A História de Jó [peça de teatro]
Descrição do Produto
A História de Jó
Preparação e Cenário
Afastam-se todas as carteiras para que platéia e atores se posicionem
sentados no chão. No local destinado à atuação, à frente da sala – o
"palco", a mesa do professor deverá ser colocada numa das extremidades e o
cenário deverá ser montado da seguinte forma:
No canto oposto ao que a mesa for colocada, deverá ser montada a cama da
personagem Jó, utilizando tules lilases.
Dispostos em meia-lua ao redor da cama, estarão as velas e objetos
representativos dos deuses, na seguinte ordem:
- Uma vela verde e um saco de feltro com moedas (ou tampas de garrafa),
representando o Dinheiro;
- Uma vela amarela e uma réplica do Oscar, representando a Fama;
- Uma vela rosa e um espelho, representando a Beleza;
- Uma vela vermelha e uma calcinha, representando o Sexo;
- Uma vela azul e uma enciclopédia, representando o Conhecimento;
- Uma vela branca e um estetoscópio, representando a Saúde.
O ator que interpreta a Consciência deverá estar sentado ao lado da cama
durante toda a primeira parte – até a Cena III – segurando uma vela negra,
já acesa. A atriz que interpreta Jó e os atores que interpretam os deuses
deverão estar misturados ao público, sendo que a primeira, de preferência,
deve posicionar-se na região mais próxima ao "palco". O narrador deverá
posicionar-se à frente do público, na extremidade oposta à da cama.
Nota: Gente, como serão feitos os danos aos objetos e onde a gente vai
colocar as coisas que vão danificá-los?
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Cena I
(Apagam-se algumas luzes da sala, deixando o ambiente na penumbra. Atores e
platéia em silêncio).
NARRADOR: No princípio criou Deus os céus e a terra e, havendo Deus
terminado no dia sétimo a sua obra, descansou nesse dia de toda a sua obra
que tinha feito e abençoou Deus o dia sétimo e o santificou.
E eis que havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; homem íntegro e
reto, temente a Deus e que se desviava do mal e este homem era o mais rico
de todos os do Oriente.
(Jó levanta-se da platéia e dirige-se à cama, sentando-se nela. Inicia o
diálogo com a Consciência, mas olhando para a platéia).
JÓ (espreguiçando-se): Hoje foi um dia tão cansativo! Mas eu não tenho do
que reclamar... Acho que Deus tem sido generoso comigo...
CONSCIÊNCIA: É por isso que eu venero tudo o que tenho.
JÓ (acendendo a vela verde): É verdade! Eu tenho dinheiro... (acende a vela
amarela) Tenho fama... (acende a vela rosa) Sou bonita... (acende a vela
vermelha) Sou realizada sexualmente (acende a vela azul) Sou culta...
(acende a vela branca) E tenho saúde.
CONSCIÊNCIA: Mas será que isso basta?
(Jó deita e dorme).
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Cena II
NARRADOR: E aconteceu que num dia em que os filhos de Deus vieram
apresentar-se perante o Senhor, veio também Satanás entre eles. Então,
perguntou o Senhor a Satanás: "Donde vens?". Satanás respondeu ao Senhor e
disse: "De rodear a terra e passear por ela". Perguntou ainda o Senhor a
Satanás: "Observaste o meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante
a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus e que se devia do mal". Então,
respondeu Santanás ao Senhor: "Porventura teme Jó a Deus de fato??
Porventura não o cercaste tu de bens a ele, e à sua casa e a tudo quanto
tem? A obra de suas mãos abençoaste, e os seus bens se multiplicaram na
terra. Estende, porém, a tua mão e toca-lhe em tudo quanto tem e verás se
não blasfema contra ti na tua face!". Disse o Senhor a Satanás: "Eis que
tudo quanto ele tem está em teu poder". E Satanás saiu da presença do
Senhor.
(Os deuses levantam-se do meio da platéia e imediatamente iniciam uma
grande discussão).
SAÚDE (falando ao público e aos demais deuses): Eu sou, sem dúvida, a mais
importante entre os deuses! Sem Saúde, o que você vai fazer?? Que adianta
ser rico, famoso, bonito e culto e não ter a mim? Você não pode nem fazer
sexo se estiver doente!
SEXO (mesma atitude, respondendo à Saúde): Olha aqui, sua prepotente! Eu
sou o melhor remédio para qualquer doença! Sexo é tudo!! Até os psicólogos
reconhecem a importância dos instintos que eu dou, "tá"? Depois, sem sexo
ninguém nem existia... Ia nascer como? E aí pra quem vc ia dar saúde, hein?
A "ralé" aqui é a Beleza: ninguém nem precisa ser bonito pra transar...
BELEZA (mesma atitude, respondendo ao Sexo): Opa! "Peraí"! Que você está
querendo dizer com isso?? No mundo de hoje, aliás como sempre, eu sou a
melhor! Os poetas já escreveram muito sobre mim! E vai você ser feioso e
tentar transar, vai... Acha que é fácil assim?! Até a Fama depende de mim!
FAMA (mesma atitude, respondendo à Beleza): Que é isso, queridinha?! Vamos
ser sinceros, vai... Tem muita gente que é um "canhão" e nem por isso deixa
de ser famoso! Olha o Bill Gates, por exemplo. Enquanto que outros belos
por aí dariam até o dedo mindinho pra sair na Chiques e Famosos!
DINHEIRO (mesma atitude, provocando a Fama): Ah, mas por que o Bill Gates é
famoso, hein, "famosinha"? Porque ele tem a mim, o Dinheiro! Aliás, comigo
se compra essa revistinha aí em dois tempos e tudo mais. Na verdade, se
compra todos vocês! Pra que se vive? É pra ter dinheiro! Até um cara burro,
ganhando dinheiro, se torna importante. Comigo, se compra até o
conhecimento!
CONHECIMENTO (mesma atitude, respondendo ao Dinheiro): Com licença, eu
gostaria de fazer um adendo. Quero ver você ter pouca inteligência e
conseguir ganhar dinheiro... Precisa pensar e estudar para poder fazer
negócios, sabia? Eu, o Conhecimento, sou fundamentalmente indispensável!
Veja a Saúde por exemplo: (dirige-se à Saúde) os médicos, sem conhecimento,
poderiam curar algo? Ou a pessoa se manter saudável sem saber como?
SAÚDE (manifesta-se, discordando).
DINHEIRO: Quer apostar que eu compro tudo? Vocês observaram à Jó? Ela só é
feliz por minha causa...
(Os deuses afastam-se para o fundo do "palco").
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Cena III
(Jó acorda, sobressalta. Vira-se para a platéia).
JÓ: Tive um sonho muito doido!! Sonhei que tinham me tirado tudo!!! Puxa,
ainda bem que era só sonho...
CONSCIÊNCIA: Mas e se fosse verdade? Será que eu continuaria feliz?
(Jó volta a dormir).
NARRADOR: Mas o sonho de fato tornou-se realidade. Nos seis dias
subseqüentes, Jó perdeu tudo o que venerava, um a um.
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Cena IV
(Os deuses dirigem-se para as proximidades da cama e posicionam-se em
frente às suas respectivas velas e objetos).
CONHECIMENTO (fala para o Dinheiro): Não tenho certeza de que você
realmente compre tudo. (Vira-se para os demais) Proponho que façamos um
teste com Jó e descubramos qual de nós é o maior dos deuses e lhe domina a
essência e a vida. A quem ela não se conformar de ter perdido, este será o
mais importante.
(Todos os deuses consentem. Neste ponto, a Consciência levanta-se e deixa
sua vela ao lado de Jó, dirigindo-se para a outra extremidade do "palco").
NARRADOR: Primeiro dia!
DINHEIRO: Eu começo. (agacha-se e toca na testa de Jó) Que percas tudo o
que julgas teu. Que as tuas riquezas desapareçam e que outras pessoas
adquiram os teus bens. Viverás pobre e não poderás comprar o que desejas,
senão unicamente o que for indispensável para que não morras. (Apaga a vela
e danifica o objeto relacionado ao Dinheiro, levantando-se em seguida).
CONSCIÊNCIA (em voz alta, da outra extremidade do "palco"): Ainda que eu
perca meu dinheiro, enquanto restar a mínimo para sobreviver, não me
desespero. Ainda não.
DINHEIRO (abaixa a cabeça e retira-se de volta à platéia, sentando-se em
meios aos espectadores).
Obs.: Nesta cena, as atitudes tomadas pelo Dinheiro devem ser seguidas por
todos os outros deuses. A Consciência também age da mesma maneira que na
fala acima.
NARRADOR: Segundo dia!
FAMA: Que teu rosto seja esquecido pelo público e que não mais se lembrem
de ti. Que suas obras se tornem pó e que se atribua a outros o fruto do
teu trabalho.
CONSCIÊNCIA: A fama não é efêmera? Ainda que não se lembrem de mim ou que
não saibam quem eu sou, posso viver sem ela.
NARRADOR: Terceiro dia!
BELEZA: Que teu rosto se torne medonho para que ninguém te admires. Que as
imperfeições do teu corpo cresçam sobremaneira e que por causa dele nunca
mais escutes um elogio.
CONSCIÊNCIA: Tantos existem que não são belos! E mesmo assim, tantos
felizes. Posso suportar perder minha beleza sem me entregar à loucura.
NARRADOR: Quarto dia!
SEXO: Que sejam afetados o teu sexo e tua sexualidade. Que nunca mais te
sintas atraída por alguém e que nunca mais seduzas outra pessoa. Viverás na
completa inocência e estranharás o instinto que o mais inocente dos
inocentes reconhece.
CONSCIÊNCIA: Que eu viva no celibato! O sexo me faz falta, mas não me
impede de viver. Não é o bastante para que me entregue por completo ao
desespero.
NARRADOR: Quinto dia!
CONHECIMENTO: Que tua mente sofra danos e vagas te tornem as lembranças.
Esquecerás o que aprendeste, exceto o mínimo para saber quem és no mundo.
CONSCIÊNCIA: Ainda que eu perca o saber e a ciência, tenho a mim. Minha
essência sobrevive, e tenho saúde. Isso basta.
NARRADOR: Sexto dia!
SAÚDE: Tudo que tem, dará uma pessoa por sua saúde. Que vivas, mas que tua
vida perca a qualidade que ainda resta. Viverás doente, sofrendo males que
te mostrem a importância de estar sadia.
CONSCIÊNCIA: Que eu viva doente e sofrendo de males, mas que não renegue o
que de intacto me restou: minha própria essência. Que eu perca minha saúde
e mesmo venha a padecer por isso, mas enquanto tiver minha consciência,
permanecerei e saberei lutar contra o desespero.
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Cena V
(Acendem-se todas as luzes. A Consciência dirige-se ao centro do palco,
carregando um cadeira que ali posiciona. Concomitantemente, Jó acorda,
levanta-se e senta-se na cadeira. A Consciência fica ao seu redor. Inicia-
se um diálogo, dirigido ao público).
NARRADOR: Sétimo dia!
JÓ: Perdi tudo o que tinha...Tudo o que sempre venerei. Que me restou?
CONSCIÊNCIA: Eu. Isso foi o que restou.
JÓ: Será que conseguirei reaver tudo?
CONSCIÊNCIA: Sim, eu conseguirei... Ou talvez nem consiga tudo de volta,
mas enquanto mantiver minha consciência e minha essência, terei como lutar.
JÓ: Posso reverenciar qualquer coisa, mas jamais esquecer que EU
reverencio.
CONSCIÊNCIA: Posso crer, posso ter fé. Ou não. Mas em ambos os casos sou EU
que estou agindo.
JÓ: Posso acreditar em Deus, posso não acreditar. Mas no poder que eu
acredito que ele tenha – ou que eu não acredite que ele tenha – sou EU que
creio ou que não creio.
CONSCIÊNCIA: Deus? Qual Deus?
JÓ: O MEU Deus
CONSCIÊNCIA: Deus existe?
(Jó retira-se para a platéia. A Consciência busca a sua vela, acesa, e
coloca-a na cadeira e em seguida também retira-se para a platéia).
NARRADOR (Leitura do texto conclusivo).
FIM
A ordem das Cousas:
CENA I
Narração: ... o mais rico de todos os do Oriente.
Jó: Ando tão ocupada... Meus dias estão repletos! Mas de que me queixar?
Deus tem sido generoso comigo.
Cons: Venero tudo que possuo.
Jó: enumeração das cousas que possui. Aki a Paula precisa se recordar
quais foram as alterações que ela fez por conta própria lá, momentos antes.
Cons: Será que isso basta?
CENA II
Narração: O dia em que satanás desafia Deus....
Diálogo dos DEUSES que termina com a proposição da aposta feita por
DINHEIRO nos seguintes termos
DINHEIRO : Quer apostar que eu compro tudo? Vocês observaram à Jó? ela só
é feliz por minha causa...
CENA III
Jó: Nossa! Sonhei que tinha perdido tudo! Anda bem que era só um sonho...
Cons: E se fosse verdade?
Jó: Não! Eu trabalhei muito pelo que tenho!
Cons: Será que sou feliz?
Jó: Não vou abrir mão do que construí ! Eu sou o que construí !
Cons: Apenas isso? Apenas o que construiu?
NARRAÇÃO: O sonho se tornou realidade...
CENA IV
CONHECIMENTO: Propõe o teste.
Narração: "Primeiro dia: "
DINHEIRO: Maldição...
Jó: Ainda que eu perca meu dinheiro, enquanto restar o mínimo para
sobreviver, não me desespero.
Cons: Ainda não?
FAMA: Maldição.
Jó: A fama não é efêmera? Ainda que não se lembrem de mim ou que não
saibam quem eu sou, posso viver sem ela.
Cons: Por quanto tempo?
BELEZA: Maldição.
Jó: Tantos que não são belos! E mesmo assim, tantos felizes. Posso suportar
perder minha beleza sem me entregar à loucura!
Cons: E desistir depois de tanto esforço?
SEXO: Maldição
Jó: Que eu viva no celibato! O sexo me faz falta, mas não me impede de
viver. Não é o bastante para que me entregue por completo ao desespero.
Cons: Mas... Sem sexo?
CONHECIMENTO: Maldição
Jó: Ainda que eu perca o saber e a ciência, tenho a mim. Minha essência
sobrevive, e tenho saúde. Isso basta.
Cons: Mas o tempo não poupará sua saúde.
SAÚDE: Maldição
Jó: Que eu viva doente e sofrendo de males, mas que não renegue o que de
intacto me restou: minha própria essência. Que eu perca minha saúde e mesmo
venha a padecer por isso, mas enquanto tiver minha consciência,
permanecerei e saberei lutar contra o desespero.
Cons: A que me agarrar então?
CENA V
NARRAÇÃO: Sétimo dia.
Jó: Perdi tudo o que tinha... Tudo o que sempre venerei. Que me restou?
Cons: Eu mesma. Foi o que me restou.
Jó: Será que conseguirei reaver tudo?
Cons: Sim, eu conseguirei... Ou talvez nem consiga tudo de volta, mas
enquanto mantiver minha consciência e minha essência, terei como lutar.
Jó: Posso reverenciar qualquer coisa, mas jamais esquecer que EU reverencio
Cons: Posso crer, posso ter fé. Ou não. Mas em ambos os casos sou EU que
estou agindo.
Jó: Posso acreditar em Deus, posso não acreditar. Mas no poder que eu
acredito que ele tenha - ou que não acredite que tenha - sou EU que creio
ou não creio.
Cons: Deus? Qual Deus?
Jó: O MEU Deus.
Cons: Deus existe?
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