A importância do Estágio Curricular Supervisionado em espaços não escolares na formação docente em Ciências e Biologia na visão dos professores formadores

Share Embed


Descrição do Produto

EIXO TEMÁTICO 8: EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E BIOLOGIA EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES E DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA. MODALIDADE: PÔSTER – PO.05

A

IMPORTÂNCIA

DO

ESTÁGIO

CURRICULAR

SUPERVISIONADO

EM

ESPAÇOS NÃO ESCOLARES NA FORMAÇÃO DOCENTE EM CIÊNCIAS E BIOLOGIA NA VISÃO DOS PROFESSORES FORMADORES.

Laís Anita da Rocha Lima, UESC, [email protected] Mário Cézar Amorim de Oliveira, UECE, [email protected]

RESUMO A presente investigação teve como objetivo compreender a importância do Estágio Curricular Supervisionado II (ECS2), realizado em espaços não escolares, para a formação de professores de Ciências e Biologia na visão de professores formadores do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da UESC. Trata-se de um estudo de caso, com abordagem qualitativa, na qual foi realizada entrevista semiestruturada com três professoras do Departamento de Ciências Biológicas. Os resultados apontam que a disciplina de ECS2 é importante para a formação inicial dos estudantes, por oferecer a oportunidade de vivenciar experiências diferenciadas, tendo contato com públicos distintos, em espaços com características diferentes da escola e nos quais eles podem abordar conteúdos variados. Palavras-chave: Formação de Professores. Educação não formal. Estágio Curricular Supervisionado.

ABSTRACT This research aimed to understand the importance of the internship as part of an academic program (ECS2) in non-school spaces to education of Science and Biology’s teachers based on the view of professors in Bachelor's Degree in Biological Sciences at UESC. This is a case study with a qualitative approach, which were conducted semistructured interviews with three professors of the Department of Biological Sciences. The results show that the ECS2 course is important to the initial learning of students because it allows students to experience different situations, involving to interact with different publics, to deal with others workplaces besides schools and to access a spreader set of topics than in classrooms. Key words: Teacher training, Non-formal education, Academic Internship.

INTRODUÇÃO A Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) criada em 5 de dezembro de 1991, está localizada no município de Ilhéus, região do sul da Bahia. “De uma perspectiva física, a UESC situa-se num dos conjuntos naturais de maior beleza desse país. E, de uma perspectiva histórica, em sua área de atuação deu-se o descobrimento do país pelos portugueses” (DEMARCANDO..., 2012). Trata-se da principal instituição de ensino superior do sul da Bahia, com uma área geo-educacional que compreende 74 municípios, o que corresponde a 9% da área do estado da Bahia, e cerca de 16% de sua população (PROJETO..., 2007). No Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da UESC, onde essa pesquisa foi realizada, três disciplinas de Estágio Curricular Supervisionado, totalizando 405 horas, compõem o currículo de formação docente. No Projeto Acadêmico Curricular (PAC) do curso estão listados os seguintes objetivos para esses estágios: complementar e aprimorar a formação acadêmica e profissional do aluno; estabelecer a relação entre a formação adquirida no curso com a prática profissional; vivenciar a prática de sua profissão; preparar o aluno para o desempenho consciente e ético das tarefas específicas de sua profissão; e permitir um maior contato do aluno com o mercado de trabalho na área de sua escolha (PROJETO..., 2007). Dois desses estágios ocorrem em espaços escolares e o outro, o Estágio Curricular Supervisionado II, disciplina prevista para o 6° semestre do curso, ocorre em espaços não escolares, uma modalidade de estágio recente. O estágio curricular supervisionado também se dará no espaço não formal em educação. Neste caso, o aluno deverá observar este espaço e, posteriormente, elaborar e executar um projeto de intervenção que vise a participação do trabalho docente aplicado aos sujeitos dos espaços não formais. (PROJETO..., 2007, p.142). As atividades de estágio devem acontecer sob a orientação dos professores das disciplinas de Estágio Curricular Supervisionado e com o acompanhamento de um supervisor da parte concedente, segundo as normas estabelecidas pelo colegiado do curso. Os estágios supervisionados e as práticas como componente curricular (PCC) estão organizados, de modo que os objetivos previstos no PAC do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da UESC sejam alcançados. O curso busca formar professores qualificados para atuação nos diversos espaços educativos, e nas diversas áreas de competência do biólogo, pretende ainda capacitar os alunos para articular os conteúdos

biológicos com os conhecimentos básicos da educação, mediante a investigação, a interpretação e a intervenção na dinâmica dos espaços educativos. Também busca associar a competência técnica à competência política, para a formação de um profissional crítico e reflexivo em relação às questões pertinentes ao seu campo de atuação. A área de atuação dos professores por muito tempo ficou restrita a espaços escolares; entretanto, existem inúmeros locais que podem também ser considerados como espaços de ensino, e esses não se referem exclusivamente a museus e centros de ciências, mas a qualquer local, seja uma instituição ou não, que não apresenta como principal função um processo sistematizado de ensino, mas que podem ser espaços muito interessantes de educação (JACOBUCCI, 2008). A partir dos anos 1990, a educação não formal conseguiu ganhar espaço nas pesquisas e debates, porém se observa a necessidade de investigações sobre esse tema, principalmente a respeito de estágios supervisionados nesses locais. Desse modo, o objetivo dessa pesquisa é compreender a importância da disciplina de Estágio Curricular Supervisionado II (ECS2) em espaços não escolares para a formação de professores de Ciências e Biologia na visão de professores formadores do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da UESC. As vivências e experiências em espaços não escolares são importantes para o desenvolvimento de saberes docentes (TARDIF, 2006) essenciais para o exercício profissional de futuros professores de Ciências e Biologia. REFERENCIAL TEÓRICO A formação inicial de professores é um tema que vem sendo muito discutido nas últimas décadas, em função muitas vezes da baixa qualidade da educação escolar e sua relação com uma formação deficiente dos profissionais da educação. Além da importância mundial que vem sendo atribuída à educação, como via de constituição de nacionalidades e de consolidação de ideários político-econômicos, em termos nacionais o motivo desse destaque se prende também ao débito do país em relação a uma educação escolar de qualidade para toda a população. (GUIMARÃES, 2006, p. 17). Nesse sentido, como afirma Guimarães (2006, p.18), “é urgente que as instituições que formam o professor se deem conta da complexidade da formação e da atuação consequentes deste profissional”. O conhecimento teórico de sua futura área de atuação é essencial, porém

este deve estar relacionado com práticas didáticas que sejam eficientes no processo de ensino e aprendizagem. O futuro professor deve ainda, ser sensível ao contexto sócio-econômicocultural de seus futuros alunos, e isso só é possível se em sua formação inicial houverem momentos que privilegiem o contato com sua futura realidade de trabalho, e isso está presente no currículo através das práticas de ensino. A Prática de Ensino, desde o início de sua história, é tema de diversas discussões que foram de grande valia para a elaboração das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores (BRASIL, 2002a). Na Resolução CNE/CP nº 2/2002 são indicadas 400 horas para Estágio Supervisionado, além de mais 400 horas para “práticas como componente curricular”. As reformas na legislação de ensino, que tornaram obrigatória a realização do estágio, bem como o aumento da sua carga horária, fizeram com que as instituições se preocupassem mais com a realização dos estágios na formação de professores. Mesmo com o considerável aumento da carga horária, o estágio continua uma atividade realizada somente no final do curso. No entanto, as práticas como componente curricular (PCC) são realizadas desde o início do curso, o que facilita a inserção do graduando nas atividades de estágio. Antes das mudanças, em muitos casos, não havia o pleno aproveitamento desse momento pelos estagiários, por ser o seu primeiro contato com a realidade da escola, agora como futuro professor e não mais como aluno, o que causava diversas dificuldades em sua atuação. O estágio supervisionado é entendido por muitos como o momento de relacionar a teoria com a prática, de maneira a complementar o que foi aprendido nas outras disciplinas. “Essa contraposição entre teoria e prática não é meramente semântica, pois se traduzem espaços desiguais de poder na estrutura curricular, atribuindo-se menor importância à carga horária denominada de ‘prática’” (PIMENTA; LIMA, 2005, p. 7). A questão da “teoria e/ou prática” está presente durante todo o curso de formação inicial, bem como nas pesquisas nessa área. Pimenta e Lima (2010, p. 41) afirmam que “a dissociação entre teoria e prática [...] resulta em um empobrecimento das práticas nas escolas, o que evidencia a necessidade de se explicitar por que o estágio é teoria e prática (e não teoria ou prática)”. Na abordagem de exercício profissional técnico, Pimenta e Lima (2005, p. 8) afirmam que “o exercício de qualquer profissão é técnico, no sentido de que é necessária a utilização

de técnicas para executar as operações e ações próprias”. No entanto, para os professores, as habilidades não são suficientes para a resolução dos problemas com os quais se defrontam, uma vez que a redução às técnicas não dá conta do conhecimento científico nem da complexidade das situações do exercício desses profissionais. Nessa perspectiva, o profissional fica reduzido ao ‘prático’, o qual não necessita dominar os conhecimentos científicos, mas tão somente as rotinas de intervenção técnica deles derivadas. (PIMENTA; LIMA, 2005, p. 8-9). A prática profissional durante a formação docente é indispensável. É muito importante para o futuro professor ter experiências onde possa intervir no ambiente onde irá atuar profissionalmente, como os estágios e as práticas como componente curricular. Uma possibilidade interessante é a realização dessas atividades em ambientes não escolares, também chamados de espaços não formais. Inicialmente, é importante deixar claro o que são esses espaços e o porquê de serem chamados de tal forma, ressaltando que não há um consenso entre os autores quanto ao uso dos termos espaços e educação. Nesse trabalho optou-se pela seguinte classificação, baseada na intencionalidade da ação (em relação à educação), e ao espaço que se opera o processo de ensino (ARAUJO; CALUZI; CALDEIRA, 2006). Quadro 1 – Categorias criadas com base nos conceitos: espaço escolar/ não escolar e ensino formal, informal e não formal (ARAUJO; CALUZI; CALDEIRA, 2006, p.27) Ensino formal Ensino informal/não formal Ensino informal (não formal) / espaço Ensino formal/ espaço escolar Espaço escolar escolar Ensino informal (não formal) / espaço Ensino formal/espaço não escolar Espaço não escolar não escolar

Trilla (2008) também utiliza essa nomenclatura, e apresenta dois critérios para distinguir a educação formal da educação não formal: o critério metodológico, com o qual ele afirma que é comum a caracterização da educação não formal como aquela que se realiza fora da escola, ou que não utilize procedimentos escolares convencionais, de modo, que o escolar seria o formal, e o não escolar seria o não formal; e o critério estrutural, onde a educação formal e a não formal, não se diferenciam pelo caráter escolar ou não escolar, mas sim pela utilização ou não do sistema educativo regrado. Através da definição dos espaços escolares é possível depreender que o espaço não escolar é o ambiente de educação que não é uma escola ou Universidade. Entretanto, o conceito de espaço não escolar é mais complexo. Segundo Jacobucci (2008, p. 57) “os espaços formais de Educação referem-se a Instituições Educacionais, enquanto que os espaços

não formais relacionam-se com Instituições cuja função básica não é a Educação formal e com lugares não institucionalizados”. As instituições de ensino não formal são os Museus, Centros de Ciências, Planetários, Jardins Botânicos etc. Os lugares não institucionalizados que podem ser locais onde ocorre o ensino não formal são os espaços culturais, organizações não governamentais (ONGs), associações de bairros, organizações de movimentos sociais, dentre outros (JACOBUCCI, 2008). Em relação às universidades, havia uma grande resistência em relação à educação não formal, que só começou a se desfazer nos anos de 1990, quando esse tema passou a ser “tolerável” pelas instituições (GOHN, 1998, p. 515). As reformas curriculares ao longo dos anos vêm contribuindo para a aceitação e valorização desse tipo de ensino. Na educação não formal o aprendizado se dá pela vivência de situações-problema. “A maior importância da educação não formal está na possibilidade de criação de conhecimentos novos. Ou seja, a criatividade humana passa pela educação não formal” (GOHN, 1998, p. 520). Tratar das metodologias utilizadas na educação não formal é muito importante, já que elas são essenciais para que ocorra aprendizado, bem como a criação de novos conhecimentos. As metodologias são escolhidas com a intenção de motivar os envolvidos, e, segundo Gohn (2006), essa intencionalidade, e o dinamismo característico da educação não formal faz com que as metodologias sejam provisórias, passíveis à mudança, bem como os objetivos a serem alcançados, que normalmente vão se alterando ao longo do processo. A autora reforça ainda, a importância dos educadores envolvidos no processo, “eles se confrontarão com os outros participantes do processo educativo, estabelecerão diálogos, conflitos, ações solidárias etc.”, afirma também, que é através desses educadores que “podemos conhecer o projeto socioeducativo do grupo, a visão de mundo que estão construindo, os valores defendidos e os que são rejeitados” (GOHN, 2006, p. 32). Essa relação se apresenta como um reforço muito interessante na formação dos alunos, e destacando o ensino de Ciências/Biologia, torna-se fundamental para a compreensão de todas as questões envolvidas no estudo da vida. Na maioria das vezes, os espaços não escolares nos quais os professores de Ciências/Biologia desenvolvem práticas com os seus alunos, são os museus, centro de ciências e zoológicos, onde os alunos podem ter contato direto com o objeto de estudo, além de participar ativamente, compartilhando experiências e conhecimentos. As visitas a esses locais permitem ainda, uma grande interação entre os educadores e os alunos, em que podem compartilhar da experiência de aprenderem juntos

(OLIVEIRA; MOURA, 2005, p. 3). As instituições de formação de professores devem estar comprometidas a formar educadores capazes de desenvolver metodologias e elaborar projetos, que facilitem o aprendizado de seus alunos, instigando sua curiosidade, e buscando alternativas criativas para tratar os conteúdos de modo a complementar e/ou facilitar, o ensino na sala de aula. Essas possibilidades podem ser alcançadas através da inclusão da educação não formal na formação inicial. Assim, o estágio supervisionado realizado em espaços não escolares, constitui uma forma de aproximar o futuro professor das possibilidades de formar alunos críticos e investigativos. METODOLOGIA Essa pesquisa é de natureza básica, exploratória e de abordagem qualitativa, caracterizada como um estudo de caso, que de acordo com Gil (2002, p. 54) “consiste no estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira que permita seu amplo e detalhado conhecimento”. Teve como objetivo principal compreender a importância da disciplina de Estágio Curricular Supervisionado II (ECS2) em espaços não escolares para a formação de professores de Ciências e Biologia na visão de professores formadores do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da UESC. Após a realização da revisão bibliográfica, seguiu-se a parte empírica que foi composta por entrevistas semiestruturadas realizadas com professoras do Departamento de Ciências Biológicas da UESC, com a finalidade de auxiliar na compreensão da importância dada pela instituição ao estágio em espaço não escolar, e do contexto histórico de inserção dessa disciplina na grade curricular do curso. Todas as entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas para a realização da análise a partir de elementos da análise de conteúdo (BARDIN, 1994). As professoras que aceitaram participar tiveram seu consentimento explicitado por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Como previsto no TCLE, a identidade dos sujeitos é preservada em todo o trabalho. Os critérios utilizados para a escolha das professoras foram: uma professora vinculada à administração do curso de Ciências Biológicas, uma professora que participou do processo de elaboração do PAC, e uma professora da área de Ensino de Biologia, que já tenha sido responsável pela disciplina de Estágio Curricular Supervisionado II (ECS2). A esses critérios juntou-se a expressão de interesse em participar

da pesquisa, e a disponibilidade de tempo. As professoras participantes são referidas respectivamente como P1, P2 e P3, durante a apresentação e discussão dos resultados. RESULTADOS E DISCUSSÕES Em relação à importância das experiências em espaços não escolares para a formação dos licenciandos, as professoras entrevistadas concordam que há uma série de benefícios nas atividades relacionadas ao ECS2, tais como a possibilidade de desenvolver habilidades de ensino com públicos distintos e de diversificar as abordagens metodológicas em diferentes contextos educativos. P2 acrescenta que “o aluno passando por essa experiência, ele vai estar mais preparado pra enfrentar as situações que virão”. Quando questionadas se o curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da UESC dedica espaço suficiente para a realização de atividades em espaços não escolares, as respostas divergiram. Enquanto P2 afirma que “de uma maneira geral, a Universidade em si não tem esse espaço, mas os professores têm se empenhado para desenvolver essas atividades”, P3 acredita que seja suficiente e acrescenta que “com o tempo a gente vai amadurecer mais a exploração desses outros espaços”. Por sua vez, P1 afirmou não ter elementos para avaliar a situação, pois a coordenação do curso ainda não havia implementado um processo de avaliação dos estágios e seu impacto na formação docente. Todas as entrevistadas enfatizaram o fato da proposta de construção do ECS2 a partir de atividades em espaços não escolares ter sido de uma professora da área de ensino de Biologia. P1 resgata que a autora da proposta explicou aos colegas de departamento que não eram da área a importância do estágio “para aproveitar outros espaços para trabalhar o ensino” e que “a educação não se fazia só na escola”. Jacobucci (2008), por exemplo, cita os inúmeros locais que podem ser espaços onde ocorre a educação não formal, os Museus, Centros de Ciências, Planetários, Jardins Botânicos os espaços culturais, organizações não governamentais (ONGs), associações de bairros, organizações de movimentos sociais, dentre outros. Gohn (1998) afirma que a educação não formal começou a receber atenção nas últimas décadas, consequência das mudanças na sociedade, das discussões de estudiosos e de agências internacionais. Destaca ainda que havia uma grande resistência das Universidades em relação à educação não formal, que só começou a se desfazer nos anos de 1990, e que as reformas curriculares ao longo dos anos vêm contribuindo para a aceitação e valorização desse tipo de ensino.

À época da pesquisa, os objetivos específicos do ECS2 não estavam explicitados no PAC, sendo apenas indicado em um anexo os objetivos dos estágios em geral. Nesse sentido, para P1 os objetivos do estágio em espaços não escolares seriam a identificação de novos espaços pra trabalhar a educação, o ensino de Ciências e Biologia, o desenvolvimento no aluno da capacidade de utilizar novas linguagens e metodologias e a abordagem de públicos diferenciados, que o estagiário não tenha contato normalmente nas escolas. Para P2, o ECS2 pode proporcionar uma preparação melhor para os estagiários, não os restringindo para a atuação na educação formal, mas diversificando sua formação e possibilitando que eles atuem inclusive na zona rural, onde processos de educação não formais são mais comuns. Já P3 apontou como objetivo a ampliação da consciência dos professores e estagiários para que “a gente perceba que onde existir o par, pelo menos, o processo de ensino-aprendizagem pode acontecer”. Em vários momentos, P3 demonstra ser a favor de uma relação permanente da Universidade com alguns espaços não escolares, para que possa haver a continuidade do trabalho realizado nos Módulos e no ECS2 e não somente a realização de um projeto durante um único semestre. Nesse sentido, P3 sugere a criação de um projeto “guarda-chuva”, que sistemática e periodicamente desenvolva ações em um dado espaço. A esse respeito, afirma que “se esse estágio está dentro do que a gente considera a oportunidade de realização de um trabalho de extensão, precisaria ser mais bem estruturado, para que a gente, ao longo de um tempo, realizasse um trabalho que faça diferença para a comunidade naquele espaço”. P1 e P3 chamam atenção em sua fala para a resistência que muitos estagiários têm em desenvolver atividades em espaços não escolares. P3 destaca que alguns têm dificuldade de construir uma proposta fundamentada, se preocupar com o material que pode ser utilizado, além de viver e refletir sobre a experiência. A esse respeito, afirma ainda que “em função de observarmos a resistência, mesmo durante os quatro meses, de viver o processo como um todo, com qualidade, nós acreditamos que isso ainda acontece, porque o aluno ainda não descobriu quanto isso é valioso”. Por outro lado, P3 destaca que também acreditamos que o aluno só vai descobrir isso quando a gente propiciar uma discussão maior, envolvendo o curso, para a importância desse momento, desse estágio, dessas experiências fora da escola. Então assim, por mais que eu diga que ainda não descobriram, não estamos colocando só no aluno a responsabilidade pela não descoberta, mas a gente, enquanto departamento, enquanto área,

enquanto professor, para que isso seja feito com mais qualidade, e não casualmente. Talvez a gente precise melhorar até na fundamentação teórica para que o aluno entenda. (P3). Como ECS2 é uma disciplina obrigatória, foi solicitado que as professoras classificassem-na como essencial ou dispensável. As professoras entrevistadas concordaram que a matéria é essencial. P2 ainda justifica que quando o “aluno ingressa no mercado de trabalho, é exigido dele não apenas a atuação tradicional, mas que ele tenha uma interação com a comunidade do entorno onde ele se encontra”, e pode se sentir despreparado aos desafios existentes se ficar limitado apenas ao estágio em sala de aula. Para P3, a importância da experiência vivida por meio do ECS2, em espaço não escolar, também está relacionada à percepção dos estudantes em relação à ampliação de suas possibilidades de trabalho, em que a docência não precisaria ser o único caminho a ser seguido, além de explorar outros espaços com seus alunos no caso de atuar como professor. A esse respeito ela conclui: “Então eu vejo as duas perspectivas, enquanto profissional, e enquanto profissional de ensino, na exploração de outros espaços para o aprendizado de conceitos biológicos”. A esse respeito, Oliveira e Moura (2005) afirmam que a educação não formal está sendo muito utilizada como um recurso para abranger a aquisição de conhecimentos em ambientes que ultrapassam os espaços da escola, ocorrendo paralela a esta e complementando lacunas deixadas pelos ambientes formais. Nesse sentido, P1 e P2 também destacam a ampliação da área de atuação do biólogo. P1 cita vários locais onde o licenciado pode trabalhar, como empresas, organizações não governamentais (ONG), creches, hospitais, áreas indígenas, assentamentos, entre outros. P2 afirma que “o biólogo está cada vez mais atingindo várias áreas que a gente não imaginava, devido à maneira que a sociedade está se modificando [...] A gente tem alunos que têm essa tendência de querer trabalhar em espaços não formais, e isso tem que ser valorizado”. Para concluir, a P1 afirma: Eu penso que os alunos estão tendo uma formação muito abrangente [...] bastante completa. Porque trabalha várias capacidades, várias habilidades, também trabalha o social, a história do lugar, a necessidade regional. Então assim, eu acredito que os alunos estão saindo bem formados. A esse respeito Pimenta e Lima (2005) afirmam que os estágios permitem que os alunos observem o contexto onde o estágio está sendo realizado, onde eles possam

desenvolver habilidades de pesquisador, podendo elaborar projetos “que lhes permitam ao mesmo tempo compreender e problematizar as situações que observam” (PIMENTA; LIMA, 2005, p. 14). As três professoras entrevistadas acreditam que a disciplina de Estágio Curricular Supervisionado II (ECS2), realizada em espaços não escolares, é importante para a formação dos futuros profissionais, por se tratar de uma experiência diferenciada, em relação a público, espaço e conteúdo, oferecendo aos estagiários, futuros docentes, a oportunidade de perceber suas inúmeras possibilidades de atuação. CONSIDERAÇÕES FINAIS Foi possível identificar no discurso das professoras entrevistadas, quais as contribuições que a realização desse tipo estágio traz para a formação dos estudantes da instituição, como a oportunidade de trabalhar com públicos variados, em espaços diferentes da escola, onde eles podem abordar conteúdos diferentes do previsto no currículo dos espaços escolares, além de ser o momento no qual os alunos podem perceber suas inúmeras possibilidades de atuação profissional. Entretanto, as professoras admitem que os alunos possam não estar compreendendo a importância dessa experiência, por falta de informações e discussões por parte da Instituição. Afirmam que o colegiado do curso não está acompanhando o andamento dessa disciplina, desde que ela foi inserida na grade curricular, processo esse, que no período em que a pesquisa foi realizada, estava se iniciando. O processo de reformulação do PAC, deve ser baseado também nas opiniões dos estudantes, para que as modificações sejam feitas a partir das informações coletadas, procurando atender as demandas formativas dos licenciandos. O Estágio Curricular Supervisionado II (ECS2), realizado em espaços não escolares, é importante para a formação inicial dos estudantes do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da UESC, pois é a oportunidade que os estudantes têm de passar por vivências diferenciadas, o que não seria possível em outros momentos do curso. Entretanto, fica evidente a necessidade de se ampliar a discussão a respeito do tema ‘educação não formal’, bem como dedicar um maior espaço no PAC do curso, para que seja documentado com maior clareza, o modo como esse estágio deve ser realizado, e os motivos de sua realização, para que confusões sejam evitadas, e o momento seja melhor aproveitado pelos estudantes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAUJO, E. S. N. N.; CALUZI, J. J.; CALDEIRA. A. M. A. Divulgação Científica e Ensino de Ciências: Estudos e Experiências. São Paulo: Editora Escrituras, 2006. BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições Setenta, 1994. BRASIL. Resolução CNE/CP nº 1, de 18 de fevereiro de 2002. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena. Brasília: DF, 2002. DEMARCANDO o pensamento: universidade em movimento. Disponível em:. Acesso em: 10 nov. 2012. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002. GOHN, M. G. Educação Não Formal: Um Novo Campo de Atuação. Ensaio: avaliação de políticas públicas na Educação, v.6, n.21, 1998. _________. Educação não-formal, participação da sociedade civil e estruturas colegiadas nas escolas. Ensaio: avaliação de políticas públicas na Educação, v.14, n.50, 2006. GUIMARÃES, V. S. Formação de professores: saberes, identidade e profissão. Campinas: Papirus, 2006. JACOBUCCI, D.F.C. Contribuições dos espaços não-formais de educação para a formação da cultura científica. Revista Em Extensão, v.7, n.1, 2008. OLIVEIRA, C. L.; MOURA, D. G. Metodologia de projetos e ambientes não formais de aprendizagem: indício de eficácia no processo do ensino de biologia. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS, 5, 2005, Bauru. Atas... Disponível em: . Acesso em: 20 fev. 2015. PIMENTA, S.G.; LIMA, M. S. L. Estágio e docência. São Paulo: Cortez Editora, 2010. _________. Estágio e docência: diferentes concepções. Revista Poíesis, v.3, n.3/4, 2005/2006. PROJETO Acadêmico Curricular do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas. Universidade Estadual de Santa Cruz. Ilhéus, 2007. TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis: Editora Vozes. 2006. TRILLA, J. A educação não-formal. In: ARANTES, V.A. (Org.). Educação formal e nãoformal: Pontos e contrapontos. São Paulo: Summus, 2008.

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.