Connecting People and Ideas. Proceedings of EURO ELECS 2015. Guimarães . Portugal . ISBN 978-‐989-‐96543-‐8-‐9
A Importância de um Planeamento na Desconstrução de Edifícios Andreia Martins
University of São Paulo, Institute of Architecture and Urbanism, São Carlos, São Paulo, Brazil
[email protected] Daniel Reis University of São Paulo, Institute of Architecture and Urbanism, São Carlos, São Paulo, Brazil
[email protected]
Márcio Fabrício
University of São Paulo, Institute of Architecture and Urbanism, São Carlos, São Paulo, Brazil
[email protected]
José Sousa
Polytechnic of Porto, Institute of Engineering, Department of Civil Engineering, Porto, Portugal
[email protected]
ABSTRACT: The demolition process has been experienced several changes, which primarily focus on how the building will be demolished. More recently, with the growing environmental importance concerns lead today talking about "deconstruction", in reference due the loss of the demolitions. The building demolition is currently responsible for producing a significant portion of all wastes generated by construction activities and in this context that deconstruction emerges as an environmentally viable alternative for this industry. This paper discusses the consequences of traditional demolition, as well as the features and benefits that deconstruction can bring in terms of sustainability. Is to assist the buildings deconstruction processes through guidelines that comprise planning, comprising several steps before it is dismantling. The guidelines presented in this article were developed through a literature search on the topic, which aim to aid in the proper management of demolition waste stream. Keywords: Deconstruction, Demolition, Demolition Waste Management. RESUMO: O processo de demolição tem experimentado várias mudanças que incidem principalmente na forma como o edifício vai ser demolido. Mais recentemente, com a progressiva importância das preocupações ambientais levam hoje a falar de "descons-‐ trução", em função do prejuízo das demolições. A demolição de edifícios é atualmente responsável pela produção de uma parcela significativa de todos os resíduos origina-‐ dos pela construção civil e é nesse contexto que a desconstrução surge como uma al-‐ ternativa ambientalmente viável para esta indústria. Este trabalho aborda as conse-‐ quências da demolição tradicional, como também as características e vantagens que a desconstrução pode trazer em função da sustentabilidade. Consiste em auxiliar os pro-‐ cessos da desconstrução de edifícios através de diretrizes, que compõem um planea-‐ mento, compreendendo as várias etapas antes do seu desmantelamento. As diretrizes apresentadas neste artigo foram desenvolvidas através de uma pesquisa bibliográfica sobre o tema, que visam o auxilio na correta gestão do fluxo de resíduos de demolição.
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Palavras-‐chave: Desconstrução, Demolição, Gestão de resíduos de demolição. 1
INTRODUÇÃO
A indústria da construção constitui um dos maiores e mais ativos setores em todo pla-‐ neta. No entanto tem vindo a sofrer, um pouco por todo o mundo, uma grande evolu-‐ ção, e com isso, uma crescente extração de recursos naturais. Para reduzir o impacto ambiental gerado pela contínua recolha de nova matéria-‐prima são criados procedi-‐ mentos para a gestão de resíduos (Torgal & Jalali, 2010). A nível mundial, os edifícios construídos armazenam 40% dos materiais e 55% das madeiras extraídas. As quanti-‐ dades de resíduos são elevadas e estima-‐se que o edificado e atividades afins origine cerca de 40% do total de resíduos produzidos (Pinheiro, 2006). A demolição não contém barreiras, o que produz uma enorme quantidade de detritos que na maioria dos casos, são apenas adicionados aos resíduos nos aterros sanitários. Devido às preocupações da comunidade sobre os potenciais impactos e sobre o meio ambiente em áreas desenvolvidas, está a tornar-‐se cada vez mais difícil a disponibiliza-‐ ção de locais para aterros. Por outro lado, o facto dos aterros tenderem a situar-‐se em zonas mais afastadas das áreas desenvolvidas, aumenta os custos de transporte. Uma alternativa ao envio desses materiais para aterros sanitários, é escolher a desconstru-‐ ção sobre o hábito mais comum que é a demolição (Couto & Couto, 2010). A descons-‐ trução é um processo construtivo de desmontagem, que tem como objetivo principal, recuperar o máximo dos materiais de construção de forma a ser possível serem reutili-‐ záveis ou, até mesmo recicláveis e aplicados em novas construções. Pretende-‐se que os resíduos originados possam ser rentáveis, ecológicos e com maior ciclo de vida. A desconstrução cria a possibilidade de reutilizar os materiais, mantendo a energia in-‐ terna (energia incorporada) e impedindo a transformação de matérias-‐primas, ou ain-‐ da o aumento da produção de material de construção (Saghati & Teshnizi, 2011). O conceito desconstrução surgiu devido ao rápido aumento de demolições e crescen-‐ tes preocupações ambientais manifestadas por toda a sociedade. Apesar de o processo da desconstrução ser entendido como uma forma interessante de reduzir a produção de detritos, ainda não consegue reunir um elevado conhecimento técnico sobre o te-‐ ma e aceitação por parte dos vários intervenientes. Para inverter esta situação, as normas e os regulamentos ambientais devem ser promovidos, no sentido de aumentar a conscientização sobre a importância da desconstrução com as partes envolvidas na indústria da construção, especialmente os proprietários, projetistas e empreiteiros (Couto & Couto, 2010). Em antagonismo, este processo construtivo entende-‐se como uma atividade demorada, com grande incorporação de mão-‐de-‐obra, que só será ren-‐ tável se houver mercado para os produtos de demolição e o custo de material indis-‐ criminado levado a vazadouro for suficientemente elevado, para ser eliminado (Silvei-‐ ra). A gestão dos resíduos de construção e demolição também se tornou mais complexa devido às crescentes exigências técnicas e legais, que têm estimulado o aparecimento de empresas especializadas na prestação de serviços relacionados com recolha, trans-‐ porte, reciclagem e tratamento destes resíduos (Silva, 2004). Do ponto de vista eco-‐ nómico os inertes reciclados só são competitivos onde exista falta de matéria-‐prima ou falta de vazadouros autorizados, a reciclagem trará nestas condições, redução de cus-‐
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tos no transporte e entrega de resíduos (Silveira). Reutilizar os materiais em novas construções resulta numa menor energia que seria necessária para a produção de novos materiais, menor poluição e obtenção de um maior ciclo de vida útil do material. Os materiais seguem uma hierarquia de opções 4.5.1 Princípio da hierarquia de resíduos possíveis, tais como a reutilização, a reciclagem, o uso de combustível, a eliminação de A política e a legislação em matéria de resíduos devem respeitar a seguinte ordem de materiais não perigosos, e eliminação de materiais perigosos. Uma abordagem hierár-‐ prioridades no que se refere às opções de prevenção e gestão de resíduos, de acordo com o quica de gestão dos materiais a partir da desconstrução de um edifício é inerente ao processo de separação local (Guy ibeau, 2003). decreto-lei nº73/2011 de 17& de G Junho. Prevenção e redução Preparação para a reutilização Reciclagem
Outors tipos de valorização
Eliminação
Figura 4.3: Hierarquia de gestão de resíduos de demolição e construção
Figura 1 – Hierarquia da gestão de resíduos de demolição e construção (Produzido pelo Autor). 4.5.1.1 Prevenção e redução
Para além que este processo construtivo tem o potencial de criar novas capacidades De acordo com o decreto-lei nº73/2011 de 17 de Junho, a prevenção é a adoção de profissionais e oportunidades de emprego, promove também a criação e expansão de medidas antes de uma substância, material ou produto assumir a natureza de resíduo, pequenas empresas, para lidar com o material recuperado de projetos de desconstru-‐ destinadas a reduzir: [36] ção, e beneficiar o meio ambiente, desviando valiosos recursos de aterros em usos lu-‐ crativos. Por outro lado ermite deàresíduos desconstrução pagar através a si pdarópria, través da geração Ap quantidade produzidos, designadamente reutilizaçãoade de receitas e redução produtos de custos e eliminação de aterros sanitários (HUD & NAHB, ou do prolongamento do tempo de vida dos produtos; 2001). Os impactes adversos no ambiente e na saúde humana resultantes dos resíduos produzidos; O ambiente incorporado do futuro está a ser construído, no início de uma nova época ecológica em que os governos estão a enquadrar os mercados com a regulamentação O teor de substâncias nocivas presentes nos materiais e nos produtos. e legislação que responde aos desafios da sustentabilidade ambiental, e onde a indús-‐ tria tem de responder aos desafios das economias de baixo carbono e o esgotamento 62 dos recursos (Department of Sustainability, 2011).
2
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 A desconstrução como alternativa à demolição
A demolição é a resposta ao fim de vida dos edifícios, quando estes se encontram em estado degradado ou em risco de instabilidade, em que o custo de manutenção ou re-‐ abilitação seja demasiado elevado face à demolição total, ou que coloque em causa a segurança da população e das construções vizinhas. Os seus métodos podem variar, dependendo do local onde será realizado, o tempo disponível, os materiais de constru-‐ ção, o objetivo da demolição e a forma de detritos que vão ser acumulados. Os méto-‐ dos em que o ruído, a poeira e a vibração são limitados, podem aumentar os custos da demolição. Já a desconstrução pode ser definida como a desmontagem sistémica de uma edifica-‐ ção com o objetivo de maximizar a recuperação de materiais e componentes para reu-‐ tilização e reciclagem e é realizada através de métodos pré-‐planeados e controlados. Enquanto que o processo de demolição geralmente conduz a uma mistura de diversos
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materiais e inevitavelmente à sua contaminação, que originalmente não representa-‐ vam riscos à saúde humana e ao meio-‐ambiente. Nesta metodologia, os trabalhos rea-‐ lizam-‐se de maneira inversa à seguida no processo de construção, ou seja, antes da desmontagem da alvenaria e da estrutura, deve-‐se evitar a presença de todos os ou-‐ tros materiais, em especial o fibrocimento, gesso, madeiras, polímeros, entre outros. Só depois é que se procede ao desmonte das paredes de alvenaria, e por fim à própria estrutura, em que o ultimo material a ser removido é o primeiro que foi colocado e o primeiro a ser removido é o ultimo que foi colocado (Silveira). Os materiais removidos são recuperados para reutilização ou reciclagem; no caso de materiais contaminados, o objetivo não é reintegrar os materiais de construção, é ex-‐ clusivamente isolá-‐los dos outros materiais, com a função de os submeter a um trata-‐ mento especial ou transportá-‐los para um aterro específico (Generalitat de Catalunya, 1995). A desconstrução oferece potenciais benefícios económicos e ambientais em comparação com a prática convencional de demolição total do edifício, tais como ven-‐ da e aproveitamento de materiais reutilizados, permite também evitar as taxas de des-‐ carte. O principal benefício ambiental é mesmo a redução da produção de resíduos. Por outro lado, a desconstrução é um processo que tende a ser mais demorado que a demolição tradicional devido à sua natureza de trabalho intensivo e pormenorizado (Dantata, Touran & Wang, 2005). As vantagens da desconstrução são significativos, oferecendo benefícios sociais, eco-‐ nómicos, ambientais e históricos. Os edifícios mais antigos, muitas vezes contêm arte-‐ sanato de valor histórico relevante. A desconstrução pode cuidadosamente conservar essas características arquitectónicas históricas importantes, na medida em que os ma-‐ teriais são preservados durante a remoção. Requer mão-‐de-‐obra melhor qualificada do que simplesmente demolir a estrutura, embora possam ser criados postos de trabalho adicionais para beneficiar a comunidade (Couto & Couto, 2010). 2.2 Desafios a superar
O governo é provavelmente, uma das partes mais importantes para estabelecer um mercado de materiais de construção secundários mais eficaz. Deve manifestamente apoiar esta meta, promovendo o uso destes materiais e desencorajar o uso desneces-‐ sário de matérias-‐primas novas, representando um papel efetivo na promoção da des-‐ construção, através de apoios financeiros e através do cumprimento rigoroso das legis-‐ lações. Deste modo, o principal desafio consiste em aumentar a consciência pública sobre a necessidade e os benefícios da desconstrução e influenciar o público a partici-‐ par e investir neste tipo de mercado (Saghati & Teshnizi, 2011). As políticas e legislações devem motivar as seguintes tendências por meio de estraté-‐ gias como o financiamento, a redução de impostos e a concessão de licença de cons-‐ trução mais rápida, de modo a (Couto & Couto, 2010): •
• •
Promover o projeto para a desconstrução e a recuperação de materiais, através da aplicação de métodos simples, que aumentam possibilidade e qualidade de desmonte do edifício; Promover a utilização de material reciclado; Promover a separação de resíduos, que são enviados para aterros sanitários;
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•
•
Promover os setores privados e as universidades para investigar métodos ino-‐ vadores para a construção de tecnologias e estudar especialmente as conexões entre diferentes componente do edifício; Promover os empreiteiros, de modo a incorporarem a sua estratégia de gestão de resíduos no caderno de encargos.
Atualmente, o processo da desconstrução é severamente limitado por vários fatores, desde logo aqueles relacionados com o custo e o tempo encontram-‐se como sendo os principais, encontrando-‐se estes ligados. Relacionando os custos com os benefícios económicos de materiais recuperados, como também a qualidade destes, a sua reutili-‐ zação, os materiais economicamente recicláveis, os materiais perigosos e os sistemas que se tornam obsoletos ou são difíceis de separar. A viabilidade económica da des-‐ construção é portanto, dependente de uma maior e melhor reutilização ou do valor dos materiais recuperados na reciclagem de todo o processo da desconstrução (Guy & Shell, 2002). Os desafios enfrentados pela desconstrução são significativos, mas facilmente supera-‐ dos se ocorrerem mudanças no projeto e na política de construção. Esses desafios in-‐ cluem (Abdol & Stuart, 2003): • • • • • • • • • • •
Edifícios existentes que não foram projetados para a sua desmontagem; Componentes de construção que não foram concebidos para a desmontagem; Inexistência de ferramentas para desconstruir edifícios; Custos de eliminação de resíduos de demolição são frequentemente baixos; O desmantelamento de estruturas requer tempo adicional, em relação à demo-‐ lição tradicional; Os códigos de construção e as normas dos materiais, muitas vezes não abor-‐ dam a sua reutilização; Fatores de custo desconhecidos no processo de desconstrução; A falta de uma ampla identidade industrial com práticas padronizadas propor-‐ cionais; Edifícios antigos construídos, com a utilização de tintas à base de chumbo e materiais que contenham amianto; Os benefícios económicos e ambientais que não estão bem estabelecidos; A recertificação de componentes ou materiais usados não é frequente.
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Figura 2 – Ciclo de vida de uma construção (Adaptado de EPA, 2008).
Por conseguinte, o processo de desconstrução apresenta várias vantagens em relação à demolição convencional, contudo também se defronta com vários desafios. Conside-‐ rando o potencial de todos os componentes de construção e reciclagem em fase de projeto, é necessário investigar métodos de desmonte para projetar para a descons-‐ trução, sendo esta a solução mais eficiente para promover a desconstrução, aumen-‐ tando assim a qualidade e quantidade de reciclagem. As soluções a longo prazo preci-‐ sam ser incorporadas na construção de hoje. É neste sentido que o projeto para a desconstrução e as soluções inovadoras tornam-‐se as chaves vitais para a sua imple-‐ mentação (Saghati & Teshnizi, 2011). As diretrizes para a desconstrução, apresentadas no capitulo seguinte devem ser implementadas antes do inicio do processo da des-‐ construção e encontram-‐se distribuídas cronologicamente, com o objetivo de auxiliar no planeamento e na execução do cronograma de trabalhos sobre o tema em estudo. 3
DIRETRIZES PARA O PLANEAMENTO DA DESCONSTRUÇÃO
A metodologia apresentada neste trabalho tem como objetivo desenvolver e definir um conjunto de diretrizes, para as empresas que realizam os trabalhos de desconstru-‐ ção, com a finalidade de orientar e criar um plano de atividades. Por meio desta meto-‐ dologia pretende-‐se intervir nas fases imediatamente anteriores ao processo de des-‐ construção recorrendo a um conjunto de diretrizes que irão permitir, aos agentes responsáveis pelo processo, um conjunto de informações técnicas, tais como: as visto-‐ rias a serem efetuadas ao edifício, estado em que se encontra, respetivos materiais de construção que o constitui e os que contêm riscos especiais. Também a segurança co-‐ letiva, individual e até do próprio edifício e os equipamentos que devem ser utilizados neste tipo de trabalhos. Pretende-‐se igualmente aumentar o potencial de valorização dos resíduos obtidos durante o processo de desconstrução, através da sua reutilização em novas construções ou até encaminhados para reciclagem ou aterro. 3.1 A escolha do empreiteiro
O primeiro passo a ser dado é a escolha do empreiteiro responsável pela elaboração do projeto e execução dos trabalhos de desconstrução. Para tal é feito um concurso público ou privado e a empresa será adjudicada de acordo com as propostas efetua-‐ das. É fundamental em fase pré-‐contratual informar os subempreiteiros sobre as obri-‐ gações que têm de assumir relativamente às condições de segurança a vigorar no esta-‐
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leiro, incluindo toda a documentação que será disponibilizada sobre o edifício e o local, antes da assinatura dos contratos e posteriormente incluída num dossier específico no estaleiro (Delgado & Amaral, 2012). Todos os empreiteiros devem garantir a formação e instrução dos seus trabalhadores, é relevante para todos os tipos de tarefas e deveres. Todos os empregadores devem realizar uma análise das necessidades de formação com base nos carecimentos da or-‐ ganização (atuais e futuros), experiência corrente dos trabalhadores, formação e as suas tarefas e deveres. A formação pode ser fornecida pelo empregador, desde que es-‐ te seja competente, ou por empresas com formação especializada (como primeiros so-‐ corros no local de trabalho, sistemas anti-‐queda e treinamento em espaços confina-‐ dos) (Work Safe, 2013). 3.2 Verificações antes da desconstrução
Dentro das medidas preparatórias, para a elaboração e desenvolvimento de um plano de desconstrução é necessário efetuar uma visita ao local para verificação do estado do edifício. O edifício deve ser analisado e observado por técnicos competentes, como também as condições em que se encontram os edifícios vizinhos, deve ainda ser elabo-‐ rado uma lista dos materiais que contêm riscos especiais e só após essa análise e que é realizado uma avaliação à estrutura. É importante solicitar as peças escritas e desenhadas, quando existirem, para avalia-‐ rem as suas características em termos de arquitetura, estrutura e restantes especiali-‐ dades. Também é útil observar as condições básicas, tais como danos causados por in-‐ cêndios, inundações, estado de degradação e possíveis perigos biológicos, tais como restos de animais (Guy & Gibeau, 2003). Em suma, o objetivo da visita ao local é obter o real conhecimento do estado atual do edifício, especialmente os elementos que ga-‐ rantem a sua resistência e estabilidade e assim, determinar quais os métodos e técnica de desmontagem mais adequados (Generalitat de Catalunya, 1995). Para a caraterização do edifício em estudo é necessário ter como base um conjunto de informações, tais como, a idade da construção, as suas características, o seu estado de conservação, os condicionalismos locais (acessos, infraestruturas, linhas de água, vias, escolas, hospitais, etc.) e a existência de edifícios confinantes, com o levantamento das suas características e o estado de conservação (Delgado & Amaral, 2012). Durante o processo de desconstrução, o estado de tensão que se encontra sobre os elementos de construção do edifício passa por mudanças significativas mais rápidas do que na construção. Essas mudanças têm origem na acumulação de sobrecargas em de-‐ terminadas partes da cobertura, elementos que não constam no projeto do edifício, que foram colocados durante a sua utilização, e que provocam aumento de sobrecar-‐ gas, como também, em desmontagens de elementos, que aparentemente, não per-‐ tencem à parte estrutural do edifício, mas na realidade transmitem cargas. Estas situ-‐ ações e anomalias estruturais que em conjunto se manifestam nas edificações a serem desconstruídas, é recomendado desmontar os elementos que possam causar a queda descontrolada do edifício, antes de iniciar o processo (Generalitat de Catalunya, 1995). No caso da desconstrução ocorrer numa zona urbana, é necessário considerar os con-‐ dicionalismos em termos de espaço e de acessos. Há a necessidade de proteger os edi-‐ fícios confinantes e as zonas públicas, de poeiras e de eventuais projeções de materi-‐
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ais, com recurso a jatos de água e a proteção da estrutura com redes, lonas ou outros elementos rígidos, em função das características da desconstrução e dos edifícios ou elementos. Os condicionalismos locais são em geral uma constante, sobretudo em zo-‐ nas de malha urbana densa, o edifício a desconstruir está geralmente limitado por di-‐ versos edifícios confinantes e pela via pública (Delgado e Amaral, 2012). A desconexão de todos os serviços públicos deve ocorrer antes de qualquer trabalho começar. Isso inclui a eletricidade, gás natural, água, esgoto, telefone e cabo. É neces-‐ sário o auxilio dos serviços públicos locais, para a identificação e desativação das liga-‐ ções destes serviços, e concluir antes do processo da desconstrução iniciar. Muitas ve-‐ zes, a conclusão da desconexão dos serviços públicos está incluída no processo de aprovação da autorização da desconstrução. É importante coordenar com o empreiteiro as atividades que concerne à remoção do material contaminado, evitando assim a contaminação dos materiais recuperáveis. É fundamental planear essas atividades, e notificar o dono de obra em caso de atrasos ou imprevistos, de acordo com a gestão de tempo do cronograma geral do projeto. Al-‐ gumas das substâncias perigosas mais relevantes que podem ser encontradas são o chumbo e o amianto. Todos os materiais perigosos identificados, em especial os con-‐ têm amianto devem ser removidos antes do inicio dos trabalhos de desconstrução. É necessário obter informação e formação de todas as normas de segurança para o ma-‐ nuseamento, transporte e eliminação destes materiais. Antes de se iniciar os trabalhos de desconstrução, é necessário realizar uma inspeção estrutural. Este procedimento deverá ser realizado por uma pessoa experiente nesta área, a inspeção tem como finalidade determinar a idade do edifício, tipo de materiais existentes, técnicas de construção que foram usadas, características de construção da estrutura original, eventuais modificações que foram realizadas na estrutura, estado atual de elementos estruturais do edifício que podem influenciar na estabilidade e re-‐ siliência do edifício, estado atual das instalações (elétricas, mecânicas, hidráulicas, etc.) e dos edifícios contíguos (Generalitat de Catalunya, 1995). 3.3 Documentação do projeto
A finalidade da desconstrução não é apenas a demolição do edifício nem termina quando este é derrubado. O projeto de desconstrução deve conter uma parte que não aparece nos novos projetos de construção, mas que define o trabalho a ser realizado no local para facilitar o processo de reciclagem e reutilização (Generalitat de Catalu-‐ nya, 1995). É no projeto de desconstrução que são definidas as características do edifí-‐ cio a desconstruir, tais como, espaços confinantes, trabalhadores, ferramentas a utili-‐ zar, metodologias, faseamentos de intervenção, sistemas de comunicação, sinalização, monitorização de informação e formação (Delgado & Amaral, 2012). Este projeto deve conter um plano de desconstrução, que é constituído por o projeto de execução técni-‐ co, o plano de segurança e saúde, o plano de prevenção e gestão de resíduos e o plano de organização do local/ocupação da via publica, quando necessário. O projeto de execução técnico tem a função de definir o estado atual do edifício, este deve conter a memória descritiva, os termos de responsabilidade, as peças desenha-‐ das, o caderno de encargos, o relatório de estabilidade da estrutura, onde deve cons-‐ tar os cálculos de estabilidade e o dimensionamento de suportes temporários, o mapa
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de quantidades e a estimativa orçamental, sobre os passos necessários para identificar as características construtivas principais, especialmente as da estrutura. De acordo com o Decreto-‐Lei n°273/2003, 29 de Outubro, existe apenas um plano de segurança e saúde em cada obra, que é da responsabilidade do dono de obra, e deve ser elaborado em fase de projeto e incluir todas as atualizações e alterações que são realizadas ao longo da execução da desconstrução. Este será implementado e especifi-‐ cado pela entidade executante na fase da obra, sendo desenvolvido pelo coordenador de segurança. De acordo com o Decreto-‐Lei n°46/2008, 12 de Março, nas empreitadas e concessões de obras públicas, o projeto de execução é acompanhado de um plano de prevenção e gestão de resíduos de construção e demolição, que assegura o cum-‐ primento dos princípios gerais de gestão de RCD. Sendo este um documento que esta-‐ belece desde o inicio ao fim da obra, a estratégia para otimizar a reciclagem no local. A localização do edifício a desconstruir pode ter muita importância em projetos nos centros de cidade, que têm normalmente elevada densidade habitacional, é provável que haja limitações acrescidas na utilização do espaço, podendo ser necessário tomar medidas especiais de segurança. Neste sentido, as infraestruturas existentes na perife-‐ ria da obra, como por exemplo a largura das estradas circundantes, devem também ser estudadas para que se possa determinar se os veículos de recolha e transporte de resíduos e materiais, assim como o equipamento de desconstrução de maior porte, te-‐ nha acesso à obra. 3.4 Segurança na desconstrução
A segurança começa com o planeamento no sentido de tomar todas as medidas para evitar acidentes de trabalho até mesmo os casos mais leves. É razoável esperar peque-‐ nas lesões, mas não é expectável ocorrer lesões de grande impacto. Um aspeto da desconstrução que a diferencia da demolição mais tradicional e mecanizada é o uso de mão-‐de-‐obra de forma mais predominantemente. Antes de analisar o projeto de execução técnico, o empreiteiro deve desenvolver um plano de segurança em função do tipo de trabalhos, que é criado para lidar com quais-‐ quer requisitos adicionais, para manter a segurança no local onde vai decorrer a obra de desconstrução. Os elementos do plano de segurança e saúde irão incluir a orienta-‐ ção do trabalhador, identificação de perigos e formação, as normas e diretivas para o uso de ferramentas, proteção respiratória, proteções contra quedas, entre outras. De-‐ ve também conter os procedimentos para lidar com situações de emergência, no local de trabalho, utilização de equipamentos de proteção individual e coletiva (Guy & Gibe-‐ au, 2003). Quando pelo menos um dos edifícios confinantes é constituído por estruturas antigas de alvenaria resistente, é importante proceder ao escoramento entre empenas, de forma a evitar danos ou colapsos nos edifícios adjacentes, na fase de licenciamento e na fase de construção dos novos edifícios. (Delgado & Amaral, 2012) O planeamento depara-‐se com os primeiros riscos associados à desconstrução, que são identificados “in situ“, os perigos que o edifício pode propor, dificuldades do trabalho em função dos diferentes climas, manuseamento das ferramentas, supervisão e formações obri-‐ gatórias para este tipo de trabalhos para por fim proceder-‐se à limpeza do local.
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3.5 Otimização da reciclagem de resíduos
É importante planear o sistema de remoção e separação dos resíduos, devido aos grandes condicionalismos que estes apresentam, em termos da ocupação de espaço no interior dos edifícios para o exterior. O seu transporte para vazadouro autorizado, deve ser efetuado em condições de segurança e em cumprimento da legislação e dire-‐ trizes aplicáveis em termos ambientais (utilização de guias, contrato com vazadouro li-‐ cenciado, etc.). O sistema a utilizar no que se refere à remoção de resíduos, deve ser organizado, em função da primeira premissa, sendo esta a remoção dos resíduos da frente de trabalho para os pisos térreos, com meios adequados e como segunda pre-‐ missa, a remoção para vazadouro licenciado. Os resíduos e os materiais resultantes devem ser selecionados e separados, de forma a potenciar a sua reutilização e/ou reci-‐ clagem e em simultâneo diminuir o seu volume, a enviar para vazadouros de recepção generalizada. Deve-‐se proceder à remoção e evacuação de resíduos em obra, com sistemas que não criem situações de risco, através de aberturas em pavimentos, de condutas ou de con-‐ tentores, colocados estrategicamente nas zonas de desconstrução ou em estruturas de apoio, desde que existam condições de resistência e estejam garantidas as condições de estabilidade, nas zonas de atuação e no edifício em geral. Os resíduos devem ser transportados em recipientes ou contentores adequados e no caso, em que são trans-‐ portados em camiões de caixa aberta, devem ser cobertos com redes ou lonas, para evitar a libertação de poeiras durante o trajeto, desde a obra até aos vazadouros auto-‐ rizados (Delgado & Amaral, 2012). Na prática uma boa gestão “in situ”, não só impede a mistura da porção inerte com a porção não-‐inerte, como também facilita e permite a sua classificação e separação no local. Os métodos de desconstrução devem ser adotados, envolvendo a desmontagem e remoção de resíduos da mesma categoria, um de cada vez. O objetivos das diretrizes apresentadas é facilitar a reciclagem de resíduos e/ou a reutilização destes, minimi-‐ zando assim a carga sobre aterros sanitários e as áreas de abastecimento público (Work Safe, 2013). 4
CONCLUSÕES
A desconstrução representa uma opção eficaz para reduzir a geração de resíduos em relação à demolição. Durante a fase de pesquisa para a realização deste artigo, conclu-‐ iu-‐se que os principais desafios na área de projetos de desconstrução, estão relaciona-‐ dos com a reutilização e reciclagem de resíduos, e as barreiras impostas pelos merca-‐ dos dos materiais, como também o reconhecimento em toda a indústria e a necessidade de formação/informação, no sentido de criar especificações em projeto para ajudar os gestores e engenheiros responsáveis, a compreenderem as especifica-‐ ções de novos materiais, tais como os agregados reciclados, e materiais reutilizados e incentivar a incorporá-‐los em projetos. A taxa de recuperação de material útil é preju-‐ dicada por contaminação cruzada com outros materiais, a contaminação por amianto é um problema significativo em resíduos provenientes da demolição e obras de renova-‐ ção, é um exemplo que se reflete na falta de planeamento deste processo. As barreiras tecnológicas, devido à incapacidade para identificar mercados para o material como é apresentado, ou devido à falta de tecnologia e/ou equipamentos com capacidade para limpar ou separar materiais, é também um dos principais problemas da desconstrução.
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O projeto para a desconstrução, é uma prática que tem ganho destaque, oferece uma oportunidade para maior recuperação de recursos no final da vida útil de um edifício. Respetivamente às perspetivas futuras exige a realização de mais estudos e mais for-‐ mação sobre este assunto, tanto relativamente à desconstrução como também à ges-‐ tão de resíduos. Promover a contínua procura de novas soluções para incentivar a des-‐ construção de edifícios e a criação de novos mercados para os materiais originados. 5
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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