A Importância das Citações do Antigo Testamento em Efésios para a Hermenêutica Paulina

May 26, 2017 | Autor: Creuse Santos | Categoria: Hermeneutics, Apostle Paul and the Pauline Letters, Ephesians
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ELLIGER K. e RUDOLPH W. (Editores). Biblia Hebraica Stuttgartensia. Alemanha, German Bible Society, 1997. Versão Eletrônica.
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STRONG, James. Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong. H3947 – jq'l; (laƒqaH). Versão Eletrônica Libronix. São Paulo, Sociedade Bíblica do Brasil, 2005.
RAHLFS, Alfred D. (Editor). Septuaginta. Stuttgart, Deutsche Bibelgesellschaft Stuttgart, 1979. Versão Eletrônica Libronix. Salmo 67:19.
BURGHARD, Siede. lambavnw (lambánô) in: BROWN, Colin e COENEN, Lothar. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. Trad. Gordon Shown. 2a Ed. Vol. II. São Paulo, Vida Nova, 2000. p. 2528 – 32.
BLACK, M., MARTINI, C. M., METZGER, B. M. e WIKGREN, A. The Greek New Testament. Third edition Corrected. Federal Republic of Germany, United Bible Societies, 1983. Versão Eletrônica Libronix. Efésios 4.8.
Em termos gerais, é preferível a leitura sem a conjunção, não só porque conta com o apoio de diversas testemunhas (¸46 a A D* G 33 88 it vg copsa bo Marcião Justino al) se não porque, além disso, não poucos copistas hão sentido-se tentados a introduzir esta conjunção para apressar uma construção que, em grego, resulta pouco idiomática. METZGER, Bruce M. Un Comentario Textual al Nuevo Testamento Griego: Volumen Complementario del The Greek New Testament 4ª Ed. Rev. Trad. Pessoal do Espanhol. Stuttgart, Alemanha, Sociedades Bíblicas Unidas, 2006. p. 532.
ARNDT, W., GINGRICH, F. W., DANKER, F. W., e BAUER, W. A Greek-English lexicon of the New Testament and other early Christian literature: traduzido e adaptado da 4a Ed. Revista e Comentada de Walter Bauer's Griechisch-deutsches Worterbuch zu den Schrift en des Neuen Testaments und der ubrigen urchristlichen Literatur (2a ed., Revista e Comentada). Chicago: University of Chicago Press, 1979. Versão Eletrônica.
VINE, W. E., BRUCE, Merrill F. e WHITE, William Jr. Dicionário Vine: O Significado Exegético e Expositivo das Palavras do Antigo e do Novo Testamento. 5ª Ed. Trad. Luís Aron de Macedo. Rio de Janeiro, CPAD, 2005. p. 456.
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ROSS, Allen P. Gramática do Hebraico Bíblico para Iniciantes. Trad. Gordon Chown. São Paulo, Vida, 2005. p. 94.
REGA, Lourenço Stelio e BERGMANN, Johannes. Noções do Grego Bíblico: Gramática Fundamental. São Paulo, Vida Nova, 2004. p. 138.
WALTKE, Bruce K. e O'CONNOR M. Introdução à Sintaxe do Hebraico Bíblico. Trad. Adelemir Garcia Esteves, Fabiano Antônio Ferreira e Roberto Alves. São Paulo, Cultura Cristã, 2006. p. 363.
Idem. p.484.
ROSS, Allen P. Op. Cit. p. 132.
Aoristo este que já vimos ser plenamente equivalente ao texto Massorético (Perfeito do Qal).
CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. São Paulo, Hagnos, 1998. Vol. 4 (I Coríntios, II Coríntios, Gálatas e Efésios). p. 598.
KIDNER, Derek. Salmos 1 – 72 Introdução e Comentário aos Livros I e II dos Salmos. Série Cultura Bíblica. Trad. Gordon Chown. São Paulo, Vida Nova, 1980. Vol. 14A. Nota de Rodapé nº 76. p. 264.
KIDNER, Derek. Idem. p. 263.
GILL. in: CALVINO, João. Op. Cit. Nota de Rodapé nº 30, p. 659.
KIDNER, Derek. Op. Cit. p. 264.
Aqui podemos olhar o texto de pelo menos três maneiras, Davi se refere à subida da Arca para Jerusalém como o Senhor subindo para Sião (Jerusalém) e levando consigo um grupo de prisioneiros que são seus presentes, despojos de guerra. Ou ainda, o Senhor subindo a Jerusalém e trazendo consigo os presentes dados pelos inimigos derrotados, podendo também ser ambas as coisas. Mas, levando em consideração que Israel não tinha o costume de fazer prisioneiros de guerra, a posição que parece ser mais possível é a segunda.
WALVOORD, J. F., ZUCK, R. B., e Dallas Theological Seminary. The Bible knowledge commentary: An exposition of the scriptures. Wheaton, Illinois, Victor Books, 1985. Versão Eletrônica Libronix. Salmo 68:18.
STOTT, John. A Mensagem de Efésios: a Nova Sociedade de Deus. 6ª Ed. Trad. Gordon Chown. São Paulo, ABU, 2001. Série A Bíblia Fala Hoje. p. 112 – 113
ELLIGER K. e RUDOLPH W. (Editores). Op. Cit. Zacarias 8.16.
RAHLFS, Alfred D. (Editor). Op. Cit. Zacarias 8.16.
BLACK, M., MARTINI, C. M., METZGER, B. M. e WIKGREN, A. (Editores). Op. Cit. Efésios 4.25.
STRONG, James. Op. Cit. Vocábulo ajpotivqhmi (apotítheƒmi).
Idem. Vocábulo yeu'do~ (pseûdos).
WALTKE, Bruce K. e O'CONNOR, Michael. Op. Cit. p. 193 (11.2.2a).
Idem. p. 303 (16.4c).
PEARLMAN, Myer. Através da Bíblia Livro Por Livro. Trad. N. Lawrence Olson. São Paulo, Vida, 2006. p. 218.
Prefigurado pela coroação de Josué por Zorobabel em Zacarias 6.9 – 15.
LASOR, William. Introdução ao Antigo Testamento. Trad. Lucy Yamakami. 2ª Ed. São Paulo, Vida Nova, 2002. p. 442.
HILL, Andrew E. e WALTON, John H. Panorama do Antigo Testamento. Trad. Lailah de Noronha. São Paulo, Vida, 2006. p. 595 – 596.
CONSTABLE, Thomas L. Notes on Zechariah. Ed. 2008. in: http://www.soniclight.com/constable/notes/pdf/zechariah.pdf, acessado em 5 de março de 2009. p.48.
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ELLISEN, Stanley. Conheça melhor o Antigo Testamento: um guia Trad. Emma Lima.
HILL, Andrew E. e WALTON, John H. Op. Cit. p. 597.
Ou Trinitariana: O Pai elege (e dá a fé), O filho redime e o Espírito Sela (Garante).
PINTO, Carlos Osvaldo Cardoso. Foco e Desenvolvimento no Novo Testamento. São Paulo, Hagnos, 2008. p. 345.
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HARRIS, R. Laird, ARCHER, Gleason L. Jr. e WALTKE, Bruce K. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento. Trad. Márcio Loureiro redondo, Luiz A. T. Sayão e Carlos Osvaldo Pinto. São Paulo, Vida Nova, 1998. 2112 zg"r; (raƒgaz). p. 1397.
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STRONG, James. Op. Cit. (G3572) nuvssw.
Idem. (G2660) katanuvssw.
LOUW, J. NIDA, E. A. Greek-English lexicon of the New Testament: Based on semantic domains. 2a Ed. New York, United Bible societies, 1989. Versão Eletrônica Libronix. 25.281 κατανύσσομαι τὴν καρδίαν.
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LIDDELL, Henry Jorge e SCOTT, Robert. A Greek-English lexicon. Oxford, Oxford University Press, 1940. Versão Eletrônica Libronix. katanuvw (katanýô).
BLACK, M., MARTINI, C. M., METZGER, B. M. e WIKGREN, A. Op. Cit. Efésios 4.26.
RIENECKER, Fritz e ROGERS, Cleon. Op. Cit. p. 395.
KIDNER, Derek. Op. Cit. p.72
CALVINO, João. Op. Cit. p. 89
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CALVINO, João. Op. Cit. p. 97.
CHAMPLIN, Russell Norman. Op. Cit. p. 611.
ELLIGER K. e RUDOLPH W. (Editores). Op. Cit. Isaías 63.10.
STRONG, James. Op. Cit. (H6087) bx'[; ('aƒtzab).
RAHLFS, Alfred D. (Editor). Op. Cit. Isaías 63.10a.
Idem. (G3947) paroxuvnw (paroxýnô).
BLACK, M., MARTINI, C. M., METZGER, B. M. e WIKGREN, A. Op. Cit. Efésios 4.26.
ALLEN, Ronald B. 1666 bx'[; ('aƒtzab). In: HARRIS, R. Laird, ARCHER, Gleason L. Jr. e WALTKE, Bruce K. (organizadores). Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento. Trad. Márcio Loureiro Redondo, Luiz A. T. Sayão e Carlos Osvaldo Pinto. São Paulo, Vida Nova, 1998. p. 1154.
PINTO, Carlos Osvaldo. Foco e Desenvolvimento no Antigo Testamento. São Paulo, Hagnos, 2006. p. 596.
ELLIGER K. e RUDOLPH W. (Editores). Op. Cit. Gênesis 2.24.
STRONG, James. Op. Cit. (H5800) bz"[; ('aƒzab).
Idem. (H1692) qb'D; (daƒbaq).
RAHLFS, Alfred D. (Editor). Septuaginta. Stuttgart, Deutsche Bibelgesellschaft Stuttgart, 1979. Versão Eletrônica Libronix. Salmo 67:19.
BLACK, M., MARTINI, C. M., METZGER, B. M. e WIKGREN, A. Op. Cit. Efésios 5.31.
SCHALKWIJK, Francisco Leonardo. Op. Cit. Idem Ibid.
STRONG, James. Op. Cit. (G2641) kataleivpw (kataleípô).
STRONG, James. Op. Cit. (G4347) proskollavw (proskolláo).
SCHÖKEL, Luis Alonso. Dicionário Bíblico Hebraico-Potuguês. Trad. Ivo Storniolo e José Bortolini. São Paulo, Paulus, 1997. l['1 E.2. ÷KeAl[' p. 495.
WALTKE, Bruce K e O'CONNOR. Op. Cit. 11.3.2a. p. 221.
SEEBASS, Host. in: COENEN, Lothar e BROWN, Colin (Editores). Op. Cit. kollavomai (kolláomai). p. 1109.
METZGER, Bruce M. Op. Cit. p. 537.
Como carnal, fique entendido o sentido mais simples da palavra, quer dizer os crentes estão unidos enquanto em sua existência aqui na terra, pertencem a uma igreja local, são devedores do amor cristão e do auxílio (sustento) uns para com os outros, devem orar uns pelos outros, devem ter comunhão, etc. Essa palavra não deve ser entendida neste contexto de forma nenhuma com conotação sexual, pois isto é reservado ao relacionamento de marido e mulher.
ELLIGER K. e RUDOLPH W. (Editores). Op.Cit. Êxodo 20.12
STRONG, James. Op. Cit. (H3513) dbeK; (kaƒbeƒd).
RAHLFS, Alfred D. (Editor). Op. Cit. Êxodo 20.12.
Strong, J., & Sociedade Bíblica do Brasil. (2002; 2005). Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong (H8679). Sociedade Bíblica do Brasil.
BLACK, M., MARTINI, C. M., METZGER, B. M. e WIKGREN, A. Op. Cit. Efésios 6.2.
HAMILTON, Victor P. Manual do Pentateuco. 2ª Ed. Trad. James Monteiro dos Reis. Rio de Janeiro, CPAD, 2006. Cap. 9. p 222.
Daí a importância de Jesus pertencer a descendência de Davi.
STOTT, John. Op. Cit. p.180.
ELLIGER K. e RUDOLPH W. (Editores). Op.Cit. Deuteronômio 5.16.
RAHLFS, Alfred D. (Editor). Op. Cit. Deuteronômio 5.16.
BLACK, M., MARTINI, C. M., METZGER, B. M. e WIKGREN, A. Op. Cit. Efésios 6.3.
GILCHRIST, Paul R. in: HARRIS, R. Laird, ARCHER, Gleason L. Jr. e WALTKE, Bruce K. Op. Cit. (863) bf'y: (yaƒtab). p. 612 – 13.
Deuteronômio 5.16, 29; 6.18; 12.25, 28; 22.7.
HAMILTON, Victor P. in: HARRIS, R. Laird, ARCHER, Gleason L. Jr. e WALTKE, Bruce K. Op. Cit. (162) Jr'a; ('aƒrak). p. 120.
REGA, Lourenço Stelio e BERGMANN, Johannes. Op. Cit. p. 139.
CHAMPLIN, Russell Norman. Op. Cit. p. 636.
COENEN, Lothar e BROWN, Colin. Op. Cit. gh' (geƒ). p. 2493.

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1. Introdução

A Interpretação do Antigo Testamento tem sido o alvo de grande parte da discussão teológica atual, principalmente quanto a sua validade e aplicabilidade à Igreja Moderna.
Milhares de páginas têm sido Escritas sobre o assunto. E as opiniões, são as mais diversas possíveis. Alguns afirmam que Ele deve ser alegorizado, em busca de um sentido espiritual oculto por trás do texto. Outros defendem sua interpretação literal à luz de outros textos, mas, muitas vezes sem considerar se quer a possibilidade de um entendimento novo de alguns textos. E outros ainda afirmam apenas seu valor histórico negando qualquer validade para os tempos atuais.
Muitas vezes, nesta batalha hermenêutica, quem sai perdendo é o próprio texto das Escrituras, por vezes, maltratado de ambos os lados destas trincheiras.
Será que existe um método Hermenêutico válido para interpretar o Antigo Testamento? Que parâmetros devemos usar para entender os textos do Antigo Testamento? Será que realmente é possível usá-lo e aplicá-lo à Igreja Moderna? Qual seu valor para a teologia de nossos dias? Que visão os autores do Novo Testamento têm do Antigo Testamento? Que métodos eles usam para aplicá-lo à realidade da vinda de Cristo? O que esta vinda alterou no entendimento do Antigo Testamento?
Dentro desta busca por respostas, esbarramos nos autores do Novo Testamento, que muitas vezes citaram o Antigo. E temos que ser sinceros, suas interpretações são, por vezes, surpreendentes e difíceis de explicar. Teriam eles usado de uma liberdade hermenêutica tal para interpretar o Antigo Testamento que difere muito da hermenêutica mais simples? Se é que eles tiveram essa liberdade? Teríamos nós, a mesma liberdade para interpretar o Antigo Testamento hoje?
É em busca de respostas a estas perguntas que iniciaremos este trabalho. Porém, como já se pode imaginar, não poderemos analisar todo o Antigo Testamento, seria o trabalho de uma vida, quiçá nem toda uma vida seria suficiente. Esse trabalho também seria imenso se considerássemos a quantidade grandiosa de citações do Antigo Testamento no Novo Testamento.
Deste modo, por questões de limitações, teremos que trabalhar por amostragem, e o método escolhido para darmos resposta a alguns destes questionamentos será uma avaliação e análise das citações do Antigo Testamento feitas por Paulo no Livro de Efésios. Buscando entender os parâmetros hermenêuticos usados por Paulo e as aplicações dadas por ele nestes textos.
Obviamente, não esgotaremos as discussões ao redor dos textos trabalhados, nem teremos tempo para analisá-los à luz de todo seu contexto, mas tentaremos de forma sucinta considerar cada um destes detalhes.
Nosso trabalho seguirá a seguinte ordem, identificação dos textos e análise das equivalências léxicas e gramaticais das citações, seguida de uma avaliação do contexto das citações em seu contexto original e na obra de Paulo, e por fim, a avaliação do uso do Antigo Testamento feito por Paulo e da hermenêutica usada por ele.
























2. Citação do Salmo 68.18 (19) em Efésios 4.8

Nosso objetivo aqui é o de comparar textualmente os textos de Davi e Paulo, para assim ter bases para analisar o uso de Paulo e a metodologia hermenêutica empregada por ele.


2.1 Texto Massorético do Salmo 68.18 (19)

Texto Massorético
שֶּׁבִי
שָׁבִיתָ
לַ מָּרֹום
עָלִיתָ
ybiv]
hb;v;
µwOrm;
hl;[;
MS
Perf. Qal 2ª MS
Prep. + MS
Perf. Qal 2ª MS
o cativeiro (o cativo)
(tu) levaste cativo (aprisionaste)
para a altura
(tu) subiste

בָּ אָדָם
מַתָּנֹות
לָקַחְתָּ
µd;a;
hn:T;m'
jq'l;
Prep. + MS
FP
Perf. Qal 2ª MS
(em favor de) entre homem
dons (dádivas)
(tu) recebeste

אֱלֹהִים׃
יָהּ
לִ שְׁכֹּן
סֹורְרִים
וְ אַף

hwhy
÷k'v;
rr's;
¹a'
MP
Nom.
Prep. + Qal Inf. Constr.
Partc. Qal MP
Conj. + Conj.
Deus
Yahweh
para habitar (contra a habitação)
os que (se) rebelam
e mesmo (até)

jq'l; (laƒqaH) – Tomar, pegar, buscar, segurar, apanhar, receber, adquirir, comprar, trazer, casar, tomar esposa, arrebatar, tirar; (Qal) tomar, pegar na mão, tomar e levar embora, tomar de, tirar de, pegar, carregar embora, tirar; tomar para ou por uma pessoa, procurar, pegar, tomar posse de, selecionar, escolher, tomar em casamento, receber, aceitar; tomar sobre si, colocar sobre; buscar; tomar, liderar, conduzir; tomar, capturar, apanhar; tomar, carregar embora; tomar (vingança); (Nifal) ser capturado; ser levado embora, ser removido; ser tomado, ser trazido para; (Pual) ser tomado de ou para fora de; ser roubado de; ser levado cativo; ser levado, ser removido; (Hofal) ser tomado em, ser trazido para; ser tirado de; ser levado; (Hitpael) tomar posse de alguém; lampejar (referindo-se a relâmpago).


2.2 Texto da Septuaginta do Salmo 68.18 (19) (LXX – Salmo 67.19)

Septuaginta (Salmo 67.19)
ἀνέβης
εἰς
ὕψος,
ᾐχμαλώτευσας
αἰχμαλωσίαν,
ajnabaivnw


aijcmalwteuvw
aijcmalwsiva
2ª S 2o Aor. Ind. At.
Prep. Ac.
Ac. NS
2ª S 1º Aor. Ind. At.
Ac. FS
(tu) subiste
para
a altura
(tu) prendeste (tomaste cativo)
o cativeiro

ἔλαβες
Δόματα
ἐν
ἀνθρώπῳ,
lambavnw
Dovma

a[nqrwpo~
2ª S 2o Aor. Ind. At.
Ac. NP
Prep.
Dat. MS
(tu) recebeste (tomaste)
dádivas (presentes)
entre (para)
o homem

καὶ
γὰρ
ἀπειθου̂ντες
του̂
κατασκηνω̂σαι.
κύριος
ὁ θεὸς
εὐλογητός


ajpeiqevw

kataskhnovw

Qeov~

Conj. Coor. Adit.
Conj. Coor. Exp.
Partc. Pres. At. Nom. MP
Gen. NS
1º Aor. Inf. At.
Nom. MS
Nom. MS
Adj. Nom. MS
E
também
desobedientes
(de)
para habitar
Senhor
o Deus
bendito

lambavnw (lambánô) – tomar, receber, agarrar, apanhar. É a tradução exata e mais usada no AT para jq'l; (laƒqaH – tomar), o significado passivo "receber", é mais raro (I Samuel 8.3; Salmo 108.8 Provérbios 11.21).


2.3 Citação do Antigo Testamento no Novo Testamento – Efésios 4.8

Citação de Paulo do Salmo 68.18 (19)
διὸ
λέγει·

levgw
Conj. Coor. Con.
3ª S Pres. Ind. At.
por isso
(ele) diz

ἀναβὰς
εἰς
ὕψος
ᾐχμαλώτευσεν
αἰχμαλωσίαν,
ajnabaivnw


aijcmalwteuvw
aijcmalwsiva
Partc. 1º Aor. At. Nom. MS
Prep. Ac.
Ac. NS
3ª S 1º Aor. Ind. At.
Ac. FS
quando subiu (subindo)
para
a altura
(ele) prendeu (tomou cativo)
o cativeiro

Textus Receptus Scriviner's (1881) e Stephen's (1550) e Byzantino
ἔδωκεν
δόματα
τοι̂ς ἀνθρώποις.
[kai;]



kaiv
Divdwmi
dovma
a[nqrwpo~
Conj. Co. Adit.
3ª S 2º Aor. Ind. At.
Ac. NP
Dat. MP
e
(ele) deu
dons (presentes)
aos homens

aijcmalwteuvw (aichmalôteúô) – Palavra formada pela junção da palavra ai[cmh (aíchmeƒ – lança) com a palavra a{lusi~ (hálysis – cadeia, grilhões, cativeiro) e significa literalmente "alguém preso pela lança", e expressa a dependência e sujeição forçada. É usada do "prisioneiro de guerra" e é usada com este significado somente uma vez em todo o Novo Testamento. O verbo adquire o significado de "prender", "por em prisão". Pode ser uma alusão a uma procissão triunfal na qual marchavam as pessoas capturadas na guerra (II Coríntios 2.14).


2.4 Comparação Léxico Gramatical dos textos

Nesta parte do trabalho nosso foco se voltará para a comparação dos textos e para uma avaliação das opções feitas por autores e tradutores e suas influências no entendimento do texto, em especial na citação de Paulo.





2.4.1 A Septuaginta

A septuaginta optou por traduzir as três ocorrências da 2ª Pessoa Masculino Singular do Perfeito do Qal, tanto t;yli[; ('aƒlîtaƒ) e t;ybiv; (shaƒbîtaƒ) quanto T;j]q'l; (laƒqaHetaƒ), pela 2ª Pessoa do Singular do 2o Aoristo do Indicativo Ativo, ἀνέβης (anébeƒs) e ἔλαβες (élabes), com a simples diferença de que ᾐχμαλώτευσας (eƒchmalóteusas) é um 1º Aoristo e não um 2º Aoristo, diferença essa que não gera nenhuma alteração significativa.
Vemos que as pessoas são similares (2ª Masculino Singular – "tu") e que o Qal Perfeito hebraico também corresponde ao modo indicativo grego, e o Perfeito hebraico expressa uma ação completa, assim como o 2º Aoristo usado pelo grego. Talvez a única diferença estaria na força dos verbos, o Qal é um verbo fraco, mas o 2º Aoristo é um verbo forte.
Aparentemente a ação, do Aoristo usado pela LXX é constativa, que expressa uma ação passada, um fato acontecido e concluído, mas sem uma definição exata, podendo ter implicações presentes, o que pode ser expresso pelo fato do verbo hebraico ser um verbo fientivo (ativo – de ação), "com seu foco duplo no evento passado e no estado presente" .
A tradução de µwOrm; (marôm) por uJyovw (hypsóô) também é muito viável, dos 56 usos de µwOrm; (marôm) no Antigo Testamento, 15 vezes a tradução da septuaginta é uJyovw (hypsóô). Esta mesma equivalência de sentidos se vê na tradução de hn:T;m' (mataƒnah), derivada de ÷t'n: (naƒtan – dar), por dovma (dóma) derivada de divdwmi (dídômi – dar). Fato interessante é que ambas as raízes, gregas e hebraicas, expressam o verbo "dar", sendo a equivalência léxica quase que total, inclusive no campo semântico maior.
Uma outra questão é a tradução do Particípio do Qal Masculino Plural hebraico ÷Bov] (shebon), usado atributivamente, pelo Particípio Presente Ativo Nominativo Masculino Plural grego. O verbo grego está desarticulado, estando no uso Adjetivo do Particípio, o que na verdade expressa a mesma ação do verbo hebraico, pois "o uso atributivo do particípio segue as mesmas regras que o adjetivo atributivo" .
Observamos também o uso semelhante do Infinitivo com adjetivo pela septuaginta relacionado com o Infinitivo do Qal hebraico.
E por fim, a Septuaginta insere no final do texto a palavra εὐλογητός (eulogeƒtós), essa palavra não consta do texto hebraico e tem duas possibilidades. Ou é uma clara intervenção dos tradutores, adicionando uma fórmula "Deus bendito", ou é um erro de tradução, pois o versículo 19 (20) começa com a palavra hebraica JWrB; (baƒrûk) traduzida pela septuaginta εὐλογητὸς (eulogeƒtós), sendo assim um erro de repetição.
Para não nos prolongarmos mais, em termos léxicos e sintáticos a LXX pode ser tida como uma tradução extremamente equivalente ao texto Massorético, respeitando inclusive particípios, infinitivos e a semântica das palavras.


2.4.2 Texto do Novo Testamento de Efésios 4.8

Esta é a única citação direta do livro de Efésios pois vem introduzida pela fórmula "... por isso ele diz...", em nenhuma outra citação do livro Paulo se preocupa em deixar claro que é um dito de outrem.
Ao observarmos a citação de Paulo, percebemos que ela omite a parte final do versículo do Salmo, e cita apenas a primeira parte, que passaremos a analisar abaixo.
A primeira mudança com relação à septuaginta, está logo no começo do versículo, é a mudança de 2º Aoristo ἀνέβης (anébeƒs) para o Partícipio 1º Aoristo ἀναβὰς (anabás), essa mudança não é muito drástica pelo fato de ambas as palavras estarem sobre influência temporal do Aoristo. Porém, é importante notar que quando Paulo opta pelo Particípio, ele quis enfatizar o momento em que o sujeito da oração (ele) levou o cativeiro, enquanto que na primeira palavra a ênfase está simplesmente no fato do cativeiro ter sido levado não importando "quando".
O que logo depois se destaca, é a mudança do uso da 2ª o pessoa do singular (Texto Massorético e Septuaginta) para a 3ª pessoa do singular (uso de Paulo), mudança essa que é notadamente proposital e que transforma a direção da oração.
Outra diferença está no uso de divdwmi (dídômi – dar) por Paulo, contrastanto com jq'l; (laƒqaH – tomar, receber) e lambavnw (lambánô – tomar, receber) do texto Massorético e septuaginta respectivamente. No uso original no Salmo, Deus (Sujeito) recebe (pela conquista forçosa) os presentes, já Paulo diz que Ele dá presentes.
Kidner comenta (no que concorda Champlim) de uma possível leitura hebraica alternativa de Paulo com base no Targum, sendo ql'j; (Haƒlaq – repartir, dividir, dar) ao invés de jq'l; (lqH), porém ele mesmo reconhece, que apesar desta possibilidade textual corroborar com o pensamento de Paulo, esta leitura não coaduna com o restante do texto Massorético.
A última distinção se dá no uso τοι̂ς ἀνθρώποις (tois anthrópois) Masculino Plural contrastando com µd;a; ('aƒdam) Masculino Singular e ἀνθρώπῳ (anthrópô) Masculino Singular. Paulo muda o singular para o plural.
Fica claro que Paulo não faz uma tradução exata do texto hebraico como fez a LXX. Temos aqui uma situação em que Texto Massorético e Septuaginta concordam e o texto do Novo Testamento discorda. A grande questão agora é avaliarmos se ele mudou completamente o sentido do texto tirando completamente o foco que estava na mente de Davi ou se apesar das mudanças os textos ainda preservam alguma harmonia.


2.5 Avaliação Hermenêutica

O Salmo 68 fala do triunfo de Deus, e mais provavelmente se refere à procissão real feita quando da volta da Arca da aliança ao seu santuário original em Jerusalém após a derrota dos inimigos (filisteus) de Israel (II Samuel 6.12). Nesta passagem histórica, descrita em Samuel, assim que a Arca chega ao seu destino, Davi distribui comida ao povo (II Samuel 6.18 e 19).
O trecho do versículo 18, por sua vez, pode ser uma alusão ao cântico de Débora em Juízes 5.12 – "... levanta-te, Baraque, e leva presos os que te prenderam..." . Sendo que esta fórmula também encontra semelhança em 2 Crônicas 28.5, 11, Ester 2.6 e Isaías 20.4: "A alusão poderia ser aos triunfos públicos, quando os cativos eram levados em correntes, mesmo os reis e os grandes homens, que haviam feito outros seus cativos" , quer dizer aqueles que um dia escravisaram agora são escravos.
Temos aqui, uma figura de linguagem tirada da guerra, vemos os prisioneiros e os presentes (dádivas) dados por eles, os despojos dos derrotados. O Senhor ganhou Sua guerra, entrou na Sua capital (Jerusalém), antes pertencente aos Filisteus, e submeteu os rebeldes e agora eles pagam tributos a Ele. Os versículos seguintes do Salmo demonstram que o povo de Deus compartilha e recebe destes despojos também, o que provavelmente é a afirmação de Paulo.
Desta forma, como o Salmo é um cântico de exaltação ao Senhor como Rei, o uso da 2ª pessoa do singular (tu) é uma inferência respeitosa, não que em Efésios falte o respeito, mas o uso da 2ª pessoa do singular (tu) dentro do contexto do Salmo é mais necessária, pois, aparentemente Davi parece travar um diálogo direto com o Rei o que exige essa reverência no falar. Já em Efésios, Paulo fala com seus leitores a respeito do Rei, daí o uso mais simples da 3ª pessoa do singular.
Tendo em vista essa perspectiva do Salmo, a citação de Paulo não equivale em letras com o texto de Davi, porém o ambiente em que os textos estão inseridos são semelhantes, sobre isto, comenta o Bible knowledge commentary:

"Paulo seguiu aparentemente a interpretação Judaica comum em seus dias (o Targum), que parafraseia este verso da seguinte maneira: 'Você ascendeu ao firmamento, ó Profeta Moisés! Você conduziu cativo o cativeiro; você ensinou as palavras da lei; você deu [diferente do texto Hebraico] presentes aos filhos dos homens' (Esta interpretação viu Moisés como o representante de Deus). Paulo seguiu esta exegese Judaica porque explicou que o conquistador distribuiu os presentes a seus súditos leais. O apóstolo aplicou essa idéia à vitória de Cristo sobre as forças do mal e de Seus presentes espirituais concedidos (Cf. Efésios 4:11) àqueles que estavam ao seu lado. Por esta analogia (baseada mais na interpretação Judaica dos salmos do que no texto hebraico), Paulo enfatizou a grandeza da vitória espiritual dos crentes em Cristo" .

Quanto a esta idéia, há o fato de que nas sinagogas judaicas o Salmo 68 era relacionado com o pentecostes judaico, onde se comemorava o recebimento da Lei. Moisés subiu o Sinai para receber a Lei e voltou e a deu ao povo. Assim também, Cristo recebeu o Espírito (O Consolador) e o deu ao seu povo a fim de escrever a lei nos seus corações (cf. Atos 2.33) e dar dons a eles.
Esta passagem nos remonta a todo o ensino de Jesus sobre sua ascensão (João 16.5 – 7), no qual Ele afirmava que subiria, pois, se assim não fizesse, o Consolador não viria, e à citação do Salmo, que é intrinsecamente associada à ocasião da festa de pentecostes, onde Cristo ascendeu aos céus e deu dons aos homens, isto é, pelo Espírito repartiu dons espirituais a todos os seus remidos (I Coríntios 12). Assim, entendemos que após a ascensão, Cristo enviou o Consolador como havia prometido, cumprindo Sua promessa e prefigurando o derramamento futuro e final do Espírito proferido em Joel (Joel 2.27, 28).
Com toda certeza, Davi e Paulo falam do mesmo contexto, porém focando momentos ou perspectivas diferentes. No Salmo 68, Davi foi levado a exaltar ao Senhor por Sua conquista, pelo fato de seus inimigos derrotados oferecem a Yahweh seus despojos, e Ele "recebeu" (tu recebeste). Já Paulo, enfatiza a ação posterior, prefigurada por Davi que distribuiu (dá) as bênçãos conquistadas por Deus ao povo como narrado no referido texto de Samuel.
No caso do texto do Novo Testamento, Cristo é o guerreiro vitorioso que derrotou a morte e que adentrou a morte para guerrear contra ela em seu próprio território (desceu), morrendo na cruz do calvário, e empreendeu seu triunfo sobre a morte no próprio território dela: ressuscitando (subiu). E assim, vencendo a morte, tem agora a morte presa à Sua vontade, e hoje a morte derrotada, lhe entrega os despojos.
Efésios apresenta uma grandíssima variedade de despojos, a fé para a salvação, a equidade entre todos os seres humanos salvos, os dons do Espírito Santo, o consolo, a força, e nós salvos em Cristo, que juntamente com Ele e por meio dele recebemos estes despojos de vida e de vitória.
A morte do crente, depois da obra expiatória de Cristo, representa a vitória sobre o pecado, sobre a morte eterna (que é um estado consciente) e sobre o inferno. Na realidade, a morte física, para o crente, representa a sua conquista maior, isto é, o clímax da redenção! Pela vitória de Cristo, Ele recebeu o poder de conceder dons à sua Igreja.
No verso 8, Cristo, "subindo ao alto" com os lauréis de sua vitória, é capacitado, pelo seu triunfo, a dar dons à Igreja. Mas no versículo 9, diz que Ele (Cristo) "antes havia descido às partes mais baixas da terra", indicando o seu triunfo na terra, debaixo da terra e em cima, no Céu. Três domínios e conquistas totais, ou seja: o mundo dos homens (a Terra); o mundo dos espíritos dos homens mortos (Hades ou Sheol) debaixo da terra, que não é sepultura, e o mundo da habitação de Deus (o Céu).
Ainda há um último aspecto a ser notado nos textos, é o fato de que tanto o Texto Massorético quanto a Septuaginta trazem a palavra "homem" no singular e Paulo apresenta a palavra no plural "homens". Não há como afirmar com certeza, mas parece indicar que no texto de Salmo, Deus recebera seus presentes de homem, quer dizer humano, do inimigo de Israel derrotado, provavelmente o rei dos Filisteus, porém, como Paulo fala da distribuição, ele enfatiza o fato de que Deus distribui seus despojos a todos os seres humanos que estão em Jesus Cristo.
Nossa conclusão final é que a hermenêutica de Paulo é válida e apropriada à luz da revelação maior de Cristo. Vemos que Paulo não usa de alegoria ou sequer muda o entendimento ou interpretação do texto original, mas, à luz da revelação de Cristo adéqua a realidade do Salmo à realidade espiritual em Cristo. E Paulo faz tal coisa com a mesmo propriedade com que nós hoje identificamos salmos messiânicos e passagens do Antigo Testamento com Jesus.
É certo que inicialmente o Salmo 68 muito provavelmente se refira a uma vitória militar específica nos tempos de Davi, mas é certo também que ao observá-lo, Paulo encontrou nele aplicação à vitória de Cristo e à Graça que é distribuída nela.











3. Citação de Zacarias 8.16 em Efésios 4.25

Assim como fizemos anteriormente faremos um análise dos textos individualmente observando suas diferenças e semelhanças para posteriormente avaliarmos seus contextos e métodos hermenêuticos.


3.1 Texto Massorético de Zacarias 8.16

Texto Massorético (Zacarias 8.16)
Wh[ere
Ata,
vyai
tm,aÔ
WrB]D'
['re
tae


rb'D;
MS Cons. + Suf. 3ª MS
Prep.
MS
FS
Imp. Piel 2ª MP
o próximo dele (outro)
com
um
a verdade
falai (vós)


3.2 Texto da Septuaginta de Zacarias 8.16

LXX (Zacarias 8.16)
λαλει̂τε
ἀλήθειαν
ἕκαστος
πρὸς
τὸν
πλησίον
αὐτου̂
lalevw
ajlhvqeia




aujtov~
2ª P Pres. Imp. At.
Ac. FS
Pron. Dem. Nom. MS
Prep. Ac.
Artg. Ac. MS
Adver.
Pron. 3ª Gen. MS
falai (vós)
a verdade
cada um
para (com)
(o)
próximo
dele


3.3 Citação do Antigo Testamento no Novo Testamento – Efésios 4.25

Efésios 4.25
Διὸ
ἀποθέμενοι
τὸ ψευ̂δος
diov
ajpotivqhmi
yeu'do~
Conj. Coord. Co.
Partc. 2º Aor. Méd. Nom. MP
Ac. NS
por conseguinte
removendo
a mentira






Citação de Paulo (Zacarias 8.16)
λαλει̂τε
ἀλήθειαν
ἕκαστος
μετὰ
του̂
πλησίον
αὐτου̂,
lalevw
ajlhvqeia




aujtov~
2ª P Pres. Imp. At.
Ac. FS
Pron. Dem. Nom. MS
Prep. Gen.
Artg. Gen. MS
Adver.
Pron. 3ª Gen. MS
falai (vós)
a verdade
cada um
com
(do)
próximo
dele








O presente do imperativo aponta para uma ação que deve ser habitual e caracterizar a vida.





ajpotivqhmi (apotítheƒmi) – Palavra composta, formada pela junção da preposição ajpov (apó – de, desde) com o verbo tivqhmi (títheƒmi – pôr, colocar, estabelecer) significando: "colocar de lado", "tirar do caminho", "remover".

yeu'do~ (pseûdos) – Mentira; falsidade consciente e intencional; num sentido amplo, tudo que não é o que parece ser; de preceitos perversos, ímpios, enganadores. De modo geral a palavra não expressa só a mentira em si, mas toda uma atitude de falsidade.


3.4 Comparação Léxico Gramatical dos textos

A septuaginta apresenta duas diferenças com relação à citação de Paulo, a primeira é o uso de πρὸς (prós – "para", "em direção a", "com") na septuaginta em contraste com μετὰ (metá – "em companhia de", "com") na citação de Paulo para traduzir a preposição hebraica tae ('et – "com").
πρὸς (prós) está mais relacionada como propósito ou objetivo; "em direção a", "com vista a", "de acordo com", e μετὰ (metá) com associação ou identificação; (em companhia) "com". É necessário destacar que πρὸς (prós) não expressa reciprocidade.
Já a preposição hebraica tae ('et) em geral é comitativa, que são os sentidos de companhia, e tae ('et) em especial é uma preposição comitativa pessoal: "com alguém".
A escolha da preposição πρὸς (prós) pela septuaginta parece tirar qualquer idéia de reciprocidade da frase, além de não ser o termo correlato mais apropriado para tae ('et), e não me parece que dentro do contexto de Zacarias essa seja uma boa escolha, pois a reciprocidade é o que está exatamente em foco. Já a escolha de Paulo por μετὰ (metá) parece ser a escolha mais lógica em termos de igualdade lingüística e, até mesmo, contextual com Zacarias.
A segunda diferença se dá no uso do artigo, a septuaginta opta por colocar o artigo no Acusativo τὸν (tón – o) aparentemente acompanhando sua opção pela preposição anterior também no Acusativo. Já Paulo usa o artigo no Genitivo του̂ (toû – do) ligado ao pronome (αὐτου̂ – autoû) também no genitivo, expressando assim mais similaridade ao sufixo da 3ª pessoa do singular do hebraico que tem por característica geralmente ser possessivo assim como o genitivo, "ligados a um substantivo ou preposição, os sufixos estão no caso genitivo..." .
Em termos de equivalência léxica, além destas palavras que já foram comentadas, os textos são exatos na tradução.
Segundo o que temos apreciado, Paulo não usou o texto da septuaginta como referência e sim fez uma tradução pessoal direta do hebraico, e por sinal, tradução melhor que a da septuaginta. Podemos assim, enquadrar esta citação como uma citação literal, ou direta do texto hebraico, resta-nos agora avaliar se o uso hermenêutico também é equivalente.


3.5 Avaliação Hermenêutica

O propósito de Zacarias é o de "animar, por meio da promessa do êxito atual e da glória futura" a nação de Israel pós-exílio babilônico. Esta exortação e encorajamento levariam a nação a uma vida em conformidade com a aliança e a restauração nacional parcial nos tempos de Zacarias, com a construção do Templo, a re-instauração do sacerdócio e reconstrução de Jerusalém. Que prefiguravam a restauração completa no futuro sob o reino e sacerdócio messiânicos unificados e estabelecidos em Jerusalém. O contexto do capítulo, citado por Paulo, é o que Zacarias fala da promessa de restauração mediante o arrependimento e mudança de atitude em obediência à aliança:

"Zacarias 8.1 – 17 é repleto de promessas gloriosas a Jerusalém: o retorno da presença de Deus, a renovação da aliança (Zc. 8.8) e a prosperidade econômica. Essas são as conseqüências do lançamento das fundações do templo (Zc. 8.9 – 12), condicionadas pela obediência às leis de Deus (Zc. 8.14 – 17; cf. Ageu 2.15 – 19)".

O povo de Israel havia pagado caro pelos pecados que cometera no passado, pois a desobediência deles trouxe como conseqüência a disciplina do Senhor, e o cativeiro. E agora, o povo voltara a uma terra desolada, cheia de conflitos com vizinhos e com grande dificuldade de reconstrução.

"O egoísmo enfraqueceu o espírito comunitário e, de forma geral, o período foi melancólico e sombrio. Na verdade, apenas uma pequena porcentagem dos exilados voltou a Judá, e os muros da cidade continuavam em ruínas, o templo de Deus ainda era um monte de entulho e as nações vizinhas continuavam a atormentar os líderes de Jerusalém e a se opor aos esforços tímidos de melhorar a situação desanimadora".

Mas a disciplina, passada e presente, imposta pelo Senhor levaria Seu o povo ao arrependimento e obediência. Mediante esta obediência Deus agiria novamente em seu favor, e a mesma força que usou para punir no passado, agora seria usada para sua salvação e a restauração de Jerusalém. Essa é uma mensagem de esperança maravilhosa para quem estava no processo de restauração da disciplina do Senhor.
Mediante esta promessa (aliança), o povo deveria agir agora, no presente, em concordância com sua situação perfeita prometida no futuro: falando a verdade cada um a seu próximo, praticando a justiça com imparcialidade e promovendo a paz e a verdade.
E o motivo dado para tais atitudes é o caráter de Deus, o povo de Deus deve agir segundo Seu caráter Santo, as atitudes pecaminosas não são pecaminosas somente por suas conseqüências malévolas dentro da comunidade, mas sim porque são contrárias ao caráter Santo e Puro de Deus.
Friedrich Dingermann comentando a escatologia no Antigo Testamento afirma:


"São consideradas escatologias todas as afirmações do Antigo Testamento que façam alusão a um futuro, no qual as condições da história e do mundo serão tão mudadas que se pode falar de um 'novo estado de coisas', de algo, 'completamente diferente'. Assim entendida, a escatologia é um fenômeno autenticamente israelítico. Ela se funda na experiência da fé, segundo a qual Iahweh se revelou na história como Senhor e guia. A um período pré-escatológico, anterior aos profetas escritores e caracterizado por esperanças principalmente político-nacionais, segue o anúncio proto-escatológico dos profetas dos séculos VIII e VII. Em primeiro plano está a mensagem sobre juízo; mas não falta a esperança da salvação, como conseqüência dele. Com a experiência concreta do juízo começa o tempo da escatologia próxima, no qual a salvação não é mais vista longe, mas é sentida como imediata e iminente".

Dingermann presta uma grande contribuição ao entendimento do contexto maior de Zacarias, situando o livro no período pós-exílico (onde a reconstrução de Israel por vezes pareceu impossível), tendo como objetivo levar o povo à esperança de uma restauração escatologia final de proporções mundiais, posição que é apoiada por Ellisen que nomeia o livro como o "Apocalipse" do Antigo Testamento.
Também é importante notar que a perspectiva de juízo tem como conseqüência a restauração, e que essa esperança de restauração deve gerar uma sensação, ou até mesmo uma reação, imediata em Israel, que é exatamente o que exige o Senhor aqui em Zacarias 8.16 ("ainda não, mas como se já").

"a intenção de Javé de 'fazer o bem' a Jerusalém dependia da obediência coletiva às estipulações do código da aliança, especialmente às relacionadas aos padrões de conduta (7.8 – 12; 8.14 – 17). Ao contrário da literatura apocalíptica posterior, com sua forte ênfase nos aspectos futuros da restauração de Israel no dia do Senhor, a mensagem de Zacarias era repleta de preocupações com a justiça social no presente".

É certo que Dingermann não concordaria com uma restauração de Israel em um tempo futuro (milênio), fica claro que ele entende que a reconstrução do templo é esta restauração "político-nacional" quando ele diz: "... começa o tempo da escatologia próxima... não é mais vista longe, mas é sentida como imediata e iminente". O grande problema está no fato de Dingermann não combinar sua perspectiva de proporções mundiais ("... no qual as condições da história e do mundo serão tão mudadas...") com o conflituoso período de guerras e destruição começado pela invasão grega e que culminou posteriormente com a destruição quase que total de Jerusalém em 70 A.D, quando o templo foi completamente destruído. Novamente.
Esta análise do livro de Zacarias nos deixa à par do contexto do texto citado por Paulo e também de seu significado em seu contexto original. Essas observações nos revelam que existem algumas semelhanças entre o contexto de Zacarias e o contexto da carta de Paulo. Vejamos algumas comparações:

Tabela comparativa das similaridades de propósitos de Zacarias e Efésios
Zacarias fala da iniciativa divina de restaurar o povo de Israel por meio do Messias (Zc. 9.11)
Paulo fala da iniciativa "tríplice" divina de restaurar o homem em Cristo (Ef. 1.7; 2.13)
Zacarias fala que o Messias estabelecerá uma nova ordem mundial (Zc. 14.6 – 19)
Paulo fala que em Cristo todas as coisas convergirão (Ef. 1.9 – 10; 20 – 22)
Zacarias fala da obra de restauração, presente e futura de Deus na vida de Israel depois do cativeiro Babilônico (Zc. 9 – 14)
Paulo fala da obra de restauração, presente e futura de Deus na vida daquele que está "em Cristo" advindo do cativeiro do pecado (Ef. 2.1, 3)
Zacarias fala de um tempo em que Israel será colocado em posição privilegiada entre todas as nações (Zc. 8.20 – 23)
Paulo fala de um tempo em que a Igreja será colocada em posição privilegiada nos lugares celestiais (Ef. 2.6)
Zacarias fala de uma restauração do templo e da cidade de Jerusalém (Zc. 8)
Paulo fala que a conseqüência da restauração de Deus na Igreja a transforma em templo de Deus (Ef. 2.20 – 22)
Zacarias fala do dia em que Judeus e Gentios adorarão o Senhor em igualdade de condições (Zc.8.20; 14.16 – 21)
Paulo fala que agora, em Cristo, Judeus e Gentios são iguais na adoração a Deus (Ef. 3.6)
Zacarias exorta a Israel que a obra de restauração presente e futura de Deus redunde em obediência prática (7.8 – 12; 8.14 – 17)
Paulo exorta a igreja que a obra redentora Trinitariana presente e futura redunde em obediência prática (Ef. 4.1, 12 – 13, 25)

Além destas comparações, o propósito de ambos os livros é parecido: o encorajamento. Zacarias escreve para encorajar Israel a viver de modo digno da aliança no Messias prometido, afim de que Deus restaure a nação e estabeleça Israel como benção na terra. Paulo escreve para encorajar a Igreja a viver em Cristo de modo digno de seu chamado afim de que suas ações exaltem a gloriosa obra operada por Deus em seu favor.
Há também em ambos os livros uma preocupação comunitária, tanto Paulo quanto Zacarias expressam não somente uma restauração individual, ou um compromisso de vida pessoal com Deus, mas sim um compromisso comunitário onde todos os membros devem estar comprometidos em obedecer ao Senhor.
Outra ênfase comum é a obediência, Paulo gasta nada menos do que três capítulos dos seis de seu livro dando instruções e princípios de como a comunidade, chamada igreja, deve viver em obediência a Deus em Cristo Jesus para assim colher privilégios espirituais. Zacarias também fala que a restauração (presente e futura) da nação dependia de seu comprometimento em obedecer aos princípios morais da aliança.
Após esta avaliação, percebemos que Paulo cita Zacarias, não completamente desprovido de qualquer similaridade de propósitos, pois, os contextos, tanto de Zacarias, quanto do texto de Paulo são semelhantes.
Enquanto Israel deveria se "revestir" novamente da aliança para ser restaurado, a pessoa que está em Cristo deve se revestir do novo homem para desfrutar das bênçãos espirituais em Cristo. Enquanto Israel deveria se assemelhar ao reino milenar, o crente deve se assemelhar a Cristo. Enquanto Israel deve se comportar conforme o Reino terreal que será estabelecido no Messias, o cristão deve se comportar conforme o Reino espiritual estabelecido em Cristo.
Porém aqui, resta um comentário, se o texto de Zacarias está falando do Reino literal que o messias estabelecerá em Jerusalém para governar sobre toda a terra, com que propriedade Paulo aplica esta passagem àqueles que devem se revestir do novo homem segundo Cristo? Estaria ele falando que a igreja é o cumprimento daquela passagem de Zacarias? Ou que a repetição da ordem aqui implicaria em uma continuidade da ordem dada a Israel para a Igreja?
Essas perguntas já geraram muitos conflitos na história, mas observando o livro de Efésios observamos que Paulo em nenhum momento teve por propósito aplicar o cumprimento de toda a passagem de Zacarias. Fica claro na seqüência do texto de Efésios que o objetivo era simplesmente o do comprometimento moral da Igreja, e dos crentes uns para com os outros, por ser a comunidade que representa a Deus na terra.
Visto que os motivos apresentados são diferentes, "... porque vós sois membros uns dos outros...". Esta última parte do texto é a que apresenta um conflito hermenêutico um pouco maior com relação ao contexto do texto em Zacarias. Pois o motivo dado por Zacarias para que os Israelitas falassem a verdade é o ódio que o Senhor tem da fala falsa: "Porque eu odeio (ARA – aborreço) todas essas coisas, declara o SENHOR" (Zacarias 8.17b; cf. tb. Provérbios 6.16 – 19). Porém, o motivo dado por Paulo não é o ódio do Senhor e sim a unidade do corpo de Cristo. E essa mudança de "porquês" é no mínino curiosa, pois muda completamente o foco da aplicação.
Por fim, pudemos ver que Paulo cita Zacarias considerando seu contexto como um todo e que a citação de Paulo não está desprovida de um alicerce semelhante ao de Zacarias para ser aplicada. Porém fica claro que apesar de Paulo considerar todo o contexto, essa citação não é feita como um cumprimento profético de Zacarias, mas simplesmente, enfatiza um principio moral que é válido em ambas as alianças e para ambos os povos (Israel e Igreja), ainda que os motivos para a obediência a ele sejam diferentes.


























4. Citação do Salmo 4.4 (5) em Efésios 4.26

Aqui Paulo cita novamente o livro de Salmos, e nosso objetivo continua sendo o de comparar textualmente os textos de Davi e Paulo, para assim ter bases para analisar o uso de Paulo e a metodologia hermenêutica empregada por ele.


4.1 Texto Massorético do Salmo 4.4 (5)

Texto Massorético – Salmo 4.4 (5)
Waf;jÔT,
Ala'wÒ
Wzg]ri
af;j;
la'
zg"r;
Impf. Qal 2a MP
Conj. + Part. Neg.
Imp. Qal 2a MP
erreis (pequeis) (vós)
e não
tremei (irai) (vós)

WmdowÒ
µk,b]K'v]mi
Al['
µk,b]b'l]bi
Wrm]ai
µm'D;
bK'v]mi
l['
bb'le
rm'a;
Conj. + Imp. Qal 2a MP
MS Constr. + suf. 2ª MP
Prep.
Prep. + MS Constr. + suf. 2ª MP
Imp. Qal 2a MP
e calai (acalmai) (vós)
as camas vossas
sobre
os corações vossos
dizei (vós)

zg"r; (raƒgaz) – O sentido básico dessa raiz é "tremer" ou "estremecer", do qual derivam idéias como: "tremer de raiva", "tremer de medo", "tremer de expectativa" .

4.2 Texto da Septuaginta do Salmo 4.4 (5)

LXX – Salmo 4.4 (5)
ὀργίζεσθε
καὶ
μὴ
ἁμαρτάνετε,
orgivzw


aJmartavnw
2ª P Pres. Imp. Pass.
Conj. Co. Adit.
Part. Neg.
2ª P Pres. Imp. At.
irai (vós)
e
não
pecai (vós)

λέγετε
ἐν
ται̂ς καρδίαις
ὑμω̂ν
καὶ
ἐπὶ
ται̂ς κοίταις
ὑμω̂ν
κατανύγητε.
levgw

Kardiva
uJmei'~


koivth
uJmei'~
katanuvssomai
2a P Pres. Imp. At.
Prep.
Dat. FP
Pron. 2a Gen. P
Conj. Co..Adit.
Prep.
Dat. FP
Pron. 2a Gen. P
2ª P Pres. Imp. Pass.
falai (vós)
em
os corações
de vós
e
sobre
as camas
de vós
aquietai (vós)

katanuvssomai (katanýssomai) – Palavra formada pela junção da preposição katav (katá – contra, para baixo) com a palavra nuvssw (nýssô – furar, penetrar, trespassar; freqüentemente de ferimentos severos e até mortais), significando: picar, furar; metaforicamente: atormentar a mente profundamente, agitar veementemente, especialmente da emoção de tristeza, aflição. Ser refere a: "experiência emocional de aflição aguda (severa), implicando duplamente em inquietação (preocupação) e desapontamento – ser grandemente perturbado, estar afligido (cf. Atos 2.37)" ou "Metaforicamente do sentimento de dor aguda ligada a ansiedade, remorso, etc". Ou ainda "ficar estupefato", "sonolento" (LXX), provavelmente derivado de κατανύω (katanýô) "ficar quieto", "parar" .


4.3 Citação do Antigo Testamento no Novo Testamento – Efésios 4.26

Citação do Salmo 4.4a (5a) em Efésios 4.26
ὀργίζεσθε
καὶ
μὴ
ἁμαρτάνετε·
orgivzw


aJmartavnw
2ª P Pres. Imp. Pass.
Conj. Co. Adit.
Part. Neg.
2ª P Pres. Imp. At.
irai (vós)
e
não
pecai (vós)

ὁ ἥλιος
μὴ
ἐπιδυέτω
ἐπὶ
[τῳ̂] παροργισμῳ̂
ὑμω̂ν,
h{lio~

ejpiduvw

parorgismov~
uJmei'~
Nom. MS
Part. Neg.
3ª S Pres. Imp. At.
Prep. Dat.
Dat. MS
Pron. 2a Gen. P
o sol
não
ponha (ele)
sobre
a ira
de vós (vossa)

parorgismov~ (parorgismós) – palavra formada pela junção de preposição (pará – "ao, para, do lado de") com a palavra orgivzw (orgídzô – provocar, incitar a ira; ser provocado a ira, estar zangado, estar enfurecido) significando: "incitar à ira", "provocar", "exasperar", "zangar".

4.4 Comparação Léxico Gramatical dos Textos

A citação de Paulo é aparentemente extraída da septuaginta. Analisaremos conjuntamente a relação das mesmas com o texto Massorético.
Elas diferenciam um pouco do hebraico, no primeiro verbo não vemos muita diferença, pois o presente do grego (ἁμαρτάνετε - 2ª P Pres. Imp. At.) é equivalente ao Imperativo do Qal do hebraico (Wzg]ri – Imp. Qal 2a MP) e as pessoas também combinam.
Já no segundo verbo, o grego continuou optando pelo imperativo enquanto o hebraico é imperfeito, e mesmo que o imperfeito possa ser jussivo ou coortativo, nenhum deles expressa a força do imperativo grego. Em termos de tradução, o hebraico optou pelo modo de contingência (imperfeito) o que em grego seria mais bem traduzido pelo subjuntivo e não pelo imperativo usado.
Além disso, o grego expressa o verbo na voz passiva (ou média), porém o grau Qal em geral é de voz ativa, para a tradução que temos aqui no grego, o esperado em hebraico seria talvez o Pual ou Hophal.
Sendo assim, vemos aqui um texto em que a Septuaginta e o texto do Novo Testamento concordam em oposição ao texto Massorético. Provavelmente Paulo tenha optado pela septuaginta por ser de uso mais corrente ou até mesmo para dar uma ênfase mais imperativa à Igreja.
Existe uma última diferença textual, que é o significado da palavra orgivzw (orgídzô – irar) que difere um pouco do principal significado básico de zg"r; (raƒgaz – tremer, estremecer). A palavra grega que melhor expressa o sentido de zg"r; (raƒgaz) é seivw (seíô – sacudir, estremecer, agitar), quanto a isto Kidner comenta:

"Irai-vos poderia ser traduzido: 'Tremei' (JB), mas Efésios 4.26, com a LXX, vê ira aqui, e mostra que não precisa, nem deve, ser pecaminosa. É possível que Paulo vá além de Davi, se o versículo aqui diz apenas: 'dorme, meditando no caso, antes de agir' (isto porque Paulo nos manda acabar com a própria ira antes do pôr do sol)" .

No próximo tópico avaliaremos o quanto esta diferença semântica influencia na hermenêutica de Paulo e do entendimento que ele tem do Antigo Testamento.
4.5 Avaliação Hermenêutica

O contexto do Salmo 4 é de pedido de livramento. Existem duas circunstâncias possíveis em que esse salmo tenha sido escrito, a primeira é que Davi escreveu esse salmo no período em que fugia de Saul, ou durante sua fuga e exílio quando do golpe dado por Absalão, seja como for, é dentro dessa perspectiva de perseguição e livramento que o salmo se compõe.
No versículo especificamente citado por Paulo, João Calvino comenta:

"Ele agora exorta seus inimigos a que se arrependam, se porventura sua loucura não fosse totalmente irremediável. Em primeiro lugar, ele lhes ordena que tremessem, ou se perturbassem; palavra essa por meio da qual ele repreende sua estupidez em virar-se de ponta cabeça em seu curso perverso...".

Alguns comentaristas preferem a tradução "tremer" indicando que os inimigos de Davi deveriam tremer diante da possibilidade do juízo de Deus sobre eles e assim refletissem, para não continuarem a perseguir a Davi. Outros comentaristas preferem a tradução "irar" enfatizando que a os inimigos não deixassem sua ira contra Davi culminar em pecado contra ele.
Ambas as traduções são possíveis, e no contexto do salmo é mais tentador aceitar a tradução "tremer", pois é a expressão mais exata do vocábulo hebraico. Champlin afirma que os Targuns preferiam a seguinte tradução do Salmo: "treme (diante de Deus), e não cairás no pecado".
Porém fica claro que tanto a Septuaginta (demonstrando um entendimento de zg"r; como "irar" bem antigo) quanto Paulo preferem a tradução de zg"r; (raƒgaz) como "irar", demonstrando que este pode ter sido um entendimento posterior ou uma interpretação comum nas escolas rabínicas.
Creio que seria forçado dizer que Paulo reinterpretou o texto de salmos, aparentemente ele fez uma citação literal da septuaginta, seguindo despropositadamente e por conveniência a tradução ou interpretação da mesma. Seja como for, isso não desabona Paulo de maneira nenhuma, pois como vimos, apesar da tradução da septuaginta diferir um pouco do original hebraico, em algumas questões sintáticas e semânticas, foi mantida a essência do texto e também um entendimento similar do sentido do texto.
A segunda parte da afirmação de Paulo ("... não se ponha o sol sobre a vossa ira...") não é uma citação do Salmo, mas dá a impressão de ser uma interpretação do mesmo, pois o salmo diz assim: "dizei ao vosso coração sobre a vossa cama e calai".
Sendo que, podemos observar a semelhança de sentidos em "não se ponha o sol sobre a vossa ira" e "dizei ao vosso coração sobre a vossa cama e calai", ambos os textos expressam a mesma idéia com palavras que combinam como por exemplo "pôr do sol" e "cama", que expressam "o fim do dia", e ainda "não... ira" e "calai", que expressam a ausência de ira que é a calma silenciosa no coração.
Deste modo, Paulo aqui não cita o Salmo, mas, acrescenta sua idéia, do mesmo modo que o salmista, e com semelhaça de sentidos. Aqui, caberia até uma paráfrase para demonstrar a unidade de idéias. Seria algo mais ou menos assim: "diga ao seu coração para não se irar e não vá deitar ao fim do dia sem se acalmar para não vir a pecar".
Olhando a citação de Paulo e o contexto do salmo com toda a conotação de "tremer" juntamente com "não ponde o sol sobre a ira", percebemos que a preocupação clara de Paulo é a de demonstrar que por mais que ira seja justa e por mais que haja um motivo para a mesma, ela não deve tomar lugar na vida dos crentes. Ela deve ser despida o mais rápido possível para que o diabo não encontre ocasião para suas ações malignas.
Percebemos que a opção de Paulo pela Septuaginta difere do texto hebraico, mas não em um proporção que interfira de maneira drástica em sentido. A opção de Paulo propositada ou não é na verdade uma interpretação do Salmo em vista da aplicação prática do mesmo, porém sem destoar do sentido original.










5. Menção de Isaías 63.10a em Efésios 4.29

Nesta parte não podemos afirmar ser uma citação de Isaías por Paulo, mas apenas uma menção, isto se dá até mesmo pelo tamanho do trecho, que se resume a três palavras. Mesmo assim, nos dedicaremos brevemente a avaliar esta passagem.
5.1 Texto Massorético de Isaías 63.10a

Isaías 63.10a
wOvd]q;
j"Wr
Ata,
WbX][iwÒ
Wrm;
hM;hewÒ
vd,qo

Tae
bx'[;
hr;m;
hM;he
MS Constr. + Pron. 3ª MS
F e M CS
Part. Obj. Dir.
Conj. Perf. Piel 3ª CP
Perf. Qal 3ª CP
Conj. + Pron. 3ª MP
Santo Dele
Espírito
O
e (eles) aborreceram (enfadaram)
(eles) (se) rebelaram
mas eles

bx'[; ('aƒtzab) – A raíz desta palavra tem que ver com a dor tanto física quanto emocional. Sendo assim, significa: Ferir, doer, magoar, descontentar, aborrecer, distorcer; (Qal) ferir, doer; (Niphal) estar com dor, estar dolorido, estar magoado; (Piel) aborrecer, torturar; (Hiphil) causar dor; (Hithpael) sentir-se magoado, estar aborrecido.


5.2 Texto da Septuaginta de Isaías 63.10a

LXX – Isaías 63.10a
αὐτοὶ
δὲ
ἠπείθησαν (-san)
καὶ
παρώξυναν
τὸ πνευ̂μα
τὸ ἅγιον
αὐτου̂
aujtov~

Ajpeiqevw

paroxuvnw
pneu'ma
a{gio~
aujtov~
Pron. Nom. MP
Conj. Co. Adv.
3ª P 1º Aor. Ind. At.
Conj. Co. Adit.
3ª P 1º Aor. Ind. At.
Ac. NS
Ac. NS
Pron. Gen. MS
eles
mas
(eles) desobedeceram
e
(eles) irritaram
o Espírito
(o) Santo
Dele

paroxuvnw (paroxýnô) – Essa palavra é formada pela junção da preposição parav (pará – de lado de, ao lado de, para o lado de) com a palavra o[xu~ (óxys – afiado; rápido, veloz) e se refere basicamente ao afiar o lado de uma faca ou instrumento cortante, daí: "tornar afiado", "amolar", figurativamente; "estimular", "acelerar", "urgir"; "irritar", "provocar", "incitar à ira"; "desprezar", "refutar"; "provocar", "tornar irado"; "exasperar", "queimar de raiva" .



5.3 Citação do Antigo Testamento no Novo Testamento – Efésios 4.29

Efésios 4.29
καὶ
μὴ
λυπει̂τε
τὸ πνευ̂μα
τὸ ἅγιον
του̂ θεου̂,


lupevw
pneu'ma
a{gio~
qeov~
Conj. Co. Adit.
Part. Neg.
2ª P Pres. Imp. At.
Ac. NS
Ac. NS
Gen. MS
e
não
entristecei (vós)
o Espírito
(o) Santo
de Deus

lupevw (lypéô) – Tornar triste; afetar com tristeza, causar aflição, magoar; afligir, ofender; tornar alguém preocupado, fazê-lo receoso.


5.4 Comparação Léxico Gramatical dos Textos

Neste ponto há apenas um item que precisamos destacar que é a questão da equivalência léxica da palavra bx'[; ('aƒtzab), que é traduzida de duas maneiras distintas.


5.4.1 Septuaginta

A septuaginta prefere a palavra paroxuvnw (paroxýnô) que expressa o sentimento de ira e irritação, onde no hebraico em termos de equivalência seria a melhor tradução para hr'j; (Haƒrah – "estar ardendo de raiva") ou s['K; (kaƒ'as – "estar irritado", "estar indignado"), que apesar de também serem palavras paralelas a bx'[; ('aƒtzab) se assemelham mais a ele quando o vocábulo é usado no Hifil, o que não é o caso aqui.



5.4.2 Novo Testamento

Paulo usa a palavra lupevw (lypéô) que enfatiza a tristeza. Em termos de equivalência léxica, Paulo se aproxima muito mais do sentido de bx'[; ('aƒtzab) do que a septuaginta, pois a palavra hebraica expressa um pesar, quanto a isso Ronald Allen comentado sobre o uso de bx'[; ('aƒtzab) escreve: "Em Isaías 63.11 declara-se acerca dos israelitas que 'eles foram rebeldes e contristaram o seu Espírito Santo' (cf. Ef 4.30, em que se emprega lupeoƒ de forma semelhante)".
O restante do texto é completamente igual ao texto Massorético e a Septuaginta, com a exceção do acréscimo de του̂ θεου̂ (tou theou) no final. O texto Massorético e a septuaginta acrescentam, no substantivo final, o pronome "dele", logicamente, dentro do contexto, se referindo a Deus. Paulo no entanto, prefere não a inferência e insere diretamente o substantivo του̂ θεου̂ (tou theou – de Deus), no genitivo, ao qual o pronome se refere.
Essa inserção de Paulo não chega a ser uma liberdade hermenêutica ou uma interpretação, até mesmo porque fica claro no texto de Isaías que o pronome da terceira pessoa masculino singular se refere a Deus. De certo modo, existe até uma necessidade desta inserção por Paulo, pois a menção é muito curta e não conta com todo o contexto de Isaías.


5.5 Avaliação Hermenêutica

Agora que já observamos a menção de Isaías por Paulo, observaremos o contexto em que está inserido o texto de Isaías para entendermos melhor o uso de Paulo. O contexto do capítulo 63 de Isaías está inserido em uma oração nacional vicária e descreve a intervenção de Deus sobre o sofrimento presente de Israel.
No contexto mais estrito da passagem, temos um convite à celebração pelos feitos poderosos de Deus no passado, onde o versículo 10 demonstra que apesar da dureza do coração de Israel e da decorrente rebeldia, que entristeceu o Espírito de Deus e levou à punição, Deus se levantaria e restauraria a nação assim como já havia feito anteriormente.
Vemos claramente aqui, uma ligação entre o contexto de Isaías e o texto de Paulo, pois assim como há em Isaías uma promessa de restauração futura, mesmo diante da rebeldia e punição presente, Paulo fala que o motivo de obediência no falar não é somente o não entristecer o Espírito, mas também, a restauração futura, o dia da redenção. A citação de Paulo está inserida praticamente dentro do mesmo contexto de Isaías, que é o fato de que a promessa de restauração futura deve gerar uma ação obediente no presente.
Quanto ao entristecimento do Espírito Santo, os textos também se assemelham, pois, em Isaías o entristecimento foi gerado pela rebeldia e Paulo está afirmando que esse entristecimento ainda é real hoje se o crente rebelde não se despir de um linguajar inadequado e se revestir de um linguajar gracioso e bom.
Fica claro que temos aqui uma simples menção de Isaías, e Paulo o faz com toda propriedade, pois não re-interpreta, nem destoa até mesmo do sentido do texto e do contexto de Isaías.


















6. Citação de Gênesis 2.24 em Efésios 5.31

Esta é a maior e mais clara citação feita por Paulo no livro de Efésios. Abaixo veremos os textos e as comparações analíticas dos mesmos sempre com o objetivo de entender a hermenêutica paulina do Antigo Testamento.


6.1 Texto Massorético de Gênesis 2.24

Texto Massorético – Gênesis 2.24
vyai
Abz:[}y"
÷Ke
Al['

bz"[;


MS
Impf. Qal 3a MS
Adver.
Prep.
o homem
(ele) deixará
(assim, deste modo)
(sobre, conforme)


Portanto

bz"[; ('aƒzab) – Deixar, soltar, abandonar; (Qal) deixar, afastar-se de, deixar para trás, deixar, deixar só; deixar, abandonar, abandonar, negligenciar, apostatar; deixar solto, deixar livre, deixar ir, libertar; reparar (Nifal) ser deixado para, ser abandonado; (Pual) ser deserdado, restaurar, reparar.

wOMai
Ata,wÒ
wybia;
Ata,
µa'
tae
ba;
tae
FS Cons. + Suf. 3ª MS
Part. Obj. Dir. + Conj. Co.
MS Cons. + Suf. 3ª MS
Part. Obj. Dir.
(sua) mãe dele
e (a)
(seu) pai dele
(o)

.dj;a,
rc;b;l]
Wyh;wÒ
wOTv]aiB]
qb'd;wÒ

rc;B;
hy:h;
hv;ai
qb'D;
Adj. MS
Prep. + MS
Conj. + Perf. Qal 3ª CP
Prep. + FS Constr. + Suf. 3ª MS
Conj. + Perf. Qal 3a MS
Uma
para carne
e (eles) serão
à mulher dele
(ele) grudou (se uniu)

qb'D; (daƒbaq) – Grudar-se a, colar, permanecer junto, unir-se, manter-se próximo, juntar-se a, permanecer com, seguir de perto, juntar-se a, alcançar, pegar; (Qal) grudar-se a, unir-se a; permanecer com; (Pual) ser reunido; (Hifil) levar a, unir-se a, perseguir de perto, alcançar; (Hofal) ser levado a unir-se.
6.2 Texto da Septuaginta de Gênesis 2.24

LXX – Gênesis 2.24
ἕνεκεν
τούτου
καταλείψει
ἄνθρωπος
e[neka
ouJto~
kataleivpw
a[nqrwpo~
Prep.
Pron. Dem. Gen. NS
3ª S Fut. Ind. At.
Nom. MS
(por causa de)
(isto)
(ele) deixará
o homem
Por isso



τὸν πατέρα
αὐτου̂
καὶ
τὴν μητέρα
αὐτου̂
pathvr
aujtov~

mhvthr
aujtov~
Ac. MS
Pron. 3a Gen. MS
Conj. Co. Adit.
Ac. FS
Pron. 3a Gen. MS
o pai
Dele
e
a mãe
dele

καὶ
προσκολληθήσεται
πρὸς
τὴν γυναι̂κα
αὐτου̂,

proskollavomai

gunhv
aujtov~
Conj. Co. Adit.
3ª S Fut. Ind. Pass.
Prep.
Ac. FS
Pron. 3a Gen. MS
e
(ele) será grudado (unido)
à
mulher
dele

καὶ
ἔσονται
οἱ δύο
εἰς
σάρκα
μίαν.

Eijmiv
duvo

savrx
ei"~
Conj. Co. Adit.
3ª P Fut. Ind. Méd.
Nom. MP
Prep. Ac.
Ac. FS
Ac. FS
e
(eles) serão
os dois
para
carne
uma


6.3 Citação do Antigo Testamento no Novo Testamento – Efésios 5.31

Efésios 5.31
ἀντὶ
τούτου
καταλείψει
ἄνθρωπος
ajntiv
ouJto~
kataleivpw
a[nqrwpo~
Prep. Gen. Equiv.
Pron. Dem. Gen. NS
3ª S Fut. Ind. At.
Nom. MS
por
isto
(ele) deixará
o homem

kataleivpw (kataleípô) – Palavra formada pela junção da preposição katav (kata – abaixo de, para baixo, contra, conforme) e a palavra leivpw (leipô – deixar, deixar para trás, renunciar a) significando: "deixar para trás, partir de, deixar, ser abandonado; desistir de, deixar uma pessoa ou coisa à sua própria sorte pelo cessar de cuidá-la, abandonar, desamparar" .


[τὸν]
Πατέρα
καὶ
[τὴν]
μητέρα
tovn
Pathvr

thvn
mhvthr
Art. Ac. MS
Ac. MS
Conj. Co. Adit.
Art. Ac. FS
Ac. FS
(o)
Pai
e
a
mãe

καὶ
προσκολληθήσεται
πρὸς
τὴν γυναι̂κα
αὐτου̂,

proskollavw

gunhv
aujtov~
Conj. Co. Adit.
3ª S Fut. Ind. Pass.
Prep.
Ac. FS
Pron. 3a Gen. MS
e
(ele) será grudado (unido)
à
mulher
dele

proskollavw (proskolláô) – Palavra formada pela junção da preposição prov~ (prós – para) com a palavra kollavw (kolláô – colar, grudar, cimentar, firmar) significando: grudar, juntar-se rente, aderir, colar.

καὶ
ἔσονται
οἱ δύο
εἰς
σάρκα
μίαν.

Eijmiv
duvo

savrx
ei"~
Conj. Co. Adit.
3ª P Fut. Ind. Méd.
Nom. MP
Prep. Ac.
Ac. FS
Ac. FS
e
(eles) serão
os dois
para
carne
uma


6.4 Comparação Léxico Gramatical dos Textos

Como a citação aqui é bastante longa, teremos que avaliá-las individualmente. Primeiramente faremos isso entre o texto Massorético e a Septuaginta e posterior mente entre ambos e o texto do Novo Testamento.


6.4.1 Septuaginta

A Septuaginta optou por traduzir a expressão hebraica advinda da junção de um advérbio com uma preposição ÷KeAl[' ('al-keƒn – portanto, por isso) pela preposição e{neka (héneka – por causa de).
Esse tipo de formação hebraica é chamada de preposição complexa e funciona como um advérbio ÷KeAl[' ('al-keƒn) por causa da força do advérbio enfático ÷Ke (keƒn).
A expressão hebraica indica a conseqüência enquando e{neka (héneka) indica causa ou razão, sendo que a melhor expressão grega para equiparar ao significado ÷KeAl[' ('al-keƒn) seria a a[ra ou ou\n (ára ou oûn – portanto).
Respeitando o sufixo pronominal possessivo da 3ª Pessoa Masculino Singular anexados às raízes ba; ('aƒb) e µa' ('aƒm), no texto Massorético, a septuaginta anexa ao texto o pronome αὐτου̂ (autoû), ligado a pathvr (patér) e mhvthr (méteƒr) também na 3ª Pessoa Masculino Singular com o caso Genitivo (possessivo).
Ao traduzir qb'D; (daƒbaq), Perfeito do Qal 3ª Masculino Singular por προσκολληθήσεται (proskolleƒthésetai) 3ª Singular Futuro Indicativo Passivo em termos semânticos, a septuaginta é perfeita (cf. Seebass, Horst). No entanto, o Qal Perfeito tem ação no passado, enquanto a septuaginta traduz como futuro, quando seria esperado um aouristo ou até mesmo presente. Obviamente a septuaginta fez esta opção influenciada pelo Imperfeito do Qal bz:[}y" (ya'a±zab) que inicia esta oração.
Por fim, a septuaginta insere οἱ δύο (hoi dýo – os dois) em seu texto o que não existe no texto hebraico.


6.4.2 Texto do Novo Testamento de Efésios 5.31

O texto de Paulo está muito próximo ao da septuaginta, porém com algumas diferenças.
Quanto à tradução da preposição complexa adverbial ÷KeAl[' ('al-keƒn), Paulo diverge da septuaginta e opta por traduzi-la por anti; touvto (antí toúto) expressão esta que é muito mais próxima do sentido hebraico do que a opção da septuaginta, ainda que não seja a melhor escolha, expressa o sentido de conseqüência como o texto Massorético.
Se a primeira distinção do texto de Paulo foi positiva, a segunda não é tanto assim, discordando tanto do texto Massorético quanto da Septuaginta. Paulo opta por um texto mais breve, e omite os pronomes possessivos ligados a pathvr (patér) e mhvthr (méteƒr), sendo que enquanto o texto Massorético e a Septuaginta têm a tradução "o seu pai e sua mãe", Paulo traduz "pai e mãe".
A omissão de Paulo não chega a ser brutal, até porque os pronomes estão implícitos, e além disso, há um problema de crítica textual nesta parte onde o texto mais curto é apoiado pelos importantes ¸46 a* A B Byz dentre muitos outros minúsculos. Sobre isto comenta Metzeger:

"... é provável que haja originado-se por uma omissão acidental, resultado de um homeoteleuton (aujtou' ... aujtou'). Contudo, é mais provável que a leitura mais comprida reflita várias expansões de cópias derivadas de Gênesis 2.23 (ainda que nesta passagem a ordem seja "osso ... carne"), as quais antecipam a citação de Gênesis 2.24 no versículo 31" .

De qualquer forma, nenhuma das diferenças apresentadas por Paulo são tão drásticas que trazem alguma influência no sentido de alterar o sentido do texto.


6.5 Avaliação Hermenêutica

O contexto do livro de Gênesis é o da criação de homem e mulher por Deus, e o versículo 24 mais especificamente aponta para a conseqüência de ambos, homem e mulher, serem "osso do osso e carne da carne" (vs. 23). Essa união mística e sobrenatural em Deus, deve também trazer conseqüências práticas como as descritas no versículo 24: (1) deixar pai e mãe, (2) unir-se à sua mulher, (3) tornar-se uma só carne.
O contexto do texto de Paulo é muito mais profundo do que o de Gênesis, pois Paulo usa a ilustração de marido e mulher para se referir, não a união sexual de marido e mulher, mas sim à união de Cristo com a Igreja.
Ao citar Gênesis, Paulo não tem em vista primordialmente a união (carnal/espiritual) do homem com a mulher, mas sim a união de Jesus Cristo com sua igreja (cf. Efésios 5.32). Aparentemente o que Paulo quer dizer é o mesmo que ele havia dito antes sobre o mistério que lhe foi revelado (Efésios 3.3 – 9), ou seja, que em Cristo, não há mais divisão entre judeus e gentios. Em Cristo todos são um, estão unidos, fazem carnalmente parte do mesmo corpo (Efésios 1.23, 2.16, 3.6, 4.4, 5.30) e essa união místico-espiritual deve gerar uma união carnal, um comprometimento mútuo fraternal, quer dizer, os que agora são igreja, devem amar uns aos outros sendo submissos a Cristo o cabeça.
Temos aqui, um texto com dupla aplicação, onde, emquanto Paulo ensina sobre Cristo e a Igreja, o que é a prioridade de seu texto, ele acaba falando de fatos reais sobre o casamento entre marido e mulher. Podemos dizer então que Paulo usa Gênesis como uma ilustração, usando um fato real, o casamento, para explicar uma realidade espiritual entre Cristo e a Igreja.
Com isso, não descartamos a importância do que está sendo ensinado sobre o relacionamento entre marido e mulher, pelo contrário este relacionamento é o primeiro a ser afetado pela realidade espiritual de Cristo e a Igreja, pois o enfoque de Paulo também são os relacionamentos, daí o posterior ensino sobre o relacionamento pais e filhos, e escravos e senhores no capítulo 6 de Efésios.


















7. Citação de Êxodo 20.12 e Deuteronômio 5.16 em Efésios 6.2 e 3

Entramos agora nas últimas duas citações de Paulo do Antigo Testamento em Efésios. As duas citações estão em versículos diferentes e estão separadas apenas por um comentário de Paulo, mas embora estejam em um mesmo contexto as analisaremos separadamente.
Antes de partirmos para a análise dos textos, é importante notar que apesar da primeira citação estar relacionada a Êxodo 20.12, a única coisa que impede de dizermos que Paulo tenha citado apenas Deuteronômio e não Êxodo, é a semelhança de uma omissão feita pela septuaginta. Pois como veremos, a primeira parte de Deuteronômio é idêntica ao texto de Êxodo, com essa exceção já citada. Seja como for, pretendemos analisar os texto para chegarmos a uma conclusão.


7.1 Texto Massorético de Êxodo 20.12

Texto Massorético
òM,ai
Ata,wÒ
òybia;
Ata,
dBeK'
µa'
Tae
ba;
tae
dbeK;
FS Cons. + Suf. 2ª MS
Part. Obj. Dir. + Conj. Co.
MS Cons. + Suf. 2ª MS
Part. Obj. Dir.
Imp. Piel 2a MS
tua mãe
e (a)
teu pai
(o)
honra (tu)

dbeK; (kaƒbeƒd) – ser pesado, ser importante, estar aflito, ser duro, ser rico, ser digno, ser glorioso, ser incômodo, ser honrado; (Qal) ser pesado, ser insensível, ser monótono, ser honrado; (Nifal) ser feito pesado, ser honrado, apreciar honra, tornar-se abundante, tomar para si glória ou honra, ganhar glória; (Piel) tornar pesado, tornar monótono, tornar insensível, tornar honroso, honrar, glorificar; (Pual) ser digno de honra, ser honrado; (Hifil) fazer pesado, fazer pesado, tornar monótono, deixar sem resposta, fazer ser honrado; (Hitpael) tornar-se pesado, tornar-se denso, tornar-se numeroso, honrar-se.




7.2 Texto da Septuaginta de Êxodo 20.12

LXX
tivma
to;n patevra
sou
kai;
th;n mhtevra,
tivmaw
Pathvr
suv

mhvthr
2ª S Pres. Imp. At.
Ac. MS
Pron. Gen. S
Conj. Co. Adit.
Ac. FS
honra (tu)
o pai
de ti
E
a mãe

tivmaw (timáô) – Estimar, fixar o valor; para o valor de algo que pertence a si mesmo; honrar, ter em honra, reverenciar, venerar.


7.3 Citação do Antigo Testamento no Novo Testamento – Efésios 6.2

Efésios 6.2
tivma
to;n patevra
sou
kai;
th;n mhtevra,
tivmaw
Pathvr
suv

mhvthr
2ª S Pres. Imp. At.
Ac. MS
Pron. Gen. S
Conj. Co. Adit.
Ac. FS
honra (tu)
o pai
de ti
E
a mãe


7.4 Comparação Léxico Gramatical dos textos

A citação é bem curta, Paulo cita a primeira parte do versículo 12 e a equivalência entre os textos é quase que total, a citação de Paulo é idêntica a da septuaginta que por sua vez só distingue do texto Massorético ao omitir o Pronome sou (sou) relacionado a th;n mhtevra (tén meƒtéra), ainda que na construção grega essa adição não seja necessária e está implícita e indicada pela conjunção coordenativa aditiva kaiv (kaí).
Quanto à discussão levantada no começo, sobre a possibilidade deste texto se referir a Deuteronômio e não a Êxodo, sobre este ponto de divergência, aqui vemos claramente que a citação de Paulo segue exatamente o texto de Êxodo da Septuaginta ao omitir o Pronome sou (sou) relacionado a th;n mhtevra (tén meƒtéra). No texto de Deuteronômio a septuaginta acrescenta um segundo pronome ligado a th;n mhtevra (tén meƒtéra).
Apesar de o pronome ser subentendido, a presença dele, segundo o texto hebraico, parece ser mais correto, sendo que temos duas possibilidades textuais aqui: ou os tradutores da septuaginta percebendo a ausência de um segundo pronome o adicionaram ou os tradutores de Êxodo esqueceram-se do adicioná-lo.
De qualquer forma, Paulo preferiu seguir o texto sem o pronome, indicando que Ele citou Êxodo e não Deuteronômio.
Semanticamente, a relação de tivmaw (timáô) com dbeK; (kaƒbeƒd) é a tradução natural neste caso, pois tivmaw (timáô) geralmente é usada da honra para seres humanos, e quando o grego expressa a honra a Deus geralmente usa dovxa (dóxa) para traduzir dbeK; (kaƒbeƒd), que suporta os dois sentidos.


7.5 Avaliação Hermenêutica

O texto de Êxodo está inserido dentro do contexto da Aliança Sinaítica, mais especificamente dos dez mandamentos, sendo que honrar pai e mãe é o primeiro mandamento de ordem horizontal, quer dizer, dos relacionamentos humanos.
A importância deste mandamento é bem descrito por Hamilton:

"A gravidade da ordem é reforçada pela escolha do verbo 'honrar'. Por diversas vezes, ele é usado com Deus como objeto (1 Sm 2.30; Sl 50.23; Pv 3.9; Is 29.13; 43.20, 23). Tanto Deus como os pais são dignos de honra".

No entanto, essa lei não tem um propósito simplesmente relacional, ela é uma lei profundamente ligada aos alicerces da Aliança. Pois um dos pontos cruciais da Aliança é a descendência, a fidelidade de Deus seria vista no povo de Israel pelo fato de eles terem filhos, e não somente isso, toda a religião judaica era hereditária. O sacerdócio era transmitido de Pai para filho, o pertencimento a Israel por meio da circuncisão era de feito de pai para filho, o que era reforçado pela primogenitura e por fim, o governo real posterior também se tornou hereditário.
Deste modo, essa lei não era apenas uma orientação do relacionamento paternal, mas dela subsistia a continuidade da Aliança, quem desrespeitava essa lei, desrespeitava o próprio Deus, pois interferia diretamente no cumprimento da Aliança. Por isso a seqüência do texto diz: "... para que se prolonguem os seus dias de vida na terra...".
Nesta parte final, vemos claramente que a implicação da desobediência era a morte, fato que ficou evidente no período de Juízes.
Paulo cita o texto dentro de um contexto de relacionamento pais e filhos, com relação à obediência, como Paulo já dissera anteriormente no livro de Efésios, o foco aqui não é o mesmo de Êxodo, pois, Cristo anulou a Lei em forma de mandamento: "... anulando em seu corpo a Lei dos mandamentos expressa em ordenanças" (Efésios 2.15).
Quer dizer, a Aliança cristã não tem implicações hereditárias, um filho de crente não é um crentinho, não há uma circuncisão na carne como havia na Lei Sinaítica. O relacionamento com Cristo é individual, pessoal e não hereditário (apesar da grande importância da família em apontar para a necessidade deste compromisso) como era na Aliança.
Mas, o que aparentemente Paulo quer demonstrar é que apesar da Aliança não ser a mesma, e apesar do compromisso cristão ser individual, a honra que os filhos devem dar aos pais não foi abolida, e os filhos se querem honrar a Deus, "no SENHOR" (vs. 1), devem obedecer aos seus pais.
O comentário feito por Paulo que vem logo em seguida da citação "... este é o primeiro mandamento com promessa", corta abruptamente o texto de Êxodo, e parece demonstrar que Paulo quis tirar o enfoque da maldição capital para focar a benção da obediência.
Há uma grande discussão sobre a que se refere a palavra πρώτη (próteƒ – primeiro). Se primeira no sentido de importância, se primeira no sentido de convergência, para os filhos, ou se primeira no sentido de abrangência, dos relacionamentos sociais. Aparentemente essa é uma discussão irrelevante, pois não altera o fato de que filhos obedientes são de todos os modos um bem social, um benefício pessoal, para eles mesmos, e um bem relacional, para seus pais.
Creio que é exatamente estes princípios que Paulo quer ensinar aqui, os benefícios da obediência aos pais e não uma questão de importância. Este enfoque fica claro na citação que vem a seguir e que estudaremos abaixo.






























8. Citação de Deuteronômio 5.16 em Efésios 6.3

Neste trecho do trabalho avaliaremos a citação de Paulo à luz de Deuteronômio. Nosso objetivo aqui é, dentro das possibilidades, entender o que Paulo tinha em mente quando citou apenas metade do texto de Êxodo e aqui, separadamente a outra metade de Deuteronômio e avaliar o uso hermenêutico que Paulo fez do Antigo Testamento.


8.1 Texto Massorético de Deuteronômio 5.16

Texto Massorético
l['
Jl;
bf'yyI
÷['m'l]W
òym,y:
÷kuyria}y"
÷['m'l]

l]
bf'y:
÷['m'
µwOy
Jr'a;
÷['m'
Prep.
Prep. + 2ª MS
Impf. Qal 3ª MS
Conj. + Prep.
MP Constr. + 2ª MS
Impf. Hifil 3ª MP + Nun Parag.
Prep.
sobre
para ti
(ele) vá bem
e para que
os teus dias
(eles) façam prolongar (prolongarão)
para que

.Jl;
÷tenO
òyh,loaÔ
hw:hyÒ
Arv,a}
hm;d;a}h;
l]
÷t'n:
µyhiloaÔ


hm;d;a}
Prep. + 2ª MS
Partc. Qal MS
MP Constr. + 2ª MS
Nom. Prop.
Part. Relat.
FS Constr.
para ti
aquela que (ele) dá
o teu Deus
o Senhor
que
a terra


8.2 Texto da Septuaginta de Deuteronômio 5.16

LXX
ἵνα
eu\
σοι
γένηται,


suv
givnomai
Conj. Sub. Final
Adver.
Pron. Dat. S
3a S 2º Aor. Subj. Méd.
para que
Bem
para ti
(ele) seja

καὶ
ἵνα
μακροχρόνιος
γένῃ
ἐπὶ
τη̂ς γη̂ς,



givnomai

gh'
Conj. Co. Adit.
Conj. Sub. Final
Adj. Nom. MS
2a S 2º Aor. Subj. Méd.
Prep.
Gen. FS
E
para que
de vida longa
(tu) venhas a ser
sobre
a terra


8.3 Citação do Antigo Testamento no Novo Testamento – Efésios 6.3

Efésios 6.2
ἵνα
eu\
σοι
γένηται,
ἔσῃ
μακροχρόνιος
ἐπὶ
τη̂ς γη̂ς,


suv
givnomai
eijmiv


gh'
Conj. Sub. Final
Adv.
Pron. Dat. S
3a S 2º Aor. Subj. Méd.
2ª S Fut. Ind. Méd.
Adj. Nom. MS
Prep.
Gen. FS
para que
bem
para ti
(ele) seja
(tu) serás (para ti)
de vida longa
sobre
a terra


8.4 Comparação Léxico Gramatical dos Textos

A primeira diferença que notamos entre o texto é a inversão das frases, o texto Massorético traz: "para que se prolonguem os teus dias e para que te vá bem sobre a terra...", enquanto a septuaginta traz: "para que seja bem para ti e para que de vida longa venha a ser sobre a terra", e a citação de Paulo está assim: "para que seja bem para ti, tu serás de vida longa sobre a terra".
No texto Massorético Moisés enfatiza primeiramente a longevidade e depois a permanência na terra, e a septuaginta, que deveria ser apenas uma tradução, inverte a ordem do texto, o que é seguido por Paulo. Não consigo enxergar que diferença essa inversão pode significar.
No entanto há outra questão que sim, se pode identificar o motivo da mudança. No texto Massorético o "ir bem" está relacionado com "sobre a terra", já nos textos gregos o "sobre a terra" está relacionado a "longevidade".
Aqui, fica claro, não só uma inversão de frases, mas uma mudança de pensamento, vemos isso, pelo significado de bf'y: (yaƒthab): "ser bom", "estar bem", "estar contente". Gilchrist, comentando sobre a esta palavra na oração de Davi no Salmo 51.18 (20) escreve:

"... ele [Davi] reconhece que o Senhor da aliança é a fonte de tudo o que é bom e agradável para a humanidade. Esse 'fazer o bem' não ocorre por capricho, mas baseia-se no relacionamento aliancístico revelado aos patriarcas (o que por sua vez, baseava-se na misericórdia e na escolha livre de Deus)...".

Essa fórmula é muito importante no livro de Deuteronômio bf'yyI ÷['m'l] (lema'na yîthab – "para que te vá bem"), ela tem mais oito ocorrências Bíblicas, sendo que seis delas estão no livro de Deuteronômio e sempre ligadas a obediência à aliança do Sinai, onde a obediência geraria prosperidade e permanência na terra prometida.
A opção da Septuaginta e de Paulo em trocarem um verbo com a força de bf'y: (yaƒthab) por eu\ (eû), um simples advérbio bem genérico já enfraquece seu sentido e ao desvinculá-lo da promessa sobre a terra, ele perde todo o escopo do uso de Deuteronômio.
Algo semelhante em termos semânticos acontece com ÷kuyria}y" (ya'a±rîcun), um verbo no Imperfeito do Hifil que é transformado em μακροχρόνιος (makrochónios) um adjetivo composto formado por makrov~ (makrós – longo) e crovno~ (chrónos – tempo) um adjetivo raro, sendo esta a única ocorrência em todo o Novo Testamento, e que não chega nem perto da força da palavra Jr'a; ('aƒrak – alongar, prolongar). Este verbo hebraico é encontrado onze vezes em Deuteronômio e também está relacionado à longevidade dentro da terra prometida na aliança.

"É em Deuteronômio que se encontra o uso mais freqüente da frase: 'para que se prolonguem os teus dias'... Em cada caso a promessa é dada em função de um elemento moral. Somente se Israel guardar as leis e os mandamentos de Deus (Dt 4.40) haverá segurança garantida em sua terra".

Há que entender-se também o fato de que no Antigo Testamento essa longevidade não implica em meramente tempo de vida, mas principalmente na qualidade de vida, e na prosperidade dentro da perspectiva da aliança.
A escolha da septuaginta e de Paulo despreza toda a abrangência semântica de Jr'a; ('aƒrak) e limita-se quase que exclusivamente ao tempo de vida, o que parece ser a ênfase da troca de "te vá bem" para "longevidade na terra".
Quando comparamos Paulo à Septuaginta, também encontramos algumas distinções. Paulo encurta o texto da septuaginta omitindo as Conjunções καὶ (kaí) e ἵνα (hína), mudança essa que demonstra uma preferência por um texto mais curto, o que Paulo já havia feito anteriormente, como vimos na análise da citação de Êxodo 20.12.
A mudança mais significativa em relação à septuaginta é a alteração do verbo, de γένῃ (géneƒ) 2ª Pessoa do Singular do 2º Aoristo do Subjuntivo Médio para ἔσῃ (éseƒ), na 2ª Pessoa do Singular do Futuro do Indicativo Médio. Paulo não só muda o tempo verbal como também o próprio verbo.
Ambos os verbos vêm para fazer uma construção com μακροχρόνιος (makrochónios) que traduza ÷kuyria}y" (ya'a±rîcun) no Imperfeito do Hifil no texto Massorético. Neste sentido o texto de Paulo está muito mais perto do texto Massorético do que a septuaginta, pois Paulo prefere o Futuro, que chega bem mais próximo do Imperfeito do que o Aoristo, ainda que no modo Subjuntivo o Aoristo expresse uma ação imaginada no futuro.
O Aoristo grego expressa muito mais a idéia do Perfeito Piel do que a do Imperfeito Hifil, o Hifil tem uma idéia causativa (que causa um evento), como a idéia pontilear grega expressa no Futuro, enquanto o Aoristo é mais factitivo.
Na escolha da palavra também vemos uma distinção, a Septuaginta prefere givnwmai (gínômai), enquanto Paulo opta por eijmiv (eimí). Ambas as palavras expressam parte das idéias de Jr'a; ('aƒrak), pois, é a obediência que leva alguém a "ser" (eijmiv) longevo, com toda a conotação que Jr'a; ('aƒrak) tem. Mas também vimos que a longevidade é algo alcançável, quer dizer, alguém pela obediência pode "se tornar" givnwmai (gínômai) longevo.
Creio que tanto a escolha pelo tempo Futuro, quanto sua escolha por eijmiv (eimí) expressam o enfoque distinto que ele dá ao texto à luz da revelação de Cristo e de baixo de uma Nova aliança, onde princípios da antiga aliança precisam ser revistos.
Ainda uma última análise nos é necessária, que é a diferença da palavra hm;d;a} ('a±daƒmâ) com relação à palavra grega gh' (geƒ). Em Deuteronômio, hm;d;a} ('a±daƒmâ) é usada sempre da terra prometida (Canaã):

"A passagem em Êxodo falava na região de Canaã, mas Paulo usou em grego a palavra que significa o 'globo terrestre', a fim de dar um sentido geral, não limitado a nação de Israel e à Terra Prometida".

Ainda que não concorde com Champlin quanto a gh' (geƒ) significar 'globo terrestre', lexicamente, a palavra que hebraica que gh' (geƒ) melhor traduz é xr,a, ('eretz) e não hm;d;a} ('a±daƒmâ). Desta feita, podemos entender que Paulo queria fazer uma distinção da terra referida em Deuteronômio, relacionada à Terra Prometida, e do planeta Terra mencionado aqui em Efésios, indicando assim que a permanência na terra que é prometida em Deuteronômio, não se refere, nem à mesma permanência, nem à mesma terra de Efésios.


8.5 Avaliação Hermenêutica

O contexto do capítulo 5 de Deuteronômio é o de repetição da lei de Êxodo 20, num formato de um tratado de suserania. Depois de um longo prefácio histórico onde Moisés relembrou o povo dos feitos de Deus.
O povo agora se encontrava às beiras da terra prometida depois de um longo e duro tempo de deserto. Moisés repete a história e a lei para que ficasse claro para o povo que tanto o Deus que atuou no passado, quanto Suas leis, continuavam reais presente.
Sendo assim, não só a validade da lei é atestada mas seu caráter condicional, sendo que tanto a entrada na terra prometida quanto a permanência pacífica nele dependiam da obediência a Deus.
E é exatamente aqui que nosso texto se enquadra, onde a obediência aos pais traria para os filhos judeus, permanência pacífica na terra, prosperidade material (qualidade de vida em todos os aspectos) e a longevidade, tanto de suas próprias vidas como de uma descendência numerosa.
Como já vimos anteriormente, o contexto de Paulo é completamente distinto, ele está sob um novo tratado, não mais um tratado bilateral, mas uni lateral onde o suserano Jesus Cristo, ofereça graça mediante obediência.
Talvez por isso, Paulo omita o caráter punitivo deste mandamento, demonstrado pelo encurtamento do texto, e pela troca de termos e tempos verbais. Enfatizando assim, que na nova aliança as bênçãos não são mais vinculadas à permanência num território nem à prosperidade material, mas sim ao bem-estar espiritual no tempo de vida na terra.
Paulo não muda a lei, nem faz uma interpretação livre da mesma, sem nenhuma preocupação formal, mas como percebemos na análise gramatical do texto escolhe a dedo as palavras para adequar a realidade do relacionamento pai e filho à nova aliança em Cristo.
Relacionamento este, que ainda contém promessas como ele mesmo comenta, porém as promessas não são as mesmas da velha Aliança, mas outras que apontam não só para benefícios presentes, mas também futuros.


























9. Conclusão

Ao final deste trabalho podemos afirmar que as respostas para as perguntas iniciais eram em sua maioria mais simples do que imaginávamos, pois a interpretação do Antigo Testamento feita por Paulo em Efésios, em sua grande maioria, é a mais simples possível.
Pudemos notar que em nenhum momento Paulo desconsiderou o contexto do texto do Antigo Testamento em seu contexto original e que todas as citações de Paulo do Antigo Testamento respeitam coisas como: intenção autoral, estilo literário e contexto histórico.
Também notamos que mesmo nos textos onde Paulo destoa da citação original, ele o faz, não por uma nova hermenêutica aleatória ou com uma liberdade desligada de quaisquer padrões. Mas o faz, à luz de novos fatos, desconhecidos do autor original, como a revelação de Cristo, da Nova Aliança ou da Igreja, por exemplo.
No entanto, mesmo assim, Paulo não busca um sentido o oculto, ou além do texto, mas simplesmente observa o texto de um novo ângulo, baixo novas perspectivas. E isso se dá ao ponto de pessoalmente relutarmos em afirmar que Paulo faz uma reinterpretação, entendo que Paulo faz mais uma complementação do que uma reinterpretação.
Este novo ângulo de visão é também o que traz outra resposta para nossas perguntas iniciais. O Antigo Testamento tem validade para os dias de hoje? E a resposta dada por Paulo, é um sonoro "sim", mais do que isso, não só tem validade, como o Antigo Testamento tem um novo vigor e ênfase dados pela completude da revelação de Cristo.
Outra resposta encontrada, é que mesmo Paulo tendo a inspiração do Espírito Santo para redigir seu texto, e com base nela, até mesmo liberdade para mudar algum sentido, ele não o fez. Sendo que a forma como Paulo usou o Antigo Testamento também é válida para nós também hoje.
Termino esse trabalho, convicto da validade do Antigo Testamento e da hermenêutica que respeita a intenção autoral, o estilo literário e contexto histórico e gramatical do texto do Antigo Testamento.
Depois desta jornada, não resta dúvidas, pelo menos à luz de Efésios, que sim, Cristo mudou o entendimento de parte do Antigo Testamento, mas não o anulando ou diminuindo, mas complementando.
Esta Nova Aliança em Cristo, tão enfatizada na hermenêutica de Paulo do Antigo Testamento, também deve ser o padrão, não só de nosso estudar o Antigo Testamento, mas também de obedecê-lo (quoniam ex ipso et per ipsum et in ipso omnia ipsi gloria...).

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