A GESTÃO DAS CADEIAS DE SUPRIMENTOS E A PRÁTICA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

July 1, 2017 | Autor: Felix Larrañaga | Categoria: International Relations, Supply Chain Management
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A GESTÃO DAS CADEIAS DE SUPRIMENTOS E A PRÁTICA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS Professor Doutor Félix Alfredo Larrañaga São Paulo, 04/12/2014 Introdução A expressão relações internacionais designa o campo acadêmico fundado em 1919, quando foi criada a primeira cadeira acadêmica na Universidade de Gales, no Reino Unido, sob a denominação de Cadeira Woodrow Wilson de Política Internacional. Essa expressão define, também, o objeto de estudo das Relações Internacionais, a partir do seu marco histórico de 1648 quando foi assinada a Paz de Vestefália dando fim a Guerra dos 30 Anos. Esse tratado estabeleceu duas premissas que regem essas relações até hoje e estabeleceram que (a) o governo de cada país é, de forma inequívoca, soberano dentro do seu território e (b) os países não devem interferir nos assuntos domésticos dos outros1. A gestão das cadeias de suprimento designa o processo de administrar fluxos de recursos (humanos, materiais, tecnológicos e de informação) por meio da alimentação de cadeias produtivas, a transformação desses recursos em bens ou serviços e sua distribuição até os usuários finais. Essas cadeias incluem diversos estágios de fornecimento, de transformação e de distribuição, como se indica na Figura 1, que representa a cadeia de suprimentos da divisão impressoras da HP.

Figura 1 – Cadeia de Suprimentos da HP

1

SARFATI, Gilberto, Teorias de Relações Internacionais, São Paulo, Editora Saraiva, 2006, p. 373

A redação do presente texto, exigência do Edital 071/2014 do SENAC para contratação de professores, procura estabelecer a forma de inserção da gestão de cadeias de suprimento na prática das relações internacionais e a situação do Brasil nesse contexto. Para isso deve ser definido o cenário dentro do qual atuam as cadeias de suprimentos e se praticam as relações internacionais. O Cenário Mundial No sistema internacional operam diversos atores dentro das premissas mencionadas, cujas práticas por sua vez estão enquadradas por teorias, paradigmas e os princípios da ciência política (desde o pensamento dos clássicos até os da escolástica, a retórica, o humanismo, o constitucionalismo, o principado, a reforma e a contrarreforma). A Figura 2 representa o cenário mundial no qual as práticas mencionadas acontecem2.

Figura 2 – O cenário mundial

A partir desses conhecimentos, os estados soberanos formulam sua política externa para promover e defender os interesses nacionais, por meio das autoridades nacionais e da participação em organismos internacionais, tais como a ONU, a OMC, FMI, UNCTAD, blocos regionais e outras.

2

LARRAÑAGA, Félix Alfredo, Introdução às Relações Internacionais, São Paulo, 2004, p. 21.

Nível de análise Ele explicita o foco do que se pretende estudar. Nas relações internacionais esse foco pode ser o indivíduo, a sociedade, o estado, organizações supra estatais e, em última instância, o sistema internacional. Analisando as relações entre estados, pode se tentar estudar as relações internas e as externas de cada nação. No caso das cadeias de suprimentos o foco deve ser o conjunto de atores que delas participam tais como fornecedores, transformadores, clientes e prestadores de serviços logísticos diversos (transportadores, fornecedores de armazenagem, de equipamento de movimentação de materiais, se equipamentos e programas de TI, etc.). Analisando as relações entre os atores mencionados pode-se inferir o grau de inserção internacional das cadeias estudadas. Os fluxos indicados na Figura 2 representam as relações entre estados soberanos e o resto da comunidade internacional e correspondem às relações políticas, econômicas e sociais. Essas três categorias identificam três formas de relacionamento que podem ser resumidos da seguinte forma: 

Relações políticas: se dão, por exemplo,nas relações de negociação, de conflito ou de guerra. No momento atual esse tipo de relacionamento pode ser identificado em diversas regiões como Palestina, Iraque, Afeganistão, Rússia ou na Colômbia com seu problema das FARC.



Relações econômicas: que também apresentam relações de negociação (como a formação de blocos regionais ou a negociação para a redução de impostos de importação), de conflito (como os litígios entre EMBRAER com a BOMBARDIER na OMC) e de guerra como quando pela obtenção de recursos se chega a esse extremo (guerras mundiais do século XX).



Relações sociais: como os casos de migrações provocadas por conflitos, o caso dos refugiados, a questão atual do Ebola na África.

A inserção internacional das cadeias de suprimento Por trás das relações identificadas no tópico anterior existem fluxos físicos de recursos e de informação desde diversas origens até diversos destinos e isso acontece através de vários estágios de fornecimento, transformação e distribuição. A administração desses fluxos é conhecida por logística (conceito restrito a empresa, seus fornecedores e clientes) ou gestão de cadeias de suprimento (conceito mais abrangente de

administração dos fluxos de redes ampliadas). Podem-se mencionar alguns exemplos da existência de cadeias de suprimento no ambiente das relações internacionais, tais como: 

No ambiente político é conhecida a administração de fluxos de recursos durante as Guerras do Pacífico, de Vietnã ou na Campanha da Itália (onde o Brasil participou). Qualquer leitura ou filme mostra as enormes quantidades de materiais, soldados, apetrechos, alimentos, munição e outros recursos deslocados desde diversos lugares para os teatros de operações. Esses deslocamentos formavam parte de cadeias estabelecidas para esse fim, desde os recursos até o consumo final. Outros conflitos armados, tão antigos como as Cruzadas ou as Campanhas de Aníbal, mostram cadeias similares.



É sabido que as relações econômicas propiciam a formação de cadeias de suprimento no comércio internacional e nos processos de integração regional (incluindo atividades de transporte, armazenagem e/ou movimentação de materiais). São as mais conhecidas. Um exemplo dessas cadeias fragmentadas é a da Nutella3, apresentada na Figura 3. Nela observa-se que o Brasil participa como fornecedor de açúcar e com algumas fábricas de transformação.

Figura 3 – Rede fragmentada da Nutella

3

thecrankysociologists.com (20/11/2014)

No caso específico do Cone Sul4, a integração às cadeias de valor dos estados membros soberanos pode se interpretar como o sistema indicado na Figura 4. Nesse caso o Mercosul ampliado pode ser considerado um sistema aberto com suas entradas e saídas de recursos pelo Atlântico e pelo Pacífico.

Figura 4 – Sistema logístico do Mercosul ampliado

Os recursos ingressados são processados em unidades de transformação dentro do território do bloco e seus resultados vão a alimentar o mercado interno e o de exportação. Os portos concentradores de carga (HUBs) indicados na figura não existem hoje, mas deverão ser instalados no futuro por motivos de competitividade.

Figura 5 – Rede logística do Mercosul ampliado

4

LARRAÑAGA, Félix Alfredo, Desenvolvimento Econômico no Cone Sul: O Sistema Logístico SubRegional, São Paulo, Aduaneiras, 2002, p. 245.

Outra forma de visualizar as cadeias de suprimento inseridas na prática das relações internacionais no Cone Sul é por meio da rede logística5 do Mercosul ampliado agregada na Figura 5. Nela os fluxos de recursos se indicam pela espessura dos traços, resultando evidente que os fluxos entre Rio de Janeiro e Buenos Aires, passando por São Paulo, Curitiba, Porto Alegre e Montevidéu são os de maior significação. Por trás desses deslocamentos existem atores que configuram cadeias de suprimentos, cuja atuação é fruto ou foi facilitada pela existência de acordos internacionais de comércio ou de integração regional. Estes acordos são uma manifestação da prática das relações internacionais na sub-região. Nessa rede, o fluxo médio anual de negócios dentro do bloco da ALADI6 entre 2011 e 2013, com o resto do mundo e global foi da ordem de quase um trilhão de dólares, tanto para a exportação como para a importação, como indica a Tabela 1. Os valores médios indicam entrada (importação) de recursos da ordem de 895 bilhões e saídas (exportação) da ordem de 928 bilhões.

COMÉRCIO EXTERIOR DO CONE SUL (Milhões de US$) Exportações Ano ALADI RESTO M.

Importações GLOBAL

ALADI RESTO M.

GLOBAL

2011 155.182

763.250

918.432

145.029

719.815

864.844

2012 156.723

770.021

926.744

141.593

748.482

890.075

2013 162.855

774.641

937.496

140.632

789.171

929.803

Fonte: ALADI/SEC/di 2500.3 (06/03/2013) e ALADI/SEC/di 2548.3 (10/04/2014) Tabela 1 – Comércio Exterior do Cone Sul

Brasil e sua inserção nas cadeias de valor O cenário mundial atual é desfavorável para o crescimento do Brasil e sua inserção nas cadeias globais devido a fatos comprovados como a estagnação da Europa, uma

5

LARRAÑAGA, Félix Alfredo, Desenvolvimento Econômico no Cone Sul: O Sistema Logístico SubRegional, São Paulo, Aduaneiras, 2002, p. 112 6 ALADI: Associação Latino Americana de Integração. Por Cone Sul entende-se América do Sul. A ALADI inclui quase todos os países desse continente (N/A).

forte desaceleração econômica no continente asiático, na América do Sul e Caribe e em outras economias emergentes, a queda dos preços das commodities, assim como o surto de Ebola na África.

Considerações finais Ao longo do texto foi identificada a presença de diversas cadeias de suprimento na prática das relações internacionais, o que era o objetivo deste texto. Algumas dessas cadeias que operam no Brasil, além da mencionada Nutella, são as da EMBRAER, a VALE do Rio Doce, a PETROBRÁS, as redes automotivas, a P&G, a Johnson & Johnson e a APPLE. As últimas três pertencem ao grupo das cinco melhores cadeias de suprimentos mundiais de 2013. Simultaneamente esta análise permitiu identificar as perspectivas de crescimento e inserção do Brasil no ambiente internacional, que não resultam encorajadoras em função da situação mundial.

Bibliografia ALADI/SEC/di 2500.3 (06/03/2013) ALADI/SEC/di 2548.3 (10/04/2014) LARRAÑAGA, Félix Alfredo, Desenvolvimento Econômico no Cone Sul: O Sistema Logístico Sub-Regional, São Paulo, Aduaneiras, 2002. LARRAÑAGA, Félix Alfredo, Introdução às Relações Internacionais, São Paulo, 2004. SARFATI, Gilberto, Teorias de Relações Internacionais, São Paulo, Editora Saraiva, 2006. thecrankysociologists.com (20/11/2014)

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