ele aparece muito mais vezes com o Gekko do que com o próprio pai. Há uma mudança de identidade, de identificação e de simulacro no comportamento de dele. Nesse papel quase “missionário” de Bud Fox para conquistar a admiração Gordon Gekko rompe escrúpulos e passa a ser seu aliado quando o mesmo lhe abre o jogo do que realmente deseja, durante uma conversa no carro, sobre a continuidade do uso de informações privilegiadas. Inclusive a de seguir de forma pragmática, o seu maior concorrente: outro investidor Larry Wildman. Larry Wildman também é investidor da bolsa, porém com um perfil de investidor mais tradicional, ou seja, aquele que compra ações e participações em uma empresa para exatamente investir em sua expansão e obter ganhos através dela. Bud Fox passa a seguir seus passos, a rastrear informações, se disfarça de encarregado de limpeza, veste uniforme e vai divulgando ao Gordon Gekko o que vai acontecendo. Através dessas informações, Bud identifica que Larry Wildman está viajando para comprar uma participação em outra empresa e Gordon Gekko de forma rápida compra ações dessa empresa para conseguir uma oportunidade de vende-las a um preço maior ao próprio Larry Wildman. Larry Wildman se vê obrigado a visitar Gordon Gekko em sua residência onde percebe a imagem de Bud Fox, mas não lembra de te-lo visto em seu prédio.

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História A companhia aérea americana foi fundada em 1929 no estado de Luisiana, EUA. A sua história remonta,

porém, ao ano 1924, quando em Macon, Georgia, foi criada a primeira empresa aérea envolvida na pulverização dos campos - The Huff Daland Dusters. Dispondo de 18 máquinas, foi a maior frota aérea privada do mundo. Um ano depois, C.E. Woolman comprou a empresa, mudando o seu nome para Delta Air Service. Disponível em: http://www.edestinos.com.br/linhas-aereas/Delta-Airlines (acesso em 03/002014)

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Figura 24 – Larry Wildman oponente de Gekko

Nesse momento o próprio Bud intermedia o que se pode chamar de “preço justo” para que Gekko venda as ações que estão em seu poder para Larry. Durante o diálogo Larry comenta sua intenção em realmente ser sócio daquela determinada empresa e não comprou ações apenas para especular. Fica mais delineada a diferença entre os dois perfis de investidores: o tradicional e o especulador. Talvez para o espectador que desconheça os mecanismos do mercado financeiro, o filme não consegue esclarecer essa diferença, pois ambos têm em comum ganhar muito dinheiro com isso. A distinção está nos meios para alcançá-lo entre os perfis de Gekko e Larry.

3.2 Espaço Cultural: O desaparecimento da distância

Lyotard (1997) em O Tempo Hoje comenta sobre a chegada das novas tecnologias, como a informática “emancipa” as condições de vida aqui na terra e a instância para controlar essas novas tecnologias. “Todavia, a sua própria sobrevivência requer que seja alimentado por um corpo, o qual, por sua vez, só pode subsistir nas condições de vida na terra ou num simulacro dessas condições. Penso que é, hoje em dia, um dos objetivos essenciais da pesquisa, tentar quebrar o obstáculo que o corpo opõe ao desenvolvimento de novas tecnologias, ou seja, a memória em expansão.” (LYOTARD, 1997 p.24)

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O filme Wall Street I Poder e Cobiça aborda a chegada da tecnologia como um elemento de poder, de controle e do desaparecimento da distância. No início do filme Gordon Gekko, ao marcar um almoço com Bud Fox mostra a ele um pequeno televisor. Esse aparelho de TV estava sendo visto no restaurante, sendo que ainda não havia uma tecnologia de TV a cabo, internet ou outros meios de conexão. Mesmo assim Gordon Gekko comenta do futuro das novas gerações, pois aquele televisor era um presente para o seu filho. A tecnologia celular dava seus primeiros passos, através de um aparelho desenvolvido pela Motorola, restrito a um público com alto poder aquisitivo pare comprá-lo. Gekko bem no início da manhã, caminha pela praia e liga para Bud e deixa uma frase que foi clássica para a época: - O dinheiro nunca dorme!

Figura 25 - Gekko utilizando o primeiro modelo de celular Motorola Dyna TAC

Gekko nesse momento insiste em ser surpreendido por Bud Fox com novas informações, informações privilegiadas e deixa claro que pouco importa os meios: Onde ou como as obtém não importa. Nesse momento podemos refletir sobre o desaparecimento da distância com a chegada da tecnologia. Não há mais a necessidade de ligar para a corretora. O trabalho está em qualquer lugar, inclusive em casa. É hora de trabalhar é a frase que Gekko usa para deixar claro a Bud como ficar rico, ter Darién a mulher de seus sonhos

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(que é amante dele mas que Bud não sabe). Gekko controla, manipula e exerce o poder sobre Bud simplesmente com a era da tecnologia. A chegada do celular faz com que a distância desapareça e deixe de existir. O poder passa a ser representado pelo domínio a distância. Esse desaparecimento fica também representado no Wall Street II O dinheiro nunca dorme, com duas cenas emblemáticas.

Figura 26 – Celular Motorola Dyna TAC devolvido a Gordon Gekko

A primeira cena ocorre quando, logo no início do filme, Gekko está saindo da prisão e lhe é devolvido o seu antigo aparelho celular. Esse símbolo que praticamente abre o filme Wall Street II O Dinheiro Nunca Dorme, transmite a representação de toda a mudança tecnológica ocorrida entre as duas produções. Os celulares já não representam mais um ícone, um símbolo de poder e de status a um público específico que estava presente no Wall Street I. A tecnologia presente está em todos os lugares, está globalizada, generalizada e em várias camadas sociais. O celular é um produto de escala e não mais de um nicho específico de mercado. Um avanço tecnológico representativo no Wall Street II O Dinheiro Nunca Dorme ocorre quando Jacob está na moto com Winnie e seu capacete está equipado

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com telefonia celular, onde o mesmo fala com a empresa de energia renovável ao capacete e dirigindo sua moto.

Figura 27 – Jacob Moore e Winnie Gekko no filme Wall Street II

Entre os dois filmes percebe-se que a tecnologia ganha um amplo espaço na sociedade onde, de um simples objeto de culto de uma elite privilegiada, a tecnologia no século 21 insere toda a sociedade nesse contexto e o filme Wall Street II O Dinheiro Nunca Dorme, em sua narrativa, consegue também mostrar essa adaptação. “As velhas e novas mídias colidem, onde mídia corporativa e mídia alternativa se cruzam, onde o poder do produtor e o poder do consumidor interagem de maneiras imprevisíveis.” (JENKINS, 2009, p.27).

3.3 O Espaço Social do Consumo

Os dois filmes pesquisados retratam, com ampla clareza, esse outro estágio do capital especulativo, cuja trajetória foi desde um capital antes puramente com função produtiva para um capital totalmente especulativo o qual,

com

a

chegada

da

tecnologia da informação se tornou praticamente um capital cibernético (GEROVITCH, 2014)

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Os que nele operam se tornam semelhantes a dependentes químicos, que necessitam dessa “droga” (vamos dar o sinônimo de especulação) cada vez mais. Querem correr mais riscos, querem ganhar mais, querem ganhar mais rapidamente e os fins justificam os meios para essa ganância. No final da década de 80, quando surge o Wall Street I Poder e Cobiça essa obsessão era convertida para o consumo. O consumo incluía, o consumo dava poder e o consumo proporcionava prazer. Aqueles jovens yuppies, unem dois vícios então: o vício pelo trabalho e pelo consumo. Utilizam toda a tecnologia atual como aliada desse jogo. Os anos 80 são conhecidos como a década do consumo e esse consumo passa a regular as relações humanas. O filme Wall Street I Poder e Cobiça trata o Consumo como modelo de poder, de imagem e de status. Obras de arte, o luxo, a chegada do celular, do computador pessoal e o uso de drogas como a cocaína, um robô na casa do Gordon Gekko como diversão para os convidados e o investidor Larry Wildman ligando em um aparelho celular e acessando o seu computador pessoal dentro de uma lancha, com mulheres e garçom a bordo demonstra o que era um modelo de homem bem-sucedido. A imagem fica associada ao poder de consumo e passa a demonstrar quem é aquela pessoa através da imagem que ostenta.

Figura 28 – A chegada dos celulares e computadores pessoais em Wall Street I

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O jogar esse jogo, faz seus participantes se sentirem bem, com prazer. A resposta do personagem Bretton James (Josh Brolin) em Wall Street II O Dinheiro Nunca Dorme, quando questionado por Jacob Moore sobre qual era o limite da riqueza para ele parar, sua resposta foi direta: - Mais! O capital especulativo nessa cena com Bretton James, mostra sua ganância. Nesse aspecto, o que diferencia a ganância pelo capital no Wall Street I do Wall Street II é que no primeiro a ganância era mais endêmica, restrita ao personagem Gordon Gekko e ao poder de consumo dos mais endinheirados. Já no filme Wall Street II o consumo é sistêmico, está disseminado na sociedade e não há mais de se destacar o consumo com um símbolo de poder. Os personagens do Wall Street II moram bem, se vestem bem, estão aparados tecnologicamente, continuam de posse de quadros de arte, produtos de consumo de alto valor agregado. O que se destaca em algumas cenas do filme é a aquisição e o uso de jóias como um novo símbolo de status. Gekko, em determinada cena do filme, sugere que Jacob compre uma jóia de presente para a Winnie, com o bônus que ele recebeu de Louis Zabel. Jacob vai a uma joalheria e sugere uma sala particular para a aquisição da mesma.

Figura 29 – Bretton James em seu escritório Wall Street II

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O que é valor, o que é certo, o que é o homem são questões muito perigosas e damo-las por encerradas o mais rapidamente possível. Elas abrem, dizemos, a via ao “tudo é permitido”, ao “tudo é possível”, ao “nada tem valor”. (LYOTARD, 1997, p.9) E nisso a narrativa do filme inventa um modo, uma forma, um meio de mostrar essas formas de sociabilidades. O que acontece entre os dois filmes Wall Street I e II, quanto ao seu aspecto de consumo é uma repetição, apesar de se perceber diferentes narrativas o imaginário é o mesmo: o dinheiro. Nos anos 80 o consumo era a forma plena do dinheiro ser mostrado, era o centro do imaginário coletivo e era o símbolo do status. Já no século 21 o dinheiro fica desmaterializado em inúmeras coisas, formas e espaços, onde o consumo já não é o centro e sim apenas uma pequena parte, um fragmento, de algo tão fugaz nessa presentificação chamada dinheiro.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao comparar as mudanças históricas ocorridas na desmaterialização do dinheiro e como os filmes Wall Street I e II, os mesmos possibilitam ao espectador uma ampliação no olhar, sobre toda essa imaterialidade do dinheiro e a superfície das sociabilidades, num período de pouco mais de vinte anos. Bud Fox, em Wall Street I Poder e Cobiça é o elemento fundamental de uma juventude que aspira a ascensão profissional rápida, financeiramente viável e obtida num curto espaço de tempo. Essa aspiração desmorona quando, ao longo da narrativa, o mesmo conhece o outro lado de Gordon Gekko, o mega especulador, aquele que vencia todas as batalhas, o homem poderoso de Wall Street que, incansavelmente, busca obter cada vez mais riqueza e utiliza o uso da informação privilegiada como o seu maior trunfo pessoal. Bud representa no filme o jovem que agora decide e que faz suas escolhas, arcando com seus êxitos e suas consequências e, no caso do filme, ocorre o total esvaziamento de suas aspirações, quando termina sua trajetória profissional sendo algemado exatamente na corretora de valores onde conseguiu a conquista de toda a sua instantânea riqueza.

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Bud percebe que Gordon Gekko, não tinha interesse na pessoa dele como profissional e não o via como um jovem capaz de conquistar as posições mais elevadas na empresa. Praticamente todo o início de contato até então estabelecido tinha apenas um interesse, que era na Cia. Aérea Bluestar, onde o pai de Bud trabalhava, na informação privilegiada que foi passada e o ganho especulativo possível dessa informação. O dinheiro de Gekko era o que Bud Fox ambicionava conquistar na corretora em que trabalhava e Gekko deu o que Bud tanto ambicionava só que em troca de uma traição, de uma escolha. Gekko mostra durante o filme que também era muito mais ambicioso por dinheiro e Bud se tornou apenas uma presa fácil de ser fisgada nesse mercado especulativo.

Figura 30 – Gekko entrega o cheque da primeira operação com Bud

O dinheiro no mercado financeiro é exatamente essa superfície, pois conforme cita (LYOTARD, 1997) o importante para o Capital é que o dinheiro esteja armazenado livre ou fresco para uso. O capital especulativo migra, realça novos trajetos, busca novos ganhos através de novos mercados e novas operações financeiras, tanto que ocorre por parte do espectador que não pertence ao mercado financeiro, a dificuldade de compreender inúmeros jargões que são usados na narrativa do filme onde, até mesmo os próprios atores tiveram que compreender todas aquelas expressões até então desconhecidas para a maioria.

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O processo de desmaterialização do dinheiro, traz consigo uma experiência de mundo totalmente virtualizada, desassociada de sociabilidades e principalmente decorrente do avanço das tecnologias nesse contexto. Associar o dinheiro especulativo à fugacidade do mesmo, está exatamente por sua perda total de sentido, em objetivo concreto ou em uma visão de longo prazo. O filme retrata o dinheiro como algo a ser utilizado por grandes e poderosos que possam especular, extrair o máximo de ganho possível, transformá-lo em bens, objetos de consumo e prazer ou mesmo em nada, ingressando esse mesmo ganho especulativo em outros tipos de investimentos no mercado financeiro, fazendo-o mudar e migrar de um lado para outro buscando oportunidades de acumular mais capital excedente. São emoções autônomas das suas próprias emoções, pois nesse jogo da especulação o ganho de um é a perda de outro e para os que atuam nesse mercado, não importa quem perdeu e sim que o venceu, ganhou o jogo. A emoção está na conquista que foi obtida, através de resultados e não pelos impactos causados aos demais. Apostas, riscos, simulacros, oportunismos, a lei do mais forte ou, como o filme retrata, a lei daquele que tem uma informação que os demais ainda não tiveram acesso. As pessoas são apenas um fragmento dessa espetacularização.

Figura 31 – Lou Mannheim e Bud Fox na Corretora

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O mesmo Bud que chegava orgulhoso diariamente em sua corretora, pelos bons resultados obtidos e conquistas materiais realizadas, agora chega em sua corretora e passa por uma grande humilhação. É preso perante seus amigos e chefe que até então o adoravam. Antes de sua prisão chama a atenção no filme o momento em que o corretor Lou Mannheim, chamado pelos próprios jovens da corretora como um homem falido da década de 70 e atingido pela crise do petróleo se aproxima de Bud e lhe abraça. Ao caminhar com Bud e cita a frase: - O homem fita o abismo e nada olha em volta dele. Nesse momento o homem encontra o seu caráter. É isso que o mantém fora do abismo.

Figura 32 – A polícia dá voz de prisão a Bud Fox.

Bud Fox tem uma última chance de se redimir com tudo o que tinha acontecido seu pai Carl Fox, agora internado com um infarto após tudo o que ocorreu com a Cia.Bluestar em que trabalhava, em que fez sua carreira pessoal, sustentou sua família e pela prisão de seu próprio filho Bud, que vê também ruir seus planos de se tornar um corretor de sucesso. Bud Fox para conseguir se livrar da prisão utiliza o meio da delação premiada, onde consegue marcar um encontro com Gordon Gekko no parque e no local grava toda a conversa, que o denuncia sobre o uso de informação

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privilegiada. De posse da fita gravada a entrega aos fiscais da S.E.C. que tinham lhe prendido, como forma de se livrar da prisão. Surpreende quando, ao analisar o legado dos filmes Wall Street I Poder e Cobiça e Wall Street II O Dinheiro Nunca Dorme, alguns simulacros da pósmodernidade se repetem: o consumo exacerbado das pessoas, a relação cada vez mais intensa com a imagem, a carreira profissional como essência de vida, a fugacidade do dinheiro que, a perda da ética nos ambientes corporativos, o uso cada mais frequente de informações privilegiadas para obtenção de resultados rápidos, a importância e predomínio da tecnologia como instrumento de controle da sociedade, o poder de manipular os mais fracos que querem pertencer a um grupo mais seleto e querem pagar o preço para isso, as crises financeiras que se intensificam inclusive com uma crise de grandes proporções como a de 2008 e endividamento das pessoas como mencionado por Bud Fox no início do filme Wall Street I Poder e Cobiça, sendo esse endividamento causado para manter a imagem de pessoa rica e o endividamento da mãe do Jacob já proporcionado pelo endividamento elevado devido a crise de 2008. O filme parece um epitáfio de situações que novamente irão se repetir, de forma mais intensa, mais desproporcional e mais descontrolada. É possível identificar em ambos os filmes, Wall Street I e II, dirigidos pelo autor Oliver Stone, o ponto fundamental na narrativa do mesmo que está em perceber o que o dinheiro pode comprar. No primeiro filme, o dinheiro comprava informações privilegiadas, comprava o rompimento da ética e comprava a falta de escrúpulos, como relatado anteriormente em todas as mudanças ocorridas com o personagem Gordon Gekko, entre a vida que o mesmo vivia antes do seu auge profissional e o que o dinheiro lhe permitiu conquistar e também no personagem Bud Fox em sua busca incessante do sucesso profissional a qualquer preço e a ascensão rápida inerente aquela geração yuppie. Já em Wall Street O Dinheiro Nunca Dorme, a narrativa é que o dinheiro não compra a tudo e a todos. O personagem Jacob não se deixa levar pelos encantos do capital e, mesmo dependendo desse capital, mantém seus pontos de vista e luta durante a narrativa do filme, em fazer justiça contra aquele que causou danos ao seu mentor Louis Zabel. Percebe-se também que a própria filha do Gekko, Winnie, em cenas do filme abre mão dos citados cem milhões de dólares que ela tem direito, em prol da sua paz pessoal e do seu relacionamento conjugal.

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Entra em jogo no segundo filme valores mais perenes como a família e sustentabilidade, a qual permeia as trajetórias de vida do Jacob e da Winnie, em detrimento de valores mais temporais como a imaterialidade do dinheiro. Por isso pode-se perceber um certo conservadorismo, quanto a tradição familiar e na forma em que é retratado os efeitos econômicos e sociais, sobre o que realmente aconteceu nos períodos das crises econômicas, de 1997 e a de 2008, essa última sem precedentes na história. O filme Wall Street II O Dinheiro Nunca Dorme não deixa tão evidente quais as reais escolhas de Gekko, pois suas decisões de voltar ao contato com Jacob e a Winnie, ocorrem apenas após o momento que ele atinge uma cifra de mais de 1 bilhão de dólares. Caso suas apostas, com o uso do dinheiro que era para ser transferido para a ONG da Winnie não tivesse gerado perdas financeiras, mesmo assim ele a teria procurado devido a possibilidade de se tornar avô? Por que no filme ocorre esse hiato, entre o primeiro contato que ele teve com a notícia O filme Wall Street I marca uma época, uma década e uma enorme mudança no contexto social. Wall Street II O dinheiro nunca dorme já reflete os efeitos desses pouco mais de vinte anos nas grandes mudanças do capital, desencadeando uma crise financeira mundial de proporções até então não percebidas desde 1929. No final da década de 80, o filme Wall Street Poder e Cobiça, traz nas telas do cinema o encantamento do capital especulativo com a geração yuppie, os viciados em trabalho, bem trajados, ambiciosos por dinheiro e poder, onde a jactância do consumo é o que os diferencia dos demais àqueles que migram para um capital não-produtivo e de caráter puramente especulativo. No Wall Street I praticamente apenas o Gordon Gekko é efetivamente preso, sendo que toda a estrutura do mercado financeiro já era dependente dos efeitos da especulação e da globalização, dos ganhos rápidos e através de meios éticos questionáveis. Corretores jovens eram contratados para trazer resultados de curto prazo, oferecendo aos seus potenciais clientes possibilidades de ganhos rápidos através de investimentos em produtos e mercados emergentes. Enquanto no filme Wall Street I Poder e Cobiça, Gordon Gekko é o único especulador e vilão da narrativa, em Wall Street II O Dinheiro Nunca Dorme há vários especuladores e também vilões. Ocorre a dissipação do especulador dos anos 80, Gordon Gekko, para um modelo em Wall Street II, que não dá pra ser seguido, pois não há modelos e sim formas já estabelecidas nesse comportamento.

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Diante do cenário da maior crise econômica da história do mercado financeiro, pouco é relatado sobre os efeitos da crise na sociedade como um todo. O filme fica mais restrito quanto aos efeitos da crise apenas aos banqueiros, como eles buscam se aliar, o governo e seus dependentes diretos do sistema. O que o filme traz de elemento essencial em sua narrativa está exatamente na total imaterialidade do dinheiro no século XXI. A família nuclear também praticamente governa a narrativa dos dois filmes. No Wall Street I Gordon Gekko possui uma família tradicional com esposa e filho e representa o centro da mesma. No Wall Street II praticamente a instituição família está dissolvida, mas toda a narrativa do filme trata da busca incessante do Gordon Gekko em retomar o seu relacionamento familiar com a sua filha Winnie. Nesse caso dessa nova família, o homem não é o mais o centro da família, pois os poderes estão horizontalizados e todos tomam decisões.

Figura 33 – Gordon Gekko e sua filha Winnie.

Seu casamento está dissolvido e não há relatos sobre a causa da separação do casal Gekko, por isso a Winnie se torna para ele o centro norteador para reestabelecer sua família nuclear.

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A gravidez da Winnie intensifica esse sentimento de Gekko. Essa retomada familiar também está presente na trilha sonora do filme com as músicas Life is Long do David Byrne e Brian Eno22 onde trecho da letra comenta que “a vida é longa se você lhe der forma” e também na música Home dos mesmos autores, onde parte da letra se refere ao lar: “Estou procurando por um lar, onde as rodas estão girando. Lar, porque sempre estou voltando”. Quanto ao aspecto político os dois filmes demonstram as mudanças econômicas na política americana e como as mesmas passam a interferir na função e utilização do dinheiro. No Wall Street I a narrativa do filme dá ênfase na pulverização do dinheiro através da rapidez e especulação do mercado de capitais. No Wall Street II o dinheiro está totalmente virtualizado e o mesmo não precisa mais de países e nem de sua tangibilidade. O jovem Jacob no Wall Street O Dinheiro Nunca Dorme é um personagem já globalizado em seu contexto. Ele é o jovem que já nasceu no ambiente desregulamentado da economia americana, está conectado de forma globalizada e acostumado comas informações virtualizadas. No aspecto tecnológico, nota-se que o filme Wall Street I ainda caminhando na tecnológica, com a chegada dos computadores nos escritórios e nas residências e a chegada dos celulares rompendo a distância que ainda impedia a velocidade do dinheiro. No Wall Street O Dinheiro Nunca Dorme a tecnologia gera um infinito big data23 onde a informação passa a se tornar valor econômico e um trunfo do Estado. Na indústria do cinema se percebe várias produções cinematográficas sobre o mercado financeiro, após o esplêndido sucesso de Wall Street I Poder e Cobiça, bem como o cinema também compreender as crises econômicas e esse mercado especulativo de forma cada vez mais próxima, se tornando um excelente produto de entretenimento. Em anexo estão a relação de filmes que compõem essa associação da indústria do cinema com as produções sobre mercado financeiro. 22

David Byrne e Brian Eno são músicos, compositores e produtores da década de 70, com as bandas Talking Heads e Roxy Music respectivamente. 23 McKinsey Global Institute define o Big Data como um conjunto de dados, cujo o crescimento é exponencial, devido a intensa utilização de produtos tecnológicos como smartphones, sites, redes sociais, transações eletrônicas, sensores e o uso da computação em nuvem gerando quantidade de dados incalculáveis, a qual sua dimensão está além da habilidade das ferramentas de capturar, gerenciar e analisar dados. Disponível em http://www.mckinsey.com/insights/business_technology/big_data_the_next_frontier_for_innovation (acesso em 23/07/2014)

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Quanto aos filmes Wall Street I Poder e Cobiça e Wall Street II O Dinheiro Nunca Dorme ambos são filmes de produto para a economia americana e filmes de espetacularização, não deixando de proporcionar ao seu espectador a condição atual de uma economia gananciosa pelo capital, não mais pelo capital produtivo, mas pelos ganhos obtidos de um capital fictício. Não mais pelo aspecto do lucro obtido por uma transação comercial ou produtiva, mas pelo lucro obtido através do nada, em produtos financeiros em sua maioria desconhecidos da grande maioria da sociedade, de termos, expressões e jargões financeiros que a grande maioria da sociedade é tratada apenas como uma manada que segue ou deve seguir apenas um caminho já estabelecido, onde de sabe a partida mas nem sempre ciente para onde o mesmo irá leva-la. O mercado do capital se parece muitas vezes com um mercado de ficção e cada vez mais as economias globais estão dependentes também desse tipo de capital viciado pelo sistema. O discurso de Jacob Moore reflete como o sistema está viciado e deixa para o espectador uma conclusão de que as bolhas, a especulação e as crises econômicas nunca acabarão. “Qual a definição de insanidade? É repetir a mesma coisa várias vezes e esperar resultados diferentes. Por esse critério a maioria de nós é insana, mas não ao mesmo tempo. E partindo desse ponto, confiamos, mas esse tipo de vida pode perdurar se mais e mais pessoas se tornarem insanas ao mesmo tempo? Como Gordon disse virá sistêmico como um câncer. O que acontece então? Como eu disse, a mãe de todas as bolhas foi a explosão cambriana. Aconteceu por acaso há mais de 500 milhões de anos. Os cientistas dizem que não houve precedentes e aconteceu num instante. A partir de então, de repente o mundo tinha milhões de novas espécies e depois nós nascemos, a raça humana! Nesse sentido, as bolhas são evolutivas. As bolhas acabam com os excessos, reduzem as manadas, mas nunca morrem. Elas voltam em formatos diferentes. Quando explodem fazem um novo dia raiar e sempre criam mudanças.” WALL Street Poder e Cobiça. Direção de Oliver Stone. Produção de Fox Films. 2010. (133 min.), DVD, son., color. Legendado.

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BIBLIOGRAFIA •

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MELLO, Pedro C.; SPOLADOR, Humberto. Crises Financeiras: Quebras, Medos e Especulações do Mercado. 3 ed. São Paulo: Saint Paul, 2012.



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GEROVITCH, Slava. "Cybernetics and Information Theory in the United States, France and the Soviet Union". In: WALKER, Mark (Dir.). Science and Ideology: a comparative history. Londres: Rotledge, 2003. Disponível em:
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