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May 27, 2017 | Autor: Luis Barroso | Categoria: Military History, Strategy (Military Science)
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A Grande Guerra e a Construção do Mundo Moderno
A Arte Militar Terrestre
Como devemos entender a Grande Guerra no contexto da evolução da arte militar? Foi a Grande Guerra um momento de rutura?
A arte militar é a expressão do pensamento criativo do chefe militar no emprego de forças para vencer adversários. Depende da logística, tecnologia militar e equipamentos que influenciam a organização militar e a conduta das operações, bem como das circunstâncias em que o combate ocorre. De entre essas circunstâncias, o comandante militar tem deve ser capaz de capturar o carácter da guerra que se adapta a cada momento histórico, tal como definido por Clausewitz. A partir do carácter do inimigo, das suas instituições e da sua situação, cada um dos contendores, usando leis da probabilidade e do acaso avalia qual será a modalidade de ação do seu adversário. Assim, cada plano de guerra deve ter em atenção ao carácter contemporâneo do combate, para que os seus respetivos planos se adaptem aos recursos à disposição, que são utilizados de acordo com o espírito e caráter geral da época. A incapacidade em compreender o caráter da guerra em dado momento leva ao desastre.
A base concetual da arte militar no final do século XIX era essencialmente o resultado das guerras napoleónicas e da sua adaptação por Moltke nas campanhas contra a Áustria (1866) e contra a França (1870-1871). Foi com Napoleão que se aprimorou o emprego coordenado de corpos de exército por linhas exteriores através de movimentos torneantes que colocassem o inimigo em desequilíbrio para depois poder explorar as suas reservas como forças de exploração. A sua habilidade em movimentar forças rapidamente, mudar as missões de entre forças, combinar colunas para alcançar resultados decisivos numa única batalha eram os exemplos característicos da arte militar naquela época. Contudo, a revolução Industrial revelaria os limites daquele paradigma militar em duas dimensões distintas, mas convergentes: o comando e controlo; e o poder de fogo. O comando e controlo, que já era uma dor de cabeça nas guerras napoleónicas, devido ao distanciamento das unidades e ao elevado número de soldados, aumentou significativamente no período que antecedeu a Grande Guerra. O grande numero de unidades e o volume de efetivos, fez aumentar exponencialmente o problema do comando e controlo. Por seu lado, o incremento do poder de fogo, que fez aumentar a largura e a profundidade das zonas de morte, era o principal obstáculo às forças atacantes quando atacavam posições defensivas. Por conseguinte, se poder de fogo proibia as roturas e as penetrações, o comando e o controlo dificultavam os movimentos torneantes. Se a isto somarmos a demanda do apoio logístico, devido aos elevados efetivos, facilmente se compreende qual era o principal problema tático do comandante.
A Grande Guerra, iniciada em julho de 1914, prometia ser um claro exemplo de velocidade, antecipação e poder de fogo até então nunca visto, em especial na frente ocidental. Porém, três meses depois, o impasse na frente ocidental resultou numa sangrenta guerra de trincheiras dominada pelo fogo. A tecnologia existente impediu que a manobra se sobrepusesse ao fogo por não ter uma solução que conseguisse levar o combate à profundidade operacional do adversário. Não era possível manter a pressão sobre as reservas e os segundos escalões depois de romper a posição, dando vantagem a quem defendia e contra-atacava. Como os contendores eram simétricos, entrou-se num período de ação-reação, essencialmente dominado pela necessidade de vencer a primazia do fogo sobre a manobra na tentativa alcançar resultados decisivos. Numa frente contínua e simétrica entre o Mar do Norte e a Suíça, o principal problema que se lhes colocava e romper a posição adversária e alcançar a profundidade necessária para o fazer colapsar. Várias soluções se afiguraram lógicas ao longo do conflito, mas nenhuma viria a ser decisiva. Para a Alemanha, a aplicação da defesa elástica em profundidade, com alma no contra-ataque liderado pelas Strormtrupps, parecia ser o método mais adequado para produzir a atrição suficiente para fazer capitular os aliados. Para os aliados, a necessidade de recuperar o território perdido e penetrar até território alemão dependia da capacidade em concentrar fogos e executar ataques coordenados para dificultar a ação do defensor. O emprego promissor de unidades de carros de combate em Cambrai (1917) e em Amiens (1918), e em muitas outras batalhas, acabaria por não ser visto como a solução até meados de 1918. Porém, J.F.C. Fuller capturou o caráter do combate naquele período, quando concebeu as bases teóricas para resolver o problema na frente ocidental, expresso no Plano 1919: o emprego massivo de carros de combate atacando em vários pontos ao longo da frente para manter a surpresa, impedir as reservas alemãs de contra-atacarem concentradas, e atingir o centro de decisão adversário na retaguarda. Uma arma utilizada ao nível tático para apoiar a infantaria era agora a base de um conceito para empregar ao nível operacional como a arma decisiva na guerra. Se houvesse dúvidas quanto à visão de Fuller, a Segunda Guerra Mundial provou-a através do sucesso que os alemães alcançaram na França em 1940 e nos primeiros meses da campanha na Rússia em 1941.
A Revolução Industrial veio à guerra: as circunstâncias e o caráter da guerra.
O desenvolvimento na arte militar na Europa durante o século XIX acompanhou o desenvolvimento técnico e societal...


Carl von Clausewitz, On War, Michael Howard and Peter Paret (Ed. And Transl.), (New Jersey: Princeton University Press, 1976).
Idem, p. 80.
Idem, p. 220.
Idem, p. 554.



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