A importância da informação no rádio

June 7, 2017 | Autor: V. Almeida de Jesus | Categoria: Radio, Radiojornalismo, Grupos De Poder, Noticias, Gisela Swetlana Ortriwano
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A importância da informação no rádio Por: Valdeck Almeida de Jesus Gisela Swetlana Ortriwano, autora do livro “A Informação no Rádio – os grupos de poder e a determinação dos conteúdos” formou-se em Ciências Sociais pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas e em Jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes, as duas da Universidade de São Paulo. Exerceu atividades didáticas nas áreas de Jornalismo Radiofônico e Televisionado na Escola de Comunicações da USP e nos Instituto Metodista de Ensino Superior, na Fundação Padre Anchieta (Rádio e Televisão Cultura de São Paulo), o mesmo cargo que ocupou na Rede Globo de São Paulo, na qual implantou o Setor de Pesquisa. O livro “A Informação no Rádio” foi lançado em 1985 pela Summus e é parte da dissertação de mestrado defendida em junho de 1982. O livro faz um relato da história e da trajetória de implantação do rádio no Brasil, cita a importação dos transmissores da França, a transmissão em Recife (1919) e no Rio de Janeiro (1923). Gisela demonstra que o rádio era um produto de luxo, voltado à elite, estava longe de ser um veículo de massa, como atualmente. Ela faz um panorama da era Vargas, do rádio comercial, da publicidade paga e do controle estatal na programação através das leis. A guerra da publicidade expandiu a programação para conteúdos mais populares, mas não propiciou diversificação, pois se repetia as fórmulas que davam certo, como rádionovelas. A televisão aumentou a concorrência, pois imitava os programas de auditório, jornalismo e novelas. Para competir, o rádio precisou diminui custos e ficou mais ágil, diversificou e se especializou em nichos de mercado como esportes, jornalismo e os serviços de utilidade pública, como fez a Rádio Jornal do Brasil, do Rio de janeiro, em 1959. Outro fator importante para o rádio foi a Freqüência Modulada, na década de 60, com programação musical, cujo entretenimento aproximou o rádio das grandes massas, democratizando o acesso. Segundo Gisela, tanto as rádios de mobilização voltadas para a fala, quanto as de relaxamento – com ênfase em música, sobrevivem graças à especialização, exploração de nichos de mercado e valorização da cultura local. Para ela as rádios em redes são motivadas por questões econômicas, pois facilita a captação de patrocínios. No entanto, a programação pode ficar massificada e engessada, facilitando o controle do estado, desestimula a criatividade e destrói características da cultura local, como já aconteceu com as emissoras de TV. Para combater a massificação surgem as Rádios Livres ou “Rádios Piratas”, “procurando abrir possibilidades para uma apropriação coletiva dos meios” e com objetivos de “não mais atingir grandes massas, mas as minorias e os grupos socialmente marginalizados” (OTRIWANO, 1985, pág. 34). Estas rádios não conseguem competir com as redes na captação de patrocínio e também sofrem controle estatal. 1

A autora classifica a radiodifusão em monopólio autoritário, vigente em países socialistas, onde o rádio é explorado pelo estado e usado para a manutenção da ideologia do partido dominante; e em pluralista: a radiodifusão é explorada por estado e iniciativa privada, com finalidades de entretenimento, publicidade comercial etc. A crítica é que são controlados pelo estado e que as concessões passam pelo crivo dos políticos que são, em sua maioria, representantes da elite dominante. Sobre a estrutura radiofônica, o livro não traz muita novidade, comparando-se com Emílio Prado, que é mais objetivo, claro, conciso e direto. A informação no Rádio se delonga em capítulos históricos e somente no final do livro trata, efetivamente, da informação no rádio. Gisela afirma que sempre há informação no rádio, seja „informação musical‟, „informação comercial‟, mas só aprofunda na informação jornalística. Ela esclarece que a informação se adéqua à imediatidade e mobilidade do rádio e classifica as transmissões em categorias distintas: a) flash – divulgação imediata em função da oportunidade; b) edição extraordinária – pode interromper a programação em função da importância da informação a ser veiculada; c) especial – pressupõe pesquisa aprofundada antes da veiculação; d) boletim – com horário e duração determinada, texto elaborado e pode abranger noticiário local, nacional e internacional; e) jornal – tradicionalmente conhecido como „jornal falado‟, estruturado em editorias, duração variada a partir de 15 minutos a duas horas; f) informativo especial – setorizada como noticiários esportivos; g) programa de variedades – não diretamente ligado à atualidade, intercala notícias com músicas, humor etc. Aqui a autora consegue ser sucinta, direta e clara em sua explanação, e dá uma visão bem pragmática da difusão da informação no rádio. Para Gisela as emissoras em FM transmitem notícias apenas para cumprir a lei e as rádios em AM fazem da notícia seu principal objetivo. A autora não tece nenhum comentário ou crítica em relação à concentração das concessões de rádio nas mãos de grupos econômicos, políticos e empresários que monopolizam o mercado e usam as emissoras como palanque para projetos pessoais. Por ser concessão do estado, que autoriza a abertura e funcionamento, as rádios deveriam sofrer fiscalização quanto ao conteúdo da programação. Nesse aspecto, outra vez, a autora silencia, limitando-se a descrever os vários tipos de programação. Transmissão da informação Por tratar-se de uma edição de 1985, a autora ainda não vislumbrava a internet, o telefone celular e tantos outros equipamentos tecnológicos dos quais a imprensa se apodera para produzir, editar e transmitir informações. O livro fala de equipes de funcionários especializados, pois a autora ainda não pensava, por óbvio, que o futuro do radialista seria diferente, e que o próprio repórter teria de produzir, editar, transmitir, irradiar. Um ponto positivo é a denúncia que Gisela faz sobre o descumprimento das leis que regem a 2

profissão de jornalista. Legalmente, a produção de textos e outras atividades inerentes à atividade jornalística seriam competência de profissionais diplomados. No entanto, pessoas não habilitadas exercem estas atividades, tomando o espaço de quem estudou e se formou para tal. Para Gisela a presença do radialista no rádio é imprescindível, há necessidade de o jornalista estar no local da notícia. Ela afirma que nas rádios substantivas – que se dedicam mais à função noticiosa – só há repórteres especializados em esporte e polícia. Gisela aponta, ainda, mais de vinte funções específicas como pauteiro, editor, apresentador e pesquisador. Segundo ela, as rádios precisam ter profissionais dedicados às agências de notícia, serviços de escuta, informantes próprios etc. A realidade atual é outra, em que o jornalista precisa ter a prática e a teoria, ser diplomado para exercer as funções de jornalista em qualquer veículo e ainda ser expert em várias tecnologias, para poder exercer todas ou quase todas as funções em um meio de comunicação. Segundo Gisela a escolha da notícia que vai ao ar sofre influência de vários fatores: pessoais, profissionais, sociais e institucionais; ela elenca critérios como importância, interesse, abrangência, impacto, atualidade, consequência, proximidade, honestidade, exatidão, identificação, ineditismo, oportunidade, comerciais, publicitários, políticos e a pressão ideológica dos proprietários das rádios. Gisela não comenta que a maioria dos veículos de comunicação do país se encontra sob a tutela de políticos, que usam o poder da informação para beneficiarem partidários e atacarem quem não se encontra sob as asas de suas agremiações políticas. Para a autora o estado também interfere nas pautas. O maior publicitário do país é o poder público, que pressiona, indiretamente, a cobertura dos fatos. O enfoque e a angulação também é um fator de constrangimento, segundo Gisela. Fatos são noticiados, mas o jornalismo deixa de cumprir sua função social que é a de fiscalizar o poder público. Gisela foi muito feliz nessa constatação, pois o que se nota, ainda hoje, é que a pressão política realmente determina o que é noticiado e como é noticiado. OPINIÃO Gisela Orrtriwano faz uma explanação sobre a história do rádio, tema que ocupa quase todo o livro. Apenas nos capítulos finais ela aprofunda-se no assunto que dá título ao livro, qual seja a informação no rádio. Para um estudante iniciante no assunto, o livro traz informações que podem ajudá-lo a situar o veículo e o seu papel dentro do complexo mundo da informação. No entanto, para profissionais ou alunos em nível intermediário de comunicação, fica a desejar, pois a autora poderia explorar muito mais a questão em todos os capítulos ou deixar a história para os capítulos finais, ou, ainda, ser sucinta na apresentação histórica. A visão crítica da escritora apenas é vista nos capítulos que tratam 3

especificamente da informação. Ela poderia tecer muito mais considerações nesse sentido nos demais capítulos, o que não fez. No geral, o livro tem uma boa apresentação dos temas e consegue situar o leitor em um campo do conhecimento pouco estudado e pouco debatido. Aparentemente o rádio é mais um veículo de comunicação, mas, pela especificidade, proximidade e linguagem simples e direta com os consumidores de sua programação, o rádio possui um poder muito forte. Esta característica, o poder, e a pouca atenção que se dá ao veículo, seja por estudos científicos acadêmicos ou por outros meios de questionamento, torna o rádio praticamente uma arma de uso livro nas mãos dos seus detentores. Publicado em 24.07.2009 na rede mundial de computadores: http://www.difundir.com.br/site/c_mostra_release.php?emp=1024&num_relea se=6268&ori=E

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