A Iconografia de Júpiter nas moedas da República Romana Tardia (SÉC II E I AEC)

June 13, 2017 | Autor: Heitor Saldanha | Categoria: Ancient History
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SCHEID, John – An Introduction to Roman Religion
BELTRÃO, Cláudia. Interações religiosas no Mediterrâneo romano:práticas deacclamatio e de interpretatio. Rio de Janeiro. 2011: 11
D. L. Ashlima, The Creation of the Earth and the Great Flood according to Greek and Roman Mythology, , 2002
ELIADE, Mircea. História das crenças e das ideias religiosas. Rio de Janeiro: Zahar, 2011: p.116

UMPIERRE, Claudio; Iconografia e Mitologia nas Moedas Romanas

Nota do Autor




UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
CCH – UNIRIO
CURSO DE HISTÓRIA















Projeto de Pesquisa – Seminário de Pesquisa em História Antiga
"A Iconografia de Júpiter nas moedas da República Romana

















Heitor Rubens Saldanha Machado

Rio de Janeiro
Dezembro 2014



































"ὁρᾷς τὸν ὑψοῦ τόνδ᾽ ἄπειρον αἰθέρα
καὶ γῆν πέριξ ἔχονθ᾽ ὑγραῖς ἐν ἀγκάλαις·
τοῦτον νόμιζε Ζῆνα, τόνδ᾽ ἡγοῦ θεόν."

"Tu vês da abóbada o éter se espalhando sem limites,
Cujo abraço macio abarca a terra;
Por isso consideram deus dos deuses, o supremo Jove."

Eurípedes





Projeto de Pesquisa – Seminário de Pesquisa em História Antiga


Objeto de pesquisa: A Iconografia de Júpiter nas moedas da República Romana

Palavras-chave: Júpiter, Ritos, Iconografia, moedas, República, Roma


OBJETIVOS:

Apontar a relação verso x anverso como forma de associação religião x poder

2. Fazer uma análise Iconográfica das moedas de Júpiter

3. Compreender a iconografia de Júpiter nas moedas e sua significação religiosa e social para o povo romano (Análise Iconológica);


ÍNDICE

A Religião Romana
As moedas e sua importância social
Uma breve análise iconográfica – Ficha documental
Conclusão
Anexos: Cronograma





















1 - A RELIGIÃO ROMANA

Fundada a partir de uma forte piedade popular, a religião romana, em sua origem, incorpora deuses, costumes e crenças tradicionais gregas e etruscas, que venerados de acordo com as particularidades pessoais e culturais somados à prática e efetivação de cada rito, garantiam a Pax Deorum, isto é a "paz divina", a "paz do homens" e a harmonia aos cidadãos romanos.
Em honra à benevolência de tais deuses eram realizados festivais, jogos, sacrifícios e outras cerimônias rituais que envolviam toda a comunidade romana. Comunidade esta, que posteriormente, com o avanço do Império, incorporou muitos deuses das regiões conquistadas aos cultos romanos, assim como alguns deuses romanos foram também incorporados às regiões conquistadas.No âmbito privado, os cidadãos, por sua vez, tradicionalmente buscavam proteção nos espíritos domésticos, os chamados Lares que correspondiam aos espíritos dos antepassados, aos quais rendiam cultos dentro de suas próprias casas. Antes de Roma se tornar poderosa, os etruscos eram um dos mais importantes povos itálicos. Quando Roma os conquistou, assimilou alguns deuses, atribuindo-lhes, por vezes, qualidades dos deuses gregos, estes que em sua natureza eram antropomórficos, ou seja, eram representados com a forma humana e possuíam características de seres humanos. Utilizaremos como exemplo é o deus etrusco Tinia, o deus do céu ou "do trovão", renomeado como Diospiter, ou Júpiter (pai do céu), pelos romanos e adorado como o deus dos trovões. Após conquistar a Grécia, os romanos deram-lhe atributos do deus grego do céu, Zeus, e Júpiter tornou se o deus romano supremo. Os romanos assimilaram inúmeras outras divindades itálicas e gregas. Temos por exemplo Mercúrio, um velho deus itálico, a divindade do comércio e das finanças (seu nome relaciona-se à palavra mercator, mercador), foi identificado com o grego Hermes. Assim como Diana, a deusa itálica da caça foi assimilada à grega Ártemis, tornando-se uma das divindades mais populares do império. Alguns deuses romanos vem diretamente dos gregos, como Apolo, filho de Júpiter e deus do Sol, que não tinha nenhum equivalente itálico, contudo, conquistou inúmeros seguidores entre os romanos sob o nome de Febo, assim ou Ares, que mais tarde seria renomeado Marte, o mesmo deus da guerra grego, sob nome latino e características romanas. Estes, porém, sempre enfatizavam a superioridade moral de seus próprios deuses em relação aos pares gregos.
Roma foi governada de diversas formas ao longo do tempo, e com ela suas formas religiosas e ritos. Durante República não foi diferente, quando o governo romano foi chefiado por um por um triunvirato, isto é, trium- (três) e vir (homem) que detinha o poder e as decisões políticas romanas. Tradicionalmente os romanos viam os deuses da mesma forma.
Depois de Júpiter, havia duas deusas na hierarquia divina, Juno e Minerva. Juno, irmã e esposa de Júpiter, era a equivalente romana da grega Hera. Ela era a protetora das mulheres, a deusa do casamento e do nascimento. Minerva, originalmente a deusa etrusca das artes, foi assimilada à deusa grega Atená, tornando-se a deusa da sabedoria, além de patrona dos artistas e artesãos. Mas Júpiter é quem governa toda a Roma, é quem toma as decisões no mundo dos deuses e dos mortais, é por excelência o deus soberano, celeste e fulgurante, regente da justiça e fiador da fecundidade, como no afirma John Sceide:
"Jupiter est non seulement le roi et père et dieux mais il est aussi le maitre de signes envoyés aux hommes
. Il est pour tout Romain l'interlocuteur privilegiè et permanent de la république et son protecteur le plus puissant
Son comportement n'est pas moins clair Des les grandes occasions
Jupiter intervient dans la vie de la cite par l'envoi d'éclairs accompagnes éventuellement de prodiges plus inquiétants
Autrement dit, nous sommes en présence du systéme des auspice et prodiges que occupe une place central
dans le systém politique republicain"
Júpiter é não só o rei e pai e os deuses, mas também é o mestre de sinais enviados para os homens.
É para todos o principal contato Romano e permanente da república e seu mais poderoso protetor. Seu comportamento não é menos claro Nas grandes oportunidades. Jupiter intervém na vida de citação, enviando raios, eventualmente acompanhados de sinais mais preocupantes.
Em outras palavras, estamos na presença do sistema dos auspíciose maravilhas que ocupa um lugar central no sistema político republicano".
(SCHEID, John; Numa et Jupiter ou les dieux citoyens de Rome;
In archives de sciences sociales dês religions. N59/1; 1985 p.45)

2 - AS MOEDAS E SUA IMPORTÂNCIA SOCIAL

Em muitos momentos ao longo da História as representações artísticas
foram consideradas elementos imprescindíveis para demonstrar respeito e
acatamento para autoridade construída, seja de caráter religioso, político,
militar, ou de qualquer outra índole. E durante a toda a antiguidade a moeda unificava todo um território, que estava submetido a um mesmo poder político. O metal, e suas imagens de reverso e anverso (mais conhecidas atualmente como cara e coroa, isto, é o dois lados da moeda), ultrapassavam os limites geográficos do poder que o emitia, definindo ideologicamente não só um povo, mas também a civilização a que esse pertencia.

Para entender a simbologia por detrás destas cunhagens, deve-se primeiro apontar que qualquer sistema de símbolos é uma invenção do homem, tais sistemas simbólicos são invenções ou refinamentos do que foram, em outros tempos, percepções do objeto dentro de uma mentalidade carregada de imagens, uma simples moeda romana, como simples meio de comunicação visual vem carregado de informação de significado universal, para que a eficiência de seus significados sejam comunicados de maneira universal.
Seu uso é muito mais abrangente. O símbolo tem por objetivo dizer algo a um grupo, ideia, atividade comercial, instituição ou (e principalmente no período em questão) a atividade religiosa. A presença da moeda além de oferecer um bem estar econômico, mostra também os seus aspectos icônicos. Analisando os anversos e reversos monetários como imagens fabricadas, elas imitam aquilo a que se referem.
Qualquer signo, mesmo o iconográfico gravado segundo processos físicos ou
naturais é construído segundo regras determinadas que implicam convenções
sociais. Ela circula de fato nos três níveis, sendo simultaneamente ícone, índice
e símbolo convencional, como relação de continuidade, semelhança e convencionaliade.
Os povos que habitavam o Mediterrâneo romano tinham conhecimento de que cada símbolo representado naquela diminuta peça de bronze, prata ou ouro representava em sua simbologia alguma ideia ou conceito previamente reconhecido devido às atividades quotidiana da época em questão, como veremos a seguir nas moedas e em fazermos uma breve análise iconográfica utilizando o método de Edwin Panofsky.

3. UMA BREVE ANÁLISE ICONOGRÁFICA – FICHA DOCUMENTAL

A Iconografia trata do significado das obras de arte em oposição à sua forma, ou seja, uma forma de linguagem que utiliza imagens para representar determinado tema, origem e sua formação. O sufixo "grafia" vem do verbo grego 'graphein', que significa: escrever; em suma iconografia é um método de proceder de modo estatístico, descritivo.

A iconografia é portanto, a descrição e classificação das imagens, assim como a geografia é a descrição e classificação do espaço; informa quando e onde temas específicos foram visualizados por quais motivos específicos, por exemplo: quando um conhecido o saúda levantando com chapéu, visto de um ponto de vista formal, percebe-se que está agindo cavalheiramente, com o seu gesto de retirar o chapéu. A partir deste gesto o autor expõe a primeira forma de visão pré-iconográfica, nomeando de significado factual, pois é de fácil compreensão, analogamente, é reconhecido com o repetir dos fatos, pela sua identificação deformas visíveis que já são conhecidas, é reconhecido. É a partir da uma "forma simpática" de cumprimentar Panofsky, por outras palavras, mostra respeito pela pessoa que cumprimenta e estabelece-se uma comunicação.
 
Segundo o Panosfy no qual se baseia nosso método de estudo, a análise iconográfica diz respeito à intenção consciente do artista, apesar das qualidades expressivas da representação nem sem prescrição, análise e interpretação – uma exata descrição pré-iconográfica não acontece sem que se saiba perceber determinado por convenção. A estes motivos com significados convencionais, Panofsky chama "imagens", se as imagens apresentam-se combinadas com outras, são "alegorias" ou "estórias".

Portanto, para construir tais imagens, é preciso um conhecimento prévio e um estudo bem profundo do objeto a ser estudado e de seu contexto histórico. Assim portanto, poderemos fazer uma breve análise das moedas encontradas para depois compreendermos seu sentido histórico e estudos mais aprofundados.

Temos como fonte das imagens o Projeto Davy Potdevin, um catálogo online de moedas romanas e provinciais elaborado a partir de outros já existentes, como o Crawford, Sydenham e Haerberlin, tendo o primeiro como principal a partir do RRC – Roman Republican Coins.

Análise e fichas documentais das moedas selecionadas com a imagem de Júpiter datáveis do século II e I a.E.C..


1.


Moeda/ tipo: Denário (3,95g)
Período: 106 a.C
Anverso: Cabeça de Júpiter laureada voltada para a esquerda
Reverso: Júpiter com raio na mão direita e lança na mão esquerda e as rédeas 6conduzindo quadriga voltada para a direita
Inscrição no reverso: acima R abaixo: L·SCIP ASIAG.. 

2.



Moeda/ tipo: Denário (3,45g)
Período: cerca de 86 AEC
Anverso: Cabeça de Apolo, coroado com folhas de carvalho e abaixo: raios
Reverso: Júpiter com raio e rédeas na quadriga voltada para a adireita,
Inscrição no reverso: VER. No enxerto: GAR·OGVL. 





3.


Moeda/ tipo: Denário serrado (3,60g)
Período: 83-82 AEC
Anverso: Cabeça de Júpiter laureada voltada para a direita; Reverso: Vitória com palmas (flores) e as rédeas nas mãos conduzindo quadriga voltada para a direita
Inscrição no anverso: acima à esquerda S.C, abaixo O
Inscrição no reverso: Q·ANTO·BALB / PR. 


4.

Moeda/ tipo: Denário serrado (4,09g)
Período: 81 AEC
Anverso: Cabeça de Júpiter laureada voltada para a direita;
Reverso: Europa sendo levada por um touro, segurando um tecido por sobre a cabeça; abaixo, folha de videira; a direita raio;
Inscrição no anverso: L
Inscrição no reverso: L·VOL·L·F·STRAB 


5.



Ficha documental do objeto:
Moeda/ tipo: Denário
Período: 80 AEC
Reverso: L · PROCILI / F - Juno Sospita de pé direito, segurando escudo na mão esquerda e a arremessar a lança com a mão direita; antes, cobra. Bordeada de pontos.
Anverso: S · C - cabeça de Júpiter laureada virada para a direita. Bordeada de pontos



6.



Moeda/ tipo: Denário (3,74g)
Período: 60 AEC
Anverso: Cabeça de Netuno; P YPSAE SC 
Reverso: Júpiter na quadriga voltado para a esquerda; C YPSAE COS / PRIV – CEPIT 


7.


Moeda/ tipo: Denário (3,98g)
Período: 49 AEC
Reverso: Cabeça de Apolo voltada para a direita L LENT C MARC COS
Anverso: Júpiter de pé virado para a direita segurando um raio na mão direita e uma águia na esquerda; estrela e Q a esquerda, altar à direita;

8.


Moeda/ tipo: Denário (3,65g)
Período: 48 AEC
Reverso: Máscara de Pan à direita com três camadas de amoras nos cabelos PANSA
Anverso: Júpiter sentado voltado para à esquerda, segurando uma patera na mão direita, na mão esquerda cetro; a direita C. VIBIVS. C. F. C. ; a esquerda IOVIS. AXVR 






9.



Moeda/ tipo: Denário (3,93g)
Período: 43 AEC
Reverso: Águia com asas abertas, de fronte para o raio com a cabeça voltada para a direita; PETILLIVS / CAPITOLINVS
Anverso: Templo do Capitólio; ricamente decorado em estilo hexagonal com ornamentos
pendentes e guirlandas penduradas com três aberturas; S F



4. CONCLUSÃO

Após um conhecimento mais profundo acerca das moedas, concluí-se que, não foi possível fazer uma análise iconológica das moedas de Júpiter no fim da República, pois se trata do contexto histórico e de significação do que o objeto representa naquela sociedade. É exatamente neste ponto que a iconologia distingue-se da iconografia. Esta última apenas classifica a imagem visual, enquanto que a primeira investiga, compreende, ordena, enfim, por meio de um juízo, traz à luz seus nexos históricos.

Para Panofsky, a 'leitura' iconográfica da obra é uma análise, já a 'leitura' iconológica é uma interpretação. É importante nos atermos aos termos usado por Panofsky, porque eles em si nos explicam muito. É exatamente neste ponto que a iconologia distingue-se da iconografia. Esta última apenas classifica a imagem visual, enquanto que a primeira investiga, compreende, ordena, enfim, por meio de um juízo, traz à luz seus nexos históricos.

Em suma, para se fazer uma análise iconológica e compreender o motivo das moedas da República Tardia, é necessário compreender o contexto histórico e para isso, são necessários mais estudos, para compreender o que se passava naquele período, como viviam as pessoas, qual era a situação política, cultural, dentre outras. Enfim, qual o significado de cada moeda, o qual a importância da Imagem de Júpiter, esse deus supremo que governa do alto dos céus, e que depois sua imagem será associada à de Julio César, de modo que o conheçamos até hoje, suas feições, seus traços, e a própria divinização do Imperador Eterno de Roma, que no mínimo foi muito audaz em fazer-se próximo e igual aos pais dos deuses.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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PANOFSKY, E. Introdução. In: _____. O significado nas Artes Visuais. São Paulo: Perspectiva, 2002.
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CARLAN, Cláudio Umpierre. Coins and Power in Rome: Political Ideology in
BELTRÃO, C. A Religião na urbs. In: MENDES, N.M.; SILVA, G.V. Repensando o Império Romano. Rio de Janeiro: Mauad X, 2006. 
CRAWFORD, M. The Roman Republic. Fontana Press, 2011. 
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BELTRÃO, Claudia. A Religião na Urbs. In MENDES, Norma Musco; SILVA, Gilvan da Ventura (orgs.). Repensando o Império Romano: perspectiva socioeconômica, política e cultural. Rio de Janeiro: Mauad; Vitória, ES/; EDUFES,2006, p. 137-159.


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