A importância da arquitetura sustentável nos países de clima tropical

Share Embed


Descrição do Produto

A importância da arquitetura sustentável nos países de clima tropical Análise de casos na cidade de Luanda

Mário Alcino Pio Gourgel

Dissertação para a obtenção do Grau de Mestre em

Arquitetura

Júri Presidente: Profª Doutora Ana Cristina dos Santos Tostões Orientador: Profº Doutor Manuel Guilherme Caras Altas Duarte Pinheiro Vogal:

Profº Doutor Manuel de Arriaga Brito Correia Guedes

Fevereiro de 2012

Agradecimentos Em primeiro lugar estou grato à Deus por ter tornado possível a realização deste trabalho. Os meus agradecimentos são dirigidos, especialmente, ao professor Manuel Pinheiro, pelo apoio e disponibilidade demonstrados na orientação da Dissertação, cuja referência e competência profissional aqui realço e reconheço desde que tive o prazer de o conhecer no curso de arquitetura do Instituto Superior Técnico. Ao professor Manuel Correia Guedes pelo apoio e conversas havidas, de incentivo ao desenvolvimento deste trabalho e pelo material disponibilizado. À arquiteta Filomena do Espírito Santo, pelo tempo concedido em conversa, apoio e motivação no desenvolvimento do trabalho, e material disponibilizado. Aos meus pais, com amor, pela educação transmitida, sem a qual não seria o que hoje sou, e por toda a paciência e auxílio nas várias etapas da vida. À minha companheira, pelo apoio moral e compreensão demonstrados nos momentos difíceis e exigentes do trabalho, o meu profundo amor e carinho. Aos meus amigos, por acreditarem em mim, aos quais agradeço, pois que, sem eles a motivação para os projetos pessoais não teria a mesma expressão. Não posso deixar de evidenciar os meus tutores, conhecidos e “desconhecidos”, que continuamente me motivam a seguir o caminho da sabedoria para o alcance de metas, na realização de projetos pessoais e profissionais, que têm como principal alvo o benefício da humanidade.

i

Resumo As questões relacionadas com o ambiente natural têm merecido, nos dias de hoje, a atenção dos órgãos decisores de vários países e das organizações mundiais. A construção tem provocado grandes impactes e pressão sobre o ambiente natural. Assim, a arquitetura sustentável e os seus princípios poderá garantir um bom desempenho ambiental e socioeconómico, com ênfase nos países de clima tropical, pretende-se com o presente trabalho realçar a importância da arquitetura sustentável, e dos seus princípios, na diminuição dos impactes ambientais, com particular destaque para os países de clima tropical, analisando o caso da cidade de Luanda. Para compreensão da matéria exposta, estabeleceu-se um enquadramento conceptual no qual foram sistematizados os conceitos relacionados com o tema nomeadamente, o de desenvolvimento sustentável, arquitetura sustentável, arquitetura tropical, entre outros, que serviram de base de análise ao objeto de estudo. De modo a obter-se uma compreensão prática apresenta-se, no final, um estudo de caso no qual são analisadas duas tipologias habitacionais edificadas em Luanda – um apartamento e uma moradia –, onde se pretendeu perceber, diagnosticar e avaliar com o sistema LiderA1 os seus desempenhos ambientais de acordo com indicadores e critérios deste sistema. O resultado desta avaliação permitiu que se propusessem medidas para melhoria de desempenho da situação existente para cada caso.

PALAVRAS-CHAVE:

Arquitetura sustentável, Luanda, Angola, Avaliação da sustentabilidade Construção sustentável,

1

Sistema voluntário para avaliação da construção sustentável (www.lidera.info)

ii

Abstract Actual environmental aspects due to its increase importance in built environment have deserved, nowadays, the attention of decision makers from various countries and organizations worldwide. Urban construction has been increasing impact and pressure on natural environment. So, sustainable architecture and its principles could help to assure good environmental performance and socioeconomic service, emphasizing tropical climate countries. For sustainable architecture comprehension, a conceptual framework has been reviewed in which concepts were systematically related to sustainable development and tropical architecture. In order to obtain a practical understanding it is presented a case study, in last chapter, in which two built housing types in Luanda city - an apartment and a house – has been evaluated by LiderA2 system. The result of this evaluation made it possible to propose measures to improve the sustainable performance of the existing situation for each case.

Keywords:

Sustainable architecture, Luanda, Angola, Sustainability assessment, Sustainable construction.

2

Voluntary system for assessment of sustainable construction (www.lidera.info)

iii

Índice Agradecimentos ..................................................................................................................................... i  Resumo.................................................................................................................................................... i  Abstract ................................................................................................................................................. iii  Índice de Figuras .................................................................................................................................. vi  Indice de Quadros ............................................................................................................................... vii  1. 

Introdução ................................................................................................................................. 1  1.1.  1.2.  1.3.  1.4.  1.5. 

2. 

Enquadramento ...................................................................................................................... 1  Tema e Motivações ................................................................................................................ 4  Objetivos ................................................................................................................................ 5  Abordagem e Metodologia ..................................................................................................... 6  Estrutura e limitações do trabalho ......................................................................................... 6  O clima, o homem e o ambiente construído .......................................................................... 8 

2.1.  O clima mundial - caracterização das diferentes zonas climáticas ....................................... 8  2.2.  Clima Tropical – tipos e caraterísticas ................................................................................. 10  2.2.1.  Variáveis climáticas ..................................................................................................... 11  2.3.  O conforto térmico humano, a envolvente natural e o ambiente construído ....................... 12  2.4.  O consumo de energia ......................................................................................................... 13  2.5.  Outros impactes e custos do ambiente construído .............................................................. 21  2.5.1.  Impactes do ambiente construído ............................................................................... 21  2.5.2.  3. 

Custo do ciclo de vida e dos impactes ambientais da construção.............................. 22 

Arquitetura sustentável e arquitetura tropical .................................................................... 24  3.1. Enquadramento histórico, origem e conceito de arquitetura sustentável ............................ 24 3.2.  Princípios da arquitetura sustentável e instrumentos de apoio ao projeto sustentável ....... 27  3.2.1.  Princípios de arquitetura sustentável .......................................................................... 27  3.2.2. 

Instrumentos de apoio ao projeto sustentável ............................................................ 29 

3.3.  A Arquitetura tropical ............................................................................................................ 32  3.3.1.  Origem do conceito ..................................................................................................... 32  3.4.  Arquitetura tropical e sustentável – relação e aspetos a considerar na conceção de projetos sustentáveis. ..................................................................................................................................... 36  4. 

Medir e suportar a procura da sustentabilidade ................................................................. 41  4.1.  Indicadores de sustentabilidade .......................................................................................... 41  4.1.1.  Pegada ecológica ........................................................................................................ 42  4.1.2. 

Pegada de carbono ..................................................................................................... 43 

4.2.  Avaliação do ciclo de Vida ................................................................................................... 44  4.3.  Sistemas de avaliação e certificação da construção sustentável ........................................ 46  4.4. LiderA – Sistema Voluntário de Avaliação da Construção Sustentável .............................. 49 4.4.1.  Princípios globais ........................................................................................................ 49  4.4.2. 

Vertentes e áreas ........................................................................................................ 50 

4.4.3. 

Critérios e níveis de desempenho ............................................................................... 50 

4.4.4. 

Ponderação ................................................................................................................. 52 

4.4.5. 

Aplicação do Sistema Lidera ....................................................................................... 52  iv

4.4.6.  5. 

Certificação pelo sistema LiderA ................................................................................. 54 

Estudo de caso – Análise de casos na cidade de Luanda. ................................................ 56  5.1.  Enquadramento - A República de Angola e a cidade de Luanda ........................................ 56  5.2.  O Clima em Angola – Principais caraterísticas e as diferentes zonas climáticas. .............. 57  5.3.  A cidade de Luanda – enquadramento, clima e estrutura urbana ....................................... 58  5.4.  Caraterísticas da arquitetura e da construção em Luanda – do passado ao presente (uma abordagem crítica) ............................................................................................................................ 59  5.5.  Os casos de estudo – Aplicação do LiderA África às duas unidades habitacionais em Luanda. ............................................................................................................................................. 67  5.5.1.  Enquadramento ........................................................................................................... 67  O Projeto NOVA VIDA .................................................................................................................. 67  Moradia Unifamiliar ....................................................................................................................... 77 

6. Discussão dos resultados .............................................................................................................. 83  7. Conclusão ........................................................................................................................................ 85  Bibliografia ........................................................................................................................................... 87  Anexos .................................................................................................................................................. 90 

v

Índice de Figuras Figura 1 – Movimento elítico da terra à volta do sol e as estações anuais ............................................ 1  Figura 2 – Clima e diferentes zonas climáticas ....................................................................................... 9  Figura 3 – Temperaturas (Clima tropical).............................................................................................. 10  Figura 4 – Orientação otimizada para a cidade de Luanda .................................................................. 11  Figura 5 – Diagrama do regime anual de ventos em Luanda mostrando a frequência dos ventos dominantes ............................................................................................................................................ 11  Figura 6 – Gráfico bioclimático com as diferentes zonas...................................................................... 13  Figura 7 – O efeito da ilha de calor urbano sobre uma área urbana e rural ......................................... 14  Figura 8 – Variação temporal típica Urbana e Rural. (8 a) Temperatura do ar, (8 b) Taxas de arrefecimento/aquecimento e (8 c) A intensidade da ilha de calor urbano resultante sob condições atmosféricas .......................................................................................................................................... 15  Figura 9 – A diferença máxima entre a temperatura Urbana e Rural para as cidades Norte Americanas e Europeias ....................................................................................................................... 17  Figura 10 - O processo de aumento do consumo de energia ............................................................... 19  Figura 11 – Relógio solar horizontal (10a); Diagrama retangular (10b) ................................................ 30  Figura 12 – Diagrama radial .................................................................................................................. 30  Figura 13 – Diagrama psicrométrico ..................................................................................................... 31  Figura 14 – (a) O “banggolo”; (b) O bungalow adaptado pelos Europeus ............................................ 33  Figura 15 – Ilustração de uma incorreta implantação face a exposição solar e as chuvas (acima) e de correta implantação (em baixo) ............................................................................................................. 38  Figura 16 – Orientação correta, considerando o regime de ventos ...................................................... 39  Figura 17 – Orientação dos edifícios [em planta] e a influência dos ventos. ........................................ 39  Figura 18 – A proteção solar ................................................................................................................. 40  Figura 19 – A presença de elementos arbóreos e a sua importância quer na proteção solar, quer na ventilação............................................................................................................................................... 41  Figura 20 – Esquema de vertentes e áreas do Sistema LiderA............................................................ 49  Figura 21 – Classes de desempenho ambiental ................................................................................... 51  Figura 22 – Ponderação por vertentes na versão 2.0 ........................................................................... 52  Figura 23 – Certificado Lidera ............................................................................................................... 55  Figura 24 – Mapa administrativo de Angola .......................................................................................... 56  Figura 25 – Ocupação informal: bairro suburbano ................................................................................ 62  Figura 26 –Prédios com varandas encerradas e uso do ar-condicionado, em Luanda (mau exemplo de uso) ................................................................................................................................................... 65  Figura 27 – Bom exemplos de soluções arquitetónicas em Luanda (grelhas de proteção do vidro e ventilação natural) ................................................................................................................................. 65  Figura 28 – (a) Obstrução da brisa por edifícios altos em climas quentes e húmidos (esquerda); (b) Edifícios em construção na marginal em Luanda (direita) .................................................................... 66  Figura 29 – Localização do projeto Nova Vida em relação ao centro da cidade .................................. 68  Figura 30 – Localização dos edifícios onde se situa o apartamento (Projeto Nova Vida) .................... 69  Figura 31 – Vista aérea da construção do projeto Nova Vida e uma das ruas com moradias construídas ............................................................................................................................................ 70  Figura 32 – Vista exterior de edifícios do Projeto Nova Vida ................................................................ 71  Figura 33 - Vista interior da zona de serviço (grelhas de ventilação) e do apartamento ...................... 74  Figura 34 – Vistas do hall de acesso aos apartamentos (aberturas permitem a promoção da ventilação natural) ................................................................................................................................. 77  Figura 35 – Moradia vista de fora .......................................................................................................... 77  Figura 36 – Interior da Moradia ............................................................................................................. 80  vi

Indice de Quadros Quadro 1 – Padrões do consumo de energia por diferentes atividades nos Estados Unidos, Reino Unido e Sri Lannka ................................................................................................................................ 18  Quadro 2 - Comparação entre a Pegada Ecológica de África, Mundo e Angola.................................. 43

vii

 

1.

Introdução

1.1.

Enquadramento

As atividades humanas, de que a construção é um exemplo, têm acompanhado o crescimento populacional e o desenvolvimento, nomeadamente por via do aumento do nível de vida individual das populações, da maior capacidade de mobilizar recursos e do consequente impacte ambiental (Pinheiro, 2006). Os edifícios e o ambiente construído são os elementos definidores do ambiente urbano. Estes determinam o caráter e os marcos mais importantes de uma cidade que criam uma sensação de familiaridade e identidade que podem fazer das cidades locais aprazíveis e agradáveis, onde as pessoas gostem de trabalhar e viver. Por conseguinte, a qualidade do ambiente construído tem uma forte influência na qualidade do ambiente urbano, mas esta é muito mais profunda e abrangente, ultrapassando largamente considerações de caráter puramente estético (Pinheiro, 2006). A capacidade inventiva do homem permitiu-lhe desafiar os rigores ambientais utilizando o fogo para se aquecer, e peles para se cobrir. Quando o mais débil de entre os animais substituiu o engenho prometeico pela adaptação física similar a das outras espécies, o abrigo converteu-se na defesa mais elaborada contra climas hostis. À medida que evoluía o abrigo acumulavam-se experiências que, com engenho, diversificavam-se para enfrentar os desafios e a grande variedade de climas. A interpretação do clima como fator principal é justificável, somente, se a envolvente climática influi diretamente na expressão arquitetónica (Olgyay, 1962). Os antigos reconheciam que a adaptação era um princípio essencial da arquitetura. Vitrúvio (citado por Olgyay, 1962) disse em De Arquitectura: “O estilo dos edifícios deve manifestar-se diferente no Egito em relação a Espanha, em Pontus e em Roma, e em países e regiões de caraterísticas diferentes […].” O Dr. Walter B. Cannon (citado por Olgyay, 1962) afirma que: “O desenvolvimento de um equilíbrio térmico estável no nosso edifício deve observar-se como um dos mais valiosos avanços na evolução da edificação.” Esta tese pode confirmar-se ao observar as diversas formas de vivenda desenvolvidas por grupos étnicos de origem étnico similar, estabelecidos em diversas regiões climáticas. Para os arquitetos, o “homoclima”, ou seja, as necessidades humanas, constituem o fator determinante (Olgyay, 1962). Jean Dolfus (citado por Olgyay, 1962), com o seu mostruário de vivendas caraterísticas de todo o mundo, confirma que o principal objetivo dos construtores foi sempre a procura das condições ótimas de conforto térmico. Segundo o resultado das suas análises, conclui que a tipologia construtiva encontra-se definida mais pelas zonas climáticas do que pelas fronteiras territoriais. Na abordagem do conforto térmico surgem questões relativas ao consumo de recursos, o que nos remete para a questão da sustentabilidade que veio de outros domínios para a arquitetura: “It was not in architecture that the term sustainability was introduced for the first time. Already by the end

1

of the 1980´s, the term “sustainability” was used extensively in the economics field in reference to development for criticizing earlier models of economic growth for nations or regions that had favored fast returns and accelerated growth, while disregarding that in the long-run they were depleting irreplaceable resources – the very resources their growth depended upon” (Baweja, 2008). Existem evidências de que é fundamental a consideração da susentabilidade: “The question of the long-term, unanticipated negative impact of an economic policy on its performance was further extended to cover the effect of new products – chemical, agricultural, and mechanical – on environmental quality in the long run. It was in relation to this latter problem that the criterion of sustainability entered into architecture and urban design, providing a conceptual framework to handle the long-term negative impact of the application of techniques and materials of construction on material resource consumption and environmental physical quality “ (Baweja, 2008). A procura de soluções ajustadas ao clima e de desempenho foi uma preocupação sempre crescente nas soluções arquitetónicas desde Vitrúvio no século I a.C. (Guedes, et al., 2011), até ao assumir nos exemplos do arquiteto, presentes em Angola e Luanda. Nas últimas décadas o assumir de abordagens passivas e de baixa energia condiziu a várias abordagens, veja-se a PLEA – Passive and Low Energy Architecture3 que desde 1982 organiza conferências e eventos sobre estas abordagens. Integrado na reflexão sobre desenvolvimento sustentável, surge nos países mais desenvolvidos, um movimento internacional em 1993, (Kibert, 2003; citado por Pinheiro, 2006) que procura definir e implementar o conceito de construção sustentável. No ano de 1994, realizou-se em Tampa, na Flórida, a Primeira Conferência Internacional sobre Construção Sustentável ("The First International Conference on Sustainable Construction") patrocinada pelo Rocky Mountain Institute, da Universidade da Florida, e a CIB - International Council for Building Research Studies onde se fizeram diversas propostas no sentido de definir o conceito de construção sustentável. A definição mais aceite foi a apresentada por Charles Kibert em 1994 que define Construção Sustentável como a "criação e gestão responsável de um ambiente construído saudável, tendo em consideração os princípios ecológicos (para evitar danos ambientais) e a utilização eficiente dos recursos" (Pinheiro, 2006). Inevitavelmente, em associação com o conceito de construção sustentável, surge o conceito de arquitetura sustentável, pois, como afirma Corbella (2003, 8)4: “o arquiteto, sem desprezar o belo e a plasticidade das formas, [teve que] forçosamente reencontrar o meio ambiente, cujo equilíbrio é de fundamental importância para a sobrevivência da espécie humana na Terra”. Outro conceito de arquitetura sustentável é fornecido por Corbella (2003, 17)5 que a define como sendo a conceção e o desenvolvimento de edificações que objetivem “o aumento da qualidade de vida do ser humano no ambiente construído e na sua envolvente, integrado com as caraterísticas de vida e do clima locais, além da redução do uso de recursos naturais”. 3

http://www.arct.cam.ac.uk/PLEA/Home.aspx (citado por Vieira e Barros Filho, 2009), fonte: http://www.esuda.com.br/revista_humanae.php 5 Idem 4

2

Já de acordo com Steele (1997, 11)6, a arquitetura sustentável “consiste na produção de uma edificação que se adapte ao clima, à iluminação, ventilação e topografia, tirando proveito das condições naturais do lugar reduzindo o desperdício energético. Há muitas definições para arquitetura sustentável, mas a essência da sustentabilidade está intrinsecamente ligada à essência da arquitetura. Um bom edifício é naturalmente sustentável (Guedes, et al., 2011). Baweja (2008) argumenta que a arquitetura sustentável já existe implícita na relação com a arquitetura tropical: “Green Architecture, which is considered a recent discourse, cannot therefore be fully grasped unless it is historicized in relationship to Tropical Architecture”. Sobre a arquitetura tropical Baweja (2008), refere ainda que: “Existing histories locate Tropical Architecture as a neo-colonial project that emerged in the 1950s along the networks of the diminishing British Empire” (Baweja, 2008). Baseado nos escritos de Koenigsberger, Baweja (2008) define essa arquitetura com um forte envolvimento com a dimensão energética, climática e consideração dos recursos: “Tropical Architecture paradigmatically as climate-responsive and energy-conservative design that makes the best use of locally available resources”. Neste sentido, a mesma autora (Baweja, 2008) afirma a existência de um conjunto de autores com reflexão na prática e abordagem: “From its inception in the 1930s through the 1950s, Tropical Architecture also developed and circulated through a network of global conferences. In the UK, Tropical Architects such as Otto Koenigsberger, Jane Drew, Maxwell Fry, Leo De Syllas, Fello Atkinson, and George Atkinson were engaged in the production of knowledge on energy-conservative climatic design”. Com base nestas assunções, considera-se pertinente sistematizá-las e estudar casos na cidade de Luanda. Devido a sua localização geográfica, apresenta um clima que se pode classificar como «húmido sem Inverno», correspondente ao subtipo «clima da savana» [...]. Desde a década de 50 Luanda assiste a um grande crescimento demográfico, que implicará um aumento significativo da construção e da consolidação urbana. Durante esta década, adquire progressivamente uma imagem de cidade moderna, assente em premissas do Movimento Moderno e, particularmente, baseada nos princípios da Carta de Atenas. Após a descolonização, o crescimento demográfico acentuado mantém-se em progressão geométrica. Os movimentos migratórios justificados pela guerra civil, que irá prolongar-se por quase 30 anos, tornam Luanda numa cidade densa, sobrelotada e caótica. Por outro lado, os anos de guerra não permitem o investimento nas infraestruturas urbanas, nos equipamentos ou nos edifícios, o que força naturalmente a degradação da cidade e da sua arquitetura (Magalhães, 2009). Em nosso entender estes serão alguns dos problemas que poderão conduzir a situações de insustentabilidade decorrentes da degradação do ambiente construído naquela cidade como os referidos no capítulo 2 (cf.2.3).

6

(citado por Vieira e Barros Filho, 2009)

3

1.2.

Tema e Motivações

Em 1987 no Relatório de Brundtland – "O Nosso Futuro Comum" – é apresentado um dos conceitos mais importantes ao nível ambiental, o conceito de Desenvolvimento Sustentável. Este é definido como: "desenvolvimento que dê resposta às necessidades do presente, sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras darem resposta às delas" (Pinheiro, 2006). As atividades construtivas – infraestruturas, edifícios e outras – potenciam não só um importante efeito económico e social mas também ambiental, desde logo associado à ocupação e ao uso do solo, ao consumo de recursos (nomeadamente água e energia), à produção em larga escala de resíduos e efluentes (líquidos e gasosos), bem como à alteração dos ecossistemas naturais, que podem interferir diretamente com o ambiente envolvente (Pinheiro, 2006). Por esse facto, o tema deste trabalho reveste-se de grande importância, pela sua relação com o de desenvolvimento sustentável em virtude da, cada vez maior, preocupação com a gestão dos recursos naturais com destaque para os países em vias de desenvolvimento, dos quais Angola faz parte. Neste sentido, as motivações para o desenvolvimento deste trabalho são, entre outras, o interesse que o tema suscita atualmente e, dada a sua importância para o exercício profissional da arquitetura, realçar a necessidade de contemplar os princípios da arquitetura sustentável no projeto de modo a conseguir-se uma integração, tanto quanto possível, da construção com o ambiente envolvente - natural ou construído -, minimizando os impactes ambientais, sociais e económicos que possam advir. Mas, uma vez que os impactes ambientais decorrem de um processo mais vasto, desde a extração de matérias-primas, sua transformação, utilização e “destruição” do produto final, a motivação do trabalho recai igualmente sobre a necessidade de se estudar o impacte causado pela utilização de materiais não sustentáveis na construção que, de certo modo, condicionarão o comportamento dos utilizadores, no que ao consumo de energia diz respeito.

4

1.3.

Objetivos

Constitui objetivo principal do Dissertação, o estudo e análise da importância da arquitetura sustentável, e dos seus princípios, na definição de estratégias para as opções construtivas em países de clima tropical, de que Angola é exemplo, e do seu contributo na redução dos impactes ambientais que decorrem do uso ineficiente, e não racional, de recursos naturais não renováveis. Para o efeito definiram-se os seguintes objetivos específicos: 

Apresentar as causas prováveis e fatores que contribuem para o desconforto térmico existente na cidade de Luanda;



Analisar, de forma crítica, em que medida as construções existentes em Luanda contemplam princípios de arquitetura sustentável;



Apresentar medidas de melhoria e orientação, que se adequem à realidade estudada, fundamentadas na pesquisa efetuada, e nesse sentido fazer do presente Dissertação uma referência de apoio aos arquitetos, aos profissionais do ramo da construção, e aos principais atores sociais, dotando-os de uma ferramenta essencial para o exercício das suas funções, para que as decisões que tomem sejam consentâneas com a preservação do ambiente natural através da mitigação dos impactes existentes, e latentes, provocados pela construção em todo o seu processo;



Estudar casos de construções com uso habitacional – um apartamento e uma moradia –, na cidade de Luanda, avaliando o seu desempenho ambiental utilizando como instrumento de apoio o LiderA África v.2.00 – Sistema de Avaliação da Construção Sustentável adaptado aos PALOP7.

7

Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa

5

1.4.

Abordagem e Metodologia

De acordo com os objetivos propostos, considerou-se pertinente estabelecer uma abordagem descritiva, com procedimentos técnicos assentes em pesquisa bibliográfica e estudos de caso. Para o efeito, a metodologia adotada foi a pesquisa e análise de documentos sobre o tema de estudo, nomeadamente artigos, teses, sítios na internet, publicações de organismos nacionais8 e internacionais sobre o tema, que serviram de apoio a compreensão e exposição das ideias. Estes documentos foram igualmente úteis no estudo das tipologias construtivas propostas para o estudo de caso (um apartamento e uma moradia).

1.5.

Estrutura e limitações do trabalho

No sentido de atingir os objetivos definidos, o trabalho foi estruturado como a seguir se descreve. No primeiro capítulo é feita uma introdução ao tema e são descritas as motivações que conduziram ao seu desenvolvimento, aos objetivos e à abordagem e metodologia adotados. No segundo capítulo, faz-se uma compreensão sobre o conceito de clima, das variáveis para sua medição, e a sua relação com o homem e o ambiente construído. Para o efeito, considerou-se pertinente introduzir e caracterizar as diferentes zonas climáticas mundiais, premissa essencial para o entendimento da relação com o ser humano, no que ao conforto térmico diz respeito, e das suas opções relativamente ao ambiente construído. Na mesma linha de raciocínio são definidos os fatores que se relacionam mais diretamente com a qualidade de vida dos seres humanos em ambientes construídos e que influenciam direta ou indiretamente nos impactes ambientais. No terceiro capítulo é definido o conceito de arquitetura sustentável e dos seus princípios. De seguida são apresentados alguns instrumentos de apoio ao projeto sustentável. Posteriormente é introduzido o conceito de arquitetura tropical, sua origem, e relação com o conceito de arquitetura sustentável, onde se apresentam alguns aspetos a considerar na conceção de projetos sustentáveis. No quarto capítulo é apresentado o conceito de indicador de sustentabilidade e, de entre os muitos existentes, são exemplificados dois – pegada ecológica e pegada de carbono –, comummente utilizados na avaliação da sustentabilidade das construções e dos ambientes construídos, e onde se indica o valor dos mesmos para o caso de Angola.. Considerado relevante e desenvolvido neste capítulo é o conceito de Avaliação do Ciclo de Vida. Estes conceitos estão relacionados com o LiderA – Sistema Voluntário para Avaliação da Construção Sustentável, que de forma global e resumida é apresentado. 8

Angola

6

Este sistema de avaliação da construção sustentável (LiderA África v.2.00)9 é utilizado no Estudo de Caso – quinto capítulo – no qual são avaliadas duas tipologias construtivas existentes na cidade de Luanda, um apartamento e uma moradia, localizados na zona periurbana da cidade. O objetivo deste estudo é avaliar, através de princípios de sustentabilidade, os seus desempenhos em termos de sustentabilidade. No final faz-se a discussão dos resultados obtidos – sexto capítulo -, bem como a conclusão do trabalho – sétimo capítulo. O trabalho tem, no entanto, algumas limitações relativamente a informação sobre a cidade de Luanda, uma vez que devido a escassez de informação e dados estatísticos produzidos em Angola, tornou-se difícil confronta-los com a realidade estudada. Outra limitação foi a não possibilidade de apresentar valores concretos de possível medição, com meios e instrumentos concebidos para o efeito, para aferição das condições ambientais das unidades habitacionais estudadas.

9

Sistema LiderA adaptado aos PALOP

7

2.

O clima, o homem e o ambiente construído

2.1.

O clima mundial - caracterização das diferentes zonas climáticas

O clima é um conjunto de condições atmosféricas que prevalecem num determinado local e hora; […] pode ser definido como a integração no tempo, de condições climatéricas caraterísticas de uma certa localização geográfica (Szokolay, 2004). A terra recebe quase toda a sua energia a partir do sol na forma de radiação10, e o sol é a influência dominante no clima. A terra move-se à volta do sol numa orbita elítica ligeira. No máximo (aphelion) a distância terra-sol é de 152 milhões de quilómetros e no mínimo (perihelion) 147 milhões de quilómetros. O eixo da terra não é perpendicular ao plano da sua órbita, mas inclinado em cerca de 23,5º (Szokolay, 2004). Milankovitch teorizou que a inclinação do eixo da terra nem sempre é de 23,5°. Há uma certa oscilação com o passar do tempo. Ele calculou que a inclinação muda entre 22,1° e 24,5° dentro de um ciclo de cerca de 41.000 anos. Quando a inclinação é menor, os verões são mais frios e os invernos, menos rigorosos. Quando a inclinação é maior, as estações são mais extremas11. Consequentemente o ângulo entre o plano equatorial terrestre e a linha terra-sol (ou a eclítica, o plano da órbita terrestre) variam ao longo do ano. Este ângulo é conhecido como declinação (DEC) e varia conforme o esquema seguinte (Szokolay, 2004,): +23,45◦

a 22 de Junho (Solstício do Norte)

0

a 21 de Março e a 22 de Setembro (Equinócios)

−23,45◦

a 22 de Dezembro (Solstício do Sul)

Ao nível global os climas são formados pela incidência diferencial de calor solar e da quase uniforme emissão de calor sobre a superfície terrestre. As regiões equatoriais recebem a maior incidência de energia do que as áreas mais próximas dos polos. Este diferencial é a principal força condutora dos fenómenos atmosféricos (ventos, formação de nuvens e movimentos), que proporcionam um mecanismo de transferência de calor do equador para os polos. Na ausência daquela transferência de calor a temperatura média no polo norte seria de -40 ºC, em vez de -17 ºC e no equador de cerca de 33 ºC e não de 27 ºC como no presente (Szokolay, 2004).

10

Esta radiação pode ser classificada como radiação ultravioleta, de alta frequência e de pequeno comprimento de onda, que causa efeitos fotoquímicos, branqueamento, por queimadura de sol, etc; radiação de luz visível, e radiação infravermelha de grande comprimento de onda, produzindo calor radiante e alguns efeitos fotoquímicos. Fonte: http://people.aapt.net.au/jclark19/ 11 Fonte: https://www.planetseed.com/pt-br/node/15879#

8

Figura a 1 – Movime ento elítico d da terra à vollta do sol e as a estações aanuais (Fonte: w www.planetseed.com) V Virgílio (citad do por Olgya ay, 1962) esccreveu: “O cé éu possui cin nco zonas, um ma das quais está sempre vvermelha e ardente a pelo resplendor d do sol”. Sacrrobosco (cita ado por Olgyaay, 1962), na a sua Sphaera a Mundi, projetou estas cinco zonas ccelestiais na terra, e coincidia com a iideia que a parte p central e era inabitável “devido ao fervor do soll... Mas essa as duas zona as, próximas dos polos da Terra, são inab bitáveis devid do ao frio inte enso, já que o sol se enc contra mais distante d delass.” É de realçar que, relativa amente às diiferentes zon nas climáticas Angola, e pparticularme ente a cidade de Luanda loca alizam-se na zona tropica al (Figura 2)..

Figura 2 – Clima e diferentes s zonas climá áticas nte: UNEP (2 2006) Fon

9

2 2.2.

Clim ma Tropica al – tipos e carateríísticas

C Climas tropiccais são aqueles nos qua ais o calor é o problema dominante ((Figura 3), e onde, ao menos p para uma parrte susbtancial do ano, o os edifícios servem para manter fresccos os ocupa antes, em vez de q quentes, e qu ue a tempera atura média a anual não é menor do qu ue 20ºC (Clarrk, 1993) (An nexo 0) E Em 1953 G.A A. Atkinson (citado por C Clark, 1993) desenvolveu uma classsificação bas seada em dois fato ores, temperratura e hum midade, que d o tem sido muito m aceite. Atkinson de efiniu três desde então grandes zonas e trêss subgrupos:: 

Equatorial quente/húmid q do; subgrupo o clima de ilha quente//húmida ou clima de ventos de o origem descconhecida.



Q Quente seco o/ seco desértico ou sem mi-desértico; subgrupo s desértico maríttmo quente e seco.



C Composto ou clima de monção; m subg grupo clima de d ilha tropic cal.

entre os tipo os referidos é de realça ar que: “Em m Angola, o clima é classsificado co omo sub‑ De e tropical, quente e hú úmido, na ma aior parte do território, e semi‑árido e sub‑húmiddo seco no Sul e faixa é à província a de Luanda.” (Guedes, e et al., 2011). litoral até No entanto, o clima12 é marcado m porr duas esta ações bem definidas: uuma denomiinada de o” e outra qu uente e chuvo osa (cf.5.2)1 “cacimbo

Fiigura 3 – Tem mperaturas (Clima ( tropical) Fonte: Fry & Drew,, (1964)

12

Em Ang gola.

10

2 2.2.1. Varriáveis clim máticas O Os principaiss elementos climáticos re egularmente e medidos pe elas organizaações meteo orológicas e publica ados de form ma sumária são s (Szokola ay, 2004): Te emperaturas (TBS), Hum midade, Movim mento do ar, Preciipitação, Neb bulosidade, Insolação, e Radiação so olar (Anexo A.1.2). A C Como as qua atro variáveis ambientaiss que afetam m diretamente e o conforto térmico são a temperatura, a humidade, a radiação e o movimen nto do ar, estes serão os s quatro consstituintes ma ais importantes do o clima para o projeto de e edifícios (S zokolay, 200 04).

Figura 4 – Orientação otimizada pa ara a cidade de Luanda Fonte: (G Guedes, et al., a 2011)

ma do regime e anual de ve entos em Lua anda mostran ndo a frequêência dos ven ntos doFigura 5 – Diagram minantes Fonte: (G a 2011) Guedes, et al.,

11

2.3.

O conforto térmico humano, a envolvente natural e o ambiente construído

Os efeitos do meio ambiente incidem diretamente tanto na energia como na saúde do homem. É muito comum a experiência de que em certos dias, as condições atmosféricas estimulam e dão vigor às nossas atividades ao passo que outras deprimem os esforços físicos e mentais. Também é muito conhecido que nas zonas climáticas onde prevalece calor ou frio excessivo, o esforço biológico de adaptação a tais condições diminui a nossa energia (Olgyay, 1962). O meio ambiente físico está formado por numerosos elementos que se relacionam. É possível tentar descrever os constituintes da envolvente tais como: luz, som, clima, espaço, etc. Todos eles incidem diretamente no corpo humano, o qual pode abosorvê-los ou tentar contrabalançar os seus efeitos. Na luta para conseguir o equilíbrio biológico produzem-se diversas reações físicas e psicológicas. O homem esforça-se para chegar ao ponto em que adaptar-se à sua envolvente lhe requeira somente um mínimo de energia. As condições sob as quais consegue este objetivo define-se como “zona de conforto”, donde a maior parte da energia humana se liberta para dedicar-se à produtividade (Olgyay, 1962). Os elementos principais que afetam o conforto humano são: a temperatura do ar, a radiação solar, o movimento do ar e a humidade. Os meios através dos quais o corpo humano troca calor com a sua envolvente podem classificar-se em quatro processos principais: radiação, condução, convecção e evaporação. Estima-se que o corpo humano perde dois quintos (2/5) do seu calor através da radiação, dois quintos (2/5) por convecção e um quinto (1/5) por evaporação; sem prejuízo, estas proporções podem mudar se se produzem variações nas condições térmicas (Olgyay, 1962). A vivenda é o principal instrumento que nos permite satisfazer as exigências de conforto adequadas. Modifica a envolvente natural e aproxima-nos às condições ótimas de habitabilidade. Deve filtrar, absorver ou repelir os elementos do meio ambiente segundo a sua influência benéfica ou negativa no conforto do ser humano. O critério ideal para o desenho de um abrigo em equilíbrio, relativamente ao seu meio ambiente seria o que cobrisse satisfatoriamente todas as necessidades fisiológicas humanas. O problema do arquiteto consiste em criar uma envolvente que não produza tensões negativas sobre o mecanismo de compensação de calor do corpo. O objetivo deve reinterpretar-se em termos de conforto, a representação deve ser gráfica e, para ser facilmente aplicável (exemplo figura 6), os dados derivados dos estudos empíricos devem ser expressos de forma a poderem ser utilizados na prática arquitetónica (Olgyay, 1962).

12

Figura 6 – Gráfico bio oclimático co om as diferen ntes zonas Fonte: (Boonyatika am, S. & Bura anakarn, V., 2006)13

2 2.4.

O consumo de d energia a

A As áreas urb banas tendem m a ter temp peraturas sup periores em relação às ssuas envolve entes [...]. Este fenómeno é conhecido com mo efeito ilha a de calor urb bano (UHI)14. A ilha de caalor urbano foi identior Luke How ward em 182 20, pela prim meira vez é uma u reflexão o da totalidadde das muda anças de ficada po microclim ma provenie entes das altterações efe etuadas pelo o Homem na superfície urbana (La andsberg, 1981; cittado por Sha ahmohamadi, et al., 2010 0). A ilha de e calor urbano é considerrado um dos s maiores problema as encontrados pelo Ho omem neste e século. Os s efeitos da ilha de caloor urbano em climas quentes exacerbam o consumo de energia p para refrescamento no verão. v Os efe feitos da ilha a de calor s meteorológ gicos e de urbanização u que incremeentam a tem mperatura urbano ttêm como causa fatores urbana e a corresp pondente demanda na e eletricidade numa área urbana (Shhahmohamad di, et al., 2010). C Como se ve erifica na Fig gura 7, Oke (1987) (citad do por Shah hmohamadi, et al., 2010) afirmou que num ma cidade maior com céu u limpo e ve entos fracos após o por do sol, a froonteira entre as áreas urbana e rural apressenta um gradiente de te mperatura acentuado pa ara a ilha de calor urbano o e o resto da áre ea urbana aparece como o um plateau nte com um gradiente hoorizontal esttacionário u do ar quen mas fracco, de increm mento de tem mperatura em m direção ao o centro da cidade. Na Fiigura 7, a un niformidade do pla ateau é interrrompida pela influência d de distintos usos do solo o intraurbanoos tais como parques,

13 14

Citado por (UNEP, 2006) 2 Urban Heat Island

13

lagos e áreas aberta as (frescas) e áreas com merciais, ind dustriais ou áreas á constrruídas densa as (quentes).

Figura a 7 – O efeito o da ilha de ccalor urbano sobre uma área á urbana e rural (Fonte: Sha hmohamadi,, et al., 2010) E Em áreas metropolitanas s, o núcleo u urbano mostra um pico final na ilha dde calor urba ano onde a temperatura máxim ma é encontrada. A diferrença entre este valor e a da área ruural define a “intensidade da a ilha de calo or urbano” ( t

u-r

). A in tensidade da a ilha de callor urbano d eterminada principal-

pelo equilíbrio o térmico da a região urba ana pode res sultar numa diferença dee temperatura de até mente p 10 º C (A Asimakopoulos et al., 20 001)15. À noitte, o calor arrmazenado é libertado leentamente da a superfície urbana, ao contrrário da dissipação rápid da do calor das d superfícies rurais. M ais, a intens sidade da o tem vários picos horáriios depois do d por do sol quando ass superfícies rurais (e ilha de ccalor urbano consequ uentemente a temperatura da ar da a superfície) tornaram-se e frescas ass superfícies urbanas mantêm--se quentes.. Depois do nascer do so ol, as áreas rurais aquec cem mais rappidamente do d que as áreas urrbanas (Figura 8b). Se a diferença da a taxa de aquecimento é grande o suuficiente, as temperaturas do ar na zona rural r podem igualar ou exxceder as te emperaturas urbanas. Istoo reduz a inttensidade de calor urba ano para um mínimo diárrio (Figura 8c) 8 e pode ge erar igualmeente uma ilha a de fresde ilha d cura urbana. O fenóm meno da ilha a de calor urb bano pode ocorrer durante o dia ou ddurante à noite. G Givoni (1998 8) (citado po or Shahmoha amadi, et al., 2010) afirm mou que as m e mais altas elevações da temp peratura urba ana ocorrem m durante ass noites de céu c limpo se em movimennto de ar. Sob S estas condiçõe es, as elevaçções de temp peratura de ccerca de 3 – 5ºC são com muns, mas eelevações de e cerca de 8 – 1 10ºC foram igualmente i observadas. o guns parâme etros principaais que influe enciam o Existem alg aumento o de tempera atura nas cidades e que e jogam um papel signifficativo. Porttanto, a ilha de calor urbano é causada por diferentes s fatores que e podem serr divididos em m dois tipos:: (1) fatores meteorológicos, tais como nebulosidade, velocidade do vento e humidade; (2) ( parâmetro ros da cidade e tais comanho desta a e da popula ação, calor a ntropogénico o e canyon urbano. u mo o tam

15

Citado por (Shahmo ohamadi, et al., 2010).

14

Figura 8 – Variação temporal típ pica Urbana e Rural. (8 a) a Temperatu ura do ar, (8 bb) Taxas de arrefecimento/a aquecimento o e (8 c) A inttensidade da a ilha de calo or urbano res sultante sob ccondições attmosféricas Fontte: (Oke, 198 82)16. D De acordo com Landsbe erg (1981)17, a ilha de ca alor urbano está e presentee em todas as a vilas e cidades e é a mais óbvia maniffestação da urbanização o. Claramente maiores teemperaturas s urbanas eriamente impactes na de emanda de a ar-condiciona ados nos edifícios e increementam a produção p criam se de poluiçção, e contribuem també ém para o au umento da emissão de poluentes dass fábricas de e energia, incluindo o o dióxido sulfuroso, o monóxido de carbono,, os óxidos nitrosos e ppartículas su uspensas (Asimako opoulos et al., 2001)18. ((Asimakopou ulos et al., 2001)19 mencciona também m que os seres humanoos são capaz zes de influenciarr o clima atra avés de muittas atividade es humanas e alterações s na coberturra do solo (d desflorestação) o ou na superffície da terra a (edifícios, rodovias); is sto é importante também m numa esc cala local porque m modifica o albedo, a rugo osidade supe erficial e o co omportamentto térmico e humidade. H Hoje, é aceitte que a urba anização con nduz a um grande g increm mento no usso de energia a (Asimakopouloss et al., 2001 1)20. As ilhas s de calor urb bano desenv volvem-se em m áreas quee contêm um ma grande percenta agem de sup perfícies não--refletivas, e resistentes à água e um ma baixa perc rcentagem de e vegetação e su uperfícies que retêm a hu umidade. Em m particular, os o materiais como a peddra, o betão e o asfalto tendem a reter o calor c à superfície (Landssberg, 1981; Oke, 1982; Quattrochi Q eet al., 2000)211 e a falta

16

(citado o por Shahmohamadi, et al., 2010).idem Idem 18 Idem. 19 Ibidem. 20 Idem 21 Idem 17

15

de vegetação reduz a perda de calor devido a evapotranspiração (Lougeay et al., 1996)22. A adição de calor antropogénico e poluentes na atmosfera urbana contribui ainda mais para a intensidade do efeito da ilha de calor urbano (Taha, 1997)23. Os centros urbanos tendem a ter maior demanda do que as áreas circundantes como resultado da sua elevada densidade populacional. Apesar de o efeito da ilha de calor urbano reduzir a necessidade de aquecimento no inverno, isto é compensado pelo aumento demanda de ar-condicionado durante os meses de verão (Landsberg, 1981)24, que por sua vez é causa aumento da poluição do ar, local e regional, devido a produção de energia elétrica pela queima de combustível fóssil. A poluição criada pelas emissões a partir da produção de energia, aumenta a absorção da radiação na camada limite (Oke, 1982)25 e contribui para a criação da inversão de camadas. A inversão de camadas previne a ascensão do ar de arrefecimento a taxas normais e abranda a dispersão dos poluentes produzidos nas áreas urbanas (Sahashi et al., 2004)26. Consequentemente, a ilha de calor urbano não só cria impacte no conforto e saúde dos habitantes mas também no consumo de energia para aquecimento ou arrefecimento de edifícios. Oke (1982)27 correlacionou a intensidade da ilha de calor urbano ao tamanho da cidade. Utilizando a população (P) como substituta do tamanho da cidade, ur é observada como proporcional ao log P. Oke (1982) salienta que produção de temperatura urbana quente tem relação direta com a população urbana. Isto é devido a densidade da área construída e a produção de fontes de calor antropogénicas, tais como, os transportes públicos, automóveis e atividades industriais, desenvolvem com o crescimento da população. Oke (1987)28 acrescenta que o caso ideal de ventos calmos e céus limpos que geram o valor máximo da ilha de calor urbano (Tur (max)) varia com o log P para muitos assentamentos Norte Americanos e Europeus.

22

Idem Idem 24 Idem 25 Idem 26 Idem 27 Ibidem 28 Citado por (Shahmohamadi, et al., 2010) 23

16

Figura 9 – A diferen nça máxima entre a temp peratura Urb bana e Rural para as cidaades Norte AmericaA na as e Europeiias (Oke, 1982) (Fontte: Shahmohamadi, et al., 2010) O Oke (1987)

2 29

sugere a fórmula segu uinte para calcular a inte ensidade daa ilha de calo or urbano

próximo do por do so ol com céu limpo como fu unção da população e ve elocidade de ventos regio onais:

Equaçã ão 1 – Fórmu ula para o cá álculo da inte ensidade da ilha de calorr urbano (Fonte: Sha hmohamadi,, et al., 2010) onde T Tur é a inte ensidade da ilha de calorr urbano em Kelvin (K), P é a populaçção e U é a velocidade do ve ento regional (não-urbano o) em m/s a uma cota de e 10 m. O Oke (1987)30 declarou que q as difere enças térmic cas urbano/rrural são oblliteradas com m ventos muito forrtes. A forma a da equação o 1 não perm mite aferir fac cilmente a ve elocidade críítica do vento o na qual se verificca e possa ser s identificad da numa dad da cidade. Ba aseado na observação, pparece que este e valor é aproximadamente 9 m/s (med dida a uma a altura de 10 m num esp paço rural) nnuma cidade com um de habitantess é cerca de 5 e 2 m/s pa ara populaçõ ões de 100.000 e 10.000,, respetivamente. Por milhão d outro lad do, Bonan (2 2002)31 declarou que a relação entrre a intensidade da ilha de calor urb bano e a populaçã ão para as cidades Norte e Americanass e Europeia as são as seg guintes:

29

Idem Idem 31 Idem 30

17

Equação 2 e 3 – Relaçã ão entre a in tensidade da a ilha de calo or urbano e a população para as cidades Norte Amerricanas e Eurropeias (Fon nte: Shahmo ohamadi, et aal., 2010) onde T T é a difereença máximaa entre as árreas urbana e rural e P é a populaçãão. Os dois modelos precedentes realçam m o papel da a população na formação da ilha de calor urbanno. O modelo o de Oke demonsttra quão as temperatura as urbanas e estão diretam mente relacio onadas com a população o urbana: O modelo de Bonan n (citado porr Shahmoha amadi, et al., 2010) alca ança o mesm mo propósito o. Outros dados esstatísticos mostram m que a quantidad e de energia a consumida pelas cidaddes para aquecimento e arrefeccimento de escritórios e e edifícios e resiidenciais aum mentaram na as últimas duuas décadas. S Santamouriss (2001) (cita ado por Sha ahmohamadi, et al., 2010) reportou que um aum mento da populaçã ão urbana em e 1% aume enta o consu umo da enerrgia em 2,2% %, isto é, a taxa de alte eração na utilização o da energia a é duas vez zes a taxa d de alteração o urbana. Por outro lado , Emmanuel (2005)32 acredita que o desenho urbano influencia ass necessidad des de energia para o trransporte e o uso de energia nos edifícioss. Emmanuel (1995)33 mo ostrou a taxa a de consum mo de energiia de três pa aíses, Estados Un nidos, Reino Unido e Sri Lanka, no Q Quadro 1. Quadrro 1 – Padrões do consumo de energ gia por difere entes atividad des nos Estaados Unidos,, Reino Uniido e Sri Lan nnka Fonte: Shahm mohamadi, ett al., 2010) (Emmanuel, 1995); (F

E Estes dadoss ilustram cla aramente o impacte da urbanização o na utilizaçãão da energia. O aumento d das temperatturas urbana as têm efeito o direto no consumo c de energia durrante os perríodos de verão e inverno. Apesar de muitos fatores sserem citado os como cau usas do aum mento do con nsumo, é ue a urbanização na reg ião é a prime eira causa, particularmen p nte nas área as onde o geralmente aceite qu nto das rend das resultem m numa proccura superior por transporte e dispoositivos domésticos e incremen especialmente os ar--condicionad dos (de Dearr and Fountain, 1994)34.

32

Citado por (Shahmohamadi, et al., 2010) Idem 34 Idem. 33

18

C Contudo, po ode-se concluir que o au umento da população p na cidade cuulmina na co onstrução urbana e calor antro opogénico, que conduz à temperaturras elevadas s e cria umaa ilha de calo or urbano que resu ulta numa “ccúpula” de ar a quente a cobrir a cida ade. Conseq quentementee, causa aum mento no consumo o de energia a para aquecer e arrefe ecer os edifíc cios. Este processo é reesumido na figura 9. (Oke, 19 981) incorporou estas ca ausas nas se eguintes cinc co categorias s (não ordennadas), cada a uma representa a mudanças ao ambiente e pré-urbano o trazidas pe ela urbanizaç ção: (1) Poluuição do ar; (2) Calor Antropog génico; (3) Superfícies S impermeáveiis à água; (4 4) Proprieda ades térmicaas da construção; (5) Geometrria da superffície. A poluição do ar resulta da d emissão d de partículas s, vapor de água á e dióxiddo de carbon no a partir dos proccessos indusstrial, domésttico e combu ustão automó óvel (Oke, 19 987)35. A descarga de d calor antrropogénico n numa cidade contribui tam mbém para o efeito de ilh ha de calor urban no. As fonte es de calor antropogénic a co incluem o aquecimen nto de espaçços, a manu ufatura, o transporrte e a iluminação. O mettabolismo hu umano e anim mal são tamb bém consideerados fontes s de calor artificial (Peterson, 1 1973)36. No entanto e para a o aumento o de consum mo de energiaa este efeito o tem um e conjugação com outrros fatores como c eviden nciado na figgura seguintte (Shahcontributto pontual em mohama adi, et al., 2010)

o do consumo o de energiaa Figura 10 - O processo de aumento (Fonte: Sha hmohamadi,, et al., 2010) 35

These atmospheric “pollutants” “ ch hange the urb an net all-wav ve radiation bu udget by reduucing the incid dent flux of e (that is, so olar) radiation, re-emitting long-wave (th hat is, infrared d) radiation ffrom the urba an surface shortwave downward d where it is retained by th he ground an nd absorbing longwave l radiation from thhe urban surfa ace, which effectivelyy warms the ambient a air (Oke, 1987) citad do por (Shahmohamadi, ett al., 2010). 36 Citado por (Shahmo ohamadi, et al., 2010).

19

Superfícies impermeáveis à água, refere-se a predominância de superfícies impermeáveis nas áreas urbanas. Os edifícios e as ruas pavimentadas escoam a precipitação para as bacias hidrográficas, que criam um deficit de evaporação na cidade. Ao contrário, nas áreas rurais, os solos expostos e vegetação natural retêm a água, que conduz ao resfriamento por evapotranspiração. Durante o dia, a cobertura da superfície urbana propicia a troca de calor sensível e suprime o fluxo de calor latente, ao passo que as superfícies húmidas rurais suprimem a transferência de calor sensível e propiciam o fluxo de calor latente. O quarto fator que contribui para a ilha de calor urbano está relacionado com as propriedades térmicas da construção urbana. A capacidade calorífica e consequentemente a inércia térmica, dos materiais de construção urbanos, tais como o betão e o asfalto, é maior do que dos materiais naturais encontrados nos ambientes rurais. Uma maior capacidade calorífica significa que os materiais urbanos absorvem e retêm mais radiação solar do que os solos e a vegetação em espaço rural. De noite, este calor absorvido é libertado lentamente da superfície urbana, ao contrário da rápida libertação das superfícies em espaço rural. A geometria complexa das superfícies urbanas influencia a temperatura do ar de duas formas. Primeiro, o aumento da fricção criada por uma superfície urbana rugosa (comparada com uma superfície rural suave) reduz o fluxo de ar na cidade. O ar quente estagna nos desfiladeiros urbanos em vez de serem ventilados pelo ar fresco dos espaços rurais. Segundo, a geometria complexa das superfícies urbanas alteram o balanço da radiação urbana. Durante o dia, os desfiladeiros de paredes verticais retêm (isto é, refletem e absorvem) as radiações de onde curta. As perdas noturnas da energia infravermelha são igualmente retardadas devido ao decréscimo da visibilidade do céu por baixo do nível do telhado. As superfícies rurais, por outro lado, são comparativamente suaves e portanto experimentam maiores divergências de fluxos radiativos noturnos do que as complexas superfícies urbanas. Consequentemente, as altas temperaturas criam impactes de consumo de energia através do aumento das cargas de energia para arrefecer os edifícios; altas temperaturas ambientais aumentam os picos de carga de eletricidade. É de realçar que as teorias e os modelos acima expostos poderão ser extrapolados, com as necessárias adaptações, para a realidade da cidade de Luanda de modo a explicar as prováveis razões do uso excessivo de sistemas mecânicos de ar-condicionado, da demanda de energia elétrica, do desconforto térmico relacionado com as temperaturas observadas, o que poderá resultar na manifestação do fenómeno ilha de calor urbano, em parte, devido ao processo de urbanização resultante do acelerado crescimento urbano, ao longo da guerra civil e desde a fim da mesma que durou cerca de 30 décadas, os processos e tecnologias construtivos utilizados nas construções por vezes não adequados à realidade local, e a sobrelotação de população na cidade de Luanda.

20

2.5.

Outros impactes e custos do ambiente construído

2.5.1. Impactes do ambiente construído Os edifícios e espaços envolventes (empreendimentos) respondem às necessidades humanas, originando na sua construção, operação e desativação, impactes mais ou menos diretos: nos recursos, nas emissões, nas cargas e nos ambientes construídos e de forma indireta nos ambientes naturais. Um aspeto relevante a considerar assenta no facto de que para os edifícios satisfazerem as funções para que foram criados (por exemplo, residências, escritórios, entre outros) necessitam de infraestruturas e por isso, de forma indireta, também os impactes a elas associados podem decorrer da presença e operação dos edifícios. Os impactes dos edifícios, tal como os das restantes estruturas, refletem-se de formas diferentes nas diferentes fases do seu ciclo de vida, [...] (Pinheiro, 2006). 37

A fase de planeamento e conceção

consiste no levantamento das condições que permi-

tem executar o projeto, até à sua elaboração; [...] é nesta fase que se tomam as principais decisões a que muitos dos impactes ambientais, que ocorrem posteriormente, estão associados e são, essencialmente, provocados nas outras fases. Os efeitos ambientais diretos estão associados aos trabalhos de conceção e levantamentos efetuados, para obtenção de dados. Em termos de dimensão, os impactes efetivos desta fase são muito reduzidos e quase sem significado quando comparados com as restantes fases, sendo essencialmente associados aos consumos (muito reduzidos) (Pinheiro, 2006). Na fase de construção incluem-se todas as ações que vão desde o concurso e o início da construção propriamente dita, até à receção da obra por parte do proprietário, numa escala temporal que pode ir de dias a alguns anos, [...]. Na fase de construção a atenção recai, sobretudo, sobre a forma de desenvolvimento do processo construtivo, sendo esta associada, essencialmente, à intervenção no local, com alteração do uso do solo, consumo de matérias-primas, energia e água e alterações nos ambientes natural e/ou construído. Os impactes da extração, ou transformação, são também importantes, ainda que, na maior parte dos casos, sejam da responsabilidade da indústria produtora, pois não são específicos do sector da construção. No caso das estruturas edificadas estima-se que o impacte devido aos materiais represente cerca de 10-20% do impacte de um edifício, em todo o 39

seu ciclo de vida38 (Edwards e Bennet, 2003) . A fase de operação estende-se desde a receção da obra por parte do proprietário, até ao fim da utilização do empreendimento. Nesta podem incluir-se, também, as operações de manutenção e renovações pontuais. Os impactes relevantes associados ao empreendimento edificado, decorrentes da sua operação, resultam: no consumo de energia, de água e de materiais e na produção de resíduos, de efluentes e de emissões atmosféricas, com consequentes impactes diretos. Existe igualmen-

37

Esta fase é, provavelmente, a mais importante do processo, pois é nesta altura que se tomam as principais decisões referentes ao local, à conceção, aos fornecedores, aos materiais a utilizar, às necessidades energéticas e de água e outras, cujas consequências se irão refletir nas restantes fases do ciclo de vida da construção. 38 Para os parâmetros usuais de avaliação do ciclo de vida (Pinheiro, 2006). 39 Citados por (Pinheiro, 2006).

21

te um conjunto de emissões interiores e exteriores de outras substâncias. Por exemplo, cerca de metade dos CFC produzidos no mundo inteiro são usados na refrigeração de sistemas de ar condicionado e na refrigeração de edifícios, em sistemas de extinção de incêndios e em sistemas de isolamento 40;

(Pearce, 2001)

[...] um dos efeitos indiretos, também associados aos edifícios, prende-se com o

aumento das necessidades de transporte e a alteração do tráfego local, a pressão sobre os serviços urbanos e a geração de emprego e riqueza. A operação dos empreendimentos edificados, embora os seus efeitos sejam mais discretos, lentos e progressivos ao longo de usualmente várias dezenas de anos, acaba por consumir recursos, gerar emissões, alterar os sistemas ambientais naturais e construídos, de forma mais significativa do que a fase de construção [...] (Pinheiro, 2006). Ao nível dos sistemas socioeconómicos, podem referir-se: incómodos nas populações e comunidades, eventuais riscos de saúde pública, na obra e para os utilizadores, necessidades suplementares de acessibilidades, de transportes e de alteração do tráfego local, pressão sobre as infraestruturas e serviços urbanos, alteração das condições de segurança, mas também: geração de emprego, conforto, funcionalidade, riqueza e desenvolvimento (Pinheiro, 2006).

2.5.2. Custo do ciclo de vida e dos impactes ambientais da construção Atualmente, muitos dos custos ambientais da edificação (emissões de gases de estufa, o consumo de recursos finitos tais como madeiras duras e metais, e a criação de lixo de construção) não se refletem quer no custo inicial de construção quer nos custos correntes de manutenção da construção. As taxas sobre a água, o lixo e a energia estão a modificar gradualmente estes aspetos, e tornam a construção verde economicamente cada vez mais atrativa. Será necessária uma análise do custo do ciclo de vida, para que o cliente possa fazer a avaliação do retorno financeiro de um investimento inicial, em medidas de poupança de energia ou preservação de recursos, ao longo da vida útil de um edifício (Ordem dos Arquitetos, 2001). O objetivo é a otimização do valor de um projeto de construção ao longo da sua vida útil, tendo em conta todos os custos do projeto, tanto diretos como indiretos. Isto envolve a definição de um prazo de vida apropriado para o edifício No entanto, com cuidados de manutenção, qualquer edifício poderá durar quase indefinidamente, sendo mais fácil atribuir um prazo de substituição para os sistemas e componentes individuais. Quando se totaliza os custos anuais de operação e manutenção, este prazo de substituição pode ajudar a determinar o custo de ciclo de vida. Para uma avaliação ambiental completa, será necessário atribuir custos a outros fatores ambientais que não se contabilizam: poluição, esgotamento de recursos (Ordem dos Arquitetos, 2001). No caso de um projeto de baixa energia ou de natureza sustentável, a consideração dos custos do ciclo de vida desde o início será essencial. O equilíbrio entre o custo de construção e o custo durante a utilização é fundamental para a arquitetura do edifício. Por exemplo, o desenho de uma 40

Idem.

22

janela terá implicações no que se refere a aquecimento, arrefecimento, ventilação e iluminação artificial, emissão de poluentes, dimensão das instalações especiais e custos de manutenção (Ordem dos Arquitetos, 2001).

23

3.

Arquitetura sustentável e arquitetura tropical

3.1.

Enquadramento histórico, origem e conceito de arquitetura sustentável

Para perceber os conceitos de arquitetura sustentável e arquitetura tropical, considera-se pertinente contextualiza-los na história das preocupações ambientais. O movimento ambiental moderno, teve uma dinâmica alargada a diferentes países, sendo frequentemente entendido como tendo iniciado nos Estados Unidos em 1962 com o Silent Spring de Rachel Carson, a publicação que causou uma mudança de paradigma no entendimento do impacte ambiental do uso do pesticida41 (Baweja, 2008). Dos Estados Unidos da América, Ian McHarg, o emigrante escocês, publicou o seu trabalho seminal Design with Nature em 1969, sete anos depois de Carson. A tese ecológica de McHarg expande a disciplina do paisagismo, arquitetura e planeamento: ele é um dos pais fundadores do desenvolvimento sustentável. McHarg argumentou que o desenvolvimento humano deveria ser planeado de modo a ter-se em consideração a natureza e os processos naturais (Moughtin, et al., 2005). Small is Beautifull de Schumacher (1974)42 é outro marco na análise das causas dos problemas ambientais e no desenvolvimento de princípios “green”. Uma causa dos problemas ambientais de acordo com Schumacher é a noção de que podemos continuar a produzir e consumir a taxas crescentes num planeta finito. Schumacher advertiu que o planeta, nosso stock de capital, está a ser ameaçado pela produção excessiva: pelo efeito, a raça humana está a consumir o seu capital numa taxa alarmante, pondo em perigo os limites de tolerância da natureza, e como tal ameaçando os sistemas de suporte da vida que nutrem a espécie humana (Moughtin, et al., 2005) Contudo, as raízes do ambientalismo podem ser mais profundas. Farmer (1996) citado por (Moughtin, et al., 2005) traçou o desenvolvimento da “Green Sensibility” na arquitetura dos edifícios populares e no culto da casa no século XIX nos escritos de Ruskin, no trabalho do movimento das Arts & Crafts até ao século XX e as ideias orgânicas na Arquitetura Moderna. O planeamento pode citar também a sua lista de planeadores com credenciais “green”.. As preocupações com os impactes ambientais humanos cresceram exponecialmente nos anos 80, durante os quais o discurso foi dominado pelos acidentes industriais43, […]. Estes acidentes realçaram a magnitude dos processos humanos e seus impactes ambientais. (Baweja, 2008).

41

Shirley A. Briggs, "Remembering Rachel," EPA Journal 18, no. 2 (May-June 1992), M. Jimmie Killingsworth and Jacqueline S. Palmer, Ecospeak: Rhetoric and Environmental Politics in America (Southern Illinois UP: Carbondale, 1992), Linda J. Lear, "Rachel Carson's Silent Spring," Environmental History Review Vol. 17, no. 2 (1993), Craig Waddell, ed., And No Birds Sing: Rhetorical Analyses of Rachel Carson’s Silent Spring. 42 Citado por (Mougtin, et al., 2005). 43 Including the 1984 Bhopal gas disaster, the 1986 Chernobyl nuclear disaster, and the 1989 Exxon Valdez oil spill.

24

Já nos finais dos anos 80, o termo sustentabilidade foi usado extensivamente no campo da economia em referência ao desenvolvimento para criticar os novos modelos de crescimento económico para as nações e regiões que favoreciam os rápidos retornos e crescimento acelerado, enquanto ignoravam que a longo prazo eles esgotariam os recursos não renováveis – os recursos dos quais dependem. A questão de longo prazo, dos impactes negativos não previstos de uma política económica no seu desempenho foi posteriormente dessiminado devido ao efeito de novos produtos – química, agricultura e mecânica – na qualidade do ambiente a longo prazo. Foi por causa deste último problema que o critério de sustentabilidade apareceu na arquitectrura e desenho urbano, fornecendo um quadro conceptual para lidar com o impacte negativo a longo prazo da aplicação de materiais e materiais de construção no consumo de recursos naturais e da qualidade física ambiental (Bay, et al., 2006). Em 1987, as Nações Unidas estabeleceu a Comissão Mundial para o Ambiente e Desenvolvimento (WCED), que se tornou conhecida como Comissão Brundtland, […]. O relatório da comissão, conhecido como Relatório Brundtland introduziu o conceito de “sustentabilidade” no discurso ambiental, transformando o discurso arquitetónico e estabelecendo a “Arquitetura Verde” (Baweja, 2008). No Relatório de Brundtland – "O Nosso Futuro Comum" – é apresentado um dos conceitos mais importantes ao nível ambiental, o conceito de Desenvolvimento Sustentável. Este é definido como: "desenvolvimento que dê resposta às necessidades do presente, sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras darem resposta às delas" (Pinheiro, 2006,). O relatório identificou o consumo excessivo de recursos naturais pelos ricos e a existência de pobreza extrema como constitutiva de problemas ambientais. O relatório Brundtland salientou que a sustentabilidade não pode ser alcaçada sem equidade social porque o desenvolvimento sustentável requer, não somente uma distribuição equitativa dos recursos no tempo para as futuras gerações mas, também, através do espaço sincronicamente, deste modo colmatando o fosso entre os ricos e as nações pobres. O relatório prescreveu o corte no consumo de energia nas nações ricas, que teve um impacto directo e significativo na definição de Arquitetura Sustentável (Baweja, 2008). Depois do relatório Brundtland, o marco significativo na história da “Arqutectura Verde” foi a formulação da Agenda 21, em 1992, “Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente e Desenvolvimento” no Rio de Janeiro (Baweja, 2008). A Agenda 21, um plano normativo para o desenvolvimento sustentável, contém instruções específicas para a prática da arquitetura sustentável. Os pontos-chaves previstos na Agenda 21 para a indústria da construção sustentável são o uso de tecnologia e materiais locais; tecnologias construtivas de trabalho intensivo; design energeticamente eficiente; reciclagem de materiais, prevenção de resíduos,; desenvolvimento de conhecimento sobre o impacte ambiental dos edifícios; ajuda na autoconstrução de casas para os pobres (Baweja, 2008). Esta tem sido interpretada em diversas Agendas locais e regionais. Uma dessas interpretações com especial relevância para o sector da construção é a Agenda Habitat II, que resultou da Conferência das Nações Unidas, em 1996, realizada em Istambul. A Agenda Habitat II

25

demonstra uma preocupação com abrigo para todos e a sustentabilidade dos aglomerados humanos e contém diversas secções dedicadas ao sector da construção civil e à forma como os governos nacionais devem encorajar a indústria no sentido da sustentabilidade. A especificidade dos países levou á disponibilização de Agendas 21 para a sustentabilidade na construção (Plessis, 2002)44, que salienta a importância do ajustamento à realidade especifica e ás soluções ajustadas (Pinheiro, 2006). O consumo de recursos e o status económico têm uma forte correlação. Assim como o nível de renda aumenta, também cresce o do consumo de recursos. A correlação entre os redimentos per capita e o consumo de energia demonstra esta tendência. A arquitetura é uma das formas conspícuas de actividade económica. Prevê-se que a intensidade do padrão dos recursos arquitetónicos (o rácio consumo de recursos arquitónicos per capita e renda per capita) seguirá os mesmos padrões […]. Ao longo da existência de um edifício, este afeta o ambiente local e global através de uma série de atividades humanas interconectadas e processos naturais. No estágio inicial, o desenvolvimento e a construção influenciam as caraterísticas ecológicas indígenas. Apesar de temporário, o afluxo de equipamentos da construção e pessoal para um local de obras e o processo de construção em si perturbam a ecologia local (Kim, et al., 1998). A aquisição e a manufatura de materiais impactam no ambiente global. Uma vez construído, as operações de construção infligem impactes de longa duração no ambiente. Por exemplo, a energia e água usados pelos seus habitantes produzem gases tóxicos e dejetos; o processo de extração, refinação e transporte de todos os recursos usados na manutenção e operação de um edifício têm também numerosos efeitos no ambiente (Kim, et al., 1998) Os edifícios e o desenvolvimento têm um enorme impacte na nossa qualidade de vida e na qualidade do nosso ambiente, simultaneamente na construção e operação. Os edifícios consomem 40% da energia mundial, 25% da colheita de madeira e 16% do consumo de água, todos os recursos que não nos podemos permitir gastar (Saker, et al., 2010). Integrado na reflexão sobre desenvolvimento sustentável, surge nos países mais desenvolvidos, um movimento internacional em 1993, (Kibert, 2003) que procura definir e implementar o conceito de construção sustentável. A definição mais aceite foi a apresentada por Charles Kibert em 1994 que define Construção Sustentável como a "criação e gestão responsável de um ambiente construído saudável, tendo em consideração os princípios ecológicos (para evitar danos ambientais) e a utilização eficiente dos recursos" (Pinheiro, 2006). Não muito distante daquele conceito: “A Arquitetura Sustentável é um termo geral que descreve a consciência ambiental sobre as técnicas de design no campo da arquitetura. É enquadrada pela larga discussão da sustentabilidade e a pressão das questões económica e política do nosso mundo. Num contexto abrangente, a arquitetura sustentável procura minimizar o impacte ambiental negativo dos edifícios melhorando a eficiência e o uso moderado de materiais, energia e o desenvolvimento de espaços” (Saker, et al., 2010).

44

Citado por (Pinheiro, 2006).

26

“Os edifícios designados para a sustentabilidade são construídos e operados para minimizar todos os impactes negativos nos ocupantes (em termos de saúde, conforto e produtividade), e no ambiente (uso de energia, recursos naturais e poluição)”. (Plaitonis, 2006)45 O design e construção sustentável, ou “Green Building”, é uma oportunidade para usar os nossos recursos mais eficientemente, enquanto criamos casas energeticamente mais eficientes e saudáveis (Saker, et al., 2010). Os profissionais de arquitetura têm que aceitar o facto de que assim como o status económico de uma sociedade melhora, a sua procura por recursos arquitetónicos – solo, edifícios ou materiais de construção, energia, e outros recursos – aumentará. Isto por sua vez aumentará o impacte combinado da arquitetura nos ecossistemas globais, que é composto por elementos inorgânicos, organimos vivos, e humanos. A meta do design sustentável é encontrar soluções arquitetónicas que garantam o bem-estar e coexistência destes três grupos constituintes (Kim, et al., 1998).

3.2.

Princípios da arquitetura sustentável e instrumentos de apoio ao projeto sustentável

3.2.1. Princípios de arquitetura sustentável A arquitetura sustentável assenta nos princípios de Vitrívio, o sistema firmitas, vetustas, utilitas (solidez, beleza, e utilidade), devendo considerar o projeto bioclimático, bem como as soluções que respondem a outros aspetos da energia, água, saneamento, entre outras (Guedes, et al., 2011). A sustentabilidade da construção significa que os princípios do desenvolvimento sustentável são aplicados de forma compreensível ao ciclo da construção (Guedes, et al., 2011). Para educar os arquitetos a atingir as metas de coexistência dos grupos constituintes dos ecossistemas (cf. 3.1) (elementos inorgânicos, organismos vivos, e humanos) Kim, et al. (1998) desenvolveram um quadro conceptual. Os três níveis do quadro (Princípios, Estratégias, e Métodos) correspondem aos três objetivos da educação arquitetónica ambiental: criando o alerta ambiental, explicando o ecossistema do edifício, e ensinando a desenhar edifício sustentáveis (Kim, et al., 1998). Kim, et al. (1998) propõem três princípios de sustentabilide em arquitetura: Economia de Recursos, tem em consideração a redução, a reutilização, e a reclicagem de recursos naturais que são utilizados no edifício; Design do Ciclo de Vida, fornece uma metodologia de análise dos processos de construção e do seu impacte no ambiente. Design Humano, foca-se na interação entre os humanos e mundo natural. Estes princípios podem fornecer uma consciencialização dos impactes ambientais, ambos local e global, do consumo na arquitetura.

45

Citado por (Guedes, et al., 2011).

27

Economizando recursos, o arquiteto reduz o uso de recursos não renováveis na construção e na operação dos edifícios. Há um fluxo contínuo de recursos, natural e manufaturado, dentro e fora de um edifício. Este fluxo começa com a produção de materiais de construção e continua através da vida do edifício para criar um ambiente para sustentar o bem-estar humano e as atividades. Após a vida útil de um edifício, este deveria transformar-se noutros componentes para outros edifícios. À montante, os recursos fluem para o edifício como entradas no ecossistema do edifício. À jusante, os recursos saem do edifício como saídas do ecossistema do edifício. No longo prazo, qualquer recurso do ecossistema do edifício sairá eventualmente deste. Esta é a lei da conservação do fluxo de recurso (Kim, et al., 1998). O segundo princípio da arquitetura sustentável é o Design do Ciclo de Vida (DCV). Esta abordagem “do berço à sepultura” reconhece as consequências ambientais do ciclo de vida completo dos recursos arquitetónicos, desde a aquisição ao retorno à natureza. O DCV baseia-se na noção de que um material migra de uma forma de vida útil para outra, sem fim de utilidade (Kim, et al., 1998). O Design Humano é o terceiro, e talvez o mais importante princípio de design sustentável. Enquanto que a economia de recursos e o design do ciclo de vida têm a ver com a eficiência e coservação, o design humano preocupa-se com a habitabildade de todos os componentes do ecossistema, incluindo as plantas e os animais selvagens. Este princípio emerge das metas humanitária e altruista de respeito à vida e dignidade dos organismos vivos. Uma análise mais profunda revela que este princípio está profundamente enraizado na necessidade de preservar a cadeia de elementos do ecossistema que permite a sobrevivência humana (Kim, et al., 1998). Na sociedade moderna, mais que 70% do tempo de vida de uma pessoa é passada dentro dos edifícios. O papel principal da arquitetura é fornecer ambientes construídos que sustentem a segurança dos ocupantes, a saúde, o conforto fisiológico, o bem-estar psicológico, e a produtividade. Porque a qualidade ambiental é intangível, a sua importância tem sido negligenciada na procura da (Wilkinson, 2002)conservação da energia do ambiente que muitas vezes parece singnificar “tremer no escuro”. Para agravar o problema, muitos desenhadores de edifícios preocupam-se com o estilo e a forma dos edifícios, não considerando seriamente a qualidade ambiental do seu interior e da sua envolvente construída (Kim, et al., 1998). No contexto climático angolano é possível atingir um equilíbrio entre o edifício e o clima através da aplicação de uma série de estratégias de projecto – referidas como bioclimáticas ou de design passivo. As estratégias de design passivo têm como objetivo proporcionar ambientes confortáveis no interior dos edifícios e simultaneamente reduzir o seu consumo energético. Estas técnicas permitem que os edifícios se adaptem ao meio ambiente envolvente, através do projeto de arquitetura e da utilização inteligente dos materiais e elementos construtivos, evitando o recurso a sistemas mecânicos consumidores de energia fóssil (Guedes, et al., 2011). O uso de energia fóssil, não renovável, é, como se sabe, o principal responsável pelo grave problema do aquecimento global, resultante da emissão de gases de efeito de estufa para a atmosfera. Nos edifícios, o uso de electricidade proveniente de energia fóssil, contribui em larga medida para a intensificação deste problema (Guedes, et al., 2011).

28

As medidas passivas são as que mais contribuem para reduzir os gastos energéticos do edifício ao longo da sua existência. Dois exemplos de estratégias passivas são a optimização do uso da iluminação natural para reduzir o recurso a sistemas de iluminação artificial, ou a promoção de ventilação natural, para evitar o uso de aparelhos de ar condicionado para arrefecimento (Guedes, et al., 2011). Podemos inferir que o fundamental na arquitetura sustentável é que esta aplicação dos princípios seja ajustada ao local, ao clima, materiais e condições existentes e condições socioculturais e económicas (cf.3.4).

3.2.2. Instrumentos de apoio ao projeto sustentável Dada a complexidade e número de fatores, importa considerar os instrumentos de apoio ao projeto sustentável. Os instrumentos permitem incorporar os aspetos ambientais e apoiar uma integração da dimensão ambiental e sustentabilidade no projeto. Entre os instrumentos existentes são de referir: Os diagramas solares, os diagramas psicométricos e os programas informáticos (softwares). Existem hoje diversos programas de software para análise do desempenho energético e de conforto em edifícios (Método LT, Energy Plus, Visual Doe, Ecotect, entre outros), que são importantes ferramentas de apoio ao projecto de arquitetura. Estes programas permitem dimensionar e quantificar níveis de conforto interior e consumos de energia do edifício, informando também sobre quais as melhores estratégias de projecto a implementar em relação, por exemplo, à orientação do edifício, sombreamento, dimensão de áreas de envidraçado, materiais de construção, ou regimes de ventilação. Para além do apoio ao projecto arquitectónico, que deve integrar as estratégias bioclimáticas desde a sua conceção inicial (em termos de nova construção e também de reabilitação), estas ferramentas poderão ser úteis na decisão sobre normas e recomendações a determinar ao nível da construção […]. (Guedes, et al., 2011)

3.2.2.1. Diagramas solares Há muitas formas diferentes de apresentar graficamente a posição relativa do sol a diferentes horas do dia e no ano. Estas variam entre (Wilkinson, 2002): 

Sundials (relógios solares), estes são projeções gonomónicas (Figura 10a);



Projeções retanguares do céu (Figura 11b);



Diagramas radiais ou circulares do percurso solar (Figura 12).

29

Figu ura 11 – Reló ógio solar ho orizontal (10a a); Diagrama a retangular ((10b) Fonte e: (Wilkinson,, 2002)

C Cada um tem m as suas va antagens e d desvantagen ns. A forma radial r do diaggrama estereográfico tem distiintas vantage ens, tal como o esboça-lo à mão porqu ue os percurs sos solares e as linhas das d horas são arco os de cículos, e estes são s razoávellmente fáceis de esboça ar [...]. Igual mente, um diagrama d radial pe ermite que to odo o céu seja representa a e assim nãão há necess sidade de ado num único diagrama construirr um novo diagrama para p cada o orientação diferente d da a fachada ccomo é preciso nos diagrama ares e projeçõ ões gnomón nicas num pla ano vertical (Wilkinson, 22002). as retangula A As bases da as projeções circulares ssão tais que um hemisfé ério do céu é projetado sobre s um plano ho orizontal. Istto resulta nu um diagrama a como apre esentado na a Figura 11,, onde os pontos da bússula são definidos pela dire eção afastad da do centro o do diagrama e a altittude é defin nida pela a a partir do centro (Wilk kinson, 2002)). distância

Figura 1 12 – Diagram ma radial Fonte:: (Wilkinson, 2002)

30

Q Quando se desenha d um m diagrama ssolar para um ma determinada localizaçção, só é ne ecessário considerrar quatro ép pocas no ano o: (1) O solsstício de Inve erno; (2) O so olstício de Veerão; (3) A Primavera P e os equ uinócios de Outono. O As trrês posiçõess no céu utiliz zadas para desenhar d um m diagrama solar s para um determinado dia são : (1) A altitude do ssol ao meio-dia solar; (2) O azimute do nascer do d sol; (3) O azimute do pôr do sol (Figura 12) (Wilkinso on, 2002).

3 3.2.2.2. Diagrama D psicromé trico D De acordo com c o livro “Understandiing Psycrom metrics, 2nd Edition, E 20055, ASHRAE”” o termo psicrome etria originou u do substan ntivo psicróm metro, criado em 1825 po or Ernest Feerdinand Aug gust, para designarr o seu termó ómetro de bo olbo húmido (Britto, 2010 0). A palavra originou-se do termo lati no “psychro o” que signiffica “produzi r frio” e “me etro” que significa “medir”, ind dicando um dispositivo para “medirr a refrigeraç ção”. Versõees mais rec centes do os de bolbo sseco e bolbo o húmido e passaram p a sser designad dos como dispositivvo possuem termómetro termohig grómetros. Ao A acrescentarmos o suffixo “ia” (oriundo de ciência) em “mettro” transform mamos o substanttivo em “psiccrometria”, designando d ência que a palavra originalmente como um rramo da ciê estuda o uso do psiccrômetro (Britto, 2010). E Em 1904, Willis W H. Carrie er denomino ou a sua cartta de proprie edades do arr húmido com mo “carta higrométtrica” e em 1911 1 o nome foi modificcado para ca arta psicromé étrica. Os diiagramas on nde estão registada as as proprie edades da mistura m entre e o ar seco e o vapor de e água são chamados de d Cartas Psicromé étricas. Este es diagramas s são elaborrados para uma u determin nada altitudee, em função o da qual se estab belece uma pressão atm mosférica (ou u barométric ca) “P” de re eferência. A Carta Psicrrométrica padrão a assume uma a altitude de 0 m (nível do o mar) e, po or consequên ncia, uma preessão atmos sférica de 101,3250 0 kPa (760 mmHG). m (Brittto, 2010).

p o Figura 13 – Diagrama psicrométrico nte: Britto, 2010) 2 (Fon

31

3.3.

A Arquitetura tropical

3.3.1. Origem do conceito A arquitetura tropical tem sido tradicionalmente considerada como uma arquitetura adotada ao clima tropical (Tzonis, et al., 2001). Tal também ocorreu em Angola e refere-se às “tentativas científicas de adaptação” como as experiências de foro arquitetónico e urbano que ocorreram no decorrer do século XX, com destaque para Angola, como forma de adaptação da cidade e da arquitetura ao clima tropical, quente e húmido (Fonte, 2006). A análise desta temática, obriga-nos a recuar no tempo, a uma portaria46 decretada por S. M. a Rainha D. Maria II, em 1843, onde se estabelecem os princípios para a conceção de cidades e sua arquitetura em território angolano; assim, a portaria em causa era muito esclarecedora quanto a algumas regras urbanas e arquitetónicas, tecendo considerações sobre a construção dos edifícios (Fonte, 2006): “5º que é proibido levantar qualquer edifício cujo sobrado ou pavimento térreo não esteja acima do terreno pelo menos quatro palmos, sendo os muros abertos por um modo que por baixo possa o ar circular livremente; 7º que todos os novos edifícios habitáveis sejam espaçosos, bem ventilados e de nunca menos de 16 palmos de pé direito em cada pavimento;”

A questão do clima viria ser marcante na conceção das cidades tropicais, sendo a arquitetura o seu veículo. Os princípios da arquitetura moderna levaram a que esta se fundisse com os apelos do clima tropical e da sua sobrevivência (Fonte, 2006). Foi com o movimento moderno que se atingiu o expoente máximo da adaptação da arquitetura aos trópicos. Os princípios básicos transportavam em si fatores de integração, valorizando a ventilação cruzada e a proteção solar, aspetos determinantes (Fonte, 2006). Em Angola, Pinto da Cunha, Silva Dias, Antonieta Jacinto e Vieira da Costa em Luanda, ou Castro Rodrigues no Lobito, foram verdadeiros percursores de um modelo de arquitetura e urbanismo tropical moderno adaptado ao sítio e ao clima. Embora o modernismo por si só, dentro do seu léxico, aponte uma série de medidas que melhor se adaptam aos climas tropicais, estes arquitetos ensaiaram-no aplicando-o aos condicionalismos da realidade angolanos47 (Fonte, 2006). No entanto, (Tzonis, et al., 2001) refere que a divulgação da arquitetura tropical remonta o passado século XIX, quando o britânico transformou o banggolo do camponês Bengali no bangalow e 46 Portaria de 298 de Março de 1843, in Batalha, Fernando, A Urbanização de Angola, Edição Museu Angola, Luanda, 1950, pp.19. 47 Apontamos alguns exemplos, entre muitos outros, que refletem a simplicidade com que essa aplicação foi feita, como a escola para o bairro indígena em Luanda, (1959), o bairro de pescadores no Cacuaco (1958) ou o liceu de Saurimo (1958/9), o liceu do Lobito (1956) ou o aeroporto do Lobito (1956), o Ministério das Obras Públicas ou mesmo o mercado do Kinaxixi (1952), em Luanda.

32

difundiu--o a todo o Império I Britâ ânico (Figura a 14). Isto é também verrdade relativvamente aos mais recentes trrabalhos póss-coloniais de d Otto Koen nigsberger, Olygay O e Oly ygay, e Maxw well Fry e Ja ane Drew (Tzonis, et al., 2001)).

Figurra 14 – (a) O “banggolo”; (b) O bunga alow adaptad do pelos Euroopeus a 2001) Fonte: (Tzonis, et al.,

M Mas Baweja (2008) afirm ma que: “Noss finais do sé éculo XIX e in nício do sécuulo XX, o conceito de Arquitetu ura tropical desenvolveu u-se na discciplina da hig giene, que circulou c atravvés dos ma anuais de higiene coloniais. Elles continham informaçã ão profission nal sobre con nstrução e eeram frequen ntemente nhados por tipos e desig gn. A princip pal preocupa ação dos ma anuais de higgiene tropica al eram o acompan bem-esta as condições climáticas trropicais”. ar do organissmo dos eurropeus sob a N Nos finais do o século XIX X e princípio d do século XX X, o organism mo europeu foi o tema so ob o qual o discursso da arquite etura tropica al foi construíído. A arquittetura era vis sta como objjeto de mediação entre o corrpo e o clima a, com uma definição de e clima englo obando mais s do que tem mperatura. A ideia de que a arrquitetura de everia ser co oncebida de acordo com m o clima tropical para prroteger o “organismo europeu” das doençças tropicais, foi o princcípio fundado or da arquite etura tropicaal como subgrupo da e higiene não o forneceram m só especifificações para a a conshigiene. Consequenttemente, os manuais de d construçã ão, mas tam mbém prescreveram técnicas de veentilação, iluminação, trução e materiais de eliminaçção de resídu uos, fornecim mento de ág gua, e sanea amento como o medidas ppreventivas para p con-

33

tornar a propagação de doenças48. Os manuais de higiene de saneamento frequentemente discutiam a relação entre o clima tropical e o “organismo europeu”. O Indian Manual of Hygiene dedicou um capítulo inteiro ao tópico “Clima e Meteorologia”49 para discutir o impacto das variáveis climáticas tais como temperatura, pressão atmosférica, e humidade, no corpo (Baweja, 2008). A partir dos anos 30, assim que os arquitetos modernos britânicos viram oportunidades de trabalhar nos trópicos, a causa da arquitetura tropical mudou da sua origem higienista para a sua disciplina natural, isto é, a arquitetura. No início dos anos 50, depois da Segunda Guerra Mundial, a arquitetura tropical completou a sua migração da disciplina da higiene para a arquitetura com o estabelecimento do Departamento de Arquitetura Tropical na Architectural Association (AA) em 1954. A realocação catalisou várias mudanças sequenciais que afetou o modo como a arquitetura evoluiu nos anos 50. Entre as mudanças esteve a autoria dos textos da arquitetura tropical do pessoal médico e engenheiros sanitários para os arquitetos modernistas. Não foi coincidência que quando Otto Koenigsberger começou a lecionar primeiro em Londres, o seu primeiro emprego não foi na AA, mas na London School of Hygiene & Tropical Medicine (LSHTM). Apesar de a disciplina da arquitetura tropical ter mudado da higiene para a arquitetura, a higiene permaneceu uma componente significante da arquitetura tropical nos anos 50 e os higienistas da LSHTM lecionaram na AA (Baweja, 2008). Os clientes para os quais a arquitetura tropical foi direcionada já não eram mais os colonizadores europeus, mas os habitantes dos trópicos descolonizados, ou os “nativos”. O objetivo da arquitetura tropical mudou da sobrevivência do corpo do colonizador europeu para o conforto fisiológico do corpo colonizado em “casa” (Baweja, 2008). G. A. Atkinson (citado por Baweja, 2008), um professor de arquitetura tropical na AA escreveu: “temos que nos lembrar que os nossos clientes são mais as pessoas não europeias dos trópicos; que temos que lá trabalhar como semelhantes, só privilegiados por causa do nosso conhecimento especial”. Como consequência, o “organismo europeu” já não era mais a causa sob a qual o discurso da arquitetura tropical foi construído. Nos anos 50, o colonizado ou “nativo” foi a causa sob a qual o discurso da arquitetura tropical foi formado. Entre os anos 50 e 60, assim como a arquitetura tropical se desenvolveu num discurso arquitetónico, a causa sob a qual foi construída mudou do corpo para a arquitetura (Baweja, 2008).

48

Por exemplo, esta definição de habitação saudável no Indian Manual of Hygiene de A. E. Grant l resume melhor como o discurso da higiene definiu a arquitetura (…): Quais são então as condições necessárias para uma habitação saudável? Eles são principalmente estes, como definido por Parkes: - 1.Um lugar seco e sem malária, com luz e alegre. 2. Fornecimento de água pura e remoção conveniente de esgotos; com meios que garantam uma limpeza perfeita de todas as partes da casa. 3. Um sistema de remoção imediata e perfeita de esgotos que impossibilite que o ar ou a água sejam contaminados com excrementos. 4. Um sistema de ventilação que elimine as impurezas. 49 Cada lugar foi definido pelas suas coordenadas cartográficas e seus atributos climáticos, um exercício que continuou até aos anos 50 e 60. Isto foi depois usado para determinar um conjunto de práticas espaciais e materiais para a arquitetura adequados para aquele clima. Este método de design, gerado pelos engenheiros sanitários nos finais do século XIX e início do XX, foi adotado na metade do século XX pelos arquitetos que inventaram o discurso da Arquitetura Tropical (Baweja, 2008).

34

O foco dos arquitetos nos anos 50 foi menor na prevenção das doenças e maior no conforto, que foi definido de forma abrangente em termos de energia térmica, higrométrica, ergonómica, acústica, e bem-estar psicológico. Nos anos 50, o conteúdo dos textos da arquitetura tropical consistiam inteiramente de produção arquitetónica nos trópicos. Os arquitetos debateram que espécie de tecnologias de construção e materiais eram viáveis nos trópicos no contexto de recursos limitados (Baweja, 2008). Em Outubro de 1953 e janeiro de 1954, a revista Architectural Design publicou duas edições e especiais sobre Arquitetura Tropical, editadas por Otto Koenigsberger, […]. As edições publicaram o trabalho de James Cubitt, Fry, Drew and Partners, Nickson and Partners da África Ocidental ao lado de trabalhos na Índia Ocidental e outros lugares em África e mereceu o reconhecimento do tema pelos leitores tradicionais do jornal profissional (Roux, 2003). O manual50 de 1956 de Fry e Drew foi um documento significante na definição do conceito de arquitetura tropical: “Nós escrevemos não só para aqueles que, como nós, vivem fora dos trópicos e para quem, portanto, desenhar é algo como que um processo intelectual; mas também para um número crescente daqueles que habitam estas regiões e que, pela sua maior familiaridade com as condições, se possam sentir estimulados a reexamina-los. Sobre estes arquitetos e planeadores cai a maior responsabilidade de criar um ambiente no qual as pessoas locais possam florescer”. A preocupação de Fry e Drew para estimular ou formalizar uma arquitetura futura e imaginária dos trópicos em nome de outros não era única. Os programas educacionais desenvolvidos na década de 50 para facilitar a disseminação do conhecimento a partir dos centros metropolitanos até aos locais de aplicação nos trópicos refletem um desejo semelhante (Roux, 2003). Uma década mais tarde será publicado o opúsculo Caraterísticas de Arquitectura em Regiões Tropicais Húmidas (1963) do Arq. José Pacheco, numa edição do Ministério do Exército, na Divisão de Obras Ultramarinas e Ilhas Adjacentes, que de forma pragmática estabelece alguns princípios para a arquitetura tropical, muito baseados na obra atrás referida e noutras de similar relevância (Fonte, 2006). Maxwell Fry e Jane Drew, utilizaram o termo ‘Arquitetura Tropical’ nos títulos dos seus manuais, que reuniram estudos de caso e dados de diversos países. Um livro similar mas modesto sobre casas tropicais foi publicado por David Oakley, que trabalhou na Jamaica. Livros publicados para alunos incluíram uma Gramática de projeto arquitetónico com especial referência para tópicos e um guia para construção nos trópicos (Roux, 2003). A arquitetura tropical também se tornou um fórum de desenvolvimento de conhecimentos sobre prática de conservação de energia; tecnologias ambientais de baixo impacte; habitação para os pobres; interpretação científica de conhecimento vernacular, sendo todos princípios fundamentais da arquitetura sustentável como especificado na Agenda 21. O discurso da arquitetura tropical evoluiu para a crítica do design arquitetónico consumidor de energia e do seu desperdício no consumo de recursos (Baweja, 2008). 50

Tropical Architecture in the Humid Zone (1956), […], uma referência fundamental a nível conceptual (Fonte, 2006).

35

Trabalhos de África também apareceram numa série de artigos, divididos por locais tropicais e temperados, publicados nas duas edições especiais da revista Architectural Review editada por Nikolaus Pevsner e posteriormente editado como um livro de Commonwealth Architecture. O guia técnico mais completo sobre Arquitetura Tropical foi, provavelmente, o manual compilado de notas de aula e opiniões de ex-alunos de Koenigsberger, que lecionou sobre o clima no Curso de Arquitetura Tropical (Roux, 2003). Os governos coloniais deram algum apoio institucional aos arquitetos através do trabalho de Estações de Pesquisa da Construção. No entanto, outra fonte de apoio foi a de empresas envolvidas na fabricação de bens utilizados na construção de edifícios. Apesar deste apoio o material que realmente chegou aos praticantes foi considerado como inadequado às necessidades dos arquitetos em países estrangeiros. A prática da arquitetura tropical foi sempre desafiadora. Os arquitetos que estudaram e trabalharam na Grã-Bretanha eram confrontados com condições físicas e intelectuais muito diferentes em locais como a África Ocidental. As viagens internas levavam dias, a comunidade de expatriados era pequena, e os conselhos muitas vezes difíceis de obter. Outros profissionais, em particular engenheiros, desempenham papel importante na disseminação de conhecimentos técnicos entre os praticantes (Roux, 2003). Apesar das descontinuidades entre os discursos da arquitetura no início do século XX e na metade do mesmo século, a continuidade entre estes discursos que se manteve foi a relação recíproca entre arquitetura e clima. Nos finais de 1950, o objetivo da arquitetura tropical tornou-se o de alcançar o máximo de eficiência de recursos e energia. Desde a sua criação nos anos 30 até aos anos 50, a arquitetura tropical desenvolveu-se e circulou através das redes de conferências51 mundiais; […] não só nas capitais imperiais como Paris, Lisboa, Washington D.C., e Londres, mas também nas antigas colónias e nas já existentes, tais como, India, Uganda, Nairobi. A arquitetura tropical desenvolveu-se ao longo das redes inter-impérios, intra-coloniais e transnacionais. Estas incluíram a troca de conhecimentos de uma colónia para outra – […], ideias desenvolvidas na Índia foram divulgadas em África (Baweja, 2008).

3.4.

Arquitetura tropical e sustentável – relação e aspetos a considerar na conceção de projetos sustentáveis.

A mudança da abordagem climática da arquitetura tropical para a abordagem ambiental da arquitetura sustentável (integrando a dimensão ambiental) baseou-se no desenvolvimento da ciência ambiental, o que gerou novos significados para o clima e a arquitetura. A arquitetura sustentável e a

51

A primeira conferência sobre arquitetura tropical foi organizada em Paris sob a presidência de Henri Prost and Marshall Lyautey. A subsequente foi organizada pela Federação Internacional de Habitação e Planeamento e teve lugar no México em 1938. Estas conferências entre guerras serviram como fórum de trocas de ideias entre arquitetos e planeadores coloniais.

36

tropical prescrevem os mesmos significados, incluindo a conservação da energia, a maximização de recursos, e a minimização dos desperdícios, para a alcançar fins aparentemente diferentes (Baweja, 2008). Pode parecer à primeira vista que, a arquitetura sustentável e a tropical, são concetualizadas de forma divergente na medida em que o que está em causa é a relação entre o corpo e o ambiente. A principal ideia da arquitetura sustentável é proteger o ambiente do corpo, concebendo o corpo como um consumidor voraz de recursos naturais e como um agente de processos ambientais destrutivos irreversíveis. O principal objetivo da arquitetura tropical, contudo, era proteger o corpo do clima tropical. Reconhecidamente, o impacte dos processos humanos no ambiente não foram abertamente articulados na arquitetura tropical – ao invés disso, a conservação dos recursos e energia foram fulcrais. Contudo, isto significa que as preocupações ambientais estavam implicitamente inseridas na prática da arquitetura tropical (Baweja, 2008). As teorias da arquitetura tropical foram desenvolvidas para resolver a escassez de recursos nos trópicos “pobres”, mas uma vez que a arquitetura tropical evoluiu para o paradigma do desenho como resposta ao clima, a conservação da energia foi praticada mesmo em lugares onde havia abundante disponibilidade de recursos para a construção, a energia, e bem-estar (Baweja, 2008). O ambientalismo depende da relação dialética entre o corpo e o ambiente, os processos humanos criam impactes no ambiente, e a qualidade do ambiente afeta a saúde do corpo, o bem-estar, e a sobrevivência. O receio de estarmos rodeados por um mar de produtos químicos tóxicos disseminou-se na consciência pública no final de 1970. As ansiedades acerca do impacte, no corpo humano, da poluição do solo, do ar, da água com pesticidas e químicos trouxe as preocupações ambientais à esfera pública. O impacte da toxicidade dos materiais de construção tais como os asbestos, os fumos tóxicos das pinturas, a qualidade do ar interior sobre o corpo constitui um corpus significante de conhecimento no campo da arquitetura sustentável (Baweja, 2008). Contudo, a conceção da arquitetura como “abrigo” que protege o corpo do clima é uma categoria inquestionável, e estável na arquitetura tropical. Independentemente de os arquitetos tropicais terem percebido a relação entre o clima e as culturas como causal e contingente, eles definiram unanimemente o clima como uma variável estável e quantificável que era uma dada caraterística de um lugar e do qual o corpo precisava de ser protegido através da arquitetura (Baweja, 2008). Por contraste, no discurso ambiental, o clima é fenómeno vulnerável e instável sujeito a mudanças por causa dos processos humanos, tais como o aquecimento global devido aos excessivos gases de efeito de estufa. Os edifícios produzem uma quantidade significante de gases de efeito de estufa através da queima de combustíveis fósseis e, portanto, contribui para as alterações climáticas. O discurso da arquitetura sustentável refere a reciprocidade entre arquitetura e clima. Com um desenho sustentável efetivo, as alterações climáticas ambientais podem ser controladas e a arquitetura sustentável ainda preenche as suas funções de origem como abrigo. A equidade na distribuição dos recursos naturais é um dos objetivos do desenvolvimento sustentável e, portanto, da arquitetura sustentável (Baweja, 2008).

37

O ponto de dissonância d mais significcativo entre arquitetura a trropical e a arrquitetura su ustentável parece sser a visão da arquitetura a sustentáve el sobre a equidade socia al. A lógica ccolonial da arrquitetura tropical implicaria nu um padrão de d distribuiçã ão imperial do d consumo o de energiaa e recursos – isto é, o nos trópico os se encora ajava a minim mização do consumo c de energia, as forças imperiais conenquanto sumiam energia bara ata e recurso os naturais s em nenhuma a inibição (Baweja, 20088). A arquitetura a tropical evoluiu para o paradigma da conserva ação da eneergia que foi aplicada quer na metrópole quer q nos tróp picos. A susttentabilidade e clama por uma u justiça ddistributiva no n consuecursos atravvés da atenu uação do fos so entre as nações n ricas s e pobres (B Baweja, 2008 8). mo de re F Face ao exp posto é de realçar que na a conceção de d projetos/construções ssustentáveis, em particular pa ara o caso de d Angola, há que ter em m conta os seguintes s asp petos: localizzação, forma a e orientação; so ombreamentto; ventilação o52, iluminaçã ão natural; entre e outros (Guedes, ( et aal., 2011). A seleção do o lugar, a forma e a orien ntação do edifício são as primeiras oppções a cons siderar para a otimização da a exposição ao a trajeto so olar e aos ven ntos dominantes. Num cllima quente como o ola, é essenccial que a imp plantação da as casas tenh ha em consid deração o reegime de ven ntos, para de Ango uma ven ntilação eficie ente, e conse equente mel horia do con nforto na habitação (Gueddes, et al., 20 011).

Figura 1 15 – Ilustraçã ão de uma in ncorreta impllantação face e a exposição solar e as chuvas (acim ma) e de mplantação (em baixo) correta im Fonte: (G a 2011) Guedes, et al.,

52

Num cllima quente e húmido, é imp portante asse gurar uma ventilação contín nua é mantidaa através do edifício.

38

Figura 16 – Orientação correta, considerando o regime de ventos (Guedes, et al., 2011)

Em termos de forma do edifício, a configuração e o arranjo dos espaços internos, de acordo com a função, influenciam a exposição à radiação solar incidente, bem como a disponibilidade de iluminação e ventilação natural. Em geral, um edifício compacto terá uma superfície de exposição relativamente pequena, ou seja, um baixo rácio superfície/volume. Para as pequenas e médias construções, esta situação oferece vantagens para o controlo de trocas de calor através da envolvente do edifício. A geminação dos edifícios oferece também vantagens; ao diminuir a área de exposição solar, são reduzidos os riscos de sobreaquecimento (Guedes, et al., 2011).

Figura 17 – Orientação dos edifícios [em planta] e a influência dos ventos. Fonte: (Fonte, 2006)

As novas zonas habitacionais devem também ser projetadas a uma distância conveniente da estrada de maior circulação, evitando ruídos e outros inconvenientes. As ruas devem ser estreitas e orientadas por forma a que pelo menos um dos lados tenha sempre sombra. Sendo o ambiente externo quente, a ventilação e o conforto dentro de casa são aspetos críticos. Nas zonas urbanas o impacto dos raios solares nos telhados e nas fachadas dos edifícios e a circulação da brisa fresca em

39

redor dos edifícios deve ser estudado. Caso contrário, poderá haver o risco da criação de um ambiente muito desconfortável no interior das habitações (Guedes, et al., 2011). A melhor orientação do edifício para reduzir os ganhos solares de calor será paralela ao eixo Nascente-Poente, uma vez que restringe a área de exposição das fachadas que recebem sol de ângulo baixo (Nascente e Poente) e permite o sombreamento da fachada que mais recebe sol de ângulo alto (Norte), beneficiando ainda de iluminação natural (Guedes, et al., 2011). Em remodelações, e em muitas situações urbanas onde a orientação está fora do controlo do projetista, uma orientação desfavorável pode ser compensada através do reforço de outras estratégias adequadas de controlo de ganhos solares, como o sombreamento ou o dimensionamento de janelas. A orientação correta dos espaços de permanência da habitação, em função do percurso do sol e do vento, é o ponto de partida para aproveitar estas energias renováveis. A insolação das fachadas é definida no processo de implantação do edifício e é decisiva no conforto dos espaços interiores; em regiões do hemisfério Sul, e onde a questão do sobreaquecimento é prioritária, como no caso de Angola, a melhor orientação é a Norte, sendo contudo aceitável uma variação até 45º (entre Nordeste e Noroeste). De acordo com simulações realizadas utilizando o software Ecotect, por exemplo para o caso de Luanda, uma ligeira variação (352º5’N) será a orientação ótima (Guedes, et al., 2011). Os quartos de dormir, quando orientados a Nascente, captam menos calor e durante a tarde são espaços mais frescos. Os alçados orientados a Poente devem ser protegidos para não haver radiação solar excessiva. A utilização de frestas e de pequenos vãos é uma medida eficiente. O dimensionamento das áreas envidraçadas deve ser compatibilizado com a orientação da fachada. O espaço da cozinha deve ser o mais fresco da habitação, por isso não pode ser orientado a Poente. Deve ser tida em conta a direção dos ventos dominantes para que quando soprem não arrastem os cheiros e o calor para o resto da casa (Guedes, et al., 2011).

Figura 18 – A proteção solar Fonte: (Fonte, 2006)

Em Angola devem ser previstos elementos de sombreamento (Figura 18) das áreas de envidraçado e paredes exteriores, por forma a evitar situações de sobreaquecimento, para haver conforto térmico no interior dos compartimentos. Estes elementos podem ser tectónicos: palas ou alpendres, elementos vegetais ou ainda elementos mistos. Os elementos vegetais junto a fachadas ou mesmo o revestimento de fachadas com elementos vegetais aumentam o conforto interior e funcionam como

40

um filtro dos raios solares (Figura 19). As paredes devem, quando possível, ter isolamento e ser suficientemente maciças para retardar a penetração de calor de dia e o frio à noite (Guedes, et al., 2011).

Figura 19 – A presença de elementos arbóreos e a sua importância quer na proteção solar, quer na ventilação Fonte: (Fonte, 2006)

4.

Medir e suportar a procura da sustentabilidade

4.1.

Indicadores de sustentabilidade

O termo “indicador” vem do verbo em latim indicare, que significa “divulgar ou apontar, anunciar ou tornar evidente publicamente, ou estimar ou pôr um preço sobre” (Hardi; Barg, 1997) (citado por Vosgueritchian, 2006). Um indicador é um parâmetro (propriedade medida ou observada) ou valor derivado de parâmetros que fornece informações sobre determinado fenómeno (OECD, 1993)53; [...] possui significado sintético e é desenvolvido para um objetivo específico. Essas duas caraterísticas fazem com que o seu significado transcenda as propriedades diretamente associadas ao valor do parâmetro e apontam as principais virtudes do uso de indicadores, que são: (1) Reduzir o número de medidas e parâmetros necessários para descrever determinada situação; (2) Simplificar o processo de informação através do qual os resultados dessas medidas chegam ao usuário final (da Silva, 2007). Os indicadores de sustentabilidade descrevem os impactes ambientais, económicos e sociais de edifícios para os proprietários, usuários dos edifícios e demais partes interessadas da indústria de construção. Tais métricas são necessárias para simplificar e comunicar informações complexas, e podem ser utilizadas para (ISO, 2005a)54: (1) Avaliação (contravalores de referência ou metas); (2) Diagnóstico (para apontar fatores que afetam a sustentabilidade); (3) Comparação (entre alternativas e edifícios); (4) Monitoramento (mudança ao longo do tempo) (da Silva, 2007). Tomando a definição de Holmberg et al. (1991)55, indicadores de sustentabilidade (ambiental) são medidas que relacionam a distância entre o estado atual (do ambiente) e o seu estado sustentável. Para se falar em indicadores de sustentabilidade, este patamar sustentável deve, portanto, ser 53

Citado por (da Silva, 2007) Idem 55 Idem 54

41

conhecido ou razoavelmente estimado. No entanto, são necessárias métricas em todos os níveis (Figura A.5 - Anexo A.3), pois podem não só apontar o caminho como também mostrar se e de que maneira ocorre o movimento da sociedade, do setor da construção, de uma organização e da produção de edifícios em direção às metas nacionais de desenvolvimento sustentável (SILVA, 2003)56. Os indicadores definidos em esfera de avaliação mais restrita (por exemplo, edifício ou ambiente construído) devem alinhar-se aos indicadores e metas de desenvolvimento sustentável definidos em âmbito nacional e mundial (da Silva, 2007). Para ser útil, um indicador deve, portanto, permitir uma explicação das razões das mudanças no seu valor ao longo do tempo, ser suficientemente simples na maneira com que descreve problemas frequentemente complexos, e usar definições comuns de componentes-chave e normalização para permitir comparações (COLE, 2002)57. Ao fornecerem as informações e realimentação necessárias para a tomada de decisões, esses indicadores permitem: (1) Facilitar o estabelecimento de metas e o desenvolvimento de padrões de referência para avaliação e monitoramento de desempenho (benchmarking); (2) Medir ou descrever o desempenho (aderência às metas estabelecidas) de programas, ações, edifícios e projetos, de diferentes agentes do processo de construção ou de diferentes regiões ou países; (3) Monitorar periodicamente o progresso em direção à sustentabilidade; (4) Propiciar comunicação com clientes e demais partes interessadas; (5) Derivar benefícios diretos de relato de sustentabilidade e de benchmarking do desempenho (SILVA, 2003)58

4.1.1. Pegada ecológica Criada por Willima Rees e Mathis Wackernagel a Pegada Ecológica, baseada no conceito de “capacidade de carga”, permite calcular a área de terreno produtivo necessária para sustentar o estilo de vida atual (Vosgueritchian, 2006, 30); ou seja, para produzir biologicamente todos os recursos consumidos por uma comunidade e para assimilar os seus resíduos, indefinidamente, [...] (Pinheiro, 2006). Foram escolhidas várias categorias de terrenos: agrícola, pastagens, oceanos, florestas, energia fóssil e áreas construídas; e de consumo: alimentação, habitação, energia, bens de consumo, transportes, etc. Neste cálculo, cada categoria de consumo é convertida numa área de terreno por meio de fatores calculados para o efeito. Para que uma pegada ecológica seja sustentável, ela terá de ser inferior à capacidade de carga do planeta e região, dependendo da escala de avaliação (Redefining Progress, 2006)59.

56

Idem Ibidem. 58 Citado por (da Silva, 2007) 59 Citado por (Vosgueritchian, 2006). 57

42

De acordo com o Quadro 2, é de realçar que, relativamente a este indicador Angola apresenta valores não muito preocupantes comparativamente ao continente africano e o resto do Mundo. No entanto, há que ter em atenção que se não houver uma preocupação relativamente ao incremento destes valores facilmente se atingirá uma situação insustentável. Quadro 2 - Comparação entre a Pegada Ecológica de África, Mundo e Angola60

4.1.2. Pegada de carbono A pegada de carbono é uma forma de medirmos o nosso impacte no meio ambiente61. Embora sejam as “estrelas” das medidas ambientais, as pegadas de carbono são apenas uma de uma série de formas de alterar o impacte de um produto no ciclo de carbono (o veículo para as trocas contínuas entre todas as coisas vivas), na geosfera e na atmosfera da Terra (Goleman, 2009). […] As pegadas de carbono medem quanto dióxido de carbono (CO2) nós produzimos no nosso diaa-dia. Uma ida ao trabalho de carro, um movimento do interruptor de luz ou até uma viagem de avião […], tudo isso utiliza combustíveis fósseis, como petróleo, carvão e gás. Quando os combustíveis fósseis são queimados, são emitidos Gases do Efeito Estufa (GEE), como o CO2, que contribuem para o aquecimento global. Com a crescente preocupação com o ambiente e o aquecimento global, muitas pessoas começaram a reduzir as suas emissões de carbono aumentando a eficiência energética de suas casas e utilizando menos o automóvel. Uma pegada de carbono é simplesmente um valor: geralmente um total mensal ou anual de emissão de CO2 medido em toneladas62. A maioria das pessoas tenta reduzir a sua pegada de carbono, mas outras têm como objetivo apagá-la completamente. Quando as pessoas tentam a neutralidade de carbono, elas cortam as suas emissões o máximo possível e compensam o restante. As cotas de compensação ou neutralização de carbono (carbon offsets) permitem que se pague para reduzir os gases do efeito estufa global total em vez de fazer reduções radicais por conta própria. Quando se compra um certificado de compensação, está-se a financiar projetos que reduzem as emissões por meio do reflorestamento, modernizam centrais energéticas e fábricas ou aumentam a eficiência energética de prédios e transportes63.

60

Fonte: http://www.footprintnetwork.org/images/uploads/Ecological_Footprint_Atlas_2010.pdf http://www.pegadadecarbono.com/ 62 Os sítios na internet com calculadoras de carbono transformam informações fáceis de fornecer, como a quilometragem anual e o uso mensal de energia, em uma tonelagem de carbono mensurável. http://www.pegadadecarbono.com/ 63 Idem. 61

43

Algumas empresas começaram a incluir pegadas nos seus rótulos. Os rótulos de carbono apelam aos consumidores que entendem e calculam as suas pegadas de carbono e desejam apoiar produtos que façam o mesmo. Os rótulos estimam as emissões criadas com produção, embalagem, transporte e descarte de um produto. O conceito é similar às análises do ciclo de vida, o precursor mais intrincado das pegadas de carbono. As análises ou avaliações do ciclo de vida medem todos os impactos ambientais potenciais que um produto pode ter durante sua existência: elas são uma versão mais focada de uma pegada de carbono. As pegadas de carbono ajudam as pessoas a promover as mudanças necessárias para combater os problemas ecológicos do planeta. Como as pegadas quantificam um montante de carbono que aumenta ou diminui com base no uso de energia, elas permitem que as pessoas saibam que um novo carro híbrido realmente ajuda a diminuir as emissões64. Para valores relacionados com o contexto de Angola vide o Quadro 2 onde parte do carbono é considerada na pegada ecológica.

4.2.

Avaliação do ciclo de Vida

A avaliação do ciclo de vida (ACV, em inglês LCA, acrónimo da expressão Life-Cicle Assessment) foi, originalmente, definida pela SETAC, Society for Environmental Toxicology and Chemistry como um "processo para avaliar as implicações ambientais de um produto, processo ou atividade, através da identificação e quantificação dos usos de energia e matéria e das emissões ambientais; avaliar o impacte ambiental desses usos de energia e matéria e das emissões; e identificar e avaliar oportunidades de realizar melhorias ambientais" (Pinheiro, 2006). A avaliação inclui todo o ciclo de vida do produto, processo ou atividade, abrangendo a extração e o processamento de matérias-primas; a transformação, o transporte e a distribuição; o uso, a reutilização, a manutenção; a reciclagem e a deposição final. Esta definição foi posteriormente consolidada na série de normas ISO 14 000, nomeadamente a ISO 14 040 (1997) e a ISO 14 043 (2000). Por outras palavras, a ACV constitui o procedimento que permite analisar formalmente, a complexa interação de um sistema – que pode ser um material, uma componente ou um conjunto de componentes – com o ambiente, ao longo de todo o seu ciclo de vida, caracterizando o que se tornou conhecido como enfoque do "berço ao túmulo" (cradle-to-grave). A ACV parte da premissa de que todos os estágios da vida de um produto geram impacte ambiental e devem ser analisados (Anexo A.4A.4) (Pinheiro, 2006). A ACV pode ter diferentes níveis de abordagem conceptual, simplificada e detalhada (AEA, 1997), envolvendo abordagens, progressivamente, mais detalhadas passando dos aspetos qualitativos aos quantitativos. Esta análise também tem sido entendida de forma a incluir os custos, já que, até há pouco tempo, a maior parte dos edifícios projetados e construídos baseavam-se (CEETB, 2001) num critério simples, de ajustamento aos fins previstos e o correspondente custo de construção, em regra o mais baixo possível. Aspetos como a operação e os custos de manutenção, bem 64

Idem.

44

como os impactes globais da construção, têm sido menos considerados. Em alguns países, os sistemas fiscais tendem a favorecer custos de capital baixo, face a elevados custos de manutenção. Em muitos casos, os custos dos serviços e operações das construções, durante o seu ciclo de vida, excedem os custos iniciais. Os contributos e participação da ACV (Centre for Design, 2001), em cada momento do desenvolvimento dos edifícios e materiais, são diferenciados e abrangem a fase inicial de pré-avaliação e a fase de projeto, chegando até ao seu fim de vida, para eventual demolição. Os possíveis contributos da ACV em cada momento do ciclo de vida (Centre for Design, 2001) podem ser os seguintes: Fase de Ideia e Conceito, Conceção (Fase 2), Construção do Edifício (Fase 3); Operação (Fase 4a); Renovação (Fase 4b); Fim de vida (Fase 5) (Quadro A.6 - Anexo A.4) (Pinheiro, 2006). Nos ambientes construídos naturais, as ACV têm demonstrado os aspetos onde é necessária uma intervenção ou a escolha de soluções, como por exemplo, os designados telhados verdes, como uma solução viável para ter em conta questões como o aumento do escoamento superficial, o efeito das ilhas de calor urbanas, a deterioração da qualidade do ar e água e as perdas de habitat e biodiversidade, enfrentadas pelos centros urbanos. A perspetiva de avaliação dos custos no ciclo de vida, mostra, por exemplo, que os benefícios económicos dos telhados verdes podem compensar os custos iniciais, pois examina as implicações, ao nível de investimento, entre ter um telhado verde em comparação com um telhado convencional plano, calcula e compara os custos de ciclo de vida dos jardins nos telhados e dos telhados planos convencionais e, ainda, incorpora esses benefícios, considerando os custos energéticos nos custos do ciclo de vida. Nos edifícios, a aplicação mais sistemática que tem sido efetuada no âmbito da ACV é conceptual, embora, crescentemente nos materiais e, pontualmente, nos edifícios, cada vez mais existam abordagens simplificadas e até detalhadas (Pinheiro, 2006). O ciclo de vida das construções inicia-se na conceção e perpetua-se até à desativação ( (Figura A.6 – Anexo A.4). A fase de construção está, no geral, associada a períodos mais reduzidos (meses), face à fase de operação (anos). Refira-se que a maioria das infraestruturas e edifícios projetados na atualidade, tem um tempo de vida superior a 40 anos e alguns dos edifícios e estruturas existentes podem ultrapassar, ou já ultrapassam, os 100 anos. Isto significa que as estruturas construídas têm impactes com efeitos muito duradouros, quer a nível dos consumos, quer na acumulação dos materiais, quer ao nível das emissões e cargas poluentes, cujos efeitos ambientais importa considerar (Pinheiro, 2006). Nesse contexto, os efeitos ambientais das atividades construtivas decorrem não só do ato de construir, mas também da operação das estruturas construídas (incluindo a sua manutenção) e até da sua desativação (cada vez mais referida como "desconstrução"), sendo os seus efeitos (impactes) diferenciados em cada uma das fases consideradas (Pinheiro,2006). No entanto (Silva, 2004)65, a ACV, consoante a sua profundidade, abrangência e a quantificação de todos os impactes envolvidos num sistema, pode facilmente tornar-se complexa, cara e muito

65

Citado por (Pinheiro, 2006)

45

extensa, o que se apresenta como a principal limitação do emprego dessa metodologia na sua forma mais pura. A sua intensidade em dados, no caso dos edifícios, revela-se por vezes uma tarefa complexa e de difícil aplicação na realidade, destacando-se a importância da definição da unidade funcional (de comparação), dos limites da análise e das bases de dados (Pinheiro, 2006).

4.3.

Sistemas de avaliação e certificação da construção sustentável

A crise petrolífera dos anos 70 originou, a nível internacional, o desenvolvimento de iniciativas de avaliação focadas nas questões energéticas, e também nos edifícios [...] (Pinheiro, 2006). Desde os finais dos anos 80 que, de forma sistemática, se efetua a avaliação de impacte ambiental de uma parte dos empreendimentos de construção, sendo estes associados a casos e situações concretas, nos quais se procura sistematizar medidas para reduzir os impactes ambientais negativos, compensar os irreversíveis [...] e valorizar os impactes positivos, constituindo, assim, um mecanismo muitíssimo importante de internalização ambiental, através do processo de decisão de Avaliação de Impacte Ambiental. Paralelamente, a preocupação com a avaliação das caraterísticas dos produtos e materiais fomentou a utilização de abordagens de ciclo de vida para estes componentes e materiais, de modo a suportar a escolha ambientalmente mais adequada, contribuindo, igualmente, para formatar algumas abordagens de avaliações do ambiente construído. Como resposta às crescentes questões ambientais surgiram, pontualmente, critérios, abordagens e guias para melhorar o desempenho ambiental da construção, bem como indicadores e processos para o avaliar (Pinheiro, 2006). Em muitos casos, constatou-se que os países que estavam a implementar projetos mais ecológicos e sustentáveis, não possuíam meios efetivos para verificar a efetiva dimensão ambiental dos mesmos, surgindo mesmo situações em que construções ditas ecológicas acabavam, na perspetiva de ciclo de vida, por ter maiores consumos energéticos do que as usuais (Silva, 2004)66. Com a difusão dos empreendimentos verdes, a medição e avaliação do desempenho desses empreendimentos passaram a ser imperativas para os rumos da arquitetura sustentável, servindo como parâmetro para a maximização dos benefícios de novos e antigos edifícios. Inicialmente, as edificações são analisadas por meio de checklists (listas de verificação) e/ou softwares específicos para a obtenção de informações gerais da edificação, tais como: projeto, local, orientação e configuração, energia e atmosfera, materiais e recursos, fachadas dos edifícios, ventilação, água, iluminação, sistemas mecânicos, qualidade ambiental interna, entre outras. Após o tratamento e sistematização dos dados, o edifício obtém uma classificação final. Estas formas práticas de avaliar e reconhecer a construção sustentável tornam-se cada vez mais presentes nos diferentes países, destacando-se, no que diz respeito aos que fomentam a construção sustentável, os sistemas de avaliação voluntários de mercado (Silva, 2004)67: BREEAM (Building Research Establishment Environmental Assessment Method) no Reino Unido; LEED TM (Leadership in Energy & Environmental Design do USGB) nos 66 67

Citado por (Pinheiro, 2006). Citado por (Vieira, et al., 2009).

46

Estados Unidos da América; NABERS (National Australian Buildings Environmental Rating System), na Austrália; Green Globes no Canadá; HQE (Haute Qualité Environnementale dês bâtiments) na França; CASBEE (Comprehensive Assessment System for Building Environmental Efficiency) no Japão; o internacional GBC (Green Buildings Challenge), entre outros (Vieira, et al., 2009). Até ao lançamento, em 1990, no Reino Unido, do sistema com o acrónimo de BREEAM (Building Research Establishment Environmental Assessment Method), poucas ou nenhumas tentativas (Cole et al, 2004)68 tinham sido feitas, no sentido de estabelecer um objetivo e meios compreensíveis de, simultaneamente, avaliar uma vasta gama de considerações ambientais contra critérios ambientais explicitamente declarados, oferecendo um sumário do desempenho ambiental para os edifícios (Pinheiro, 2006) Um salto qualitativo na avaliação ambiental, em particular dos edifícios, ocorre quando se começa a gerar um consenso entre investigadores e agências governamentais, de que a classificação de desempenho, associada a sistemas de certificação, cria mecanismos eficientes de demonstração e melhoria contínua. Nesta perspetiva, destaca-se a importância da adoção voluntária de sistemas de avaliação do desempenho e da possibilidade do mercado ser um impulsionador para elevar o padrão ambiental existente (Pinheiro, 2006). As circunstâncias conduziram ao aparecimento de (1) orientações ou guias para a construção sustentável, com critérios de maior ou menor definição (alguns deles baseados em análise de ciclo de vida ou outras metodologias de impactes ambientais), (2) processos de avaliação e verificação desses critérios, (3) especialistas para o apoio ao seu desenvolvimento e avaliação (ou auditoria), e por vezes até à integração em (4) processos independentes de certificação (avaliação efetuada por uma terceira parte. No geral, o sistema de avaliação ambiental dos edifícios constitui uma forma de avaliar o seu desempenho ambiental face a um conjunto de critérios explícitos dispondo-se, tipicamente, de três grandes tipos de componentes (Cole, 2003)69: (1) Conjunto declarado de critérios de desempenho ambiental, organizado de modo lógico numa estrutura apelativa; (2) Atribuição de um número de pontos por cada desempenho: ao atingir um determinado nível obtém-se uma pontuação no critério; (3) Modo de demonstrar a pontuação total através do desempenho ambiental do edifício ou unidade – Output (Pinheiro, 2006). Assim, a compreensão da abordagem metodológica destes três componentes dos sistemas de avaliação (Definição dos critérios, Escala de desempenho e Ponderação) são relevantes para a sua aplicação [...]. A avaliação implica (Cole, 1997; Brandon et al, 1997)70, uma análise retrospetiva, ou seja, uma verificação do desempenho de um edifício, ou dos seus subsistemas, em relação a um conjunto de critérios. As razões para a avaliação ambiental de um edifício são várias: por exemplo, fornecer um conjunto de critérios e objetivos para que os proprietários, projetistas ou construtores, em busca de melhores desempenhos ambientais, possam demonstrar esse esforço e comunicá-lo a pos-

68

Citado por (Pinheiro, 2006). Citado por (Pinheiro, 2006). 70 Idem. 69

47

síveis inquilinos ou outros interessados. A sua efetivação pode ocorrer em dois tipos de base, apenas num critério ou em multicritérios (Pinheiro, 2006). A revisão (Boonstra & Pettersen, 2003)71, efetuada em 2003, sobre os instrumentos existentes para a sustentabilidade nos edifícios (no âmbito da W100 da CIB), demonstrou que o número de países que estão a desenvolver e a implementar os instrumentos e os métodos de avaliação para os edifícios está a aumentar; que as versões mais recentes destes instrumentos abordam os aspetos ambientais, não só na fase de projeto, mas também na fase de operação; e que os critérios considerados focam cada vez mais as decisões do projeto e da gestão. A área de avaliação do desempenho ambiental dos edifícios amadureceu, notavelmente, depressa, desde que o BREEAM foi introduzido, tendo, nos últimos quinze anos, ocorrido um rápido aumento no número de sistemas de avaliação da construção de edifícios em uso em todo o mundo, das suas versões e até mesmo na sua aplicação e procura, consolidando as suas caraterísticas e aplicabilidade (Pinheiro, 2006).

71

Idem.

48

4.4.

LiderA – Sistema Voluntário de Avaliação da Construção Sustentável72

4.4.1. Princípios globais O LiderA – Sistema de avaliação da sustentabilidade, é uma marca registada portuguesa, que pode ser (1) utilizado desde logo no apoio à procura soluções em fase de projeto e plano, (2) na avaliação do posicionamento da sustentabilidade, (3) no caso de ter um nível de bom desempenho comprovado pode ser dado o reconhecimento (para planos e projetos) ou a certificação (empreendimentos em construção e operação) por esta marca. A primeira versão V1.02 (disponibilizada em 2005) destinava-se sobretudo ao edificado e ao respetivo espaço envolvente. Contudo, face às aplicações efetuadas, foi desenvolvida uma versão 2.0 que alarga a possibilidade de aplicação do sistema, não apenas ao edificado, mas igualmente ao ambiente construído, incluindo a procura de edifícios, espaços exteriores quarteirões, bairros, zonas e os seus utentes numa ótica de comunidades sustentáveis. O sistema já foi utilizado, desde 2005 em diferentes tipologias de projetos e por diferentes agentes, tendo certificado empreendimentos desde a fase de plano e projeto até à de operação. O sistema é referenciado e reconhecido por diferentes entidades, [...]. O sistema LiderA assenta no conceito de reposicionar o ambiente na construção, na perspetiva da sustentabilidade, assumindo-se como um sistema para liderar pelo ambiente, estando organizado em vertentes que incluem áreas de intervenção, que são operacionalizadas através de critérios que permitem efetuar a orientação e a avaliação do nível de procura da sustentabilidade. A missão do LiderA é contribuir para criar, apoiar a gestão e certificar os ambientes construídos sustentáveis, suportando assim a procura de comunidades sustentáveis.

Figura 20 – Esquema de vertentes e áreas do Sistema LiderA (Fonte: www.lidera.info) 72

www.lidera.info

49

4.4.2. Vertentes e áreas73 Para o LiderA a procura de sustentabilidade nos ambientes construídos assenta desde logo em seis princípios a serem adotados, os quais abrangem as seis vertentes consideradas no sistema. Os princípios sugeridos para a procura da sustentabilidade são os seguintes:

Princípio 1 – Valorizar a dinâmica local e promover uma adequada integração; Princípio 2 – Fomentar a eficiência no uso dos recursos; Princípio 3 – Reduzir o impacte das cargas (quer em valor, quer em toxicidade); Princípio 4 – Assegurar a qualidade do ambiente, focada no conforto ambiental; Princípio 5 – Fomentar as vivências socioeconómicas sustentáveis; Princípio 6 – Assegurar a melhor utilização sustentável dos ambientes construídos, através da gestão ambiental e da inovação. As seis vertentes subdividem-se em vinte e duas áreas: 

Integração local, no que diz respeito ao Solo, aos Ecossistemas naturais e Paisagem e ao Património;



Recursos, abrangendo a Energia, a Água, os Materiais e os Recursos Alimentares;



Cargas ambientais, envolvendo os Efluentes, as Emissões Atmosféricas, os Resíduos, o Ruído Exterior e a Poluição Ilumino-térmica;



Conforto Ambiental, nas áreas da Qualidade do Ar, do Conforto Térmico e da Iluminação e acústica;



Vivência socioeconómica, que integra o Acesso para todos, os Custos no ciclo de vida, a Diversidade Económica, as Amenidades e a Interação Social e Participação e Controlo;



Condições de uso sustentável que integra a Gestão Ambiental e Inovação.

4.4.3. Critérios e níveis de desempenho74 No sistema, para orientar e avaliar o desempenho, existe um conjunto de critérios que operacionalizam os aspetos a considerar em cada área. Estes critérios dispõem de diferentes níveis de desempenho (1 a 10 ou superior) evoluem com a tecnologia, permitindo assim dispor de soluções ambientalmente mais eficientes. No entanto, os critérios e as orientações apresentadas pretendem ajudar a selecionar, não a melhor solução existente, mas a solução que melhore, preferencialmente 73 74

www.lidera.info Idem.

50

de forma a significativa a, o desempenho existen nte, também numa persp petiva económ mica. Para cada c tipologia de utilização e para cada crritério são de efinidos os níveis de desempenho coonsiderados (ou limiae permitem in ndicar se a solução s é ou não sustenttável. res), que A parametrizzação para cada c um dele es segue, ou a melhoria das d práticas existentes, ou o a referência aos valores de d boas práticas, tal com mo é usual nos n sistemas s internacionaais. Os níve eis de deho são numé éricos que do ponto de vvista de com municação sã ão transform mados em cla asses (de sempenh G a A++ ++). Os limia ares75 são de erivados a pa artir de três pontos de referência. O primeiro as ssenta no desempe enho tecnoló ógico mais utilizado, u pelo o que a prática construtiv va existente é considera ada como nível usu ual (Classe E). E No segun ndo nível o m melhor desem mpenho deco orre da melhhor prática co onstrutiva viável à data (Classe e C, B e até é A), o tercei ro assenta na n definição do nível de sustentabilid dade eleutral ou rege enerativo (Cla asses A++). Decorrentes s desta análiise são estab belecidos vado, procura de neu da utilização os níveis de e desempenh ho a serem atingidos. a para cad P Para o sistem ma LiderA o grau de susstentabilidade por área é mensuráveel em classes s de bom desempe enho cresce entes: desde a prática (E E) a classes C (superior a 25% à práática), B (37,5 %) e A (50% ou u fator 2). Na a melhor clas sse de desem mpenho existe, para além m da classe A A, a classe A+, A associada a u um fator de melhoria de 4 e a classe e A++ associada a um fator de melhooria de 10 face à situação iniccial considerada, ou até mesmo m A+++ + que catego oriza uma sittuação regennerativa.

Figurra 21 – Classses de desem mpenho amb biental (Fonte e: www.liderra.info)

75

Estes limiares são ajjustados a cada uso e pode em ser prescrritivos (indican ndo a solução a considerar por exemplo 1m2 d de painel sola ar para águas quentes saniitários) ou de desempenho o (% de m3 dee água quente e sanitária produzida a por energiass renováveis o que permite ser fornecido de pela energ gia solar, biom massa ou outrra). Assim, existe um m quadro para cada um dos usos que parrticulariza quais são os níveis que atingem m as várias cla asses.

51

4 4.4.4. Pon nderação N No geral, de entro de cada a área os cri térios dispõe em de igual importância pelo que o seu s agrupara cada u pamento o permite a classificação c uma das 22 áreas. Para obter um vaalor agregado o, a classificação o final conjug gada é obtida através da a ponderaçã ão das 22 áre eas. Para o efeito, atrav vés de inquirição e consenso,, foram obtid das as ponde erações para a cada uma das d áreas, seendo a área de maior ncia a Eficiên ncia nos Con nsumos (17% %), seguida da d Água (8%) e do Solo ((7%). (Anexo o A.5). importân A contabiliza ação por verttentes posici ona como mais m relevante e os recursoss com 32% do d peso, seguido da vivência socioeconóm mica (19%), cconforto amb biental (15 %), % integraçãoo local (14% %), cargas ais (12%) e por p fim a ges stão ambienttal (8%). ambienta

Figura 22 – Pondera ação por vertentes na verrsão 2.076

4 4.4.5. Aplicação do o Sistema Lidera

O sistema prroposto (Pinh heiro, 2005)777 dispõe de diferentes po ossibilidadess de aplicaçã ão: plano, projeto e gestão do ciclo de vid da (construçã ão, operação o, reabilitaçã ão, renovaçãão, restauro e fim de vida) ten ndo em vista permitir o ac companham mento nas dife erentes fases de desenvvolvimento do o ciclo de vida do e empreendim mento desde a conceção à construçã ão, operação, reabilitaçãoo e até à desconstrução. A a aplicação do o LiderA é vo ocacionada para abrang ger as difere entes escalass espaciais, desde a escala u urbana (zona as, bairros), até aos ediffícios e aos materiais. Pelo P que devve ser definido clara76 77

www.lid dera.info idem

52

mente qual é a intervenção a ser abrangida, em que fase se encontra e qual é o objetivo da aplicação LiderA. O sistema LiderA pode ser utilizado para desenvolver os planos, projetos e procura de soluções construtivas sustentáveis na fase de obra, sendo particularmente relevante a sua aplicação desde logo na fase de conceção do mesmo. Desde o seu início, ou seja desde a sua ideia e planeamento, o empreendimento deve adotar uma política ambiental (ou evidenciar a sua implementação), a qual deve ser adequada ao empreendimento e suas especificidades ambientais, considerando os princípios de procura da sustentabilidade atrás referenciados. Na fase inicial de cada projeto, o dono da obra, sendo o responsável pela encomenda das operações e pela celebração do respetivo contrato de adjudicação, define as caraterísticas, condições e soluções que se pretendem implementar nos empreendimentos. Ao nível do plano devem ser evidenciados os princípios da abordagem, que devem ser definidos numa lógica de Política. Como critérios de comparação neste nível foram tidas em consideração a Agenda 21 e as orientações de sustentabilidade presentes no regulamento geral das edificações, traduzidos nos seguintes princípios: fomentar a adequada localização e integração ambiental, a eficiência nos consumos e gestão dos fluxos, um reduzido impacte das cargas ambientais, um adequado conforto, a adaptabilidade socioeconómica, uma consistente gestão ambiental e uma procura proativa da inovação (Anexo A.6A.6). Ao nível do programa preliminar, este deve discriminar as intenções do promotor para que estas fiquem delineadas no sentido de procurar o bom desempenho na procura da sustentabilidade do empreendimento. A estratégia inicial deve ser orientada segundo os princípios do sistema LiderA que se baseiam nas vertentes: integração local, recursos, cargas ambientais, conforto ambiental, vivências socioeconómicas e gestão sustentável. A abordagem preliminar, embora ainda não formalize o projeto, deve conter para cada uma destas vertentes os princípios que irão regularizar todo o projeto nas seguintes fases e que devem ser tidos em conta ao longo de todas as etapas de licenciamento. Esses princípios são os seguintes: Prever a valorização da dinâmica local e promover uma adequada integração; Fomentar a eficiência no uso dos recursos naturais; Reduzir o impacte das cargas ambientais (quer em valor, quer em toxicidade); Assegurar a qualidade do ambiente, focada no conforto ambiental Fomentar as vivências socioeconómicas sustentáveis. O nível de projeto assenta na aplicação dos princípios e na procura dos níveis de desempenho viáveis para a situação específica. Esta é a fase da definição das soluções e respetivos níveis de desempenho, os quais devem ser comparados com os referenciais de sustentabilidade, face ao seu desempenho para os vários critérios. À medida que se dispõe de maior pormenor, do estudo prévio ao projeto de execução, as medidas prescritivas devem evoluir para complementar as mesmas com os respetivos níveis de desempenho. O nível de projeto assenta na aplicação dos princípios e na procura dos níveis de desempenho viáveis para a situação específica. Esta é a fase da definição das soluções e respetivos níveis de desempenho, os quais devem ser comparados com os referenciais de sustentabilidade, face ao seu desempenho para os vários critérios. À medida que se dispõe de maior pormenor, do estudo prévio ao projeto de execução, as medidas prescritivas devem evoluir para complementar as mesmas com os respetivos níveis de desempenho.

53

No caso do estudo prévio, importa aferir se as propostas (soluções) apresentadas seguem as estratégias inicialmente delineadas e se estão de acordo com os princípios delineados para as áreas do sistema LiderA (assegurando uma abrangência generalizada e o caminho para a sustentabilidade, que foi inicialmente definido e analisado no programa preliminar). Nesta fase de análise é importante analisar as opções estratégicas e de projeto efetuadas anteriormente, de forma a avaliar a sua compatibilidade com o programa pretendido, quer ao nível da aferição de custos (orçamento), quer ao nível da avaliação estratégica de procura da sustentabilidade. O processo de licenciamento abrange diversas fases de projeto e como desafio principal ambiciona-se que estas fases sejam também alvo de uma verificação relativamente ao seu desempenho ambiental e social, ou seja, ao seu nível de sustentabilidade. O LiderA, tem nesta abordagem um papel importante, uma vez que funciona como instrumento auxiliador que vai evidenciando, em cada passo do processo de licenciamento, as questões de desempenho mais relevantes a ter em consideração na elaboração dos projetos. No projeto de execução, deve ser verificada a pormenorização de soluções construtivas inicialmente propostas e delineadas quer no estudo prévio quer no projeto de licenciamento. Nesta fase é importante detalhar todos os elementos construtivos, bem como procedimentos e normas de execução. Soluções que requerem utilização de energias renováveis, recolha e aproveitamento de águas tendo em conta a redução de consumos energéticos e de água e uso de materiais certificados, são aspetos que requerem pormenorização, ao nível dos recursos. O nível da operação e funcionamento, a lógica é de apoiar a utilização e gestão sustentável assenta na boa utilização, tendo em vista assegurar os níveis de desempenho viáveis para a situação específica. Nesta fase, as soluções e respetivos níveis de desempenho podem ser comparados com os referenciais de sustentabilidade encontrados para ver qual é posicionamento e os eventuais modos de melhoria.

4.4.6. Certificação pelo sistema LiderA No caso de dispor de boas soluções pode, na fase de conceção, plano ou projeto, evidenciar as mesmas de forma prescritiva ou através do desempenho e caso se comprovem níveis de desempenho nas vertentes e áreas consideradas ou, globalmente, se atinja a classe C ou superior, pode ser reconhecido pelo LiderA. No caso da construção, ou com o edifício em funcionamento, a abordagem centra-se nas evidências efetivas existentes e se o processo de verificação permitir constatar que os níveis de desempenho nas vertentes, áreas ou globalmente atingem a classe C ou superior, pode ser certificado pelo LiderA (Figura 23).

54

Figura 23 3 – Certificad do Lidera (Fontte: www.liderra.info)

55

5 5.

Estudo de ca aso – Anállise de cas sos na cid dade de Lu uanda.

5 5.1.

Enq quadramento - A Re epública de d Angola e a cidadee de Luan nda

O território da d República a de Angola ffica situado na costa ociidental da Áffrica Austral,, a sul do equadorr e a norte do o Trópico de e Capricórnio o, entre os paralelos p 4° 22’ 2 e 18° 02’’ Sul e os meridianos 11º 41’ e 24º 05’ Lesste. Com a capital c em Lu uanda e dividido em 18 Províncias, a área total do d país é de 1 246 6 700 quilóm metros quadra ados (Km2), ttendo uma costa c marítim ma atlântica dde 1 650 quilómetros. A sua fro onteira terresstre é de 4 837 km. Os a assentamento os humanos em Angola ddesenvolvera am-se na sua maioria de form ma espontâne ea, isto é, s em projetos ou planos de d desenvol vimento previamente dos. Os projetos e estud dos de urba anização das s principais cidades surggiram depois da sua elaborad fundação o (MINUA, 2006).

gura 24 – Ma apa administrrativo de Ang gola Fig 78 (Fonte e: UN, Jan. 2004) 2

A As principaiss fontes de energéticas e e em Angola sã ão o petróleo o, a hidroeleetricidade e a biomassa. Apessar do enorm me potencial hidroelétrico o associado a um conjunto de rios ccaudalosos que atra78

Em (MINUA, 2006)

56

vessam o território, menos de 10% é explorado. Levantamentos efetuados durante o tempo colonial apontavam para um potencial na área da grande hídrica na ordem de 150.000 GW/ano, indicando que os 1.200-1500 GW/ano gerados hoje em dia representam menos de 1%. O fornecimento de energia elétrica faz-se apenas a uma pequena percentagem da população (atualmente cerca de 20%)79, fundamentalmente nos centros urbanos, e mesmo essa faz-se de modo intermitente, […] (cf. 2.3). Após a independência em 1975, em toda a extensão do território mas principalmente nas cidades do litoral - que ofereciam maior segurança e maior facilidade de acesso aos bens importados -, verificou-se uma pressão do crescimento urbano, acelerado pela movimentação dos deslocados de guerra no território, que não só não seguiu os planos de desenvolvimento urbanos elaborados antes da independência, como também não mereceu a devida resposta por parte das autoridades responsáveis pelo ordenamento e desenvolvimento territorial, sobrecarregando a capacidade das infraestruturas e dos serviços básicos. O quadro habitacional existente, sem manutenção adequada, sofreu um processo de deterioração e de decadência, ao mesmo tempo que foram proliferando assentamentos habitacionais subnormais - os musseques -, nas áreas periurbanas. As cidades experimentaram os efeitos adversos do rápido crescimento e das mudanças urbanas: congestionamento, desemprego, inadequação das infraestruturas de saneamento, poluição, insuficiência dos serviços sociais […] etc (MINUA, 2006).

5.2.

O Clima em Angola – Principais caraterísticas e as diferentes zonas climáticas.

O clima de Angola é fortemente influenciado por um conjunto de fatores, dos quais se destaca a latitude (de 6º a 18º), a altitude, a orografia, a corrente fria de Benguela e as bacias hidrográficas do Zaire, Zambeze, Kwanza, Kubango, Kuando e Kunene. De uma forma geral verifica-se em todo o país a existência de duas estações mais ou menos bem diferenciadas (MINUA, 2006): 

Uma, seca e fresca, denominada “cacimbo”, que vai de Junho a fins de Setembro;



Outra, a das “chuvas”, quente, que decorre de Outubro a fins de Maio.

Por vezes, em determinadas regiões, a estação das chuvas é dividida por um curto período de seca conhecido por “pequeno cacimbo” que pode ocorrer de fins de Dezembro a princípios de Fevereiro. A temperatura média anual mais baixa é de 15º-20ºC e regista-se na zona planáltica e ao longo do deserto do Namibe. A temperatura média anual mais elevada varia de 25º- 27ºC e ocorre na região da bacia do Congo e no filamento sub-litoral do Norte do País. A precipitação em Angola é influenciada pelo centro de altas pressões do Atlântico Sul, pela corrente fria de Benguela e pela alti-

79

MINUA (2006)

57

tude. A precipitação média anual decresce de Norte para Sul e aumenta com a altitude e distância do mar. A precipitação média anual mais elevada é de 1.750 mm e regista-se no planalto, e a mais baixa é 100 mm na região desértica do Namibe. O clima do planalto central norte é tropical húmido com uma precipitação média anual que varia de 1 250 a 1 750 mm. A sul do planalto o clima é tropical seco. Quanto ao litoral, a zona norte é húmida, baixando gradualmente em direção ao sul, onde o clima é semiárido, com precipitações médias anuais abaixo de 100 mm (MINUA, 2006) Angola enfrenta diversos problemas ambientais com origem na longa guerra civil, na generalização da pobreza, nos impactes negativos associados às atividades económicas, nomeadamente da atividade petrolífera, entre outros. A escassez de informação ambiental credível e atualizada, a insuficiente capacidade institucional da administração ambiental e a ineficácia dos processos de tomada de decisão política a todos os níveis, associado à falta de consciência e responsabilidade ambiental da população em geral, enfraquece a capacidade para enfrentar os atuais problemas do ambiente em Angola (MINUA, 2006). No que às alterações climáticas diz respeito, Angola ratificou a Convenção Quadro sobre Alterações Climáticas. Na fase atual de restabelecimento gradual e generalizado da paz em todo o território, é urgente que simultaneamente se proceda a uma exploração e gestão sustentável dos inúmeros recursos naturais angolanos, […]. Existe, latente, a preocupação de que o intenso crescimento rural e urbano que se tem seguido à restauração da paz no país se faça à custa de uma acelerada degradação dos recursos naturais (MINUA, 2006).

5.3.

A cidade de Luanda – enquadramento, clima e estrutura urbana

Luanda, cidade fundada por Paulo Dias de Novais e batizada como São Paulo da Assunção 80

de Loanda em 1575, cresceu inicialmente a partir do morro de São Miguel , sobranceiro à Ilha do Cabo e à Baía. Situa-se aproximadamente à 8º 49´ de latitude Sul e a 13º 13´ de longitude Este, e 81

atinge a altura máxima de 59,25 metros, com clima

que se pode classificar como «húmido sem

inverno», correspondente ao subtipo «clima de savana», e com ventos predominantes que sopram de sudoeste e nordeste, influenciados pela corrente marítima austral que passa ao longo da costa, denominada Corrente [Fria]82 de Benguela (Magalhães, 2009). A condição atlântica e a topografia em anfiteatro suave, marcada pelo morro da fortaleza de São Miguel e pela colina de Miramar, determinam a raiz da sua estrutura urbana e a organização, cuja denominação ainda hoje se mantém: a Cidade Alta e a Cidade Baixa (Magalhães, 2009). 80

Hoje onde se localiza o Museu das Forças Armadas [Nota do Autor]. «Apenas se distinguem duas épocas do ano: a do cacimbo e a das chuvas. A primeira, com início em meados de Maio, prolonga-se até meados de Setembro. A segunda, caraterizada por temperaturas elevadas, de fins de Setembro a princípios de Maio. As temperaturas máximas verificam-se de Fevereiro a Abril. A temperatura média de Luanda é de 24ºC», Luanda Edição da Direção dos Serviços de Economia – Secção de Publicidade, Litografia Nacional, Porto. 82 Nota do Autor. 81

58

A cidade de Luanda desenvolveu-se sempre em estreita relação com o mar. A Baixa estendese ao longo do imenso porto natural, conformado pela baía e pela Ilha de Luanda. Posteriormente, a cidade venceu o desnível e instalou-se na colina exposta aos ventos, construindo a Alta em solos secos arenosos, com vegetação escassa e total ausência de água. Mas logo desde a década de 50 Luanda assiste a um grande crescimento demográfico, que implicará um aumento significativo da construção e da consolidação urbana. Durante esta década, adquire progressivamente uma imagem de cidade moderna, assente nas premissas do Movimento Moderno e, particularmente, baseada nos princípios da Carta de Atenas (Magalhães, 2009). Com o Plano Diretor de Luanda, serão desenvolvidas as unidades de vizinhança, que assegurarão o crescimento da cidade para além do núcleo urbano consolidado. Destaca-se a Unidade de Vizinhança nº1 no Bairro do Prenda (1963 – 1965), grandes torres de habitação que se erguem como uma ilha no meio do musseque, um projeto de Fernão Simões de Carvalho, José Pinto da Cunha e Fernando Alfredo Pereira. Após a descolonização, o crescimento demográfico acentuado mantém-se em progressão geométrica. Os movimentos migratórios justificados pela guerra civil, […], tornam Luanda uma cidade densa sobrelotada e caótica. Por outro lado, os anos de guerra não permitem o investimento nas infraestruturas urbanas, nos equipamentos ou nos edifícios, o que força naturalmente a degradação da cidade e da sua arquitetura (Magalhães, 2009). É uma cidade cuja transformação decorre a uma velocidade inimaginável. Sobre as marcas da guerra e da sobrelotação por esta provocada (uma cidade planeada para quinhentos mil habitantes […]), o perfil de Luanda altera-se todos os dias; nascem torres douradas, crescem os novos bairros e condomínios em Luanda Sul, deitam-se abaixo algumas «ruínas modernas». Esta velocidade sente-se no trânsito caótico, no ritmo frenético das obras ou na pressa dos vendedores na rua (Magalhães, 2009). Assiste-se hoje, nesses novos tempos de paz, a um crescente investimento em infraestruturas quer na transformação urbana de Luanda, essencialmente assente na expansão da cidade para sul (Magalhães, 2009)

5.4.

Caraterísticas da arquitetura e da construção em Luanda – do passado ao presente (uma abordagem crítica)

Nesta abordagem, pretende-se realçar as transformações que a cidade sofreu, do ponto de vista da arquitetura e da estrutura urbana, quer pela sua reestruturação quer pela expansão e as implicações para a questão da sustentabilidade do espaço edificado, por alteração de alguns edifícios existentes, do ponto de vista energético e, implicitamente, no que a pressão sobre os recursos naturais diz respeito. É importante referir que: O Gabinete de Urbanização Colonial (ou do Ultramar) e, posteriormente, o Gabinete de Urbanização da Câmara Municipal desenvolverão planos gerais ou parciais que

59

assegurarão o crescimento da cidade, a qual atingiu o seu apogeu, enquanto cidade colonial, com o Plano Diretor de Luanda (1961 – 1962) (Magalhães, 2009). (Magalhães, 2009). Refira-se, a título de exemplo, a abertura de novos eixos estruturantes, como a passagem entre a cidade alta e a fortaleza de S. Miguel, favorecendo a ventilação e arejamento da baixa (Fonte, 2006). Vasco Vieira da Costa propõe, na sua tese de fim de curso, após um estágio em Paris no atelier de Le Corbusier, um Anteprojeto, um «Anteprojeto de uma Cidade Satélite para Luanda» (1949), em que compete a aplicação dos dogmas modernos à construção de uma cidade colonial é, certamente, paradoxal. Este arquiteto será um dos muitos recém-licenciados que, […], contribuirão significativamente para uma imagem de cidade moderna, com edifícios sobre pilotis, fachadas de expressão mais abstrata, marcadas por grelhas de betão, brise-soleil e palas de sombreamento, […] (Magalhães, 2009). Em Luanda, a obra de Vasco Vieira da Costa, discípulo de Le Corbusier, obedece aos princípios do mestre: mercado do Kinaxixe, as fachadas revestem-se de brise-soleil83, constituídas por lâminas verticais de um modo homogéneo84, e os pátios interiores encerram-se com uma delicada grelha rendilhada; no Ministério das Obras Públicas de Angola, o sistema de sombreamento das fachadas funciona como uma segunda pele do edifício, criando um forte efeito plástico e tridimensional. No edifício da Rádio Nacional de Angola, a homenagem à obra de Le Corbusier é também evidente: o desenho expressivo das grelhas em betão armado aparente remete para o Convento de La Tourette e para os projetos de Chandigarh. Uma grelha reticulada distanciada das fachadas laterais permite simultaneamente o sombreamento e a ventilação do seu interior; na fachada principal, orientada a poente, os brise-soleil são compostos por elementos em betão fixo, garantindo-lhe um caráter mais opaco e impenetrável. Tal como um abeto com as suas densas folhagens, um «arranha-céus» deverá ser protegido dos efeitos da luz e do calor (Magalhães, 2009). Tal como na utilização do cobogó85 brasileiro, observam-se nas cidades de Angola [...] edifícios de habitação ou equipamentos marcados por grelhas modulares em betão de diferentes desenhos, geometrias e texturas: é o caso do Sporting Clube de Luanda, pequeno edifício com uma clara influência da arquitetura brasileira, envolvido por densa grelha aberta, que provoca efeitos de luz e

83

O brise-soleil representa uma reinterpretação dos elementos de proteção do sol que Le Corbusier observa nas suas múltiplas viagens ao Norte de África e que justifica em La Maison des Hommes (1942): «O sol é ditador segundo os climas e segundo as estações. À frente do pano de vidro, os dispositivos podem ser instalados: O brise-soleil, fonte arquitetónica ilimitada, chave de uma nova riqueza arquitetónica.» 84 «Revestir um edifício com um brise.soleil nas suas quatro fachadas poderá parecer à primeira vista uma atitude totalitária ou um recurso meramente compositivo. Contudo, considerando a latitude de Luanda, é evidente que não é assim. [...] O edifício recebe a incidência direta da luz solar em todas as suas fachadas. No Verão o sol incide a sul; no Inverno a norte, durante a Primavera e o Outono a sul e a norte no decurso de um dia. Assim, num mesmo, repetidamente, é possível ver o sol iluminar o interior do mercado através das fachadas. [...] Também é verdade que o ângulo de incidência varia muito [...]. Assim, parece uma opção racional o edifício ser protegido por um sistema de lâminas verticais em todo o seu perímetro; sombreamento cuja eficiência se relaciona não com o ângulo de incidência vertical dos raios solares mas sim com a sua trajetória horizontal.» in Quintã, Maria Margarida Gonçalves, p. 86-87. 85 Denominação de uma grelha de betão de múltiplos desenhos e de produção industrial, criada numa empresa sedeada no Recife e que resulta da conjugação do nome dos seus criadores, o engenheiros Amadeu Oliveira Coimbra, Ernest August Boeckmann e Antônio de Góis.

60

sombra intensos e expressivos; A Residência de Estudantes, […], projetada por Vasco Vieira da Costa, [...]; Para além das grelhas em betão, procuram-se outros materiais que permitam o mesmo esquema de proteção natural e possibilitem outras expressões, como grelhas em tijoleira cerâmica ou grelhas metálicas, [...] (Magalhães, 2009). Outra saliência expressiva e marcante é a pala de betão utilizada com marcação de entrada dos edifícios como marcação da entrada dos edifícios e, […], como coroamento e sombreamento das coberturas. Louis Kahn, quando visita Luanda a propósito do seu projeto para o Consulado dos Estados Unidos em Angola, destaca exatamente a eficácia da dupla cobertura ou das palas de sombreamento como resposta energética ao clima tropical: «Durante a minha estadia em Luanda [...] outra coisa que me impressionou foi ver alguns edifícios cônscios do calor gerado pelas coberturas. Tinham extensas áreas [...] de separação entre o teto e a cobertura [...], com aberturas visíveis do exterior onde, entre os dois planos, a brisa poderia ventilar. E pensei como seria maravilhoso poder separar os problemas do sol dos problemas da chuva.» (Magalhães, 2009). Também Richard Neutra (arquiteto norte-americano de origem austríaca) influencia tanto a América Latina como África, […]. Em Angola a sua influência revelou-se na relação entre o interior e o exterior e na valorização dos espaços exteriores cobertos através do prolongamento das coberturas, assegurando desse forma uma proteção natural tanto do sol, como da chuva (Fonte, 2006). A interpretação das premissas do Movimento Moderno à luz da adequação dos edifícios às caraterísticas específicas dos climas quentes húmidos torna-se num dos fatores essenciais para entender a singularidade e a identidade da arquitetura moderna brasileira, que será naturalmente apropriada também nos territórios africanos. […] Trata-se de projetar um edifício, ponderando, através dos seus elementos tipológicos, formais e construtivos, sobre o modo correto de permitir a circulação de ar e proteger do sol e da chuva. «Nestas condições climáticas apenas a execução de alguns preceitos permite que as construções estabeleçam relações de concordância com o lugar e que se adequem corretamente ao comportamento do sol e dos ventos e às exigências críticas da humidade.» (Magalhães, 2009). Em comparação com o quadro atual no que diz respeito ao ambiente construído e dinâmica da cidade e devido ao acima exposto estas premissas alteraram de forma significativa: As caraterísticas gerais dos tipos de construção existente, quer em espaço urbano quer em espaço rural, podem-se dividir em tipologias de (1) construção consolidada em espaço urbano; (2) construção não consolidada em espaço urbano e (3) construção tradicional (Guedes, et al., 2011) No primeiro grupo inclui-se todo o edificado existente com caráter não provisório […]. Engloba, portanto, o edificado consolidado e de vários períodos de construção até à atualidade. Ao nível da habitação particular ou unifamiliar, os edifícios vão sendo mantidos, sofrendo por vezes algumas alterações, por exemplo nos seus revestimentos, que nem sempre são as mais adequadas. Os métodos construtivos seguem as disponibilidades do mercado, sendo os projetos bastante variados quanto à sua conceção (Guedes, et al., 2011). Este “boom” construtivo verifica-se principalmente ao nível das infraestruturas básicas de apoio (viárias, de saneamento e de abastecimento de água potável, gás e energia), da construção de

61

edifícios de escritório os (grandes superfícies, geralmente distribuídas s em altura), de edifícios de habioletiva, e de grandes ba airros residen nciais (geralm mente na pe eriferia dos ccentros urba anos). Os tação co edifícios de habitaçã ão compartic cipados pelo Estado são construídos s em tijolo, ccom estrutura a armada m madeira revestida r a chapa metá álica. São (pilares e fundaçõess) em ferro e betão, e cobertura em construçções simpless, apresentan ndo uma tipo ologia de ha abitação unifamiliar isoladda, de um piso, p variando enttre os dois e três quartos s (Guedes, e et al., 2011). E Em relação à construção o não conso lidada em es spaço urbano, onde vivee grande parrte da população,, em particular em áreas suburbanass, são ainda muito precárrias, com baiixos níveis de d habitabilidade, refletindo a pobreza dos s seus ocupa antes. São edificações e que q respondeem a uma ne ecessidante por parte da popula ação, sem q qualquer cará áter de perm manência ouu durabilidad de e com de urgen grandes carências em e termos de e infraestrutu uras de apoiio básicas – mas que vãão permanec cendo imas, formando o focos de insegurança ssocial, insalubridade e do oenças. A exxecução da habitação h plantada é norma almente execcutada pelo próprio p (auto oconstrução)), sem qualquer projeto, baseando-se e apenas no resulttado da prátiica e experiê ência que estte conhece.

Figura a 25 – Ocupa ação informa al: bairro suburbano Fonte: (G Guedes, et al., a 2011)

eriais mais uttilizados são o o tijolo, (de e adobe, cimento ou cerâ âmico), pedra ra, ou ainda materiais Os mate diversoss como pequ uenas pedras ou outros materiais aproveitados, […] para aaplicação nos s revestimentos de parede e pavimentos. Para as ccoberturas, são s utilizada as geralmentte chapas metálicas, m simplesm mente coloca adas sobre as a paredes. Por vezes os o vãos não têm portas oou janelas, e as divisões são o mínimas em quantidad de e dimensã ão. Sobre es sta questão é importantee referir que: Tornamse urgen ntes ações de d apoio a este e tipo de cconstrução, quer seja através de oriientação porr técnicos responsá áveis dada à auto-constrrução […]. É necessário um entendim mento de quee é possível construir igualmen nte com matteriais barato os, especialm mente os de origem loca al, mas atribuuindo condiç ções suficientes d de habitabilid dade e de hiigiene ao ed ifício. Basta por vezes uma correta aaplicação do os materi-

62

ais disponíveis, e o cumprimento de estratégias construtivas e arquitetónicas adequadas ao contexto […] (Guedes, et al., 2011). No que à construção tradicional diz respeito é de notar que: As construções tradicionais estão maioritariamente presentes em espaço rural. […] No que concerne às caraterísticas construtivas e materiais aplicados, […] os materiais mais utlizados – paus, caniços, colmo, madeiras, adobe e pedra, se encontram facilmente por todo o país, apesar de possuírem caraterísticas diferentes. José Redinha (citado em (Guedes, et al., 2011)), no seu livro – “A habitação tradicional Angolana – aspetos da sua evolução”, descreve os diversos tipos tradicionais de habitação, de acordo com a sua distribuição geográfica, etnográfica e aspetos construtivos – materiais, estrutura e métodos de construção. […] Estas edificações incorporam tecnologias construtivas que são o produto do conhecimento empírico de muitas gerações, que ao longo de séculos desenvolveram estratégias de adaptação ao meio ambiente, utilizando recursos locais – são assim uma importante referência para a prática atual de uma construção sustentável

Nos espaços suburbanos algumas construções seguem as tipologias

tradicionais, principalmente no que diz respeito à forma, mas são modificados alguns materiais aplicados, sendo por vezes esta alteração suficiente para um decréscimo no desempenho de conforto interior. Por exemplo, a utilização de chapas metálicas na cobertura nem sempre mostra ser uma boa estratégia, uma vez que ao ser aplicada sem qualquer isolamento adicional irá gerar situações de sobreaquecimento (Guedes, et al., 2011). A ocupação não autorizada de terrenos […], a alteração de fachadas e pavimentos utilizando materiais de construção com índices de absorção das águas das chuvas e reflexão dos raios solares diferentes dos materiais originais, têm contribuído negativamente para o conforto ambiental dos microclimas […] (MINUA, 2006). A crítica que aqui se faz na comparação entre o passado e o presente da arquitetura na cidade de Luanda não tem como intensão defender um revivalismo do passado mas, antes, chamar a atenção para a reflexão de Minnette da Silva86 (citada por (Tzonis, et al., 2001)) relevante para os tempos modernos, sobre as novas construções recentes [a serem edificadas nesta cidade]87: “It is essential for us to absorb what we absolutely need from the modern West, and to learn to keep the best of our on traditional forms. We have to think understandably in order to develop an indigenous contemporary architecture, and not to lose the best of the old that has meaning and value”. Ela passou a dizer que: “accepting the need to synthesize our past with the present technology, we need to examine our own roots and understand them before achieving a creative life – in literature, music, painting, education, society, and architecture”. 86

A mais recente, mais clara, mais crítica reformulação da arquitetura tropical foi feita pela arquiteta do Sri Lanka, Minnette da Silva. Ela é uma das mais importantes arquitetas com prática individual do período pós-guerra, tal como Lina Bo Bardi do Brasil. Da silva regressou ao Sri Lanka vinda da Architectural Association em Londres onde estudou arquitetura em 1949. Começou a sua carreira como arquiteta trabalhando para um dos arquitetos que se tornaria o mais importante dos “arquitetos tropicais” do período pós-guerra, Otto Koegnisberger, e permaneceu em intimidade com outros dois arquitetos, Jane Drew e Maxwell Fry. Ainda quebrou com a abordagem daqueles sobre arquitetura tropical. Para ela, uma arquitetura para os trópicos tem que ser mais do que só uma forma de controlo microclimática, apesar de também ser. Antes de 1950, da Silva estava consciente sua posição altamente original. Ela cunhou a frase para descreve-la: “modern regional architecture in the tropics” 87 Nota do Autor

63

Ela defendeu a sua posição afirmando: “As an architect I believe in and so cannot subscribe to copying the architecture of an era that is long past. As an architect I believe in building to suite our living needs in a living way, utilizing the most suitable modern and progressive means at our disposal, and on adopting these sound and fundamental principles of building of the past, which are as authentic today as before. It is from this that a beautiful and satisfying modern architecture can result”. À este propósito refira-se as “tentativas científicas de adaptação” (cf.3.3.1) em Angola na pretensão de construção de uma cidade tropical de expressão portuguesa, […], pois que, outras construções mais precárias88 [..], eram também construídas, em lugares estratégicos e utilizando as influências das construções tradicionais de Angola, os materiais naturais, numa miscigenação entre a arquitetura tradicional angolana e a portuguesa, que respondia adequadamente aos constrangimentos do clima especialmente difícil de suportar – o calor, a humidade, as chuvas, os insetos (Fonte, 2006). Isto não quer dizer que ela (Minnette da Silva) rejeitava os materiais tradicionais e as técnicas de ventilação em princípio. Por exemplo, ela sugeriu a utilização da terra compactada tradicional para casas de baixo custo, desde que combinada com técnicas de construção moderna. Entre os elementos que ela reteve no seu desenho historicista livre foi a varanda, aquela invenção tropical asiática, uma área sombreada separando o interior e o exterior, um pouco como uma imaterial, virtual nãoparede (Tzonis, et al., 2001) A par da varanda ela (Minnette da Silva) reteve a midula; “I considered the movement of air within the house as one of the primary concerns and was to achieve this with the utilization of splitlevels, midulas and stairwells situated in the center of the plan.” Por outras palavras ela aplicava o princípio de Venturi, permitindo nos seus esquiços “a possibilidade de se movimentar horizontal e verticalmente através da casa – […]” (Tzonis, et al., 2001). Para da Silva (citada por Tzonis, et al.( 2001)), assim como Mumford, a arquitetura tropical foi explicitamente ligada à questões da comunidade:

 “Our community and social needs should find regional expression in town plans, housing schemes and public buildings. What so often happen is that we copy the closed-in types of western building quite unsuited to our region, or adapt traditional architecture in an equally unsuitable way, forgetting that it is merely ludicrous to make them concrete now”.

Em Angola existem bons exemplos de arquitetura adequada ao meio ambiente em que se insere. Contudo, hoje em dia a prática de uma arquitetura passiva ou bioclimática, com preocupações ambientais e energéticas, necessita ainda de implementação. Embora as publicações existentes refiram extensamente os potenciais benefícios desta arquitetura, o seu uso é ainda muitas vezes mal compreendido, sendo erradamente considerado um risco, ineficiente, demasiado complicado ou caro.

88

De foro religioso, militar, administrativo ou comercial

64

Por exemplo, em muitas novas construções as preocupações de climatização são deixadas para engenheiros, que tendem a adotar o uso “seguro” do ar condicionado (Guedes, et al., 2011).

Figura 26 –Prédios com varandas encerradas e uso do ar-condicionado, em Luanda (mau exemplo de uso) Fonte: Autor

Figura 27 – Bom exemplos de soluções arquitetónicas em Luanda (grelhas de proteção do vidro e ventilação natural) Fonte: Autor

Esta reflexão crítica é, portanto, uma chamada de atenção para muitas das escolhas e opções que se têm adotado nas soluções arquitetónicas que se têm observado atualmente na cidade de Luanda, pelo que deve-se questionar sobre a sua aplicabilidade ao contexto climático económico e social, com prováveis repercussões no consumo de energia, logo, de recursos não renováveis. A Figura 28 ilustra um dos aspetos que merece profunda reflexão no contexto da cidade de Luanda.

65

Figura 28 – (a) Obsstrução da brisa b por edifíícios altos em m climas que entes e húmiidos (esquerrda); (b) Edifícios em e construçã ão na margin nal em Luand da (direita) (Fonte: (Fryy & Drew, 19 964) e Autor)

66

5.5.

Os casos de estudo – Aplicação do LiderA África às duas unidades habitacionais em Luanda.

5.5.1. Enquadramento Na sequência dos pressupostos referidos nos capítulos anteriores, no que a arquitetura sustentável e arquitetura tropical se referem, e dos seus princípios, o presente estudo de caso tem como objetivo analisar duas tipologias construtivas unifamiliares existentes, na cidade de Luanda – um apartamento e uma moradia –, relativamente à integração destes princípios e estratégias, utilizandose indicadores da construção sustentável do sistema LiderA África. Neste estudo, a avaliação feita às tipologias habitacionais tem relevância pelo facto de, para além de já ter decorrido algum tempo desde a sua construção, pretender-se aferir se nas mesmas os critérios propostos pelo sistema de avaliação da construção sustentável são verificados. De realçar que devido a dificuldade de obtenção de alguma informação relevante sobre as construções avaliadas, alguns créditos não foram verificados mas também porque muitos daqueles não constituírem práticas usuais, no que ao melhor desempenho sustentável se refere, da realidade estudada. No entanto, a avaliação incidiu sobre os que melhor se aproximam à realidade de estudo.

O Projeto NOVA VIDA Iniciado em 2001, resultado de investimentos públicos com objetivo de minimizar os problemas habitacionais dos funcionários públicos e da população em geral, o projeto Nova Vida89 foi erguido na sua primeira fase com habitações subdivididas em apartamentos do tipo T3 e vivendas do tipo T3 e T4. Trata-se de um projeto onde o Governo [de Angola] promove a construção e venda de habitação, […], num universo de mil quatrocentas e trinta e quatro casas com capacidade para alojar vinte mil habitantes. Devida a carência de casas em Luanda, o governo de Angola constrói o projeto Nova Vida para albergar a classe média angolana, e ex-militares90. Além das habitações, a vila residencial conta com escolas, centro de saúde, esquadra da polícia, centro comercial, bem como jardins públicos para lazer e terá um total de 24 quilómetros de arruamentos. O processo geral de construção das habitações na primeira fase, foi executado pela empresa Grupo Five91. Além da construtura sulafricana, outras empresas trabalharam no Projeto Nova Vida como a Habitar, […], a China Jiangsu, Somague92.

89

Localizado no município de Kilamba Kiaxi http://angolaecoisalinda.blogspot.com/2008/03/projecto-nova-vida-em-luanda-angola.html 91 Empresa Sul-Africana 92 A empresa Aureacongroup também. 90

67

Centro da cidade

Projeto Nova Vida

Figura 29 – Localização do projeto Nova Vida em relação ao centro da cidade (Fonte: http://maps.google.com/)

A primeira fase do Projeto Nova Vida compreendeu, igualmente, a construção de estruturas de bombagem e tratamento de água, tratamento de esgotos, […], e de 24 ml de conduta de água. O abastecimento de água é feito através de uma conduta da Empresa de Desenvolvimento Urbano (EDURB), proveniente de Kikuxi. O fornecimento de energia elétrica é assegurado pela construção de uma linha de 60 KVA a partir da subestação da Empesa Nacional de Eletricidade (ENE). Foi construída também uma subestação para assegurar a distribuição de energia93. O projeto criou alguns desafios incluindo a fonte e transporte de materiais de construção adequados, a operação da força de trabalho94 multinacional e multiligue, bem como o desafio de fornecer dicas in-situ para treinamento e acompanhamento. O Nova Vida é um exemplo pioneiro do que pode ser alcançado através de um grupo de trabalho, perícia e inovação. O projeto recebeu o prémio Concrete Society of Southern Africa´s Fulton for “Excellence in the Use of Concrete” em 200595. Terminada a primeira fase há mais de cinco anos, perspetiva-se construir na segunda fase, mil oitocentas e sessenta e duas habitações. Oferecer habitações compatíveis com à realidade cultural dos angolanos e baixar os custos de construção são os principais objetivos do governo.

93

http://www.aurecongroup.com/en/Projects/Government/Nova-Vida.aspx Realce para a inclusão de mão-de-obra local 95 http://www.aurecongroup.com/en/Projects/Government/Nova-Vida.aspx 94

68

Caraterísticas urbanas, dos edifícios e construtivas O empreendimento apresenta como caraterísticas urbanas o facto de estar implantado num terreno sem grandes declividades, quase plano, que outrora eram terrenos rústicos em zona periurbana. Como referido, o empreendimento contempla vários usos (espaços verdes, escolas, equipamentos públicos entre outros), alguns dos quais a serem implementados atualmente (Atrium Nova Vida - Anexo A.7), nomeadamente um centro comercial e a continuidade do projeto (fase 2) que contempla habitações e outros usos complementares. Em visita ao local, constatou-se que a implantação dos edifícios apresenta uma caraterística importante do ponto de vista da sustentabilidade que é a orientação dos mesmos (lado menor) na direção dos ventos predominantes (direção sudoestenordeste), aspeto que permite experimentar as brisas naturais, no exterior e no interior dos edifícios. Concomitantemente com este aspeto, a disposição dos mesmos, no terreno, apresenta-se “desfasada” de modo a se evitar a obstrução destas brisas. Nos interstícios entre eles estão construídos espaços verdes para recreio e lazer, e espaços para estacionamento de viaturas ao ar livre. Os edifícios apresentam como caraterística fundamental a forma de um trevo alongado, correspondendo cada “folha” a um apartamento; com quatro pisos acima do solo, são unidades construídas com preocupações de sustentabilidade e compreendem quatro apartamentos por piso. Para além da sua orientação (edifícios), têm uma composição formal em planta e elementos que potenciam a circulação de ar – hall entre os apartamentos “aberto” e aberturas superiores (Figura 34).

Figura 30 – Localização dos edifícios onde se situa o apartamento (Projeto Nova Vida) (Fonte: http://maps.google.com/)

Outro aspeto a realçar é que os apartamentos não têm paredes-meias entre si, aspeto que permite ter o hall, de entrada nos apartamentos, permanentemente ventilado. A volumetria que apresenta é a de um prisma regular, com muitas arestas verticais. A cobertura é de várias águas e tem como revestimento chapas metálicas do tipo caneladas com diversas cores (Figura 30) conforme o

69

edifício. No que as caraterísticas construtivas diz respeito é de realçar o betão armado como material predominante, que ao nível das ruas (calcetamento) e dos edifícios: The Nova Vida project, comprising 2.448 residential units, constructed using the group's patented precast building system96, Goldflex […]; With a shortage of materials and limited skills at Nova Vida, the precast concrete construction methods have proved to be ideal solutions. The controlled factory environment used during precasting ensures that high quality standards are maintained throughout the construction process97.

Figura 31 – Vista aérea da construção do projeto Nova Vida e uma das ruas com moradias construídas (Fonte: Autor) Apartamento Unifamiliar O apartamento98 objeto de análise é uma fração habitacional de tipologia T3, com uma área bruta privativa de cerca de 100 m2 (Anexo A.8), implantada no quarto andar de um edifício de quatro pisos (incluindo o rés-do-chão). Trata-se de um edifício cujo perímetro apresenta uma forma irregular cuja razão técnica, em nosso entender, assenta em pressupostos e princípios de sustentabilidade. O apartamento é composto por três quartos, duas casas de banho, uma sala comum, um cozinha com área de serviço e uma varanda. No que concerne aos materiais, o predominante é o betão armado com elementos modulares (pavimentos, paredes). Os materiais de acabamento são correntes, embora o apartamento apresente algumas caraterísticas de traça original conjugadas com obras de remodelação: no pavimento, nas janelas, nas quais se colocaram caixilharia de alumínio, e pintura nas paredes. Apesar de não se fazer uma descrição exaustiva das caraterísticas dos materiais empregues na remodelação efetuada (porque não foi possível apurar esses dados), é do nosso conhecimento que são habitualmente adquiridos em locais onde existe disponibilidade para comercialização, normalmente nos pequenos lojistas ou no mercado paralelo local.

96

The Brun pre-cast tank system – for which Group Five holds the sole South African licence – is ideal for the construction of reservoirs, silos, water treatment tanks and sewage plants in rural and remote areas. Fonte: http://www.engineeringnews.co.za/article/group-five-uses-brun-precast-system-in-angola-2003-11-12 97 Idem 98 Por questões e privacidade e segurança não é revelado o número do lote nem do apartamento.

70

Avaliação de Sustentabilidade – o apartamento Para análise do apartamento pelo sistema LiderA África, tomou-se como pressupostos a informação pesquisada e os dados observados no local. De realçar que alguns créditos foram atribuídos ao empreendimento, no seu todo, como necessidade de resposta às “questões” do sistema LiderA; os outros créditos dizem respeito ao apartamento, pelo que se procedeu a sua atribuição para verificação do cumprimento de determinada vertente/área. A seguir são apresentados os critérios e a fundamentação na sua avaliação para cada vertente:

Vertente: Integração Local

Valorização Territorial (A1) – este critério tem como classe de desempenho a C, porque no Projeto Nova Vida há uma intenção expressa de promoção de aglomerados urbanos compactos, isto é circunscrito a uma zona específica. De referir que foi edificado numa zona onde o uso do solo era destinado à agricultura (hortas e quintas) e em algumas situações degradado e não aproveitado de forma útil. Apresenta construções nos vazios urbanos, nas zonas degradadas ou abandonadas, como era o caso; De referir que promove a construção de redes urbanas infraestruturadas (redes de esgotos, telecomunicações, gás e água); Promoção da adoção de vários usos do solo simultâneos, onde se verifica a existência de mais de quatro usos.

Figura 32 – Vista exterior de edifícios do Projeto Nova Vida (Fonte: Autor)

Valorização ecológica (A2) – No que à valorização ecológica diz respeito a classe de desempenho obtida é B, pela satisfação dos seguintes requisitos: Interligação das zonas verdes através da continuidade por arborização e espaços verdes permeáveis. Destes últimos, verifica-se um contínuo em várias direções que permite as ligações entre espaços verdes ao longo dos quarteirões apesar de se verificar (Figura 30) algumas zonas menos bem tratadas.

Valorização paisagística (A3) – A valorização paisagística tendo em conta a verificação de aspetos referentes ao edificado e aos espaços verdes permitiu atribuir a classe de desempenho C. O funda-

71

mento para esta classificação deve-se ao facto de que para o edificado satisfaz-se o seguinte: A adequada intervenção às condições topográficas locais; a inserção visual na circundante onde este edificado está implantado; e a promoção do alinhamento das cérceas, consubstanciado em edifícios com a mesma altura. Relativamente ao espaço exterior, o projeto cria condições de valorização estética da paisagem, definição do espaço urbano e da sua malha. Não se verificou nos edifícios quaisquer paramentos verticais opacos (empenas, taludes, etc.).

Vertente: Recursos

No que respeita especificamente aos Recursos, os critérios de base são os seguintes:

Gestão da Energia (A4) – Relativamente a este critério a classe obtida por atribuição de créditos foi a E. Isto porque no que ao Desenho Passivo se refere verificou dois pontos nomeadamente: a situação/organização favorável face a outros edifícios ou condicionantes naturais; um dos materiais utilizados é o betão armado como material predominante e que apresenta massa térmica média a forte. No capítulo dos vãos: a caixilharia utilizada apresenta estanquidade às infiltrações de ar e no que a ventilação natural cruzada diz respeito é de realçar que os vãos propiciam aquela. Apesar disto a classe no que respeita a este critério está muito próxima da prática de construção habitual.

Gestão da água (A5) – A classe que traduz o desempenho nas atuais condições para este critério é a C, porque é garantido o acesso à água potável através do tratamento desta depois de captada e canalizada, cuja origem é a localidade de Kikuxi; o tipo de fonte de obtenção água no interior das frações habitacionais é através de torneiras; tendo em conta que qualquer intervenção urbana deve ter, por lei, infraestruturas urbanas necessárias ao seu correto funcionamento este empreendimento não é exceção, no que ao fornecimento de água em particular se refere; esta água fornecida é continuamente monitorizada para garantir a sua qualidade junto dos consumidores. A gestão das águas residuais é garantida por sistemas de coleta em cada apartamento e são direcionadas para a rede pública, devidamente separadas, por imperativos legais.

Gestão dos materiais (A6) – A classe atribuída para este critério foi a D. Os créditos atribuídos são devidos a durabilidade dos materiais, ou seja, constata-se: a aplicação de soluções/materiais duráveis na estrutura do empreendimento (betão armado pré-moldado, lancis de betão, metais nas guardas, outros), com uma duração estimada entre [40 - 50[ anos; a aplicação de soluções/materiais duráveis nos acabamentos exteriores do empreendimento, com uma duração estimada entre [5-10[ anos; a aplicação de soluções/materiais duráveis nos vãos do empreendimento, com uma duração estimada entre [5 - 10[ anos e a aplicação de soluções/materiais duráveis na envolvente do empreendimento, com uma duração estimada entre [20- 30[ anos

72

Produção local de alimentos (A7) – A classe atribuída à este critério foi a E. Isto porque não se verificou no local qualquer indício de produção de alimentos como estratégia com objetivos definidos, por parte dos promotores do empreendimento, nem se verifica atualmente.

Vertente: Cargas ambientais

Gestão dos Efluentes (A8) – Atribuiu-se à este critério a classe de desempenho C. O total de créditos obtidos satisfazem os seguintes elementos: as infraestruturas locais funcionam servindo os habitantes locais, cujas habitações estão providas de equipamentos para o efeito (por exemplo, sanitas com autoclismo; e a quantidade de frações servidas pelo sistema de saneamento básico comunitários é superior a 50%.

Gestões das emissões atmosféricas (A9) – As fontes de emissões atmosféricas têm várias origens neste empreendimento (fogões a gás, esquentadores/caldeiras, fumo do tabaco permitido, existência de poeiras, existência de bactérias) e, por isso, a classe C foi a mais adequada, pelo facto de que no somatório dos créditos e por observação da realidade de estudo, ter-se verificado a existência de um conjunto de pressupostos que permitiram chegar a esta conclusão.

Gestão dos resíduos (A10) – A classe para este critério é a E (prática usual). Isto deve-se ao facto de não se ter observado nenhuma prática de gestão que pressupõe a redução, reciclagem e reutilização dos resíduos urbanos e da construção, tendo-se unicamente verificado a recolha destes sem preocupação de diferenciação para a reciclagem.

Gestão do ruído (A11) – A classe C é a que foi atribuída a este critério, porque existe um conjunto de medidas que permitem minimizar o ruído proveniente do e para o exterior, relativamente aos uso de equipamentos.

Gestão ilumino-térmica (A12) – As valências de minimização de alguns impactes desta natureza na urbanização do projeto Nova Vida permitiu que se atribuísse a classe de desempenho B. Isto porque verifica-se a minimização das superfícies impermeáveis, constatando-se a existência de maiores áreas exteriores permeáveis e vegetação (Figura 32). As cores claras no interior do apartamento são uma evidência. Acrescido a estes créditos tem-se os que se referem à boa orientação dos edifícios em relação às brisas e ventos dominantes, favorecido pela implantação dos edifícios e da sua relação, que favorece a distância necessária para aquele efeito, diminuindo a propensão para o fenómeno da ilha de calor urbano. Não se verificou a existência de luminárias com intensidade que prejudique habitats humanos e naturais.

73

V Vertente: Co onforto amb biental

pecificamente e ao ambien te interior, os critérios de e base focam m os seguinttes aspeNo que respeita esp tos:

Gestão da qualidad de do ar (A A13) – Atribu uiu-se a clas sse A como indicador dee desempen nho deste critério p porque as me edidas verific cadas são: A Adequada ve entilação natu ural ajustadaa à atividade presente em cada a local; Corre eta disposiçã ão dos espaçços interiore es do edifício o de forma q ue seja pote enciada a ventilaçã ão natural, nomeadame n nte a cruzad da; Redução o ou elimina ação de pottenciais emis ssões de contamin nantes do ambiente inte erior; a Gara antia de salu ubridade dos s espaços innteriores; dec correntes destas a implementa ação de medidas com vvista a reduç ção de conta aminações nno ar e Prom moção da circulaçã ão e ventilação do ar nos s espaços en nvolventes ao o edificado. Gestão do conforto o térmico (A A14) – A sattisfação das condições enumeradas e s a seguir, pe ermitiram m utilizados garanntirem o con nforto dos atribuir a classe A para este critério, em virtu ude de: os materiais utilizadores por utilizzação e materiais que ga arantem uma inércia térrmica média a forte; a orientação da do edifício o (considera ando o clima a); distribuiçã ão interna do os espaços aadequada; colocação c adequad de fenesstração seletiva (tanto ao a nível da á área envidra açada vs orientação, co mo vãos/pav vimento); garantia de um Isola amento térm mico adequad do; e a venttilação adequ uada para aas diferentes s divisões o os diferente es usos (com m admissão d de ar pelas divisões d principais e exauustão pelas secundásegundo rias).

Figura 33 - Vista V interior da zona de serviço (grelhas de ventilação) e do apartamento o ((Fonte: Autor)

Gestão de outras condições c de d conforto (A15) – A gestão g do co onforto, com classe A de eve-se às e termos de iluminação o natural e artificial a e um m conjunto dee fatores que favoremedidass aplicadas em cem este e critério (Fig gura 33).

74

Vertente: Vivência Socioeconómica

Contribuir para acessibilidade (A16) – Classe E por verificação do seguinte: existência de pelo menos 1 transporte público/coletivo; as ligações de baixo impacte favoráveis são: caminhos pedonais junto do edifício e com dimensões adequadas ao fluxo diário de pessoas, tendo-se verificado que são percursos exclusivamente pedonais.

Contribuir para a dinâmica Económica (A17) – O fomento trabalho local, ou seja, o crescimento de muitas oportunidades de emprego devem-se a expansão urbana e necessidade crescimento de usos complementares à habitação, e bem como a promoção da igualdade de género e de estatuto social na criação de emprego local, permitiu que se atribuísse a classe D relativamente ao desempenho deste critério. São disso exemplo a construção do Centro Comercial Nova Vida, postos de abastecimento de combustível, entre outros.

Contribuir para as amenidades (A18) – Este critério foi avaliado com a classe D porque existe pelo menos uma amenidade natural nas imediações do empreendimento e é de realçar a existência de outras amenidades humanas nomeadamente lojas de géneros alimentares, farmácia, centro de saúde, escola primária e/ou secundária, posto de bombeiros, esquadra de polícia, entre outros.

Condições de controlo (A19) – Como o critério anterior, também se avaliou este com a classe D: existem soluções e dispositivos integrados na construção – grelhas de ventilação, janelas, etc – que permitem o controlo ambiental e de segurança por parte dos utilizadores nomeadamente da temperatura, humidade, ventilação natural e/ou artificial, iluminação natural e/ou artificial, existência de espaços bem iluminados, vigiados e com campo de visão aberto, edifícios com fachada e acesso principal inserido na frente/rua (Figura 34).

Contribuir para os baixos custos no ciclo de vida (A20) – Quanto a este critério a classe é C devido ao bom desempenho na escolha de materiais duráveis e com tempo de vida útil elevado (o betão armado, caixilhos metálicos, portas de madeira); estes materiais estão corretamente aplicados de acordo com a exigência a que estão submetidos. De realçar alguns materiais com probabilidade de aproveitamento ou reaproveitamento.

Vertente: Uso sustentável

Promover a utilização e gestão (A21) – A classe de desempenho E para este critério é a mais adequada porque não se verificam quaisquer medidas de promoção de gestão sustentável.

75

Promover a inovação (A22) – Uma vez que não existem elementos inovadores ou de inovação relativos ao uso sustentável, a mesma classe foi atribuída a este critério, ou seja, E.

Na escala desempenho global o empreendimento e o apartamento estudados avaliados em conjunto, têm classe C (13,21%), que é uma classe de desempenho com 25% de melhoria face a prática usual. De realçar que esta classe global de desempenho permite que a unidade habitacional avaliada seja reconhecida pelo sistema LiderA África. No entanto, somos de opinião que para um melhor desempenho sustentável do apartamento inserido no empreendimento, seriam necessárias algumas melhorias que incidiriam essencialmente nos critérios cuja classe de desempenho se encontra no nível da prática usual (Classe E). As melhorias seriam então na vertente Recursos, nos critérios Gestão da Energia (A4) (que pressuporia a preocupação com a introdução de elementos de design ativo, como o consumo de energia proveniente de fontes renováveis, e de equipamentos que consumam menos energia), e a Produção local de Alimentos (A7) (por exemplo as hortas urbanas); na vertente Cargas Ambientais, no que a Gestão dos resíduos (A10) se refere (através da recolha seletiva a partir das casas e das empresas de recolha em meio urbano, conjugadas com campanhas de sensibilização e formação local). Outra medida de melhoria seria na vertente Vivência Socioeconómica, relativamente ao critério Contribuir para a acessibilidade (A16) (através de políticas de serviços de transportes públicos que sirvam o projeto/bairro e, consequentemente, do fomento do uso daqueles transportes, diminuindo a utilização do carro próprio nas deslocações de proximidade, e pendulares casa-trabalho, o que aumentaria a convivência e interação social, com benefícios para o ambiente). De referir igualmente a necessidade de melhoria no critério Contribuir para as Amenidades (A18), com maior predominância das naturais, para usufruto dos habitantes locais. Por último, as melhorias a serem feitas na vertente Uso Sustentável, ao nível dos seus dois critérios: Promover a utilização e gestão [da sustentabilidade], e da Inovação em matéria de sustentabilidade, deverão ser efetuadas uma vez que nada se observou na avaliação feita, logo, o que existe e se concebeu está conforme a prática usual. Conforme explicado nos capítulos anteriores, uma correta gestão em matéria da sustentabilidade permite mitigar e, por vezes, eliminar alguns impactes ambientais provocados pelas construções e o ambiente construído.

76

Figura 34 – Vistas do d hall de ac cesso aos ap partamentos (aberturas permitem p a ppromoção da ventilação natural)) ((Fonte: Autor)

M Moradia Unifamiliar U r A avaliação da moradia, é de particu ular interesse e na medida em que se localiza em zona periurbana da cidade de d Luanda, acrescido a do facto de serr autoconstru ução. Por see tratar de zo onas que, mente, apresentam grand des vulnerab bilidades do ponto de vis sta ambientaal, onde pred domina a normalm autoconsstrução de habitações, e não só, deccorre deste pressuposto p o interesse dde estudo, no sentido de perce eber e avalia ar o desemp penho deste tipo de construções rela ativamente aaos mesmos s critérios (LiderA Á África) utiliza ados na avalliação do ap artamento. No N entanto, é de realçar que a moradia avaliada apre esenta melho ores condiçõ ões de apetre echamento que q muitas das habitaçõees existentes s na zona onde se insere, nom meadamente,, paredes re bocadas e pintadas, p pav vimento ladrrilhado, teto falso, f cabanho devida amente equip padas, entre outros aspe etos. sas de b

Figura 35 – Moradia viista de fora ((Fonte: Autor)

T Tem uma áre ea de 128,7 m2, apresen nta uma form ma paralelepipédica deitaada, com pé-direito de 2,47m (tteto falso), e está impla antada sobre e uma parce ela de terreno, de formaa poligonal, com c uma

77

superfície de cerca de 1,5 ha (hectares) que se encontra completamente vedada. Os materiais utilizados na construção da moradia são essencialmente blocos de betão, na construção das paredes, revestidas a argamassa, sobre a qual assentam mosaicos cerâmicos nas zonas húmidas, ao contrário das zonas secas onde são pintadas. O pavimento é todo revestido a mosaicos cerâmicos. A cobertura é revestida à chapa metálica, vulgarmente designada de canelada, assente sobre estrutura metálica. Do ponto de vista da localização a mesma está implantada a cerca de 14 km (15 min, viagem de carro) do centro da cidade, em zona com uso predominantemente habitacional, e foi objeto de obras de reabilitação dos acessos (estradas asfaltadas) bem como a construção de alguns equipamentos públicos e sociais de promoção privada e estatal. De realçar que é uma zona que tem progressivamente evoluído relativamente aos usos que complementam o habitacional.

Avaliação de Sustentabilidade – moradia Vertente: Integração Local

Valorização Territorial (A1) – Classe C para esta moradia e sua implantação porque no que a análise do solo diz respeito grande parte da área é permeável e existe vegetação que ajuda a proteger os solos contra a erosão (Anexo A.9).

Valorização ecológica (A2) – Apesar de a classe de desempenho A+, ser muito exigente quanto aos requisitos para a sua atribuição é de notar que esta foi feita tendo em conta as valências observadas nomeadamente: uma grande percentagem do terreno está ocupada por área verde e espécies arbóreas diversas sobretudo autóctones (mangueiras, limoeiros, bananeiras, entre outras); pelo facto são potenciadas as ligações com outras áreas verdes adjacentes em outros logradouros pressupondo boa permeabilidade dos solos e fomento da biodiversidade.

Valorização paisagística (A3) – A adequação da construção da moradia à envolvente construída existente, embora o tipo de construção seja melhor que aquela, o uso de materiais e técnicas construtivas locais permitiu atribuir a classe de desempenho B.

Vertente: Recursos

No que a vertente recursos diz respeito e de acordo com os critérios tem-se que:

Gestão da Energia (A4) – A classe E é a que melhor se adequa ao desempenho deste indicador na medida em que não se verificam muitas estratégias de sustentabilidade relativamente ao uso da energia. Mais, o fornecimento de energia é deficiente e muito intermitente, sendo a fonte de energia mais utilizada o gerador. No entanto, os créditos são obtidos através do desenho passivo (massa

78

térmica da estrutura média); através do desempenho dos vãos que estão sombreados e a estanquidade da caixilharia aos agentes atmosféricos. Apesar dessas medidas não existem grandes melhorias que permitam obter um desempenho para além da prática habitual, uma vez que devido ao fraco fornecimento de energia, consome-se muito combustível no uso do gerador.

Gestão da água (A5) – Classe E, porque é garantido o acesso a fontes de água potável através de dispositivos como torneiras, cuja distribuição é feita por um tanque de água subterrâneo que está ligado à rede pública. Verifica-se igualmente a existência de sistemas separativos de recolha de águas residuais através de fossas séticas, situação muito comum em construções em zonas não urbanizadas.

Gestão dos materiais (A6) – A classe de desempenho é a C, que se justifica pelo uso de materiais locais com durabilidade de pelo menos 20 anos, nomeadamente, blocos de betão (fabricados no local da obra), pintura, pavimentos resistentes ladrilhados, entre outros, facilmente substituíveis e passíveis de aquisição localmente.

Produção local de alimentos (A7) – No interior deste lote existe produção de alimentos para consumo próprio, a partir de várias espécies arbóreas. São exemplo a manga, o mamão (papaia), limão, chá de caxinde, goiaba, entre outros, que permite a atribuição da classe de desempenho A. De referir ainda a criação de galinhas e, a partir destas ovos e carne (Anexo 0).

Vertente: Cargas ambientais

Sobre a vertente das cargas ambientais os critérios associados foram avaliados como se segue:

Gestão dos Efluentes (A8) – A condução dos efluentes neste lote urbano é feita através de fossas séticas onde é feito o seu tratamento natural, cujos resíduos são provenientes de dispositivos de descarga do interior da habitação, adequados para o efeito. Portanto, a classe de desempenho é B, porque satisfaz seis créditos.

Gestões das emissões atmosféricas (A9) – Neste critério verifica-se a classe A porque não existem outras fontes de emissão para a atmosfera para além das que constam na avaliação nomeadamente, fogões à gás, existência de poeiras resultante dos solos arenosos existentes e devido ao vento que existe na zona e a tendência que poderá existir para o aparecimento de fungos num dos quartos interiores, portanto, sem janela para o exterior. De referir que, o sistema LiderA África pressupõe a atribuição da classe de desempenho atribuída porque no total de créditos (negativos) só se verificam até 5, em função das condições observadas.

79

Gestão dos resíduos (A10) – Não há muito a referir sobre este critério, senão ao facto de que a classe D foi a atribuída devido a satisfação de condições de para o armazenamento de embalagens de limpeza, sobretudo de artigos domésticos em locais apropriados (arrumos), em virtude de existir espaço para o efeito.

Gestão do ruído (A11) – a existência de medidas como a utilização de equipamentos no interior e no exterior (gerador), pouco ruidosos, bem como de pavimentos pouco ruidosos permite que se atribua a classe B. De realçar que o gerador utilizado apresenta caraterísticas de insonorização, ou seja, redução do ruído.

Gestão ilumino-térmica (A12) – Igual classe de desempenho teve este critério (classe B), por cumprir com os seguintes pressupostos: colocação de sombras sobre as áreas impermeáveis e/ou escuras; minimização das superfícies impermeáveis (vias, passeios e parques de estacionamento exteriores); existência de estacionamento à superfície com sombreamento ao invés do estacionamento a céu aberto; presença de arborização; utilização de cores claras nos seguintes elementos construtivos: fachadas, coberturas e/ou telhado, passeios/espaços comuns exteriores; no exterior, verifica-se utilização de luminárias com intensidade adequada e cuja projeção de luz incida somente na área a iluminar pretendida; e controlo do tipo de iluminação passível de prejudicar habitats humanos e naturais.

Figura 36 – Interior da Moradia (Fonte: Autor) Vertente: Conforto ambiental

Já no que diz respeito à vertente conforto ambiental, os critérios s critérios foram avaliados da seguinte forma:

Gestão da qualidade do ar (A13) – Apesar de a moradia estar implantada num lote localizado em zona com pouco rugosidade urbana, os ventos dominantes não favorecem o seu refrescamento através da ventilação cruzada. Isto porque a moradia está construída de tal modo que os ventos não penetram no seu interior. Agravado a esse facto, e apesar de ter teto falso (sem isolamento térmico), a cobertura em chapa metálica sobreaquece alguns dos espaços interiores da moradia, devido a trans-

80

ferência de calor por radiação. O único aspeto a realçar é que existe uma boa circulação de ar no exterior da moradia permitindo ter alguma salubridade no interior, relativamente a microrganismos, mas não a mais adequada. Nesse sentido a classe de desempenho é a B, pela satisfação dos critérios referidos. Gestão do conforto térmico (A14) – A classe de desempenho para este critério é a C apesar do conforto ser parcialmente satisfeito, isto é, na época mais fresca do ano, vulgarmente designada de cacimbo. Isto porque as chapas e a má orientação da moradia são fatores que potenciam o desconforto térmico em períodos mais quentes do ano em Luanda. Apesar disso algum conforto é conseguido devido a: Utilização de paredes que permitam trocas adequadas entre o interior e o exterior; a minimização de pontes térmicas; e o sombreamento de vãos envidraçados (preferencialmente exteriores) (Figura 36). Gestão de outras condições de conforto (A15) – Este critério apresenta a classe B como classe de desempenho porque é garantida a iluminação natural nas divisões principais, nas divisões secundárias e comuns; os acabamentos interiores são de cor clara (Figura 36); há diminuição das superfícies interiores muito refletoras, existe boa orientação e distribuição dos vãos envidraçados, face às condições locais de iluminação. Do ponto de vista da acústica a moradia insere-se numa zona com pouco ruído na envolvente: localização correta do edificado de forma a garantir a proteção a fontes de ruído locais e no mesmo é aplicado teto falso que minimiza os ruídos. A caixilharia é estanque aos ruídos (madeira com vidro simples).

Vertente: Vivência Socioeconómica

Na vertente socioeconómica, ou seja, acesso para todos os critérios tiveram a seguinte avaliação:

Contribuir para acessibilidade (A16) – Por se tratar de uma zona periurbana e não haver um ordenamento do território adequado, verifica o serviço de transportes públicos com pouca eficiência, uma vez que não existem paragens devidamente localizadas e os horários não são conhecidos. Pelo facto a classe de desempenho atribuída foi a E, uma vez que existem pelo menos dois meios de transporte público, sendo o segundo fornecido como serviço informal praticado por pessoas singulares muitas delas não credenciadas para o efeito. No entanto, reconhece-se a utilidade destes na medida em que colmatam em grande medida o fraco serviço dos transportes das empresas estatais.

Contribuir para a dinâmica Económica (A17) – Classe E porque se trata de uma habitação unifamiliar e não existem medidas que justifique a atribuição de outra classe.

Contribuir para as amenidades (A18) – Não existem quaisquer amenidades naturais nas imediações da moradia, ao contrário das amenidades humanas, portanto, a classe de desempenho é a E.

81

Condições de controlo (A19) – Devido a existência de formas de controlo das condições de vivência no local, para conforto humano, a classe atribuída foi a D, em virtude da possibilidade de controlo dos seguintes itens: vento, sombreamento, Iluminação no exterior, temperatura, humidade, ventilação natural e/ou artificial, sombreamento e Iluminação natural e/ou artificial, no interior. Há ainda a referir as soluções que fomentam a salubridade no local, nomeadamente, os sistemas de tratamento de águas residuais (fossas séticas) – Figura 35.

Contribuir para os baixos custos no ciclo de vida (A20) – A classe A+ é a que, preenchidos os créditos deste critério, permite atribuir um bom desempenho devido à práticas de usos de materiais duráveis e de procedimentos adequados para uma construção mais sustentável. Vertente: Uso sustentável Relativamente à vertente uso sustentável não se verificaram práticas diferentes da habitual (classe E). Promover a utilização e gestão (A21) – Para este critério verifica-se a prática usual, por inexistência de qualquer medida que permita aferir a promoção da utilização e gestão sustentáveis. A classe de desempenho é, portanto, E.

Promover a inovação (A22) – Não foram verificadas quaisquer medidas ou estratégias de inovação para desempenho sustentável da construção, pelo que a classe de desempenho é E.

Após a avaliação de todos os critérios, obteve-se a classe global de desempenho C (14,41%) para a moradia, face a situação atual (classe E), e pressupõe uma melhoria de 25% na escala de níveis de desempenho. Isto permite aferir que a construção avaliada é passível de reconhecimento pelo Sistema LiderA África no que a construção sustentável se refere. No entanto, para um melhor desempenho as melhorias a ter em conta para o nível de desempenho para este tipo de construção deverão incidir essencialmente nos critérios relacionados com a operação da construção, dado tratar-se do penúltimo estádio das fases de uma construção. Nesse sentido haveria necessidade de melhorar os critérios Gestão da Energia (A4), Gestão da Água (A5), da vertente Recursos; o critério Gestão de Resíduos (A10) da vertente Cargas Ambientais; dos critérios Promoção da utilização e gestão (A21) e Promoção da Inovação (A22), da vertente Uso Sustentável. Finalmente, é de realçar que a vertente Vivência Socioeconómica é que contribuiu mais negativamente para a classe de desempenho global obtida, uma vez que neste caso a oportunidade de melhoria pressuporia a urbanização da zona que, consequentemente implicaria a melhoria de outros aspetos inerentes a esta vertente, nomeadamente, as amenidades naturais, a economia local, o bemestar da população residente entre outros.

82

6. Discussão dos resultados O resultado da avaliação do apartamento permitiu aferir que, os critérios que contribuíram mais negativamente para a classe de desempenho global da unidade habitacional estudada foram os seguintes: Gestão da energia (entre todos os critérios com maior peso), Produção local de alimentos, Gestão dos resíduos, Contribuir para acessibilidade, Promover a utilização e gestão, e Promover a inovação. Nesse sentido, são os critérios que, em nosso entender deverão ser tidos em conta para se proporem oportunidades de melhoria, pelo facto de apresentaram classe de desempenho igual a prática usual (classe E). É de realçar que, na avaliação, muitos créditos foram atribuídos tendo em conta a realidade local que, embora não satisfeitos na íntegra, permitiram aproximar os valores de acordo com o observado e os dados técnicos quer do apartamento, quer do empreendimento. Portanto, no final a classe de desempenho global do apartamento avaliado é a C, com o resultado de 13,21%. Esta classe de desempenho permite que o apartamento seja reconhecido pelo sistema LiderA África (classes de A, B e C) face aos critérios de sustentabilidade o que, em nosso entender, denota ter havido preocupação por parte dos construtores relativamente às questões de sustentabilidade, pelo menos no que ao conforto térmico e ao clima diz respeito. Apesar disso, é de salientar que as questões relacionadas com gestão do projeto (operação), em matéria de sustentabilidade, são as que mais lacunas apresentam neste empreendimento. Considerando a classe de desempenho obtida no final (classe C – 13,21%) para os critérios aqui discutidos, se se pretender melhorar aquela classe de desempenho para um nível superior, como oportunidade de melhoria sugerimos a atribuição da classe C à todos os critérios cuja classe de desempenho seja inferior a C (as classes D e E), pressupondo uma melhoria de 25% em relação à prática usual. Nesse sentido, teríamos no final uma classe de desempenho B com 14,68%. Esta classe B, a obter-se pressupõe uma melhoria em 37,5% face àquilo que é a prática de construção usual em termos de sustentabilidade, portanto, um valor significativo. No que ao resultado de avaliação da moradia se refere, é de realçar que, apesar de a mesma se situar em zona periurbana e relativamente afastada do centro da cidade, este fator poderá ter ajudado na avaliação de forma positiva, uma vez que se trata de uma parcela de terreno de dimensão significativa, o que pressupõe mais espaço em termos de habitabilidade e menos densidade urbana. Este facto permitiu que alguns critérios fossem satisfeitos, quase na íntegra. As brisas naturais favoráveis à manutenção da qualidade do ar, apesar da presença de poeira em dias mais ventosos, a vegetação e o ambiente natural, a permeabilidade do solo, foram fatores que contribuíram positivamente na avaliação desta unidade habitacional. Apesar de se tratar de uma construção feita com meios próprios (autoconstrução) e não ter havido intensão explícita, do proprietário, na promoção da construção sustentável existem, no entanto, alguns aspetos observados que a potenciam. Isto é verificado ao nível de alguns critérios, embora os que mais contribuíram negativamente para que não se tivesse uma classe de desempenho global superior a B, foram os seguintes: Valori-

83

zação Territorial, Gestão da energia, Contribuir para acessibilidade, Contribuir para a dinâmica Económica, e Contribuir para as amenidades. Em nosso entender, pode-se constatar que o baixo desempenho destes critérios está relacionado, entre outros fatores, com um elemento principal na gestão urbana: os planos de urbanização, ou seja, a sua inexistência. Nesse sentido, somos de opinião que uma oportunidade de melhoria para a classe de desempenho dos critérios que mais negativamente contribuíram para a classe global da moradia seria, por exemplo, a urbanização destas zonas o que permitiria obter melhores resultados, no que a gestão da energia diz respeito (há muita dificuldade no fornecimento e com muita intermitência); na criação de emprego local, uma vez que os habitantes desta zona são de baixa renda em termos socioeconómicos; as amenidades naturais, de modo a diminuir o impacte da insolação, das poeiras muito evidente nesta zona, com particular destaque para a criação de áreas verdes, diminuído a erosão do solo devido ao impacte das chuvas. Pode-se concluir deste estudo de caso que as duas tipologias estudadas apresentam lacunas relativamente aos principais critérios de desempenho do LiderA África, logo, considera-se que muito terá que ser feito sobretudo pelos decisores locais para que, através de medidas corretamente delineadas se consigam obter resultados mais satisfatórios relacionados com a construção sustentável, cujo impacte ambiental negativo afeta significativamente a vida dos habitantes da cidade de Luanda. Estes impactes são, não só ao nível do conforto humano mas também nos que advêm das más opções construtivas e lacunas existentes relativamente a políticas de planeamento urbano, apesar dos esforços verificados nesse sentido do Estado angolano, um pouco por todo o país.

84

7. Conclusão O presente trabalho permitiu responder a um conjunto de questões, propostas como objetivos específicos a atingir, que o tema suscita. Por se tratar de um tema pertinente e secular, permitiu igualmente perceber a importância dos princípios da arquitetura sustentável na conceção e construção de edifícios, e ambientes construídos. A pesquisa sobre as origens da arquitetura sustentável e a relação desta com o conceito de desenvolvimento sustentável foi uma premissa, o que permitiu perceber a sua relação com outro conceito – o de arquitetura tropical -, o qual foi pertinente na compreensão da relação do tema de estudo com a realidade de estudo proposta – a cidade de Luanda. No âmbito daqueles conceitos, ressaltaram como importantes o de recursos naturais, de clima – com todos os seus elementos –, o ambiente, e os recursos não-renováveis, estes últimos de capital importância na resposta aos princípios da arquitetura sustentável. Constatou-se que, no exercido da profissão, o arquiteto antes de iniciar o processo de conceção, deve procurar perceber o clima, premissa fundamental para a tomar opções construtivas consentâneas com a realidade climática do local a intervencionar bem como dos recursos a alocar – de preferência locais –, a quem se destinará a construção (futuros utilizadores) e o uso futuro. Isto permitirá adequar as decisões às condições locais existentes, de modo a criar e manter a construção tão sustentável quanto possível, de modo a ter-se um ambiente construído com o mínimo de impactes ambientais negativos e sobre o conforto humano. Conclui-se, neste âmbito, que os indicadores de sustentabilidade e a certificação energética da construção e de ambientes construídos desempenham um papel relevante na medição – qualitativa e quantitativa – de elementos que permitem estabelecer e concretizar metas que se propõem alcançar do ponto de vista da construção sustentável. Chegou-se igualmente à conclusão de que o problema dos impactes ambientais negativos associados à ação antrópica está também ligado à má gestão dos recursos naturais, à gestão das cidades, pela ausência de amenidades naturais essenciais à vivência sadia dos citadinos, situação que muita das vezes atinge os grupos socioeconómicos mais vulneráveis que se instalam em locais igualmente vulneráveis do ponto de vista ambiental (cursos de água, leitos de cheia, encostas suscetíveis ao deslizamento de terras, entre outros locais). De realçar que, apesar de não ter sido demonstrado de forma direta, no presente trabalho, a relação entre a densidade populacional e a urbana (ambiente construído) da cidade de Luanda com o clima quente que se faz sentir há, no entanto, evidências na pesquisa efetuada, da relação entre aqueles devido aos fenómenos daí decorrentes (ilha de calor urbano; emissão de gases de efeito de estufa; o uso excessivo de aparelhos de ar-condicionado nos edifícios, poluição do ar, entre outros) , devido à demanda por serviços urbanos inerente à sobrelotação populacional naquela cidade. A arquitetura é uma atividade multi e interdisciplinar, na qual convergem diversos saberes – sociologia, tecnologia da construção, estudos ambientais, economia, antropologia, geografia, geogra-

85

fia humana, entre outros –, os quais devem ser tidos em conta na conceção arquitetónica, uma vez que uma decisão ou escolha não devidamente ponderadas no âmbito do seu exercício pode acarretar impactes profundos nos quatro vetores da sustentabilidade – social, económico, ambiental e cultural – , com graves consequências para um determinado território. Angola é um país que está a crescer, assim como a sua capital Luanda e, nesse sentido, somos de opinião que, a necessidade de desenvolvimento dever-se-á centrar em estratégias de gestão, que permitirão evitar, corrigir e mitigar alguns dos impactes existentes e latentes, nos quais a construção tem grande importância. É necessário o envolvimento de todos os atores sociais e é preciso realçar que apesar da necessidade de urgência na edificação das cidades e localidades deve-se ,no entanto, executar bem hoje sob pena de se estarem a comprometer demasiados recursos materiais e financeiros que serão necessários para as gerações futuras. A reconstrução de um país como Angola, com as riquezas naturais que possui e em esforço para renascer, tem atraído naturalmente um enorme investimento estrangeiro, assistindo também à chegada de uma nova população de todas as áreas profissionais, da construção civil à indústria petrolífera, do pequeno negócio à grande multinacional, e oriunda dos quatro cantos do mundo: (novos) portugueses, muitos brasileiros, milhares de chineses, alguns franceses, americanos, acentuando o caráter natural de Luanda – o seu cosmopolitismo. Resta saber como é que esta presença cosmopolita e global transformará a cidade e a sua arquitetura e de que modo se cruzará, no futuro, com a herança patrimonial (também cosmopolita e global) tão expressiva da Arquitetura Moderna de Luanda (Magalhães, 2009). É nestes edifícios novos e da “cidade histórica” que a vida dos cidadãos se desenrola diariamente mas, se estas construções não responderem satisfatoriamente ao ambiente, à sociedade, à cultura local, e às questões económicas, somos de opinião que não será possível viver numa cidade como Luanda, devido aos inúmeros constrangimentos inerentes à sua sobrelotação e densidade urbana que são , de certeza, o que mais compromete as soluções de sustentabilidade que se quer para a cidade.

86

Bibliografia ADAM, Roberto Sabatela. 2001. Princípios do Ecoedifício: Interação entre Ecologia, Consciência e Edifício. 1ª. São Paulo : Aquariana, 2001. Baweja, Vandana. 2008. A Pre-history of Green Architecture: Otto Koenigsberger and Tropical Architecture, from Princely Mysore to Post-colonial London. Michigan : s.n., 2008. Bay, Joo Hwa e Ong, Boon Lay. 2006. Tropical Sustainable Architecture - Social and Environmental Dimensions. Linacre House, Jordan Hill, Oxford OX2 8DP; 30 Corporate Road, Burlington, MA 01803 : Elsevier Ltd, 2006. ISBN 13: 978-0-75-066797-5. Britto, J. Fernando B. 2010. Considerações sobre psicorometria. Revista SBCC (Sociedade Brasileira de Contaminação). 45, Março/Abril de 2010, p. 35. Brundtland, Gro Harlem. 1987. Our common future: The World Commission on Environment and Development. Oxford : Oxford University, 1987. Clark, Martin. 2010. [Online] 7 de Maio de 2010. [Citação: 4 de Agosto de 2011.] http://people.aapt.net.au/jclark19/designing-for-climate.pdf. Corbella, Oscar e Yannas, Simos. 2003. Em Busca de Uma Arquitetura Sustentável Para os Trópicos: Conforto Ambiental. 1ª. Rio de Janeiro : Revan, 2003. da Silva, Vanessa Gomes. 2007. Indicadores de sustentabilidade de edifícios: estado da arte e desafios para desenvolvimento no Brasil. Ambiente Construído. n.1, Jan. - Mar. de 2007, Vol. 7, pp. 47-66. Fonte, Maria Manuela Afonso da. 2006. Urbanismo e arquitectura em Angola de Norton de Matos à Revolução. Lisboa : FAUTL : Universidade Técnica de Lisboa. Faculdade de Arquitectura, 2006. Fry, Maxwell e Drew, Jane. 1964. Tropical Architecture. New York : Reinhold Publishing Corporation, 1964. Goleman, Daniel. 2009. Ecointeligência. [ed.] Temas e Debates. 2009. 9789896440787. Gonçalves, Joana e Duarte, Denise. 2006. Arquitectura sustentável: uma integração entre ambiente, projeto e tecnologia em experiências de pesquisa, prática e ensino. [ed.] Joana Carla Soares Gonçalves e Denise Helena Silva Duarte. Ambiente Construído. out./dez. de 2006, Vol. 6, pp. 51-81. Guedes, Manuel Correia, et al. 2011. Arquitectura Sustentável em Angola, Manual de boas práticas. [ed.] CPLP - Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Lisboa : s.n., 2011. ISBN 978-989-97178-3-1. Kim, Jong-Jim e Rigdon, Brenda. 1998. Sustainable Architecture Module: Introduction to sustainable design. Web site de University of Michigan. [Online] Dezembro de 1998.

87

Lefaivre, Liane, Tzonis, Alexander e Stagno, Bruno. 2001. The Suppression and Rethinking of Regionalism and Tropicalism after 1945. [autor do livro] Liane Lefaivre e Alexander Tzonis. Tropical Architecture – Critical Regionalism in the Age of Globalization. West Sussex : Wiley–Academy, 2001, cap. 2, pp. 14-58. Magalhães, Ana. 2009. Moderno Tropical - Arquitectura em Angola e Moçambique, 19481975. 1ª edição. Lisboa : Edições tinta-da-china, Lda., 2009. ISBN 978-989-671-017-0. MINUA. 2006. Relatório do Estado Geral do Ambiente em Angola. Luanda : Ministério do Urabanismo e Ambiente (República de Angola), 2006. p. 326. Moughtin, Cliff e Shirley, Peter. 2005. The environmental crisis and sustainable development. [autor do livro] Cliff Mougtin e Peter Shirley. Urban design: Green dimensions. Second Edition. Linacre House, Jordan Hill, Oxford OX2 8DP; 30 Corporate Drive, Burlington MA 01803 : Architectural Press, 2005, 1. Olgyay, Victor. 1962. Arquitectura Y Clima - Manual de diseño para arquitectos y urbanistas. Barcelona : Gustavo Gilli, 1962. Ordem dos Arquitetos, [ed.]. 2001. A Green Vitruvius - Princípios e Práticas de Projecto para uma Arquitectura Sustentável. Lisboa : s.n., 2001. ISBN - 9729766827. Pinheiro, Manuel Duarte. 2006. Ambiente e Construção Sustentável. Lisboa : Instituto do Ambiente, 2006. PLEA - Passive and Low Energy Architecture. [Online] PLEA. [Citação: 22 de Fevereiro de 2012.] http://www.arct.cam.ac.uk/PLEA/Home.aspx. Roux, Hannah le. 2003. The networks of tropical architecture. The journal of architecture. 2003, Vol. 8, pp. 337, 354. Saker, Tarek e Ghozlan, Ayah. 2010. [Online] 10 de Janeiro de 2010. [Citação: 13 de Maio de 2011.] http://www.scribd.com/doc/24996391/Green-Construction. Shahmohamadi, P., et al. 2010. Reducing urban heat island effects: A systematic review to achieve energy consuption balance. 2010, pp. 626-636. Silva, Vanessa Gomes da. 2007. Indicadores de sustentabilidade de edifícios: estado da arte e desafios. Ambiente Construído. jan./mar. de 2007, Vol. 7, pp. 47-66. Szokolay, Steven. 2004. Introduction to architectural science: the basis of sustainable design. Burlington : Oxford, 2004. Tzonis, Alexander, Lefaivre, Liane e Stagno, Bruno. 2001. Tropical Architecture: critical regionalism in the age of globalization. New York : Wiley Academic, 2001. UNEP. 2006. Eco-housing Guidelines for tropical regions. [Online] 2006. http://www.rrcap.unep.org/ecohouse/200508/ecohouse%20guidelines_261106_for%20review.pdf. Vieira, Luciana Alves e Barros Filho, Mauro Normando Macêdo. 2009. A emergência do conceito de Arquitetura Sustentável e os métodos de avaliação do desempenho ambiental 88

de edificações. Revista Eletrônica da Faculdade de Ciências Humanas ESUDA. [Online] Dez. de 2009. [Citação: 25 de Julho de 2011.] http://www.esuda.com.br/revista_humanae.php. ISSN 1517-7606. Vosgueritchian, Andrea Bazarian. 2006. A abordagem dos sistemas de avaliação de sustentabilidade da arquitetura nos quesitos ambientais de energia, materiais e água, e suas associações às inovações tecnologicas. [Dissertação de Mestrado]. São Paulo - Brasil : s.n., 2006. Wilkinson, Martin. 2002. [Online] 2002. [Citação: 6 de Junho de 2010.] http://people.bath.ac.uk/absmaw/Facade/sunlight_01.pdf. [Online] [Citação: 5 de Setembro de 2011.] http://www.pegadadecarbono.com/. [Citação: 15 de Agosto de 2011.] http://www.umich.edu/~nppcpub/resources/compendia/architecture.html.

89

Anexos

90

A.1.

A formação do clima

A rotação inclinada da Terra à volta do sol marca os ritmos das estações, que despertam a vegetação adormecida para doar a dádiva das suas culturas. A distância relativa ao equador determina principalmente que uma localidade seja fria ou quente, mas é o sol, com a sua imperativa regularidade, o que marca os padrões de humidade e vento que se estendem pela superfície terrestre. As caraterísticas do ambiente físico encontram-se cobertas por um vasto oceano de ar, cujas correntes arrastam elementos climáticos a todas as partes do mundo, modificando-lhes em cada fase (Olgyay, 1962). Em pontos de forte aquecimento o ar sobe, e em locais (relativamente) frios desce. O movimento de massas de ar e de nuvens com humidade é conduzido por diferenciais de temperatura mas, fortemente, influenciado pela força de Coriolis, explicado na figura A.1 (Szokolay, 2004). Uma massa de ar estacionária no equador, de facto, move-se com a rotação da terra e tem uma certa velocidade angular (cerca de 1.600 Km/h ou 463 m/s), portanto tem momento e inércia. À medida que se move em direção aos polos (a nível superior), a circunferência da terra (o círculo da latitude) reduz, por isso irá ultrapassar a superfície. Uma massa de ar em latitudes superiores tem menor velocidade e momento de inércia, e quando se move em direção ao equador (circunferência maior), ficará atrasada em relação a rotação da terra. Este mecanismo causa a troca de ventos entre o Nordeste e Sueste. A atmosfera é um sistema tridimensional muito instável, tal que pequenas diferenças no aquecimento local (que poderão ser por causa da topografia e da cobertura do solo) podem ter efeitos significativos nos movimentos do ar e influenciar os padrões de redemoinhos de zonas de baixa e alta pressão (ciclónicas e anticiclónicas) (Szokolay, 2004). Muitos sistemas (e alguns muito complexos) de classificação climática, estão em uso, para diferentes propósitos. Alguns baseiam-se na vegetação, outros na evapotranspiração (Szokolay, 2004). Adotando como critério a relação entre clima e vegetação, W.Köppen determina cinco zonas climáticas básicas: tropical chuvosa, seca, temperada, floresta fria e polar. Outros autores tais como Trewartha modificaram esta divisão baseando-se nas linhas isotérmicas dos meses mais frios (Olgyay, 1962). O sistema de classificação geralmente mais usado é o Köppen–Geiger, que distingue 25 tipos de clima. Para projeto de edifícios, um sistema simples (depois de Atkinson, 1954), que só distingue quatro tipos de básicos, é adequado. Isto é baseado na natureza do problema de conforto térmico humano numa localização particular (Szokolay, 2004, 33) climas frios, climas temperados, climas quentes e secos e climas quentes e húmidos: 

Climas frios, onde o principal problema é a falta de calor (subaquecimento), ou excessiva dissipação de calor para todo ou a maior parte do ano.

91



Climas te emperados (moderados), onde há u ma variação o sazonal entre sub baquecimento o e sobreaquecimento, m mas nenhum m é muito severo.



uentes e se ecos, onde o principal p roblema é o sobreaClimas qu quecimen nto, mas o arr é seco, logo o mecanissmo de arreffecimento evaporativvo do corpo o não é restrito. Há geraalmente uma grande variação d da temperatu ura diurna (d dia-noite).



Climas qu uentes e húmidos, onde e o sobreaquuecimento não n é tão grande co omo nas áre eas quentes s e secas, m mas é agrav vado pela grande hu umidade, res stringindo o potencial dee evaporação o. A variação da te emperatura diurna é peq quena.

O clima não joga somen nte um papell importante na composição do subssolo, se não que também afeta profundam mente as caraterísticas d das plantas e dos anima ais nas difereentes regiões s e, mais nte […] a ene ergia do hom mem (Olgyay , 1962). importan

Figura A.1 - Ventos dom minantes sob bre a superfície terrestre p://red.fau.ucv cv.ve:8080/sttatic/fisica/file es/clima.pdf)) (Fonte: http

92

A.1.1. Tipos de clima tropical

Os diferentes tipos de clima tropical são:

Os climas tropicais húmidos ocorrem numa faixa que se extende aproximadamente a 15º do equador. Há uma variação sazonal muito pequena, diferrente da quantidade de chuva, que é grande ao longo do ano, e a incidência de rajadas de vento e tempestades elétricas. A temperatura de bolbo seco média máxima é entre 27 e 32 ºC. A mínima noturna varia entre 21 e 27ºC. A humidade relativa é usualmente alta e cerca de 75%, mas pode variar entre 55 e 100%. O céu apresenta-se bastante nublado durante todo o ano, apesar de a luminância poder variar consideravelmente (Clark, 1993). A radiação solar é parcialmente reflectida e parcialmente difundida pelas nuvens e humidade. Esta última também reduz a radiação. As velocidades do vento são geralmente baixas. A vegetação cresce rapidamemte, e níveis altos de humidade propiciam o aparecimento de mofo, algas e ferrugem. Os mosquitos, habitalmente da malária, e ouros insectos abundam (Clark, 1993). Climas de ilha quente e húmida, diferem do anterior no facto de a temperatura mínima noturna poder ser ligeiramente inferior, e a humidade varia mais. O céu é mais limpo e a radiação solar é mais forte e direta. Os ventos são frequentemente constantes a 6-7 m/s e propiciam o alívio da temperatura e humidade. O sal na atmosfera propicia a corrosão. A grande diferença é o risco de ventos ciclónicos, que são frequentes, não mitigáveis e destrutivos. A precipitação pode ser menor, mas os dilúvios são similares (Clark, 1993). Climas quentes secos e desérticos ocorrem em duas faixas entre os 15 e 30 º N/S. Há duas estações, uma quente e outra fria. A temperatura de bolbo seco máxima é entre 43 a 49ºC na estação quente e 27 a 32ºC na fria. A temperatua mínima nocturna é de 24-30º C quente, 10-18ºC fria. A humidade relativa varia de 10% a 55%. A precipitação é suave e variável. Algumas tempestades podem ocorrer, apesar de ser possível a seca durante vários anos. O brilho e a luminosidade podem ser causados pela névoa de poeira branca. A radiação solar é forte mas a re-radiação de onda longa liberta calor a noite para o céu frio. Os ventos são usualmente turbulentos e locais. As altas temperaturas do dia e o rápido arrefecimento noturno provocam a fissuração dos materiais. Em climas desérticos marítimos as temperaturas de bolbo seco máximas são usualmente menores, mas a humidade tende a manter-se alta, devido a evaporação do mar. Estes climas são geralmente referidos entre os mais desconfortáveis (Clark, 1993). Climas compostos ou de monção ocorrem usualmente em grandes massas de terra próximas dos trópicos de Câncer e de Capricórnio. Aproximadamente dois terços do ano são quentes/secos, e o outro terço é quente/húmido. Localidades acima do norte e sul às vezes têm um terço da época de frio/seco (Clark, 1993).

93

Os valores da temperatura de bolbo seco típicas são: Quente e seca

Quente húmida

Fria e seca

Máxima média diária

32-43

27-32

até 27

Máxima média nocturna

21-27

24-27

4-10

A humidade relativa é 20-55% durante as épocas secas, e 55-95% durante a húmida. As chuvas de monção podem ser prolongadas e intensas. A precipitação anual pode variar entre 5001300mm, com pouca ou nenhuma chuva durante a época seca. As condições do céu variam consideravelmente com as estações; muito nublado e aborrecido durante as monções, limpo e azul escuro durante o tempo seco. O brilho aumenta até ao final da época seca, devido a névoa de poeira. A radiação solar varia em conformidade. Os ventos são quentes e poeirentos durante a estação seca, e estáveis, húmidos e frequentemente fortes durante a monção. As mudanças sazonais na humidade relativa tendem a enfraquecer os materiais dos edifícios. As térmitas são comuns. Climas tropicais planálticos, isto é, montanhas e planalto, cerca de 900-1200m acima do nível do mar, tê um clima composto. A temperatura de bolbo seco máxima e mínima variam com a altitude, e o espetro varia com a distância ao equador. A humidade pode variar entre 45 e 99%. Quando o céu está limpo, a radiação é mais forte do que no nível do mar, mas parte de radiação à noite pode resultar em nevoeiro.

94

Figura A.2 - Mapa com os tipos de clima tropical e respectivas zonas (Fonte: (Fry & Drew, 1964))

A.1.2. Variáveis climáticas Definição das principais variáveis climáticas: Temperatura (TBS99), medida à sombra, usualmente numa caixa ventilada, a tela de Stevenson, 1,2 – 1,8m acima do solo. Humidade, que pode ser expressa como Humidade Relativa (HR) ou Humidade Absoluta (HÁ), ou Temperatura de Bolbo Húmido (TBH) ou temperatura de ponto de orvalho (TPO). Movimento do ar, isto é do vento, normalmente expressa a 10 m acima do solo numa área aberta, mas superiormente em áreas construídas, para evitar obstruções; velocidade e direção, ambas, são registadas. Precipitação, isto é a quantidade total de chuva, granizo, neve ou orvalho, medidos em pluviómetros e expressos em mm por unidade de tempo (dia, mês, ano). Nebulosidade, baseada na observação visual, expressa como uma fração da abóbada celeste (décimas ou oitavas) cobertas pelas nuvens. 99

Temperatura de Bolbo Seco

95

Insolação, isto é o período de céu limpo (quando uma sombra nítida é projetada), medido por um registador de insolação, no qual uma lente queima uma tira de papel; mostrado como horas diárias ou mensais. Radiação solar, medida por um piranómetro (solarímetro) (Figura A.3), numa superfície horizontal desobstruída e registada quer como variação de irradiância contínua (W/m2), ou a através de um dispositivo eletrónico como irradiação a hora ou ao dia. Se o valor da irradiação horária é dado por Wh/m2, será numericamente o mesmo que a irradiância média (W/m2) para aquela hora.

Figura A.3 – Exemplo de um solarímetro e um piranómetro (Fonte: www.gisiberica.com)

96

A.2.

Qualidade do ar interior

Nos edifícios energeticamente eficientes, a escolha dos materiais afeta a qualidade do ar interior, mais ainda do que nos edifícios convencionais. Sempre que se especifica materiais com ingredientes tóxicos e há libertação de gases, os efeitos serão ampliados pela reduzida circulação de ar e pela fraca ventilação, tendo como resultado a acumulação de uma vasta gama de impurezas no ambiente interior. As concentrações elevadas de produtos químicos, tais como o formaldeído proveniente de tecidos, mobiliário e aglomerados de partículas de madeira, podem ser particularmente perigosas para quem durma ou esteja amarrado a uma secretária, num espaço confinado. (Ordem dos Arquitetos, 2001) A qualidade do ar interior é determinada pela qualidade do ar no exterior do edifício100, pela emissão de poluentes no interior e pela taxa de ventilação, bem como pela eficiência dos filtros e pelos cuidados de manutenção dos sistemas mecânicos. Mais do que a maioria dos problemas ambientais, a poluição do ar no interior reflete-se diretamente na saúde101 e, consequentemente, na produtividade. Há efeitos crónicos de nível, difusos em certos edifícios que se acobertam na designação de “síndroma de edifício doente” (SBS) (Levin, 1996)102. Segundo Baker, o fenómeno de síndrome de edifício doente observa-se, quase exclusivamente, em edifícios ventilados mecanicamente (Baker, 1995)103. O que é certo, [...], é que em espaços sub-ventilados, proliferam os esporos de fungos e os ácaros do pó doméstico, os VOCs (compostos orgânicos voláteis) atingem elevadas concentrações. As pessoas passam 80-90% das suas vidas dentro de edifícios, sendo desconhecido o impacte da sua permanente exposição às emissões de baixo nível de uma grande variedade de materiais, vulgarmente encontrados nos edifícios hoje em dia. A maioria destes poluentes têm origem no próprio edifício. Com o aumento da utilização de solventes orgânicos, de acabamentos interiores que emitem VOCs (compostos orgânicos voláteis), de agentes de limpeza e de equipamento de escritório, a poluição do ar interior tornou-se um problema grave. (Ordem dos Arquitetos, 2001) Uma cuidadosa seleção de acabamentos do edifício será uma maneira de melhorar a qualidade do ar interior, embora deva ser integrada numa estratégia alargada que contemple sistemas de ventilação, as plantas de interior, a manutenção e outros fatores. São utilizadas três estratégias para controlar os poluentes de ar no interior: retirar do edifício a fonte de poluição; controlar as emissões de poluentes na fonte; e expulsar os poluentes do edifício, através de medidas de ventilação. (Ordem dos Arquitetos, 2001) No que se relaciona com a qualidade do ar [em Angola], um dos problemas associados às aglomerações populacionais, nomeadamente nas grandes cidades, é o aumento de veículos motori-

101

Os efeitos sobre a saúde devidos à poluição do ar interior incluem alergias e asma, doenças infeciosas, cancro e outros danos genéticos. 102 (Ordem dos Arquitetos, 2001) 103 idem

97

zados104.São [ainda] fatores de deterioração da qualidade do ar […], o mau cheiro e os fumos provenientes das queimadas dos resíduos sólidos nas áreas onde estes se acumulam (p. ex. as lixeiras do Golf II e da Camama, em Luanda). O crescimento de áreas urbanas não planificadas e o desenvolvimento anárquico de vários setores da indústria têm sido [também] fatores que contribuíram para o aumento dos níveis de poluição do ar. […] (MINUA 2006). Atualmente nem todas as áreas residenciais em Angola se encontram conectadas à rede elétrica fornecida pela Empresa Nacional de Eletricidade (ENE). Mesmo para as áreas com acesso à corrente elétrica da ENE, esse fornecimento não é contínuo, sendo feito com frequentes interrupções. Por esta razão, uma grande parte da população e de empresas utiliza geradores105 a gasolina ou gasóleo como fonte alternativa (só em Luanda estimavam-se mais de 2.000 geradores vendidos em 2002) (MINUA, 2006); o que em nosso entender contribui para a má qualidade do ar em meio urbano.

104

O número de veículos em circulação em Angola aumentou significativamente nos últimos anos tanto a nível das viaturas de transporte privado, como das frotas de camiões e autocarros de transporte estatal e de empresas privadas. A este aumento não correspondeu uma expansão adequada das infraestruturas rodoviárias. Esta situação provoca grandes congestionamentos das vias de comunicação, […] nos centros urbanos de grandes cidades como Luanda, […], obrigando as viaturas a moverem-se a velocidades reduzidas nas poucas estradas existentes, […]. 105 A falta de regulamento e orientações relativas à autorização de uso de geradores a gasóleo pelas grandes indústrias tem também problemas de poluição do ar. O uso de geradores origina diversos problemas ambientais: a emissão dos gases de combustão e o ruído produzido afetam prejudicialmente a saúde humana.

98

A.3.

Indicadores de Sustentabilidade

Um indicador pode descrever diretamente um impacto e tomar a forma de categorias de impacto tradicionais, como definidas na secção 5.3, da norma ISO 14.042 (ISO, 2000)106, e expressar quantidade de cargas (ex.: emissões de CO2) ou de impactes (ex.: contribuição à mudança climática, expressa em CO2 equivalente); ou ser um indicador de consequência (indireto), que descreve aspetos que influenciam a magnitude de cargas ou impactes (ex.: distância do edifício aos serviços de transporte público, considerada a frequência das linhas). Apesar de fundamentais para ajudar a unificar a tomada de decisão económica, social, ambiental e institucional, os indicadores per si não são capazes de promover melhoria de desempenho. Metas de desempenho e desempenhos de referência (benchmarks) para cada indicador são igualmente necessários, para, de um lado, calibrar a análise (definir a escala de desempenho) e permitir a avaliação do progresso (SILVA, 2003) (citado por da Silva, 2007), e, de outro, encorajar a alocação apropriada de recursos para alcançar a taxa de progresso desejada (CIRIA107, 2001) (citado em da Silva, 2007); [...] para ser utilizado, um indicador deve ser acompanhado, ainda, de uma explicação quanto ao modo e à fonte de informação utilizada para atribuir valor ao indicador. A partir de meados da década de 80, foram desenvolvidas diversas estruturas analíticas para a organização de indicadores na esfera das nações, principalmente de indicadores ambientais (Quadro A.3). A rede CRISP108 estruturou os indicadores de sustentabilidade em tipo, escala do impacte, aspeto de desenvolvimento sustentável e categoria de construção. Uma segunda iniciativa de desenvolvimento e estruturação de indicadores de sustentabilidade para o setor de construção que merece destaque foi conduzida pela Construction Industry Research and Information Association – CIRIA (2001), que realizou uma ampla consulta ao setor de construção no Reino Unido109. A partir da discussão de quatro elementos do desenvolvimento sustentável emergiram dez temas-chave para a construção sustentável (Quadro A.4).

106

Idem Construction Industry Research and Information Association 108 Construction Related Sustainability Indicators 109 Apesar de esses temas terem sido propostos para o Reino Unido, é instrutivo considerar a forma de organização dos indicadores propostos pela CIRIA. 107

99

o A.1 – Iniciattivas para o desenvolvim mento de indicadores de sustentabilid s ade relacion nados ao Quadro seto or da constru ução Fonte e: (da Silva, 2007). 2

E Existem dife erenças fundamentais en ntre o conceiito puro de indicadores dde sustentab bilidade e os indica adores utiliza ados – ou pa assíveis de u utilização ne este momento o – em sisteemas de avaliação de edifícios. Os método os de avaliação ambienttal de edifíc cios disponív veis tipicameente não abo ordam os d sustentab bilidade e sã ão dirigidos a edifícios individuais (da ( Silva, aspetos sociais e económicos da 2007). JJá a discusssão de indica adores de su stentabilidad de (particularrmente indicaadores socia ais e económicoss) relaciona-sse a medidas mais gera ais da socied dade, como redução r de pobreza, analfabetismo, PIB, etc., que nã ão são facilm mente relacio onadas à esc cala organizacional ou dde um edifício o (COLE, ODD; JOHN,, 2001)110. Apesar de os edifícios serrem bens de longa vida úútil, se comp parados a 2002; TO outros b bens de conssumo, a maiioria dos fen nómenos natturais e cultu urais significcativos mostrra longas tendênciias que não são nem me esmo perceb bidas no curtto prazo; e a escala tem mporal, até qu ue ocorra um realinhamento siignificativo em direção a um mundo sustentável, será certam mente medida em geCOLE, 2002 2)111. rações (C R Relacionar medidas m de desempenho d o de edifícios s a indicadores mais ampplos de progresso em direção à sustentabilidade perm manece como o um dos prrincipais des safios a sereem enfrentad dos, mas 110 111

Citados por (da Silva, S 2007). Idem.

100

seguramente, mais simples do que definir precisamente o estado sustentável, é obter dados para gerar indicadores de desempenho em relação a metas de sustentabilidade, ainda que persistam as dificuldades de acesso a dados corretos e contínuos, necessários à formulação e manutenção dos indicadores. A discussão sobre indicadores de sustentabilidade de edifícios foi intensificada no fim da década de 90. Em 1999, a Universidade de Michigan realizou um workshop para discussão de indicadores de sustentabilidade de edifícios (REPPE, 1999a)112, obstáculos para a sua implementação (REPPE, 1999b)113 e estratégias (REPPE, 1999c)114. Em 2001, foi constituído um Grupo de Trabalho no Green Building Challenge (GBC) com o objetivo de desenvolver uma lista preliminar de indicadores de sustentabilidade, entendidos como medidas absolutas destinadas a fundamentar a comparação internacional de edifícios (da Silva, 2007). Na reunião do GBC em Madrid (Março de 2003), houve uma mudança importante de abordagem, e foram iniciados estudos para a consideração dos efeitos económicos e sociais relacionados à construção e operação dos edifícios […] (da Silva, 2007). Um avanço paralelo e bastante promissor nessa mesma direção é o trabalho do ISO/TC59/SC17 na preparação de um conjunto de normas sobre sustentabilidade de edifícios e ativos construídos34, que inclui um texto específico sobre princípios para indicação de sustentabilidade de um edifício ou grupo de edifícios (ISO AWI 15392) (ISO, 2005a)115. Com o uso dessa norma, pretende-se que as avaliações de sustentabilidade de edifícios sejam feitas segundo uma estrutura comum e uma coleção principal de indicadores, definidos na ISO AWI 21932 (2002c)116 e na ISO TS 21929 (ISO, 2005b)117. A influência económica do edifício é expressa com base em fluxos monetários gerados durante o seu ciclo de vida, como investimentos (em terreno, projetos, manufatura de produtos, construção...); custos operacionais (consumo de energia e de água, gestão de resíduos...); custos com manutenção e reparo; e desconstrução e destino de resíduos de demolição. Na ISO AWI 21932 (ISO TC59/SC3, 2002c)118, os indicadores económicos relacionam-se com os fluxos monetários durante o ciclo de vida do edifício, basicamente custo ou retorno para proprietários, ocupantes e usuários. Uma abordagem sustentável enfatiza o custo no longo prazo (análise de custos ao longo do ciclo de vida) em vez de lucratividade no curto prazo (da Silva, 2007). Os indicadores ambientais referenciam-se basicamente às categorias de impactos listadas na ISO 14.042 (ISO, 2000)119: uso de recursos (solo, água, energia e matérias primas), potencial de aquecimento global, acidificação, eutrofização, formação de foto-oxidantes, danos à camada de ozono, ecotoxicidade, contaminação do solo, saúde e biodiversidade. Esses indicadores foram, por sua

112

Citado por (da Silva, 2007) Idem 114 Idem 115 Idem 116 Idem 117 Idem 118 Idem 119 Ibidem 113

101

vez, relacionados na versão de 2003 da ISO CD 21931 (ISO, 2003b)120, que aponta uma lista mínima de itens a serem contemplados no desenvolvimento de métodos de avaliação ambiental de edifícios. Os indicadores sociais são tratados na ISO AWI 21932 (ISO, 2002c)121 em termos de saúde e produtividade (riscos à saúde e clima interno); segurança do usuário, igualdade (acessibilidade) e herança cultural (qualidade arquitetónica; flexibilidade; vida útil do edifício e adequabilidade à envolvente). Muitos desses aspetos sociais são usualmente tratados no nível da comunidade. A norma tentará relacioná-los ao nível dos edifícios e grupos de edifícios (da Silva, 2007). Como os indicadores são necessários para a tomada de decisão de diversos agentes, o ponto de partida para seu desenvolvimento é a identificação dos usuários principais e suas expectativas e necessidades de informação. O uso pretendido para um sistema de avaliação pode variar conforme a etapa do ciclo de vida em que se pretende aplicá-lo (Quadro A.2). Consequentemente, os indicadores utilizados para caracterizar o desempenho do edifício em cada situação de aplicação também deverão ajustar-se à finalidade proposta. A ISO TS 21931 (ISO, 2005c)122 prevê diferentes casos de aplicação de métodos de avaliação ambiental de edifícios. A Figura A.4 mostra os diferentes pontos ao longo do ciclo de vida em que uma avaliação (de sustentabilidade) ambiental pode ser feita, através dos diferentes métodos e ferramentas existentes. As linhas tracejadas indicam as modificações parciais quanto ao modo e à extensão da abrangência das diferentes etapas do ciclo de vida permitida por alguns desses métodos. As setas e círculos indicam o caráter ou natureza dos dados utilizados em cada avaliação, isto é, se ela é baseada em análise de dados anteriores (avaliação retrospetiva), dados atuais (avaliação pontual, do tipo snap-shot) ou em um prognóstico bem fundamentado (avaliação antecipatória). No que aos desafios metodológicos e necessidades de pesquisa diz respeito, o uso de indicadores prevê três etapas principais: (1) Escolha dos indicadores relevantes, que deve refletir as necessidades e preocupações das partes interessadas (agenda do setor) e a representação adequada do objeto avaliado. Essa seleção depende de limites de decisão, do objeto e contexto de construção, e da disponibilidade prática de informação; (2) Pesquisa dos métodos e informações adequados para avaliar os valores dos indicadores; (3) Coleta de informações e uso de métodos relevantes para atribuir valores aos indicadores selecionados. Mais importante que os números atribuídos aos indicadores é ter o controlo preciso sobre o que o indicador efetivamente descreve e sobre as circunstâncias em que valores foram obtidos ou à ele atribuídos. É esse controle que confere rastreabilidade e replicabilidade e que permite o ajuste ou refinamento nos valores segundo as alterações de cenário e dos dados disponíveis ao longo do tempo.

120

Ibidem Citado por (da Silva, 2007) 122 Idem 121

102

Quad dro A.2 - Usuários potencciais e aplicações de méttodos de avaaliação (adapta ado de ISSO,, 2005 b) 2 (Fontte: da Silva, 2007).

103

ão entre as principais p inicciativas internacionais de e desenvolvim mento de ind dicadores Quadro A.3 – Seleçã am mbientais e de d desenvolvvimento suste entável (esfe era das naçõões) Fon nte: (Silva, 20 007).

104

Q Quadro A.4 – Temas-cha ave para a co onstrução su ustentável no o Reino Uniddo (CIRIA, 20 001) Fon nte: (Silva, 20 007).

105

Figura A.4 – Re elação entre os cas de ap plicação de avaliação a am mbiental prev vistos na ISO TS S 21931 (ISO O, 2005c) e o ciclo de vid da de empreeendimentos (Fonte: Silva, 2007))

A A.3.1. Méttodos de avaliação a ambiental de edifíc cios Quadro A..5 – Estrutura a de itens a a avaliar propo osta pela ISS SO CD 219331, versão 20 003 (ISS SO, 2003b); (Fonte: Silva a, 2007)

106

Figura A A.5 - Escalass de ação da as principais iniciativas de e organizaçã ão de indicaddores ambien ntais, de desenv volvimento su ustentável e de sustentabilidade

A A.4.

Ciclo de vida a da const rução

Quadrro A.6A.4– Fases do ciclo o de vida e rrelevância do os instrumentos da ACV (Centre for Design, D 2001) Fonte e: (Pinheiro, 2006) Fases do CV Ferram menta 1 2 3 4 5 6

1

2

3

4a

4b

5

Biefing com o cliente

onceção Co

Cons strução

Opera ração

Renova ação

Fim de vida

sim

sim

sim

sim

sim

sim

mentas de ACV V detalhadas – Ferram análise de materiais e produtos mentais de design ACV – agre-Ferram gação o de eco-pontos Ferram mentas ACV ba aseadas em CAD D emas de avaliaçção e classificaç ção Esque de ediifícios Listas de verificação e linhas orientadoras Input / Output

sim

sim

sim m

sim

sim m

sim

sim

sim

sim

sim

107

Figura A.6 - Impactes Ambientais no o ciclo de atividades da construção c (C CICA, 2002)) (Fontte: Pinheiro, 2006)

108

A A.5.

Pon nderação das d 22 verrtentes (S Sistema Lid derA)

Figura A.7 – Ponderação P (em percenttagem) para as 22 áreas do sistema LLiderA (V2.0 00) e: www.liderra.info Fonte

109

A.6.

Fas ses do empreendime ento e apllicação da a abordageem ao Lid derA

Figura A.8 - Impactes Ambientais A no o ciclo de atividades da construção c (C CICA, 2002)) e: www.liderra.info) (Fonte

110

A.7.

Planta de localização do Centro Comercial Nova Vida

Figura A.9 – Planta esquemática de parte da Urbanização do Nova Vida (Fonte : http://www.atriumnovavida.co.ao/)

111

A.8.

Vista aérea de Luanda Sul

Figura A.10 – Delimitação do projeto Nova Vida (Fonte: http://wikimapia.org)

112

A.8.1. Pllanta do piso-ttipo dos edifíc cios.

11 13

A.8.2. Evolução de Luanda Sul (2001 a 2011)

114

A A.9.

Vistta aérea da implant ação da moradia m e delimitaçãão do terrreno.

Zona de plantio Moradia Estacionamento viatturas Tanque de águ ua

A A.9.1. Inte erior do lote (estudo o de caso – moradia a)

115

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.