A GESTÃO GOVERNAMENTAL E EMPRESARIAL EM AMBIENTE ECONÔMICO CAÓTICO

July 21, 2017 | Autor: Fernando Alcoforado | Categoria: Management, Sociology, Economics, Development Economics, Public Administration, Strategic Management
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A GESTÃO GOVERNAMENTAL E EMPRESARIAL EM AMBIENTE ECONÔMICO CAÓTICO Fernando Alcoforado* Vivemos em um mundo caótico que, apesar das tentativas de planejamento econômico e social em vários países capitalistas e socialistas, não tem havido sucesso na busca de seu ordenamento e da estabilidade econômica e social. A União Soviética inaugurou a tentativa de planejamento estatal centralizado que promoveu um extraordinário crescimento econômico para o país de 1917 até a década de 1970, mas não conseguiu impedir seu declínio e desestruturação no final da década de 1980 do século XX. Alguns países capitalistas centrais e periféricos, como o Brasil, planejaram suas economias com base no modelo keynesiano após a Segunda Guerra Mundial obtendo elevado crescimento econômico que não se tornou sustentado. No âmbito das empresas, o processo de planejamento foi aperfeiçoado com a utilização do planejamento estratégico introduzido no final da década de 1950 que atingiu seu auge na década de 1970 com a adoção do “método clássico” que se apoiava na análise SWOT (pontos fortes/fracos, ameaças e oportunidades) e na formulação da estratégia empresarial. Entretanto, a racionalização excessiva do planejamento estratégico acabou por criar planos que eram puramente lineares e complexos em sua elaboração. Perda de credibilidade emergiu como resultado da incapacidade de integrar a estratégia concebida à realidade operacional das empresas. Na década de 1980, o planejamento estratégico foi aperfeiçoado ainda mais com o conceito de vantagem competitiva introduzido por Michael Porter, que passou a considerar questões antes abandonadas pelo método clássico, como a análise de cenários e as forças competitivas estruturais da indústria (fornecedores, concorrentes potenciais entrantes, compradores de produtos e produtos substitutos). O grande desafio enfrentado pelos dirigentes governamentais e empresariais na era contemporânea é representado pela necessidade de planejar o desenvolvimento de seus países e sistemas produtivos em um ambiente de elevada complexidade e de mudanças muitas vezes caóticas. As antigas crenças no determinismo, no controle e na previsibilidade dos modelos econômicos não se sustentam na era contemporânea. O caos e a complexidade do ambiente de negócios fazem com que os governos, as empresas e as pessoas sintam a sensação de estarem sendo arrastadas por um furacão que permeia toda a vida política, econômica e social. As ciências clássicas que, no passado, nos ofereceram uma série de métodos para entender a realidade e construir modelos econômicos e organizacionais já não atendem as necessidades da era contemporânea. Vivemos e trabalhamos num mundo cujos fenômenos não podem mais ser analisados no campo científico com base nos conceitos da mecânica de Newton, no racionalismo de Descartes e no determinismo de Laplace. Não podemos continuar com a utilização de modelos econômicos e organizacionais em que tudo a eles relacionados seja tratado de forma isolada e desconectada do todo. Cada país do planeta e o mundo em que vivemos são constituídos por sistemas políticos, econômicos e sociais caóticos, imprevisíveis, que se caracterizam pela impossibilidade de prever seus estágios futuros porque uma pequena mudança nas condições iniciais do sistema pode ocasionar grandes implicações em seu comportamento futuro.

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Os modelos de gestão convencionais consideram a administração uma atividade de “feedback” negativo, isto é, estabelece uma estratégia e conduz a empresa na direção desejada com a correção dos desvios entre o plano traçado e os resultados alcançados. Numa época em que tudo muda rapidamente, pode-se afirmar que os princípios que regem esses modelos estão ultrapassados porque é impossível a conquista de um estado estável ou de equilíbrio nas organizações em um ambiente externo como o atual caracterizado pela instabilidade. Enquanto os modelos de gestão convencionais centrados na estabilidade, no determinismo, enfatiza o processo de “feedback” negativo que tende a reduzir a mudança, retornando o sistema à sua posição de equilíbrio, os modelos de gestão adequados à era contemporânea deveriam privilegiar o “feedback” positivo que promove a mudança em direção a um novo estágio de desenvolvimento. Para ser eficaz, o processo de planejamento precisa levar em conta, necessariamente, a instabilidade, a incerteza, com suas turbulências e seus riscos. No ambiente econômico contemporâneo, já se tornou lugar-comum falar em turbulência e instabilidade dos mercados como o ocorrido em 2008 com a crise do sistema capitalista mundial que afetou todos os países e empresas. Uma das grandes dificuldades do processo de planejamento é o de minimizar as incertezas quando se sabe que a mudança é a única regra estável no atual momento e que o passado serve cada vez menos como base para projetar o futuro. As visões clássicas a respeito da incerteza foram todas depreciativas, pois a ciência esteve sempre orientada para a descoberta de certezas. Todo conhecimento reduzia-se à ordem, e toda aleatoriedade seria apenas aparência, fruto de nossa ignorância, a ser necessariamente superada em algum momento futuro. O desenvolvimento da Teoria do Caos a partir da década de 1970 contribuiu para a formulação de um modelo muito diferente do que prevalecia até então que era basicamente determinista e linear. No modelo baseado na Teoria do Caos, o mundo é mais complexo e fundamentalmente não determinista e não linear. A Teoria do Caos se impôs a partir do avanço no entendimento dos processos lineares e não lineares e especialmente, com a ajuda dos computadores. Prigogine defende a tese de que pequenas perturbações aleatórias podem ser rapidamente amplificadas, levando o sistema a uma ainda maior instabilidade, até um limite denominado "ponto de bifurcação", a partir do qual é rompida a estrutura do sistema (uma "quebra de simetria"). Após o ponto de bifurcação, o comportamento do sistema torna-se errático por algum tempo, mas tende a estabilizar-se em um novo equilíbrio - só que qualitativamente distinto do original. O sistema agora apresenta novos modos de organização, estruturalmente mais complexos - ele evoluiu. O mais notável neste processo é, segundo Prigogine, o fato de ser impossível prever o caminho evolutivo que o sistema irá tomar a partir do ponto de bifurcação. Durante a fase de instabilidade, o sistema "experimenta" inúmeras variantes de "futuros possíveis", antes de "decidir-se" por seu novo patamar estável de complexidade. Todo o processo é, em suma, um processo de auto-organização, que resguarda o sistema de ingressar no caminho da entropia, isto é, da inexorável decadência (O Fim das Certezas - Tempo, Caos e as Leis da Natureza.São Paulo: UNESP, 1996). As organizações governamentais e empresariais só serão capazes de sobreviver e crescer, evitando sua decadência e morte, com sua auto-organização dinâmica. A autoorganização nos sistemas governamentais e empresariais pode ser alcançada desde que o país ou a empresa: 1) possua ricos padrões de interação e conectividade entre as 2

pessoas dela integrantes em todos os seus níveis, de modo a permitir e fomentar o surgimento espontâneo de sinergias catalisadoras de novas possibilidades; 2) reconheça ser inevitável a existência de contradições, de ambiguidade e de conflitos (ou seja, de "desordem"), e que procure utilizá-los em seu proveito, como fonte de aprendizado, criatividade e inovação; 3) busque se apoiar em seus próprios recursos internos como potencial necessário para sua evolução; 4) faça uso da criatividade, da inovação e da experimentação para desenvolver e aprimorar seus estoques de conhecimento; 5) apresente sinergia entre seus membros que pode, a partir de uma determinada massa crítica, vir a produzir autonomamente alternativas e caminhos inovadores; e, 6) admita a possibilidade de vir a sofrer uma "quebra de simetria" (uma ruptura estrutural) imposta pelo ambiente externo, e seja capaz de tirar partido de tal eventualidade para redefinir sua estruturação interna. * Fernando Alcoforado, 75, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no BrasilEnergia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015).

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