A história do mundo em duas horas

June 19, 2017 | Autor: Romario Sousa | Categoria: Biologia Celular
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A história do mundo em duas horas: Um documentário breve sobre uma história longa.
Romário Costa de Sousa

O documentário produzido pela emissora History Channel trata da história do planeta terra, dando ênfase à história da vida em especial. Uma das coisas que vale a pena destacar sobre este documentário e sobre este tipo de documentário como um todo é que ele tenta transmitir assuntos de nível científico utilizando-se de palavras simples, o que de certa maneira pode transmitir conceitos errados aos seus telespectadores. De fato, o documentário é interessante e poderia ser utilizado em sala de aula, porém seria importante que quem o utilizasse se desse conta de informar seus alunos de certos conceitos transmitidos. O vídeo citado se trata de um documentário sobre a história do universo e do planeta terra, especialmente a história evolutiva da vida. O tema é abordado na forma de sequencia temporal, desde a origem do universo no Big Bang até o momento atual da história, quando a espécie humana atinge sete bilhões de pessoas, de um documentário de divulgação científica, com seus erros e acertos.
Um exemplo disso é a forma com que o conceito de "Big Bang" é abordado, deixa aberto a ideia de que tal evento se trata de uma explosão gigante, como uma bomba. Porém, o Big Bang como realmente é conceituado pela física não é visto como uma explosão, mas sim como algo bem mais perto de uma bola inchando rápido e com grande energia. O modo que vemos uma explosão está atrelado ao meio em que vivemos e como vivemos em um espaço tridimensional facilmente associaríamos o uso do termo explosão ao tipo de explosão que veríamos em nosso cotidiano. Antes do Big Bang, não havia o chamado espaço-tempo, portanto tais ideias não conceituam claramente o que ocorre durante o fenômeno.
Podem-se ver também outras ideias mal passadas, isso é muito delicado especialmente ao se abordar o tema de origem e evolução da vida, pois em tal tema há muitas sutilidades, e o uso de um termo pode muitas vezes passar más ideias a respeito do mesmo. Vê-se isso logo no princípio ao ser abordado o tema síntese das primeiras macromoléculas. A forma com que tal assunto é abordado no filme dá uma ideia de instantaneidade ao fenômeno o que tira de quem assiste a ideia de que o mesmo foi rápido. É preciso entender tais fenômenos como processos, que não são tão simples, e ocorrem apenas em dadas situações. Primeiramente, é preciso entender que a atmosfera primitiva da terra, composta principalmente de vapor d'água, metano, hidrogênio, sulfeto de hidrogênio e gás carbônico, e ausente de oxigênio, e com constantes descargas elétricas deixava a atmosfera primitiva propensa a reações de síntese. Para que se pudesse dizer que haviam surgido as primeiras proteínas, carboidratos e lipídios seria necessário ao menos dois bilhões de anos. (JUNQUEIRA, CARNEIRO, 1997)
O próximo passo para o surgimento da vida, embora ignorado pelo documentário, seria o surgimento de uma molécula com capacidade autorreplicativa e enzimática, o candidato perfeito para isso era o RNA. O filme dá uma importância maior ao DNA como guardião das informações genéticas dos seres vivos. Porém, por possuir apenas capacidade autorreplicativa, o DNA torna-se personagem importante na história apenas depois. Foi apenas com o tempo que o RNA genômico passou a produzir cópias de DNA, sendo que aos poucos foi o DNA que se mostrou mais adequado para esta função, por ser uma molécula menos reativa. (ARAGÃO, 2010, p.15)
Após isso, o filme aborda a origem das primeiras células. Para que houvesse mais estabilidade no processo de síntese de proteínas e autorreplicação do DNA, ainda se fazia necessário que o DNA se aglomerasse em um ambiente parcialmente fechado. Daí, tornam-se importantes as moléculas anfipáticas, ou seja, com uma longa calda apolar e uma cabeça polar. Na água, tais moléculas se organizam de modo as porções hidrofóbicas interagem fugindo das moléculas polares de água enquanto as porções hidrofílicas ficam expostas ao meio aquoso, de modo a formar uma estrutura em forma de vesícula chamada lipossomo. Com a formação da vesícula, foram aprisionadas várias moléculas biologicamente ativas, incluindo o polímero primordial, assim estas moléculas passariam a dirigir suas próprias formações e também a sintetizar moléculas cada vez mais diversificadas, surgindo assim as proteínas responsáveis pelas diversas atividades da célula. (ARAGÃO, 2010, p.32)
A ideia de que se necessitava abordar o ocorrido como um processo, deixando claro que o que ocorreu não foi um fenômeno instantâneo também se aplica nessa parte documentário, A Divulgação científica tem um papel importante que é o de transmitir conhecimento científico à população leiga usando de uma linguagem simples, mas tais documentários deviam atentar-se ao fato de que uma linguagem simples não deveria significar uma linguagem mal trabalhada, dando ao público más ideias a respeito do que é transmitido. Vale lembrar, que um telespectador com mais conhecimentos a respeito do tema talvez percebesse tais equívocos causados pela simplificação da linguagem, porém outro telespectador com poucos conhecimentos do tema talvez absorvesse certas más interpretações a respeito do tema.
Os primeiros seres vivos eram muito provavelmente heterotróficos, porém com a produção de energia por esses tipos de seres seria bastante provável que as moléculas de carbono formadas na sopa pré-biótica acabassem com consequente fim da vida. Daí surgiu pressões seletivas para que outros seres se formem, então surgem as primeiras células autótrofas, células capazes de produzir moléculas complexas a partir de substâncias simples. (JUNQUEIRA, CARNEIRO, 1997) Muito provavelmente os primeiros seres a realizar isso foram bactérias fotossintetizantes, embora esta hipótese tenha sido desafiada com a descoberta das arqueobactérias. No filme o surgimento dos seres fotossintetizantes fica abordado como se eles tivessem apenas importância para o momento presente, mas é esquecido o fato de que as bactérias fotossintetizantes também foram importantes para aquele instante na história evolutiva da terra.
Como passo seguinte no processo evolutivo viria o surgimento das células eucariontes. Segundo Aragão (2010, p.17):
O Primeiro passo neste processo evolucionário de diferenciação consistiu na invaginação da membrana plasmática que à medida que adentrava o citosol da célula procariótica sofria métodos de especialização, dando origem ao sistema de endomembranas. Desta forma, alguns segmentos desta membrana originaram os retículos endoplasmáticos, granuloso e não granulosos outros segmentos formaram os sacos lameliformes cujo conjunto deu origem ao complexo colegiense e por fim a formação do envelope nuclear, constituído por duas membranas que envolvem o material genético e consiste na principal característica dos eucariotas.
O próximo passo na evolução das células eucarióticas seria o desenvolvimento das habilidades de respiração e fotossíntese. A hipótese mais aceita neste caso trata-se da hipótese endossimbiótica, que propõe que uma célula eucariótica anaeróbia fagocitou uma célula procariótica aeróbia, que por algum motivo desconhecido, conseguiu evitar a fusão de seu fagossomo com os lisossomos permanecendo dentro da célula eucariótica, começando o desenvolvimento de um processo endossimbiótico, onde a célula eucariótica fornecia abrigo e nutrientes à célula procariótica, que em troca desenvolvia dentro dessa célula a respiração aeróbia. Do mesmo modo uma célula eucariótica anaeróbia fagocitaria uma célula procariótica fotossintetizante e viveria em endossimbiose. Assim, tais organismos procarióticos foram se tornando as mitocôndrias das células eucarióticas atuais. (ARAGÃO, 2010, p.18) O filme aborda que o surgimento da habilidade de respiração nos primeiros seres vivos tornou possível que os seres vivos se tornassem mais complexos, pois com a respiração a energia necessária para que surgissem seres pluricelulares cada vez maiores e complexos só foi possível com a mesma.
Fora os aspectos abordados nesta resenha, o filme é bastante interessante, estando em um nível normal para qualquer filme de divulgação científica. Porém, os aspectos aqui citados deveriam ser mais bem trabalhados por profissionais da área, com risco de transmitir informações de modo errôneo sem ter a intenção de fazer isto. Muitas vezes um termo, um aspecto mal trabalhado pode fazer com que algum conceito seja mal interpretado, e cabe a quem produz tal tipo de material prestar mais atenção nesses aspectos. Porém, também é importante que não haja excesso de terminologia no material de divulgação científica porque isso de certa forma assusta o principiante, mas também são importante que sejam introduzidos alguns termos, para que assim a informação seja transmitida de modo mais completo. O documentário "A História do mundo em 2 horas" ao simplificar alguns termos abre espaço para essas más interpretações e isso poderia ser evitado.
Referências:
OBSERVATÓRIO NACIONAL. Mas, afinal, o que é o "Big Bang"? Disponível em: < http://www.on.br/conteudo/informe/bigbang.html > Acesso em: 31 de janeiro de 2015.
L. C. JUNQUEIRA. CARNEIRO, José. Biologia Celular e molecular. Sexta edição. Ed. Guanabara KOOGAN, 1997.
ARAGÃO, M.E.F. Biologia Celular. 2 Publicação do Sistema UECE/UAB [2010].


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