A grande controvérsia: trabalho gratuito na Web 2.0

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A grande controvérsia: trabalho gratuito na Web 2.0 Alex Primo

Introdução O Huffington Post1 era até então um dos maiores exemplos de jornalismo participativo na web. Criado em maio de 2005, o blog estabeleceu-se como uma fonte alternativa de notícias e discussões. Embora apresentasse posts sobre temas variados, seu principal foco era a política dos Estados Unidos. Em virtude da frequência e qualidade dos posts, o blog logo atraiu uma audiência bastante participativa. Ao abrir espaço para uma grande variedade de colaboradores, tal estabelecimento virtual converteu-se em um agitado fórum de debates. Diante de tamanha audiência, o Huffington Post passou a angariar investimentos financeiros significativos. Em 7 de fevereiro de 2011, é anunciada a compra do Huffington Post pela AOL, um dos pioneiros provedores de internet nos Estados Unidos, que havia se tornado uma das maiores corporações de mídia do mundo. Com a conversão do blog em propriedade de um poderoso grupo massivo, os ativistas do jornalismo participativo perdiam uma de suas principais referências. Com a confirmação do negócio, Arianna Huffington, uma das fundadoras do blog, passou a presidir o novo Huffington Post Media 1

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Group. Além do site recém-adquirido, o grupo engloba todo o conteúdo da AOL e blogs importantes como Engadget e TechCrunch, além de serviços on-line como AOL Music e MapQuest. O que poderia parecer um reconhecimento glorioso da força dos blogs acabou assimilado como duro golpe nas utopias que previam que os grandes grupos massivos pereceriam diante do avanço da chamada mídia cidadã. Já a ascenção de Arianna como uma titã da mídia e os altos valores envolvidos na transação (315 milhões de dólares) enfureceram redatores costumazes do blog. Passados dois meses, um grupo de 9000 pessoas que havia escrito posts para o Huffington Post exige 105 milhões de dólares como reposição de perdas, entendendo que o alto valor pago pela AOL levava em conta o conteúdo redigido por eles gratuitamente. O líder do grupo, o ativista em questões trabalhistas, Jonathan Tasinia, havia publicado cerca de 200 textos no blog. De acordo com suas acusações, Arianna mantinha um regime escravocrata. Um ano depois, contudo, a corte de Nova Iorque recusou as alegações, afirmando que os colaboradores enviaram seus posts espontaneamente e tinham consciência de que não receberiam qualquer pagamento por eles.2 Para os partidários da “economia da atenção” (GOLDHABER, 1997), conforme relata Scholz (2013), os redatores free-lancers do Huffington Post já haviam gozado de ampla circulação de seus artigos – um retorno não monetário na forma de autopromoção. Em outras palavras, o que o site retribuíra fora uma exposição privilegiada diante de uma grande audiência segmentada. Mais do que uma polêmica sobre jornalismo participativo, este caso atualizou a demanda por um amplo debate a respeito do trabalho digital. Este capítulo pretende justamente enfrentar esse tema, dando especial enfoque sobre as modalidades de trabalho gratuito.

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Apesar de tratar de diferentes formas de “conteúdo gerado pelo consumidor”, a fórmula de sucesso dos negócios da Web 2.0, esta reflexão dará destaque aos Sites de Redes Sociais (SRS), onde o trabalho gratuito acontece travestido de mero entretenimento.

A multiplicação de práticas de crowdsourcing (HOWE, 2008) na internet não apenas fornece novos exemplos para manuais de negócios digitais e discursos de ativistas como também provoca críticas à exploração do conhecimento alheio, de humilhantes remunerações e até mesmo da inexistência de qualquer retorno financeiro. Veja-se as empresas on-line de crowdsourcing que fazem a intermediação entre designers e empresas em busca de programação visual. Em sites como o 99designs3 (), um cliente abre um concurso com sua demanda (um logotipo, um site, uma embalagem etc.) e oferece um prêmio em dinheiro. No caso de um logotipo, o padrão de valores a serem pagos é o seguinte: 299 dólares (pacote bronze), 499 dólares (pacote prata), 799 dólares (pacote outro) ou 1.199 dólares (pacote premium). Conforme informações disponíveis no site da empresa, ao optar pelo primeiro pacote o cliente deverá receber cerca de 30 logotipos de bons designers; 60 designs produzidos por “ótimos designers”, no pacote prata; em média 90 propostas de designers experientes, auxiliados por gerentes de conta, no pacote ouro; e, finalmente, o pacote premium promete cerca de 60 logotipos submetidos por equipes com “designers excepcionais” e gerentes de conta “escolhidos a dedo pela 99designs”. Processos como esse poderiam ser vistos como uma possibilidade de experiência e formação de portfólio (incluindo clientes internacionais) para jovens designers e publicitários. Os prêmios em dinheiro 3

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As controvérsias do crowdsourcing

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provenientes de concursos vencidos representariam uma fonte de dinheiro extra para estudantes e recém-formados ainda sem emprego. No outro extremo, o estabelecimento de concursos de crowdsourcing pode oferecer a oportunidade para pequenas empresas, que não tem condições de serem atendidas por agências ou especialistas, de aperfeiçoarem sua identidade visual e materiais impressos e digitais. No entanto, profissionais estabelecidos e escritórios de design acusam tais concursos de exploração do trabalho de amadores e da oferta de criações de baixa qualidade. O CEO da agência de design digital Forty, James Archer, admite que o valor da remuneração do pacote premium poderia ser razoável para um estudante. Considerando o valor da hora de trabalho de um novato como 50 dólares por hora, um prêmio de cerca de mil dólares equivaleria a 20 horas de trabalho. Contudo, se um amador está concorrendo com outros 100 competidores, argumenta Archer, ele não dedicaria as mesmas horas de trabalho, visto que existe apenas uma chance em 100 de vencer o concurso. Calculando-se esses valores e o número de horas de trabalho, ele afirma que o razoável seria dedicar não mais que 12 minutos no design da peça! Nesse sentido, o processo seria ruim para o cliente e para o designer. Archer conclui que a promessa do crowdsourcing é capciosa: A ideia de design crowdsourcing é tremendamente sedutora em um primeiro momento, mas quando você faz a matemática, ela simplesmente não funciona. Tem havido muito falatório sobre o processo (“sabedoria das multidões!”), mas pouca evidência de resultados de branding que dele resultem.4.5

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The idea of crowdsourcing design is tremendously appealing at first, but when you work through the math, it just doesn’t work out. There has been lots of buzz about the process (“the wisdom of crowds!”), but little evidence of effective branding results coming from it. (Tradução nossa)

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Disponível em: < http://forty.co/crowdsourcing-your-brand-design-the-math-just-doesnt-workout>, Acesso em: 24 jun. 2014.

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Um dos casos mais espantosos de exploração do trabalho digital refere-se aos projetos desenvolvidos no site de crowdsourcing Mechanical Turk,6 de propriedade da gigante de comércio eletrônico Amazon.com (HORTOE; CHILTON, 2010; PAOLACCI et al., 2010). Através desse serviço, empresas podem pagar baixíssimas somas a pessoas que desempenham tarefas repetitivas que computadores não conseguem realizar. Essas tarefas, chamadas de HITs (Human Intelligence Tasks), podem consistir de práticas como: transcrever trechos de áudio, marcar regiões em uma imagem, transcrever itens em notas fiscais escaneadas. Como cada HIT vale poucos centavos de dólar, cada trabalhador do Mechanical Turk precisa repetir as mesmas tarefas milhares de vezes para que possa receber alguns trocados. Apesar da fecundidade do debate sobre crowdsourcing, este capítulo não pretende discutir a questão da baixa remuneração, o lado mais evidente da exploração do trabalho na internet. O que se quer evidenciar nos próximos itens é como a indústria da Web 2.0 apropria-se do trabalho de seus próprios consumidores, sem que eles saibam, na maior parte das vezes, que participam da produção de valiosas commodities digitais.

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Trabalho disfarçado Após um estafante dia de trabalho diante do computador, um cidadão comum da cibercultura puxa seu smartphone para relaxar no Facebook. Mal sabe ele, contudo, que sua capacidade cognitiva permanece em serviço, desta vez para outro patrão. Curiosamente, esta forma de trabalho mal é percebida. Como brinca Scholz (2013, p. 2), “It doesn’t feel, look, or smell like labor at all.” Para que se possa visualizar como o trabalho gratuito é oferecido na web sem que seja percebido, considere o seguinte exemplo de nos6



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so dia a dia. Para acessarmos um recurso em um site não raro precisamos digitar letras e números desfocados e/ou tortos. Em princípio, tal recurso, chamado de “captcha”, visa barrar programas (de spammers, por exemplo) que têm o objetivo de consultar, publicar ou baixar dados automaticamente. Como apenas humanos conseguem decodificar a imagem, o sistema consegue evitar que robôs on-line possam avançar no processo. Apesar desse procedimento parecer inócuo, a empresa ReCAPTCHA, comprada pelo Google em 2009, desenvolveu uma forma de gerar lucro através de nosso trabalho intelectual gratuito. Tendo em vista que os sistemas de reconhecimento de caracteres (OCR), utilizados para converter livros escaneados em texto manipulável pelo computador, nem sempre conseguem decodificar certas palavras (por problemas no momento da captura, como perda de foco), a ReCAPTCHA utiliza nossa capacidade de ler e digitar para completar a digitalização das páginas7. Além disso, após digitarmos números de placas em fotografias feitas pelo Google nas ruas das cidades, tais informações são utilizadas para o aperfeiçoamento de seus mapas digitais. O site do sistema8 também informa que os padrões de dados gerados a partir dessa decodificação de imagens são utilizados para o desenvolvimento de sistemas de inteligência artificial. Ou seja, ao digitarmos os números e letras exibidos nas duas imagens estamos inadvertidamente e compulsoriamente trabalhando para projetos do Google, que serão vendidos para terceiros, gerando lucro sobre nosso trabalho gratuito. Segundo um ponto de vista, tais métodos seriam uma forma justa de pagar-se por serviços de alta qualidade oferecidos gratuitamente. 7

O sistema é engenhoso, mas simples. Quando dois sistemas OCR divergem no reconhecimento de caracteres de uma palavra em uma mesma página escaneada, tal imagem é separada. A seguir, ela é exibida no sistema ReCAPTCHA ao lado de uma imagem de controle que já foi anteriormente decodificada por humanos. Quando a imagem é digitada da mesma forma por mais de um humano (e que acertaram a digitação da palavra controle), ela é considerada como decifrada. Esta última passa então a ser usada como palavra controle em novas rodadas.

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Olhando-se de outra forma, trata-se de exploração de mão de obra não remunerada. De todo modo, observa-se que o consumo desses serviços on-line tem um preço: paga-se com serviços cognitivos (ex.: resolvendo-se um captcha, oferecendo-se informações próprias, respondendo-se pesquisas etc.). Em boa parte do tempo, portanto, não se sabe que se está desempenhando um trabalho cuja exploração gerará lucro para terceiros. Por vezes, este tipo de pagamento é informado explicitamente. É o que ocorre em sites que oferecem um bem virtual (ex.: um infográfico, um relatório em PDF) e que cobram uma tuitada ou um post em outros Sites de Redes Sociais. Isto é, para que se possa baixar o documento pretendido, o consumidor precisa realizar divulgar a existência daquele bem. Líder nesse segmento, o site Pay With a Tweet (http:// www.paywithatweet.com) autointitula-se como serviço pioneiro de “pagamento social”. Nesse sentido, o custo de produção do bem virtual oferecido é pago na forma de circulação de mensagens promocionais. Elas são enviadas para pessoas conectadas à rede do sujeito que acaba de usar o sistema, cujos interesses são supostamente próximos. Não se pode, contudo, deixar de questionar como lucra a empresa que media tal transação. Segundo a tabela de preços do site Pay With a Tweet, o serviço básico é gratuito. Mas se o cliente optar por pacotes pagos, que oferecem serviços adicionais como estatísticas, botões personalizados ou suporte, terá de desembolsar de 19,99 dólares (premium) a 89,99 (business) por mês. Mas será que o pacote gratuito realmente não envolve nenhuma forma de monetização? Qual seria a vantagem da empresa em manter serviço tão popular? Essas são perguntas que acompanharão toda a argumentação aqui contida. Em suma, quer-se saber: Na web, o gratuito é realmente de graça? Se assim fosse, o consumidor estaria em posição de usufruir de serviços e informações, que envolveram tempo e custos de produção, sem

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oferecer nada em troca. Levando-se este argumento ao seu limite, o consumidor acabaria sendo acusado de explorador! O mercado não é assim tão ingênuo. Sempre que abrimos passagem para um terceiro buscar nossos dados e de nossos contatos (“seguidores”, no Twitter; “amigos”, no Facebook), estas informações serão eventualmente usadas para nos empurrar algum tipo de mensagem publicitária ou oferta direta de venda. Se realmente estamos em uma economia da atenção (Goldhaber, 1997), nossa percepção de tais mensagens em um mar de estímulos de fato vale muito. E anunciantes estão dispostos a pagar monetariamente por essa atenção. O próximo item demonstrará como algumas estratégias de propaganda on-line tem como base o monitoramento e a análise constante de nosso comportamento na web.

Propaganda comportamental on line No Search Marketing, links patrocinados são exibidos no momento em que estamos buscando por determinado tema no mecanismo de busca. É a aproximação perfeita entre o produto ofertado e o interesse do consumidor, no exato instante em que ele está mais suscetível e atento. Neste caso, contudo, são vigiadas apenas as buscas e o histórico de uma única pessoa. Já as empresas que mantém Sites de Redes Sociais conseguem observar não apenas o “dono” daquele perfil individual, mas também seus contatos e o que eles fazem. Quando estão interagindo nesses sites, cada informação lida, cada comentário, retuíte ou curtida são tratados como evidências de gostos e desejos. Essas manifestações são registradas e cruzadas com ações anteriores de cada sujeito e daqueles que fazem parte de sua rede, conforme relacionamento também explicitado.

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Não apenas os Sites de Redes Sociais (ex.: Twitter, Facebook, LinkedIn) podem tratar e comercializar tais dados e padrões gerados, como também terceiros podem ganhar acesso a conjuntos de informações pessoais (ex.: perfil público, fotos), relacionais (ex.: lista de amigos) e interacionais (ex.: curtidas, comentários). Veja abaixo as informações a que a empresa Pay With a Tweet recebe do Facebook (FIG. 1).

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Figura 1 - Tela de login no Pay With a Tweet através da interface do Facebook

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Fonte - http://www.paywithatweet.com, acesso em 25/06/2014.

A Figura 2 mostra um conjunto ainda maior de informações do “dono” do perfil e de seus amigos que podem ser recolhidas por terceiros. Como se vê, o “dono” do perfil precisa autorizar tal cessão de dados.

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Contudo, ao fazê-lo, seus amigos não são notificados que um terceiro teve acesso a diversos dados que ele revelara em seu perfil particular. # Performances InternacIonaIs e medIações socIotécnIcas

Figura 2 - Tela de login no Pay With a Tweet através da interface do Facebook

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Fonte - http://www.wolframalpha.com/facebook/, acesso em 25/06/2014.

Qualquer empresa que consiga acesso a tais dados pode usá-los para diferentes fins comerciais. Pode ela mesma tratá-los em prol de seus objetivos ou vendê-los para outras empresas, que nem o “dono” do perfil, nem seus amigos tiveram contato direto. Enquanto o Facebook exibe um alerta que uma empresa externa pretende capturar certos dados de seu sistema, ele próprio não pede

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autorização para vigiar, recolher e analisar todos os rastros digitais deixados no interior de seu sistema. Além disso, conforme discuti em outro lugar (Primo, 2014), através do sistema Open Graph o Facebook também consegue acompanhar o percurso externo e as atividades on-line de seus “usuários” em todos os sites e aplicativos que usam algum de seus recursos (ex.: botões de curtir e compartilhar, login com username do Facebook etc.). Através do reconhecimento de padrões comportamentais, o Facebook pode gerenciar a exibição de uma gama de recursos promocionais9 dentro de seu sistema, como anúncios na barra lateral e posts patrocinados (que podem referenciar algum amigo que tenha, por exemplo, curtido aquela marca). O caminho mais conhecido a partir do armazenamento da chamada Big Data10 é a identificação de padrões de consumo, que poderão guiar estratégias promocionais com foco bastante preciso. Longe da velha propaganda massiva – que poderia interessar a uma pequena parcela de todo volume de pessoas exposta à mesma mensagem publicitária ao mesmo tempo –, pode-se agora exibir banners para segmentos de pessoas que já demonstraram de alguma forma interesse por tais marcas ou produtos anunciados. O próprio Facebook11 descreve esse processo:

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Digamos que você esteja pensando em comprar um novo aparelho de tevê e começa a pesquisar sobre tevês na web e em aplicativos para dispositivos móveis. Nós podemos mostrar propagandas de promoções de modo a ajudá-lo a encontrar o melhor preço ou outras marcas a se considerar. E uma vez que acreditamos que você está interessando em eletrônicos, podemos exibir propagandas de outros eletrônicos futuramente, 9

https://www.facebook.com/business/products/ads#types, acesso em 25/06/2014.

10

Grosso modo, o termo Big Data refere-se a um volume gigantesco de dados. Apesar dos desafios de coleta, armazenamento e recuperação de tamanha quantidade de informações, novos sistemas informáticos têm sido desenvolvidos para processar e dar sentido a esses dados.

11

http://newsroom.fb.com/news/2014/06/making-ads-better-and-giving-people-more-controlover-the-ads-they-see/, acesso em 25/06/2014.

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como alto-falantes ou consoles de videogames para acompanhar sua nova tevê.12

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Este tipo de modelo, conhecido como propaganda comportamental on-line (On-line Behavioral Advertising – OBA)13 ou behavioural targeting, pode ser assim definido: “Behavioral targeting uses information collected from an individual’s web-browsing behavior (e.g., the pages that they have visited or the searches they have conducted) to select advertisements to display.” (Chen e Stallaert, 2014, p. 430). A prática não é nova, tendo em vista que diferentes empresas há anos vigiam a navegação individual – através de recursos como cookies e tracking pixels – no intuito de apresentar páginas dinâmicas customizadas (apresentando notícias e/ou produtos em virtude de históricos de navegação) e exibir anúncios segmentados. O processo de vigilância para fins promocionais vem sendo aprofundado e o número de informações que fornecemos inadvertidamente tem crescido sobremaneira. O Google reúne informações comportamentais através dos rastros que deixamos em todas suas propriedades virtuais. Através de nossas buscas no Google Search e no YouTube, ou do uso de seu próprio navegador Chrome, por exemplo, a empresa reúne dados sobre nossos interesses e preferências. Além de links patrocinados e banners, quase sempre presentes nas interfaces daqueles sites, como também no Gmail e Google Maps, o processo de exibição de anúncios sincronizados com interesses antes manifestados tem ficado cada vez mais sofisticado. O sistema pode nos acompanhar desde o momento do clique em um link patrocinado até o carrinho de compras ou confirmação do pagamento. Através do sistema de Remarketing14, 12

Let’s say that you’re thinking about buying a new TV, and you start researching TVs on the web and in mobile apps. We may show you ads for deals on a TV to help you get the best price or other brands to consider. And because we think you’re interested in electronics, we may show you ads for other electronics in the future, like speakers or a game console to go with your new TV. (Tradução nossa)

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< http://www.truste.com/consumer-privacy/about-oba/#&panel1-1> Acesso em: 25 jun. 2014.

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. Acesso em: 25 jun. 2014.

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oferecido pelo Google, um anunciante pode exibir no dia seguinte uma oferta especial para aquele potencial cliente que abandonou itens no carrinho de compras ou simplesmente consultou preços. Enfim, conforme resume Ross (2013, p. 15), “as plataformas sociais, rastreadores da web, algoritmos personalizados e outras técnicas de mineração de dados de anos recentes são construídos para obter informações valiosas ou monetizáveis sobre quase todas as nossas atividades online”.15 Isso é possível pois em quase todo canto da web deixamos rastros digitais (Bruno, 2012) que falam sobre nossos interesses, nossos gostos, nossos relacionamentos, nossas histórias de vida. Diante de tamanha vigilância à serviço de interesses mercadológicos, talvez não seja exagero dizer que pagamos os serviços de empresas como Google e Facebook com nossas próprias vidas! No caso deste último, também pagamos com as vidas de nossos amigos, pois mesmo que eles sejam mais discretos que nós, nossas publicações e interações (especialmente quando os mencionamos explicitamente em textos e na marcação de fotos) também revelam muito sobre eles.

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Trabalho gratuito na internet Havia um tempo em que não se tinha dúvidas que a fábrica, a empresa, a oficina, o escritório ou o consultório eram locais de trabalho. Em todo espaço restante o cidadão poderia gozar a vida, ao lado de sua família e de seus amigos. O tempo do não trabalho era, pois, destinado ao descanso e lazer. Entre tantas fronteiras (muitas delas idealizadas) borradas pela internet, esta é mais uma delas, e da qual aqui me ocuparei. Galloway (2012) aponta que na atual era pós-fordista já não se pode mais diferenciar uma atividade prazerosa e não produtiva na 15

“The social platforms, web crawlers, personalized algorithms, and other data mining techniques of recent years are engineered to suck valuable, or monetizable, information out of almost every one of our online activities.” (Tradução nossa)

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esfera do lazer de outra produtiva da esfera do trabalho. Não importa mais onde estejamos (caminhando, dirigindo ou em casa), o smartphone e o notebook nos mantém sempre em contato com o trabalho. Por outro lado, o lazer também pode ocorrer no local de trabalho, visto que a web oferece uma variedade de opções para a descontração. Vale lembrar que quando a internet chegou aos lares do cidadão comum a possibilidade de se trabalhar de casa foi muito celebrada. O home-office tornou-se para alguns a promessa de liberdade: do trânsito, das frias condições estruturais do local de trabalho, das conflituosas relações diárias com os colegas das mesas ao lado. Contudo, o imperativo do always-on fez cada instante privado ser disputado pela avalanche produtivista. A casa torna-se cada vez mais office e menos home. Com a potencialização do pós-fordismo pelas tecnologias digitais, não se vai mais até o trabalho. Tampouco se sai do trabalho. O tempo e o espaço do trabalho tornaram-se uma continuidade. Não é mais necessário ir ao encontro do material de trabalho no prédio da firma, pois ele está na “nuvem”. E não raro promoções na empresa resultam apenas na troca do cartão de visitas (exibindo cargo mais pomposo), pois requer-se ainda maior dedicação (nas noites, nos fins de semana) sem que se receba aumento salarial. Diante da penetração do trabalho lá onde antes supunha-se existir um espaço privado, protegido do olhar do patrão, verifica-se uma movimentação que se dirige de volta para as operações formais, sob condições de insistente vigilância. Cada ação, cada resultado, cada revés é registrado, computado e cruzado com históricos de desempenho e projeções de metas. O que era tempo livre parece agora envergonhar-se diante do risco de confundir-se com tempo perdido. Não devem então surpreender as queixas de estafa cognitiva (cognitive overload). Com telas por todos os lados e com “sistemas interativos”16 sempre demandando por 16

Para uma reflexão crítica sobre os usos e abusos do termo “interativo”, ver Primo (2007).

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[…] o pós-fordismo é um modo de produção que faz da vida em si o lugar de valorização, ou seja, ele transforma comportamentos humanos aparentemente normais em trabalho monetizável. Quanto ao novo consumidor, titãs como Google ou Amazon são os mestres desse domínio. Mais que um simples blogueiro, alguém realiza o trabalho necessário de ligar redes. Mais que um simples consumidor, ao navegar por links num site de comércio eletrônico alguém está deixando rastros de seus gostos e propensões num banco de dados minerador a cada clique ou movimento da tela. Mais que manter atualizada a caixa de entrada do seu e-mail, alguém está guiando a criação e manutenção de relações sociais codificadas. Todos os dias, alguém ligado a uma rede está realizando microtrabalhos não remunerados por horas a fio.17

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algum tipo de intervenção, o cidadão já não consegue mais “desligar”. E quando se pensa estar relaxando, a cognição é mais uma vez posta à serviço. Como visto anteriormente, até mesmo quando se busca informação ou lazer é preciso entregar alguma forma de trabalho on-line (os captchas, por exemplo). Reside aí o interesse central deste capítulo: a apropriação lucrativa de nosso tempo de lazer e a conversão de atividades on-line prazerosas em força de trabalho gratuito. Na lógica econômica do pós-fordismo, aquilo que poderia ser antes visto como entretenimento na web foi convertido em oportunidade de negócio. Conforme aponta Galloway (2012, p. 136),

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Tal mescla entre trabalho e lazer é vista por Terranova (2013) como um tipo perverso de exploração da economia pós-industrial. 17

“[…] postfordism is a mode of production that makes life itself the site of valorisation, that is to say, it turns seemingly normal human behaviour into monetizable labor. The new consumer titans Google or Amazon are the masters in this domain. No longer simply a blogger, someone performs the necessary labor of knitting networks together. No longer simply a consumer, browsing through links on an e-commerce site, someone is offloading his or her tastes and proclivities into a data-mining database with each click and scroll. No longer simply keeping up with email correspondence, someone is presiding over the creation and maintenance of codified social relationships. Each and every day, anyone plugged into a network is performing hour after hour of unpaid micro labo”. (Tradução nossa).

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A autora enxerga um aprofundamento do que o movimento autonomista chamava de “fábrica social”. Ou seja, a fábrica deixa de ser o locus exclusivo do trabalho, pois ele invade toda a vida. Com o rompimento dessa fronteira, representada na modernidade pelos muros da fábrica, o trabalho também infiltra-se pelo ciberespaço. Hoje na internet desempenhamos continuamente um trabalho técnico e cultural, que desafia outro limite moderno: a separação entre produção e consumo. Na economia digital pós-moderna, o consumidor é um trabalhador que produz aquilo que consome. Diante desse cenário, Terranova (2013, p. 37) define que: “Trabalho de graça é aquele momento em que esse consumo de cultura é transformado em produção excedente de atividades, as quais são abraçadas com prazer e, ao mesmo tempo, geralmente são descaradamente exploratórias.” 18 Terranova reconhece que nem todo trabalho gratuito pode ser tomado como sinônimo de exploração. Nas primeiras comunidades virtuais estabelecidas, enquanto a internet comercial ainda engatinhava, todo esforço dedicado inspirava-se no entusiasmo de construir novas formas de relacionamentos mediados por computador. O movimento de software livre é também citado por Terranova como exemplo de trabalho gratuito não imposto, mantido por entusiastas e ativistas. Os programas desenvolvidos podem ser utilizados e distribuídos sem custo, além de poderem ser modificados e redistribuídos livremente. Inspirado pelo ideário hacker de que o conhecimento quer ser livre e de que o copyright se apropria daquilo (o saber) que é um bem da humanidade, de caráter não rivalizante (BENKLER, 2006),19 a criação

18

“Free labor is the moment where this knowledgeable consumption of culture is translated into excess productive activities that are pleasurably embraced and at the same time often shamelessly exploited.” (Tradução nossa)

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Um bem rivalizante é aquele cujo consumo o destrói (um sanduíche, por exemplo). Já um bem não rivalizante (como a língua portuguesa) pode ser utilizado e compartilhado sem que ele perca sua existência.

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Conforme Barbrook (1998), a ativa participação de acadêmicos no desenvolvimento da internet, que já praticavam a livre circulação de ideias no meio científico, foi um marco inspirador. Esse espírito municia até hoje a defesa por padrões e protocolos abertos.

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Na língua inglesa existe apenas uma palavra (free) para “livre” e “grátis”. No primeiro caso, o sentido é de “liberdade”; já no segundo, de “gratuidade”. Para saber mais sobre o movimento de software livre visite: < https://www.gnu.org/philosophy/free-sw.en.html>. Acesso em: 26 jun. 2014.

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e circulação de software livre aproxima-se da chamada economia da dádiva (gift economy). 20 Segundo as utopias situacionistas, o futuro recuperaria relações tribais do passado. Como na antiga Polinésia, a circulação de presentes aproximaria as pessoas e motivaria a cooperação. (BARBROOK, 1998) Nesse sentido, o uso de software livre incentivaria a inovação constante. Como a dádiva cria uma dívida (SANTOS, 2002), espera-se que a comunidade que usufrui de tais programas sem custo colabore distribuindo cópias e desenvolvendo aperfeiçoamentos e novos software segundo o mesmo modelo aberto. Por outro lado, os ativistas do movimento de software livre não podem ser descritos como inocentes úteis, por doarem seu trabalho sem receber nada em troca, privilegiando empresas que gerarão lucros a partir daqueles programas recebidos gratuitamente. Para esclarecer o que entendem por livre, eles recitam o mantra “‘free’ as in ‘free speech’, not as in free beer’”. 21 Ou seja, profissionais filiados ao movimento cobram por seus serviços de instalação, manutenção, programação de sistemas específicos etc. Fartamente estudado, o movimento de software livre é um exemplo recorrente de resistência aos interesses hegemônicos da grande indústria (leia-se Microsoft). Pode ser visto também como uma forma de transformação do capitalismo no interior do próprio sistema. Hardt e Negri (2004, p. 101) defendem que as características desse tipo de produção imaterial vem transformando o trabalho e a própria sociedade. Para eles, o trabalho imaterial, ação produtiva sobre o conhecimento, “tende a assumir a forma social de redes baseada na comunicação, na colaboração e nas relações afetivas. O trabalho imaterial só pode ser realizado

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em comum, e está cada vez mais inventando novas redes independentes de cooperação através das quais produzir.” Contudo, a economia da dádiva, a potência do trabalho imaterial e as diferentes formas colaborativas da multidão não podem ser tomadas como um ponto de chegada, a realização definitiva das utopias. Terranova (2013, p. 50) procura alertar como o capital aproveita-se do trabalho gratuito para multiplicar-se, exaurindo-o. Para ela, não se pode estudar a economia digital sem relacioná-la com o capitalismo tardio: “the Internet has been always and simultaneously a gift economy and an advanced capitalist economy. The mistake of the neoliberalists (as exemplified by the Wired group),22 is to mistake this coexistence for a benign, unproblematic equivalence.” Como prova de que a participação da audiência (tão celebrada por O’REILLY, 2005; SHIRKY, 2008) é uma forma de trabalho gratuito altamente rentável, a autora cita o alto valor de mercado das empresas da Web 2.0, mesmo no seio da crise da economia americana. Tal valor é em sua maior parte devido ao que os consumidores produzem, ao passo que apenas uma pequena minoria mantém vínculo empregatício com essas empresas. A rigor, em sua pioneira discussão sobre a economia da dádiva, Barbrook (1998, p. 6) já criticava a utopia purista da Nova Esquerda23 de que a dádiva seria a antítese da commodity: “Contrary to the ethical-aesthetic vision of the New Left, money-commodity and gift relations are not just in conflict with each other, but also co-exist in symbiosis.” Existe uma relação estreita entre a economia da dádiva e o setor comercial. O autor lembra que a livre circulação de informações depende da indústria capitalista de hardware, software e telecomunicações. Além disso, a lucratividade das empresas 22

Terranova refere-se aqui à revista americana Wired, que notabilizou-se por suas análises da economia e cultura digital. Alguns dos artigos publicados por seus editores e jornalistas foram mais tarde expandidos e publicados em livro, tornando-se rapidamente bestsellers internacionais: Anderson (2006), Anderson (2009), Howe (2008).

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De toda forma, Barbrook (1998) reconhece que a Nova Esquerda antecipou a emergência do que chama de “hi-tech gift economy”.

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que atuam na internet é proporcional ao número de participantes na hi-tech gift economy. Tais reflexões foram publicadas anos antes da emergência da Web 2.0, mas a análise é ainda bastante atual. Serviços de rede sociais na internet, por exemplo, tornam-se sedutores para anunciantes e, portanto lucrativos, à medida que conseguem atrair quantidades cada vez maiores de participantes. Apesar de todas as diferenças das interações mediadas por computador em contraste com a comunicação de massa, algo permanece inalterado: a reunião de públicos segmentados continua atraindo o interesse de marcas em pagar para anunciar-lhes seus produtos. Logo, quanto mais pessoas um sistema atrai e quanto maior sua capacidade de estratificar grupos segundo certos critérios (idade, gênero, interesses etc.), maior o seu valor. Nesse sentido, o negócio do Facebook, aquilo que lhe oferece rendimento financeiro, não é evidentemente a cessão de um serviço para interações e relacionamentos on-line. O Facebook não cobra pelo acesso e uso de seu sistema. O que ele vende são audiências segmentadas para anunciantes ávidos em atrair compradores para seus produtos. Diferentemente das audiências dos meios de massa, os participantes de Sites de Redes Sociais são absolutamente ativos e criam o próprio conteúdo consumido. Mesmo as conversas mais triviais, a publicação de piadas, o compartilhamentos de memes e até mesmo simples curtidas são dados tratados pelos algoritmos do Facebook para a geração de padrões de consumo. Esses resultados computados a partir dos rastros digitais vigiados constantemente alcançam alto valor no mercado. Jamais uma empresa de comunicação teve plateia em tamanha escala global, precisamente estratificados, e tamanho controle sobre os elementos de suas vidas relacionais. Em decorrência, jamais os anunciantes tiveram tantos elementos para construir estratégias persuasivas para a venda de seus produtos.

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Conforme Fuchs (2014), trata-se de apropriação do tempo, da atenção e da produção das pessoas que usam o sistema. E como tal produção simbólica é explorada pelas empresas detentoras das plataformas de redes sociais na internet, verifica-se também uma nova forma de alienação. Isto ocorre, pois as somas advindas do conteúdo gerado pelos consumidores não lhes pertence. Muito além de simples divertimento, as interações em sites como Facebook configuram-se como trabalho gratuito, como produção de dados convertidos em commodities rentáveis, exploradas pela corporação que detém a plataforma. O tempo que é gasto num plataforma corporativa é igual ao valor criado por seus trabalhos digitais não remunerados. Esse labor digital cria relações sociais, dados de perfis pessoais, conteúdo gerado por usuário e relatórios (comportamento de navegação), uma mercadoria sob a forma de dados que é posta à venda por corporações da Internet a empresas de propaganda, as quais podem selecionar certos grupos que desejam alcançar. (FUCHS, 2014, p. 95-96)24 Como a infraestrutura para interação em Sites de Redes Sociais é um sistema proprietário e conforme os termos de uso compulsoriamente aceitos pelos participantes, a produção que lá desempenham, os produtos que criam e até mesmo seu comportamento relacional são convertidos em lucro pelas empresas que oferecem o serviço on-line. Em outras palavras, suas criações subjetivas são comoditizadas. A partir de uma perspectiva Marxista, Fuchs (2014) conclui que Usuários de plataformas de mídia social comerciais nem controlam nem têm posse sobre seus próprios dados, sendo deles alienados. O trabalho que gera commodity de audiência é explorado porque gera valor e produtos que são possuídos por

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“The time spent on corporate platforms is the value created by their unpaid digital labour. Their digital labour creates social relations, profile data, user-generated content and transaction data (browsing behaviour) a data commodity that is offered for sale by Internet corporations to advertising clients that can select certain user groups they want to target”. (Tradução nossa).

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Os próprios consumidores produzem o conteúdo que eles mesmos consumirão. Prestam um trabalho gratuito sem mesmo perceber que suas interações, produções simbólicas, seus comportamentos e relacionamentos estão sendo transformados em produtos e vendidos. Ironicamente, diante de máquina publicitária tão bem arquitetada, os próprios consumidores podem pagar para anunciar algo (como um blog que mantém) para outros consumidores. Seria esta a mais perfeita máquina capitalista já produzida? A inequívoca fábrica social que transforma o prazer em rentável trabalho gratuito?

Com a atenção toda voltada para os onipresentes serviços on-line de redes sociais, frequentemente esquece-se da velha indústria massiva. Porém, mesmo presa a antigos dogmas, de um tempo em que centralizava a comunicação, a grande indústria dos meios de massa percebeu que precisava reinventar-se. Em um primeiro momento os grandes grupos midiáticos sentiram o baque da dispersão das audiências e da concorrência de conteúdos digitais produzidos por “amadores”. Mas mesmo na velha televisão, a participação da audiência vem sendo ampliada. Os rostos das pessoas comuns começaram a concorrer com as celebridades do horário nobre. No limite, conforme sentencia Ross (2013), a reality TV transformou a programação televisiva em um grande show de talentos. O pagamento: apenas alguns felizardos são contemplados com o grande prêmio.26 O autor comenta inclusive que 25

Users of commercial social media platforms do not control and own their data; they are alienated from it. The labour that generates audience commodity is exploited because it generates value and products that are owned by others, which constitutes at the same time an alienation process. (Tradução nossa)

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Para Turner (2004), a fama instantânea é o prêmio de fato buscado pelos candidatos.

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outros, o que se constitui ao mesmo tempo como um processo de alienação.25

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esse modelo barato, mas bastante lucrativo, acabou gerando uma série de greves de roteiristas e redatores profissionais nos Estados Unidos. No contexto jornalístico, as empresas noticiosas também passaram a abrir mais espaço para seus públicos. Com o tempo, os sites de empresas jornalísticas tradicionais incorporaram práticas e recursos desenvolvidos de forma emergente em projetos de jornalismo participativo, no Twitter, em blogs etc. É difícil hoje não encontrar-se recursos como comentários, tags, enquetes, espaços de fotos e textos da audiência em sites e portais daqueles grandes grupos. Mas talvez uma das situações em que a participação da audiência seja maior e na qual ela mais ofereça trabalho gratuito à indústria de massa seja na produção de fanfics (abreviatura de fan fiction). Trata-se da criação de histórias produzidas por fãs de certos filmes, livros e histórias em quadrinhos (que frequentemente compõem trilogias ou séries maiores), que utilizam personagens e cenários daqueles produtos culturais massivos. Assim, os fãs dão prolongamento às aventuras de seus personagens favoritos, contribuindo para a manutenção do interesse naquele universo narrativo, mesmo quando a indústria não apresenta algo novo. No contexto dos videogames, mods (abreviatura de modifications) são produzidos por fãs de jogos populares e podem variar de expansões e cenários personalizados a novos jogos inspirados nas versões originais. Inicialmente, a indústria reagiu mal à popularização dessas criações de fãs, perseguindo-os por fazerem uso não autorizado de material protegido por copyright. Enquanto isso, empresários logo perceberam a oportunidade de rentabilizar com o trabalho afetivo alheio, no melhor estilo Web 2.0. Esse é o caso da empresa FanLib.com. Mesmo tendo atraído diversos criadores de fan fiction, em 2008 (um ano após sua abertura) o site saiu do ar, diante da pressão de fãs insatisfeitos pela postura predatória da empresa. (JENKINS, 2009) Com a evolução da tensão entre esses diferentes interesses, hoje não raro a grande indústria faz vista grossa para as criações dos fãs,

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< http://www.theforce.net/latestnews/story/Star_Wars_Fan_Film_Awards_Canceled_146030.asp>

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Para conhecer comunidades bastante ativas de autores e leitores de fanfics, visite os seguintes sites: , , , (estes dois últimos dedicados a fanfics sobre Harry Potter).

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pois já conhece o potencial mercadológico dessa prática emergente. Talvez o maior reconhecimento de que tais produções emergentes agregam valor aos produtos originais tenha sido a realização de The Official Star Wars Fan Film Awards. Enquanto durou esse evento oficial (2002-2011),27 premiou-se anualmente os melhores filmes de fãs com personagens da saga Guerra nas Estrelas. Para Kosnik (2013), as fanfics são uma modalidade de trabalho gratuito que, ao fim e ao cabo, privilegia a indústria massiva. Por outro lado, os fãs não percebem seu esforço e o grande volume de horas que dedicam a essa produção como trabalho. A autora observa que os criadores de fanfics tampouco querem ter suas identidades reconhecidas. Em sua maioria, tais fãs se apresentam através de pseudônimos e fazem o possível para esconder suas informações pessoais. O que motiva tamanho empenho é a satisfação de ampliar as histórias, de estar em contato com os personagens e enredos que tanto idolatram. Como a comunidade que se reúne em torno de fanfics é bastante participativa,28 os sistemas de publicação dessas histórias recebem uma grande quantidade de comentários. Tendo em vista que os capítulos são publicados aos poucos, a interação com os leitores no sistema de comentários associado a cada parte é em si incentivador. Com frequência, os leitores dizem-se emocionados com a leitura do capítulo, oferecem sugestões e rogam que os próximos capítulos não demorem para ser disponibilizados. Do ponto de vista do autor de fanfics, esse tipo de retorno quase instantâneo pode ser compreendido como um ganho suficiente. Mesmo que alguns grupos organizados de fãs possam queixar-se de falta de atenção e incentivo por parte da indústria (Silveira, 2010), para a

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maior parte dos autores de fanfics ser ignorado pelos advogados dos estúdios e editoras já é uma recompensa. (SCHOLZ, 2013) Kosnik (2013) é simpática à ideia de que os fãs escritores deveriam receber algum tipo de retorno financeiro por seu trabalho criativo – pelo menos como fazem bloqueiros e vlogueiros, através de sistemas como Adsense, do Google. No entanto, ela observa que os próprios fãs dispensariam tal pagamento. Sentiriam-se como traidores da causa defendida, confundindo-se com os promotores oficiais que se vendem por comissões. “A concretização da possibilidade de fãs serem pagos por seus trabalhos dependeria que tanto eles e quanto as corporações não só reconhecessem o fandom como uma forma de trabalho a valorizar as mercadorias produzidas massivamente, como também ser digno de recompensa”29 (KOSNIK, 2013, p. 110) Tampouco parece provável a organização dos fãs em algum tipo de sindicato. Segundo a autora, mesmo que eles reúnam-se em grupos e comunidades, seria muito difícil atingir um consenso sobre necessidades e demandas, já que cada fã trabalha como e quando lhe convém, buscando satisfação individual. Jenkins (2009, p. 242-243) acrescenta que: Para muitos fãs, a natureza não comercial da cultura do fã é uma de suas características mais importantes. Essas histórias são fruto do amor; elas operam numa economia de doação e são oferecidas gratuitamente a outros fãs que compartilham da mesma paixão pelos personagens. Sendo livres das restrições comerciais que cercam os textos originais, elas conquistam nova liberdade para exploraremos e experimentar estruturas e estilos que não poderiam fazer parte das versões “mainstream” desses universos. Outros do fandom, entretanto, argumentavam que o fracasso dos fãs em capitalizar sobre a própria produção cultural é que os deixou vulneráveis aos interesses comerciais externos [FanLib.com, por exemplo].

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“The realization of any possibility for fans to earn payment for their labor would depend on both fans and corporations acknowledging that fandom is a form of labor that adds value to massproduced commodities and is worthy of compensation.” (Tradução nossa)

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Os fãs não sentem que estão colaborando com a indústria, agregando valor a produtos massivos. Em sua ótica, o que fazem é modificar commodities, customizando bens massivos padronizados segundo seus próprios interesses. Uma forma de resistir ao consumismo, diriam eles. (KOSNIK, 2013) Logo, não aceitam a formalização de parcerias. Nesse sentido, em vez de constituírem um peculiar tipo de alienação, as fanfics não poderiam ser tomadas como uma forma de resistência? As apropriações de fãs – incluindo spoilers, fanart, traduções colaborativas de livros e filmes – não desafiariam a imposição e o controle da grande indústria de massa? É preciso observar que o próprio conceito de resistência é controverso. Conforme mostra Freire Filho (2007), tradicionalmente o termo referia-se a protestos organizados contra instituições ou ideologias tidas como opressivas. A partir dos anos 1980, passou a referir-se a ações mais prosaicas, sem conotações políticas. Quanto ao fã, antes tido como insano fanático, agora torna-se consumidor ativo. Freire Filho (2007, p. 98) ironicamente o chama de “herói do admirável mundo novo da convergência midiática”. Sobre sua incorporação ao sistema de produção e promoção, o autor sentencia:

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Ninguém ignora, obviamente, a utilidade comercial das redes transnacionais de fãs para as estruturas corporativas de marketing e publicidade. As comunidades de entusiastas funcionam como fontes privilegiadas para pesquisas de opinião, exuberantes nichos de mercado e criadoras de sites e blogs assiduamente visitados, como notícias, resenhas, discussões e trailers de seriados e filmes já lançados comercialmente ou ainda em fase de produção. (Freire Filho, 2007, p. 105).

É provável que em nenhuma outra esfera midiática a audiência seja tão participativa, oferecendo tanto esforço criativo que qualifica ainda mais produtos culturais da grande indústria. Mesmo assim, as controvérsias aqui descritas não parecem querer arrefecer. Mesmo que haja alguma estabilidade temporária, enquanto estúdios e editoras fingem não

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ver seus personagens protagonizando histórias escritas por “amadores”, a qualquer momento alguns deles podem ser punidos por “pirataria”. Os fãs, por sua vez, mesmo iniciando suas fanfics com disclaimers, nos quais reconhecem os direitos autorais originais, não aceitam a perseguição legal. Tampouco sentem estarem colaborando com a indústria, conferindo valor afetivo adicional às mercadorias culturais que seus nichos consomem. Em vez disso, pensam estar afrontando as imposições das indústrias culturais. Enquanto isso, como mostra Jenkins (2009, p. 236), a indústria diz apoiar a participação das audiências. “As corporações imaginam a participação como algo que podem iniciar e parar, canalizar e redirecionar, transformar em mercadoria e vender.” Os consumidores, contudo, querem participar segundo suas próprias regras. Sem importar-se sobre como os discursos libertários da Web 2.0 são usados, o capital contenta-se com sua multiplicação.

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Diante das reflexões aqui expostas, é possível observar a quantidade de controvérsias que acompanham a questão da participação na cibercultura. Para além dos panfletos da Web 2.0, participar não representa apenas resistir ao grande capital midiático, mas também contribuir para sua multiplicação. O “conteúdo gerado pelo consumidor” em interfaces baseadas na “arquitetura da participação” de fato confirmaram o potencial rentável da Web 2.0, conforme prometido por O’Reilly (2005). E como descreve a seguinte piada que já circulou na internet, “Você produz todo o conteúdo. Eles ficam com todo o lucro.” (JENKINS, 2009, p. 242) Ross (2013, p. 16-17) observa que o trabalho gratuito na contemporaneidade encontra-se cada vez mais disponível: desde os quase obrigatórios estágios não remunerados, passando pelos reality shows até os variados processos de crowdsourcing e data-mining em Sites de

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Redes Sociais. Apesar do valor agregado aos produtos resultantes e do lucro aferido, os participantes daqueles processos não esperam qualquer retorno financeiro. “In most corners of the information landscape, working for nothing has become normative, and largely because it is not experienced as exploitation.” No que toca os Sites de Redes Sociais, Scholz (2013) afirma que, apesar de sermos vendidos como produtos, em virtude da ampla coleta de dados sobre nossos comportamentos on-line, e de como perdemos nossa privacidade, sentimo-nos satisfeitos com a gratuidade daqueles serviços. Neste momento, vale lembrar uma máxima hacker: se você não paga por algo, é porque você não é o consumidor, mas sim o produto à venda.30 Dentre tantas questões aqui expostas, reside aí a grande controvérsia: apesar dos riscos da perda de privacidade, contentamo-nos em poder estar em contato com familiares e amigos em sistemas tão ágeis e hipermidiáticos. Oferecemos nossas vidas e de nossos amigos em troca de conexão. Mas mesmo que a imprensa a todo momento cite casos de problemas relacionados com a exposição de informações pessoais nesses sites, sabe-se ainda pouco sobre como tais plataformas capturam nossos dados e os convertem em mercadoria rentável (ROSS, 2013; BEER, 2008). Aqueles que percebem riscos da publicação de fatos e fotos pessoais, incluindo a referência automática sobre localização geográfica, já tomam o cuidado de definir que apenas certos amigos possam receber tais atualizações. Mas talvez o que não saibam, é que mesmo assim o Facebook pode monetizar sobre tais dados. Basta ver as propagandas focadas exibidas mesmo para quem tenta proteger suas publicações. Com a vigilância constante de nossos rastros digitais, nosso comportamento é analisado e enquadrado em padrões de consumo. Essa valiosa

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Frase de Andrew Lewis,disponível em: . Acesso em: 30 jun. 2014.

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padronização pode então ser utilizada para a venda de um grande leque de anúncios publicitários voltados para nichos cada vez mais específicos. Considere agora pessoas que já tenham conhecimento de como os Sites de Redes Sociais põe interações profissionais e relacionais, vidas privadas e até emoções no balcão de negócios. Por que todas elas não saem do Facebook? Julgam que teriam muito a perder. Deixariam para trás o contato com amigos, o divertimento com piadas e memes, o acompanhamento do cotidiano alheio, o relato de seu dia a dia, as trocas profissionais, a descoberta de links etc. Se parte de nossas vidas lá acontece, que levem um quinhão. Se nos vigiam enquanto interagimos, que nos permitam também vigiar os outros. E que nos deixem expor uma identidade bem gerida. Assim, quiçá, aumentamos nosso capital social. Sobre essas ironias se estabelece a grande controvérsia das redes sociais on-line.

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