A importância das relações internacionais na construção histórica de \"Bastardos Inglórios\" (2009

May 27, 2017 | Autor: A. Garcia Rechi | Categoria: Contemporary History, Cinema, Word War II
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- MELEIRO, Alessandra (org.). Cinema no Mundo: indústria, política e mercado: Estados Unidos. São Paulo: Escrituras Editora, 2007. (Coleção Cinema no mundo; v. 4). P.17
- MELEIRO, Alessandra (org.). Cinema no Mundo: indústria, política e mercado: América Latina. São Paulo: Escrituras Editora, 2007. (Coleção Cinema no mundo; v. 4). P.30
- Um exemplo disso é que no Brasil, normalmente apenas 10% dos filmes que estão em cartaz são nacionais, enquanto sua grande maioria é norte-americano.
- Como TV, TV a cabo, música, merchandising, entre outros
- Dados retirados da Motion Picture Association of America (MPAA) de 2006. https://wikileaks.org/sony/docs/03_03/Mktrsch/Market%20Research/MPAA%20Reports/2006-US-Theatrical-Market-Statistics-Report.pdf
- Dados retirados do site do IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0361748/business?ref_=tt_dt_bus
- Datas de estreia do filme: 20/05/2009, festival de Cannes. 21/08/2009, estreia nos EUA
- Dados retirados do site do IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0361748/locations?ref_=tt_dt_dt
- Fundo de co-produção europeia
- Dados retirados do "The Hollywood repórter" e do Webcitation http://www.webcitation.org/5nE8VAQtY
- Não foi encontrando informações sobre o financiamento do figurino do filme.
- Fonte: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-60208/bilheterias/
A importância das relações internacionais na construção histórica de "Bastardos Inglórios" (2009)

Ângelo Otávio Garcia Rechi
Mestrando - UFPR

Resumo: A construção de um filme depende de diversos fatores, e nos dias atuais as relações internacionais são de extrema importância nessa construção. O presente trabalho tem como foco uma análise demonstrativa de como a produção cinematográfica se submete à diversas formas as relações internacionais. Usaremos como base o filme "Bastardos Inglórios" (2009) de Quentin Tarantino para explicar como essas relações foram construídas e a importância delas na produção e divulgação do filme. Será feita uma breve análise da influência europeia em filmes norte-americanos, com destaque para a produção de filmes sobre a 2ª Guerra Mundial. Para finalizar, demonstraremos como a recepção do filme afetou as bilheterias brasileiras e se as relações internacionais do mesmo tiveram alguma influência no processo.
De uma forma simplificada de dizer, os historiadores no geral definem história como o estudo do homem no tempo. Desde o século XIX, com sua popularização na primeira metade do século XX, o cinema vem fazendo sua parte na história. A produção do número de filmes vem aumentando ano a ano e seu público vem seguindo nessa mesma progressão.
O cinema e a história andam juntos há muito tempo, mas o uso de filmes como fonte só começou a ser valorizado a partir da década de 1960. Marc Ferro, um dos pioneiros no estudo do filme como fonte histórica, foi de grande importância para esse avanço. Diversos filmes acabam abordando temas históricos, o que gera um interesse popular pela história. Esses filmes, junto com a importância da história e do cinema, serão abordados posteriormente.

Grande parte dos países produzem obras cinematográficas, entretanto os Estados Unidos veem mantendo o maior monopólio desde o século XX. A chamada indústria de Hollywood é a mais conhecida popularmente e a que mantem as maiores distribuidoras de filmes. Até o final do século XX Hollywood também era a maior produtora, mas o compilado de produtoras da Índia (Bollywood) superou a indústria norte americana em produção.
O custo médio para a criação de um filme nos EUA é de 100 milhões (já incluso seu marketing) . Um custo relativamente alto se comparado ao de outros países, no caso o Brasil o custo médio é de 1,5 a 3 milhões. Por mais alta que seja a produção de um filme nos EUA, seu retorno financeiro é muito alto (como visto acima).
O cinema é consumido por diversas pessoas ao redor do mundo. A produção de filmes aumenta a cada ano e o consumo desses filmes também. No caso dos EUA, a sua popularidade acontece graças à forma como as distribuidoras trabalham para que os filmes sejam lançados em uma escala mundial. Um exemplo disso são os chamados "blockbusters", filmes com um custo alto, mas que também geram um rendimento alto devido à popularidade dos mesmos.
Uma das questões que temos é: Por que do cinema norte americano é tão popular em comparação aos outros? Os EUA já desde a criação do cinema começaram a investir muito, tanto em tecnologia de produção, quanto nas patentes, isso deixou o cinema americano com uma vantagem tecnológica a frente de outros países. Assim, alcançando uma produção forte e avançada, os EUA investiram na indústria de distribuição de filmes, criando assim as companhias de distribuição.
O controle da indústria cinematográfica mundial pelas grandes distribuidoras se deu após a Segunda Guerra Mundial, pois logo após a década de 1950 o cinema e outros setores midiáticos conseguiram sua dominância pelas grandes corporações. Essas grandes companhias são conhecidas mundialmente, já que em grande parte dos filmes (populares) elas estampam seus logos. Entre elas temos 20th Century Fox, Universal Studios, Warner, Disney, Columbia, MGM e New Line.
Por mais que cinema norte americano lucre uma grande quantidade por ano em bilheteria (9,49 bilhões por ano) a maior parte do seu lucro não vem das salas de cinema, mas sim de outros meios, como demonstra Janet Wasko
"Um filme de Hollywood já não é somente um filme, mas também um item da programação de televisão ou um disco óptico digital. Ele também pode se tornar um álbum com trilha sonora original ou um videogame, enquanto seus personagens ou logotipos podem ser licenciados para usos em merchandise e parcerias promocionais, por exemplo, em brinquedos e itens de vestuário e alimentícios. Tudo isso sugere que o filme de Hollywood é hoje um produto disperso e fragmentado, assumindo tantas formas que o filme em si desaparece." (MCDONALD; WASKO, 2007, p.5)
Como podemos notar o ganho das indústrias é maior fora das salas de cinema. Produzir um filme não é barato já que requer muitos funcionários e com isso muitos salários. As companhias de distribuição, visando diminuir os custos com a produção e aumentar seus lucros, resolveram procurar uma mão de obra mais barata para custear os filmes. Surge assim, o uso de relações internacionais para a produção de filmes.
Assim, Hollywood notou que se contratasse uma produtora, de outros países, teria um custo menor com produção e usaria de sua distribuição para fazer seu lucro. Ligado a isso, há também a penetração em novos mercados, pois o uso de atores e locais estrangeiros acaba, consequentemente, atraindo um público exterior. O filme que será aqui usado como fonte para demonstrar essas relações será "Bastardos Inglórios" (Quentin Tarantino, 2009), que foi mundialmente distribuído, mas teve sua produção na Europa. Antes de tratarmos da produção em si, será feito um breve resumo da trama do filme.
A história, em sua maior parte, se passa em 1944 e é focada em dois personagens centrais. O filme tem como principal tema demonstrar a forma como um grupo de judeus elabora um plano para destruir o regime nazista. Sendo assim, o filme tem em sua história um grupo de judeus (autodenominados "Bastardos Inglórios") que tinha um objetivo: matar nazistas. Paralelo a eles, o filme também conta a história de Emmanuelle Mimieux/Shosanna Dreyfus, uma mulher judia que teve sua família capturada, mas conseguiu se esconder (devido a características consideradas alemãs como olhos claros e cabelo claro) na casa da sua tia e trabalha em um cinema na França.
O custo de sua produção, já contanto com o marketing, foi de 75 milhões de dólares e arrecadou em torno de 321 milhões. Outro dado interessante é o fato de que o filme foi primeiro apresentado no festival de Cannes, do qual Christoph Waltz ganhou o prémio de melhor ator, para somente depois ser colocado nos cinemas americanos. Algo não muito comum em produções que contam com "grandes nomes", já que normalmente os filmes são primeiramente exibidos nos EUA.
[...] Existem atualmente, cerca de 37.000 telas de cinema nos Estados Unidos. O público de cinema americano, com alta renda per capita, é responsável por 44% da bilheteria global, segundo estatísticas. Na verdade o mercado estrangeiro para filmes de Hollywood é pautado pelo cronograma de lançamento nos EUA. [...] (WASKO, 2007, p.35)
Como Janet Wasko demonstra a base para o mercado estrangeiro é o mercado norte americano. Logo, devemos notar que, independente da forma como a produção dos filmes seja feita com auxilio de relações estrangeiras, o foco ainda é distribuição e o embasamento de público nos EUA.
A grande maior parte das obras norte-americanas, acerca da 2º Guerra Mundial, é produzida e distribuída pelos EUA. Assim sendo, para criar um filme sobre uma guerra passada você necessita também de uma cenografia artificial que consiga passar ao espectador uma fidelidade histórica. No caso do filme "Bastardos Inglórios" podemos notar como dentre suas cinco produtoras, uma delas é de origem alemã e suas filmagens foram todas feitas na Europa. Apesar disso, o filme contou com trinta e nove distribuidoras, dentre as quais dezoito estavam ligadas a Universal Studios.
Quando se trabalha com algum tipo de produção fílmica que retrate o passado, os produtores devem ficar a atentos as particularidades de cada época. As locações de filmagens são todas feitas na Europa e podemos notar como as relações com outros países são dispostas aqui.
A Europa, visando promover sua indústria cinematográfica, tem a euroimagens. Independente de Bastardos Inglórios ser um filme que foi co-financiada com por uma produtora norte-americana (The Weinstein Company) e distribuída mundialmente pela Universal Studios, as relações com a Europa podem ser notadas. Além de uma das produtoras ser europeia, o fato de toda sua filmagem ter sido feita em território europeu já demonstra como o cinema, principalmente Hollywood, está globalizada.
O filme, como já descrito, arrecadou mais de trezentos milhões mundialmente e recebeu diversas críticas, sendo muito elogiado por sites populares e recebendo uma grande massa de pessoas que gostaram do filme, e que garantiram seu lucro. Um dos motivos desse interesse todo das pessoas no filme se da por dois fatores. O primeiro é o diretor, que já tem uma fama estabelecida, com o elenco famoso. O segundo é o tema, que é muito popular no mundo inteiro.
A segunda guerra mundial foi um evento extremamente violento e marcante na história, além disso, se tornou muito popular. Essa popularidade se deu, em grande parte, a forma como a mídia trabalha com a guerra. Filmes, documentários, programas de TV, séries e gibis são apenas algumas, dentre muitas coisas, que foram criadas para falar sobre a Segunda Guerra, o que acabou popularizando esse evento. Colocando em foco o cinema, podemos notar que temos diversas produções cinematográficas sobre a 2ª Guerra Mundial e muitas delas distribuídas em escala mundial nas salas de cinema.
Já vem sendo histórico o fato de que os Estados Unidos conseguem atrair um público relativamente grande para as salas de cinema. Isso é relatado por Olson como um fator ligado as narrativas que o filme tem:
[...] A vantagem competitiva dos Estados Unidos na criação e distribuição global de produtos do gosto popular deve-se a uma mistura exclusiva de condições culturais que conduzem à criação de textos 'transparentes' – narrativas cuja polissemia inerente encoraja a leitura por populações diversas como se fossem nativas. (OLSON, 1999, p.33)
Janet Wasko chama isso de Cultural Discount, um termo usado por economistas que, ligado ao uso de nomes famoso, traz um apelo mundial aos filmes norte americanos, criando assim uma popularização grande. No caso do Bastardos Inglórios, o fato do filme não ter tido um uso grande de marketing, seu retorno financeiro no Brasil não foi muito alto, sendo apenas quatro milhões. Mesmo assim, a popularidade do filme no Brasil acabou sendo grande.
Apesar disso, a crítica foi extremamente positiva e a recepção do público também. Em uma visita por sete sites que fazem críticas, todos os setes deram ótimas notas e críticas ao filme. E se observarmos a reação do público online, podemos notar como a grande maior parte estava elogiando a obra de Tarantino.
Podemos notar alguns pontos interessantes sobre as relações com o filme e sua recepção. O primeiro deles é por mais que todas as filmagens fossem feitas na Europa e grande parte do elenco seja europeu, a maior parte dos créditos do filme são colocados aos EUA, sendo aqui onde podemos notar que as relações internacionais, por mais que sejam ótimas, acabam ainda assim sendo perdidas aos olhos do público quando o filme fica pronto, mas nem por isso deixam de ser relevantes para as condições sociais de produção dos filmes.
Outro ponto interessante é a forma como as pessoas que elogiaram o filme estão mais ligadas aos nomes (Brad Pitty, Tarantino, Cristoph Waltz) e a questão de como ele trabalha as questões de violência e vingança. Sendo, por muitas vezes, deixando de lado as questões sobre a trama e sua veracidade histórica. O público, no geral, compra a ideia do filme sem pensar nos fatores históricos, mas sim no entretenimento e em diversas vezes acabam pensando o filme como uma reprodução do contexto.


Referências Bibliográficas:
AUMONT, Jacques. et alli. A estética do filme. Campinas, Papirus, 1995.
FERRO, Marc. O filme: uma contra-análise da sociedade? IN: LE GOFF, Jacques e NORA, Pierre (orgs.) História – novos objetos. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1976.
____, Cinema e história. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1992.
MELEIRO, Alessandra (org.). Cinema no Mundo: indústria, política e mercado: Estados Unidos. São Paulo: Escrituras Editora, 2007. (Coleção Cinema no mundo; v. 4).
MELEIRO, Alessandra (org.). Cinema no Mundo: indústria, política e mercado: America Latina. São Paulo: Escrituras Editora, 2007. (Coleção Cinema no mundo; v. 4).
NAPOLITANO, Marcos. A escrita fílmica da história e a monumentalização do passado: uma análise comparada de Amistad e Danton, In: CAPELATO, Maria Helena et al. História e cinema, São Paulo, Alameda, 2007. pp. 65-84
OLSON S. Hollywood Planet: global media and competitive advantage of narrative transparency. Mahwah: Lawrence Erlbaum, 1999
ORTIZ, Renato. A moderna tradição brasileira: cultura brasileira e indústria cultural. São paulo, Brasiliense, 1988
ROSENSTON, Robert. A. A história nos filmes: os filmes na história. Trad:Marcello Lino. 2ºEdição, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2015
WASKO, J. How Hollywood works. Londres: Sage, 2003



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