A IGREJA CATÓLICA E OS GOVERNOS NAZI-FASCISTAS

August 22, 2017 | Autor: Vinicius Raphael | Categoria: Nazismo, Papa Pio XII, Fascismo, Igreja Católica, 1ª Guerra Mundial
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INSTITUTO DE HUMANIDADE - IUPERJ

CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS VINICIUS GONÇALVES RAPHAEL SOUSA Matrícula: 10290917

A IGREJA CATÓLICA E OS GOVERNOS NAZI-FASCISTAS FASCISTAS

UCAM – PIO X Rio de Janeiro Dezembro, 2014

VINICIUS GONÇALVES RAPHAEL SOUSA

A IGREJA CATÓLICA E OS GOVERNOS NAZI-FASCISTAS

Monografia apresentado a disciplina de Monografia II,como requisito parcial para elaboração da monografia de conclusão do curso

de

graduação

em

Relações

Internacionais, tendo como orientador de conteúdo o Prof. Bruno Rosi

UCAM – PIO X Rio de Janeiro Dezembro, 2014

DEDICATÓRIA

À minha linda família que sempre esteve ao meu lado em todas minhas decisões.

AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente aos meus pais, pelo exemplo que me deram durante toda a vida e pela ajuda, insistência e apoio, pois sem eles eu certamente não teria conseguido chegar até aqui. À Louise, por ter estado ao meu lado em todos esses momentos e principalmente por ter me apoiado nas horas mais difíceis. Aos meus grande amigos Rafael d’Jesus, Raquel Tavares, Eloan Falante, Mariana Sousa, Victor Pietro, Luca Oliveira, Isabel Fernandes, Fábio Bastos, Ana Carolina Carvalho, Mariana Piller e Filipe Alegrio por tornarem esse período da minha vida especial e único. Aos professores Bruno Rosi, por ter estado disponível para me ajudar durante a metodologia de pesquisa e durante a Monografia, à professora Natalia Rayol por ter se tornado acima de tudo uma amiga e aos professores João Ricardo, Franklin, Silvia e Jorge por todas as aulas especiais às quais tive oportunidade de participar.

Resumo O presente trabalho analisa como se deu a relação da Igreja Católica Apostólica Romana com os governos: Fascista (iniciado na Itália por Benito Mussolini) e Nazista (iniciado na Alemanha e comandado por Adolf Hitler). A fim de esclarecer os fatos de que mesmo com a necessidade de aproximação por parte da Igreja para manter sua soberania no campo religioso e político, a mesma não se posicionou de maneira a contribuir para a ascensão destes governos. Através então deste questionamento sobre a posição tomada pela Igreja Católica,esclareço certos pontos que permanecem obscuros sobre o assunto. Diante de tal debate no que diz respeito à posição tomada pelo Papa da época e destes dois governos influentes na Europa, se torna relevante à argumentação e pesquisa de tal modo a aprofundar esse questionamento e identificar os pontos de apoio e de desacordo entre os agentes políticos e religiosos envolvidos e a maneira como esses pontos influenciaram o desenvolvimento destes governos e a formação do cenário Europeu atual. Palavras-chave: Igreja Católica, Fascismo, Nazismo, 1ª Guerra Mundial, Papa Pio XII,nazifascismo.

Abstract: This paper analyzes how was the relationship between the Roman Catholic Church with governments: Fascist (started in Italy by Benito Mussolini) and Nazi (started in Germany and led by Adolf Hitler). In order to clarify the facts that even with the need to approach by the Church to maintain its sovereignty in the religious and political field, it was not positioned so as to contribute to the rise of these governments. Then trough questioning and doubt about the stance of the Catholic Church, I seek to clarify certain points that remain unclear about the subject. Given such a debate regarding the position taken by the PopePio XII and the influence of these two governments in Europe, becomes relevant to argumentation and research in such a way to deepen this question and to identify the points of support and disagreement among the political and religious agents involved and the way these points

had influenced the development of these governments and the formation of the current European scenario. Keywords: Catholic Church, Fascism, Nazi, 1st World War, Pope PIO XII, Nazi-fascism.

Conteúdo Introdução .......................................................................................................................... 1 1.

2.

3.

A Igreja e a Revolução Francesa: O início do iluminismo no século XVIII ....... 2 1.1

A Igreja do século XIX e o mundo moderno ..................................................... 7

1.2

Leão XIII e a questão socialista ............................................................................ 9

O Pós 1ª Guerra Mundial: Surgimento dos governos totalitaristas ................. 11 2.1

Benito Mussolini e o fascismo italiano............................................................. 12

2.2

Adolf Hitler e o nazismo alemão......................................................................... 15

2.3

Os métodos nazistas de manutenção do poder ............................................ 18

2.4

Nazismo e o antissemitismoracial ..................................................................... 19

2.5

Alemanha e Itália juntas na Segunda Guerra Mundial ................................. 22

A Igreja Católica no início do século XX .................................................................. 25 3.1

Igreja Católica e o fascismo: Uma terra influenciada pela Igreja .............. 26

3.2

Igreja Católica e o nazismo: A influência das posturas papais ................. 28

3.3

Papa Pio XII na Segunda Guerra Mundial ........................................................ 31

4.

Conclusão ........................................................................................................................ 32

5.

Referências Bibliográficas........................................................................................... 35

Introdução A Igreja Católica (também chamada de Igreja Católica Romana ou Igreja Católica Apostólica Romana) é uma das instituições mais antigas ainda em funcionamento. Durante os séculos seguintes após sua criação, a Igreja começou a expandir seu território de influência pregando o catolicismo e suas doutrinas, porém, durante sua história valendo-se de sua crescente influência religiosa, a relação religião e Estado passou a dar-se como uma forma de união. Durante o início do século XX, surgem então na Europa os governos Fascista (iniciado na Itália por Benito Mussolini) e Nazista (iniciado na Alemanha comandado por Adolf Hitler). Ambos totalitários chegaram ao poder através de meios violentos e repressão a dissidentes políticos e ideológicos. Esta pesquisa tem como eixo central do debate, o questionamento sobre a possibilidade de estreitamento nas relações entre a Igreja Católica e os governos nazifascistas durante o início do século XX bem como o resultado da influência da instituição católica no desenvolvimento e expansão destes governos. Após a 1ª Guerra Mundial o cenário internacional se encontrava diante de diversas mudanças e novas adaptações para o mundo capitalista. Foi então na crise de 29, quando certos países tiveram que arcar com os custos econômicos, políticos e morais da Guerra, que alguns países viram a necessidade da alteração não apenas em sua estrutura socioeconômica como também em seu sistema político. A superação desta grande convulsão dos anos vinte e trinta só se deu após a instalação de movimentos revolucionários, que, por meio de regimes fortes e totalitários procuraram garantir uma determinada ordem capitalista. Os dois principais exemplos destes movimentos na Europa foram o fascismo e o nazismo, respectivamente na Itália de Benito Mussolini e na Alemanha hitlerista, onde mais do que recuperar as fissuras provocadas pela Guerra e pela crise econômica global, objetivavam superar as limitações estruturais destas sociedades de unificação recente, industrialização tardia e graves desequilíbrios na ordem sociopolítica e produtiva interna.

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CAPÍTULO I 1. A Igreja e a Revolução Francesa: O início do iluminismo no século XVIII O século XVIII foi um período marcado por grandes mudanças civis e políticas em toda a Europa, inclusive na França, onde houve uma série de acontecimentos que resultaram na Revolução Francesa. O rei da época era Luiz XVI, que não possuía grandes habilidades políticas e muito menos um perfil hábil de administrador. Durante o período em que reinou, as condições da França iam de mal a pior ao mesmo tempo em que os gastos da corte e do Rei cresciam de maneira exorbitante. Segundo o autor Justo Gonzalez , em sua obra A era dos novos horizontes, na procura de uma ação imediata para minimizar a crise que assolava o país, a corte vê na cobrança de impostos do clero e da nobreza uma solução para o problema. Sabido então que não seria algo de fácil implementação visto que essas duas classes tradicionalmente eram isentas de impostos, o Rei e seus ministros convocaram os Estados Gerais, que era um órgão de caráter consultivo e deliberativo constituído por três ordens sociais denominadas estados, sendo compostos da seguinte forma: I.

O primeiro estado denominado era o clero, formado por

religiosos facilmente divididos em dois grupos: alto clero (contido por bispos e abadas, dentre os quais, muitos possuíam terras) e o baixo clero (formado por padres, abades e monges de pouca condição) II.

O segundo estado formado pelos membros da nobreza, os quais

podemos identificar em três grupos são: a nobreza cortesã (moradores do palácio de Versalhes), a nobreza provincial (moradores do interior) e os nobres de Toga (burgueses ricos que compravam títulos de nobreza e cargos políticos) III.

O terceiro e último estado era constituído de pessoas do povo

(camponeses), a grande burguesia (comerciantes, grandes empresários e banqueiros, a média burguesia (profissionais liberais, a pequena burguesia (comerciantes e artesãos) e os sans-culottes (desempregados, assalariados ou

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aprendizes de ofícios, que recebiam esse nome por não utilizarem os calções curtos com meias típicas da nobreza) Tendo em vista que os Estados Gerais foram convocados para auxiliar na quebra da resistência, os ministros da época sugeriram que a terceira ordem, a burguesia, possuísse maior representação do que as demais. Sob a direção do primeiro ministro Necker, um banqueiro protestante em que o Rei confiava para conseguir os fundos necessários. Não bastando a representação da burguesia em maior número do que a do clero e nobreza somados, a forma pela qual foi dada a convocação e a regra das eleições assegurava que dentre os representantes do clero estivessem não apenas delegados de hierarquia, em sua maior parte aristocrática, mas também delegados de classes mais baixas que se mostravam mais suscetíveis a tomar medidas contra a aristocracia. Em 4 de maio de 1789 foram abertas as sessões dos Estados Gerais e tão logo foram convocadas, o conflito surgiu. Conforme retrata Justo Gonzalez(1988, p. 59): A Terceira Ordem insistia em que a assembléia devia reunir-se em uma única câmara, e as decisões deviam ser tomadas por maioria dos votos. O clero e a nobreza, por sua parte, preferiam as sessões e votações em separado, de modo que ambos os grupos tiveram dois votos frente ao foto único da burguesia. Todavia, a Terceira Ordem mostrou-se muito inflexível. Uns poucos curas, desgostosos com a atitude aristocrática dos prelados, uniram-se à Terceira Ordem que, por fim, em 17 de junho, declarou-se "Assembléia Nacional", reclamando que, de qualquer forma, contava com a maioria dos votos dos Estados Gerais. Dois dias depois, o clero votou a favor da união com essa assembléia. No dia seguinte, quando os delegados dessa assembléia verificaram que o governo havia fechado a sua sala de sessões, eles se reuniram em uma quadra de tênis e fizeram um voto solene de não se dispersarem enquanto não dessem uma constituição à França.

Durante esse período de decisões, as dificuldades econômicas aumentavam consideravelmente junto com a fome nas classes mais baixas. Com a retirada de Necker da Assembléia por parte do Rei, a reação popular logo se deu e diversos motins começaram a acontecer por Paris, motins esses que tiveram seu auge em 14 de julho de 1789, data considerada símbolo da Revolução Francesa, com a tomada da Bastilha, um castelo antigo que servia de prisão desde o século anterior. Diante de diversos acontecimentos o Rei ordenou então à nobreza e ao clero que se reunisse com a Terceira Ordem afim de formar a Assembléia Constituinte, a qual 3

promulgou a Declaração dos direitos do homem e cidadão (Agosto de 1789), que se tornou futuramente um dos documentos fundamentais dos movimentos democráticos, tanto na França quanto em outras partes do mundo. Nela era proclamada a igualdade de todas as religiões e, por conseguinte, a liberdade para todos os cultos. Com a criação desse documento a Assembléia não apenas deu início a reorganização do governo nacional na parte fiscal e política, mas também religiosa, a qual teve um passo decisivo através da promulgação da Constituição civil do clero (12 de julho de 1790). Dada a relação da Igreja com o Estado no século XVIII ,"não é exagerado dizer que a Revolução Francesa foi, para as autoridades que governavam a Igreja, como um raio caído de um sereno céu estival" (Huges, 19841 p. 273). Através da extinção do dízimo (imposto pago por todos ao clero), do corte de certos privilégios, como os direitos feudais, e da transformação dos sacerdotes católicos paroquiais em “funcionários públicos eclesiásticos”, dizimando o Clero Regular, foi iniciada uma reforma à Igreja, que viria a introduzir a Igreja ao novo sistema político implantado, destruindo os resquícios das estruturas medievais da Igreja e consequentemente afrouxando os laços com o Estado. O Papa da época, PIO VI, enfatizou que a Constituição era cismática e, portanto não teria sua aprovação, deixando o Rei em uma situação de temor diante da possível reação da Assembléia, que sendo levada cada vez mais a posições extremadas, decretou que todos os que tivessem cargos eclesiásticos deviam aceitar com juramento a Constituição civil do clero, sob pena de perder os referidos cargos. Diante de tamanha pressão o Rei se declarou a favor da Constituição porém com a ressalva de que esperava que o papa a aprovasse. O resultado foi que toda a igreja francesa se dividiu. Em teoria, o único castigo que os "não juramentados" receberiam seria a deposição de seus cargos. Com base na Declaração dos direitos, não se lhes podia privar de sua liberdade de consciência, e quem quisesse continuar a considerá-los como sacerdotes poderia fazê-lo, com a única ressalva de que precisariam cobrir os seus próprios gastos, enquanto que os "juramentados" seriam sustentados economicamente pelo governo. Mas na realidade logo se desencadeou a perseguição contra os não juramentados, a quem se considerava suspeitos de falta de patriotismo ou de sentimentos antirrevolucionários. (Justo Gonzalez, 1988, p; 62)

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Os impactos contra a Igreja protestante e católica se agravaram quando os novos chefes da revolução, que haviam deposto e executado o Rei por traição 4 meses após terem abolido a monarquia e proclamado a república, se convenceram de que eram mensageiros de uma nova era na qual a razão e a ciência se sobreporiam à religião e as crendices, que para eles não passavam de produtos de ignorância humana. Tentou-se criar uma religião na França chamada de "Culto ao Ser Supremo", que tinha a finalidade de conformar a religião aos métodos da nova era através de uma "descristianização". O calendário anterior era abolido e implantado um novo, mais "razoável" com nomes de meses tomados da natureza, como "Vendimiário", "Termidor" e "Brumário" com semanas de dez dias, porém por uma carência de força vital essa religião veio a desaparecer tão logo deixou de ser uma política oficial do governo. Durante a existência do "Culto ao Ser Supremo", a guilhotina foi usada de maneira deliberada contra clérigos que se negassem a prestar juramento à Liberdade ou qualquer pessoa que tivesse o mínimo contato com ideias opostas às da Revolução. Estimasse que de dois a cinco mil sacerdotes foram mortos durante esse período, além de dezenas de freiras e numerosos leigos. Não apenas as igrejas dos não juramentados foram perseguidas, mas também as dos juramentados e a igreja protestante, que devidos as diversas pressões quase chegaram a desaparecer. Embora a onda de terror tivesse amainado em 1795, a política do governo continuou sendo anticristã. Ao mesmo tempo, as vitórias militares do regime revolucionários na Suíça, Itália e Holanda estenderam essa políticas as novos territórios. Em 1798, os franceses se apossaram dos territórios papais e da própria pessoa do PIO VI, a quem levaram prisioneiro para França.(Justos Gonzalez, 1988, p; 63)

Ao final do século XVIII, a tomada do poder por Napoleão Bonaparte através do golpe militar de 18 de Brumário do ano VIII da Revolução (9 de novembro de 1799) a França passa então a reaproximar sua relação com a Igreja, uma vez que para Napoleão a solução correta seria se unir a Igreja ao invés de se tornar inimigo. Assim sendo, logo foram iniciadas negociações com o novo Papa, PIO VII, que levou ao surgimento de um tratado, em 1801, no qual se reconhecia que o catolicismo era a 5

religião de maioria dos franceses e estabelecia-se a forma pela qual bispos e curas deveriam ser nomeados, a fim de manter tanto os interesses do Estado como os da Igreja. Três anos mais tarde, ao se tornar "imperador", Napoleão termina então a liberdade religiosa para os protestantes. Com esse novo tratado e a posse de Napoleão, todos saíram ganhando e ao chegar o momento da reorganização da Igreja na França, Napoleão procurou manter negociações diretas com o papa, que por sua vez assumiu uma autoridade sobre a igreja que seus predecessores não puderam exercer. Mas aquela paz não durou muito tempo. Logo as ambições do imperador se chocaram com a firmeza do papa, que viu seus territórios invadidos de novo, e por fim acabou prisioneiro dos franceses. Ainda no meio do seu cativeiro, PIO VII negou-se a dobrar-se diante do imperador, cujo divórcio de Josefina lhe acarretou novos conflitos com a Igreja Católica. Estes conflitos não amainaram até a queda de Napoleão, quando Pio VII, restaurado à sua sede em Roma, concedeu uma anistia geral a todos os que haviam sido seus inimigos, e intercedeu perante os ingleses para que estes garantissem que Napoleão seria tratado digna e humanamente. (Justos Gonzalez, 1988, p; 64)

Ao final do século XVIII e início do século XIX, o mundo da fé já não era mais monopolizado pela Igreja Católica, os séculos anteriores guiaram a Europa por uma transição, com diversas reformas protestantes que proporcionaram a possibilidade do surgimentos de outras igrejas nacionais, protestantes independentes e até mesmo de grupos missionários que levavam a fé protestante aos povos que deixavam de ser católicos, ortodoxos, etc. Uma das principais questões enfrentadas por todo cristão (...) é como viver na "era pós-constantiniana". O significado dessa frase refere-se ao fato de a Igreja não poder mais contar com o apoio político desfrutado desde a época de Constantino. (Justo Gonzalez, 1996, p. 29)

A Igreja perdia ao poucos sua autoridade diante do Estado, porém também perdia sua autoridade sobre o indivíduo. Com o surgimento de diversas vertentes filosóficas laicas durante esse período, surge, portanto uma forte campanha de Laicização do Estado, mas que também vinha acompanhada de uma laicização do pensar e do agir. Essa campanha de laicização ficou conhecida como "campanha anticlerical", visto que suas principais propostas eram voltadas para o fim da participação clerical no Estado.

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1.1 A Igreja do século XIX e o mundo moderno "A Igreja Católica Romana tinha, aliás, uma hostilidade manifestada por tudo aquilo que o século XIX se punha firmemente a favor" (Hobsbawm, Eric. 1996, p. 277) O conjunto de mudanças tecnológicas da 1ª Revolução Industrial teve um grande impacto no método de produção, gerando mudanças não apenas na área econômica, mas também no âmbito social. Seu surgimento aconteceu na Inglaterra em meados do século XVIII, porém sua expansão só aconteceu no século XIX quando com as revoluções civis e tecnológicas criou-se um cenário ideal para a expansão da vida urbana e instalação de fábricas operárias. Com diversos avanços filosóficos e tecnológicos o mundo passou por uma reviravolta e enquanto as novas sociedades caminhavam em direção a modernidade, a Igreja se voltava cada vez mais para o passado afim de se proteger de todas as acusações e questionamentos que começavam a surgir. Muitas vertentes se intensificaram nessa época, mas para reforçar nossa tese sobre o posicionamento da Igreja e para demonstrarmos um contexto histórico que exponha de forma clara o que a modernidade representou para a Igreja podemos em primeira instância apresentar a vertente filosófica liberal. "O movimento liberal é a primeira onda de movimentos que se desencadeia sobre o que subsiste do Antigo Regime, ou sobre o que acaba de ser restaurado em 1815”. (Rémond, Rene. 1997) Passando a ser “um dos grandes fatos do século XIX, século que ele domina por inteiro (...).” (Rémond, Rene. 1997). E a liberdade individual no campo político e econômico caracterizou-se como sendo o seu principal fundamento. Exatamente por tal fato, muitos autores decidem abordar essa vertente pelo âmbito econômico, mas ao interpretarmos o liberalismo de maneira ideológica, identificamos que sua filosofia social individualista coloca o indivíduo a frente do Estado, dos interesses coletivos e inclusive dos grupos sociais. Além de que a reação contra o método da autoridade, através da descoberta progressiva da verdade pela razão individual, dá ao liberalismo um viés extremamente racionalista. "O espírito deverá procurar por si mesmo a verdade, sem constrangimento, 7

e é do confronto dos pontos de vista que deve surgir, pouco a pouco, uma verdade comum." (Rémond, Rene. 1997) O liberalismo clássico, que é como o termo continua a ser reconhecido na Europa, "defende a liberdade individual, a propriedade privada, o livre comércio e a paz” (Mises, Von, 2010. p. 20). Com o homem se apropriando de seu destino, criando seus próprios valores e com uma sociedade que tem enfoque na supremacia da razão e do saber sobre a fé, o catolicismo passa a sofrer os questionamentos promovidos pelo racionalismo. É necessário ressaltar que o liberalismo como vertente filosófica foca no mundo e na vida terrena, não se utilizando de argumentos religiosos. Portanto o liberalismo e a religião existem lado a lado, sem que suas esferas se toquem. (...) Não obstante, o liberalismo deparou-se com a Igreja como um poder político que reivindicava o direito de regular, segundo seu julgamento, não apenas as relações do homem no mundo que há de vir, mas também os assuntos deste mundo. (Mises, von, 2010. p. 80)

O texto abaixo ressalta que o liberalismo não tinha como finalidade a perseguição ou extinção de qualquer religião, mas sim a igualdade de todas as religiões em comunhão através de uma cooperação pacífica. O liberalismo proclama a tolerância de toda e qualquer fé religiosa e de toda crença metafísica, não por indiferença a essas "elevadas" coisas, mas pela convicção de que a garantia da paz dentro da sociedade deva ter precedência sobre tudo e todos. Porque exige a tolerância de todas as opiniões de todas as Igrejas e seitas, o liberalismo tem de fazê-las retroceder aos seus próprios limites, toda vez que se aventuram fora deles de maneira intolerante. Em uma ordem social, baseada na cooperação pacífica, não há lugar para o monopólio das Igrejas na instrução e na educação dos jovens. (Mises, von, 2010. p. 80)

O Papa Pio IX que era autoridade máxima na Igreja durante o período, (...) se via impelido a um pronunciamento solene. Contudo era intimado pelos Governos da França e da Bélgica, que receavam a publicação de uma encíclica que condenasse as bases das Constituições modernas. A hesitação do Papa foi superada pela instância dos Bispos ultramontanos (fiéis a Roma) da França, que pediam a condenação do liberalismo; além do quê, alguns Cardeais e o Santo Ofício estimulavam Pio IX a se manifestar com grande firmeza. (BETTENCOURT, 2010)

É necessária a abertura de um espaço para identificarmos o que foram os ultramontanos da Igreja durante esse período do século XIX, uma vez que o mesmo está presente na parte institucional e hierarquizado da Igreja Católica. 8

(...) foram chamados de ultramontanos os partidários da liberdade da Igreja e de sua independência do Estado”. O ultramontanismo passou a ser referência para os católicos dos diversos países, mesmo que significasse um distanciamento dos interesses políticos e culturais. Apareceu como uma reação ao mundo moderno e como uma orientação política desenvolvida pela Igreja, marcada pelo centralismo romano, um fechamento sobre si mesma, uma recusa do contato com o mundo moderno. (LAGE, Ana Cristina, 2006)

Retomando, portanto nosso assunto previamente estabelecido, Pio IX acreditava que o capitalismo era o criador do liberalismo, que viria não apenas em prol da liberdade das práticas econômicas, mas também à liberdade de qualquer laço com a religião e com a Igreja. Resultando da preocupação do Papa Pio IX e à sua postura hostil diante do crescimento da tendência liberalista, decide então publicar a "encíclica Quanta Cura e o seu anexo Silabo, no qual a Igreja rejeita a conciliação com o progresso, o liberalismo e a civilização moderna, entendido como indiferentes ou hostis à religião." (LusitanaSacre, 2012, p. 124) A encíclica Quanta Cura vem denunciar o naturalismo, defensor de que a sociedade deva ser governada ignorando a religião; denuncia e condena também a liberdade de consciência, de imprensa, o monopólio do ensino público e a total submissão da família ao Estado alegando que o único objetivo da sociedade seria produzir riqueza; O galicanismo e o racionalismo também são condenados uma vez que o primeiro subordina a instituição católica ao Estado e o segundo nega a Divindade de Jesus Cristo. O silabo por sua vez possui as proposições tidas como inaceitáveis reunidas em oito capítulos. 1.2 Leão XIII e a questão socialista O liberalismo passou a comandar as relações econômicas do mundo. A mãode-obra precisou se adequar à vida na cidade e aos novos empregos para se manter viva. Mudaram-se os cargos, mudaram-se os salários. O grande problema era que todas essas mudanças não tinham regulamentações específicas. A maioria das fábricas definia o pagamento de seus funcionários de acordo com leis de mercado, que, muitas vezes, não tinham pé nem cabeça. Para lutar pelos direitos trabalhistas, começaram a surgir os sindicatos, as greves e a concentração de renda nas mãos dos grandes proprietários.(Dutra, Katia, 2012)

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Diante de tamanha exploração da classe burguesa sobre a classe trabalhadora, o Papa

Leão

XIII

decide

então

publicar

a

encíclica

RerumNovarum

(em

latim RerumNovarum significa "Das Coisas Novas") Antes da divulgação da "RerumNovarum" o mundo assistia as manifestações dos trabalhadores contra as desigualdades sociais, a dominação e a exploração pelo capital (...) (Rodrigues, Valeria. 2005). Com a exposição de pontos importantes sobre a carga horário do trabalho infantil e das mulheres, sobre a exploração dos menos favorecidos e com uma tentativa de mostrar que apenas através da fé e do cristianismo seria possível alcançar a igualdade, Leão XIII se posiciona de forma visionária na defesa ao direito do trabalhador, conforme podemos perceber em um trecho de sua encíclica: "O século passado destruiu, sem as substituir por coisa alguma, as corporações antigas, que eram para eles uma protecção; os princípios e o sentimento religioso desapareceram das leis e das instituições públicas, e assim, pouco a pouco, os trabalhadores, isolados e sem defesa, têm-se visto, com o decorrer do tempo, entregues à mercê de senhores desumanos e à cobiça duma concorrência desenfreada"

Sendo guiada pelo Evangelho e pelos ensinamentos cristãos, a Igreja passa então a empenhar-se na procura por soluções para os problemas sociais vividos pela humanidade, com um olhar exterior à sua estrutura institucional. Podemos notar que o Papa, através dos preceitos católicos se posiciona de forma energética ainda em sua encíclica, sobre a relação patrão e empregado: Façam os governantes uso da autoridade protetora das leis e das instituições; lembrem-se os ricos e os patrões dos seus deveres; tratem os operários, cuja sorte está em jogo, dos seus interesses pelas vias legítimas; e, visto que só a religião, como dissemos no princípio, é capaz de arrancar o mal pela raiz, lembrem-se todos de que a primeira coisa a fazer é a restauração dos costumes cristãos, sem os quais os meios mais eficazes sugeridos pela prudência humana serão pouco aptos para produzir salutares resultados. Quanto à Igreja, a sua acção jamais faltará por qualquer modo, e será tanto mais fecunda, quanto mais livremente se possa desenvolver.

Os governos mudaram, as sociedades evoluíram e a organização dos Estados sofreu uma mudança rígida. Junto com todas essas mudanças a Igreja se viu na necessidade de mudar sua postura, caso contrário sua influência não seria mais como antes. A atualidade exigiu da Igreja uma reformulação em sua estrutura e em suas ideias.

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CAPÍTULO II 2. O Pós 1ª Guerra Mundial: Surgimento dos governos totalitaristas A 1ª Guerra Mundial começou em 28 de Julho de 1914 e durou até Novembro de 1918, resultante da vitória da Tríplice Entente sobre a Tríplice Aliança1. Na tentativa de selar a paz entre as nações no pós-guerra, foi criado um acordo de paz nomeado Tratado de Versalhes, porém apesar do fato de que este tratado fora criado a fim de manter a paz, suas regras eram visivelmente punitivas e rigorosas. Ao assinar ele a Alemanha foi obrigada a assumir total responsabilidade pelo acontecimento da 1ª Guerra Mundial, além de ter que atender às diversas exigências políticas, econômicas e militares, tais como: a perda de parte de seu território, a perda dos territórios conquistados durante a guerra, bem como a devolução da região da Alsácia-Lorena aos franceses, a limitação do exército ao máximo de 100 mil soldados e a proibição de produzir armamentos. Não bastando os fatores previamente citados, foi imposta também uma indenização astronômica de 270 milhões de marcos-ouro a qual a Alemanha deveria pagar aos países Aliados, além de multas para o pagamento de viúvas, mutilados e órfãos, em sua grande parte concedida aos franceses. A rigorosidade das obrigações colocou a Alemanha em uma situação crítica. A inflação quase diária tomou conta do país e o desemprego atingiu níveis altos, as revoltas e as greves passaram então a se tornar frequentes. O povo clamava por salvação e junto com ela surgia o sentimento de revanche que aos poucos começava a tomar a nação alemã. Na Itália o fim da 1ª Guerra também havia sido devastador. A não obtenção de territórios estratégicos nos tratados pós-guerra e as recompensas territoriais consideradas insignificantes, pouco serviu para ajudá-la na sua reestruturação. A quantidade de mortos durante a guerra chegou próximo dos 650.000, os sintomas da crise se agravaram e o cenário doméstico se tornava cada vez pior com as heranças de guerra e atrasos, dívidas de empréstimos, alto índice de desemprego, 1

A Tríplice Aliança e Tríplice Entente se estabeleceram respectivamente por Alemanha, Áustria-Hungria e Itália de um lado, e do outro lado Inglaterra, Rússia e França. Em 1915 a Itália deixou a Tríplice Aliança para se aliar a Tríplice Entente, alegando que o que grupo ao qual fazia parte estabelecia meramente um acordo de defesa.

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inflação e etc. Apesar de ter se aliado ao grupo vencedor da guerra, os acordos serviram pouco para ajudar a Itália a se reestruturar e sua história durante esse período não se distingue tanto da história alemã. A crise econômica espalhou-se por toda a Europa. A queda da produção industrial e, por consequência, das exportações atingiram todas as economias. O desemprego chegou a níveis elevadíssimos e as condições de vida dos trabalhadores decaíram acintosamente. (AMANO, 2014)

O poder político Alemão e Italiano se mostravam incapazes de acaba com a crise, a ameaça socialista russa pós-revolução 2 parecia cada vez mais próxima, o sentimento anticomunista se intensificava na população e a perda de autonomia somada a humilhação vivida por essas nações intensificou o nacionalismo. Unindo então todos esses fatores, teremos o cenário ideal para o surgimento dos governos nazi-fascistas. Para se ter ideia, só na década de 1920 e 1930 temos os regimes de Benito Mussolini, na Itália(1922); António Oliveira Salazar, em Portugal (1928); Adolf Hitler, na Alemanha (1933);Francisco Franco, na Espanha (1936); Horthy, na Hungria (1919); Pilsudski, na Polônia (1926).No Brasil, os fascistas nunca chegaram ao poder, mas criaram o partido Ação Integralista Brasileira (AIB).(AMANO, 2014)

Para uma melhor explicação e desenvolvimento, essa monografia terá como foco os governos de Benito Mussolini e Adolf Hitler. Desta forma poderemos abordar o surgimento e desenvolvimento destes governos sem um prolongamento desnecessário. 2.1 Benito Mussolini e o fascismo italiano Segundo Hobsbawm, “O fascismo se instalou onde houve colapso dos velhos regimes, perda de status quo das velhas classes dominantes”(HOBSBAWM, 2009, p.129) O fascismo surgiu em 1919 na Itália, porém é importante percebermos que suas características criadas pelos fascistas para a formação do movimento já estavam presente nos cidadãos italianos muito antes da criação e que este foi se adaptando conforme a necessidade políticas que surgiam. Obviamente que seu líder Benito Mussolini e que a crise geral na Itália pós 1ª Guerra Mundial foram agentes incentivadores.

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A Revolução Russa de 1917 foi uma série de eventos políticos na Rússia, que, após a eliminação da autocracia russa, e depois do Governo Provisório (Duma), resultou no estabelecimento do poder soviético sob o controle do partido bolchevique. (REVOLUÇÃO... 2014)

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Os anos entre 1919 e 1922 foram, efetivamente, de grande agitação política e social na Itália. A Grande Guerra havia terminado, mas os efeitos econômicos do esforço de guerra continuavam, com inflação e colapso das finanças públicas. Socialmente, a situação era ainda pior, com desemprego e miséria crescentes, agravados pelo retorno para casa de dois milhões de soldados desmobilizados. Os operários e a classe média, empobrecidos nos anos de guerra, lutavam por melhores salários e condições de trabalho e a política se polarizava e radicalizava, com derrotas dos liberais nas eleições e o fortalecimento de partidos alternativos, como o socialista e o católico. (BERTONHA, 2008)

É fundado então em 23 de Março de 1919 em Milão o movimento fascista com a proposta através da reforça do indivíduo e também do Estado. Com as ideologias de que a nação seria posta em primeira instancia através da educação militarista e nacionalista para os italianos e direcionada ao expansionismo no exterior, além do centralismo e autoritarismo do Estado através da eliminação dos demais partidos políticos, do Parlamento e outros órgãos democráticos, pouco a pouco o fascismo passa a conquistar o apoio dos industriais, dos proprietários de terras e da pequena burguesia que encantados com as ideias nacionalistas e antiliberais ao mesmo tempo em que receosos sobre as agitações operárias e dos setores sociais veem no fascismo a solução para a reconstrução da Itália. Ainda que por muitas vezes a violência fosse usada por parte dos fascistas para diminuir seus adversários, não foi através de um golpe militar que Mussolini conseguiu o controle do Estado mas sim, graças ao apoio dos setores conservadores da sociedade, que conseguiram convencer o rei e o governo de que a entrada dos fascistas no Estado seria conveniente para eles. Em 1922, finalmente Mussolini foi convidado a ser primeiro-ministro. O fascismo chegou ao poder (LYTTELTON, 1974). Um evento marcante na ascensão de Mussolini e do fascismo ao poder foi a Marcha sobre Roma que aconteceu em 28 de outubro de 1922, na qual 50 mil militantes fascistas marcharam pela cidade. Acredita-se que esse foi um dos grandes eventos que junto à crise econômica e a agitação social, pressionaram o rei Vitor Emanuel III a convidar Mussolini para chefiar seu governo. Historiadores e estudiosos, como Mario Fiorani e Eric Hobsbawn, veem a ascensão de Benito Mussolini em suma mais relacionado a fatores conjunturais do que elementos históricos e sociológicos. O discurso fascista da década de 1920 possuía uma grande apelação à tão deseja estabilidade política e econômica desejada pela população

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de tal forma que já em 1922 grande parte da população se declarava partidária do Fascismo e dos ideais de Mussolini. No poder: Mussolini redefiniu o conceito de Estado, organizou as normas corporativas das indústrias, reestruturou a política interna italiana, criou uma política externa coesa, reordenou a Itália financeiramente, fez valer as políticas sociais, reformou a política escolástica e investiu nas questões de segurança nacional. (PELLEGRINI, 2012)

Essa fase inicial é marcada pelo fortalecimento do nacionalismo, que levou a um aumento na aprovação da população. Em 1926 e nos três anos seguintes o apoio popular e a reaproximação com a Igreja auxiliam Mussolini a firmar-se no poder. Como prova disso temos a eleição de 1929 que resultou na vitória quase unânime em sua postulação para assumir o comando da Itália. Nessa fase muitas coisas foram melhoradas na Itália e a população via um líder que cumpria suas promessas, porém aos poucos Mussolini começou a mudar sua visão sobre a forma como gerenciava o poder. Duce3 era chamado passa então a não mais separar seus desejos do desejo do Estado e é nessa fase que se torna de fácil percepção seu anseio por um poder total. Ainda que para Mussolini a Itália fosse um país de destaque e influente, com o fim da primeira guerra essa imagem não mais estava complacente com a realidade. Recém-saída da crise, a Itália ainda não possuía um papel de destaque no âmbito internacional e forçar uma postura não condizente com a realidade só serviria para encaminhar a Itália ao caminho pelo qual já houvera passado. E foi com a finalidade de reforçar a soberania italiana que Mussolini se uniu ao Eixo, formado pela Alemanha e Japão e entrou na segunda guerra mundial, porém as consequências dessa atitude foram ainda mais catastróficas do que havia sido as da primeira guerra. Para a Itália, a tentativa de invadir a Grécia, em 1940, se tornou um grande vexame internacional não apenas pela falha, mas pela necessidade de um resgate por parte do exército alemão. Os diversos fracassos seguintes espalharam o desespero e caos por todo o país e acusado de ceder aos delírios de Benito Mussolini, o rei Vittorio III, novamente acuado 3

Em Italiano Duce significa Líder

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pela pressão se vê obrigado a assinar o armistício4 em 1943 e fugir de Roma, que nesta situação fora completamente tomada Resistência Italiana. Em 1943, quando membros da resistência tomaram a cidade de Roma, Mussolini encontrava-se completamente encurralado e incapaz de reagir contra a pressão dos Partigiani. Deposto pelo Grande Conselho Fascista, que entendeu como nociva para a Itália a continuação da ditadura, Il Duce foi capturado e preso pela resistenza Italiana, elevado para a penitenciária de GranSasso; foi necessária a ajuda de paraquedistas alemães para que o Mussolini conseguisse fugir e fosse levado para a Alemanha. A RepubblicadiSalò, como ficou conhecida a última fase do fascismo, nada mais erado que uma forma de Hitler manter o domínio sobre o norte italiano, que começava a ceder ao domínio dos Aliados.(PELLEGRINI, 2012)

Em 1944 tropas americanas assumem controle de Roma e eliminam qualquer possibilidade dos fascistas retornarem ao poder. Mussolini já não tinha mais apoio de seus compatriotas, pessoas que foram essenciais para sua ascensão. As consequências da Segunda Guerra Mundial, para a Itália, foram ainda mais catastróficas em relação aos balanços oficiais de 1918, o número de soldados e civis mortos superaram a faixa 310.000, e, a economia italiana encontrava-se, outra vez, mergulhada em meio à desordem.(PELLEGRINI, 2012)

No ano seguinte enquanto tentava fugir para a Suíça, Mussolini foi capturado, julgado e condenado a morte por membros radicais da Resistência. Seu corpo ficou exposto na Piazzale Loreto, em Milão, durante dias. Ao fim de seu governo só restavam dívidas e uma sociedade carente de um líder que a unisse, como um dia fez Benito Mussolini. 2.2 Adolf Hitler e o nazismo alemão Adolf Hitler participou como soldado na 1ª Guerra Mundial foi ferido duas vezes e foi condecorado com a Cruz de Ferro, mas a derrota o abalou profundamente. Seus ideais nacionalistas e sua crença na superioridade da raça alemã banhavam suas palestras. Para ele o povo alemão possuía uma superioridade histórica e toda a humilhação sofrida no pós-guerra poderia ser superada com a união dos povos alemães e a expansão territorial. Os argumentos racistas também incitavam ao ódio e à intolerância, uma vez que para eles os povos latinos, os judeus, os negros e principalmente os povos eslavos, o qual ele acreditava que deveriam ser reduzidos à escravidão, não estavam a altura dos alemães. 4

ArmistiziodiCassibile – documento assinado entre a Itália e as forças Aliadas que culminou com a ocupação do Sul da Península pelos aliados, e, implicou na capitulação da Itália. O armistício não representou uma trégua, mas uma rendição forçada

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"O D.A.P. (Deutsche Arbeiterpartei), partido dos trabalhadores alemães, é fundado em Munique no ano de 1919 por Anton Drexler e Gottfried Feder" Júnior (2009), porém no ano seguinte, quando Hitler alcançou a liderança do partido o nome foi alterado, sendo então em 24 de Fevereiro de 1920 nomeado Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, ou como conhecemos Partido Nazista. Com característica extremamente totalitário e militarista se baseava numa mística heroica de regeneração nacional. No início Hitler percorre a Alemanha a fim de divulgar o partido e conseguir adeptos. As reuniões eram acompanhadas de alguns rituais tais como ataques violentos aos socialistas além de uniformes, o qual futuramente se tornou marca registrada do nazismo. Em 1923 a França ocupa a região industrial de Ruhr, como resposta ao não cumprimento alemão do pagamento de reparações. O caos econômico se instaura durante esse momento, acontece a demissão do governo de Wilhelm Cuno e o partido comunista alemão vê nessa situação uma oportunidade de encenar uma revolução. Em reação a tais eventos a Alemanha é tomada por uma onda nacionalista e o partido nazista cresce acentuadamente para cerca de 20.0005. Com o crescimento gradual dos apoiadores, Hitler decide então organizar uma manifestação militar para tomar o poder e numa concentração em Munique convoca o povo a apoiá-lo em sua tentativa de putsch (golpe de Estado), porém o imaginado não acontece e após um conflito com a polícia Hitler é preso em 1924 e julgado por traição, em Março do mesmo ano. Apesar do julgamento, Hitler teve penas muito brandas e enquanto estava na prisão escreveu seu manifesto político semi-autobibliográfico nominado MeinKampf (Minha Luta) 6 no qual expõe suas ideias, muitas delas extremamente intolerantes e carregadas de preconceito, conforme será abordado mais a frente neste estudo. Ainda em 1924, para ser mais exato, em Dezembro, Hitler é libertado da prisão por ser considerado inofensivo e anistiado. Ao sair da prisão Hitler ainda tinha a intenção de conquistar o poder na Alemanha, porém dessa vez através de meios legais.

5Kershaw 2008, p. 110. 6 Hitler 1998.

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Foi durante essa época que o partido Nazista começou então a se adequar e se adaptar ao sistema eleitoral da Alemanha. A 9 de novembro de 1923, no quarto ano de sua existência, o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (NationalSozialistische Deutsche Arbeiterpartei) foi dissolvido e proibido em todo o Reich. Hoje, em novembro de 1926, ele de novo é livre no Reich inteiro, mais forte e intimamente mais sólido do que nunca.

De 1926 até 1929, ainda durante a república de Weimar7, o partido Nazista não teve muito destaque, uma vez que a Alemanha se encontrava em uma situação financeira um pouco melhor do que nos anos anteriores. A estabilidade econômica parecia enfim ter sido alcançada e as melhoras dos salários dos trabalhadores junto com a diminuição do desemprego formavam um cenário de otimismo. Durante esse período o partido nazista foi então reestruturado em torno de Hitler, que passou então a ser nomeado Führer, líder e condutor do N.S.D.A.P. e do Volk (essa expressão era usada pelos nazistas para designar o povo alemão racialmente determinado) (FEST, 2005). É em 1929, com a Quebra da Bolsa de Valores de Nova York 8 e com os problemas econômicos resultantes dela que o governo Nazista toma maior destaque no cenário político alemão. Obviamente que diversos fatores influenciaram a ascensão do nazismo além da crise econômica, porém é através da apelação ao sofrimento e ao rancor da população que os nazistas conquistam a simpatia de grande parte da população. O ano de 1932 foi marcado por duas eleições presidenciais e duas eleições ara o parlamento alemão, o Reichstag, além do outras eleições regionais, como na Prússia. Os cofres do partido estavam esvaziando devido às incessantes campanhas eleitorais (na campanha eleitoral para a presidência em abril de 1932 Hitler foi de cidade em cidade de avião, chegando mesmo a fazer cinco discursos em um único dia e em diferentes cidades; isso rendeu até um livro de fotografias, Hitler überDeutschland, podemos traduzir como ‘‘Hitler sobre a Alemanha’’ (...)(PEROSA, 2009)

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A república de Weimar foi uma forma de governo estabelecida na Alemanha em 1919, que tinha a finalidade de estabelecer a democracia liberal restabelecendo a ordem e a estabilidade. Possui esse nome, pois sua constituição foi assinada na cidade de Weimar, Saxônia. 8 Em virtude da enorme importância da economia americana na economia mundial, a crise logo atingiu outros países. Rapidamente, os empréstimos e investimentos americanos foram retirados do continente europeu. Para a Europa, nada poderia ser pior. Na Áustria, o principal banco faliu. Na Alemanha, o povo, com medo da inflação, correu aos bancos para retirar dinheiro e estocar mercadorias em casa. Isso abalou as finanças e colocou por terra os esforços que vinham sendo feitos para reerguer a economia alemã, tão prejudicada pela Primeira Guerra. (FONTE DO SABER - MANIA DE CONHECIMENTO, 2011)

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Com a crise política da república de Weimar e com a classe burguesa temerosa à uma revolução comunista, a pressão sobre Hinderberg, presidente na época, aumentava e foi então que em 30 de Janeiro de 1933 Hitler foi nomeado chanceler. 2.3 Os métodos nazistas de manutenção do poder Ainda que muito se fale do dom da oratória que Hitler possuía, existem diversos outras ferramentas que os nazistas utilizavam para expandir sua influência e atingir lugares que outros partidos não conseguiam. "Os nazistas também dedicavam muito mais tempo e esforço a manobras eleitorais do que qualquer outro partido” 9. Visto que estamos falando da década de 1930, é de claro conhecimento que não existia o acesso da mídia de maneira intensa como temos hoje em dia nas televisões e computadores. Muitas das famílias tinham apenas um rádio para acompanhar as notícias, que por sua vez era controlado pelo governo. Com encontros políticos locais e com promessas diferentes para pessoas diferentes, muitas das vezes até incompatíveis umas com as outras, os nazistas conquistavam a simpatia de muitos eleitores. As bandeiras e estandartes, utilizadas nos comícios e diversas vezes vistos em posse de expectadores nas marchas nazistas, promoviam o partido. As bandeiras iluminadas a noite e as músicas altas também serviam para impactar visualmente a multidão. A influência visual toma novos rumos quando em 1932 o partido nazista passa a utilizar filmes, em sua grande parte durante palestras ou comícios para atingir o público. Grande parte desses filmes eram dedicados a mensagem nazistas contra o comunismo, passando uma imagem deturpada do que seriam os comunistas, muitas vezes mostrados como libertinos e alcoólatras que zombavam e atacavam com violência os nazistas, porém nos filmes os nazistas nunca reagiam de forma violenta. No entanto é sabido que a SA e a SS10 promoviam brigas nas ruas contra comunistas, as quais diversas vezes resultaram em violentas mortes (LENHARO, 1986, p. 54) Os métodos para atingir o público variavam conforme o lugar e a época. Foram criados diferentes tipos de jornais para públicos diferentes bem como os discursos 9

GEARY, Dick. op. cit. 10SS é a abreviatura de Schutzstaffel, o termo alemão que em português significa "esquadrilha de proteção". Foi fundada em 1925, com o fim de proteger Hitler e os dirigentes nacional-socialistas. Para executar suas ordens, foram criadas também as Seções de Assalto (S.A) e a Gestapo (polícia secreta).

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utilizados. Esses métodos de propaganda foram até dado momento extremamente eficazes no convencimento de parte da população alemã além de contar com o apelo ao orgulho ferido dos alemães. Tudo era permitido contanto que as massas fossem conquistadas. Conforme dito por Goebbels, Ministro da Propaganda na Alemanha nazista e considerado um gênio da propaganda política "As pessoas tem propensão imensa para acreditar; elas precisam acreditar em tudo e estão sempre a fazê-lo". E Hitler ainda foi além quando disse: "O povo, em sua grande maioria, está numa disposição e num estado de espírito a tal ponto feminino, que suas opiniões e seus atos são determinados muito mais pela impressão produzida nos sentidos, que pela reflexão pura". Após a chegada do nazismo ao poder em 1933, Hitler estabeleceu o Ministério do Reich para Esclarecimento Popular e Propaganda, encabeçado por Joseph Goebbels. O objetivo do Ministério era garantir que a mensagem nazista fosse transmitida com sucesso através da arte, da música, do teatro, de filmes, livros, estações de rádio, materiais escolares e imprensa.11

Durante o governo nazista a propaganda política teve um avanço considerável e as técnicas aperfeiçoadas por eles são de grande valor para ao cenário do marketing atual, no qual podemos ver muitos traços da propaganda de massa nos comerciais e nos discursos políticos apresentados nos meios de comunicação. Ainda que admirável a forma como foi utilizada a propaganda e os meios de comunicação para atingir as massas, junto com ela vinham mensagens de ódio e intolerância e muitas das vezes incitavam à repressão e perseguição de negros, judeus, comunistas e das minorias em geral. 2.4 Nazismo e o antissemitismo racial Antes de apontar os fatos ocorridos em tal assunto é necessária a explicação de um dos possíveis significados do que seria o antissemitismo racial, digo possível significado, pois conforme a interpretação e a abordagem do tema, o mesmo é passível de alterações pequenas que podem vir a mudar sua característica. O termo "antissemitismo", com suas conotações biológicas e raciais, foi usado pela primeira vez em 1879, por WilhemMarr, fundador da famosa Liga Antissemita. A expressão "antissemitismo" tornou-se logo de uso corrente, com uma identidade racial, asseverando que o caráter "inato" dos judeus ou semitas – 11

http://www.ushmm.org/wlc/ptbr/article.php?ModuleId=10005202

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considerados descendentes de Sem, um dos três filhos de Noé mencionados no livro do Gênesis – era absolutamente oposto ao caráter "nobre e puro" dos arianos (Marr, ao dizer "arianos", tinha em mente os teutões e nórdicos, tais como alemães, austríacos, escandinavos, holandeses, ingleses, franceses etc.). Ele considerava, magnanimamente, que os judeus não podiam deixar de ser o que eram: homens "inferiores moral e fisicamente", porque a natureza os havia predeterminado a serem assim.12

Ao analisarmos trechos do livro Minha Luta é possível identificarmos características muito parecidas com as de Marr: O princípio orgânico da humanidade ariana é substituído pelo princípio destruidor dos judeus. Assim se torna o judaísmo um "fermento de decomposição" dos povos e raças e, em sentido mais vasto, de ruína da cultura humana.·. A verdade é que o mundo passa por grandes transformações. A única questão, a saber, é se o resultado final será a favor da raça ariana ou em proveito do eterno judeu. (HITLER, 2003)

Acredita-se que O Protocolo do Povo Israelita, um documento falso que sugere a conspiração dos judeus para controlar o mundo teve grande influência nas crenças político-ideológicas de Hitler. A repudia de Hitler pelo povo judeu é facilmente percebida quando em parte de seu livro se refere a eles como ratazanas egoístas: O judeu só conhece a união, quando ameaçado por um perigo geral ou tentado por uma filhagem em comum;desaparecendo ambos estes motivos, os sinais característicos do egoísmo mais cru surgem em primeiro plano, e o povo, ora unido, de um instante para outro transforma-se em uma chusma de ratazanas ferozes. (HITLER, 2003)

Essa teoria começa a tomar proporções maiores em 1933 quando o Nacional Socialismo alcança o poder. Nesse momento a corrente que antes era espaçada e de certa maneira "inofensiva", agora fazia parte do governo, estava possuída pela imagem do próprio Estado. Anos depois são anunciadas as Leis Raciais de Nuremberg 13 que apesar do caráter perseguidor aos judeus, não definiam de maneira clara quais pessoas eram ou não judias. Na verdade muitos alemães que jamais seguiram ou praticaram o judaísmo foram perseguidos nessa época, uma vez que ainda que o simples fator de possuir três ou quatro avós judeus, já era a premissa necessária para julgar que tal indivíduo fazia 12

http://www.beth-shalom.tv.br/artigos/aproposito.html Conhecida assim por ter sido realizada pelo partido nazista na cidade de Nuremberg em 15 de Setembro de 1935, ela legalizava muitas das teorias raciais nazistas, tais como: a retirada da cidadania alemã dos judeus e a possibilidade de terem relações ou se casarem com pessoas "de sangue alemão ou seus descendentes". 13

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parte das ideologias judaicas, inclusive durante esse período foram perseguidas muitas freiras, padres católicos romanos e sacerdotes protestantes que possuíam avós judeus. Em outros casos, ainda que os sujeitos tivessem se convertido ao cristianismo ou qualquer outra religião, bem como seus familiares, ainda eram definidos pelos nazistas como judeus, Ainda no mesmo ano a lei passa então a se estender a negros, ciganos, judeus, homossexuais e seus descendentes, considerados impuros. Com as perseguições aumentando cada vez mais, muitos cidadãos que pertenciam a essas classes não encontraram outra opção a não ser deixar o país, mas ainda assim muitos decidiram permanecer na Alemanha à espera de tempos melhores, como foi o caso dos cientistas como Plank e Laue. Laue por sua vez não apenas optou por permanecer como também criticou os judeus que escolheram sair do país, temos um exemplo em Albert Einsten que seguiu seu caminho para os EUA em 10 de março de 1933 -um mês antes de uma lei expulsar todos os descendentes de judeus do funcionalismo público. Se Einstein ainda estivesse no país, seria apenas um desempregado observando suas obras sobre a Teoria da Relatividade desaparecerem nas fogueiras do Reich. Mais um pouco de tempo e talvez o próprio Einstein cumprisse a profecia do poeta alemão Heinrich Heine: "Onde se queimam livros, acaba-se queimando pessoas".(REZENDE, 2009)

Esse período de perseguições que se estendeu até o final do governo nazista ficou conhecido como Holocausto. Essa gama de eventos culminou na morte de aproximadamente 6.000.000 de judeus, sendo 1.500.000 crianças judias, número que representa um terço do povo judeu alemão daquela época. No início da Segunda Guerra Mundial os nazistas criaram campos de concentração onde judeus e ciganos eram forçados a trabalhar nas indústrias vitais para a sustentação da Alemanha na guerra. Vale ressaltar que além dos judeus e ciganos, os campos de concentração também eram formados por homossexuais, opositores de Hitler, doentes mentais, pacifistas, eslavos e grupos religiosos. Todos vivendo em condições sub-humanas com péssima alimentação, sofrendo torturas e em muitos casos sendo utilizados para experimentos científicos. O fim dos campos de concentração só aconteceu de fato ao final da guerra quando as tropas francesas, britânicas e norte-americanas conseguiram expor a carnificina ocorrida no governo alemão.

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2.5 Alemanha e Itália juntas na Segunda Guerra Mundial O período dos nazistas no poder é marcado por uma série de super obras públicas, de infraestrutura, créditos e financiamentos para empresas expandirem seu capital, bem como construção civil. O que se viu na Alemanha foi, em suma, a superação do desemprego e o fortalecimento do Estado. No plano externo, apoiou a invasão italiana à Etiópia, logrando para uma aproximação política com Mussolini. Ainda, buscava concretizar outro acordo, desta vez com a Grã-Bretanha, que sedia os direitos para o Reich de obter 35% de sua frota total e o mesmo número de submarinos. Em março de 1936, a quebra do Tratado de Versalhes foi explicito: os alemães invadiram a região do rio Reno. O Japão invadiu a Manchúria para conseguir pagar suas importações e continuar suas produções, a Itália invadiu a Etiópia. Na Espanha eclodia a guerra civil com duração de três anos. Os espanhóis obtiveram grande ajuda dos alemães, soviéticos e italianos, sendo considerados por alguns como um ensaio do que estava por vir. Neste mesmo contexto houve também a invasão alemã à Tchecoslováquia, e assim o mundo caminhava para uma nova guerra mundial. (REIS FILHO, 2005)

Com essa cadeia de acontecimentos, Hitler aproveita para firmar o pacto RomaBerlim, que os auxilia a firmarem a relação e se prepararem para a Segunda Guerra Mundial. Para Benito Mussolini, tratava-se de uma oportunidade de colocar a Península Itálica em uma posição de destaque internacional. Muito se questionou sobre o motivo pelo qual a Inglaterra e a França, se vendo diante de um cenário que a qualquer momento culminaria em uma guerra, nada fizeram para detê-lo. Acredita-se que para a Inglaterra, ter a Alemanha ascendente na Europa, frearia a possibilidade da França surgir como potência. A França por sua vez tinha uma política de apaziguamento neste período o que a impediu de tomar ações para reagir de maneira mais enérgica. Além do mais, Inglaterra e França saíram abaladas da Primeira Guerra Mundial, portanto a instauração de uma política de não agressão parecia ser a melhor opção para evitar uma possível nova guerra, no entanto o fato de terem se omitido em certos casos e permitido a expansão de Hitler e Mussolini, foi em partes uma das prerrogativas para a explosão da Segunda Guerra Mundial. É então assinado pela Alemanha e França o Pacto Kellogg-Briand, que consistia na declaração de que a guerra era um crime internacional. Desta forma, eles só atacariam mediante “legítima defesa”, repudiando ainda mais a guerra como meio de se fazer política. (BURNS, 2001). Em 1935 começa a se tornar notável o avanço armamentista Alemão e com isso são iniciadas algumas incursões relacionadas ao exército. Ainda que com a ameaça 22

alemã "batendo à porta" da Inglaterra e França é apenas alguns anos depois elas decidem agir para frear o poderio alemão. Dessa maneira, a Alemanha necessitava de uma rápida ofensiva. Os recursos conjuntos dos Aliados, unidos e coordenados, eram muito maiores. Porém, nenhum dos dois fez sequer uma preparação para uma guerra de longa data. Ao contrário da Inglaterra que logrou todo seu capital para a inovação de tecnologia e armas sofisticadas (BURNS, 2001).

Em 30 de Setembro de 1938, reuniu-se em Munique Adolf Hitler, Benito Mussolini, os primeiros-ministros da França EdouardDaladier, e do Reino Unido, Arthur Neville Chamberlain, para assinar o que viria a ser chamado de Pacto de Munique. Confiando na palavra de Hitler de que aquelas seriam suas últimas reivindicações, os três estadistas decidem então por negociar a liberdade de parte da Tchecoslováquia, para ser mais específico, a área de sudetos que continha cerca de três milhões de população alemã. Chamberlain chegou a declarar que aquele acordo representava a “Paz para a nossa época”, porém nos seis meses seguintes a Tchecoslováquia deixou de existir uma vez que se tornou vítima do expansionismo alemão. Para Stalin, líder soviético, Munique nada mais era do que a prova de que o ocidente caminhava em favor de uma guerra da Alemanha contra a URSS, desviando para o leste a expansão nazista. Se interpretado através do olhar de repudia do ocidente para com o comunismo, essa resolução dada por Stalin se torna extremamente sensata. Sendo assim Stálin obteve de Hitler um tratado assinado para a não-agressão de ambos, conhecido como Pacto Molotov-Ribbentrop. Tal pacto, de certa maneira, desarticulou o ocidente, que para Stálin tentariam sufocá-lo por meio da Alemanha. Mal sabia Stálin que mais tarde tal acordo não serviria de nada para evitar uma suposta agressão. (REIS FILHO, 2005)

Meses após a conferência Hitler utiliza da premissa de que devido a vasta população alemã presente no corredor Polonês 14 a mesma deveria ser reintegrada ao país de origem, no caso a Alemanha.

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Corredor Polonês é uma estreita faixa de terra localizada na Polônia, que compreende grande parte do Rio Vístula. A posse da região foi transferida da Alemanha para a Polônia em 1919, graças ao Tratado de Versalhes.

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Essa integração foi negada e Chamberlain anunciou que a Grã-Bretanha prestaria socorro armado à Polônia e pouco depois, instigou ainda mais, dizendo que seu governo iria em socorro de qualquer nação que se sentisse ameaçada pela ambição de Hitler, dando plenas garantias à Grécia, Turquia, e à Romênia, declarando guerra explicita contra o governo alemão. Logo em seguida a França fez o mesmo. (REIS FILHO, 2005)

Hitler decide invadir a Polônia e em menos de três semanas toma a capital Varsóvia. Acontece então o primeiro passo para o que viria a ser a Segunda Guerra Mundial. Durante um ano, uma denominada “sitzkrieg” [Guerra de Mentira] aconteceu entre Alemanha e Inglaterra com limitados ataques aéreos e navais por parte dos contendores. Pouco depois a Guerra se expande e junto com ela se expandem também os territórios tomados pelos nazistas. Em 1940 os alemães conquistam a Noruega, Bélgica, Dinamarca, Holanda e França, esta última que havia optado pelo apaziguamento foi devastada pelo exército de Hitler. Esse avanço relâmpago, ou melhor, guerra relâmpago foi denominada blitzkrieg. Em agosto do mesmo ano iniciou-se o ataque à Inglaterra que por sua vez foi neutralizado pela ação da RAF (Força Aérea Britânica). Entre 1941 o cenário muda quando o Japão durante sua expansão pela Ásia decide atacar a base aérea de Pearl Harbor nos Estados Unidos, o que força os americanos a entrar na guerra. Em Junho de 1944, o famoso dia D marca o desembarque das forças aliadas em direção a Normandia. Mesmo com a forte resistência alemã os comandantes americanos conseguem conquistar o Norte da França e recuperam a capital, Paris. O passo seguinte dos americanos seria então Berlim, a qual os alemães não conseguiram resistir por muito tempo em suas duas frentes, uma contra os americanos e outra contra os soviéticos. Quando os soviéticos chegam à Berlim, aferrado em seu bunker ao lado de poucos fiéis, Hitler se suicida em 30 de abril de 1945. Em meio do mesmo ano a Alemanha assina a rendição na Segunda Guerra Mundial. Suas tropas localizadas na Holanda, Itália, Dinamarca e noroeste da própria Alemanha se rendem após o anúncio do suicídio de Hitler. Chegava então ao final a guerra com a rendição assinada oficialmente em 02 de setembro de 1945.

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CAPÍTULO III 3. A Igreja Católica no início do século XX O início do século XX foi um período de reviravoltas, principalmente no que diz respeito à ciência e tecnologia, porém apesar da evolução nessas áreas, a raça humana parecia retroceder em quesitos como morais e bons costumes. Houve mais mortes durante o início do século XX do que em guerras anteriores. O cenário internacional fora tomado pela bipolaridade de opiniões e princípios: Fascistas e Nazistas contra democráticos; comunistas contra capitalistas; nações pobres contra nações ricas. Durante esse período os Papas que exerciam o poder tiveram que tomar decisões rígidas a fim de manter sua soberania e princípios. O Papa Pio X foi líder da Igreja Católica durante 1903 até 1914 e exerceu um papel importante contra o ensino propugnado pelo liberalismo da época, que acusava a Igreja como representante do obscurantismo. Em 1907, o Papa Pio X em sua encíclica PascendiDominiciGregis reafirmou ser dever dos bispos “cuidar que os escritos dos modernistas ou que conhecem o modernismo ou o promove, se têm sido publicado, não seja lidos, e se não o houveram sido, não se publiquem”“. (Tambara, E. 2005).[6] Sua condenação ao modernismo (o uso ensino histórico e bíblico moderno nas escolas, que levou à negação de certas verdades da fé) foi extremamente severa, porém provavelmente foi quem salvou a Igreja Católica de uma divisão, como ocorreu com o Protestantismo. (Schreck, A. 1987)

O Papa seguinte, Bento XV (1914-1922) dedicou grande parte de seu tempo e atenção à Grande Guerra – Vale ressaltar que a Grande Guerra foi chamada assim pelas pessoas que a viveram. O nome Primeira Guerra Mundial, surgiu apenas com a Segunda Guerra mundial, que envolveu um número maior de países do que a Primeira -. Bento XV se esforçou para manter a neutralidade da Igreja e a reconciliação das partes combatentes. Com a morte de Bento XV, Pio XI assume o papado (1922–1939) que apesar da condenação ao comunismo, faz acordos importantes com os governos totalitários de Mussolini – Pactos Lateranenses - e Adolf Hitler – Concordata entre a Santa Sé e o Reich Alemão -, com intuito de preservar a liberdade dos católicos nestas comunidades. Ao fim de seu papado, Pio XII (1939 – 1958) assumiu o cargo e enfrentou o cenário de uma nova guerra mundial, na qual trabalhou incansavelmente para salvar a vida de 25

centenas de milhares de Judeus. Novos métodos de ensino nas escolas e de críticas à Bíblia foram aberto durante seu papado, bem como uma nova forma de enxergar a Igreja. Essa nova abordagem ajudou a quebrar a imagem da Igreja Católica como uma fortaleza imutável opositora ao mundo moderno. A seguir abordarei de maneira mais aprofundada a relação entre os Papas e os governos Nazista e Fascista e de que forma se deram os acordos e tratados que mantiveram a Igreja numa posição de influência durante a expansão destes governos. 3.1 Igreja Católica e o fascismo: Uma terra influenciada pela Igreja É desnecessário mencionar a influência exercida pela religião católica e sua Igreja na Itália. Berço do Império Romano, que adotou o catolicismo como religião oficial no século IV, abriga a sede da Igreja, o Vaticano, no centro da capital italiana, Roma. Ser sede da Igreja católica na Itália foi um fator preponderante para que a península fosse uma das únicas regiões européias a permanecer incólume diante da Reforma Protestante dos séculos XVI e XVII, permanecendo sua população predominantemente católica. (QUADROS, 2014)

No início do século XX com o surgimento do fascismo, o governo italiano muda sua postura uma vez que os fascistas eram contrários à influência da Igreja no seu plano de mudanças porém como o fascismo é caracterizado por muitas mudanças de opinião, não demora muito para Mussolini no medo da ameaça comunista uma oportunidade de aproximar seus laços com a Igreja e decide portanto atribuir ao Partido Nacional Fascista a imagem de fortificador da luta contra o comunismo ateu. Em 31 de Outubro de 1926, o legado pontifical Cardeal Merrydel Val, declara publicamente: Os meus agradecimentos vão para ele (Mussolini) que segura nas mãos o governo de Itália, que, com uma visão clara da realidade, desejou e deseja que a religião seja respeitada, honrada e praticada. Visivelmente protegido por Deus ele melhorou visivelmente a sorte da nação, aumentando o seu prestígio no mundo.

Alguns anos depois, para ser mais exato, em 1929 o Tratado de Latrão é assinado por Benito Mussolini, em nome do Reino da Itália ea Santa Sé, representada pelo cardeal Pietro Gasparri, Secretário de Estado do papa Pio XI. Neste acordo são formalizados o reconhecimento da religião católica como oficial na Itália (até a revisão do Tratado, em 1984), a soberania, neutralidade e inviolabilidade do Estado do Vaticano sob a autoridade do papa e o retorno financeiro à Igreja por suas perdas territoriais.

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Vale abrir um parênteses para esclarecer que apesar de muitos argumentarem que nesse momento Mussolini da à Igreja a terra na qual hoje se localiza o Vaticano e que nesse momento a Igreja se "vende" aos fascistas, essa premissa está incorreta pois muitos anos antes, em 756 quando a Igreja Romana pediu ajuda ao rei dos francos Pepino o Breve, em sua luta para permanecer com a terra onde se localizava que ele após uma vitória esmagadora decide fechar um acordo onde afirma que dali em diante todas as terras que os romanos não pudessem defender. E complementou: "Nem todos os tesouros do mundo me levariam a tirar de São Pedro o que um dia lhe dei”. Assim sendo a terra já era posse da Igreja Católica, só o Estado soberano do Vaticano que surgiu com esse tratado. Retornando ao ponto anterior, o Tratado de Latrão fora vantajoso para ambas as partes, pois ajudou Mussolini a atingir os setores nos quais sua influência dependeria da relação com a Igreja e a reafirmar seu prestígio no âmbito internacional. Já para a Igreja funcionou como resolução ao impasse com a Itália, conhecido como Questão Romana15 e nesse período também passou a ser o único sujeito político durante o governo de Mussolini a possuir privilégios, além de manter sua influência no setor juvenil. Como ressalta Trento (1986), o papel da Igreja no apoio ao fascismo mais uma vez foi demonstrado nas eleições de março de 1929 e revelou-se importante, pois nessa ocasião paróquias mobilizaram-se no coro “pelo Papa e pelo Duce”, o que resultou em uma esmagadora vitória para Mussolini (98,4% de votos favoráveis). Era uma vitória também para Igreja que com Mussolini no poder consegue afastar o fantasma do comunismo. Em 1930, Mussolini já no poder muda a postura e inicia uma série de medidas contraa liberdade do ensino da Igreja e a proibição da Ação Católica16. Com isso Pio XI reage de forma enfática condenando os erros do fascismo em sua encíclica Non abbiamobisogno (tradução livre “Nós não precisamos”.) dizendo também que as intenções do Estado fascista naquele momento foram desmascaradas.

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Quando Victor Emanuel II é proclamado Rei da Itália, a unificação através da incorporação de Veneza em 1866 e Roma em 1870, que passa a ser capital do paíse, a Igreja perde grande parte de seu território, caso este que não foi bem recebido pelo papa Pio IX que diante do ocorrido decide romper laços com o governo italiano, considerou-se prisioneiro e fechou-se no Vaticano. Assim nasce a Questão Romana. 16 Um conjunto de ações e movimentos da Igreja visando ampliar sua influência através do fortalecimento da fé religiosa com base na doutrina católica.

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Podemos perceber no trecho abaixo que Pio XI acusa diretamente o princípio do totalitarismo da educação: 60. Uma concepção que torna dependentes do Estado as gerações juvenis, inteiramente e sem exceção, desde os primeiros anos até à virilidade, é inconciliável para um católico com a verdadeira doutrina católica; e não menos inconciliável com o direito natural da família. Para um católico é incompatível com a doutrina católica pretender que a Igreja, o papa, devam limitar-se às práticas exteriores da religião (a missa e os sacramentos), e que todo o restante da educação pertença totalmente ao Estado.

Sob pressão internacional decide pelo compromisso com os católicos e a Ação Católica é salva. 3.2 Igreja Católica e o nazismo: A influência das posturas papais Hitler declarou em sua primeira transmissão de rádio após se tornar chanceler, que os membros de seu governo “iriam preservar e defender os princípios básicos nos quais a nação foi criada. Eles relacionavam o cristianismo como a fundação da moral da nação e da família como base”.(SHRECK, 1987) Segundo o autor GuenterLewy, essa mensagem nada mais foi do que um jogo político, pois para Hitler “a lealdade de um cidadão ao Estado devia ser ancorada em crenças religiosas”.(LEWY, 1964) Temos então a partir dessa premissa, uma divisão de ideias nas quais é possível afirmar duas ideias, sendo a primeira delas a de que o nazismo e o cristianismo não tiveram relações tão distantes como se pode acreditar e essa ideia é facilmente reforçada através da análise dos laços pessoais, ligações institucionais e ideologias semelhantes que conectaram o nazismo e o cristianismo de tal forma que diversos membros da elite nazista se consideravam devotos cristãos, porém em contra partida temos também artigos e fatos históricos que revelam diversas práticas, contra o catolicismo na Alemanha, de integrantes do governo nazista, o que pode ter dificultado as relações do nazismo com a Igreja. Em uma primeira visão é possível acreditar que para a Igreja tenha sido de grande vantagem qualquer relação com Hitler tanto para o aumento de seus fiéis como para o reforço de seus valores em uma Alemanha fragilizada, no entanto as ideologias nazistas são pseudo-religiosas ou neo-pagãs, dependendo da interpretação e esse ideal se torna de fácil identificação quando os membros de seu movimento e ocupantes dos escalões mais elevados do partido foram obrigados à abandonar suas igrejas.

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O renascimento dos valores pagãos, ligados à realidade física tanto quanto à guerra; a sacralização do mundo material e a negação de qualquer possibilidade de transcendência – seja ela de caráter espiritual, ético ou intelectual – são elementos-chave da ideologia do nazismo que vê o Reich como a realidade última. (KRAUSZ, 2014)

Para a Igreja Católica alemã tais fatos eram absurdos e a forma como Hitler ascendeu através da violência eram abomináveis. Não tardou e a primeira condenação acontece, através do bispo de Mainz, uma cidade alemã, que proíbe os nazistas do recebimento do sacramento ou que os membros do Partido Nazista participassem das celebrações. Em 1932 com uma ação ainda mais rígida, a Igreja excomunga todos os dirigentes do partido Nazista devido as princípios anticristãos e à divulgação de teorias racistas. Anos depois é criada a encíclica Mitbrennendersorge (pode ser traduzido como "Com ardente preocupação") que foi lida em mais de 11 mil igrejas alemãs, após ser introduzida clandestinamente no país, passando por cima da censura do governo. Escrita em alemão visto que sua finalidade era atingir o povo alemão, a encíclica trata do racismo e de Hitler com uma agressividade poucas vezes antes vista em documentos papais. Nessa época Hitler ainda possuía certo prestígio nacional e por conta disso a encíclica foi alvo de diversas críticas, inclusive da imprensa francesa que na época ainda optava pela postura pacifista. No curto período em que Hitler governou, nunca houve uma contestação tão enfática e ampla quanto à encíclica. Porém Hitler decide reagir e no dia seguinte à leitura da encíclica nas igrejas, todas as paróquias alemãs foram visitadas por oficiais nazistas, que apreenderam as cópias, além do mais o rígido controle de Hitler sobre a imprensa, o auxilia a censurar a encíclica e minimizar a quantidade de pessoas atingidas pela notícia. Nesse mesmo período é iniciada uma campanha publicitária anticlerical na Alemanha. Como resposta, Hitler disse: Não podemos suportar que esta autoridade, que é a autoridade do povo alemão, seja atacada por quem quer que seja. Isto vale para todas as Igrejas. Enquanto elas se ocupam dos seus problemas religiosos, o Estado não se preocupa com elas. Mas, quando elas tentam, através de medidas de todo o gênero, com escritos, encíclicas, etc., atribuir a si mesmas direitos que competem exclusivamente ao Estado, nós reprimi-las-emos (…). Da moralidade do Estado e do povo alemão tratarão os dirigentes do Estado alemão.

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Com isso as relações da Alemanha com o Vaticano ficam extremamente abaladas e durante esse período diversos religiosos foram presos ou enviados aos campos de concentração enquanto de forma paralela, diversas organizações religiosas foram dissolvidas. Em 1937 o Papa XI falece e em seu lugar entra Pio XII, que em curto espaço de tempo já deixa clara sua condenação ao nazismo apontando "a premeditada agressão a um povo pequeno, trabalhador e pacífico, com o pretexto de uma ameaça que nem existe nem é querida e nem sequer é possível”. Muito se debate sobre a posição de Pio XII diante da expansão nazista. Diversos autores afirmam que Pio XII foi complacente com o nazismo ao se calar diante da imprensa enquanto outros veem nessa postura a atitude correta para agir sem que a Alemanha percebesse. No início da Guerra, em 1939 Pio XII fizera diversos protestos em defesa dos judeus e poloneses que eram trucidados em tal ocasião pelos nazistas, porém a cada manifestação aumentavam ainda mais o número de vítimas e as represálias, de tal modo que os próprios bispos poloneses pediram a Pio XII que não mais protestasse (Bettencourt, 1994). Por tais motivos, a postura de Pio XII foi silenciosa uma vez que seu receio de aumentar a rigidez com a qual essas minorias eram tratadas se tornava cada vez mais intenso. Se fazia necessário portanto o conhecimento prévio do que seria falado e como iria ser dito pois vidas estavam em jogo e a finalidade maior era a de preservar vidas. Documentos dos arquivos da Secretaria do Estado do Vaticano mostram como a diplomacia da Santa Sé se esforçou para evitar a guerra, procurando dissuadir a Alemanha de agredir a Polônia e convencer a Itália a se separar da Alemanha nazista. Fez vários apelos aos povos e aos governos. Em maio de 1939, poucos meses depois de sua eleição, sugeriu uma conferência internacional dos governantes da Itália, França, Inglaterra, Alemanha e Polônia. Iniciada a guerra, tenta impedir que a Itália entre nela. Benito Mussolini e o rei Vitor Emanuel III foram aconselhados a pedirem a paz isoladamente."(BLESSMANN, 2003)

Para outros autores como a historiadora Susan Zucotti, se Pio XII tivesse sido mais incisivo, certamente teria ajudado a salvar muitas vítimas. O historiador Michael Phayer acredita que "Como as autoridades da Igreja deixaram os católicos em ambiguidade moral ao não falar, a grande maioria deles se manteve como espectadora".

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Sobre as mensagens de Natal do Papa de 1939 até 1942, temos também uma interpretação ambígua uma vez que mesmo reforçando em suas palavras que não apoiava a violência, em qualquer momento citou as palavras "nazistas" ou judeus. Para muitos seu ponto máximo foi quando disse: "A humanidade deve esse voto às centenas de milhares de pessoas que, sem qualquer culpa pessoal, às vezes apenas por motivo de sua nacionalidade ou raça, estão marcadas para a morte ou extinção gradativa". Em 1943 a ameaça à Pio XII se torna real quando os Estados Unidos iniciam o bombardeio a capital italiana. Em um curto espaço de tempo Mussolini é deposto e os alemães ocupam a Cidade Eterna, colocando os judeus na mira. Com sua vida em risco, Pio XII se encontra encurralado, visto que se protestasse contra a invasão certamente o Vaticano sofreria represália. "Os nazistas deram duas opções a Pio XII: selar os lábios ou o seu destino" conforme escreve o jornalista americano Dan Kurzman em seu livro Conspiração contra o Vaticano. Nessa situação,o Papa acompanha de sua janela os judeus serem amontoados em caminhões e deportados de trem rumo a Auschwitz, sem ter muito o que possa fazer para ajudá-los. 3.3 Papa Pio XII na Segunda Guerra Mundial Nem a Cruz Vermelha, nem as organizações judaicas, nenhuma pessoa, entidade ou organismo salvou mais judeus do que a Igreja Católica. (BLESSMANN, 2003). Quanto ao número de judeus salvos por intervenções creditadas à Igreja Católica durante a Segunda Guerra, não há precisão. As especulações os situam entre dezenas de milhares (TORNIELLI, 2001)a centenas de milhares, e até a um milhão. (BLESSMANN, 2003). Ainda que Pio XII não tenha agido de forma explícita para a mídia da época, suas ações foram de grande relevância para os judeus destinados aos campos de concentração. Conforme cita Dalin (2005) logo após sua eleição, ainda antes do início da Guerra, Pio XII ofereceu proteção a vários acadêmicos judeus proibidos pelo fascismo de ensinar em escolas e universidades italianas. O papa acolheu e empregou diversos deles no Vaticano. Pinchas Lapide, afirma que 80 por cento dos judeus pereceram na Europa durante a Guerra, mas 85 por cento dos 40.000 judeus da Itália foram salvos. (DALIN, 2005:). O próprio Dalin informa que, em Roma, 155 conventos e monastérios abrigaram cinco mil 31

judeus durante a ocupação alemã. Não menos que três mil judeus encontraram refúgio em CastelGandolfo, residência de verão do papa. (DALIN, 2005). Dalin também menciona alguns padres, monges, cardeais e bispos que ajudaram a salvar centenas de judeus, obedecendo a determinações de Pio XII. (DALIN, 2005). Ainda segundo Dalin, diversos padres, monges, bispos e cardeais ajudaram a salvar centenas de judeus sob ordem de Pio XII como exemplo temos o padre jesuíta Henri de Lubac na França, o frade Pierre-Marie Benoit e o bispo Giovanni Palatucci, esse último após salvar milhares de judeus na cidade de Fiume, ao sul da Itália, foi preso pelos nazistas e executado. O pesquisador e diplomata Joseph L. Lichten, citado por Dalin, afirma que Pio XII interferiu diretamente e sem ambiguidades para ajudar aos judeus eslovacos. O secretário de Estado do Vaticano protestou imediatamente quando em março de 1942, 80.000 judeus estavam para ser deportados para a Polônia. Outra leva de deportações estava marcada para 1943 e o Vaticano interveio com nova denúncia. (DALIN, 2005).

É necessário levarmos em conta que o cenário de guerra, o perfil de Pio XII e sua prévia carreira diplomática o levaram a optar por se posicionar de maneira meticulosa e discreta durante suas manifestações públicas. Já quanto a forma de agir, é explícito que diversos resgates foram comandados sob sua ordem e que estes reforçam o argumento de que Pio XII não permaneceu atônito aos acontecimentos. Sua sensibilidade com o sofrimento judeu o levou a comandar diversos setores da Igreja em defesa das vítimas de perseguições nazistas. 4. Conclusão Ainda hoje existe um grande debate sobre qual a real posição tomada pela Igreja Católica durante a ascensão e os anos de estabilidade dos governos nazi-fascistas, se a influência da instituição católica se deu de maneira positiva ou negativa, se houve apoio ou abominação. Certamente qualquer pesquisa superficial será o bastante para levantarmos argumentos que reforcem ou enfraqueçam teses de que a Igreja se fez submissa e em muitos casos até apoiou esses governos, porém ao optarmos por uma pesquisa mais aprofundada sobre o assunto, se torna de fácil percepção a argumentação de que a Igreja vinha passando por vários anos de reafirmação de sua influência diante de muitos governos que tinham a finalidade de colocar um fim às doutrinas católicas e que o 32

período que antecedeu a Segunda Guerra Mundial foi extremamente caótico para a organização dos Estados na Europa. É necessário também ressaltar que a Igreja havia passado por muitas resistências no século anterior durante a Revolução Francesa e principalmente durante as mudanças de governo na Europa no século XIX. O cenário era de incerteza sobre o futuro da instituição católica e para sua própria proteção os Papas e seus servidores optaram por agir de forma protecionista, fazendo alianças com vários governos em toda a Europa afim de manter sua influência no continente. O mundo moderno era uma incógnita para os católicos e a forma como as mais diversas ameaças poderiam surgir, levaram a Igreja a criar laços um tanto quanto duvidosos, que para muitos pode ser compreendido como apoio ou simpatia a certas ditaduras e governos totalitários porém essa posição de aproximação com os mais diversos governantes e líderes nada mais demonstra do que o medo da Igreja com o novo cenário que estava a sua frente. Uma das poucas opções seria exatamente essa, criar laços para ampliar a área de influência na qual a Igreja poderia agir ainda que para isso certas ações pudessem ser "duvidosas". Além do mais, torna-se claro que a posição tomada pela Igreja Católica, ainda que em muitos dos casos possa ter aparentado uma empatia aos governos nazi-fascistas, se contabilizarmos as ações humanitários e o número de judeus salvos, bem como outros grupos menores, teremos um resultado grande o bastante dar uma justificava, para as muitas existem no que diz respeito a "aproximação" da Igreja com esses governos. Obviamente como qualquer outra instituição e como já dito nos parágrafos anteriores, a Igreja possuía fins próprios e muitos de seus acordos reforçaram essa ideia visto que na maior parte deles a Igreja ficou em posição extremamente confortável, porém serviram também para dar à Igreja a "liberdade" ou uma maior maleabilidade durante o momento em que estes governos permaneceram no poder. Desta forma a Igreja pôde se colocar em uma posição próxima o bastante para poder agir de forma quase imperceptível e movimentar algumas peças essenciais para salvar milhares de pessoas que eram perseguidas. Muitos papas, cardeais e freiras ajudaram a resgatar pessoas em toda a Europa e caso não fosse à posição discreta tomada por Pio XII de ordenar internamente que certas 33

ações fossem tomadas em dado momento, o número de mortos e o impacto destes governos poderiam ter aumentado de maneira exponencial. Ao compararmos a Igreja a outras organizações tais como a Cruz Vermelha e outras entidades judaicas, se torna nítida a confirmação de que dentre todas as instituições da época nenhuma foi tão influente e impactante para o resgate de indivíduos quanto a Igreja Católica. Concluo, portanto expondo ao leitor que certamente não poderemos apurar todos os pontos nessa monografia sobre a relação de cada um dos indivíduos da Igreja com os indivíduos formadores dos governos nazi-fascistas e, portanto se torna ampla a discussão quando aberta a pontos específicos e relações entre cardeais e generais que em muitas das vezes agiam de forma autônoma no cenário. Uma vez que limitamos a visão a organização que é Igreja Católica e os governos Nazista e Fascista, se torna inegável o fato de que muitas das relações foram estritamente políticas e que desde o início, ainda que de maneira não tão enfática, a Igreja tenha deixado clara sua posição de repudia e abominação através de suas encíclicas.

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