A geopolítica brasileira na constituição do eixo de integração de desenvolvimento: Manaus/Caribe
Descrição do Produto
RELEM – Revista Eletrônica Mutações, julho – dezembro, 2012 ©by Ufam/Icsez
A geopolítica brasileira na constituição do eixo de integração de desenvolvimento: Manaus/Caribe Wendell Teles de Lima¹ Rita Dácio Falcão2 Iatiçara Oliveira da Silva3 Nilson César Fraga4 Antônia Marinês Góes Alves5 Francilene dos Santos Cruz6 Artemízia Rodrigues Sabino7 Resumo A geopolítica brasileira corresponde a retomada do Estado como agente territorializante tendo a Amazônia como base de projeção internacional. Nesse sentido, o Eixo de Integração e Desenvolvimento (EID) configura-se como área estratégica da geopolítica nacional e internacional através de corredores de controle de ação estatal. Para compreensão desse fato realizamos estudo baseado na constituição do eixo de integração e desenvolvimento estabelecido na área de abrangência da BR-174, tendo como objetivação as ações geopolíticas do Estado. Foi realizada uma análise bibliográfica tendo como enfoque a constituição dos EIDs, onde as concepções do Brasil claramente evidenciam e demonstram seu interesse na ampliação do seu mercado em direção ao Caribe, como um aumento de sua influência nas áreas adjacentes e controle de suas fronteiras. Palavras-chave: Amazônia; BR -174; Eixo de Desenvolvimento; Geopolítica.
established in the area covered by BR 174, regarding the State’s geopolitical actions. In order to do so, literature review was conducted with focus on the IDA constitutions – where conceptions of Brazil clearly evidence and demonstrate the interest in expanding the market towards the Caribbean, for an increase of influence in adjacent areas andborders control. Key-Words: Amazon; BR -174; Axis Development; Geopolitics.
Abstract Brazilian geopolitics is represented by the resumption of the State as a territorializing agent, with Amazonia as the basis for the international recognition. In this sense, the Integration and Development Axis (EID, in portuguese) is configured as a strategic field for national and international geopolitics through control corridors of actions of the State. To understand this fact, we have conducted a study based on the constitution of the integration and development axis
como destaque áreas de atuação do governo
Introdução Numa
“nova
fase”
do
Estado
brasileiro a partir dos anos de 1990, começa a ser revisitada a preocupação de inserção do Brasil no “novo” sistema-mundo, através do retomada da geopolítica estratégica, tendo brasileiro pela Amazônia. Nessa perspectiva, enquadram-se os Eixos de Integração e Desenvolvimento (EIDs), lançados em 1996, no contexto do Programa Brasil em Ação. Eles fazem parte de uma estratégia que tem como ponto de partida a Integração de
__________________________________________________________________ ¹ Professor do Centro de Estudos Superiores de Tabatinga/Universidade do Estado do Amazonas. Graduado em Geografia/Mestre em Geografia e Doutorando em Geografia pela UFPR 2 Professora do Centro de Estudos Superiores de Tabatinga/Universidade do Estado do Amazonas. Graduada em Geografia/Especialista em Educação Inclusiva 3 Professora do Centro de Estudos Superiores de Tabatinga/Universidade do Estado do Amazonas. Graduada em Ciências Biológicas, Mestre em Genética, Doutoranda em Educação Ambiental UFSC. 4 Professor da Universidade Estadual de Londrina mestre em Meio Ambiente, Doutor em Geografia pela UFPR. 5 Professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas. Graduada em Linguística/ Cursando Especialização em Linguística 6 Professora do Centro de Estudos Superiores de Tabatinga/Universidade do Estado do Amazonas. Graduada em Matemática/Especialista em Ensino de Matemática no Ensino Básico e Ensino Superior. 7 Professora do Centro de Estudos Superiores de Tabatinga/Universidade do Estado do Amazonas. Graduada em Matemática/Especialista em Ensino de Matemática no Ensino Básico e Ensino Superior.
Infraestrutura Regional da América do Sul
algo novo. No entanto, a escolha deve-se ao
(IIRSA). Esse programa tem como finalidade
fato de sua projeção, no cenário amazônico,
o processo de regionalização sul-americano,
tendo como metas: a) o incremento do
que desemboca no discurso da estratégia
escoamento da produção da Zona Franca de
brasileira em 1992 ao delimitar a esfera
Manaus (ZFM)1 para os mercados Caribenho,
política regional de atuação na América do
Central e Norte-Americano e b) a utilização e
Sul.
revalorização dos recursos naturais, dando
A
IIRSA
norteadores:
tem
como
Regionalismo
princípios Aberto
-
uma nova conotação.
Conceber o continente sul-americano como
Nessa direção, foi criado na capital
um espaço geoeconômico integrado em que
amazonense o Centro de Biotecnologia da
se pretende a redução das barreiras internas
Amazônia (CBA), tendo como finalidade
ao
na
produzir valor agregado aos recursos naturais
infraestrutura e nos sistemas regulatórios e
da região, e implantada a EID Manaus-
operativos. Dentro do Programa da IIRSA
Caribe, caracterizada pela área de expansão
temos os EIDs com a finalidade estabelecida
do capital, contendo áreas indígenas, reservas
na concepção do Regionalismo Aberto, onde
ambientais, populações que praticam a
a região é organizada ao redor de franjas
agricultura familiar o que é algo a ser
multinacionais que concentram fluxos de
considerado na sua constituição. É uma área
comércio atuais e potenciais, em que se
de importância política, como ponto de
busca implementar um padrão mínimo e
intercessão entre os oceanos Pacífico e
comum
Atlântico.
comércio
de
e
de
serviços
Sustentabilidade Ambiental
e
ineficiências
de
infraestrutura;
Econômica
Social
revisão
da
bibliografia
-
procuraremos demonstrar a ação do Estado
Sustentabilidade econômica, proporcionada
na Constituição do Eixo de Integração e
pela
Desenvolvimento como estratégia geopolítica
eficiência.
Político-Institucional
Nesta
A
compreensão
e
o
funcionamento dos EIDs são fundamentais
atual
no sucesso do Programa. É importante
consideramos ser necessário compreender o
entender que o eixo não tem a função de polo
seu processo de territorialização histórica,
de
visa
por isso procuraremos traçar a trajetória do
dinamizar uma área de abrangência maior,
Estado e sua ação na Amazônia e na zona de
fazendo parte do macro desenvolvimento e
fronteira.
desenvolvimento,
sua
atuação
e
seus
significados.
Para
isso
visando uma estratégia geopolítica de busca da inserção do Brasil no mundo através de uma estratégia. No nosso caso de estudo, constatamos que as áreas de escolha para esses eixos já possuem certo dinamismo na região. A escolha da BR 174 pode parecer
1
Na atualidade passou a ser denominada de Polo Industrial de Manaus (PIM), tendo em vista a mudança de objetivos, novas estratégias e novos desafios decorrentes do processo de globalização, o que resultou no redimensionamento de seu papel na região Amazônica.
Resultados e Discussão: Decifrando
como os capitais nacionais e internacionais
as Estratégias Geopolíticas do Estado
necessitavam de matéria-prima e de novos
brasileiro
mercados de consumo e de novas áreas de
As políticas territoriais voltadas para a
Amazônia
estratégicas
foram
permeadas
geopolíticas.
processo
de
amazônico
No
formação
do
expansão, de modo que possibilitassem,
por
consequentemente, o avanço da exploração
do
em áreas até então consideradas inativas
início
território
economicamente.
não havia o interesse dos
A
portugueses pela região. O baixo contingente
brasileira
populacional
recursos
arquipélago brasileiro2 para a consolidação e
econômicos fizeram com que a Coroa
ampliação de seus interesses. O surgimento
utilizasse outra forma de uso da Amazônia.
de Getúlio Vargas é a prova do começo de
e
a
falta
de
política tem
econômica
como
meta
burguesa
o fim
do
um novo rumo a ser tomado pelo Brasil. No vale do Amazonas, a Coroa estimulou a ação das missões, que tornaram as maiores exportadoras das “drogas” (canela, cravo, salsaparrilha, cacau-nativo), além de produzirem alimentos para a subsistência e deterem o monopólio sobre a mão-de-obra indígena. Fortes e missionários penetram profundamente no território amazônico assegurando a futura soberania de Portugal numa área imensa, ainda que com fraca base econômica e esparsamente povoada (BECKER, 1999, p. 45).
Assim, a quebra da política do Café com Leite significou o fim da hegemonia da classe
agrária
industrialização,
e
a
ascensão
como
da
elemento
pretensamente modernizador do país. O Estado Novo na direção de Vargas intensificará o novo processo do momento vivido, a reorganização do território se fará ao longo do devir histórico, algumas diretrizes nesses sentidos serão tomadas o de valorização das regiões menos favorecidas (COSTA, 1995, p. 23).
A formação de uma nova divisão territorial do trabalho em nosso país a partir
A construção da linha de crédito e
da década de 1930 e a hegemonia de um
incentivos fiscais na Amazônia e no Nordeste
projeto político ocupacional de Estado
faz parte de uma política complementar de
estabelece território,
uma ou
nova
seja,
a
“armadura”
ao
desenvolvimento
necessidade
de
industrialização
do
processo
e estratégia
de
do Estado
incorporação de áreas a serem captadas pela
brasileiro, em que o desenvolvimento das
necessidade
2
do
capital
internacional
e
nacional. Para o Estado era importante o domínio e a incorporação de áreas para seu estabelecimento
e
fortalecimento,
assim
Contexto voltado para si em espaços que se consideram como privilegiadas para a execução do capital, logo, não os demais espaços eram tidos como impróprios ou não atraentes ao ingresso e a expansão do denominado “desenvolvimento” econômico. Com isso, todo um processo pensado de exclusão econômica com repercussões nos aspectos políticos e sociais.
regiões periféricas está condicionado às
de fora, ou seja, do capital nacional e
próprias
divisão
internacional. O autor reformula a proposta
territorial do trabalho, criado pela ascensão
de fronteira de recursos, oportunidades, da
do Estado de São Paulo. Portanto, as novas
expansão, para afirmar que a sociedade
áreas de industrialização ou ilhas são na
brasileira e mundial que não estava na região
realidade partes complementares de uma
não tinha qualquer noção acerca da vivência
economia pautada no capitalismo ocidental,
das populações amazônicas.
necessidades
da
nova
sendo que esses incentivos ou a incorporação
O Estado sempre foi um ator principal
dessas regiões agravarão ainda mais os
na construção e/ou forjamento da região,
problemas internos dentro do âmbito desses
sendo que isso remonta até mesmo à época
próprios territórios.
do Estado Imperial português, com suas
A
situação
“crescimento”
políticas voltadas para o processo de
econômico gerou profundas transformações.
consolidação do espaço amazônico, por meio
As fronteiras de expansão agrícola tiveram
dos
aqui seu surgimento. Na concepção de
Amazônia, da captura da hileia amazônica
Becker (1999), essas fronteiras terão um
por diferentes políticas, conforme afirma
papel dinâmico na região, pois estabelecem
Costa (1995) como esfera privilegiada da
marcos
ação do Estado.
de
de
atuação
de
diferentes
grandes
projetos
voltados
para
territorialidades, muitas vezes conflitantes
Desse modo, verifica-se que as
entre si, no entanto tem como predicativo de
políticas estão direcionadas para o controle
ser a fronteira das oportunidades, do novo e
da região por meio de organismos estatais,
3
do velho ao mesmo tempo, funcionando
como
a
Superintendência
como um mosaico de realidades que encontra
Desenvolvimento da Amazônia (Sudam),
terreno fértil dentro da própria dinâmica de
sucedânea da Superintendência do Plano de
expansão amazônica.
Valorização
Econômica
da
de
Amazônia
Fazendo uma crítica às concepções de
(SPVEA). Ela fortaleceu o controle do
compreensão sobre a Amazônia e abordando
Estado, assim como a superposição de
a problemática da concepção trabalhada da
territórios
região como zona de fronteira, Nogueira
concomitantemente estabelecendo a criação
(2007)
foi
de áreas da União nas Unidades Federativas
prejudicial tendo em vista ser uma visão dos
do Norte do país, o que de fato se
demonstra
que
essa
visão
(BECKER,
1999),
consubstancia como o poder de barganha 3
O velho apresentado aqui traz a ideia do conceito de rugosidades (SANTOS, 1985, p.54; 1996, p. 113), no qual refere a estruturas de tempos pretéritos, mas que se presentificam na atualidade, como testemunhos de uma época. Assim, esses conceitos podem visitados em: SANTOS, M. Espaço & Método. São Paulo: Nobel,1985. SANTOS, M. A natureza do espaço. Técnica e tempo. Razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1996.
frente à realidade regional, mas que encontra ressonância política para se consolidar como estratégia de totalidade territorial. A
possibilidade
de
criação
de
Territórios Federais na Zona de Fronteira é
um lado, a inserção competitiva no cenário internacional. No plano doméstico, razões de equidade: a redução das disparidades econômicas entre os estados que vinha ocorrendo desde 1970 e foi interrompida devido à crise fiscal do Estado e à consequência queda de investimentos públicos, cuja importância relativa como fonte de crescimento do PIB tende a ser maior justamente nos estados menos desenvolvidos. Para tanto, necessárias se faze a descentralização e a plena utilização sustentável do território. (BECKER, 1999, p. 36).
uma possibilidade real de se operacionalizar na Amazônia, conforme é apontado por Lima (2007) e Lima et al. (2008), o que significa cristalinamente o propósito da ação de controle do Estado-nacional. Todos os mecanismos utilizados de incorporação da Amazônia pelo Estado nacional não levaram em consideração os povos existente na região, conforme pode ser observado em Becker (1999), Amaral (2004), Mello
(2006)
e
Nogueira
(2007),
pesquisadores os quais ressaltam que a política de territorialização sempre advém de práticas que pouco se identificam com a realidade da região. tocante dos EIDs estabelecidos como área cruciais ao desenvolvimento do território brasileiro, é de se notar que o governo visa atualmente não só o escoamento e a produção de mercadorias, serviços e pessoas, mas o desenvolvimento ou a continuação do projeto geopolítico para o país. Ação,
são
pontos
uma das críticas é feita já no estabelecimento de sua formulação, portanto, na sua própria justificativa, apontam os objetivos desse programa,
as
metas
e
as
políticas
desenvolvimentistas que não fogem à lógica dos
Grandes
Projetos
e
das
políticas
estabelecidas para o país, cujo contexto é dado ênfase ao crescimento. Outro ponto
O programa chamado primeiramente em
prerrogativas
fundamentais nas políticas dos EIDs, porém
A respeito destes argumentos e no
Brasil
Essas
em
1996,
depois
denominado de Avança Brasil, após a reeleição de Fernando Henrique Cardoso, retoma as políticas territoriais passadas e fortalece um plano estratégico que considera muito mais o capital especulativo do mercado que a inserção digna das pessoas do bioma.
nevrálgico é em relação às disparidades regionais, em que fica demonstrado que as políticas direcionadas para regiões como a Amazônia
e
Nordeste
ocorridas
por
incentivos governamentais por meio de financiamentos
e
incentivos
fiscais,
atenderam somente uma parcela de atores, tendo assim, como ponto principal o capital nacional ligado ao Centro-Sul e as empresas multinacionais
A justificativa dos EID se fundamenta em necessidade internas e externas da retomada dos investimentos produtivos e da redefinição do papel do Estado. De
que
não
possuem
um
compromisso real com a região, tampouco com sua população.
A esse respeito Gonçalves (2005, p.
enquanto, os eixos de integração na visão
61) argumenta que o fortalecimento do Brasil
atendem
um
ponto
especifico
de
um
como “arquipélago” é base de constituição
território, mas não seu conjunto integral. No
dos EIDs, e visam o escoamento da produção
Plano Plurianual 1996-99 foram definidos os
econômica, sem a preocupação de integrar o
seguintes eixos, tendo como finalidade,
país, mas sim a economia e as necessidades
objetivos diferenciados entre os tais eixos,
do mercado mundial.
conforme exposto:
O processo de constituição dos eixos de desenvolvimento é assim demonstrado de
a) Eixos Nacionais: 1. Eixo de Integração Norte-Sul, Eixo de integração Oeste, Eixos de Integração do Nordeste, Eixos de Integração do Noroeste, Eixos de Integração Sudeste, Eixos de Integração sul, b) Eixos Continentais: 1. Saída para o Caribe, Saída para o Pacífico. (SENHORAS & GUZZI, S.d., p. 2-4).
forma crítica de que não levaram em consideração as áreas de sua abrangência, ou seja, as populações locais onde passaram os mesmos não serão incluídas, o que reafirma o princípio utilitarista utilizado pela Plataforma de
Exportação
para
atendimento
das
necessidades do mercado externo. Essa concepção, segundo assegura
O escoamento da produção de grãos e
Gonçalves (2005), não é a integração entre o
o incentivo nos transportes intermodais são
comprometimento social com as populações
as metas de constituições dos eixos nacionais
por onde estão estabelecidos, antes de tudo
na concepção apresentada por Senhoras e
traduz o aprofundamento de desigualdades
Guzzi
que são mascaradas e cujos sintomas são
continentais voltados para a consolidação de
percebidos tanto no campo quanto nas
rodovias integradoras e escoamento da
condições precárias que perenizam nas
produção visa os mercados do Caribe e da
cidades, sobretudo naquelas com maior
América do Norte.
regiões
nem
o
fortalecimento
e
(1990).
O
projeto
dos
eixos
Essas diferenciações dos eixos foram
contingente populacional. Na visão de Senhoras e Guzzi (1990),
novamente reformuladas na segunda gestão
a escolha dos eixos de desenvolvimento
do presidente Fernando Henrique Cardoso,
fazem parte do princípio da integração de
embora todos sejam considerados como
áreas e do direcionamento estratégico das
prioritários para a projeção do país. As
políticas territoriais tendo em vista agora o
concepções de integração interna, ou seja, do
conjunto
um
fortalecimento da “armadura” do território
diferenciador dos pólos de crescimento. Estes
por meio do escoamento da produção de
possuem o objetivo de um crescimento
grãos,
pontual, seguido pela radiação condicionada
“solidariedade” intra-regional como, por
do sucesso ou não da localidade escolhida,
exemplo, na região Nordeste. As conotações
do
país,
sendo
assim,
auxiliam
no
fortalecimento
da
dadas aos eixos do Caribe e Pacífico
demonstra sua eficácia ao adotar o discurso
demonstram a estratégia geopolítica do
da segurança das fronteiras e dos recursos
Estado
naturais
brasileiro
de
maneira
clara
e
evidenciam a projeção do país em sua estratégia
política
de
agir
interna
Esses propósitos já integravam a parte da projeção geopolítica que precediam a própria “armadura” territorial marcado pelo constante interesse do controle das bacias sendo
essas
fruto
das
estratégias observadas na geopolítica do Império Português. Com isso, visava-se o controle de mercadorias, escoamento de produção e a hegemonia regional, por meio de duas frentes específicas de atuação: a) na Bacia
Platina,
com
a
intenção
do
esfacelamento do vice-reinado espanhol, mais especificamente da Argentina, no controle da foz do rio da Prata, via incorporação da Cisplatina (Uruguai); b) e o livre acesso à navegabilidade dos rios, em decorrência do possível isolamento do Mato Grosso. Essas políticas foram seguidas ao longo dos tempos e se consolidaram na República, como pode ser constatada pelas construções da Usina Hidroelétrica de Itaipu, da ponte binacional ligando Brasil e Paraguai e da ferrovia que liga Corumbá (MS) à Bolívia e ao restante do Centro-Sul do país. Em tal cenário de realização territorial, em que as estratégicas se consolidam como no Tratado
de
Cooperação
da
necessidade
de
desenvolvimento.
e
externamente.
hidrográficas,
e
Amazônico
concebido em 1978 em que a geopolítica utilizada pelo Estado Nacional habilmente no controle hegemônico da região amazônica
Desde o passado, os países amazônicos vêm mantendo o propósito de salvaguardar seu patrimônio, mesmo em situação desfavorável, mas faltam condições ideais para atingirem esse objetivo. Deste modo, a busca de uma estratégia adequada para assegurar o desenvolvimento desse patrimônio passou a ser uma meta difícil de alcançar. Foi sentida a necessidade de que os Países Amazônicos voltassem para si próprio. O caminho escolhido foi a elaboração de um tratado multinacional, que tivesse condições de desenvolver a Amazônia por meio de promoção cientifica e tecnológica; do intercâmbio de informações; da utilização racional dos recursos naturais; da liberdade de navegação nos rios amazônicos; na preservação do patrimônio cultural; na criação e na operação de centros de pesquisas; na expansão de infraestrutura de transportes e comunicações e no incremento do turismo e comércio. Sob esse aspecto, nasceu de uma iniciativa brasileira o Tratado de Cooperação Amazônico (TCA), inspirada na necessidade de institucionalizar e orientar o processo de cooperação regional que vinha desenvolvendo e crescentemente, sobretudo aos longos dos anos 60 e 70. Apesar de ter sido assinado em 1978, o TCA conhecido por Pacto Amazônico, somente entrou em vigor no mês de agosto de 1980 (DOMINGUES, 2006, p. 67).
A Saída para o Pacífico, na porção sul da Amazônia, e o Caribe, na parte norte
Americana e porção central e norte da América do Norte:
dessa região, fazem parte desse ideal de projeção que tem com ponto de apoio aos EIDs, em nosso caso de estudo o eixo referese a Manaus-Caribe que tem como artéria a BR-174. A entrada da Venezuela no Mercado Comum do Sul (Mercosul) é um dos elementos estratégicos do governo brasileiro de atuação da busca do mercado do Caribe e de sua projeção geopolítica latino-americana por esse eixo. A estratégia geopolítica brasileira fica mais nítida quando a relacionamos ao pensamento de ideólogos do regime militar, que
propagaram
seus
pensamentos
adquiridos na Escola Superior de Guerra (ESG), constituída no regime militar e que serviu no início de linha norteadora para as políticas internacionais de projeção interna e externa de nosso país. Em nosso interesse particular, a rota
Travassos deu sua contribuição ao Tenentismo através de estudos de Geopolítica Brasileira concebidos com base em uma ideia tão simples quanto criativa: um sistema de oposição entre massas continentais e oceânicas. Segundo ele, os oceanos Atlântico e Pacifico, pela sua dimensão e localização, moldariam na América do Sul interesses distintos, semelhante às bacias hidrográfica Amazônica e Platina. O militar observou que, pelas suas grandes dimensões territoriais, o Brasil se veria compelido atuar historicamente sobre esses quatro objetos geográficos a partir de uma zona de inflexão no centro da América do Sul, onde se localiza a Bolívia. Esse país, para ele, seria o ponto de encontro de interesses continentais e oceânicos, de forma que a projeção geopolítica do Brasil sobre o continente pela sua hegemonização [...] (TRAVASSOS apud VIEIRA, 2006, p. 54).
para o Caribe – mas não somente essa – aparece como complemento à projeção de pretensões complementares na Bacia do Pacífico, que tem como ponta de entrada o mar caribenho que é na realidade o elo entre o
antagonismo
entre
as
duas
bacias
oceânicas. Em tal contexto, as contribuições de Travassos, Golbery e Meira Mattos foram importantes para a definição da geopolítica brasileira (VIEIRA, 2005). Essa importância de atuação é demonstrada como destino manifesto do Brasil diante da América Latina e da possibilidade concreta de atingir aos mercados da Ásia, Oriente, Costa Oeste
A dinamização da fronteira agrícola em direção aos cerrados roraimenses, até mesmo em função da expansão capitalista e da proximidade
geográfica,
parecem
ter
dinamizado essa lógica da transposição da fronteira setentrional do país para além de seus limites territoriais. Exemplo disso é o desmembramento do Estado do Amazonas na era Getulista e a criação de territórios tampões – em nosso caso de análise refere-se ao Território do Rio Branco, atual Roraima, com a função não só da vigilância ou aparato da fronteira Brasil-
Venezuela, cuja estratégia era na realidade
em decorrência das terras indígenas e a
implantar o ideário da projeção futura do
formação de outra nação hegemônica, mas
Brasil em relação ao Caribe, o que se
também na relação econômica, o que
concretiza com a elevação do Território
evidencia a ampliação de poder de nosso
Federal de Roraima em Estado no ano de
país.
1988,
assim
como
com
a
criação
e
consolidação da PIM, sucedâneo da ZFM,
Becker (2000) considera que os Eixos Nacionais de Integração e Desenvolvimento configuram-se como espaços selecionados para acelerar a produção, pois já dispunham de um potencial compatível com as condições de competição em tempos de globalização. Uniram-se condições territoriais favoráveis aos objetivos de integração e articulação o desenvolvimento ao longo desses eixos, consolidando acessos e integrando parcelas dinâmicas rurais com o mercado internacional. Este critério, na verdade, reproduz em velocidade muito maior as formas de organização da produção capitalista que sempre fundamentaram na busca da redução do tempo de circulação, elementos que estão na origem de uma seletividade econômica e espacial, e que atualmente as novas técnicas de informação e de comunicação não farão mais que amplificar (BECKER apud MELLO, 2006, p 273).
como polo eletroeletrônico da América Latina, o que de fato tem aumentado a importância
brasileira
geopolítica
e
asfaltamento
conclusivo
da
econômica. O
constituição da BR-174, a criação e a ampliação do Projeto Calha Norte, que visa dinamizar
as
zonas
de
fronteira,
são
componentes da estratégia geopolítica de projeção do Brasil na Fronteira Setentrional Ocidental do Norte do País, e comprovam o ideário há muito tempo planejado para a região. Sendo assim, o eixo de integração Manaus-Caribe é parte dessa estratégia geopolítica de controle, não somente ao que se refere aos aspectos territoriais e militares, mesmo considerando as opiniões divergentes sob uma possível intervenção estrangeira4, 4
É preciso esclarecer que do ponto de vista dos países limítrofes ao Brasil, especialmente a Venezuela, há certo receio de parcela da sociedade nacional que provavelmente ocorra a tomada de território, considerando a questão política que envolve o país vizinho. Essa possibilidade, no entanto, parece-nos bastante remota em decorrência das condições de armistício daquele país. Talvez uma potência como a norte-americana ou de outro continente com condições de logística militar possa buscar essa intenção, mas nos dias atuais a grande questão não é necessariamente o território e sim o mercado, o que inclui matérias-primas. De todo modo, as grandes corporações internacionais já dominam tecnologicamente esses setores. Há que se observar a lógica do capitalismo e ver que ela é a mesma em todo o planeta. Assim, fica a pergunta: o capitalismo desenvolvido por empresas brasileiras é melhor do que o praticado por empresas europeias, americanas, canadenses, japonesas ou coreanas? Pensamos que não. Trata-se de uma
A
instalação
científico-informacional
do ou
meio agora
técnicoVetor
Técnico Ecológico (VTC) na Amazônia configura-se como uma plataforma para a projeção de diferentes redes e ações no território amazônico. Além de questões de ordem ecológica, ganha importância como lógica em que o poder econômico sobrepõe a população ao território, à cultura e a outros fatores importantes, cujo objetivo maior é a acumulação, mesmo que isto signifique a exaustão dos recursos, do meio ambiente e do banimento dos modos de vida.
novo paradigma a noção de apropriação da
áreas dinamizadas, o que pode agravar ainda
Amazônia para a acumulação de capital
mais a pressão sobre os recursos naturais.
(BECKER, 1999).
Este é um quadro que merece reflexão
As estratégias das redes recortam o
especial, considerando as condições de
território amazônico, onde a ação do Estado
ocupação amazônica, sobretudo a partir da
provoca lógicas territoriais até então nunca
década de 1970, com a colonização oficial da
vistas na região. A fundação de Organizações
Amazônia.
Não Governamentais (ONGs), além da organização
de
questões ambientais e a importância da
comunidades já existentes na região, dão um
utilização da biodiversidade da Floresta
novo entendimento acerca do gerenciamento
Amazônica, esses pontos são cruciais para o
do Estado, agora também compartilhado por
desenvolvimento dos projetos dos eixos na
novos protagonistas. O peso dado a essas
Amazônia, em especial o de Manaus-Caribe.
lógicas territoriais é fundamental nas novas
Trata-se de uma área de alerta a ser utilizada
políticas norteadoras. Por meio das ações
de forma consciente e participativa, por se
desses protagonistas e o seu grau de
tratar
intervenção,
multifacetadas.
diferenciadas
e
fortalecimento
Tendo em vista a emergência das
notam-se de
realidades
compreensão
espaço-
de
sítios
práticas
Presidente
objetivos
propostos
na
configuração territorial.
mosaico
de
realidades
Nesse Eixo situam-se também os
temporal, com ganhos obtidos por diferentes e
um
arqueológicos
do
Figueiredo,
município com
sua
de rica
biodiversidade e belezas cênicas presentes
Aqui não estamos nos restringindo
em cachoeiras e cavernas, mas que em seu
aos grandes protagonistas territoriais, como o
contexto
Estado
corporações
Hidrelétrica de Balbina, no rio Uatumã, os
empresariais, mas a uma gama de atores que
rizicultores de Roraima e o processo de
ganha força com as redes. É imperativo
garimpagem na fronteira com a Venezuela.
destacar
na
Esses fatores deveriam ser componentes das
Amazônia, cujo dilema situa-se entre o
políticas de integração do EID Manaus-
desenvolvimentismo e o ecologismo. Sobre a
Caribe, levando em conta a projeção para a
problemática
práticas
bacia caribenha, mas parece que eles
territoriais, Mello (2006) compreende que as
atualmente são notas de rodapé ou um
estratégias de projeção ocorridas de forma
apêndice que quase ninguém lê ou questiona.
muitas vezes superficiais consideram o valor
Desse modo, resta a reflexão: a quem
e
o
as
grandes
ordenamento
que
envolve
territorial
as
regional
esse
envolve
a
desenvolvimento,
Usina
agregado à natureza como uma das criticas
interessa
essa
feitas aos EIDs. Isto é, muitos deles não
“integração” a qualquer custo? O que o
levam em consideração o ambiente ou a
mundo científico pode fazer? Até que ponto a
natureza em que estão às populações das
sociedade amazônica, principalmente os mais
atingidos, pensa e age a respeito da situação?
iniciadas desde o período imperial e que se
São
encontram em fase de consolidação.
perguntas
com
poucas
respostas,
enquanto isso o que se verifica é o avanço indiscriminado
sobre
rios,
florestas
e
A Amazônia é parte importante dessa conjuntura, que além da projeção do país no
populações indígenas e tradicionais, as quais
cenário
internacional
assistem ao avanço incessante da lógica do
preocupação geopolítica com o futuro da
capital.
região
e
a
se
consolidação
molda da
na
fronteira
setentrional norte-ocidental de nosso país. O Conclusões
bioma, assim, forma-se a partir de um alto
A construção dos EIDs na Amazônia
grau
de
complexidade
e
mediante
a
representa uma nova fase de planejamento
diversidade da realidade que compõe o
territorial,
cenário de configuração desses territórios.
ou
planejamento
seja, por
a
parte
retomada da
do
União.
A
concepção dada aos eixos difere em sua metodologia
diante
da
dos
polos
de
crescimento e também diante de políticas territoriais anteriores. Esse desenvolvimento é proposto de forma integrada, buscando a inserção do país no cenário mundial e não privilegiando
alguns
lugares
e
regiões
específicas, mas sim a totalidade do conjunto territorial nacional. O
Estado
brasileiro
visa
o
desenvolvimento interno e a construção de relações comerciais e cooperações externas por meio da efetivação dos EIDs. Nesse contexto,
entende-se
que,
além
da
importância econômica que move o país nas projeções
geopolíticas,
constitui
como
integrante de sua estrutura o eixo ManausCaribe, a partir do qual a intencionalidade brasileira é se projetar na zona da bacia caribenha. Entretanto, deve-se observar que essas
metas
paulatinamente
estão
se
constituindo de modo a agregar as várias estratégias dos governos civis e militares,
Referências Bibliográficas AMARAL, J.J.O. Mata Virgem terra prostituída. Porto Velho: Terceira Margem, 2004. BECKER, B. K. Os eixos de integração e desenvolvimento e a Amazônia. Revista Território, Rio de Janeiro, nº 6, jan./jun. 1999. Disponível em: ˂www.revistaterritorio.com.br/pdf/06_4_becker. pdf. p. 29-42˃. Acesso em: 15 de jul.2010. COSTA, W.M. O Estado e as Políticas Territoriais no Brasil. São Paulo: Contexto, 1995. DOMINGUES, L.F. O tratado de cooperação amazônica e sua repercussão no processo de integração/cooperação dos países-membros na expressão de sua soberania frente à ameaça internacional. Revista Jurídica, Brasilia, n. 78, abril/maio, 2006, Disponível em: ˂http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/Re v_78/artigos/PDF/LeyzaDomingues_78.pdf. p. 64-72˃. Acesso em: 15 out. 2010. GONÇALVES, C.W.P. Amazônia, Amazônias. São Paulo: Contexto, 2005. HAESBAERT, R. O Mito da Desterritorialização. Do “Fim dos Territórios” à Multiterritorialidade. 2ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.
_____. Dos múltiplos territórios à multiterritorialidade. Disponível em: ˂http://www6.ufrgs.br/petgea/Artigo/rh.pdf˃ . Acesso em: 15 dez. 2010. LIMA, W.T. Ideologias Geográficas: As Concepções sobre a Divisão Territorial do Estado do Amazonas: um Velho e Novo Debate. 2007. 162p. Dissertação (Mestrado em Geografia), Faculdade de Tecnologia, Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho, 2007. Disponível em: ˂http://www.mestradogeografia.unir.br/disse
rtacao/wendel.pdf.˃. Acesso em: 10 out. 2010. _____; ALMEIDA, Adnilson Silva de; SOUZA, L.F. Divisão Territorial do Amazonas: Um novo debate?. In: 7º Colóquio de Transformações Territoriais do Comitê Acadêmico de Desenvolvimento Regional da AUGM. v. I. Curitiba: EDUFPR/AUGM/Esplendor, 2008. MELLO, N.A. Políticas Territoriais Amazônia. São Paulo: Annablume, 2006.
na
NOGUEIRA, R.J.B. Amazonas a divisão da “monstruosidade geográfica”. Manaus: EDUA, 2007. SANTOS, M. Espaço & Método. São Paulo: Nobel, 1985. _____. A natureza do espaço. Técnica e tempo. Razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1996. SENHORAS, E.M & GUZZI, A.C. A Amazônia, o Pacífico e a problemática da integração de infra-estrutura regional na América do Sul. 1990. Disponível em: ˂http://www.santiagodantassp.locaweb.com.
br/br/arquivos/nucleos/artigos/eloi01.pdf˃. Acesso em: 15 jul. 2010. VIEIRA, F. B. Matrizes teóricas da Geopolítica brasileira: as contribuições de Travassos, Golbery e Meira Mattos. Dissertação (Mestrado em Geografia).Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2005. _____. A Geopolítica Brasileira: um caso de “Destino Manifesto”? Revista de Economia
Política e História Econômica, número 06, dezembro de 2006. Disponível em: ˂http://www.rephe01.googlepages.com/rephe 06textobrum.pdf˃. Acesso em: 15 jul. 2010.
Lihat lebih banyak...
Comentários