A GESTÃO PEDAGÓGICA E A EXTENSÃO NO ENSINO SUPERIOR - MAIS RESPONSABILIDADE SOCIAL

July 19, 2017 | Autor: M. Rossi Nascente... | Categoria: Pesquisa
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A GESTÃO PEDAGÓGICA E A EXTENSÃO NO ENSINO SUPERIOR: MAIS RESPONSABILIDADE SOCIAL1 Maria Paula Rossi Nascentes da Silva2 Faculdade CNECIlha do Governador – RJ [email protected]

RESUMO O objetivo geral do estudo é indicar as ações da gestão pedagógica que melhor contribuíssem na resposta ao compromisso social de uma instituição de ensino superior com o seu entorno, mais especificamente com a comunidade ali residente. A princípio o estudo pode ser caracterizado como pesquisa exploratória. A proposição metodológica do estudo foi fazer uma pesquisa documental para descrever a caminhada da instituição desde o seu credenciamento, nas áreas de graduação, pós-graduação e extensão. Complementando o estudo foi realizada uma pesquisa de opinião com moradores do bairro sobre percepções das funções de uma instituição de ensino superior e o nível de conhecimento daquela instituição. Palavras-chave: pesquisa, extensão, compromisso social.

Apresentação Valorizar a prática não leva a qualquer prática. (DEMO, 1992) O cenário brasileiro no que se refere ao Ensino Superior tem demandado, por parte dos gestores das instituições de ensino, uma desdobrada atenção aos indicadores desse cenário, tanto em relação ao ambiente externo quanto ao ambiente interno. O presente trabalho faz do ambiente interno das instituições de ensino superior seu objeto de estudo, optou-se aqui pela não divulgação do nome da IES pesquisada3. A questão que se propõe ao estudo é: Como a gestão pedagógica na instituição pesquisada tem respondido ao compromisso social com o seu entorno? Existem algumas variáveis que interferem diretamente nas possíveis respostas à questão colocada. Optou-se neste estudo pelas variáveis diretamente relacionadas à gestão pedagógica envolvidas na resposta. São variáveis pedagógicas: o envolvimento dos docentes com as atividades de extensão propostas pela IES, a relação professor-aluno e o envolvimento dos alunos com os projetos propostos.

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Parte do trabalho monográfico apresentado ao final do MBA de Gestão Educacional concluído pela autora em 2013. 2 Mestre em Educação, professora, coordenadora de curso, coordenadora de extensão e pesquisadora institucional da Faculdade Cenecista da Ilha do Governador, uma instituição da Rede CNEC de Ensino. 3 Ao longo do trabalho o nome real da instituição de ensino que serviu como campo de estudo foi substituído simplesmente por IES pesquisada.

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A instituição pesquisada compõe uma Unidade de uma Rede de Ensino de dimensões nacionais, e trabalha para o entorno, ou seja, a comunidade local, com todas as suas especificidades e questões da contemporaneidade4. A mudança no âmbito da educação precisa ser institucionalizada. Um pouco de teimosia, um pouco de medo, um pouco de hábito, de tudo se tem como desculpa, e até mesmo estratégia, para não remover o ranço. Contudo, as mudanças acontecem independentes da vontade dos indivíduos, algumas levam mais outras menos tempo. Robinson (2012) lembra que a maioria dos sistemas educacionais pelo mundo está sofrendo reformas, mas que essas reformas já não são eficazes, pois o modelo em uso já não funciona. Assim, seria o mesmo que pintar a fachada do imóvel de quarenta anos que precisa de uma nova infraestrutura. O objetivo geral do estudo foi investigar de que forma a IES pesquisada vinha buscando responder ao seu papel social através de atividades extensionistas. Em relação aos objetivos específicos foi proposto o mapeamento das ações de extensão que foram realizadas pela IES desde o seu credenciamento, a realização de um levantamento junto à comunidade em relação aos ganhos da região com a presença de uma IES, e finalmente a proposição de ações para a gestão pedagógica com vistas ao cumprimento da legislação no que se refere ao compromisso social daquela IES.

Ensino Superior no Brasil: Cenários e Tendências Nas últimas décadas, o ensino superior brasileiro cresceu e vem se desenvolvendo impulsionado por uma política pública favorável aos investimentos particulares, e também sofreu mudanças premidas por um contexto socioeconômico que exige mão de obra cada vez mais qualificada e em larga escala. O rápido crescimento do número de instituições de ensino superior e, por conseguinte, da oferta de cursos deste nível, contribui para uma expansão um tanto desordenada que obriga o governo federal a criar mecanismos de avaliação e regulação que inibam ações de interesses exageradamente mercadológicos e não tão responsáveis por parte das mantenedoras de ensino. A ação recente do MEC de criação da SERES - Secretaria de Regulação e Supervisão do Ensino Superior, em 17/04/2011 pelo Decreto nº 7.480/2011; é justamente uma resposta à

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Abre-se aqui um parêntese para lembrar que males como a miséria, a pobreza, as diferenças sociais e mesmo os fossos que vão se abrindo com os avanços tecnológicos aumentando as diferenças entre os povos, não são exclusividades dos tempos atuais. Acompanham os homens há eras. Se aos olhos dos indivíduos, geralmente os passivos, parecem de um vulto gigantesco, é porque nesta época as proporções também o são.

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necessidade de maior transparência, regulação e avaliação da qualidade do ensino superior de todo o país. E desta forma estabelece que: A Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior deve zelar para que a legislação educacional seja cumprida, e suas ações buscam induzir a elevação da qualidade do ensino por meio do estabelecimento de diretrizes para a expansão dos cursos e instituições, da conformidade às diretrizes curriculares nacionais e de parâmetros de qualidade de cursos e instituições. (DECRETO, Nº 7.690/2012)

A expansão de Ensino Superior pode ser ilustrada pelos dados do Censo da Educação Superior que é realizado pelo INEP e publicamente disponibilizado na Plataforma E-MEC. Da mesma forma, e em um período quase consecutivo, a modalidade de educação a distância no Brasil obteve respaldo legal com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, estabelecendo em seu artigo 80, a possibilidade de uso da modalidade de educação à distância em todos os níveis e modalidades de ensino. O desenvolvimento da educação à distância no país viria a responder a uma necessidade premente de melhor qualificação profissional dos professores de educação básica já há algum período sendo sinalizada pelas estatísticas, ao mesmo tempo em que contribuiria na formação continuada de professores em todos os níveis de atuação, não esquecendo as possibilidades de atualização profissional para todos os ramos de trabalho sem a necessidade de ausentar-se por longos períodos de estudo. Um estudo prospectivo realizado por Régnier e Porto (2003) já indicava algumas tendências que seriam concretizadas no presente, as quais o estudo traz para reflexão. A primeira questão a ser considerada para o foco do estudo é a mudança no perfil do aluno do ensino superior. Os alunos começaram a optar pelos cursos que ofereciam o turno da noite, o que indica uma população mais velha e trabalhadora, diferente daquela população jovem que era esperada no Ensino Superior, oriunda quase que exclusivamente dos recém concluídos cursos de Ensino Médio. O Gráfico 1 apresenta os dados do Censo do Ensino Superior referente ao ano de 2011 com as matrículas por opção de turno, o que confirma a tendência apresentada pelos autores.

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Gráfico 1 – Percentual de matrículas de graduação presencial, por região geográfica, segundo o turno – Brasil – 2011 Fonte: INEP - CENSO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR 2011 - RESUMO TÉCNICO

O aluno mais maduro traz para os professores um volume maior de conhecimentos extraídos de suas práticas de vida, que devem ser, naturalmente, aproveitados para a contextualização daquilo que está sendo trabalhado. Desde o início dos estudos sobre a andragogia, cujo estudo nasceu em 1833 com Alexander Kapp, morreu e renasceu em apenas em 1920. Com o aprofundamento dos estudos na área de educação de adultos, a andragogia ganha forma “(...) baseada em premissas que indicam distinções, do ponto de vista da aplicabilidade do conhecimento e do método de ensinar, entre o ensino voltado para alunos adultos e o ensino de crianças” (VOGT e ALVES, 2005, p.9). O conjunto de conhecimentos e experiências de vida do adulto impregna o ambiente educacional, exigindo dos docentes no ensino superior novas estratégias e formas de realizar a mediação entre o sabido e aquilo que se deseja apresentar como novo. Seguindo esta linha de pensamento, deve-se cobrar da prática docente o esforço em contribuir para que seus alunos consigam sistematizar seus conhecimentos prévios. Retomando o estudo de Régnier e Porto (2003) e suas prospectivas, desta vez em relação ao modo como o sistema vem se movimentando, como se estivesse mudando sua face: [...] o sistema se move evidenciando tendências de rompimento com padrões estabelecidos e consagrados, porém não mais eficientes tanto na perspectiva dos sistemas produtivos quanto na perspectiva das aspirações culturais ou geracionais – as duas principais forças propulsoras da expansão do ensino superior. Do lado do mercado de trabalho, há as novas exigências de qualificação profissional (novos conteúdos, novas profissões, etc.), do lado das aspirações culturais há o fator do acesso ao ensino superior como elemento novo na cultura juvenil (primeiro nas classes médias, mas que também opera em mimetismo sobre as camadas menos favorecidas) – o ensino superior passa a ser objeto de desejo. (RÉGNIER e PORTO, 2003, p.66)

As novas exigências para o mercado de trabalho, nesta época, irão muito além das habilidades manuais anteriormente aceitas quando nos treinamentos para qualificação profissional, e passarão a se constituir em com competências desejáveis para este ou aquele 4

posto de trabalho. As competências combinam o conhecimento aprendido com a inteligência para organizá-lo e mobilizá-lo em função de uma necessidade laboral, ao que Galbraith (GALBRAITH apud BRESSER-PEREIRA, 2005) chamou de “novo fator de produção”. Nas duas últimas décadas o acesso ao Ensino Superior foi elevado da condição de aspiração à condição de fato. Se anteriormente o ingresso nesse nível educacional era permitido somente às classes mais favorecidas, no presente as classes econômicas de menor poder aquisitivo estão se inserindo com mais facilidade, em grande parte, beneficiadas pelos múltiplos programas de financiamento estudantil mantidos pelo governo federal, o que pode ser observado na Tabela 1 em referência ao ano de 2011.

Nota da fonte: A mesma matrícula pode apresentar mais de um tipo de financiamento.

Tabela 1 – Número de matrículas que possuem pelo menos um tipo de financiamento nos cursos de graduação, por modalidade de ensino e tipo de financiamento (reembolsável ou não reembolsável), segundo a organização acadêmica das instituições de Educação Superior – Brasil – 2011 Fonte: INEP - CENSO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR 2011 - RESUMO TÉCNICO

O estudo de Régnier e Porto (2003) destaca ainda a importância, quantitativamente falando, que as instituições privadas adquirem na composição da oferta de cursos de nível superior. Elas foram responsáveis em 2011 por 72,24% das matrículas de graduação em cursos presenciais em todo o país (Tabela 2). A expansão promovida pela iniciativa privada, apoiada e incentivada pelo MEC, precisa acontecer de forma ordenada e prevendo garantir as características constantes na normatização e nas diretrizes curriculares propostas para seus cursos. Existem mínimos que visam garantir a qualidade do ensino ofertado, e os gestores, independente da natureza, devem garantir que eles sejam respeitados.

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Tabela 2 – Número de matrículas de graduação presencial, segundo a categoria administrativa – Brasil – 2011 Fonte: INEP - CENSO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR 2011 - RESUMO TÉCNICO

Em relação às atividades de extensão no Ensino Superior, ela tende a continuar sendo encarada cada vez mais como uma possibilidade das IES contribuírem para uma educação que promova a sustentabilidade social e o empoderamento das comunidades que dela se beneficiem. No campo da extensão, a aplicação dos conhecimentos continuará a ser ditada, cada vez mais, pelas necessidades e demandas reais da sociedade. Neste sentido, provavelmente a extensão constitui a função universitária mais suscetível às mudanças sociais, devendo sofrer consequentemente transformações profundas, à medida que a sociedade é transformada radica e aceleradamente. Dessa forma, a amplitude e diversidade da aplicação, a velocidade de atendimento e a capacidade de respostas concretas requeridas exigirão da extensão novos modelos e processos de produção. (RÉGNIER e PORTO, 2003, p.21-22)

O propósito das ações extensionistas realizadas pelas instituições de ensino superior, universidades, centros universitários e faculdades, costumam estar voltadas à intensificação da participação do aluno as suas áreas de atuação ou voluntariado para além da sala de aula. Geralmente são ações voltadas à consolidação da integração do conhecimento científico no âmbito de algumas áreas, como pactuaram as instituições públicas de ensino superior no país (Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Instituições de Educação Superior Públicas Brasileiras, 2012, p.26):      

preservação e sustentabilidade do meio ambiente; ampliação da oferta e melhoria da qualidade da educação básica; melhoria da saúde e da qualidade de vida da população brasileira; melhoria do atendimento à criança, ao adolescente e ao idoso; melhoria do programa nacional de educação nas áreas da reforma agrária; promoção do desenvolvimento cultural, em especial a produção e preservação de bens simbólicos e o ensino das artes;  ampliação e fortalecimento das ações de democratização da ciência;  formação de mão-de-obra, qualificação para o trabalho, reorientação profissional e capacitação de gestores públicos.

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Se pensada a responsabilidade social contida nas atividades de extensão, pode-se sugerir que no caso das instituições superiores filantrópicas e comunitárias este compromisso se vê ampliado. A IES pesquisada é uma entidade particular sem fins lucrativos e está, portanto, incluída neste conjunto. Ainda no estudo de Régnier e Porto (2003) indica-se o aumento no controle do Estado sobre as instituições filantrópicas com impacto nas instituições de ensino superior, condição em que a IES pesquisada se vê incluída. A necessidade dos Estados em melhorar sua arrecadação e a qualidade ou efetividade de seus gastos ou renúncias fiscais, vem conduzindo a uma maior pressão sobre as entidades filantrópicas no sentido de tornarem transparentes suas ações e a efetividade das mesmas. O percentual de recursos que o governo deixa de arrecadar com a isenção previdenciária da qual se beneficiam as entidades filantrópicas brasileiras é estimado em R$ 2,18 bilhões em 2003, o que estimula o „aperto‟ na fiscalização. Em 2001, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, foi feita uma operação „pente fino‟ nas 200 maiores entidades e descobriu-se que 20 delas não seguiam as regras da filantropia, que no caso das universidades e demais instituições de ensino superior consiste na aplicação de 20% do faturamento em atividades sociais ou em bolsas de graduação. Recentemente, o Conselho Nacional de Assistência Social cassou, de forma definitiva, o certificado de filantropia de quatro instituições de ensino superior que não comprovaram o cumprimento dos requisitos presentes na lei de assistência social.

Isto posto, é portanto indicado e desejável que as instituições de ensino superior, que coincidentemente sejam também filantrópicas, envidem mais esforços na manutenção de programas de extensão que cumpram seu papel social e legal.

O Compromisso Social do Ensino Superior no Brasil As instituições de ensino superior são chamadas à responsabilidade na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e também pela Lei n.º 10.861, de 14 de abril de 2004, que trata do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes). As instituições são responsáveis socialmente por oferecer à comunidade onde estão inseridas um retorno de sua presença, que deve ser identificado através de melhorias concretas no nível econômico, cultural e educacional do entorno. O instrumento de avaliação institucional externa utilizado pelo Inep para credenciar e recredenciar as instituições de ensino superior, em sua dimensão três medira a responsabilidade social da instituição com base em alguns critérios. DIMENSÃO 3: A responsabilidade social da instituição, considerada especialmente no que se refere à sua contribuição em relação à inclusão social, ao desenvolvimento econômico e social, à defesa do meio ambiente, da memória cultural, da produção artística e do patrimônio cultural. (MEC, 2010, p.8)

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As instituições buscam a situação ideal no instrumento que, incluindo todos os quesitos apresentados seria: 

Praticar ações sociais que estejam de acordo com o que foi professado no Plano de Desenvolvimento Institucional da IES;



Manter relacionamento com os setores da sociedade, incluindo ações para o desenvolvimento socioeconômico e educacional da região;



Manter ações de inclusão social;



Defender o meio ambiente, o patrimônio cultural e a produção artística.

E, que tudo o que foi descrito, resulte de diretrizes institucionais, isto é, deve-se haver planejado institucionalmente e cumprido o planejado. O entendimento de uma lei, assim como sua interpretação, abre margem para que as instituições, em sua maioria, trabalhem sua responsabilidade social de forma superficial, utilizando ações de penetração pobre para garantir algum ponto quando da avaliação externa. O que se deseja com os aportes teóricos a serem apresentados neste ponto do trabalho é mostrar que existe uma relação estreita entre a liderança, a governança corporativa e o trabalho que os gestores das instituições de ensino superior podem e devem realizar junto às comunidades locais onde estão inseridas. No que se refere à demonstração do compromisso social quando da avaliação externa para autorização e reconhecimento de cursos, o instrumento é claro quando utiliza a expressão “quando for o caso” após a palavra, e, mesmo assim, embora a FACIG não tenha obrigatoriedade quanto ao desenvolvimento da tríade ensino, pesquisa e extensão, já que não está obrigada às atividades de pesquisa, fica claro o desapontamento dos avaliadores institucionais externos quando na avaliação in loco verificam a pouca atividade de extensão e iniciação científica, e insistem que o próximo passo seria pesquisa. Tem-se a impressão que é difícil, portanto, separar as atividades que pretendem extensão das atividades que pretendem pesquisa, e isto deve confundir o observador externo. Assim, a IES pesquisada vem trabalhando para que exista uma aliança estreita entre as práticas extensionistas e os trabalhos desenvolvidos por seus alunos no que tange o conhecimento científico. Segundo Jezine (2004), é preciso fazer funcionar o ensino, a pesquisa e a extensão em conjunto, especialmente para as atividades de extensão, de forma a garantir um sentido no trabalho acadêmico dos docentes e discentes. O compromisso social da instituição de ensino superior, na maioria das vezes, é expresso nas atividades de extensão que realiza. Ainda segundo Jezine (2004) estas atividades

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podem possuir uma concepção meramente assistencialista. O assistencialismo, fugiria ao compromisso social por não contribuir no âmbito do ensino e pesquisa. Os princípios da integração ensino-pesquisa, teoria e prática que embasam a concepção de extensão como função acadêmica da universidade revelam um novo pensar e fazer, que se consubstancia em uma postura de organização e intervenção na realidade, em que a comunidade deixa de ser passiva no recebimento das informações/conhecimentos transmitidos pela universidade e passa a ser, participativa, crítica e construtora dos possíveis modos de organização e cidadania. (JEZINE, 2004, p.3)

As instituições de ensino superior, na medida em que realizam suas atividades de extensão, colocam o aluno em contato com a realidade, e proporcionam, ao mesmo tempo, que suas competências sejam mobilizadas e se adiantem na solução de problemas reais e imediatos constatados a partir dessa experiência. Ortiz-Riaga e Morales-Rubiano (2011) defendem a existência de uma corrente que reconhece a extensão como uma terceira função substantiva das universidades e também como elemento dinamizador que facilita o fluxo contínuo de conhecimentos compartilhados entre a universidade e a sociedade. A origem do conceito de extensão pode ser discutida, mas o estudo defende o seu entendimento segundo Berheim (1978) que situou o seu aparecimento em Córdoba, Argentina, em 1918 como fruto de um movimento da classe média para ter acesso à universidade, até então controlada pela oligarquia e pelo clero. Acreditava-se então que o acesso à universidade permitiria ainda a ascensão política e social daquela classe. A reforma implementada naquela época incluía uma abordagem política e social que entendia a necessidade de fortalecer a função social da universidade. O autor defende que, ao menos na América Latina, aquele movimento gerou inquietação em uma sociedade que estava aprendendo a participar. La importancia del Movimiento de reforma iniciado en Cordoba es tal que varios estudiosos de la problematica universitaria latinoamericana sostienen que esta no puede ser entendida, en su verdadera naturaleza y complejidad, sin un analisis de lo que significa la Reforma de Cordoba, que en su momento represento, como bien lo dice Darcy Ribeiro, la "principal fuerza renovadora" de nuestras universidades. Con ella entroncan, por cierto, de un modo u otro, todos los esfuerzos de reforma universitaria que buscan la transformation de nuestras Casas de Estudios. (BERHEIM, 1978, p. 97)

Daí, dentre os postulados daquela Reforma situava-se a Extensão Universitária como fortalecedora da função social da universidade, garantindo assim uma projeção ao povo da cultura universitária e preocupação com os problemas nacionais.

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Em 1949 foi realizado o Primeiro Congresso de Universidades Latinoamericanas, e, esse mesmo congresso, aprovou uma série de resoluções relacionadas com o conceito de universidade na América Latina, a ação social da universidade e a extensão cultural universitária. Pontuou ainda que [...] „la extension universitaria debe abarcar el campo de los conocimientos cientificos, literarios y artisticos, utilizando todos los recursos que la tecnica contemporanea permite poner al servicio de la cultura‟, debiendo tambien „estimular la creation literaria, artistica y cientifica, por medio de certamenes, concursos y exposiciones‟. Finalmente, el Congreso aprobo la celebre „Carta de las Universidades Latinoamericanas‟ [...] (BERHEIM, 1978, p. 103)

Nesse sentido, o autor defende a conceituação de extensão como toda atividade que coloca os conhecimentos e tecnologias desenvolvidos no interior das universidades a serviço da sociedade. As atividades de extensão, não apenas das universidades, mas de todas as instituições de ensino superior devem estar constantemente direcionadas à resolução dos problemas das realidades e problemas de seu entorno. As IES devem conter em seu interior as discussões efervescentes da realidade, de forma que aquele que a visite tenha uma expressão de um momento histórico vivido, não somente do estágio de desenvolvimento do conhecimento científico, mas também do desenvolvimento social daquela região onde se plantou aquela instituição. As instituições de ensino superior devem querer para si próprias: „Ser ejemplo y espejo de libertad docente, de libertad responsable de actuation, escuela de libertad de critica y directora espiritual de la infatigable lucha de los pueblos por conseguir libertad y obtener justicia‟; „crear en los universitarios una amplia y generosa conciencia social, con objeto de que se sientan participes en la vida integral de la comunidad y puedan cumplir con los deberes que hacia ella se tienen‟; „poner en relieve en los universitarios que el libre y pleno desenvolvimiento de su personalidad solo es posible integrandose a la vida social‟; „recoger, conservar y exponer las realizaciones culturales de su medio nacional, asi como interpretar su sentido, integrandolas con las realizaciones culturales de los demas pueblos, especialmente los latinoamericanos‟. (BERHEIM, 1978, p. 103)

Sem iniciar um debate sobre o pertencimento e autoria dos conhecimentos gerados no interior das instituições de ensino superior, cabe aqui explicitar que, sendo uma instituição filantrópica, nascida em um período político ditatorial, mas dos braços de jovens estudantes que ambicionavam melhores condições educacionais para o seu povo e disseminação democrática de conhecimentos, hoje o que se defende é que as instituições cenecistas de ensino superior sejam exemplo do que exista de melhor e mais socialmente responsável em termos de atividades extensionistas.

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A gestão pedagógica dos cursos e da IES deve promover o estreitamento entre o conhecimento e a realidade para que seus alunos tenham desejo de participar das atividades de extensão promovidas no âmbito do seu curso e também no âmbito institucional.

A IES pesquisada: desencontros e encontros A criação e a implantação de uma Instituição de Ensino Superior, voltada para a disseminação do conhecimento na Cidade do Rio de Janeiro, especificamente na Região em que atua, refletiu a busca de soluções dos problemas econômicos e sociais do País e os que atingem a Região. (IES PESQUISADA, PDI 2002-2007) A IES pesquisada está voltada à oferta de Cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão Universitária à sociedade da Cidade do Rio de Janeiro, em especial da Região da Ilha do Governador, em atenção às expectativas do mercado empregador - que anseia pela formação de uma Comunidade Acadêmica que seja o sustentáculo do desenvolvimento socioeconômico da Região assume, junto à Comunidade, a seguinte Missão: “Promover a formação integral das pessoas, oferecendo educação de excelência com compromisso social.” Em razão de seus propósitos, a IES pesquisada proporciona ao graduando uma visão sistêmica para ler corretamente e adequadamente os cenários sociais, políticos, econômico, o ambiente de competição, as formas de mercado, as tendências autorais dos grupos, as possibilidades de integração das economias contemporâneas possibilitando assim ao graduado desenvolver a capacidade de atuar em uma economia globalizada e ao mesmo tempo qualificada para enfrentar os novos paradigmas. (IES PESQUISADA, PDI 2011-2015) Em relação à graduação, a simples oferta dos cursos não foi suficiente para que a comunidade enchesse as salas de aula da IES. Um relatório de gestão datado de 2004 informa que quando da época assumiu a Unidade, no ano de 2003, encontrou a seguinte situação: Curso Sistemas de Informação – 4º período com 06 alunos e o 2º período, com 15 alunos; e, o Curso Normal Superior possuía somente o 2º período com 18 alunas. Quer dizer que, corridos dois anos do início de seu funcionamento, com dois cursos em andamento, a instituição possuía um total de 39 alunos. Ainda segundo o mesmo relatório gerencial, beneficiada pela quebra de uma das instituições concorrentes que funcionava na região. As primeiras ações de extensão da IES pesquisada foram expressas nos dois primeiros anos de sua atuação em cursos gratuitos, ministrados voluntariamente por dois de seus docentes, buscando atrair interessados em prestar o vestibular. Desta leitura conclui-se que se trataram de ações com fins mercadológicos. “Tais cursos contaram com número expressivo de alunos (...)” (idem), mas o relatório não informa quantos foram os alunos interessados. 11

A instituição tem feito investimentos em infraestrutura e se prepara para lançar cinco novos cursos no ano de 2014. A IES pesquisada fez sua primeira oferta de pós-graduação em 2005, ainda na vigência do seu primeiro PDI, com os cursos de Psicopedagogia – Clínica e Institucional e Administração e Supervisão Escolar. (IES PESQUISADA, PDI 2002-2007). Em 2009 a Coordenação de Pós-Graduação foi procurada por um grupo de Dirigentes de Unidades Escolares do Município do Rio de Janeiro para consulta sobre a viabilidade de construção de um curso de Pós-Graduação Lato Sensu que atendesse às exigências recentes para candidatura de novos Dirigentes, dentre elas a formação de especialista em Gestão Escolar. A IES viu naquela situação uma excelente oportunidade de atender melhor à comunidade insulana em suas necessidades de formação continuada, parecendo ser um bom momento para estreitar sua relação com a comunidade. O curso foi projetado e teve início no mês de outubro do mesmo ano. Depois deste curso houve uma interrupção na oferta de cursos de pós-graduação que permaneceu assim até o ano de 2013, quando esta modalidade de curso foi novamente ofertada. Alguns cursos de pós-graduação chegaram a ser oferecidos, e, apesar do levantamento de necessidades realizado pela Direção, não houve formação de turma por baixo número de alunos que a eles se candidataram: Gestão Ambiental, Educação Inclusiva, Clínica de Pequenos Animais. As atividades extensionistas promovidas pela IES até 2011 foram pontuais e desfocadas de uma meta ou missão. Em 2011 os alunos do Curso de Pedagogia implementaram duas ações que elevaram a qualidade daquele curso e dava uma coerência à proposta de manter atividades de extensão que promovessem um empoderamento da comunidade do entorno e ampliação da visibilidade da própria IES. A primeira ação foi a promoção de um projeto que prevê a criação de uma rede de contatos para troca de conhecimentos e experiências sobre as atividades de mediação pedagógica com crianças portadoras de deficiências que dificultam a aprendizagem. O projeto é basicamente organizado e conduzido pelos discentes com apoio da Coordenação de Curso e de seus docentes. Foram realizados dois encontros abertos à comunidade que contaram com 102 interessados na primeira edição, e 160 na segunda edição. A segunda ação daquele grupo de alunos foi a criação e promoção de uma Colônia de Férias para as crianças das comunidades menos favorecidas da região. A manutenção das crianças ao longo de uma semana de atividades é feita a partir do apoio dos comerciantes do 12

bairro que adotaram o projeto. O grupo de alunos apostou que o trabalho em oficinas de artes, esportes e contação de histórias, faria, ano após ano, uma diferença considerável na formação geral daquelas crianças, e na sua visão de mundo. Foram realizadas três edições da colônia de férias. Movidos pelo entusiasmo dos alunos e pela premência de também promover atividades de extensão relacionadas ao campo do Direito, os professores do curso mobilizaram seu corpo discente e criaram um projeto em 2012 de Adoção e Guarda Responsável de Animais. O projeto conta com a organização e realização de uma campanha semestral no campus da IES. No dia da campanha a comunidade comparece ao campus para adotar animais, receber orientações de veterinários e recomendações de especialistas sobre os cuidados e as responsabilidades daqueles que detêm a guarda de um animal. As crianças recebem cartilhas sobre o tema e ouvem histórias contadas pelos futuros pedagogos. A instituição realizou a primeira campanha que contou com a participação de 180 moradores. Na segunda edição da campanha circularam pelo campus aproximadamente duzentas e vinte pessoas. No segundo semestre de 2013 o Curso de Administração fez sua primeira incursão na área de extensão promovendo um trabalho de orientação em assuntos de gestão e empreendedorismo aos pequenos comerciantes e artesãos de uma comunidade de baixa renda, uma colônia de pescadores da região. Em 2012, por iniciativa das coordenações dos cursos de Direito e Pedagogia, a IES pesquisada homologa a criação e implantação do Centro de Estudos e Pesquisas em Direitos Humanos e Justiça (CEPDHJ). O Centro foi proposto com o objetivo de planejar, desenvolver e avaliar os resultados de atividades técnico-científicas de ensino, pesquisa e extensão na área, visando à criação e a gestão do conhecimento em Direitos Humanos. Desde a sua criação, o CEPDHJ têm realizado ações, em sua maioria voltadas para o público interno da FACIG, ainda para sensibilizá-lo em relação à causa de Direitos Humanos. Atualmente conta com um projeto denominado “Direitos com Pipoca” cujo planejamento prevê uma ação em três níveis: sensibilização da população interna e externa para a temática de DH com a exibição de curtas metragens; desenvolvimento de ações pontualmente planejadas nas comunidades para o esclarecimentos de dúvidas sobre a temática; e, criação de um escritório de atendimento à comunidade especificamente sobre as questões de DH na comunidade.

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Ainda em 2013 a IES buscou institucionalizar as ações de extensão que já vinham acontecendo, ainda dispersas, com a criação do Núcleo de Extensão, Pesquisa e PósGraduação (NEPP). A criação do NEPP contribuiu para que a IES melhor cumprisse seu compromisso social, organizasse suas ações e ainda se encontrasse melhor preparada para as futuras apresentações ao MEC. Atualmente o núcleo conta com a participação atuante dos professores com especial interesse em atividades de pesquisa e extensão, e tem se apresentado aos alunos para que se sintam igualmente motivados a tomar parte das ações em realização.

Caminhos para a boa prática da Gestão Pedagógica Oportunizada por uma Ação de Responsabilidade Social realizada em 2013, a IES pesquisada foi para a rua buscar descobrir o que a população pensava a seu respeito. Foi aplicado um questionário ao público que estava na região onde a ação acontecia. A amostra foi tomada aleatoriamente, e consistiu de 121 respondentes, homens e mulheres adultos, frequentadores daquele bairro e residentes no local. Os resultados da pesquisa indicaram que a instituição de ensino superior de maior visibilidade, e que parece ter fixado sua marca no bairro, é a Universidade concorrente com 83,47% de ocorrência. É interessante observar que é quase a mesa a proporção de respondentes que afirmam não existir faculdade na região, daqueles que confirmam a existência da IES pesquisada. Ocorreram dois registros que impressionaram os entrevistadores, referentes a duas instituições que já estiveram na região e deixaram sua marca, uma com o campus extinto há sete anos e a outra com o campus extinto há pelo menos cinco anos. Quando o grupo iniciou a pesquisa trabalhou com a forte hipótese de que a IES pesquisada ainda era uma instituição desconhecida no bairro, o que foi confirmado pelos poucos 11,57% de respondentes que citaram seu nome, e ainda o fizeram corretamente. Prosseguindo com os resultados da pesquisa, houve necessidade de tentar compreender o que a população da região espera de uma instituição de ensino superior, ou como entendem sua existência, e perguntou-se aos moradores sobre as vantagens da existência de uma instituição de ensino superior em seu bairro. Esta questão deixou uma dúvida em relação ao benefício mais votado pelos respondentes, qual seja, é possível que seja mais fácil obter emprego com um curso superior ou a instituição de ensino superior oferece mais empregos à região. Se considerar-se que os entrevistadores explicaram claramente o

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objetivo da pesquisa, a análise do resultado indica então que é prevalente o número pessoas que consideram que um curso superior amplia as oportunidades no mercado de trabalho. Também foi observado durante a tabulação e análise dos dados coletados nesta questão, que dentre as pessoas que acreditam que um curso de ensino superior gera ascensão social, 37,5% acredita que este é o único benefício oferecido por sua existência na região. Os dados colhidos a partir da amostra indicaram que poucos moradores da região conhecem a IES pesquisada, o que está diretamente relacionado com a comunicação e as atividades de extensão mantidas pela instituição. A qualidade pedagógica impressa por uma instituição de ensino superior passa também pela capacidade de seus alunos estabelecerem um aprendizado que extrapole os muros institucionais. Contudo, na acepção de Demo (1992) a valorização da prática não deve levar a qualquer prática. A prática aqui buscada é aquela contextuada pela teoria, de um lado, e pela pesquisa/ensino/extensão, de outro. Ou seja, toda prática deve estar relacionada com a formação acadêmica para começar: e, seguida, deve estar relacionada com o desdobramento da cidadania, e, mesmo nesse espaço, não cabe qualquer cidadania, mas aquela referida ao processo de formação, quer dizer: não desvinculada da qualidade formal. É fundamental dizer isso, para evitarmos banalizações fáceis como empurrar para a prática tudo e nada que se faça na vida, ou como relegar ao plano da prática atividades apenas paralelas, paracurriculares, ou como supervalorizar a prática às custas da formação teórica global. (DEMO, 1992, p.101)

As ações de extensão contribuirão ainda, e justamente, para que os alunos que delas participem encontrem justificativa e contextualização dos conhecimentos teóricos trabalhados nas salas de aula. O autor ainda continua: Para chegar ao „mudar‟, como projeto emancipatório, entra em cena compromisso social com um tipo de sociedade e de história, que pede posicionamento político. Aí a ciência é instrumentação formal para alternativas históricas pelo menos mais toleráveis. A sociedade preferencial não é mera dedução lógico-formal, mas projeto político, na arena contrária das ideologias sociais vigentes, dominantes e subalternas. Inevitavelmente a ciência ou subsidiará a ordem vigente, mesmo que pela via da abstenção estratégica, ou subsidiará a contra-ideologia, instrumentando os dominados no sentido de projeto alternativo de história, (Demo 1992, p.105, apud Demo 1988a)

A postura pedagógica de uma instituição de ensino superior deve estar, portanto, explícita dentro e fora da instituição, em seu projeto pedagógico, em sua proposta metodológica e também na gestão pedagógica desse conjunto.

Algumas análises As recomendações que o presente estudo sugere ficam no nível da coordenação pedagógica de um curso. As ações da gestão superior são orientadas e discutidas no âmbito da gestão superior da IES estudada. 15

Dentre as funções da coordenação de um curso superior, a Associação Brasileira de Mantenedoras (ABMES CADERNOS, 2008) destaca a existência de tipos de funções: de caráter político, de caráter gerencial, de caráter acadêmico, e de caráter institucional. Dentre as funções de caráter político encontra-se o exercício da liderança, dentro e fora do curso, no sentido de projetar através do seu curso o trabalho realizado pela IES. A representatividade externa deve traduzir-se também, “(...) pelas ações de responsabilidade social dos integrantes do curso, na sociedade. A responsabilidade social quando bem exercitada qualifica o curso e o coordenador.” (p. 6) Neste sentido, se analisado o que, efetivamente, os coordenadores de curso da IES estudada têm feito neste âmbito, constata-se o pouco envolvimento dos docentes em geral e dos próprios coordenadores. As ações de responsabilidade começaram a aparecer em 2011, oito anos após o credenciamento da IES, denotando que de início não se havia planejado ações desta natureza. É comum que muitos coordenadores de curso vejam sua função unicamente pelo lado acadêmico, contudo, as práticas e as recentes diretrizes nacionais para o ensino superior apontam para uma ampliação sistemática em quantidade e abrangência de suas tarefas. Das funções de caráter acadêmico, logo, das mais antigas, a elaboração e execução do Projeto Pedagógico do Curso é um ponto que merece maior cuidado, no sentido de prever e contextualizar ações de responsabilidade social, de extensão, que possam e devam ser desenvolvidas tanto dentro da própria natureza genética do projeto, como dentro do perfil de profissional que aquele curso pretende formar. [...] o Projeto Pedagógico de um Curso deverá guardar vínculo com a missão, com os objetivos, com a vocação e com os princípios do projeto institucional. Neste sentido, o Coordenador do Curso, em articulação com professores e alunos, deverá tomar essas dimensões do projeto institucional como a grande referência para a elaboração do projeto pedagógico de seu curso. Um projeto assim concebido, singular em suas características, poderá servir de base para outros cursos. (ABMES Cadernos 8, 2002, p. 11)

A mantenedora da IES pesquisada é uma instituição particular, filantrópica, que tem investido recursos e esforços cooperados em atividades que fortalecem seu propósito de oferecer ensino de qualidade com custo acessível à comunidade em que esteja oferecendo serviços educacionais. Os projetos pedagógicos dos cursos da IES pesquisada precisam estar melhor elaborados no que tange o desenvolvimento de atividades de extensão e responsabilidade social, o que pode ser comprovado pelo fato de um dos cursos haver apresentado proposta de projeto desta natureza após sete anos de seu funcionamento. A boa gestão recomenda a realização de reuniões de alinhamento entre as coordenações de curso e a gestão superior para que exista o acompanhamento constante, em especial no que se refere às 16

propostas dos cursos em perfeita sintonia com o projeto pedagógico institucional da mantenedora da Rede de ensino a que pertence a IES. Recomenda ainda a ABMES (2002): O Coordenador de Curso deve ser responsável pelo engajamento de professores e alunos em programas e projetos de extensão universitária. A Lei n.º 5.540/68, que promoveu a Reforma Universitária e, mais recentemente, a LDB deram pouca atenção e pouca ênfase às atividades de extensão nas instituições de ensino superior. É a extensão que aproxima as instituições da sociedade, seja por meio de cursos, de programas especiais, ou pela prestação de serviços.

Não é apenas na IES estudada que os coordenadores têm falhado no cumprimento dessa atividade. É comum que o meio acadêmico seja pobre no entendimento do seu entorno e suas necessidades. É preciso algum investimento do tempo de coordenação nesse sentido: Quais são os problemas existentes nesta comunidade? O que dizem os discentes que dela participam? Nossa IES, e em especial, meu curso pode oferecer qualquer proposta para a solução desses problemas? Vamos pensar. Este é um desafio que deve ser posto constantemente pela alta gestão a seus coordenadores de curso.

Considerações Finais A elaboração do presente estudo permitiu à autora a combinação de muitos elementos de diferentes áreas de estudo para melhor compreender o universo das atividades realizadas em uma instituição de ensino superior. Da contribuição do marketing, do crescimento e manutenção de uma marca, ao desenvolvimento de atividades de extensão desenvolvidas na IES pesquisada, ficou claro, logo de princípio, que muitos são os desafios a serem enfrentados para o crescimento da instituição. A possibilidade de seguir pesquisando para o melhor enfrentamento dos problemas complexos que a realidade se apresenta não é desanimador, ao contrário, é justamente essa possibilidade que mantém a maioria dos educadores em ação, a possibilidade de atuar direta e indiretamente no mundo social que os rodeia. A IES pesquisada enfrenta os mesmos problemas detectados desde os seus dois anos de existência, é preciso continuar estudando para diagnosticar as reais deficiências que a impedem de crescer interna e externamente. Crescer como instituição ensinante, e assim melhor oferecer ao seu entorno ensino e serviços de qualidade. Crescer para fora mobilizando seus alunos a ações pontuais na solução de problemas reais, ao mesmo tempo em que potencializa o aprendizado desses alunos.

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Constatou-se a partir da pesquisa de campo que são poucos os moradores da região que conhecem a instituição, e uma das justificativas que se pode dar, além da falta de progresso no campo da comunicação com a sociedade e do marketing, é a ausência de atividades de extensão de longo prazo implementadas nos onze anos de sua existência. Todas as visitas de avaliação in loco realizadas na instituição detectaram problemas de comunicação com a sociedade, este é um ponto que não pode ser negligenciado pelos gestores da IES pesquisada. Os programas e projetos de extensão com a comunidade servem, entre outras finalidades, à demonstração de que a instituição de ensino está em plena comunhão com a comunidade, conhece seus problemas e estabelece ações envolvendo alunos e docentes na busca de solução. Deve-se considerar que, aliada à pouca divulgação da própria IES junto à comunidade, o desconhecimento da marca de sua rede de ensino pela comunidade contribui para potencializar o problema de comunicação detectado nos relatórios de avaliação do MEC. Uma instituição que se relaciona bem com a sociedade é uma instituição reconhecida por seus feitos e méritos no âmbito social. Sua presença junto à comunidade amplia mais e mais a visibilidade de sua marca. A IES pesquisada, portanto, ainda não alcançou o população do seu entorno, ainda não é reconhecida, como instituição de ensino, pelos benefícios que sua presença proporcione na localidade. Por outro lado, a gestão pedagógica de uma instituição de ensino superior é cuidada, na maioria dos casos, pelos coordenadores de curso e coordenadores acadêmicos. Cada coordenação de curso, dentro de sua área de atuação, e apoiada pelos outros cursos da instituição, deve buscar um olhar atento à realidade do entorno e verificar que ações podem ser desenvolvidas aliando a ciência ao mundo real. A imagem da instituição estará diretamente relacionada às atividades que desenvolve na comunidade, tanto quanto pela qualidade dos profissionais que ela insere no mercado de trabalho. É preciso, portanto, pesquisar quais são as necessidades e interesses da região para programar e operacionalizar ações efetivas. Não se está falando aqui de necessidades de um grupo ou minoria, estas serão atendidas quando a IES propuser ações que contribuam para melhorar a qualidade de vida geral da população, ações que podem e devem se dar em parceria com outras instituições ali presentes, públicas e privadas. Cabe recomendar nestas considerações finais que se realizem novos estudos internos e externos que tornem possível desvendar o real papel da IES pesquisada no processo de desenvolvimento global de seu entorno, e assim melhor cuidar que suas ações de extensão,

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assim como seus egressos, respondam de forma eficaz às necessidades sociais se incumbido de projetar a IES por sua competência acadêmica e social.

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