A Generalidade da Teoria Geral e a Especificidade do Equilíbrio Geral

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A Generalidade da Teoria Geral e a Especificidade do Equilíbrio Geral André Maia Gomes Lages Luiz Eduardo Simões de Souza

“O mais sério desafio que a existência da moeda coloca para o teórico é este: o mais desenvolvido modelo da economia [o modelo Arrow-Debreu] não consegue encontrar lugar para ela” (F. HAHN).

INTRODUÇÃO O objetivo desse trabalho é demonstrar as especificidade e relevância da construção de uma economia monetária da produção em Keynes, de forma que, além de demonstrar as razões da não neutralidade da moeda nessa teoria, revele a principal distinção dela junto a outras abordagens mais ortodoxas, ao ponto de dificultar qualquer enquadramento do keynesianismo original como um caso particular de outras teorias. Por outro lado, objetivase mostrar o contraponto entre a riqueza e abrangência da Teoria Geral keynesiana, no tocante à moeda, quando comparada à concepção aceita junto à ortodoxia, a qual consiste em produto, em nosso ver, de um estreitamento da própria visão walrasiana do Equilíbrio Geral. Para atingir esse objetivo será, inicialmente, destacada a relevância do tema, seguida pela demonstração da singularidade da definição keynesiana de dinheiro. Após isso, serão analisado alguns aspectos da teoria keynesiana considerados como relevantes para dar suporte aos argumentos defendidos nesse trabalho. Com essa parte concluída, pode-se partir para a refutação de algumas tentativas de tornar a teoria keynesiana um caso particular. Nesse ponto, será dada uma ênfase especial à abordagem do Equilíbrio Geral , mostrando como essa teoria serve de base para as maiores divergências entre a “ortodoxia” e o “keynesianismo”, e como ela é produto de uma visão estreitada da concepção original de León Walras. A RELEVÂNCIA DO TEMA Qual seria a importância desse tema? A importância estaria em se mostrar que a diferença particular da teoria keynesiana, ao incorporar o papel essencial da moeda, garante a essa uma generalidade que impede a sua absorção como um caso particular de abordagens mais ortodoxas, ao tempo em que o tratamento em separado do setor real e monetário das abordagens tradicionais da ortodoxia cria embaraços desalentadores para os avanços teóricos da ortodoxia nessa área. Nesse contexto, deve ser compreendido que a demanda de

moeda em Keynes é um dos principais elementos que garantem a abrangência necessária a sua Teoria Geral. Isso acontece, na medida em que, a moeda assume um papel de elemento coordenador do sistema sendo referencial para as conexões entre o presente e o futuro, uma espécie de proxy utilizada pelas pessoas para espelhar sua incerteza diante de um futuro desconhecido. Obviamente, que não se está colocando num plano secundário a importância de outros elementos referenciais dessa teoria, apenas destacando o papel da moeda, dado que sua não neutralidade e poder de coordenação dão a ela o caráter distintivo necessário, frente a outras abordagens mais ortodoxas. AS CARACTERÍSTICAS ESPECÍFICAS DA MOEDA E DO JURO NA TEORIA KEYNESIANA No capítulo 17 da Teoria Geral, desenvolve-se uma interessante caracterização das especificidades associadas à moeda perante as outras mercadorias(KEYNES,1991) e o porquê dessa deferência de Keynes ao papel da moeda. Essa importância fica clara no tratamento dado pelo autor a teoria monetária dos juro e nos atributos específicos do dinheiro, dois aspectos interligados, como se verá a seguir. A taxa monetária de juros representa um elemento de especial importância, dado o papel que assume junto a economia monetária desenvolvida por esse autor. Esse papel importante só é assumido em função das características específicas do dinheiro e da demanda de moeda no modelo keynesiano. A taxa monetária de juros representa o prêmio recebido pela renúncia à liquidez, ou seja, significa a percentagem sobre um certo valor representado em dinheiro definido para entrega futura. Cada mercadoria possui sua própria taxa específica de juro, mas como se está definindo uma entrega futura, o valor final desse contrato a termo será também influenciado pela taxa monetária de juros. Keynes apresenta um sugestivo exemplo no qual se baseia o apresentado a seguir: suponha que se tenha o preço do trigo para entrega imediata cotado a $100,00 por 100 arrôbas, e dentro de um ano cotado em $108,00 num contrato a termo a mesma quantidade, com uma taxa monetária de juros de 4%. Nesse quadro, qual seria a taxa-trigo de juros? Sabe-se que $100,00 valerão $104,00, mas a entrega do trigo na quantidade estabelecida está cotada em $108,00. Assim, como $100,00 hoje comprarão 96 arrôbas na data futura, conclui-se que a taxa-trigo de juros seria -4% a.a. Essas taxas-mercadorias de juros devem assumir valores diferentes para cada caso específico, dadas as singularidades que marcam cada uma das mercadorias. É nessa diferença entre as diversas mercadorias que ganha importância a moeda, perante as outras opções para ser base de comparações, via taxa monetária de juros, que juntamente com a eficiência marginal do capital, são variáveis fundamentais do modelo para decisões de investimento. O que se está tratando, na verdade, na economia keynesiana, é de uma situação em que a moeda é um tipo de ativo que pode tomar lugar de outros tipos de ativos num portfólio individual, apesar de não oferecer qualquer tipo de retorno monetário. Para lidar com essa situação, Keynes define a taxa própria de juros de um dado ativo como uma forma de medir seu retorno total, não só em termos de direito sobre a sua renda, mas também condicionada por sua posse e dos ganhos de capital que podem ser auferidos com sua venda. Tal contextualização conceitual se adequa à visão keynesiana de uma economia monetária, quando é pertinente observar que alguns ativos podem oferecer outras recompensas, além das monetárias, tais como o prêmio da liquidez. Cada ativo possui sua

própria taxa própria de juros de forma que os investidores buscam, a priori, escolher a maior taxa de retorno possível e, nessa competição entre os alocadores de riqueza, será determinado o preço do ativo e, assim será identificado quais são aqueles que apresentam escassez. Esta é representada pela razão entre o preço de demanda e preço de oferta. Os preço dos ativos irão determinar a composição da riqueza total acumulada da comunidade no período em análise [CARVALHO (A), 1992, p.81]. Keynes destaca, na forma de abordar essa questão, dois aspectos: inicialmente que nesse modelo de escolha de ativos se está interessado em entender de que maneira estas decisões são tomadas, considerando o tempo como um elemento fundamental na determinação da forma de preservar riqueza, dado que ativos representam promessas de retorno possível, também é relevante considerar as conseqüências daquelas decisões. Uma segunda condição do modelo é estar também realçando a variação do tempo como um fator de extrema relevância para a decisão de como transportar a riqueza dentro de um futuro incerto. Afinal, o tempo é uma parte do retorno de um ativo, e não se pode desconsiderar a necessária percepção na escolha do ativo das suas facilidades de conversibilidade antes do resgate. Essa disponibilidade de um ativo será realçada pelo chamado prêmio de liquidez, representando a qualidade que um ativo tem de ser mais ou menos passível de ser transacionado dentro de um período de retenção. Em síntese, como lembra CARVALHO A(Ídem, p. 82): “we will be working with variables that will be measuring the total returns one can expect to get from possession of a given asset for a specified retention period that is assumed to be the same for all assets. Differences of conversibility in the interior of the retention period will be embodied in its liquidity premium” Se existe uma taxa de juros para cada mercadoria, por que escolher a que está associada à moeda para estabelecer comparação tão importante? A resposta a essa questão está na estabilidade associada ao uso da taxa de juro monetária, dada as características específicas da moeda, como se verá a seguir. Keynes desenvolve, então, uma forma de mostrar a singularidade da moeda, enquanto um ativo. Ele, então, procura definir atributos, que, em conjunto, irão mostrar a especificidade de cada ativo dentro da economia monetária keynesiana. Com base em CARVALHO (A) (Íbidem, pp.83-84), pode-se definir quatro atributos que irão determinar a taxa de retorno total de um ativo, ou sua taxa própria de juros (own- rate of interest), conforme se determina a seguir: 1º) q – é a taxa de quase-renda esperada que deve ser auferida em função do uso ou posse de determinado ativo (ex.: sementes para uma colheita, máquina gerando produtos para venda etc.). A razão entre esses retornos e o preço de compra daquele ativo determina q, ou seja: q = Q/CP. 2º) c – custos de armazenagem: são representados pelos custos naturais inerentes a retenção de uma ativo, como os associados a estoques, de seguro, ou os definidos pela simples passagem do tempo. Esse tipo de atributo é definido, então, pela razão entre os custos esperados e o preço de compra ou preço corrente de um ativo (c= C/CP); 3º) l – esse é o atributo do prêmio de liquidez. Representa o grau de facilidade de conversibilidade de um ativo em dinheiro; ou da flexibilidade de troca ou venda de um ativo diante de uma inesperada mudança no meio-ambiente. As pessoas apresentam até certa predisposição a pagar, de alguma forma, para dispor de certo tipo de ativo em função da conveniência e segurança que sua posse imediata proporciona; 4º) a - os ativos podem ser apreciados ou depreciados em função de durante o período de

retenção, ou entre sua compra e sua venda gerar um ganho ou perda de valor em termos reais para o seu proprietário. É isso que representa esse atributo definido pela fórmula a = EP-CP/CP, onde o numerador representa essa mudança de preço, associado ao período entre a compra e a venda de um ativo. Essas definições permitem chegar a fórmula da taxa própria de juros de um ativo, ou seja: a+q–c+l Tomando por base a seguinte relação q – c + l , KEYNES lembra a seguinte situação comparativa; tem-se uma casa a qual apresenta um rendimento q1 com custo de armazenagem e prêmio de liquidez desprezíveis, uma quantidade de trigo com custo de armazenagem c2 com rendimento e prêmio de liquidez desprezíveis, por fim, a moeda com elevado prêmio de liquidez l 3. Cada uma dessas variáveis selecionadas pela forte preponderância sobre as outras para cada uma dos exemplos representa, respectivamente, a taxa-casa de juros, a taxa-trigo de juros e a taxa monetária de juros, conforme a definição estabelecida, anteriormente. Keynes, tomando a moeda como referência, avalia por hipótese a valorização da casa e do trigo durante um ano, representando essa variação de valor por a 1 e a2, respectivamente. Assim, representa-se por a1 + q1 a taxa-casa de juro monetário; a2 – c2 a taxa-trigo de juro monetário; e l3 a taxa dinheiro de juro monetário. Os possuidores de riqueza estão orientados a escolher o que lhes propiciar um valor maior. Num estado de equilíbrio será indiferente possuir um dos três em particular, independente do padrão de valor que se adote. É relevante destacar ainda [cf. CARVALHO (A), op.cit., pp. 84-6.] que o elemento incerteza está presente na formulação da denominada taxa própria de juros. Como se observa no elemento q, que representa as quase- renda líquidas de depreciação, o elemento incerteza está embutido no ajustamento de q no quadro das expectativas de longo termo presentes na sua formação. O pessimismo quanto ao retorno de um investimento se traduz num menor valor de q. Esses mesmos argumentos podem ser desenvolvidos para a, c e l, embora no último caso ganhe uma conotação especial. Os custos de armazenagem (c) podem carregar menor incerteza, quando são despesas programadas antecipadamente. Por outro lado, a apreciação de um ativo (a) está conectada à questão da liquidez, pois depende precipuamente da facilidade associada à revenda de um ativo o que implica lidar com um futuro desconhecido. Pode-se dizer que quanto mais fácil é vender um ativo menor o esforço no futuro que será dedicado a tal missão para uma dada situação. As derivações associadas ao prêmio de liquidez da economia monetária keynesiana é uma das referências centrais desse assunto. A liquidez está ligada a dois aspectos do ponto de vista conceitual. De um lado, refere-se a duração do tempo necessário para se disponibilizar um ativo, e por outro reflete a capacidade de lidar com a preservação da riqueza ao longo do tempo. Assumindo-se que se está trabalhando num mercado de ativos perfeitamente competitivo, implica que os agentes podem ajustar melhor seus portfólios com o intuito de maximizar seus retornos totais esperados. Tem-se que cada ativo tem seu proprietário(ìdem, pp.90-94), e as diferenças de preços entre esses ativos tendem a desaparecer, na medida em que vão desaparecendo as vantagens da posse de um ativo sobre outro. Isso significa em termos de taxa própria de juros que aqueles que estão ofertando melhores taxas de retorno

prospectiva, os preços correntes, presentes no denominador de todos os elementos irão subir até que aconteça de a, q e –c serem reduzidos, de forma que os ganhos extraordinários venham a desaparecer. Quando os ativos apresentam baixo retorno, os preços dos ativos correntes baixam elevando os valores daqueles elementos. Cada ativo possui dois preços, o preço corrente ou spot, e o preço esperado, que representa o preço do ativo esperado para a data do final do período de retenção. É natural acontecer que na existência de mercados futuros, estes gerem preços que coincidam com os preços esperados. Lembra CARVALHO (A) [Ibidem, p.92] que na condição do preço futuro, para o caso de bens de capital, ser inferior ao preço de oferta corrente, por exemplo, deveria se esperar não ocorrer a produção, pois não haveria estímulos econômicos para tal. No caso contrário, poderia se esperar certamente um lucro na produção daquele determinado tipo de ativo. Essa percepção do mercado revela que o preço de demanda pode ser considerado o preço do mercado spot, enquanto os preços do mercado futuro ou esperado sintetizam o preço de oferta corrente. Como exemplo, imagine-se que os preços no mercado spot são maiores que o preço no mercado futuro, qual a implicação dessa situação? Há uma situação em que os compradores estarão dispostos a pagar mais agora do que ter que esperar para o ativo ser produzido num período posterior. O que Keynes desenvolve nessa parte da Teoria Geral seria um modelo geral de escolha de ativos, em que cada classe de ativos deve apresentar a qualidade de oferecer retorno monetário compensatório frente ao ativo de referência, no caso a moeda(CARVALHO, 1996, p. 45). Esse mesmo autor, analisando a economia keynesiana, chama atenção para um detalhe importante em termos de metodologia analítica, qual seja, ao contrário do que se poderia entender em se tratando de Keynes, sua teoria de escolha de ativos está lastreada na presença de preços relativos, embora os resultados dessas decisões se traduzam em variações no valor agregado dos investimentos. Outro aspecto de destaque é que a moeda assume a posição de um ativo como uma opção de estocar riqueza extremamente eficiente frentes as incertezas de um futuro desconhecido, já que esse ativo preserva uma altíssima liquidez, um elemento distintivo fundamental da economia monetária keynesiana, juntamente com a introdução de expectativas. De forma que, pode-se ter a interessante situação analítica em que com expectativas otimistas, e baixa incerteza, o atributo de liquidez não é um atributo importante; traduzindo-se em que a taxa própria de juros da moeda vai se apresentar inferior as de outros ativos que apresentam, assim, possibilidade de ganhos com o aumento de sua produção; nos termos de um bem de capital, isso poderia ser traduzido, inicialmente, por um aumento relativo de a ou q – c. O significado particular da moeda nesse modelo teórico está definido em função de algumas características particulares desse ativo que também garante a singularidade desejada da taxa própria de juro monetária, como sua maior resistência à baixa do que as taxas próprias de juros de qualquer outro bem(KEYNES, 1991, op.cit, p. 229). Essas características podem ser sintetizadas, como se segue: a) A moeda apresenta uma elasticidade de produção igual a zero. Em resumo, todos os ativos líquidos são não produzíveis via o uso do trabalho no setor privado. Uma implicação importante disso é que as ações dos agentes econômicos que levem a maior produção de um bem, termina não tendo, precipuamente, o mesmo efeito na moeda; e é assim que não se podendo produzir maiores quantidades de dinheiro, na medida em que os preços vão

subindo em termos de unidades de salários, não pode ocorrer a reação esperada no mercado por parte dos empreendedores, de forma que se entende a maior resistência à queda da taxa de juros própria da moeda, b) É necessária, no entanto, outra condição que corrobore essa diferença da moeda em relação a outras mercadorias, pois: “The above condition is satisfied not only by money, but by all pure rent-factors, the production of which is completely inelastic. A second condition is required to distinguish money from other rent elements(Ídem, p.231)”. Qual seja, o fato de a moeda (e os outros ativos líquidos) apresentar, de forma diferenciada em relação a outros bens, a elasticidade substituição igual ou quase igual a zero. Essa característica pode ser compreendida pelo fato da importância da moeda está diretamente associada a seu valor de troca; de modo que quando esse sobe não se apresenta nada que leve a uma substituição adequada da moeda(cf. DAVIDSON, 1996, pp. 31-32) Note-se que numa situação em que uma redução das unidades de salário poderia deixar dinheiro em excesso frente a quantidade necessária para fazer frente a problemas de liquidez, e uma baixa nos valores monetários deixa a quantidade de moeda em proporção relativamente superior à riqueza da comunidade. Tal situação repercutiria certamente numa provável queda na taxa de juros monetária. Isso tem um limite na visão keynesiana para acontecer, em função de algumas razões sintetizadas, a seguir: i) uma baixa na unidade de salários se for acompanhada de uma expectativa subsequente de alta tem o efeito de ter um impacto negativo sobre a eficiência marginal do capital (taxa de retorno sobre o investimento) contrabalançando o provável efeito juros; ii) os salários nominais tendem a uma maior estabilidade que os salários reais, conseqüência das características da moeda, essencialmente aquelas conectadas ao potencial de liquidez; iii) por último, diante de determinadas circunstâncias, chega-se a um ponto em que a taxa de juros torna-se insensível a queda frente a uma elevação na quantidade de moeda; ou seja, outras mercadorias apresentam uma queda de rendimento em função de um incremento proporcional da produção que não existe na teoria keynesiana, associado ao escape proporcionado pela liquidez. Assim, como elemento central, tem-se que a taxa de juro monetária é determinante para as taxas de juros próprias de todas as outras mercadorias, de forma que pode inibir o investimento1 de todas as mercadorias, sem apresentar contrapartida no aumento de sua produção. Um outro elemento referencial nessa análise é de que a decantada rigidez dos salários nominais é um resultado da própria característica de que a elasticidade de produção da moeda é mínimo, enquanto a diferença entre sua preferência pela liquidez e seu custo de armazenagem atinge valor que não deve ser encontrado em nenhuma outra mercadoria. Esses pontos, destacados nesse parágrafo, realçam diferenças da abordagem keynesiana que se adequam a idéia de que o pleno emprego não seria uma situação normal, como pensada pela corrente dominante naquele tempo histórico, e que o equilíbrio com desemprego involuntário é uma situação normal em uma economia capitalista. A DEMANDA POR MOEDA EM KEYNES E A VERSÃO PÓS-KEYNESIANA i) Uma Introdução 1

Quando da breve apresentação do princípio da demanda efetiva keynesiana, ficará mais clara de como é incorporada a relação entre eficiência marginal do capital e a taxa de juro monetária no padrão keynesiano.

A importância da demanda por moeda na teoria Keynesiana está diretamente associada ao fato de Keynes dá uma dimensão fundamental a não neutralidade da moeda no seu esquema analítico, ou seja, refere-se a importância de instrumentos monetários afetaram a performances de variáveis reais na economia. Claro deve estar que essa teoria foi desenvolvida na década de 30, dentro de um sistema financeiro muito menos desenvolvido, o que facilitou a autores subseqüentes a realização de importantes críticas a concepção keynesiana, frise-se a uma teoria bastante avançada dentro do seu tempo histórico, representando indubitavelmente uma clara superioridade sobre as concepções da mesma época da Teoria Quantitativa da Moeda, tão úteis à teoria ortodoxa, mas incapaz de perceber a relevância da moeda enquanto reserva de valor, por exemplo. As versões da teoria da demanda por moeda pensada no esquema Tobin-Baumol já incorpora alguns avanços fruto das inovações na área bancária, como por exemplo, a idéia de contas correntes remuneradas, a qual implica diferenciações relevantes a um esquema em que se pense apenas em termos de M1 no sentido se compor de moeda + deposito à vista. Isso em função de que o elemento juros tem uma função fundamental na decisão de quanto os agentes econômicos devem reter de moeda e quanto devem manter na forma de “aplicação”. Outro fator bastante relevante nessa decisão de demandar moeda seria a questão da inflação em níveis crônicos, como era o caso do Brasil até recentemente, sendo assim fundamental a diferenciação entre taxas de juros reais e nominais, na medida em que são a diferenciação de taxas de juros reais que devem implicar no balizamento das decisões de alteração de portfólio, pois é nesse quadro em que podem ser observados ganhos em termos de poder de compra ou aumento no grau de riqueza, ao passo que se reserva a nível nominal a capacidade de correção de defasagens no juros em função da corrosão inflacionária. Essa necessidade de diferenciação entre as duas taxas passa a ser imperativa nos modelos mais modernos de demanda por moeda incorporando um aspecto não destacado na concepção keynesiana original. Após essas breves considerações, é necessário destacar ainda um fato também percebido como significativo, os manuais de macroeconomia quando apresentam o modelo de demanda por moeda keynesiana convencional, geralmente não fazem menção a um quarto motivo para se demandar, aspecto muito mais valorizado na esfera pós-keynesiana, e fruto do debate entre Keynes-Ohlin e Robertson em 19372. ii) Demanda por Moeda: a visão pós-keynesiana A teoria da demanda por moeda, conhecida por preferência pela liquidez, divide-se em quatro motivos para demandar moeda, sendo os três primeiros motivos definidos na Teoria Geral(KEYNES, op.cit., cap. 13) e o último incorporado por conseqüência do citado Debate referenciado no tópico anterior(cf. KEYNES, 1988 e KEYNES, 1978). Então, os motivos seriam[CARVALHO (B), 1992, pp.185-87] a) Transação - seria o motivo associado a reter moeda para realização de gastos correntes, corriqueiros, ficando explicitada aqui a função da moeda como meio de troca. Esse tipo de demanda não inclui aquele tipo de despesa discricionária, como é 2

Uma interessante discussão a esse respeito está em CARVALHO(1997), e AMADEO e FRANCO(1989).

o caso do investimento, apenas gastos associados a operações rotineiras e repetitivas por parte dos agentes econômicos, tanto a nível de empresas, quanto de famílias. b) Precaução - esse tipo de demanda por moeda está associado diretamente a incerteza, quanto ao futuro, então a demanda por moeda precaucionária pode ser interpretada como uma demanda por um ativo seguro para realizar uma transição entre o tempo presente e o tempo futuro, diante da incerteza do desconhecido, a espera de que haja perspectivas mais claras. c) Especulativa – essa é a mais importante tipo de demanda por moeda, dado que tem um papel fundamental na determinação da taxa de juros, elemento essencial, e diferenciador, do modelo keynesiano. Nesse quadro, trata da demanda realizada em função de uma determinada formação de expectativas, as quais podem estar certas ou não, o que não se pode saber, antecipadamente. d) Motivo Financeiro3 - é uma demanda colocada em termos de se preparar para uma despesa discricionária, tipo investimento, a fim de ter reservas disponíveis para tal, ou ter melhores condições de negociação. Assim, como ressalta CARVALHO (B) [Ídem, p. 187]: “... em antecipação a gastos discricionários há uma demanda adcional por saldos inativos que, se não acomodada, poderá pressionar as disponibilidades de dinheiro para os outros três motivos. Como sugerido pelo próprio Keynes, o motivo financeiro é um meio-termo entre a demanda transacional por moeda; já que está relacionada a um plano definido de dispêndio e a precaucional/especulativa, já que representa a formação de saldos inativos de moeda por algum tempo”. A MOEDA E O PRINCIPIO DA DEMANDA EFETIVA O objetivo desse tópico é apresentar uma síntese do princípio da demanda efetiva em Keynes, uma das contribuições chaves daquele economista inglês, apresentada, basicamente, no cap. 3 de sua Teoria Geral. Antes, defina-se que: (i) Função de Oferta Global: Z = φ(N) , preço de oferta global da produção resultante do emprego de N homens; (ii) Função de Demanda Global: D = f(N), produto que os empresários tem a expectativa de receber do emprego de N homens. Desses elementos iniciais, pode-se deduzir que dado N, caso D > Z, haverá um incremento de N até se restaurar o equilíbrio, D = Z, nesse ponto as expectativas de lucro das empresas seriam maximizadas, seria o ponto da demanda efetiva. O que seria a Demanda Efetiva ? Dado um estado de técnicas, recursos e custos, a renda (monetária e real) depende do volume do emprego N. Quando o volume de emprego 3

Convencionalmente, a demanda por moeda em Keynes é apresentada nos manuais de macroeconomia como Md = kPy + L(r), onde a demanda transacional e precaucional são proporcionais a renda nominal (Py) via uma constante k. E a demanda especulativa seria apresentada como função dos juros(r).(Cf. SIMONSEN e CYSNE, 1995). Não fica explicitado o quarto motivo, certamente por: (i)pelo quarto motivo não fazer parte do livro referencial para a análise do modelo keynesiano, A Teoria Geral do Juro, do Emprego e da Moeda; e pela conseqüência de que essa Quarta opção é passível de incorporação por outras formas de Demanda por Moeda keynesiana; ou ainda, simplesmente, por abordagens mais ortodoxas desconhecerem relevância em destacar um quarto motivo. HALL & TAYLOR(1989) e DORNBUSCH & FISHER(1991) representam manuais de macroeconomia americanos que partem também da estrutura analítica inicialmente apresentada na Teoria Geral, apresentando, no entanto, inovações à abordagem original. Infelizmente, foge do escopo original do trabalho explorar mais detalhadamente esse aspecto.

da comunidade aumenta, isso gera, por conseqüência, um aumento da renda global, o que determina um aumento quase na mesma magnitude do consumo global. Isso cria uma diferença a nível de demanda que precisa ser adequadamente complementada pela outra variável determinante dessa demanda agregada junto com o Consumo, o Investimento. Esse deve ser de um nível capaz de resolver o excesso de produção fruto do não consumo, dessa maneira, pode-se manter o nível de emprego programado para aquela produção. Assim, dada uma propensão marginal a consumir4, o nível de investimento corrente influenciará no nível de emprego de equilíbrio. Esse grau de investimento ficará estabelecido através da relação entre eficiência marginal do capital e as taxas de juros de empréstimos e riscos diversos. Nesse quadro, dados a propensão a consumir e a taxa do novo investimento deve existir um e apenas um nível de emprego compatível com Z = D. O problema é que esse nível de emprego, nos moldes keynesianos, somente num caso muito particular seria compatível com o pleno-emprêgo dos modelos clássicos, ou seja, num nível em que o volume de investimento corrente garanta uma procura idêntica ao excedente do preço da oferta global da produção resultante do pleno-emprêgo, sobre o que a comunidade resolve despender em consumo no caso de se encontrar naquela situação. De outro modo, pode-se dizer que em Keynes as decisões de investir independem das decisões de poupança. Essa está intrinsecamente ligada as decisões de consumo, dependente da renda. Assim, não existe o mecanismo auto-regulador da taxa de juros clássica, que garante a Lei de Say, ou que toda oferta gera sua procura, e onde não existe lugar para mão de obra ociosa, involuntariamente. Isso implica que tudo que não é consumido, seria uma poupança, a qual se converteria integralmente em investimentos via a conexão garantida pela taxa de juros, com uma relação positiva com a poupança e negativa com os investimentos , levando ao desejado nível de equilíbrio entre as duas funções. Nesse quadro, há um segundo ponto relevante, a inversão do sentido da causalidade relativamente aos clássicos, para Keynes é a geração de investimento que irá determinar a acumulação de poupança necessária, e não o contrário. Num nível mais formal, Keynes define D1, consumo, como determinado pelo nível da renda, para um dada propensão marginal a consumir, uma característica psicológica, adcionado a um D2, o montante de novos investimentos. Assim, D1 + D2 = D, a Demanda Efetiva. De forma que, D = φ(N), representa o equilíbrio. Se D1 depende da renda, por conseqüência, depende de N, do nível de emprego. Com isso, pode se escrever que D 1 = x(N). E, daí, resulta que φ(N) – x(N) = D2 Com esse conjunto de resultados, Keynes conclui que o volume de equilíbrio de emprêgo depende: a)função da oferta global; b) propensão a consumir e c) montante do investimento. Quando se identifica a propensão marginal a consumir e investimento, deve também se pensar no multiplicador keynesiano que gera um incremento na renda como um multiplo do incremento do investimento no valor de 1/1- x, onde x seria a propensão marginal a consumir, que quanto maior, maior a repercussão do multiplicador sobre a renda. Os gastos na forma de novos investimentos, D2 , dependem fundamentalmente da eficiência marginal do capital que representa a taxa de rendimentos esperados sobre ativos de capital, a qual será comparada a taxa de rendimento( juros) dos ativos líquidos(i), a que 4

Seria representado pela letra x e implica a relação que mede o grau de variação do consumo para uma dada variação da renda, com valor < 1.

propiciar maior retorno dentro de condições temporais semelhantes será a opção preferida. Mas quem determina essas variáveis “independentes”. A eficiência marginal do capital depende positivamente das rendas esperadas das vendas realizadas das mercadorias geradas através dos investimentos realizados, e negativamente do preço de oferta do capital. Os juros são fixados pelo encontro da curva de oferta de moeda e da preferência pela liquidez, onde o incremento dessa oferta deve baixar os juros, enquanto o aumento da preferência pela liquidez deve aumentar (SICSÚ, 1997). Como se percebe os fatores psicológicos apresentam uma relevante influência sobre esse esquema. Assim, expectativas otimistas quanto ao futuro podem levar ao incremento da eficiência marginal do capital, como a uma diminuição na preferência pela liquidez, os agentes menos receosos sobre o futuro tendem a pressionar menos a demanda por moeda, concorrendo para uma menor taxa de juros de equilíbrio, favorecendo assim um incremento nos investimentos e no ponto da demanda efetiva, determinado pelo encontro entre a curva de oferta agregada e da demanda agregada. Um ponto chave e´ que pela tradição clássica o salário real seria determinado com base em dois postulados, pelo primeiro se estabelece que a demanda de trabalho é fixada pelos pontos em que salário real se iguala a produtividade marginal do trabalho, formando uma curva decrescente pela crescente queda daquela produtividade, a medida que o nível de emprego aumenta. O segundo postulado seria que a curva de oferta de trabalho seria fixada pela desutilidade marginal do trabalho, quando se iguala ao salário real, sendo essa curva positivamente inclinada em função dessa desutilidade aumentar, quando a quantidade de trabalho ofertada aumenta. Os resultados seriam alcançados para o caso em que trabalhadores e empresários assumem um comportamento maximizador no quadro das intenções específicas a cada um deles. O que há de novo aí ? Keynes rejeita o segundo postulado baseado no fato de que os trabalhadores fazem negociações em termos de salários nominais, pois apresentam uma incapacidade explícita de determinar o custo de vida, dessa forma não podem pensar em termos de salários reais. O autor lembra (VERCELLI, 1991, pp. 177-181) que o trabalhador não vai solicitar ajuste salarial, sempre que o nível de preços se altere. O nível de emprego e salários reais ficam longe do controle dos trabalhadores. Os empresários irão dar sentido a causalidade nos moldes keynesianos, já que sua decisão de investir vai gerar repercussões diretas sobre o nível de emprego e salário real. O ponto interessante a observar é que Keynes chama atenção para o paradoxo da pobreza, ou seja, o fato de que, a medida que a renda aumenta, a parcela de consumo componente da demanda agregada tende a se verificar num nível inferior relativamente, o que significa é que tende a aumentar a diferença entre o preço de oferta global( Z) e a D1,em função da lei psicológica inerente ao comportamento da Propensão marginal a consumir. Isso significa que a economia pode caminhar para o equilíbrio com desemprego involuntário, não ocorrendo no mundo keynesiano a obrigação de D2 restaurar a diferença. Dessa conclusão do modelo keynesiano se deduz que não é a desutilidade marginal do trabalho em termos de salários reais que determina o emprego na economia, mas são elementos como a propensão marginal a consumir e o montante de investimento que irão fixar o nível de emprêgo, e esse determinar o nível dos salários reais. Keynes, dessa maneira, está caminhando em nível inverso ao sentido clássico. Em síntese, tomando como dado, a capacidade e quantidade da força de trabalho; qualidade e quantidade de máquinas e equipamento disponível, o estado da técnica, preferências e hábitos dos consumidores, grau de concorrência, desutilidade das diferentes

intensidades de trabalho e das atividades de supervisão e organização, e estrutura social. ( KEYNES, 1991, op.cit. p. 245), o autor define os fatores determinantes da demanda efetiva ,como se segue. Ter-se-ia que para determinadas circunstâncias, temos que as variáveis independentes finais seriam: (i) os três fatores psicológicos fundamentais presentes na: propensão a consumir, a atitude frente à liquidez e a expectativa quanto aos rendimentos futuros dos bens de capital; (ii) unidades de salários resultante do poder de barganha entre patrões e empregados; (iii) e a quantidade de moeda governada pelo Banco Central . Com estas variáveis se determinam a renda e o volume de emprego. Deve ser lembrado que a moeda afeta a economia keynesiana, tanto no curto, quanto no longo prazo, o que é mais um elemento distintivo dessa teoria. CONTESTAÇÕES E INTERPRETAÇÕES À TEORIA KEYNESIANA. O objetivo dessa segunda parte do trabalho é mostrar as principais diferenças entre o pensamento econômico keynesiano original e outros mais ortodoxos, os quais geralmente buscam colocar aquela teoria como um caso particular das suas. Além disso, será também demonstrado que algumas abordagens ditas “keynesianas”, com preocupações também de tornar a Teoria Geral um caso particular, não conseguem legitimar essa posição. Como conseqüência disso, há um desvirtuamento sério dos pilares centrais da teoria keynesiana, frequentemente demonstrados em trabalhos de economistas da tradição pós-keynesiana. Nesse quadro, será apresentado uma breve resenha dos principais desvirtuamentos e contestações da teoria originalmente proposta por Keynes. A abordagem do equilíbrio geral sempre aparece como a candidata ao “trono”, acontece que os questionamentos a essa teoria são diversos e a necessidade de uma série de axiomas próprias de uma abordagem dedutiva-lógica não permitem aceitar o desejo de generalidade da teoria. Há autores reconhecidos pelo próprio mainstream que questionam inclusive se a estrutura de equilíbrio geral seria de fato uma teoria ou apenas uma estrutura(Cf. Blaug, 1993, pp. 229231). Em função dessa relativa importância do equilíbrio geral é apresentada uma abordagem sintetizada do modelo com o intuito de se aquilatar a dificuldade de introdução da moeda nessa “teoria”. A Teoria Geral surge na década de (19)30, num momento de pleno predomínio da teoria neoclássica, mas também numa época em que uma crise econômica levava a se duvidar dos dogmas neoclássicos, isso em função de que a economia de pleno emprego sonhada nos textos neoclássicos levava a economia americana a um desemprego de 25% da força de trabalho em 1933. A explicação para tal problema seria simples no pensamento neoclássico, os trabalhadores deveriam estar pedindo salários excessivamente altos, o que causaria um desajuste no salário de equilíbrio do mercado de trabalho. Mas, como explicar essa postura dos trabalhadores em países onde não dispunham de sindicatos politicamente fortes? Ou ainda, de que modo entender uma queda observada empiricamente nos salários nominais, entre 1929 e 1932, que levou a um aprofundamento do problema, ao invés de resolvê-lo? Por que nas economias onde ocorreu aumento dos gastos públicos houve uma sensação de sucesso relativo, se para os neoclássicos essa postura representava uma afronta à economia de mercado? (SIMONSEN e CYSNE, op.cit, p. 175). Estava aberto o caminho para a teoria keynesiana, pois respondia a essas questões, mostrando que seu modelo apresentava uma superioridade teórica ao anterior, na medida em que possuía poder explicativo superior.

Os pilares da economia neoclássica, conforme apresentado por SIMONSEN e CYSNE(Ídem, p. 201) consistiriam nos seguintes corolários: a) as forças de mercado tendem a equilibrar a economia a pleno emprego, no ponto em que oferta e procura de mão-de-obra se igualam, b) as variáveis reais da economia e os preços relativos apresentam trajetórias independentes da política monetária; c) a quantidade de moeda afeta apenas o nível geral de preços. Keynes destrói esses pilares, levando a demolição da construção neoclássica . Para a resposta ao ítem a), esse autor inicialmente, conforme já demonstrado anteriormente, desconsidera a existência de um curva de oferta de trabalho. Por outro lado afirma que, por exemplo, a tentativa de recuperação econômica via redução de salários não oferece nenhuma garantia de sucesso, pois as expectativas de novas reduções salariais, antes de significarem benefícios para os empresários, podem criar nestes a sensação de pessimismo em termos da renda da economia, diante de um futuro desconhecido, o que implicaria retração dos investimentos privados, e da demanda efetiva, reafirmando a crise no nível de emprego, ao invés de corrigi-la. A teoria keynesiana desde sua criação sob a forma de uma economia monetária de produção que trabalha com a noção da não neutralidade da moeda, o que permite responder sem delongas os dois últimos ítens, (ii) e (iii). Uma expansão na quantidade de moeda pode no modelo keynesiano propiciar uma redução na taxa de juros, e assim tornar n investimentos rentáveis, na medida que essa taxa de remuneração de ativos líquidos passa a se apresentar inferior a (taxas de) eficiência marginal do capital. Já está claro, então, que Keynes não aceita as idéias neoclássicas do axioma da substituição bruta, ou seja, qualquer coisa é substituível por qualquer outra coisa, e que vivemos num mundo ergódico, o futuro não seria incerto. Essas hipóteses defendidas pelos neoclássicos representam mais um peso contra o poder explicativo da teoria ortodoxa tradicional (DAVIDSON, 1996, p. 8). E isso representa um aumento de demanda agregada com aumento de produção, renda e nível de emprego. É digno de observação que a teoria keynesiana tem peculiariedades tão significativas que desde sua formalização na década de (19)30, tem conseguido sustentar os seus pilares teóricos, tendo sólidas respostas para as mais diversas questões. Algumas tentativas teóricas de “modernização” do modelo original, encontram dificuldades de sustentação, na medida em que seguindo uma certa tradição ortodoxa, tentam fazer da teoria keynesiana um caso particular de suas propostas. Independente da corrente teórica, fica claro que as virtudes do keynesianismo estar na forma de interligar o setor real e monetário da economia, o que o distingue e gera conflitos com abordagens mais ortodoxas e algumas ditas keynesianas5. Ainda na década de 30, surge o famoso modelo IS-LM que pretende explicar a teoria keynesiana, mas apresenta problemas que fragilizam essa pretensão. Sinteticamente poderia citar que HICKS(1988), por exemplo, trabalha com uma relação de Poupança e Investimento muito mais próxima da visão do modelo clássico no sentido da forma como é apresentada, sendo a taxa de juros o elemento essencial. Nos clássicos, ela aparece como elo de ligação entre Poupança e Investimento. Para a teoria keynesiana, a poupança seria 5

Uma interessante resenha das principais correntes teóricas em economia pode ser encontrada em FERRARI FILHO(1996).

primordialmente influenciada pela renda e não pela taxa de juros. Assim como lembra OLIVEIRA LIMA(1997, p. 90) “Keynes mostra que a igualdade entre poupança e investimento é a conseqüência e não o determinante de estabelecimento de uma dada renda de equilíbrio, isto é exatamente o contrário do que é explicitado no modelo IS-LM”. Outra tentativa, talvez, ainda mais mal sucedida de incorporar a teoria keynesiana num caso especial seria a abordagem novo-keynesiana, que usa fundamentos microeconômicos para explicar a idéia associada de rigidez de preços e salários, para explicar os efeitos perversos de uma queda de demanda. A existência dessa rigidez seria explicada por fatores como custo de menu, salário-eficiência; ou seja, argumentos microeconômicos(cf. MANKIW, 1992, pp. 220-24; SACHS & LARRAIN, 1995, pp. 60409). Acontece que a principal diferença definida entre Keynes e os Novos-Keynesianos está no fato de que o desemprego involuntário na abordagem tradicional estaria associado ao fato das elasticidades substituição e de produção dos ativos líquidos( inclusive a moeda) serem muito baixos, tendendo para zero, terem implicações fundamentais no esquema. O atributo da liquidez não estão presentes nos ativos não líquidos. Daí que qualquer aumento na demanda por liquidez, que leve a um aumento nos preços dos ativos líquidos não produzíveis, não terá uma contrapartida no aumento da demanda por bens e serviços. Deve estar claro, então que, o princípio da demanda efetiva keynesiana mostra a possibilidade de ocorrência de desemprego involuntário num mundo não ergódico, na medida em que a existência de ativos não produzíveis mantidos para fins de liquidez não são substitutos brutos dos produtos da indústria, que são geradores de emprego efetivamente (cf. DAVIDSON, op.cit). Há inúmeras diferenças entre o velho Keynes e os ditos “novos keynesianos”. Para essa corrente seria a demanda corrente no mercado de bens que deteminariam aquele nível de demanda, enquanto para Keynes as expectativas empresariais sobre a demanda futura terminam por predominar na determinação do nível da demanda. Por outro lado, o velho Keynes, ao contrário de novos keynesianos e novos clássicos, não garante 6 que flexibilidade para baixo de salários e preços provoca necessariamente um ajuste automático no mercado de trabalho e de bens. A inexistência de falhas de mercado não representaria condição necessária, nem suficiente para o alcance do pleno emprego pelas regras teóricas da Teoria Geral, que mostrou que o desemprego involuntário pode coexistir com plena flexibilidade de preços e salários, desde que haja condições adversas no âmbito das expectativas, já que o problema de desemprego estaria centrado na questão da preferência pela liquidez dos agentes atuando negativamente sobre as decisões de gastos. É interessante observar nesse contexto que o interesse novo keynesiano se centra no lado da oferta, o keynesiano original na demanda. Fica difícil entender, então, como com esses argumentos, pode essa corrente mesmo ganhar essa denominação, nem defender, como faz, uma maior abrangência do que a teoria keynesiana tradicional7 Outro keynesiano famoso parece não ser tão keynesiano assim. Tobin, em síntese, desvirtua Keynes em alguns pontos chaves. Como destacado por DAVIDSON( op.cit, p.12),por exemplo, Tobin insiste em que a ausência de preços perfeita e instantaneamente flexíveis seria uma condição necessária para o desequilíbrio com desemprego em Keynes. Isso está em desacordo com a afirmativa de Keynes de que sua teoria geral seria aplicável a qualquer grau de competição de forma que equilíbrio com desemprego pode acontecer mesmo com preços perfeitamente flexíveis e competitivos, portanto: a flexibilidade 6 7

Como já foi aludido anteriormente. Conferir SICSÚ(1997, op.cit.), o qual faz uma interessante discussão a esse respeito.

completa de preços não é uma condição necessária, nem suficiente para o equilíbrio com pleno emprego. Ou ainda, como lembra o próprio DAVIDSON(Ídem, pp. 14-5): “Tobin não admite que a palavra ‘geral’ na teoria geral de Keynes se refere a uma estrutura lógica que requer menos axiomas que a do caso clássico. A única diferença entre a análise da demanda efetiva de Keynes e a teoria clássica, Tobin insiste, é de natureza pragmática. Tobin afirma que a ‘essência da disputa keynesiana (e Keynes ?) – novo-clássico’ envolve o fato, no mundo real, de que variações de preços dos produtos necessitam algum período finito de ‘tempo real’, por menor que seja, para serem operacionais. ‘Flexibilidade completa significa ajustamento instantâneo, de modo que os preços estão sempre desobstruindo( clearing) os mercados’ e ‘Tudo que a macroeconomia keynesiana precisa, na verdade, é que os preços dos produtos e os salários monetários não sejam perfeitamente flexíveis’(grifo no original de DAVIDSON, 1996, referindo-se a uma citação a TOBIN, 1993, p. 56). Se esse lapso de ‘tempo real’ é uma característica operacional essencial de todas as economias no mundo real, ao passo que o caso clássico requer flexibilidade instantânea de preços, como Tobin pode declarar então, que o modelo clássico é aplicável a qualquer mundo real de pleno emprego e restringido pela oferta ? Se o argumento do ‘tempo real’ de Tobin está correto, mesmo no pleno emprego, a flexibilidade instantânea de preços é uma impossibilidade pragmática, e o modelo restringido pela oferta não é aplicável.” As divergências keynesianas não são obviamente menores junto a correntes opositoras. O importante a frisar, nesse quadro, é que a tese defendida aqui é que toda essa discussão passa pela forma que Keynes deu ao papel da moeda em sua economia, desenvolvida e absorvida na visão pós-keynesiana., mas não aceita por nenhum corpo teórico que seja observado como pertencente ao mainstream na sua forma original. O que se observa na realidade são tentativas cada vez mais freqüentes de, incorporando o modelo de curto prazo de equilíbrio geral walrasiano, desenvolver posições capazes de explicar satisfatoriamente a realidade. Essas abordagens tentam escapar das características do modelo básico, o que já mostra uma fuga da concepção original. Por outro lado, ignoram a visão dinâmica que o próprio León Walras tinha do equilíbrio geral. Nesse quadro se incorporam também tentativas de aproximação do modelo keynesiano original do modelo de equilíbrio geral, o qual chamaremos modelo de equilíbrio geral de curto prazo, para diferenciá-lo da visão walrasiana original. Hicks busca fazer isso, assim como LEIJONHUFVUD (1981), se bem que dentro de perspectivas bastante diferentes. O dinheiro não preserva no esquema walrasiano as mesmas virtudes daquelas encontradas na abordagem keynesiana. Nos Elementos de Economia Política Pura, escritos em 1874, Walras dedica dois momentos à apreciação da moeda. O primeiro aparece na Seção IV – Teoria da Produção – em que Walras deriva a teoria da demanda por moeda como uma aplicação da teoria do consumidor. Ali, Walras identifica a necessidade de tratar-se a teoria monetária de forma integrada à teoria dos preços: “Sendo dados vários produtos ou serviços no estado de equilíbrio geral, num mercado onde a troca é feita com intervenção de numerário, se todas as coisas permanecerem iguais, a utilidade de um desses produtos ou serviços aumentar ou diminuir para um ou para vários dos permutadores, o preço em numerário desse produto ou serviço aumentará ou diminuirá”. (WALRAS: 1982, p. 138.) Michio Morishima (1977, p. 124) observa que sob o aspecto estático do equilíbrio

geral walrasiano, de fato apenas as funções numerária e de relativo de valor de troca da moeda seriam pertinentes. Daí a propriedade do corolário monetário walrasiano: “todo aumento ou diminuição da quantidade da mercadoria-moeda tem como efeito um aumento ou diminuição sensivelmente proporcional nos preços”(WALRAS: 1982, p. 184). Tem-se, então: Em que Q´´A = Quantidade de equilíbrio da mercadoria-moeda PA = Preço de equilíbrio da mercadoria-moeda H = Encaixe monetário desejado Contudo, o caráter geral do equilíbrio de curto apresentado pelo modelo walrasiano tem implicações relevantes. Otaviano Canuto (CANUTO in CARNEIRO: 1997, p. 207) observa que “no sistema de equações walrasiano qualquer mercadoria pode ser o numerário, a unidade de conta, ao mesmo tempo em que não existem as outras necessidades a serem cobertas pela moeda”. Para Canuto, a moeda no sistema walrasiano não teria definição a não ser ad hoc. Sobre isso, J. A. Schumpeter identifica singularmente o movimento de Walras no sentido de uma conceituação mais ampla do valor-utilidade: “é impossível falar da necessidade da economia de um meio de troca, como tal, no mesmo sentido em que se fala da necessidade humana de ação. O desejo individual de meios de pagamento, contudo, é exatamente igual à procura de pão: trata-se de algo que se pode agrupar sob a lei da utilidade marginal decrescente” (SCHUMPETER: 1970, p. 83). Assim Schumpeter considera que a moeda walrasiana é uma mercadoria que oferece, basicamente, liquidez (SCHUMPETER, 1994, p. 1026). Essa posição nos parece reforçada ao vermos a denominação da massa monetária por Walras como “encaixe desejado”. Quando o equilíbrio walrasiano admite um caráter dinâmico e de longo prazo, o papel da moeda torna-se mais rico e importante na teoria. Assim, há um segundo momento em que Walras dedica-se a apreciar o papel da moeda na economia. Este aparece na Seção VI, denominada “Teoria da Circulação e da Moeda”. Dada a visão walrasiana do crescimento econômico – um processo em que as decisões de poupança e investimento seriam observadas e consideradas de maneira dissociada – as propostas de política econômica imbuídas naquela Seção apareceriam em referência à função monetária de reserva de valor, a permitir a transferência intertemporal de poder de compra. Walras reconheceria a possibilidade de que distúrbios na circulação monetária causassem flutuações no nível de produto sem que mecanismos “automáticos” de mercado pudessem lhes dar correção: “(...) Assim é o mercado permanente, tendendo sempre ao equilíbrio, sem nunca atingi-lo, devido ao fato de para ele se encaminhar apenas por meio de tentativas, e antes mesmo de essas tentativas serem completadas, devem ser recomeçadas com gastos novos, já que foram mudados todos os dados do problema, tais como as quantidades possuídas, utilidades dos produtos e dos serviços, coeficientes de fabricação, excedente do rendimento em relação ao consumo, exigências dos fundos de rotação etc. A esse respeito, tudo se passa no mercado como se este fosse um lago agitado pelo vento, onde a água sempre busca o equilíbrio, sem jamais atingi-lo. Entretanto, há dias nos quais a superfície do lago é quase horizontal; mas não há um só em que a oferta efetiva dos serviços e dos

produtos seja igual à sua demanda efetiva e em que o preço de venda dos produtos ao seu preço de custo em serviços produtivos. O desvio dos serviços produtivos das empresas que estão dando prejuízo em direção às empresas que estão dando lucro efetua-se por numerosos meios, dos quais o jogo do crédito é um dos principais, mas que, em todo caso, são meios lentos. Pode ocorrer, e freqüentemente ocorre na realidade, que o preço de venda se mantenha sempre acima do preço de custo, sem que a multiplicação dos produtos possa enfrear a alta; sucedendo-se a essa alta, pode ocorrer uma baixa capaz de mudar, de repente, a inferioridade do preço de custo em superioridade, obrigando os empresários a desistirem. Também, por exemplo, assim como o lago é às vezes profundamente perturbado pela tempestade, o mercado é às vezes agitado violentamente por crises, que são perturbações súbitas e gerais do equilíbrio. E tanto melhor poderemos reprimir ou prevenir essas crises quanto melhor conhecermos as condições gerais do equilíbrio”. (WALRAS, 1982: p. 208) Trata-se de uma postura abertamente contrária à posição “ortodoxa”, ao relativizar a visão de auto-regulação do mercado da “moeda-mercadoria” e apontar para a necessidade de uma “Agenda do Estado” bastante próxima à Keynesiana, pelo menos no tocante à atenção para o papel deste como promotor de políticas monetárias. Na visão de Morishima (1977), essa afirmação aproxima Walras mais de Keynes do que dos neoclássicos. Nesse sentido, tem-se dado importantes tentativas de inovações teóricas, buscando incorporar melhorias qualitativas a moeda walrasiana, ou a algum instrumento de coordenação que exerça o papel de tatônnement do “preço da moeda”. O objetivo está centrado em dar um sentido da presença da moeda no modelo e/ou incorporar qualidades a esse ativo antes só apresentada no mundo keynesiano. Mesmo se partindo de derivações do modelo walrasiano, como é o caso da abordagem de Arrow-Debreu, as soluções encontradas estão longe de serem satisfatórias, como é o caso das sugeridas por Patinkin ou pela teoria do equilíbrio temporário(cf. ROSINGER, 1992). As observações encontradas corroboram a tese de que as dificuldades se encontram na forma de tratamento dada a moeda pelos modelos mais ortodoxos. É nesse sentido também que caminha OLIVEIRA LIMA(1997, op.cit), buscando evidenciar essa distorção do esquema walrasiano. É comum supor que a teoria keynesiana seria um caso particular da teoria do equilíbrio geral. Seria um caso, onde existiria desequilíbrio em função da presença de rigidez salarial, conseqüente da presença de pressão sindical ou de uma legislação pertinente. A idéia de que Keynes teria desenvolvido uma teoria de equilíbrio com desemprego, não era encarada com seriedade por seus críticos, pois esses não entendiam como se poderia falar em equilíbrio num mercado de trabalho, por exemplo, onde as expectativas não estariam realizadas na presença de desemprego involuntário8. Por outro lado não é fora de propósito que o próprio Walras acreditasse ser a sua situação de equilíbrio geral uma mera lei tendencial, jamais obtida empiricamente. A questão central é como o dinheiro é encarado em cada desenvolvimento teórico. O dinheiro liquida contratos e exerce a ligação entre o presente e o futuro. Na medida em que o dinheiro assume características muito particulares na economia monetária keynesiana, como já foi analisado, fica difícil fazer com que a teoria keynesiana represente um caso particular de uma teoria que não se pode nem caracterizá-la como 8

A apresentação do modelo de equilíbrio geral está baseado em OLIVEIRA LIMA(1997, op.cit)

monetária. A análise de equilíbrio geral se desenvolve com a presença de um personagem fictício, o leiloeiro. Esse fornece as informações necessárias para que haja uma adequada articulação entre os diversos agentes econômicos. Devem definir o significado de elementos como: firmas, taxa de juros, investimento, dinheiro. Ocorrendo um ganho em complexidade, na medida em que os diversos elementos vão sendo introduzidos. Inicia-se pelo modelo mais simples das trocas entre os diversos agentes que possuem uma quantidade fixa de mercadorias. Dessa forma, vai se introduzindo troca, crédito, formação de capital, depois vem a ser introduzido o dinheiro Segundo Negishi( apud OLIVEIRA LIMA, op.cit., p.24), deve-se destacar os seguintes aspectos: a) A teoria walrasiana das trocas e da produção e na teoria do crédito e da formação do capital, todas as trocas se caracterizam por serem não monetárias, dado que o dinheiro não está presente; b) a lógica de se partir da teoria da produção e do crédito para a teoria do capital e do crédito é a busca da determinação da taxa de juros; c) a introdução da circulação e do dinheiro visa definir o nível de preços. Nesse quadro, a teoria do equilíbrio geral busca determinar as situações de equilíbrio entre oferta e procura para cada mercado, onde cada firma realiza o máximo de lucros, enquanto os indivíduos trabalham com uma máxima satisfação, sob dadas circunstâncias. Como se percebe o dinheiro não é um elemento essencial, podendo esse tipo de economia vir a fucionar sem o dinheiro. A solução walrasiana seria alcançada com a presença do tâtonnement, de impossível generalização para todos os mercados. Pela qual se buscava atingir a solução de equilíbrio pela operação da lei de oferta e procura, desde que o mercado dispusesse de determinadas condições, sendo a mais importante a informação perfeita. A introdução do dinheiro, além de não alterar os resultados a serem obtidos em termos de maximização por indivíduos e firmas, numa situação em que o equilíbrio já tenha sido atingido, aparece com a função de numerário, uma intermediária de trocas de todas as demais mercadorias. Dessa forma, com o estabelecimento das condições para o equilíbrio geral, o dinheiro surge como algo supérfluo. O papel do leiloeiro seria lançar preços iniciais para cada bem que, caso não fosse o de equilíbrio, levaria o ajustamento do processo até o equilíbrio ser alcançado pelas regras da oferta e da procura. Assim, poderia ser estabelecido as trocas e os contratos de maneira definitiva O tâtonnement pode fucionar no mercado de ações e outros casos específicos. O esquema de oferta e procura pode substituir o tâtonnement, sem a presença do leiloeiro. Tais mercados para alcançarem o equilíbrio geral necessitam de uma estrutura de oferta e procura atomizada, com informação próxima da perfeição, onde os preços são “dados” para os agentes. De maneira que se o processo de transmissão de informação for alto, a extensão do desequilíbrio será baixa, auferindo-se resultados semelhantes aos daqueles alcançados pelo tâtonnement Pode-se iniciar a formalização do modelo pela versão mais simples, sem a inclusão de produção, formação de capital e inicialmente também desconsiderando a presença do dinheiro. Então, nesse modelo os agentes trocam estoques fixos de bens. Dado que as

ofertas são totalmente inelásticas, as demandas das n mercadorias assumem o papel principal. O valor da demanda do enésimo bem da economia será determinado pela soma individual de todas as demandas individuais, de forma que cada consumidor demandará uma quantidade dada desse bem determinada em função do preço do bem , dos preços dos demais bens e do rendimento individual. Assim, a procura total pelo bem i seria: qid = qid (P1, P2, ... Pi, Pn) , onde qid representa a demanda pelo bem i, e P 1, P2 e Pn os preços dos demais bens, onde deve incluir preços de serviços que justificam o rendimento de consumidores A oferta para o bem i seria: qis = qis (P1, P2, ...Pi, Pn), onde qis representa a oferta do bem i, acompanhado pelos preços, onde aparece os custos envolvidos na produção do bem expresso por P 1, salário por exemplo. A economia se encontrará em situação de equilíbrio se a oferta e demanda de cada bem se igualaram, de forma que: qid –qis = 0 ou Ei = Ei(P1, P2,...Pi, Pn)=0 , onde Ei significa excesso de demanda do bem i. O equilíbrio geral implica que o excesso de demanda seja nulo no mercado de todos os bens e fatores de modo a formar um sistema contendo n equações e n incógnitas que fixam os preços de n bens. A Lei de Walras, por definição, expressa a condição de que, com cada consumidor maximizando sua utilidade ao gastar sua renda na compra de bens, de modo a garantir no agregado que valor da oferta dos bens se iguale ao valor da demanda. A expressão que se segue representa essa identidade: n Σ Piqid i =1

n = Σ Piqis i =1

Duas informações são relevantes nesse ponto: (i) a oferta seria uma espécie de conseqüência da procura, (ii) se existe, a partir da relação acima, equilíbrio em (n-1), esse equilíbrio deve existir no enésimo mercado. A relação anterior pode ser escrita na forma como segue: n ΣPi Ei = 0 i =1 Caso se tenha (n-1) mercados em equilíbrio, tem-se n-1 Σ Pi Ei = 0 i=1

Subtraindo o segundo do primeiro somatório, tem-se que n n-1 Σ PiEi - ΣPiEi = PnEn = O i =1 i=1 En diz respeito ao n-ésimo mercado, onde P n > 0, o que implica dizer En = O, e daí tem-se que o equilíbrio pode também ser determinado em (n-1) mercados. Outro aspecto significativo no modelo é que o preço de qualquer bem pode determinar o preço relativo de todos os outros bens, dividindo todos os preços pelo preço daquele bem escolhido, de forma que a função excesso de demanda pode ser apresentada, como segue, caso o bem 1 seja o escolhido: Ei = Ei ( 1, P2, .. Pi, .Pn ) P1 P1 P1 Por conseqüência dessa característica de se poder determinar os preços relativos, o nível absoluto de preços fica indeterminado, dado que qualquer Pi poderia ser efetivado como nível absoluto de preços. Se todos os preços triplicarem, não existe nenhuma razão lógica que indique que um agente econômico estaria três vezes mais rico, pois a função excesso de procura para cada consumidor são homogênea de grau zero a nível de preços, e também de quantidade de dinheiro. Por outro lado, o sistema se mostra indequado para assumir a função da moeda de meio de troca, como se observa pelas equações que se seguem. Qual a implicação disso? É a identificação de característica de uma economia não-monetária. Se introduzirmos a moeda na função de excesso de oferta, na condição de mais um bem, pelo raciocínio demonstrado anteriormente, tem-se que: Ei = Ei[P1, P2, .. Pi, .. Pn, P(n+1)] Daí que pela Lei de Walras: n+1 Σ Pi Ei = 0 i=1 Com todos os mercados em equilíbrio, pode-se deduzir pelo raciocínio exposto anteriormente que: n+1 n Σ PiEi - ΣPiEi = P(n+1)E(n+1) = 0 i =1 i=1 Em síntese, o sistema determina os preços em termos reais, então que distinguiria então uma economia monetária de uma economia de trocas? O sistema com n equações

fornece apenas os preços relativos de n – 1 bens. Para tentar responder aquela questão, pode-se introduzir a equação redundante do sistema, nos termos da equação de trocas, fazendo da moeda como intermediária de trocas sem alterar o sistema. De forma que tendo M como oferta monetária e V velocidade de circulação da moeda em níveis constantes, alterações em M, alteraria os níveis de preços, mas não alteraria os preços relativos. Teria-se o dinheiro, como manda o figurino, apenas como um véu monetário. Assim, tem-se que: n Σ piqi = MV i =1 Com manipulações algébricas, chega-se a que: n Em = 1 Σpiqi – M = 0 Vi=1 Essa última equação é útil para se checar a conclusões relevantes, quais sejam a função de excesso de demanda monetária é homogênea de grau 1 em relação a preços e quantidades de dinheiro. Assim ganhar um dinheiro adicional vai gastar na mesma proporção, de forma que se a quantidade de moeda quadruplica, quadruplica os preços das mercadorias. Sabe-se que a quantidade de bens são homogêneas de grau zero em relação a preços . Aqui surge um problema, como conciliar com a idéia de preços relativos, a dependência da demanda de mercadorias não só dos preços, mas da quantidade de dinheiro possuída. Patinkin busca resolver essa questão. Ele tenta mostrar que os saldos monetários tem uma utilidade em si própria , e que o que é significativo são os saldos monetários que traduzem poder de compra, os saldos monetários reais(saldos monetários nominais deflacionados pelo índice de preços) , e não os nominais. Dessa forma, existe uma dependência desses encaixes reais a nível de preços relativos e por parte da demanda de mercadorias. Uma elevação de preços, por exemplo, trará como resultado a diminuição da demanda de mercadorias e assim levará a uma diminuição de seus preços. Caso se aumente os saldos monetários em poder do público, com preços constantes, o público será incentivado a demandar mais mercadorias, forçando uma elevação dos preços das mercadorias, isso implicará na “eliminação” da dicotomia entre setor real e setor monetário da economia, preservando-se, no entanto, a neutralidade monetária, como seria esperado. O problema presente no argumento de Patinkin, é de valorizar a idéia da presença dos encaixes reais com utilidade decorrente de si própria, sem introduzir o elemento incerteza, e ainda assim se possa continuar pensando no contexto de um modelo de equilíbrio geral. Patinkin afirma que sua preocupação é que a demanda monetária existiria mesmo num ambiente de perfeita certeza diante da taxa de juros e dos preços futuros. A incerteza existe no que diz respeito apenas ao tempo de pagamento. Esse autor justifica a existência de sua demanda supondo um processo estocástico de pagamento. , o qual ele descreve do seguinte modo: cada agente recebe na Segundafeira de manhã uma determinada quantidade de bens, os quais ele tentará ajustar via troca, objetivando maximizar sua satisfação. Recebe determinado valor em dinheiro determinado

com base nos períodos anteriores, precipuamente a semana anterior. As trocas de bens se realizam no período de mercado, - Segunda-feira pós meio-dia – no entanto, os pagamentos em dinheiro a partir do fim do período de mercado, ou seja, tarde da Segunda-feira até o fim da semana . A ordem dos pagamentos é determinada por uma loteria no fim do período de mercado, de forma que existe uma incerteza associada ao termo dos vencimentos dos contratos. Esse autor afirma que o indivíduo pode ser chamado a realizar pagamentos e recebimentos simultâneos, resultado pouco provável. O mais provável é o indivíduo manter uma reserva monetária desde o começo do período de mercado, para fazer frente a eventualidade da necessidade de realizar um pagamento e não ter como realizá-lo. OLIVEIRA LIMA(op.cit, p.34) identifica, inicialmente, como a mais relevante contribuição de Patinkin o fato de que as demandas individuais por bens poderia ser integrada de maneira consistente com os ativos monetários reais que os indivíduos tencionariam reter. Ou, em outros temos, na medida em que os ativos monetários reais entram nos excesso de demanda, estes são homogêneos de grau zero em relação a preços monetários e quantidade de moeda. Dado M, o esquema de Patinkin produz n+1, equações de excesso de demanda, de forma que: En = En (p1/p, p2/p... pn/p, M/p) En +1 = Md (p1/p, p2/p... pn/p, M/p) – M/P Onde o valor de M/P representa o valor dos “encaixes monetários reais” que entra como argumento das funções Ei. O En +1 representa a função excesso de demanda por encaixes monetários reais representado pela diferença entre a demanda por encaixes monetários reais e a oferta monetária real representada por M/P. A lei de Walras determina que o excesso de oferta de dinheiro é a contrapartida do excesso de demanda de bens, e vice-versa. Assim, caso se tenha, sob determinadas condições, a diferenciabilidade das funções de demanda e que sendo dados (pi , P); se a oferta monetária M, se altera para aM, a nova solução para o sistema será dada por (ap i, aP) acabando-se a diferença no grau de homogeneidade entre pi e P. Aceitando-se essa proposta de Patinkin de incluir o dinheiro como um bem com utilidade própria, não sendo apenas mais um numerário num modelo de equilíbrio geral, teria-se estabelecido uma economia monetária, onde se inclue logo em seguida um mercado de títulos e de trabalho. O modelo de Patinkin se constitui mesmo uma economia monetária ? Ou seja a (n+1) ésima mercadoria pode ser considerada dinheiro ? Inicialmente, pode-se dizer que não existe divergência entre as demanda realizadas e as nocionais de cada, ou seja, todas as demandas são infinitamente elásticas e cada agente pode vender a quantidade que desejar, o que implica ser supérfluo adcionar um bem como o dinheiro, pois qualquer bem estaria disponível para tal. Patinkin justifica tal superfluidade, a inclusão da moeda, em função dos pagamentos que seriam determinados através de um processo estocástico. Tal conclusão representa uma hipótese ad hoc que não apresenta condições de ser enquadrada dentro da lógica do modelo. Se as transações são feitas a preços de equilíbrio, por que também não admitir um mercado de títulos de crédito, que seriam resgatados até o fim da semana (OLIVEIRA LIMA, op.cit. p. 35)? Fica faltando consistência ao modelo, como questiona Hahn(apud

OLIVEIRA LIMA, op.cit, p. 36), ao relevar-se a possibilidade de provar, a nível de equilíbrio geral, que exista uma demanda positiva de moeda , como encaixe, para todos os valores positivos da oferta monetária. A diferença básica entre Keynes e os neoclássicos está justamente no fato do primeiro autor trabalhar em temos de incerteza frente ao futuro, como já foi destacado, enquanto a corrente ortodoxa aposta nos indivíduos formando expectativas com absoluta confiança em sua realização. Essa incerteza keynesiana é compatível em encarar a moeda como reserva de valor, que não combina com a maneira neoclássica de encarar o futuro, um mundo desprovido da incerteza, entendida como aquela situação em que não se pode atribuir nenhuma probabilidade a determinada circunstância estratégica. Para a ortodoxia neoclássica, preocupada apenas com os pontos de equilíbrio de curto prazo, a moeda terminaria por estar restrita à condição de “outra mercadoria” (esta conferente do bem “liquidez”) ou mero numerário, abandonando sua condição de reserva de valor. Cabe ressaltar que, para o equilíbrio de longo, nem o próprio Walras prescindia da política monetária diretiva. A opção entre dinheiro e bens de capital por parte dos produtores, e dinheiro e bens de consumidores envolve uma incerteza na decisão. Assim, não havendo total confiança nas decisões, poderá estar se incorrendo na informação de um preço que termine por gerar falhas na alocação de recursos e até desemprego da mão de obra. CONCLUSÃO Esse trabalho procurou mostrar que a consistência da economia monetária keynesiana, além de ser central a construção teórica de Keynes está na base das divergências com autores ditos “keynesianos” e as abordagens “ortodoxas”. É básico nesse quadro registrar que a teoria keynesiana trabalha com a idéia de não neutralidade da moeda inclusive no longo prazo. Já as correntes ortodoxas trabalham com a concepção de que no longo prazo existe uma total dicotomia entre o setor real e monetário da economia. O equilíbrio do produto decorre da interação, apenas, de variáveis reais e a moeda atua apenas sobre o nível geral de preços (AMADO, 1992). Também é básico mostrar que não há homogeneidade consistente de princípios tanto nas correntes “keynesiana” como “ortodoxa” em meio ao debate. As fontes primárias, Keynes e Walras, apresentam pontos de convergência quanto à necessidade de políticas econômicas diretivas, seja para conduzir a economia ao pleno emprego, no caso keynesiano, seja para equilibrá-la, no caso walrasiano. Por outro lado, as tentativas de “keynesianos” e “ortodoxos” de distorcer e/ou rebater Keynes passam pela consideração de modelos de equilíbrio geral. A moeda não tem relevância no esquema analítico original walrasiano. Por outro lado, o esquema walrasiano é considerado pela “ortodoxia” – a despeito da posição do autor – como uma situação predominante e totalmente auto-determinada. Em se tratando de um esquema de equações de equilíbrio de curto prazo, a única saída encontrada à época por Walras foi incorporar a moeda como uma mercadoria (com a concessão do bem “liquidez”), e fazer uma importante ressalva sobre a necessidade de controle monetário nas flutuações de preços, observação essa aparentemente ignorada pela ortodoxia. Os aspectos considerados tiram a consistência das tentativas de enquadrar a Teoria Geral como um caso particular. E parecem colocar o Equilíbrio Geral exatamente nessa situação.

É imperioso registrar que as especificidades associadas à moeda keynesiana, considerando a incerteza, dão solidez à teoria keynesiana, enquanto a restrição de papéis dados à moeda pela visão de curto prazo do equilíbrio geral walrasiano – reduzindo-a praticamente a numerário e mercadoria - retiram da abordagem de equilíbrio geral a especificidade que a moeda recebeu em Keynes. Esse debate também, no caso de novos-keynesianos e Tobin, centra-se na insistência dessas duas correntes de enfatizar o papel da rigidez de preços e salários, quando a preocupação na Teoria Geral e outros trabalhos de Keynes está centrada na incapacidade da moeda e outros ativos líquidos apresentarem as mesmas características associadas aos chamados bens reproduzíveis Claro deve estar que foram enfocados algumas correntes e autores de uma “legião” que procuram desautorizar a Teoria Geral, enquanto Teoria Geral, dada a impossibilidade de cobrir todas as possibilidades. Com isso, pretendeu-se dar uma visão geral desse substancial debate.

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