A imprensa deve bater mais no PT do que nos outros partidos
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Segunda-feira, 27 de Abril de 2015
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ISSN 1519-7670 - Ano 18 - nº 847
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A imprensa deve bater mais no PT do que nos outros partidos
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Por Silas Fiorotti em 09/04/2015 na edição 845 Tweetar
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Essa é a minha opinião. Alguns amigos dirão: “Lá vem você fazer coro com os coxinhas!” Eles dizem que a imprensa pega leve demais com o PSDB aqui em São Paulo, o que não deixa de ser verdade. Nós, aqui em São Paulo, temos o escândalo do cartel nas licitações do Metrô e da CPTM, o Caso Alstom e as tentativas de impedir a abertura de uma CPI na Assembleia Legislativa; estamos em plena crise hídrica, além da antiga e sempre presente crise da segurança pública; continuamos com ações truculentas da PM, com destaque às manifestações de rua e às reintegrações de posse; passamos por uma grande greve nas universidades estaduais; e agora nova greve dos professores da rede estadual que, por sua vez, têm todos os motivos para isso, inclusive por conta dos salários e condições de trabalho risíveis; etc. Como se não bastasse tudo isso, o governador reeleito aumentou o próprio salário. Não posso deixar de mencionar tudo isso.
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Mesmo com todos estes fatores, parece que a imprensa atua como uma assessoria de comunicação do governo paulista, sem fazer críticas efetivas nem dar voz aos pontos de vista divergentes. A imprensa parece agir como se o governo Alckmin, do PSDB, tivesse ampla aprovação da população paulista pelo fato dele ter sido reeleito no primeiro turno com 57,31% dos votos válidos (12.230.807). No entanto, estes votos representam 38,25% dos votos de todos os eleitores paulistas (31.979.717). E ainda, se somarmos as abstenções e os votos brancos e nulos, chegaremos a 47,01% dos eleitores paulistas (15.034.054); um sinal de que muita gente está insatisfeita, principalmente os eleitores mais jovens. A imprensa não pode se privar deliberadamente da crítica ao governo paulista. Diante disso, por que ainda defender que a imprensa deve bater mais no PT? Pelo fato do PT comandar o governo federal, o Poder Executivo, que, por sua vez, ainda parece herdeiro do Poder Moderador da monarquia e dos populismos e autoritarismos dos governos republicanos. O PT acabou com a oposição O governo federal institui diretrizes e coopera em diversas áreas que são de responsabilidade dos governos estaduais e municipais. Por que poupar o governo federal que, com uma negociação aqui e outra ali com seus “aliados” no Legislativo, interfere, entre outras coisas, no orçamento, na arrecadação e no cálculo da dívida de estados e municípios? Não, ele deve continuar sendo o foco das críticas e investigações da imprensa. Não estou sugerindo que qualquer investigação da Operação Lava Jato deve focar somente no PT. Muito menos que a culpa deve ser repartida indistintamente sobre toda a classe política e sobre todos os partidos por causa da tal herança corrupta, como alguns parecem sugerir. Todos os envolvidos devem ser punidos: pessoas, partidos e empresas, corruptos e corruptores. A corrupção vem de longe, isso nós sabemos. O PT, que comanda o governo federal desde 2003, poderia ter feito muita coisa para atacar a corrupção, poderia ter implementado algumas reforminhas. Mas foi o partido que recebeu as doações mais polpudas nas últimas eleições. E, como disse o ex-diretor da Petrobrás: “Essa coisa de doação oficial [para partidos] é a maior balela desse país.” “Vem pra rua”? Eu também não quero corrupção, eu também estou descontente com o governo federal. Nem por isso sairei por aí denegrindo o grande Paulo Freire, amaldiçoando programas sociais, querendo acabar com movimentos sociais ou pedindo intervenção militar. Pedido de impeachment a gente até entende, o PT cansou de fazer isso, mas o resto não dá para engolir. O que mais? O pior aconteceu, o PT acabou com a oposição. Agora é fundamental que a imprensa cobre do PT a criação de uma oposição ao próprio PT. Talvez só mesmo o PT seja capaz de fazer isso.
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Silas Fiorotti é cientista social, doutorando em Antropologia Social pela USP e articulista da revista Novos Diálogos. É autor de Rebeldia Evangélica: os 20 livros que nenhum pastor recomenda Tweetar
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