A hermeneutica estrutural do sujeito

July 22, 2017 | Autor: André Costa | Categoria: Filosofía, Biologia, Pedagogia
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XVIII Encontro de Iniciação à Pesquisa Universidade de Fortaleza 22 à 26 de Outubro de 2012

A

hermenêutica

André

Azevedo

estrutural Costa¹²³*(IC),

do Juliano

sujeito Cordeiro¹²(PQ) .

1. Universidade de Fortaleza – PIBIC/CNPQ 2. Universidade de Fortaleza – Curso Psicologia 3. Universidade Federal do Ceará – Curso Ciências Biológicas Palavras-chave: Educação, Comunicação, Pedagogia, Hermenêutica.

Resumo O presente trabalho procura analisar algumas ideias sobre comunicação e, consequentemente, a hermenêutica proposta por Humberto Maturana e Francisco Varela. As reflexões aqui dispostas se voltam ao aperfeiçoamento da atividade pedagógica do ser humano em geral, sugerindo um processo educacional capaz de não apenas refletir o conhecimento, no entanto as condições de sua própria produção. Desta forma, com efeito, também pelas sugestões dos teóricos envolvidos no trabalho, propomos como deve ser uma educação consistente. Humberto Maturana é Ph.D. em biologia, procurando compreender a ontologia do ser humano com base no seu sistema nervoso. Francisco Varela é Ph.D. em biologia; é chileno e também procura entender o ser humano fundamentado na neurobiologia. (MATURANA; VARELA, 2011).

Introdução Os dois teóricos chilenos se baseiam em muitas tradições filosóficas a fim de entrelaça-las com o conhecimento da biologia produzindo ideias pertinentes. O filosofo que parece ter influenciado os autores de maneira decisiva é Kant. Kant era da tradição filosófica chamada idealismo alemão, um corpo teórico dos mais elaborados na filosofia. Uma compreensão de Kant, que refletia os entraves do empirismo e inatismo, era de que alguma forma o ser humano nasce com uma compreensão inata de noções como o espaço e o tempo, definindo dessa forma que o conhecimento das coisas depende do indivíduo humano. Kant não negava a realidade externa, embora possuísse os pensamentos de que o real metafísico era incompreensível em sua totalidade, devido ás influências que o humano possuía no modo de conhecer. (CARLI, 2009). Humberto Maturana e Francisco Varela iniciam suas produções sobre o conhecimento humano com essas concepções filosóficas: a noção de que o conhecimento depende da estrutura do indivíduo; e que o ser humano ao existir cria um mundo que lhe é próprio. Evidentemente, os dois também fundamentam suas bases em pesquisas empíricas e teóricas.

“Por isso, na base de tudo o que iremos dizer estará esse constante dar-se conta de que não se pode tomar o fenômeno do conhecer como se houvessem “fatos” lá fora, que alguém capta e introduz na cabeça. A experiência de qualquer coisa lá fora é validade de uma maneira particular pela estrutura humana, que torna possível “a coisa que surge na descrição”. (MATURANA; VARELA, 2011, p.31).

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Quando dizem que o ser humano produz um novo mundo no ato de conhecer, eles lançam o aforismo: “Todo fazer é um conhecer e todo conhecer é um fazer”. (MATURANA; VARELA, 2011, p.31). Para tal, esse aforismo consiste na inseparabilidade do indivíduo enquanto estrutura de suas produções de conhecimento. O conhecimento do mundo é baseado na estrutura do indivíduo que o concebe. Não há, portanto, uma fragmentação do humano, pois tal disjunção seria paradoxal para a compreensão da própria estrutura e organização humana.

“Não há descontinuidade entre o social, o humano e suas raízes biológicas. O fenômeno do conhecer é um todo integrado e esta fundamentado da mesma forma em todos os seus âmbitos” (MATURANA; VARELA, 2011, p.33).

Para uma educação consistente, propomos que devemos superar o senso comum e entender o fenômeno do conhecer em todas suas dimensões. Há que ter a noção que todo conhecimento fundamentase numa rede teórica de validação, a qual permite a interação intersubjetiva entre os entes biológicos. “O conhecer é uma ação efetiva, ou seja, uma efetividade operacional no domínio de existência do ser vivo. Para saber como poderíamos ter acesso às produções do conhecimento, os autores sugerem. Para que tenhamos um conhecimento bem fundamentado, o individuo deve analisar a explicação do conhecer.

I.

Fenômeno a explicar: ação efetiva do ser vivo em seu meio ambiente;

II.

Hipótese explicativa: organização autônoma do ser vivo. Deriva filogenética e ontogenética, com conservação da adaptação (acoplamento estrutural)

III.

Dedução

de

outros

fenômenos:

coordenação

comportamental nas interações recorrentes entre os seres vivos e coordenação comportamental recursiva sobre a coordenação comportamental. IV.

Observadores adicionais: fenômenos sociais, domínios linguísticos, linguagem e autoconsciência.

(MATURANA; VARELA, 2011, p.35).

Aprofundando nossas ideias sobre educação, é necessário entender como, para os autores, o organismo está inserido no mundo; conhecendo, refletindo e produzindo sobre a rede teórica que se fundamenta seu conhecimento. “Ontogenia é a história de mudanças estruturais de uma unidade, sem que esta perca a sua organização.”. (MATURANA; VARELA, 2011, p.86). Maturana e Varela também não negam a realidade física: “Toda ontogenia ocorre em um meio que nós, como observadores, podemos descrever como tendo uma estrutura particular, tal como radiação, velocidade, densidade etc”. (MATURANA; VARELA, 2011, p.87). É na interação da unidade com o meio onde temos o acoplamento estrutural, que nada mais é quando a estrutura e o meio estão em perturbações recíprocas, resultando mudanças mútuas e SSN 18088449

concordantes, até que a unidade e o meio se desintegrem, havendo assim tal acoplamento estrutural. (MATURANA; VARELA, 2011). Eles destacam o porquê de algumas interações serem repetitivas pelo fato de terem sidas moldadas pela evolução:

“Essa pergunta só tem resposta na filogenia ou história da estirpe celular correspondente e é: o tipo de acoplamento estrutural atual de cada célula é o estado presente da história de transformações estruturais da filogenia a que ela pertence.” (MATURANA; VARELA,

2011, p.88).

De fato, para a compreensão de um metaconhecer, eles são bem enfáticos. “Neste livro, sustentamos que não é possível entender como funciona o sistema nervoso, e, portanto a biologia do conhecer, sem compreender onde funciona o sistema nervoso”

(MATURANA; VARELA, 2011, p.100).

E aqui frisamos o ponto de vista educacional: uma educação coerente, só pode ser aquela que reflete sobre as próprias metodologias de conhecimento do que só o conhecimento em si. Como para a compreensão do sistema nervoso em sua totalidade, precisamos saber como ele foi formado, sugerimos uma educação fundamentada no conhecimento evolutivo. Mas o sistema nervoso é multidimensional, é preciso uma educação fundamentada nas neurociências, psicologia, filosofia, literatura e artes. Há um risco de nossa educação, se voltada ao ponto científico estrito, transfigurar-se num neopositivismo educacional, ignorando a subjetividade inerente do sujeito. Porém, as próprias ideias de Maturana e Varela invalidam totalmente uma neutralidade cientifica por focar-se na importância da construção do mundo pelo indivíduo em sua cultura. (MATURANA; VARELA, 2001) (MORIN, 2003). Do ponto de vista hermenêutico, o meio não possui a capacidade de instruir a estrutura do sistema nervoso, suas informações não são instrutivas, apenas desencadeadoras, perturbadoras. Considerando todas as relações intersubjetivas como um meio, sintetizamos uma conclusão trivial (uma unidade em contato com a outra também é considera um meio perturbador por Maturana e Varela), mas desrespeitadas nos processos comunicacionais: a hermenêutica depende mais da estrutura do indivíduo com a mensagem em interação do que a própria mensagem isolada ou numa rede teórica. É o indivíduo, em acoplamento estrutural com o meio, produzindo a rede teórica em que ele mesmo se fundamenta com regras lógicas semânticas e sintáticas, além de jogos de linguagem culturalmente desenvolvidos, com aparelhagem inata à linguagem, que é o dono da mensagem e de sua hermenêutica potencial. “Nessa congruência estrutural, uma perturbação do meio não contém em si uma especificação de seus efeitos sobre o ser vivo. Este por meio de sua estrutura é quem determina quais as mudanças que ocorrerão em resposta.” (MATURANA; VARELA,

2011 p.108). “Na verdade, a chave para a compreensão de tudo isso é simples: como cientistas, só podemos tratar com unidades estruturalmente determinadas. Isto é:só podemos ligar com sistemas nos quais todas as modificações estruturais ocorram como resultado de sua própria dinâmica, ou sejam desencadeadas por suas interações”. (MATURANA;

VARELA, 2011, p.183).

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Metodologia Por se tratar de um trabalho teórico, utilizamos pesquisa bibliográfica.

Resultados e Discussão Dois pontos precisam ser destacados no viés educacional. Uma ação, portanto, o aprendizado, o conhecer, nada mais é que uma perturbação onde se produz correlações internas do sistema nervoso e o meio por acoplamento estrutural; o conhecimento é estruturado através de correlações internas mediado pela própria estrutura do indivíduo num processo dinâmico. O sistema nervoso é baseado em suas relações internas paralelamente, ou de maneira fluida, com o meio. Portanto, para Edgar Morin, a educação consiste em mudança paradigmática: consiste em alterar a estrutura interna através do meio. Paulo Freire destacará o meio através das relações dialógicas intersubjetivas. (MORIN, 2003) (FREIRE, 2005). O segundo ponto é uma ratificação sobre a valorização da estrutura. Para Maturana e Varela o sistema nervoso não é representacionista, como se houvesse coisas a serem “captadas” lá fora; nem defende um solipsismo semântico onde o cérebro determinadamente estruturado não possui capacidades de comunicação com os demais. Eles defendem que a vivência é em si um ato cognitivo, no entanto, nós expandimos essa possibilidade com a abertura de novas possiblidades de estados internos. Em outras palavras o viver é um ato cognitivo per excellence, mas expandimos dramaticamente nossa conduta comportamental em relação aos modos de conhecimento, com uns mais refinados associando grande diversidade de estados internos. Conhecimento é: ”Falamos em conhecimento toda vez que observamos um comportamento efetivo (ou adequado) num contexto assinalado. Ou seja, num domínio que definimos com uma pergunta (explícita ou implícita) que formulamos como observadores”. (MATURANA; VARELA, 2011, p.195) A intersubjetividade é: “Entendemos como comunicação o desencadeamento mútuo de comportamentos coordenados que se dá entre os membros de uma unidade social”. (MATURANA; VARELA, 2011, p.214 grifo do autor). Aqui ficam nítidas as opiniões e críticas da questão da comunicação, ao que eles chamam de “metáfora do tubo”. É a ideia que existe “algo” comunicado enviado por um tubo pelo comunicante, receptado pelo um receptor. Para os dois essa noção é falsa, pois supõe que exista uma unidade estruturalmente não determinada – ou seja – o meio optando que mudanças possam desencadear no sistema cognitivo. ”O fenômeno da comunicação não depende daquilo que se entrega, mas do que acontece com o receptor”. (MATURANA; VARELA, 2011, p.218).

Conclusão Tal conclusão apresentada nos parágrafos anteriores possui consequências teóricas para a didática de extrema importância. Se vamos fundamentar nossa educação em uma dialogicidade, em primeiro caso, a comunicação dependerá do ponto de vista informacional, mais da estrutura cognitiva do aluno, de quem recebe a mensagem, do que a própria mensagem isoladamente. O que vemos, quando não um cenário antidialógico (ambiente autoritário de discurso vertical e restrito) , é a “hiperespecialização” da mensagem, ignorando o sistema cognitivo de quem recebe. A hiperespecialização é uma produção de discurso onde se valoriza apenas a própria estrutura do comunicante em sua lógica de formulação, criando termos por vezes confusos ou sem identidade semântica alguma para quem os escuta.

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Sugerimos uma nova direção na dialogicidade das comunicações humanas, especificamente, se tratando entre discentes e docentes. É a estrutura do indivíduo que configura a real hermenêutica da mensagem, portanto, é fundamental a base em corpos teóricos a fim de desvelar o aparato cognitivo humano, para uma análise cognitiva de como se processa o próprio discurso, assim, o conhecimento. Dentre esses corpos teóricos sugerimos sistemas de pensamento como a filosofia, o empirismo e versatilidade das neurociências e a amplitude da psicologia, bem como uma educação humanizadora com baluartes na literatura e na arte. Humberto Maturana é biólogo chileno, autor de livros como a Ontologia da Realidade. Ph.D. em biologia pela Universidade de Harvard, é um teórico que influencia as mais diversas áreas, focando seus estudos no sistema nervoso humano em toda suas dimensões. Francisco Varela é chileno, Ph.D. em biologia; também estuda o cérebro, mente e cognição, escreveu o livro A mente corpórea. (MATURANA; VARELA, 2011).

Referências MATURANA, Humberto; VARELA, Francisco. A árvore do conhecimento: as bases biológicas da compreensão humana. São Paulo: Palas Athena, 2011. CARLI, Ranieri. Antropologia filosófica. 20. ed. Curitiba: Ibpex, 2009. 167 p. MORIN, Edgar. A cabeça bem- feita: repensar a reformar, reformar o pensamento. 8. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. 128 p. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. São Paulo: Paz E Terra, 2005. 249 p.

Agradecimentos Para meus professores e alunos: Rayanne Lourenço, Juliano Cordeiro e Sandra Helena.

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