A Guerra Por Procuração na Síria

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A Guerra por Procuração na Síria Author : Marli Barros Dias - Colaboradora Voluntária Sênior Categories : NOTAS ANALÍTICAS, ORIENTE MÉDIO, POLÍTICA INTERNACIONAL Date : 26 de novembro de 2015

O mundo multipolar estabeleceu uma nova ordem geopolítica e geoeconômica, tendo recriado um conjunto de estratégias voltadas a interesses díspares entre as potências regionais e, também, globais. A ausência da partilha de valores, no mundo atual, converge para o distanciamento entre aqueles que se configuram como atores principais no cenário mundial e os que tentam construir uma ponte que os leve aos seus objetivos através de subterfúgios diversificados e dos escombros dos conflitos bélicos. Apesar de ser imperceptível ao Ocidente, isto está acontecendo na Guerra Civil da Síria através de uma “Guerra por Procuração” que se revela através da existência de inúmeros grupos insurgentes e de seus patrocinadores. A Síria e o Iraque tornaram-se os bastiões dos jihadistas que combatem em nome de uma causa que não é exclusiva dos revoltosos mas, também, dos Estados que vêm financiando estas organizações não estatais. Na sequência dos 4 anos de guerra, a Síria e, por extensão, o Iraque, transformaram-se em ambientes férteis para a criação de incontáveis grupos insurgentes. Esta realidade tornou-se viável porque, em várias ocasiões, estão por detrás das fações radicais vários 1/3

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países http://www.jornal.ceiri.com.br que têm utilizado seu poderio econômico para ajudar a insurgência armada em causa própria. Os recursos, discretamente repassados aos insurretos, dão fôlego a uma guerra que, inicialmente, era local e, hoje, parece dar as coordenadas para uma nova configuração geoestratégica e geopolítica no Oriente Médio. O poder dos bastidores tem traçado as diretrizes para o redimensionamento do conflito armado a partir de uma guerra feita por procuração distribuída entre as inúmeras fações rebeldes que lutam contra o regime de Bashar al-Assad e entre si. Juntos, os combatentes totalizam 100.000 homens, incluindo os muçulmanos estrangeiros. Neste contexto, as divergências não são apenas entre sunitas e xiitas, mas também entre os próprios sunitas. A sunita Frente al-Nusra (Frente de Apoio ao Povo de al-Shâm pelos Mujâhidîn de al-Shâm nos Campos da Jihâd), que está coligada com o Ahrar al-Sham (Movimento Islâmico dos Homens Livres do Levante) e a Ajnad al-Sham (União Islâmica dos Soldados do Levante) e que, juntas, formaram a aliança Jund al-Malahim (Soldados dos Épicos), se opõem a al-Assad e à Rússia, mas também ao Estado Islâmico, igualmente sunita. Este é o resultado de uma guerra singular, na qual a proliferação de pequenos grupos e de coligações corresponde aos “anseios e visões de seus financiadores”[1]. A coalizão ocidental, liderada pelos EUA, tem sido um suporte financeiro importante para o Exército Livre da Síria mas, ao longo de 2015, foram os países do Golfo Pérsico, nomeadamente a Arábia Saudita e o Qatar, que impulsionaram os rebeldes em termos de recursos financeiros e de armamentos. Desde o início da intervenção russa na Guerra Civil síria, o fornecimento de armas, incluindo mísseis antitanque oriundos do Golfo Pérsico, aumentou substancialmente. Por outro lado, o grau de aceitação do Exército Livre da Síria tem aumentado de maneira significativa, não apenas entre os civis sírios que se opõem ao regime de al-Assad, mas também entre os outros grupos rebeldes. Tornou-se comum os jihadistas migrarem para os grupos melhor organizados e mais eficientes[2]. A dinâmica da guerra por procuração, na Síria e no Iraque, determina os embates, cujos objetivos visam atender a demanda do financiador enquanto força que impulsiona economicamente o conflito e causa cada vez mais refugiados e deslocados em sociedades praticamente destruídas. A diplomacia paralela, na Guerra Civil síria, funciona de modo praticamente invisível entre alguns Estados e os grupos insurgentes. O dinheiro que estes grupos recebem quase sempre é transferido através de transações aparentemente lícitas, isto é, ele é efetuado por meio do pagamento de resgates de pessoas sequestradas pelos jihadistas. Isto explica, por exemplo, o êxito do Estado Islâmico. Segundo Loretta Napoleoni, especialista em terrorismo e lavagem de dinheiro, “na maioria dos casos, os patrocinadores envolvidos nesse negócio abominável usam o dinheiro do pagamento de resgates para ocultar seu patrocínio. Parece o caso dos 20 milhões de Dólares de resgate que o Qatar pagou à alNusra para libertar quarenta e cinco soldados das Nações Unidas [...], que tinham sido sequestrados nas Colinas de Golã”[3]. Esta é uma questão que o Ocidente, ou não percebeu, ou ainda não quis ver. O fato de os EUA e a Grã-Bretanha se recusarem a pagar resgates, ao contrário de outros países que negociam com os sequestradores, não significa que as potências ocidentais estejam determinando as regras do jogo mas, pelo contrário, apenas revela a frustração das sociedades ocidentais, enquanto que os 2/3

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insurgentes, à semelhança do Estado Islâmico, já identificaram as peculiaridades do http://www.jornal.ceiri.com.br Ocidente, as suas falhas, as fragilidades no campo da segurança e as hipóteses de vitória ante o inimigo militarmente mais poderoso. Deste modo, os fundamentalistas conseguiram antever as consequências da guerra por procuração, travada na Síria e no Iraque, bem como o retorno dos efeitos aos seus financiadores, que culminará no enfraquecimento dos próprios Estados patrocinadores. -----------------------------------------------------------------------------------------------Imagem “Combatentes do Exército Livre da Síria verificam as armas numa casa situada na fronteira sírio-libanesa, algures perto de Wadi Khlaed,antes de uma operação noturna” (Fonte): http://www.si-mitchell.co.uk/wp-content/uploads/2012/10/IMG_2111.jpg -----------------------------------------------------------------------------------------------Fontes Bibliográficas: [1] Ver: LORETTA NAPOLEONI, A Fênix Islamista: O Estado Islâmico e a Reconfiguração do Oriente Médio, Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2015, trad. do inglês por Milton Chaves de Almeida, pág. 50. [2] Ver: Ibidem. [3] Ver: Id., ib., pág. 52-53.

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