A FUNDAÇÃO DE BRACARA AUGUSTA: ASSENTAMENTO MILITAR OU ESTABLECIMENTO CIVIL NUM AMBIENTE MILITARIZADO?

May 29, 2017 | Autor: Rui Morais | Categoria: Roman military archaeology, Roman Archaeology
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A FUNDAÇÃO DE BRACARA AUGUSTA: ASSENTAMENTO MILITAR OU ESTABLECIMENTO CIVIL NUM AMBIENTE MILITARIZADO? 1

Rui Morais2, Ángel Morillo Cerdán3, Maria José Sousa4

RESUMO Neste estudo problematiza-se a questão da fundação da cidade romana de Bracara Augusta relacionando-a com a existência de um assentamento militar ou de um estabelecimento civil em ambiente militarizado. Discute-se, ainda, a possibilidade da existência de uma base operações militares situada a sul do rio Minho.

ABSTRACT This study discusses the foundation of the Roman city of Bracara Augusta relating it with the possible previous existence of a military settlement or of a civil settlement in a militarized environment. Furthermore, discusses the possibility of the existence of a military operations base located south of the River Minho.

PALAVRAS-CHAVE Bracara Augusta; conquista; militares.

Muito pouco se sabe sobre a fundação de Bracara Augusta e parcas são as referências literárias alusivas aos seus primeiros tempos. Plínio, na sua História Natural5, atribui-lhe o título de Bracarum oppidum Augusta, destacando-a das restantes sedes conventuais mais próximas, Lucus Augusti e Asturica Augusta. É possível que, à semelhança de outras cidades designadas como Augustae (Augusta Emerita, Augusta Vindelicum, Augusta Taurinorum, Augusta Raurica, …), a cidade tenha decalcado o mesmo modelo. Trata-se, no entanto, de uma atribuição não oficial, tendo Plínio seguido uma qualquer fonte de informação que mencionava

1 Trabalho elaborado no âmibito do Projecto de I+D HAR2011-24095: Campamentos y territorios militares en Hispania, dirigido por A. Morillo, concedido pelo Ministerio de Ciencia e Innovación (España) em 1 de janeiro de 2012. 2  Rui Morais (Universidade do Porto/FLUP/UI&D-CECH). Projeto FCT: PTDC/EPH-ARQ/5204/2012 3 Ángel Morillo Cerdán (Universidad Complutense/Madrid). Campamentos y territórios militares en Hispania – HAR 2011 – 24095 4  Maria José Sousa (Museu de Arqueologia D. Diogo de Sousa) 5  Plínio, História Natural, 4, 112. Queiroga, Francisco Reimão; Taylor, Timothy F. (edits.) RETHINKING WARFARE 2012, an international conference on the social perceptions and representations of war. Porto: Universidade Fernando Pessoa, 2015, p.p. 115-131 (ISBN: 978-989-643-131-0)

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assim a cidade (Morais 2005a: 126-127), mas esta referência de Plínio permite-nos constatar que a cidade possuía nos seus primeiros tempos de vida o estatuto peregrino6. Os achados arqueológicos datados dos primeiros tempos da urbe permitem situar a sua fundação no tempo de Augusto. A ele se deve, ao que tudo indica, a fundação das três capitais conventuais do Noroeste Peninsular. A historiografia tradicional situa a fundação das ditas cidades durante a sua segunda viagem ao norte da Península, entre 15 e 13 a.C.. A base do sistema foi a criação de ciuitates, entidades regionais com território e população bem definida, sob o ponto de vista administrativo, jurídico e político (Sastre, Beltrán, Sánchez-Palencia 2010: 121). No entanto, a arqueologia actual não permite sustentar que a dita fundação tenha sido sincrónica e coincidente com a dita viagem. Pelo menos no caso de Asturica Augusta, a criação da cidade se atrasa até à segunda década do séc. I d.C., momento em que o acampamento precedente foi desmantelado (Morillo y García Marcos, 2000: 598; Morilo, 2011: 20-21).

ANTES DA FUNDAÇÃO: A FACIES PRÉ-ROMANA Um dos autores problematizou já anteriormente (Morais 2005a: 125-138) a questão da fundação ex novo da cidade ou da preexistência de populações autóctones no local, esgrimindo dados de carácter epigráfico e arqueológico, sem contudo chegar a uma conclusão satisfatória. Hoje pensamos que a questão deve ser colocada de uma outra forma: ainda que se possa admitir que a colina escolhida pelos romanos para implantar a nova cidade se situasse a uma altitude (190m) inferior à dos povoados fortificados da região envolvente (em média situados a 300m)7, não podemos afastar a possibilidade de terem existido prévias ocupações, com carácter permanente ou sazonal no momento em que se decidiu traçar o pomerium da urbe. Como foi recentemente realçado (Lemos, Cruz e Fonte 2012: 128), conhecem-se outras formas de habitat dispersas em zonas de vale, alguns aparentemente não fortificados (Almeida 2003). No Entre-Douro-eMinho conhecem-se alguns povoados situados em pequenos relevos discretos dispersos pelos vales, tal como o Castro do Lago (Martins 1988) e o Castro de Sabroso (Sarmento 1933; Hawkes 1971) ou mesmo de baixa altitude, como é o caso dos chamados “castros agrícolas” (Almeida 1998: 37-38; 2003: 165-217)8. Sabemos, graças aos vestígios até à data recuperados, que o local onde mais tarde se fundaria a cidade de Bracara Augusta foi frequentado durante o Bronze Final, mais precisamente no 1º quartel do I milénio a.C., provavelmente por núcleos familiares cujos habitats eram constituídos por cabanas de materiais perecíveis. Destes vestígios refira-se um conjunto de fossas abertas no saibro, buracos de poste e cerâmicas, sugerindo um povoado de limitadas dimensões (1 a 1,5 hectares) situado no Alto da Colina da Cividade e presumíveis áreas de necrópole identificadas na zona dos Granjinhos (Bettencourt 2000). A aparente inexistência de estruturas datadas da II Idade do Ferro não é, por si só, elucidativa a favor da fundação da cidade numa área erma e virgem. Não sabemos, por exemplo, se na área Noroeste da Colina da Cividade9 poderiam ter existido esses vestígios, mas que tenham sido arrasados por razões relacionadas

6  A criação de cidades privilegiadas era apenas prerrogativa do Senado, que as assinalava com nomes mais genéricos, frequentemente derivados de divindades ou expressivos de qualidades ou desejos positivos (Beltrán Lloris 1992: 31-32). 7  Sobre a fundação ex-novo da cidade e a sua relação com os povoados castrejos, veja-se Martins 2000; 2011 e Lemos 2007-2008: 203-239. 8  Brochado de Almeida (2003: 165-217) destaca mais de três dezenas de povoados com estas características situados na região entre os rios Cávado e Minho. 9  A hipótese de poder ter existido um castro na encosta Noroeste da Colina foi avançada por Sande Lemos (Lemos et al. 2003: 43-46).

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com o próprio acto fundacional, ou mesmo com os diferentes projectos construtivos que ocorreram ao longo do período imperial (designadamente o edifício pré-termal, as termas e o teatro)10. Esses vestígios, a terem existido, não teriam necessariamente que associar-se a um povoado com as características habituais. Alain Tranoy (1981) sugere que a colina seria o local onde se reuniam os habitantes dos diversos castros que integravam os Bracari, a fim de discutirem assuntos de interesse comum e trocarem produtos. Esta tese é sublinhada por Sande Lemos (2007-2008: 203-239), que realça o carácter sagrado do local e a sua posição central entre as bacias fluviais dos rios Ave e Cávado e na encruzilhada de vias terrestres. Como um dos autores já salientou (Morais 2005b: 25), a hipótese de Alain Tranoy é muito tentadora, na medida em que é muito provável que – à semelhança do que nos é relatado por Díon Cássio para a Germânia – as legiões (mesmo antes do período de Augusto) tivessem controlado inicialmente as principais vias de comunicação e, num segundo momento, impulsionado a organização de “mercados” ou “synodoi”, com o objectivo de instalar novas relações socais e económicas. A descoberta na área mais central da cidade romana de uma elevada quantidade de moldes de sítula da Idade do Ferro (mais de duas dezenas) é indicativo de que aqui se exercia a metalurgia, mas também pode indicar que terá sido um local sagrado dos Bracari, sobre o qual mais tarde foi erguida a cidade sede do conventus. Estes moldes, em cerâmica, destinar-se-iam a fabricar placas em bronze decoradas que seriam unidas para formar um único vaso, ou caldeirão, que teria uma função ritual e simbólica. Moldes de sítula, do mesmo modelo e decoração são encontrados em vários povoados na fachada norte atlântica da Península, com cronologias que vão desde o séc. V/IV a.C. ao I d.C. (Lemos 2009). Apesar de não podermos afirmar com segurança que os vestígios da cultura material existentes (cerâmicas, moedas e estátuas de granito)11 são testemunho inequívoco da preexistência de populações no local onde mais tarde se fundaria a cidade, o mesmo não poderemos dizer a respeito do balneário, datado dos séculos II/I a.C., existente na base da Colina da Cividade, na parte noroeste daquela que viria a ser a cidade romana (Lemos et al. 2003: 43-46), e que se encontra associado a povoados, a maioria dos quais localizados na área dos Bracari12. A distância deste edifício relativamente aos povoados situados nas proximidades da cidade romana13 e a sua posição junto àquela que viria a ser a cidade romana coloca uma questão pertinente. Tratar-se-á de um caso singular ou antes um testemunho da preexistência de populações nesta área, tal como acontece em Galegos Santa Maria (Barcelos) em que o balneário se encontra na proximidade de um pequeno povoado na base da Citânia de Roriz? Outro edifício emblemático é a Fonte do Ídolo, um santuário rupestre indígena posteriormente assimilado, onde se realizariam festas e rituais propiciatórios da fertilidade, associados à renovação das forças da natureza, com destaque para o culto das águas nas suas diversas modalidades curativas (Vasconcelos 1905;

10  Como base em idênticos argumentos, Armando Coelho Ferreira da Silva (1986) e Carlos Alberto Brochado de Almeida (2003) falam, inclusive, da possibilidade de ter existido um “castro pré-romano” em Braga (sobre a opinião destes autores, vide Lemos 2007-2008: 203-239). 11  Estes elementos foram reunidos em Morais 2005a: 125-138. 12  Citânia de Briteiros (2) e Castro de Sabroso (Guimarães), Monte das Eiras e Vermoim (Vila Nova de Famalicão), Castro de Calvos (Póvoa de Lanhoso), Citânia de Roriz, Monte da Saia e Galegos Santa Maria (Barcelos), Castro das Eiras (?) (Arcos de Valdevez), Castro de Roques (Viana do Castelo). Fora desta área foram descobertos em territórios de povos vizinhos dos Bracari (Citânia de Sanfins- Paços de Ferreira; Tongóbriga- Freixo) e em locais mais afastados (Sardoura – Castelo de Paiva; Ribalonga - Alijó; Coaña – Pendia (2); Castro de Borneiro e Castro de Prados - La Coruña; Chao Samartín e Castiellu de Llagú – Oviedo; Santa Mariña de Augas Santas – Orense; Ulaca – Ávila (Lemos et al. 2003: 46; Silva e Maciel, 2004). 13  Castro das Caldas, Castro Máximo, Castro da Consolação, Castro de Santa Marta das Cortiças (Martins 2011: 12).

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Lemos 2005; Rodríguez Colmenero 2006; Garrido Elena, Mar e Martins 2008). O que podemos inferir da sua posição fora dos limites da área urbana de Bracara Augusta, numa das saídas da via XVII, que a ligava a Asturica Augusta (Astorga), por Aquae Flaviae (Chaves), é que se tratava de um santuário “ad portam”, situado numa das entradas de la cidade fundada pelos romanos neste lugar.

A PRESENÇA MILITAR AUGUSTANA NO TERRITÓRIO DOS GALAICOS MERIDIONAIS COMO CENÁRIO DA FUNDAÇÃO DE BRACARA AUGUSTA Vários têm sido os argumentos a favor de uma origem civil de Bracara Augusta, ao contrário do que teria ocorrido em Asturica Augusta e Lucus Augusti. Asturica tem, sem dúvida, a sua origem num acampamento militar (Morillo y García Marcos, 2000; Sevillano Fuertes & Vidal Encinas 2002). Escavações recentes apontam para a existência de uma fase inicial de carácter militar durante as guerras cantábricas em Lucus, validada principalmente pela abundante presença de moedas do mesmo tipo. O dito acampamento haveria sido ocupado pela legio VI victrix (Rodríguez Colmenero, 1996). Contudo, no momento actual, carecemos de estruturas construtivas de acampamento e as evidências materiais são contraditórias (Morillo, 2002: 76). Hoje em dia aceita-se, quase sem discussão, que os galaicos foram submetidos por Roma muito antes das guerras cantábricas, desde as operações militares levadas a cabo em 137 a.C. por D. Julio Bruto e, sobretudo, a partir da campanha de César no ano 61 a.C., ocorrida, tão somente, algumas décadas antes (Morillo, 2002: 71; Morillo, 2011: 12). No entanto, a historiografia tradicional faz ênfase na inclusão dos galaicos no teatro de operações das guerras cantábricas (29-19 a. C.), hipótese descartada em recentes trabalhos (Morillo, 2002: 67-93; 2012: no prelo). Como se sabe, esta posição não se enquadra na opinião defendida na década de quarenta do século XX, por A. Schulten (1943: 174), que sugeriu a existência de um acampamento romano na Colina da Cividade, datado da terceira década antes de Cristo, no momento em que se concretizou a última etapa da conquista da Hispânia. Esta tese não encontrou reflexo nas publicações recentes sobre a cidade romana (vide, entre outros estudos, Martins 2011: 11). No entanto, consideramos que será necessário retomar esta questão, tendo como fundamento os novos testemunhos arqueológicos que se conheceram. É necessário questionar se nos encontramos realmente perante um núcleo civil fundado ex novo na segunda década antes de Cristo, ou se existiu um recinto militar prévio na zona. Ou se nos encontramos num zona de frequência do elemento militar na altura das guerras cântabras, característica que pode ter sido ocultada pelo registo arqueológico fundacional, introduzindo elementos próprios de assentamentos militares num contexto civil. Não há dúvida que o território dos Bracari se viu envolvido indirectamente nas campanhas augustanas, desempenhando um papel de retaguarda durante o conflito. A sua proximidade geográfica com o território dos ástures, dotava-o de uma especial relevância estratégica. A conquista do território dos ástures em 25 a.C. coloca, todavia, significativas incógnitas. Por um lado, era um espaço geográfico mais complexo e diversificado que o dos cántabros, compreendido entre o mar Cantábrico, a Gallaecia, a oeste, e os povos da Meseta dominados por Roma, a sul. Com precisão, a fronteira meridional, sem nenhum obstáculo geográfico visível, é difícil de definir. Os testemunhos arqueológicos da conquista são, contudo, muito escassos, o que não permite reconstruir solidamente a táctica implementada por Roma. O ataque romano ao flanco ocidental da Asturia deve ter partido do território galaico, como garantem os numerosos testemunhos da presença militar romana na rota desde o centro peninsular até à região

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onde mais tarde se fundariam as cidades de Bracara Augusta e Lucus Augusti. O governador da Hispânia Ulterior, P. Carisio, encontrava-se à frente das tropas que se dirigiram ao território ástur pela rota mais ocidental, ascendendo provavelmente pelas rotas que conduziam desde o vale do Guadiana até ao norte. A penetração até à Meseta deve ter-se realizado desde o norte do actual território português através da actual Galiza. Tranoy (1981: 139-140) admite que aquela campanha poderia ter sido orientada a partir da área galaica meridional, junto à costa do vale do Douro, seguindo em direcção ao território dos brácaros, ou mais interior, aproveitando o alinhamento de depressões relacionadas com a falha Régua-Verín14. Numerosas evidências apontam que o traçado da via XVII do Itinerário de Antonino, e patente também na Tábua IV do Itinerário de Barro (Fernández Ochoa et alii, 2012:), que liga a Asturia Augustana e a Gallaecia meridional através da região de Trás-os-Montes, é uma das rotas romanas mais antigas de toda a região, possivelmente utilizada durante a conquista pelas tropas de Carisio (Morillo, 2009: 246; Morillo, 2012: e. p.). Assím o confirmam tanto a dispersão de restos numismáticos (Blázquez Cerrato, 2002: 273-288), como os miliários augustanos e tiberianos (Lostal, 1992: 270; Rodríguez Colmenero et alii, 2004: 156-210). De qualquer maneira, o controlo do território ástur estruturou-se em várias fases. Uma deve ter afectado El Bierzo, território rodeado de montanhas, onde talvez devamos situar o cerco do Mons Medullius. Talvez tenha sido objecto de um ataque em tenaz, combinada entre a Meseta e as bases militares em território galaico. Num segundo momento, tiveram de se submeter os principais oppida da vertente meridional da Cordilheira Cantábrica, como Lancia. Finalmente, a partir da própria Meseta, penetrou-se até à franja marítima, através da chamada via da Carisa, o principal caminho natural de comunicação entre ambos espaços. Provavelmente utilizou-se alguma outra passagem natural, como em Mesa. E não podemos descartar uma participação de tropas estacionadas no território galaico na conquista do litoral ástur, já que as comunicações naturais são muito fáceis. A própria presença em Lugo, ou nas suas redondezas, de um acampamento deste momento indica claramente o seu papel como retaguarda do conflito, cujos cenários principais foram as zonas montanhosas da Cordilheira Cantábrica e os Montes de León (cf. Morillo, 2012: e. p.). Nos últimos anos, os dados revelados por prospecções e escavações têm proporcionado consideráveis contributos sobre a problemática das Guerras Cantábricas, que permitiram reavaliar e contrariar algumas “verdades indiscutíveis” criadas pela chamada historiografia tradicional15, baseada em testemunhos escassos e fragmentários de algumas das fontes literárias que chegaram até nós16. De facto, actualmente podem-se reconstruir as rotas de penetração do exército romano na antiga Cantábria graças à descoberta de numerosos estabelecimentos militares, e começa a conhecer-se como se efectuou a passagem da Meseta para a Asturia Transmontana (Morillo 2008; 2011: 13-14; 2012: e. p.). Á. Morillo e J. Salido (2010: 147), apontam no mesmo sentido quando sugerem que os abundantes bens provenientes da Bética se canalizaram até este teatro de operações por via marítima até as Rias Baixas galegas e o percurso inferior do rio Minho, seguindo depois por via terrestre. Cremos que, se apreciarmos os dados da cultura material até à data identificados, esta hipótese está perfeitamente bem documentada, especialmente através da distribuição das ânforas Dressel 1 e Haltern 70 ao longo de toda a fachada

14  Esta hipótese é contrariada por Syme (1970:100-101), que advoga uma ofensiva romana perpetrada de este para oeste, a partir do triângulo León-Astorga-Benavente. 15  Sobre o assunto vide Fernández Ochoa & Morillo Cerdán 1999; Morillo, 2008, 2011 y 2012: e. p. 16  Estas informações são recolhidas em Horácio, Patérculo Veleio, Suetónio, Floro, Dion Cássio, Orósio e Antologia Palatina.

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atlântica, em particular no Noroeste da Península (Morais 2005b; 2007: 99-132; Carreras, Morais 2011: 3479; 2012: 419-441). A possibilidade de ter sido instalada uma base de operações militares, sem dúvida como estação de circulação das tropas romanas até aos cenários bélicos setentrionais, situada a sul do rio Minho é muito aceitável. A significativa presença militar romana neste sector já havia sido sugerida pela abundância de moedas com reverso de caetra, cunhadas aquando das guerras cantábricas (Centeno, 1988; Pérez González et alii, 1996: 204-205; Centeno 2010: 171-173). Isto mesmo parece ser corroborado pelos achados dos tesouros monetários da Citânia de Sanfins e do Castro de Alvarelhos. Neste último, para além de três tesouros monetários, foi também exumada uma grande quantidade de elementos de caráter militar, tais como um umbo de escudo, uma inscrição relacionada com a VI Legião Victrix, outra com a palavra CAESAR e XII, nove ponderais em prata (dois com a inscrição CAESAR), um arnês de cavalo e uma pátera decorada com um legionário (Moreira 2007). Será necessário rever o registo arqueológico deste assentamento, já que possivelmente estaremos perante um acantonamento militar, até agora desconhecido, talvez mesmo em Alvarelhos. No entanto, a existência de um acampamento romano no local que viria a ser Bracara Augusta carece de provas. De facto, apesar do crescente número de testemunhos arqueológicos de época romana que se encontram especialmente concentrados no sector ocidental da cidade romana (Morais 2005a: 125-138), não há uma clara evidência nesse sentido. Sande Lemos referiu que não se pode descartar uma origem militar para a cidade (2007-2008: 207), o que indica que a questão se encontra longe de estar encerrada. Segundo este autor (20072008: 207), apesar de nunca se terem registado vestígios de um sistema defensivo próprio de um acampamento, a hipótese não deve ser eliminada de todo. Também se questiona se um fosso em forma de V, detectado na área intramuros do Baixo-império, na zona do Fujacal, não poderá estar associado a uma estrutura defensiva de um acampamento. Sande Lemos também aponta o possível carácter militar de um edifício subjacente sob as termas romanas da Colina da Cividade, dado a conhecer por M. Martins e interpretado como um horreum (Martins 2005). Segundo Manuela Martins (2005: 18), o “possível horreum” edifício estruturado em torno de um pátio central (quadrangle type)17, possui uma planta que lembra vagamente os horrea civis de Óstia. A hipótese de Manuela Martins parece mais acertada, pois a ser um edifício com estes fins não parece poder enquadrar-se no âmbito dos horrea militares, mas antes em horrea civis com funções de armazenagem de produtos em geral e não de um granarium para armazenamento de cereal. Os pilares situados na parte sul do edifício parecem corresponder aos apoios de um segundo piso ao qual se deveria aceder a partir das escadas situadas na parte ocidental do edifício (assinalado pelos pequenos compartimentos). As áreas orientais devem ter servido como pequenos compartimentos. Seja como for, insistimos que a identificação deste edifício com um horreum não é de todo descabida, dado que a aquisição e armazenagem de produtos numa cidade era uma tarefa prioritária. Assim o parece desmontar a planta e a organização dos compartimentos que sugerem a existência de um armazém organizado em torno de um pátio central que corresponde ao padrão do quadrangle type proposto por Rickman (1971: 77), no seu estudo sobre os horrea romanos. O edificio de Braga possui uma disposição idêntica aos horrea descobertos na cidade de Óstia - nomeadamente os Horrea di Hortensius (Reg. V, Is. XII, I), Grandi Horrea (Reg. II, Is. IX, 7), Horrea dell’Artemide (Reg. V, Is. XI, 8), Piccolo Mercato (Reg. I, Is. VIII, I), os horrea da Reg. I, Is. VIII, 2 e os Horrea Epagathiana et Epaphroditiana (Reg. I, Is. VIII, 3) - ou de Roma, como os Horrea Agrippina (Astolfi et alii 1978).

17  Sobre este assunto vide Rickmann 1971, em cuja obra se diferenciam os horrea civis dos militares.

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Como já salientou um dos autores (Morais 2010a: 57), a disposição do local onde teria existido o forum da cidade parece reproduzir o esquema dos acampamentos militares, não sendo de todo improvável que a planta ortogonal da urbe possa ter como origem a localização e a orientação de um acampamento anterior, entretanto desmantelado, certamente, nessa eventualidade, por ter tido curta existência. Ainda segundo este autor (id. ibidem), a área rectangular do forum, com cerca de 194 pés, é comparável aos 200 pés do rectângulo inicial de um acampamento militar. No entanto, estas semelhanças podem ser enganosas porque também não se pode descartar que os planificadores da cidade, técnicos certamente familiarizados com as técnicas militares, se tivessem inspirado no modelo de um acampamento para o desenho do futuro forum da urbe. Devemos deixar de lado as semelhanças tipológicas para nos concentrarmos nas evidências arqueológicas propriamente ditas. Uma das mais importantes é a existência de mais de uma dezena de emissões monetárias de Augusto com a caetra no reverso encontradas em contextos antigos da cidade de Bracara18, um dos quais um raro sestércio encontrado na Colina da Cividade (Centeno, 1988; Pérez González et alii, 1996: 204-205; Centeno 2010: 171-173)19, e elementos associados a armas e à indumentária de militares, designadamente 5 elementos de lança, 3 elementos de cinturão e 4 botões20. Não há dúvida sobre o carácter militar dos ditos elementos de cultura material. No entanto, carecemos tanto de estruturas construtivas claramente relacionadas com um sistema defensivo de carácter militar (agger), como de material cerâmico que possamos atribuir a um acampamento base augustano do período das guerras cantábricas. Os registos mais antigos de Bracara mostram um paralelismo cada vez mais evidente com os de Lucus, onde se detecta uma presença militar através de elementos que circulam nas tropas como moedas e militaria, mas não evidências materiais de um assentamento propriamente dito. A evidência arqueológica é, portanto, contraditória, mas suficiente para deixar aberta a questão de um possível acampamento já que é muito difícil identificar e diferenciar os testemunhos relativos aos processos construtivos dos primeiros tempos da urbe. A existência de um recinto militar construído em terra e madeira na zona onde teve lugar a fundação oficial da cidade ou nas suas proximidades teria facilitado a articulação das relações entre civis e militares, que nesta região não parecem ter sido conflituosas durante o processo de romanização deste território, ou seja, da penetração das estruturas oficiais, administrativas e culturais de cariz romano. Não se tratava da presença de um exército de conquista mas antes um exército de ocupação, um instrumento mais ao serviço da administração romana, com funções de policiamento, controle e reorganização sociopolítica. Nada teria que ver com os acampamentos de campanha de diversos tamanhos estabelecidos pelo exército romano no interior do território cântabro e astur durante o duro processo de conquista, em que se detectam inclusivamente batalhas e sistemas de assédio (cf. Peralta 2002 y 2006; Serna Gancedo et alii 2020). Acrescente-se, ainda, a importância dos exércitos como agentes eficazes de integração política (Le Roux 1995: 84). O peso dos militares na vida das províncias não residia no seu número mas antes no seu prestígio e função na sociedade (Palao Vicente 2010: 165; 167). Os contingentes militares presentes no processo de fundação da cidade cumpriam certamente as funções de vigilância do território e participaram na construção das estruturas viárias e das primeiras infra-estruturas (Morillo 2002: 82). Efectivamente, num contexto social em relação ao qual as elites locais tiveram certamente necessidade dum espaço mínimo

18  Até à data foram identificados 12 exemplares: 8 da Colina da Cividade e as restantes nas suas redondezas (Largo S. Paulo, Rua de S. Geraldo e Rua dos Falcões). 19  Conhecem-se mais dois exemplares reunidos em colecções privadas e de proveniência desconhecida (Centeno 2010: 171-173). 20  Estes elementos provêm da Colina da Cividade e das suas redondezas (Cavalariças, Carvalheiras e Largo de S. Paulo).

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para adquirir uma “mentalidade urbana”, a sua organização deve ter dependido de uma série de regras transmitidas pelos técnicos militares. Admitimos, porém, que no estado actual dos conhecimentos a constatação a nível arqueológico é muito débil. As evidências arqueológicas disponíveis não constituem até ao momento argumento suficiente para propor a existência de um acampamento. Podem somente ser o testemunho de um ambiente claramente militarizado durante o periodo augustano.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Das problemáticas aqui levantadas ficam mais interrogações do que certezas. À questão da preexistência ou não de populações autóctones no local onde se fundou a cidade, de momento apenas podemos sugerir a possibilidade de ocupações, eventualmente sazonais, relacionadas com o carácter sagrado e com a centralidade viária, fazendo do local (retomando a proposta de Alain Tranoy) um sítio ideal para a reunião dos habitantes dos povoados das proximidades, a fim de discutirem assuntos de interesse comum e trocarem produtos. Como referimos, esta hipótese não afasta a possibilidade de terem existido ocupações prévias, com carácter permanente ou sazonal no momento em que se decidiu traçar o pomerium da urbe. Acreditamos que esta hipótese poderia justificar a existência do balneário pré-romano e do santuário rupestre da Fonte do Ídolo. Como observámos, esta possibilidade está ainda directamente relacionada com a presença dos contingentes militares na região, pois é possível que, à semelhança do que nos é relatado por Díon Cássio para a Germânia, as legiões, depois de conquistarem as principais vias de comunicação, tivessem impulsionado a organização de “mercados” ou ”synodoi”, com o objectivo de instalar novas relações sociais e económicas. A ausência de provas inequívocas da existência de um acampamento na cidade não justifica que se anule a importância da presença de fortes contingentes militares na região, nos primeiros tempos de vida. Estes teriam sido fundamentais na representação planimétrica da Forma Urbis da cidade e, muito provavelmente, na planificação do território da cidade, que foi cuidadosamente parcelado (Carvalho 2012). Esta circunstância permite questionar uma fundação da cidade com um carácter meramente civil, como tem vindo a ser aceite por outros autores, e propor a sua fundação no quadro de um ambiente militarizado pela presença de tropas romanas de passagem para as campanhas setentrionais, exista ou não um assentamento militar propriamente dito.

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Fig. 1. As guerras cántabras (26-25 a.C.). Achados arqueológicos e reconstituição das campanhas (Morillo, 2009).

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Conventus Lucensis

N

Sil

Minho

Auria

AVIÓN

Vicus Elanei

QUEIXA

Minho

SOAJO ARGA

Lima

Cávado

MONTESINHO

Conventus GERÊS

BARROSO

CABREIRA

CARVALHO

LOMBA

Aquae Flaviae Rabaçal

Bracarensis

Sabor

NOGUEIRA

Tuela Pinetum

PARADA VIMIOSO Sabor ALGOSO ARGOZELO

MORAIS

PADRELA ALVÃO

PASSOS

BORNES Sabor

Tua

Ave

(Carlão)

MONTE CÓRDOVA

ADEGANHA

MARÃO

Tâmega

OUTEIRO

ISÊDA

Tâmega

Bracara Augusta

Cale

Asturicensis

CORÔA Tâmega

LAROUCO

AMARELA

Conventus

CANIZO

PENEDA

Tude

NAVALHEIRA

Douro

ANSIÃES Douro

Tongobriga

REBOREDO

Douro FREITA

MONTEMURO

Conventus Scalabitanus 0

20

40 Km

LEOMIL

MAROFA

Fig. 2. Limites do Conventus de Bracara Augusta (in Lemos, Cruz e Fonte 2012: 128).

Fig. 3. Estátua sedente e cabeça de estátua de guerreiro, ambas em granito, encontradas na Av. Imaculada Conceição, Braga. (MDDS: Manuel Santos)

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Fig. 4. Reconstituição 3D do balneário da ECFB (Laboratório multimédia da UAUM).

Fig. 5. Fotografia actual do santuário da Fonte do Ídolo. (MDDS: Manuel Santos)

Fig. 6. Ponderal em prata de Alvarelhos.

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Fig. 7. Planta das estruturas atribuídas ao horreum da Colina da Cividade (in Martins 2005: 12, Fig. 9).

Fig. 8. Sestércio de Augusto com a caetra no reverso (RPC 1). (MDDS: Manuel Santos)

Fig. 9. Pontas e talões de lança provenientes de Bracara Augusta. (MDDS: Manuel Santos)

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