A Função da Música no Culto Cristão: História, Teologia e Prática

July 24, 2017 | Autor: W. Zacarias | Categoria: Church Music, Johann Sebastian Bach, Lutheran Theology
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FACULDADE LUTERANA DE TEOLOGIA – FLT WILLIAM FELIPE ZACARIAS

A FUNÇÃO DA MÚSICA NO CULTO CRISTÃO: HISTÓRIA, TEOLOGIA E PRÁTICA

SÃO BENTO DO SUL/SC MAIO/2013

2

WILLIAM FELIPE ZACARIAS

A FUNÇÃO DA MÚSICA NO CULTO CRISTÃO: HISTÓRIA E PRÁTICA

Ensaio Monográfico com os temas Música

Sacra

e

Culto

Cristão

apresentado como requisito na disciplina de Culto e Liturgia.

Orientador: Prof. Dr. Roger Marcel Wanke

SÃO BENTO DO SUL/SC MAIO/2013

3

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 4 1.

BREVE PANORAMA DA MÚSICA SACRA DO ANTIGO TESTAMENTO AO SÉCULO X .................................................................................................................... 5

1.1.

A PRESENÇA DA MÚSICA NO ANTIGO TESTAMENTO ...................................... 5

1.1.1. GÊNESIS ........................................................................................................................ 5 1.1.2. O CANTO NOS LIVROS HISTÓRICOS ...................................................................... 6 1.1.3. O CANTO NOS SALMOS ............................................................................................ 8 1.2.

A MÚSICA SACRA NO NOVO TESTAMENTO: LOUVOR, PREGAÇÃO DO EVANGELHO, CONFISSÃO DE FÉ E APOLOGIA ................................................... 9

1.3. 2. 2.1.

O CANTO GREGORIANO ......................................................................................... 10 A MÚSICA SACRA EM MARTIM LUTERO ........................................................... 12 CANTO CONGREGACIONAL: SACERDÓCIO GERAL DE TODOS OS CRENTES..................................................................................................................... 13

2.2.

CANTO CORAL .......................................................................................................... 16

2.3.

A MÚSICA SACRA NA PERSPECTIVA DOS 4 SOLOS ......................................... 16

3.

A MÚSICA SACRA EM JOHANN SEBASTIAN BACH .......................................... 19

3.1.

MESTRE DAS TÉCNICAS DE HARMONIA ............................................................ 19

3.2.

LEGADO LUTERANO ............................................................................................... 21

4.

A MÚSICA SACRA: CONSELHOS PRÁTICOS PARA A ATUALIDADE .......... 22

CONCLUSÃO......................................................................................................................... 25 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 26

4

INTRODUÇÃO “A música, eu considero um princípio, como um indispensável alimento da alma humana. Por conseguinte, um elemento e fator imprescindível à educação da Juventude.”1

Embora Villa-Lobos fosse um músico secular, ele compreendeu de forma aplaudível o que significa música. Para físicos, trata-se apenas de um conjunto de ondas sonoras alocadas de forma agradável ao ouvido, para outros, a maior expressão de arte existente. Sendo física ou arte, para os cristãos ela não passa de nada se não houver um pressuposto: Deus. Desde muito tempo existe algo a qual alguém nomeou de “música”, porém, seu significado vai além de um mero vocábulo: seu conceito encontra-se preso no decorrer da história onde foi continuamente adaptada e contextualizada. Com exceção do vácuo, não há contexto onde não há música. Ela é tão presente e comum que o ser humano passa despercebido a ela no canto do passarinho, no som do correr das águas de um riacho ou do zunir do vento. Tudo é música. Onde não há música há apenas o vazio e caótico. Engana-se que a música pode ser apenas ouvida com os ouvidos. Ela vai mais longe, penetrando no ser fazendo-o sentir os mais diferentes sentimentos e emoções possíveis. Quem disse que um cego não vê e que um surdo não ouve? Ignorante é o ser humano que se acha normal só por que consegue ver ou ouvir. Saiba, nobre leitor, que há cegos que enxergam muito além dos olhos e surdos que ouvem muito além dos ouvidos. Pois, se Deus cria o visível e o audível, como privaria o ser humano de contemplar surpreendente criação? Pelo contrário, há outras maneiras de percebê-la, onde muitos que veem são cegos e muitos que ouvem são surdos por não a notarem diariamente. A estes, na crença em milagres, espera-se que sejam curados de sua ignorância para que aprendam o que significa a contemplação. Da premissa de que a criação de Deus abrange também o som, este trabalho possui como objetivo elucidar ao leitor de forma breve a história da música sacra, explanar suas formas e reformas. A música é mutável e pode ser executada de muitas maneiras, por isso, entende-se como importante a perspectiva histórica para que estas mudanças sejam analisadas na sua respectiva aplicação no contexto específico judaico-cristão. A partir da experiência histórica, criam-se dicas que auxiliam a música sacra atual nos seus mais diversos âmbitos. Deseja-se ao leitor uma deliciosa leitura e como já afirmou Johann Sebastian Bach, Somente a Deus a Glória.

1

VILLA-LOBOS, Heitor, "Educação Musical". Boletim Latino Americano de Música, abril de 1946. p. 498.

5

1.

BREVE PANORAMA DA MÚSICA SACRA DO ANTIGO TESTAMENTO AO SÉCULO X

Não é novidade que a música existe desde os primórdios da criação. Por todos os tempos e eras conhecidas ela esteve presente, conforme os aspectos culturais e os costumes de vários povos. Desde a antiguidade a música possui seu espaço de expressão naquilo que não se pode expressar, inclusive, expressão terrena e imanente por algo além no transcendente. Porém, tal façanha não se restringe apenas à voz e língua humana, mas a criação na totalidade expressa a música, seja ela audível ou não. Neste capítulo, deseja-se brevemente expor a música em um contexto específico: judaico-cristão. Pode-se perceber que tanto o povo de Israel como os cristãos veem na música uma grande oportunidade, através da produção de ondas sonoras, harmoniosas ou não, de louvar ao Senhor, destarte, louvar a Deus. Pode-se perceber que em todo este contexto a música sempre atuou como forma de expressão da espiritualidade e da teologia.

1.1.

A PRESENÇA DA MÚSICA NO ANTIGO TESTAMENTO

Quando se fala de música no Antigo Testamento, o que logo surge à mente são os livros de Salmos, Cantares e outras passagens restritas que são cânticos judaicos compostos por algum personagem reunidos em um único lugar. Com estas informações, pode-se deduzir que a música deveria ter lugar essencial para o povo judeu, bem como, em seu culto e adoração. Porém, a música no AT não se encontra restrita apenas nestes contextos, mas é presente em muitas outras passagens.

1.1.1. GÊNESIS Tem-se em Gênesis o relato da criação.2 Em dois capítulos, fala-se que Deus criou tudo o que existe do inexistente, sendo somente o próprio Deus existente antes da própria existência. Deus faz as coisas existirem pelo seu falar e em alguns passos o texto afirma “e viu Deus que isso era bom.”3 Deus percebe a obra de arte que está criando, logo, toda a criação deve ser vista como obra artística do próprio Deus. No sexto dia, coloca-se no meio da sentença um advérbio:

2 3

Cf. Gn 1-2. Cf. Gn 1.10, 12, 18, 21, 25.

6

“Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom.”4 Deus, como artista, cria o mundo com criatividade. Tudo o que existe, o descoberto e o indescoberto. Assim, percebe-se que “religião e arte andam irmanadas desde os primórdios da humanidade. A narrativa bíblica da criação do mundo fala repetidas vezes da aprovação estética de Deus à sua criação”5 Após criar tudo, Deus também fez o ser humano homem e mulher à sua imagem e semelhança6 como administrador7 de toda a criação. O Deus criativo deu ao ser humano a criatividade para dar nomes aos animais8 e cuidar da boa criação. Deus deseja que o ser humano também seja um artista, para que cuide da criação, se multiplique, usando de sua criatividade para tal empenho. Embora a música possua suas facetas matemáticas e racionais, ela também é considerada arte, portanto, simultaneamente ciência e arte. Deus percebe que sua criação é boa, ou seja, aos seus olhos, magnífica e excelente. É este mesmo Deus quem cria os sons da criação. Dá aos pássaros o dom de trinar, às ferras o de rugir, ao vento de produzir seu zunido, o mar seu bramir, ao ser humano o dom de falar e cantar, bem como tantos outros sons existentes. A criação de Deus é sonora por excelência. Nisto, evidencia-se que a estética da criação não é apenas visual, mas também audível. O termo usado em Gn 1.31 é ha"r" que significa perceber9. Portanto, a criação não estava bela apenas naquilo que se podia ver, mas também na sua audição. Deus ouve a maravilhosa orquestra da criação e eis que era muito boa, a orquestra que Ele mesmo criou e a qual Ele mesmo é o maestro. A criação é perfeita e boa aos olhos e de Deus na sua totalidade. Quando o ser humano é criado, Deus sopra em suas narinas a vp
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