A FUSÃO E A REPETIÇÃO LEXICAIS EM ESTÓRIAS ABENSONHADAS, DE MIA COUTO

June 3, 2017 | Autor: Marcela De Paula | Categoria: African Literature, Lingustics
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4/6/2016

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H. Artes, Letras e Lingüística ­ 3. Literatura ­ 6. Literatura A FUSÃO E A REPETIÇÃO LEXICAIS EM ESTÓRIAS ABENSONHADAS, DE MIA COUTO Edna Carlos de Almeida Holanda 1 ([email protected]), Kilpatrick Müller Bernardo Campelo 1, Marcela Magalhães de Paula 1, Maria do Socorro Fonteles Gomes Pinheiro 1, Maria Marylene Rodrigues Magalhães 1, Otávio Rios Portela 1 e Sarah Diva da Silva Ipiranga 1 (1. Depto. de Letras, Universidade Estadual do Ceará ­ UECE) INTRODUÇÃO:  As  literaturas  africanas  de  língua  portuguesa  têm  sido  destacadas,  no  cenário  internacional,  como instrumentos  de  afirmação  dos  povos  de  nações  lusófonas,  daí  o  motivo  de  serem  estudadas  em centros universitários de muitos países. Foi por reconhecermos tal importância que nos propusemos a realizar  este  trabalho,  que  tem  como  objetivo  central  de  estudo  os  recursos  estilísticos  da  fusão  e repetição  lexicais  na  obra  do  escritor  moçambicano  Mia  Couto.  Entretanto,  achamos  necessário restringir  nossa  pesquisa  a  um  corpus  específico:  focalizamos  nossa  análise  na  obra  Estórias Abensonhadas,  publicada  em  1994.  A  escolha  do  autor  explica­se  por  ser  um  dos  prosadores contemporâneos  em  língua  portuguesa  mais  traduzidos  e  estudados  nos  diversos  países  em  que  a literatura africana é objeto de análise. Tentamos comprovar a hipótese que Mia Couto é, em grande parte, responsável pela ampliação do sistema da língua portuguesa no panorama literário universal. METODOLOGIA:  A fim de contextualizar tal literatura, em conformidade com o método sociocrítico de análise literária, pesquisamos dados biográficos do autor, que refletem a cultura moçambicana, cujo autor em questão é, atualmente, o maior profusor. Essas informações nos ajudaram a preencher lacunas na compreensão do  texto  literário  estudado.  Utilizamo­nos  da  fortuna  crítica  de  escritores  e  de  renomados pesquisadores  da  literatura,  como  José  Saramago,  Fernanda  &  Matteo  Angius,  Maria  Teresa  Rita Lopes  e  Roberto  Pontes. Também  nos  valemos  do  registro  oral  advindo  da  palestra  ministrada  pelo escritor  durante  a  realização  da  6ª  Bienal  Internacional  do  Livro  do  Ceará,  ocorrida  na  cidade  de Fortaleza,  no  período  de  28  de  agosto  a  7  de  setembro  de  2004.  Após  a  leitura  inicial  dos  contos, passamos  à  análise  daqueles  que,  a  nosso  ver,  melhor  representam  a  riqueza  estilística  da  fusão  e repetição vocabular em Estórias Abensonhadas.  Para  tanto,  serviram­nos  de  arcabouço  teórico  duas obras  importantes  da  teoria  estilística  e  de  análise  e  crítica  literárias:  A  Estilística,  de  José  Lemos Monteiro e Métodos críticos para análise literária, de Daniel Bergez et alli. RESULTADOS:  Após  realizarmos  nossa  pesquisa,  os  resultados  obtidos  confirmaram  as  suposições  estabelecidas  à época  do  início  dos  trabalhos.  A  fusão  de  dois  vocábulos  pré­existentes  para  a  formação  de  uma palavra  ainda  desconhecida  na  língua  portuguesa,  também  denominada  criação  lexical  acronímica, confirma­se  como  um  dos  principais  recursos  estilísticos  que  Mia  Couto  se  utiliza  para  a  formação dos nomes dos personagens e títulos dos contos. É necessário ressaltar que essas palavras, obtidas em grande  parte  pelos  processos  de  aglutinação  e  justaposição,  estão  intrinsecamente  relacionadas  a características  de  personagens,  lugares  e  outros  elementos  da  narrativa.  Assim,  as  adjetivações atribuídas  pelo  escritor  justificam­se  após  a  leitura  dos  textos.  A  fim  de  ilustrar  esse  recurso, selecionamos  uma  amostragem  dos  resultados  obtidos.  Observemos  o  título  da  obra:  abensonhadas, formado pelo adjetivo abençoada e pelo particípio sonhada, sugere uma atmosfera fantástica da obra e é reforçado pelo vocábulo estórias. Selecionamos também alguns nomes de personagens que ilustram os  resultados:  Tristereza,  Felizbento  e  Mintoninho.  O  recurso  estilístico  da  repetição  de  vocábulos também foi confirmado em nosso estudo, com destaque para a formação de novas palavras a partir do mesmo  radical.  Vejamos  como  exemplo  esta  passagem:  “O  cego  reclamou:  que  o  moço  inatingia idade. E que o serviço que ele prestava ali era vital e vitalício”; e também: “Numa palavra: chocado e chocalhado”. CONCLUSÕES:  A  produção  literária  de  Mia  Couto,  como  autor  contemporâneo  da  literatura  africana,  apresenta­nos um  estilo  ficcional  peculiar  e  sua  estilística,  centrada  na  fusão  e  repetição  vocabular  como http://www.sbpcnet.org.br/livro/57ra/programas/SENIOR/RESUMOS/resumo_2817.html

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confirmamos após o estudo, representa a renovação literária em obras de nossa língua, segundo já nos ressalta  Roberto  Pontes,  doutor  em  Letras  e  professor  da  Universidade  Federal  do  Ceará,  no  livro Poesia  Insubmissa  Afrobrasilusa.  Os  recursos  estilísticos  observados  aparecem  para  comprovar  a inventividade do prosador, o que resulta em uma ampliação do léxico da língua portuguesa imposta pelo colonizador, sem afetar o entendimento por outros leitores de mesma língua. Essa fluidez insere a obra analisada em um panorama universal, pois extrapola as concepções de uma literatura meramente regional.  Os  pressupostos  teóricos  da  estilística,  como  mecanismos  para  percepção  da  riqueza  e  da variedade  vocabular  na  obra  de  Mia  Couto,  levam­nos  a  uma  redescoberta  das  possibilidades  de conjunção  de  significados,  já  verificadas  em  outras  obras  do  escritor  e,  também,  nos  textos  do brasileiro  Guimarães  Rosa.  Noutros  termos,  a  fusão  e  a  repetição  lexicais,  fundamentados  nos resultados obtidos a partir da obra analisada, mostram­se bastante prolíficos na literatura coutiana. Palavras­chave:  Literatura africana; Análise estilística; Acronímia e repetição vocabular. Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC ­ Fortaleza, CE ­ Julho/2005

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