A Imprensa e a Cidade de Santos. 1849-1930. Edição comemorativa dos 200 anos do surgimento da imprensa no Brasil

June 24, 2017 | Autor: Alexandre Alves | Categoria: História do Brasil, História Da Imprensa, Cidade de Santos
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A Imprensa e a Cidade de Santos 1849 - 1930

dezembro 2008

Alexandre Alves

A Imprensa e a Cidade de Santos EDIÇÃO COMEMORATIVA DOS 200 ANOS DO SURGIMENTO DA IMPRENSA NO BRASIL

A Imprensa e a Cidade de Santos



Expediente

Editora Fundação Arquivo e Memória de Santos Fotografias e reproduções Rogério Bomfim Alessandra xxxxx (colaboração) Dirceu Fernandes Lopes (colaboração) Acervo particular do jornal A Tribuna Tratamento de imagens David Cardoso Pesquisa e textos Alexandre Alves Eduardo Verzoni (colaboração) Projeto gráfico, direção de arte e capa David Cardoso Revisão e edição Rosangela B. Vieira de Menezes e Silva – Mtb. 12.816

A Imprensa e a Cidade de Santos

Texto Fams 



A Imprensa e a Cidade de Santos

documentada, enriquece sobremaneira a visão que cada um de nós tem sobre o passado de nosso município. Mais ainda: é um instrumento valioso na compreensão do processo histórico que transformou Santos numa das cidades mais importantes do Brasil. Importância esta que não se limita à condição de grande porto, fundamental para a economia nacional, mas também

A Imprensa e a Cidade de Santos

Marcar os 200 anos da Imprensa no Brasil com uma obra como esta, tão completa e

como berço e pólo de movimentos sociais de ampla influência nos destinos políticos do País. A iniciativa da Fundação Arquivo e Memória de Santos em publicar o presente trabalho, de autoria de Alexandre Alves e Eduardo Verzoni, foi extremamente oportuna. Baseado em minuciosa pesquisa, o livro mostra a trajetória da Imprensa santista entre 1849 – ano em que foi publicado primeiro jornal na cidade, o ‘Revista Comercial’ – até 1930. O leitor tem assim uma visão muito interessante da vida na cidade durante essas oito décadas. ‘A Imprensa na Cidade de Santos’ nos reporta a uma época de grandes mudanças, que resultaram na formação política, social e econômica do município em que hoje vivemos e amamos. É uma obra ímpar não apenas para estudantes, jornalistas e pesquisadores, mas para todos os que se interessam pela História de Santos.

João Paulo Tavares Papa Prefeito de Santos





A Imprensa e a Cidade de Santos

A comemoração de certas efemérides costuma propiciar o aparecimento de revisões e balanços no campo da história, sugerindo a formulação de novas perspectivas de abordagem e estabelecendo uma pauta de futuras investigações. É o que ocorre com este trabalho de Alexandre Alves, com a colaboração de Eduardo Verzoni, na oportunidade do bicentenário da introdução da imprensa no Brasil. Nos quadros da então acanhada Província de São Paulo, cujos prelos tardaram a aparecer,

A Imprensa e a Cidade de Santos

À GUISA DE INTRODUÇÃO

a Cidade de Santos ocupou um lugar de destaque. Em 1849 já ostentava a publicação regular da Revista Commercial, que se estendeu até 1872. Logo depois surgia O Nacional (1850), dirigido por Martim Francisco Ribeiro de Andrada e vendido no mesmo ano a Francisco Manuel Raposo de Almeida, figura curiosa e polêmica que deixou marcas importantes na história da tipografia santista. Raposo de Almeida foi responsável pela Revista Litteraria (1850-1851), a primeira que se publicou na cidade inteiramente voltada para a “instrucção e recreio” dos leitores, e por outros títulos saídos de sua Typographia Imparcial, todos em 1851: os de caráter político, como A Colonia Senador Vergueiro, de Carlos Perret Gentil; A facção saquarema, de Agostinho José de Oliveira Machado, e Memorial offfrecido [sic] aos senhores deputados provinciaes da Provincia de São Paulo na sessão de 1851; e os de caráter literário, como O Dia de Finados, meditação de Teotônio Flávio da Silveira, e aqueles de autoria do próprio Raposo de Almeida – As folhas de um album, O monge da Serra d’Ossa e O Camões. A Typographia Commercial de Guilherme Délius, outro personagem importante dessa primeira fase da história da imprensa santista, também se empenhava na publicação de livros. Os tempos eram difíceis, e as casas impressoras sobreviviam, a duras penas, com os periódicos de cunho informativo. Mas as dificuldades não impediram Délius de publicar títulos diversos: A estrangeira, drama de Francisco Luís d’Abreu Medeiros (1851); Oração de Santa Thereza, de José Norberto de Oliveira (1852); Ensaio sobre alguns synonimos da lingua portugueza, de frei Francisco de São Luís, em dois volumes (1856); Pedro Martelli, drama de Álvaro Augusto de Carvalho (1856);



A Imprensa e a Cidade de Santos

Sermão do Espirito Santo, do cônego José Norberto de Oliveira (1856), e Taboadas com as principaes regras da Arithmetica practica (1856), entre outros. Ao focalizar as articulações entre jornalismo e sociedade, os autores de Imprensa e vida urbana em Santos (1849-1930) oferecem um contexto significativo para compreender a produção, a circulação e o consumo, não apenas dos periódicos, mas também dos livros e folhetos impressos no período. Trata-se, sem dúvida, de painel instigante para a caracterização de um corpus documental cujo potencial informativo é praticamente inesgotável. Mas como estão esses documentos e onde encontrá-los? A resposta não é nada animadora, pois as bibliotecas públicas ou não acusam sua presença ou só dispõem de coleções incompletas dos títulos aqui mencionados.

10 Que a auspiciosa iniciativa da Fundação Arquivo e Memória de Santos em recuperar o patrimônio histórico do município se ocupe também dos documentos impressos, submetendo-os à microfilmagem de preservação e à digitalização para fins de acesso. A demanda dos pesquisadores é cada vez maior, e não podemos esperar outra data emblemática para conferir as perdas impostas pelo tempo.

Ana Maria de Almeida Camargo

Ana Maria de Almeida Camargo é professora do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP)

A Imprensa e a Cidade de Santos

A Imprensa e a Cidade de Santos 1849-1930

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“Um jornal só pode subsistir se reproduzir uma

diária e o telégrafo, que em um instante difundem

doutrina ou um sentimento comum a um grande

invenções por todo o mundo, fabricam mais mi-

número de homens. Um jornal sempre represen-

tos (e o gado burguês acredita neles e aumenta

ta, portanto, uma associação a que seus leitores

com base neles) em um dia do que antes se fazia

habituais são afiliados. Essa associação pode ser

em um século.” (Karl Marx, Carta a Kugelmann,

mais ou menos definida, mais ou menos estreita,

27 de julho de 1871)

mais ou menos numerosa; mas existe pelo menos em germe nos espíritos, pelo simples fato de

“Antigamente existia a tortura. Hoje em dia existe

que o jornal não morre [...]. Quanto mais iguais

a imprensa. É isso um progresso, indubitavelmen-

se tornam as condições, menos os homens são

te; mas é ainda uma coisa má, prejudicial e des-

individualmente fortes, mais se deixam levar pela

moralizadora. Alguém – foi Burke? – chamou o

corrente da multidão e mais dificuldade têm de

jornalismo o quarto poder. Isto era certo, eviden-

manter-se sozinhos numa opinião que esta aban-

temente, então. Mas na hora atual, é realmente o

dona. O jornal representa a associação; pode-se

único poder e tragou os outros três [...]. Estamos

dizer que ele fala a cada um de seus leitores em

dominados pelo jornalismo [...]. A tirania que in-

nome de todos os outros e os conduz com tanto

tenta exercer sobre a vida privada da coletividade

maior facilidade quanto mais são fracos individu-

parece-me realmente extraordinária. O fato é que

almente. Portanto, o império dos jornais tende a

o público sente uma insaciável curiosidade de sa-

crescer à medida que os homens se igualam.”

ber tudo, exceto aquilo que vale a pena saber.

(Alexis de Tocqueville, A democracia na América,

Inteirado disto e com seus costumes mercantes,

1835).

o jornalismo atende à sua demanda. Nos séculos passados, o público pregava os jornalistas pelas orelhas no pelourinho. Coisa realmente atroz.

“Acreditou-se até agora que o crescimento dos

Hoje em dia são os jornalistas que cravam suas

mitos cristãos durante o Império Romano foi pos-

próprias orelhas em todos os buracos de fecha-

sível apenas porque a imprensa ainda não fora in-

dura. O que é muito pior.” (Oscar Wilde. A alma

ventada. É precisamente o contrário. A imprensa

do homem sob o socialismo, 1890)

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As citações revelam algumas das inquietações suscitadas

ção, que descamba para o sensacionalismo, o espetáculo e a

no século XIX por uma das invenções centrais da modernidade:

superexposição da vida privada das pessoas. Essas mudanças

o jornal. A imprensa é relacionada por Tocqueville à manipulação

afetam os próprios jornais, resultando no declínio do jornalismo

e partidarização da opinião pública, conseqüências do enfraque-

investigativo e opinativo, no empobrecimento da linguagem e no

cimento da personalidade individual e do nivelamento social. Já

aviltamento dos conteúdos.

Marx entende a imprensa burguesa como a maior criadora de

Nascida dos intermináveis debates sobre a liberdade de

mitos modernos, comparando sua força ao poder da religião na

expressão e de opinião, a partir da segunda metade do século

mistificação e na manipulação da opinião, pois, da mesma forma

XVIII, no bojo do movimento iluminista, a imprensa tornou-se um

que as ficções religiosas, os mitos difundidos na imprensa apre-

elemento essencial e característico da experiência de mundo do

sentam-se como expressão direta da realidade. Oscar Wilde, por

homem moderno. Até o início do século XX, os jornais eram o

fim, com sua ironia provocadora e caracteristicamente inglesa,

principal meio de formação da opinião pública, principalmente a

vincula a imprensa à massificação e vulgarização da sociedade

chamada ‘grande imprensa’, ou seja, os jornais diários.

moderna e denuncia a tirania exercida pelo jornalismo sobre a

Nessa época, os jornais já ofereciam uma grande quan-

vida privada das pessoas. Três reações distintas que revelam o

tidade de notícias nacionais e internacionais, mas tendiam a se

espanto e a perplexidade sentidos pelos homens do século XIX

enraizar, sobretudo, no ambiente imediato e familiar aos leitores,

face ao advento da imprensa de massa.

apresentando-lhes os acontecimentos que pontuavam o seu co-

Opinião semelhante era compartilhada, já em pleno sécu-

tidiano e concitando-os a tomar uma posição ativa diante deles.

lo XX, por Monteiro Lobato, que criticava as pretensões literárias

Na França de 1912, por exemplo, existiam mais de trezentos

dos jornais tupiniquins:

jornais diários em Paris e 242 no interior, além de centenas de folhas semanais ou bissemanais, que muitas vezes chegavam a ser mais populares que os próprios diários .

“O jornal nos sufoca todas as tentativas de literatura, com

Este livro é o resultado de um projeto realizado em 2007,

seus repórteres analfabetos, com a sua meia língua engalicada

sob os auspícios da Fundação Arquivo e Memória de Santos

[...] os autores dessa copiosíssima flora cogumelar de jornalecos

(Fams), com o objetivo de realizar um levantamento sistemático

e revistas que inunda o País inteiro, é a mesma no Maranhão e

e metódico sobre a imprensa santista, restituindo a sua memória

na Caçapava riograndense [...]”.

histórica e ressaltando sua importância. Dessa forma, é possível avaliar o papel do jornalismo santista no contexto mais amplo da história da imprensa no Brasil. Somente no período que vai de

Esses juízos, críticos e peremptórios, sobre a imprensa

1849 (quando surgiu Revista Commercial, o primeiro jornal na

podem parecer hoje despropositados, absurdos e, no mínimo,

cidade) a 1930 (fim da República Velha), circularam mais de 200

exagerados. Mas são reações análogas às experimentadas na

jornais na cidade. A maior parte teve duração efêmera, mas muitos

atualidade face ao avanço inaudito dos meios eletrônicos de in-

foram instrumentos essenciais no processo de transformação da

formação. Hoje, critica-se a crescente mercantilização e massi-

cidade, nas lutas sociais e na constituição da identidade da mais

ficação dos meios de comunicação em um mundo acelerado,

importante cidade portuária do Brasil.

bombardeado diariamente por toneladas de informações frag-

A repercussão que teve o movimento abolicionista e repu-

mentadas e descontextualizadas. A quantidade e a velocidade

blicano em Santos, e, depois dele, a importância que tiveram os

da informação é tal que se torna virtualmente impossível ao

movimentos operários, devem-se, em larga medida, ao vigor do

ouvinte ou telespectador refletir sobre aquilo que vê e ouve. A

jornalismo e da imprensa na cidade, que estimularam e poten-

conseqüência é a banalização e superficialização da informa-

cializaram a circulação de novas idéias. As idéias constituem o

fermento dos movimentos sociais. Esta é uma das peculiaridades

Acreditamos que esta publicação seja importante neste

da cidade de Santos, no contexto do país como um todo, e ajuda

momento também porque decorre de uma urgência - muitos dos

muito a compreender seu desenvolvimento histórico. A circula-

jornais em questão estão em processo acelerado de deterioração

ção de idéias foi de fundamental importância para criar um caldo

nos arquivos e, se não forem digitalizados ou microfilmados, po-

de cultura e uma massa crítica que forneceram as bases para

dem deixar de existir em breve.

teriza a cidade até a atualidade.

Além disso, é importante ressaltar a contribuição do jornalismo santista para a imprensa nacional neste momento em

Para dar conta do assunto, o livro foi dividido em duas

que se comemora os 200 anos da imprensa no Brasil, iniciada

partes. Na primeira, apresentamos um estudo intitulado Impren-

com a transferência da Corte Portuguesa para o país, em 1808,

sa, Cidade e Modernidade, que analisa as especificidades do

e a criação da Impressão Régia.

jornalismo santista em relação ao desenvolvimento da imprensa

Não se trata apenas de uma efeméride, mas também de

no Rio de Janeiro e em São Paulo. Na segunda parte, foram

uma oportunidade para enfatizar a importância da imprensa livre

selecionados 46 textos (editoriais, notícias, artigos e poemas) de

nas transformações históricas e nos combates contra as velhas

mais de 20 jornais distintos, cobrindo todo o período em análise

e novas tiranias.

(1849-1930) e considerando os diversos temas e questões dis-

A Imprensa e a Cidade de Santos

esses movimentos e delinearam o perfil cosmopolita que carac-

cutidos pela imprensa santista na época. Esta coletânea constitui um panorama amplo da vida urbana local, abordando uma variedade de assuntos: debates em torno do trabalho escravo e da abolição; discussões sobre a construção da estrada de ferro; modernização do porto; notícias sobre as epidemias que assolavam a cidade e propostas para o seu saneamento; defesas da liberdade de imprensa e relatos de empastelamento de jornais; matérias sobre grandes acontecimentos, como a Comuna de Paris e a Revolução de 1930; poemas satíricos ou humorísticos; debates sobre socialismo, anarquismo, condições de trabalho e reivindicações do movimento operário. O livro congrega materiais de difícil acesso, dispersos em diversos acervos, fundamentais para compreender tanto a história de Santos, quanto o desenvolvimento da imprensa no Estado de São Paulo. Optou-se por manter a grafia original dos jornais em vez de modernizá-la, para manter o caráter de documentos históricos desses textos. Trata-se de fontes importantes para conhecer o passado da cidade, o cotidiano de seus habitantes em uma época de transformações, o debate de idéias e as discussões na imprensa do período. São textos que poderão ser úteis aos pesquisadores da história de Santos ou da imprensa; aos professores, que poderão explorar os documentos em sala de aula; aos alunos de cursos universitários, assim como aos interessados em geral.

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Imprensa, Cidade e Modernidade

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PARTE I

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1. Finalmente a imprensa chega ao Brasil A imprensa, uma das invenções mais importantes da modernidade, chegou ao Brasil tardiamente, com mais de três séculos de atraso.

idéias eram considerados crimes e sacrilégios, ofensas à lei e à religião. No mundo colonial português, temia-se, mais do que qualquer outra coisa, a difusão de idéias contrárias aos interesses do Estado e aos dogmas da Igreja. Foi somente após a transferência da Corte Portuguesa para o Brasil, em 1808, que passaram a haver atividades tipográficas regulares no país. Nos porões de um dos navios que

O Brasil viveu seus três primeiros séculos de existência imerso em trevas, desconhecendo os meios de comunicação que já marcavam o cotidiano da Europa e de alguns países da América, visto que estava entre a forte repressão da Metrópole, o controle da Igreja e a ausência de mercado 2.

trouxeram a Corte para a colônia, foi embarcado um prelo adquirido na Inglaterra e destinado à Secretaria do Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra. Um decreto de maio daquele ano autorizava a utilização de tipografias e instituía a Impressão Régia do Rio de Janeiro. Pela primeira vez, chegavam livros e imprensa ao Brasil, com aval do Governo. A Impressão Régia era responsável por publicar toda a

A administração colonial portuguesa não se limitava a

documentação oficial, além de obras que contribuíssem para

censurar livros e impressos, como já era praxe na Metrópole,

difundir uma imagem positiva da monarquia portuguesa. Em

mas proibia completa e terminantemente a presença de tipogra-

1815, com a elevação do Brasil a Reino Unido de Portugal e

fias e as atividades de impressão nos domínios portugueses. O

Algarves, a Impressão Régia passou a se chamar Régia Oficina

mesmo não aconteceu nem nas colônias espanholas, que dispu-

Tipográfica e, em 1818, quando Dom João foi aclamado rei, mu-

nham de imprensa e universidades desde o século XVII, nem nas

dou novamente a designação para Tipografia Real.

inglesas, que as possuíam desde o século XVIII.

A Imprensa e a Cidade de Santos

Imprensa, Cidade e Modernidade

Contudo, apesar da permissão de imprimir, ainda não

Livros, bibliotecas e materiais impressos eram muito ra-

havia liberdade de imprensa no país. O material publicado estava

ros e considerados perigosos no Brasil Colonial, por serem fonte

sujeito à censura: continuava proibida a impressão de papéis e

potencial de subversão. Os que os possuíssem estavam sujeitos

livros que contrariassem o Estado e a religião, medida que qua-

a duras penas, caso fossem títulos censurados pelo Governo ou

drava bem ao estilo absolutista de governo.

pela Igreja. Imprimir era crime: quem exercesse atividades tipo-

Dos prelos da Impressão Régia saiu, a 10 de setembro

gráficas nas colônias portuguesas era preso e deportado para o

de 1808, o primeiro periódico impresso no Brasil: Gazeta do Rio

Reino, além de ter seus prelos destruídos. Ler, imprimir e divulgar

de Janeiro. Tinha quatro páginas, em formato in-quarto, e era

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publicada duas vezes por semana. Seu objetivo fundamental era

trabalho escravo e a liberdade de expressão. Por sua iniciativa,

fazer propaganda da monarquia, exaltando seus feitos e dando

é considerado o fundador da imprensa no Brasil. Em um dos

visibilidade aos atos oficiais. Para se ter uma idéia do conteúdo

exemplares do Correio, Hipólito da Costa esclarece as razões que

do primeiro periódico brasileiro, reportemo-nos à descrição do

o levaram a lançar o jornal em um país estrangeiro: “Resolvi

inglês John Armitage:

lançar esta publicação na capital inglesa dada a dificuldade de

A Imprensa e a Cidade de Santos

publicar obras periódicas no Brasil, já pela censura prévia, já “Por meio della só se informava com toda a fidelidade ao publico do estado de saúde de todos os Principes da Europa, e de quando em quando as suas paginas serão illustradas com alguns documentos de officio, noticia dos dias natalícios, odes, e panegyris a respeito da família reinante; não se manchavão essas paginas com as effervescencias da democracia, nem com a exposição de agravos. A julgar-se do Brazil pelo seu único periódico, devia ser considerado como hum paraíso terrestre onde nunca se tinha expressado hum só queixume”.

pelos perigos a que os redatores se exporiam, falando livremente das ações dos homens poderosos”. Em 1811, começou a circular na cidade de Salvador, antiga capital colonial e segunda maior cidade do país, o jornal Idade de Ouro do Brasil, impresso no mesmo formato que o Gazeta do Rio de Janeiro e igualmente vinculado aos interesses do governo joanino e da Igreja. Impresso na gráfica de Manuel Antonio da Silva Serva, tinha como redatores dois portugueses: o bacharel Diogo Soares da Silva e o padre Inácio José de Macedo. O próprio título do periódico assinala a intenção apologética e propagandística, sugerindo que a vinda da Corte Portuguesa ao Brasil seria o início

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Gazeta do Rio de Janeiro foi o primeiro jornal impresso

de uma verdadeira idade dourada para o país.

no Brasil, mas não foi o primeiro jornal que circulou no país. Três

Em 1821, com o retorno de Dom João VI a Portugal,

meses antes, começara a circular o Correio Braziliense, ou Arma-

acabava a censura no Brasil e nascia uma imprensa nacionalista

zém Literário, de José Hipólito da Costa. O Correio era um jornal

e favorável à independência. Nesse momento, surgiram diversos

mensal em formato de brochura e com mais de uma centena de

jornais, a maior parte constituída de pasquins efêmeros, impres-

páginas. Impresso em Londres e influenciado pelo liberalismo

sos de maneira extremamente precária, que se polarizavam entre

inglês, era muito mais uma revista dedicada a discutir idéias e

os favoráveis à manutenção do vínculo com Portugal e os defen-

doutrinas do que um jornal de notícias, como o Gazeta.

sores da independência. Apesar da precariedade, esses jornais

Proibido pela censura portuguesa, o Correio circulava

tiveram uma boa dose de influência na formação de uma opinião

clandestinamente nas capitanias, trazendo informações da Euro-

pública favorável à emancipação e foram importantes tanto na

pa e criticando o absolutismo da monarquia instalada no Brasil.

pressão para que o príncipe regente Pedro I permanecesse no

O jornal de Hipólito da Costa defendia idéias radicais para o Bra-

Brasil (o chamado ‘Fico’), como na elaboração, em 1823, da

sil da época, como a abolição da escravidão, a vinda de imigran-

primeira Constituição brasileira.

tes como força de trabalho livre e a transferência da capital do país para o interior.

Após 175 números, a publicação do Correio cessa em dezembro de 1822, poucos meses depois da declaração da in-

Hipólito da Costa havia sido diretor da Junta da Imprensa

dependência. Ele havia cumprido sua função de pôr um país

Régia em Lisboa, mas acabou se indispondo com a monarquia

recém-saído da condição de colônia em contato com o mundo,

portuguesa. Acusado de ser maçom, foi preso pela Inquisição em

divulgando idéias e acontecimentos, como a independência das

1802. Em 1804, fugiu para a Inglaterra, onde teve a idéia, con-

colônias espanholas. Com o fim da censura e a conquista da

cretizada quatro anos mais tarde, de lançar o Correio. Contudo,

soberania, iniciava-se uma nova fase na imprensa brasileira.

Hipólito da Costa não era republicano. Influenciado pelo libera-

A imprensa do Primeiro Reinado e do período regencial

lismo inglês, defendia a monarquia constitucional, a abolição do

tem caráter fundamentalmente político e reflete a luta entre dife-

as distâncias, permitindo o aumento das trocas comerciais e da

Os redatores desses jornais eram, na sua maior parte,

circulação de informações, tanto entre as províncias, quanto com

membros das grandes famílias e elites locais, bacharéis forma-

o exterior. Desenvolvem-se a atividade bancária, o comércio e as

dos em Coimbra ou clérigos e pregadores católicos. O Revérbero

primeiras indústrias, atividades em que se destacou o visconde

Constitucional Fluminense (1821), redigido por Gonçalves Ledo

de Mauá, que fundou empresas e construiu as primeiras estradas

e Januário da Cunha Barbosa, era um jornal nativista que se

de ferro do Brasil.

opunha à manutenção da união do Brasil com Portugal. Em Re-

As cidades começam a ganhar vida própria, emancipan-

cife, após ter participado da Revolução Pernambucana de 1817,

do-se do campo e da lavoura. Surge uma classe média urbana,

Cipriano Barata lança Sentinela da Liberdade (1822).

sedenta de informação e cultura, que formará o público-alvo para

Após a dissolução da Assembléia Constituinte por Pedro

a imprensa em expansão no Segundo Reinado.

I, os irmãos Andrada lançam O Tamoio (1823), que fazia oposição ao governo e atacava os portugueses, mas tinha o cuidado de resguardar a pessoa do imperador. A agora extinta Gazeta do Rio de Janeiro passa a se chamar Diário do Governo (1823) e continua sendo o porta-voz oficial do império. Desse período, destacam-se ainda os jornais O Espelho (1821), de Manuel de Araújo F. Guimarães; o oposicionista A Malagueta (1821), fundado por Luís Augusto May; o Correio do Rio de Janeiro (1822 e 1823); O Papagaio e O Macaco Brasileiro (1823). Um dos jornais mais duradouros do período foi A Aurora Fluminense (1827), de Evaristo da Veiga, que se manteve por oito anos, procurando conter as tendências absolutistas de Dom Pedro I e, ao mesmo tempo, evitar a linguagem virulenta e exaltada dos pasquins oposicionistas. No período que se sucede à abdicação do imperador, em 1831, começa a se manifestar a veia cômica da imprensa brasileira, com a proliferação de pasquins, muitos deles satíricos e humorísticos, com títulos curiosos como O Buscapé, O Doutor Tirateimas, O Narciso, O Enfermeiro dos Doidos e O Minhoca, em 1831; O Carijó (1832); O Cabrito, A Marmota, O Burro Magro e O Par de Tetas, em 1833, entre muitos outros. O reinado de Pedro II, com relativa paz, clima de tolerância e riqueza gerada pelo café, foi propício para a difusão da imprensa. Passadas as tempestades políticas do Primeiro Reinado e da Regência, o país entra no Segundo Reinado com mudanças. Em 1850, é abolido o tráfico negreiro, dando lugar às primeiras experiências com o trabalho livre nas fazendas do interior paulista. Os lucros do café financiam a construção das ferrovias e as melhorias urbanas. A navegação a vapor e o telégrafo encurtam

2. Imprensa e jornalismo no burgo dos estudantes: São Paulo A propagação da imprensa na modernidade está associada fundamentalmente ao crescimento das cidades e à intensifica-

A Imprensa e a Cidade de Santos

rentes perspectivas sobre o processo de emancipação do país.

ção da vida urbana, com a conseqüente demanda de informação por uma classe média culta e educada. Foi assim que houve o boom da imprensa na Europa e nos Estados Unidos durante o século XIX. Entretanto, num país escravocrata e analfabeto, recémsaído da condição colonial, como o Brasil no período imperial, a imprensa demorou a ser viável como atividade comercial. A urbanização incipiente e precária, a falta de dinamismo de uma economia agrária fundada no trabalho escravo, as poucas atividades comerciais e industriais, e a inexistência de uma classe média educada e numericamente representativa são fatores que contribuíram significativamente para o atraso do surgimento da cultura impressa no Brasil. No momento da abdicação de Pedro I, em 1831, a população brasileira era de 4 milhões e 500 mil habitantes. Destes, 2 milhões e 500 mil eram livres, 1 milhão e 200 mil escravos e 800 mil índios. O ensino público praticamente inexistia e as primeiras letras eram precariamente administradas pelos padres de paróquia. Só havia duas universidades, fundadas em 1827: as faculdades de Direito de Olinda, em Pernambuco, e do Largo São Francisco, em São Paulo. Com exceção dos centros administrativos de algumas províncias, como Rio de Janeiro, Recife, Salvador e Vila Rica, a vida urbana era fraca e incipiente no Brasil.

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A Imprensa e a Cidade de Santos

Nessa situação, os papéis impressos eram consumidos

pelo Farol Paulistano e O Observador Constitucional, sucedem-

pelas minguadas camadas urbanas dos grandes centros adminis-

se títulos como A Voz Paulistana (1830); o Correio Paulistano e

trativos, constituídas essencialmente pelo funcionalismo público,

o Novo Farol Paulistano (1831); O Justiceiro (1834), que durou

pelos quadros da Igreja, estudantes, comerciantes e profissionais

até 1835, e O Paulista Oficial (1835), porta-voz do governo da

liberais. O surgimento paulatino de tipografias nas diversas pro-

província. O Observador Paulistano (1838), fundado pelo ex-re-

víncias acabou modificando substancialmente o ambiente cultu-

gente Diogo Antônio Feijó, foi um bissemanário que durou até a

ral em que vivia a população colonial naquela época. Além da

revolta liberal de 1842.

Corte no Rio de Janeiro, havia prelos em Salvador, Recife, Vila Rica, São João Del Rei e em Porto Alegre.

jornal O Governista, defendendo a opinião do governo provincial.

Em São Paulo, que ainda era acanhado burgo estudan-

Havia também folhas satíricas, como O Escorpião, O Meteoro e O

til, o surgimento da imprensa se associava necessariamente à

Pensador; jornais religiosos, a exemplo de O Despertador Cristão

presença da Faculdade de Direito do Largo São Francisco. O pri-

e O Amigo da Religião, e de sociedades literárias ou congêneres,

meiro jornal impresso em São Paulo foi Farol Paulistano (1827),

tais como Revista da Sociedade Filomática, Revista Mensal do

dirigido por José da Costa Carvalho, futuro marquês de Monte

Ensaio Filosófico Paulistano (1854), O Independente, A Camélia

Alegre e presidente da província, com a colaboração de Odorico

e Ensaios Litterarios do Atheneu Paulistano.

Mendes e do futuro senador Vergueiro.

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Nesse mesmo ano, O Paulista Oficial é substituído pelo

No Segundo Reinado, os títulos continuam a se suceder:

Antes do Farol, havia periódicos que circulavam em for-

O Acayaba (1852), do jovem Quintino Bocaiúva, mais tarde linha

ma manuscrita, pois São Paulo ainda não possuía um prelo. Um

de frente da defesa do Partido Republicano, e O Guayaná e A

desses jornais manuscritos foi O Paulista (1823), um bissemaná-

Academia, ambos de 1856, que já faziam campanha abolicio-

rio redigido pelo professor de latim Antonio Mariano de Azevedo

nista. Destacam-se também os jornais ligados às sociedades lite-

Marques, alcunhado ‘mestrinho’, que era copiado por amanuen-

rárias dos acadêmicos e estudantes da Faculdade do Largo São

ses “pagos por uma sociedade patriótica”, sendo as folhas depois

Francisco: Revista Litteraria (1859-51), O Ytororó (1859-60), Es-

pacientemente separadas e distribuídas.

boços Litterarios (1859-60) e Revista da Academia de S. Paulo

O Observador Constitucional (1829), fundado pelo mé-

(1859). O Ipiranga (1849), jornal de tendência liberal fundado

dico italiano Líbero Badaró, foi o segundo jornal impresso na

por Rafael Tobias de Aguiar e Antonio Carlos Ribeiro de Andrada,

Província. De linha liberal, opunha-se à Igreja, aos desmandos

redigido pelos acadêmicos da Faculdade de Direito, foi o primeiro

do poder provincial e ao absolutismo do governo monárquico,

relativamente duradouro, mas ainda não era diário.

pugnando pela liberdade de imprensa. Era impresso na gráfica

O primeiro jornal diário paulistano foi O Constitucional

do Farol Paulistano, que estava sendo processado por ‘crime de

(1853), de linha conservadora, com apenas quatro páginas e

opinião’, e revolucionou a vida na cidade até o assassinato de

vendido ao preço módico de 120 réis. O Correio Paulistano

Libero Badaró, em 1830, a mando de Pedro I. A repercussão

(1854), órgão que se declarava imparcial, fundado por Pedro Ta-

desse assassinato acirrou os ânimos e exaltou a imprensa liberal

ques de Almeida Alvim, foi o primeiro jornal diário importante da

contra o já desgastado governo, levando Pedro I à abdicação em

imprensa paulista. Entre 1827, quando surgiu o Farol Paulistano,

7 de abril de 1831.

e 1854, ano de nascimento do Correio Paulistano, circularam na

Apesar de ter demorado a surgir em São Paulo, a imprensa logo se expandiu pela província, com a proliferação de títulos

província 64 periódicos, todos de duração efêmera e predominantemente redigidos por acadêmicos e estudantes.

a partir do final do Primeiro Reinado, a maioria, entretanto, de

Para quem está habituado com os grandes jornais da im-

duração efêmera. Os redatores, em geral, eram oriundos da Fa-

prensa atual, é surpreendente essa multiplicação vertiginosa de

culdade de Direito do Largo São Francisco. Após o impulso dado

títulos e, em particular, a pouca duração de cada um deles. No

um dos redatores, Salvador de Mendonça, desabafa e expõe as dificuldades para manter um jornal em funcionamento no Brasil daquele período, o que explica a efemeridade da maior parte dos títulos. Seu testemunho nos ajuda a compreender melhor a difícil missão da imprensa em um império escravista: “[...] a obra do jornalismo, no Brasil, onde a imprensa vegeta sob o peso dos grandes salários do pessoal tipográfico ainda escasso, do custo exorbitante do papel e outros materiais importados e, mais que tudo, do gravoso porte de circulação, verdadeiras asas de chumbo postas à ave transmissora do pensamento, a obra do jornalismo, no Brasil, requer pesados sacrifícios pecunirários. Aos produtos desta sagrada indústria escasseiam consumidores, porque geralmente os súditos de um regime que se mantêm pela ausência da opinião não podem sentir a falta das liberdades que a imprensa procura reivindicar.”

3. A imprensa santista e o processo de urbanização da cidade Em sua monografia sobre a imprensa em São Paulo, Lafayete de Toledo arrola 123 títulos em Santos, entre jornais e revistas, no período de 1848 a 1896. Entre 1827 e 1896, segundo seu levantamento, foram publicados 1.536 periódicos no estado de São Paulo. Desses, a maior parte (664) pertence à cidade de São Paulo. Santos vem a seguir com 130 títulos, na frente de Campinas (66) e Taubaté (52). Somente no ano de 1896, quando foi escrita a monografia, verifica-se a fundação de 96 jornais e revistas no estado. No decorrer do Segundo Reinado, a imprensa expande-se nas regiões mais prósperas da província de São Paulo, acompanhando o roteiro do café. Santos representa, nesse contexto, um caso particular, tendo sido uma das primeiras cidades paulistas a ter imprensa. Entre 1849 e 1930, houve quase 200 jornais e mais de duas dezenas de revistas na cidade, e, embora a maior parte tenha sido de duração efêmera, essa quantidade de títulos impressiona e demanda hipóteses para explicá-la. Que relação

Segundo o Almanaque da Província, de 1858, só havia três tipografias na cidade de São Paulo: Dois de Dezembro, de Antonio Louzada Antunes, instalada no palácio do governo; Lei, que imprimia o jornal do mesmo nome, localizada atrás da cadeia pública; e Imparcial, de Joaquim Roberto de Azevedo Marques, situada na Rua do Ouvidor, onde era impresso o Correio Paulistano. Os prelos eram bastante rudimentares, movidos à mão e feitos de madeira. Somente em 1863, a Tipografia Imparcial passou a imprimir o Correio em uma Alauzet, máquina de aço que a partir de 1869 passou a ser movida a vapor, o que permitiu ampliar as tiragens. Nessa época, era muito comum a circulação de jornais ser interrompida simplesmente por falta de papel, insumo caro e importado da Europa. A essas dificuldades de natureza técnica, soma-se a exigüidade do público leitor em uma cidade que, ainda segundo o Almanaque de 1858, contava apenas com duas livrarias e sete escolas - cinco para meninos e duas para meninas.

A Imprensa e a Cidade de Santos

último número antes de O Ipiranga deixar de circular, em 1869,

guarda a imprensa com o devir da cidade portuária entre a segunda metade do século XIX e as primeiras décadas do século XX? Que fatores propiciaram os empreendimentos jornalísticos em Santos e qual o perfil de sua imprensa? Que vínculo pode-se estabelecer entre essa imprensa e as lutas sociais das quais a cidade foi palco nesse período? Até meados do século XIX, Santos era uma vila pequena e sem grande expressão. Uma exígua população vivia basicamente do que produzia o mar – pesca, extração do sal marinho e comercialização de óleo de baleia, utilizado na época para acender os lampiões. Porém, com o deslocamento do centro dinâmico da economia cafeeira das fazendas fluminenses para o Vale do Paraíba e, posteriormente, para o Planalto Paulista, a partir da década de 1830, o porto de Santos assumiu uma posição cada vez mais estratégica na economia nacional. O crescimento e a riqueza de Santos, portanto, devem-se ao porto e ao eixo que a cidade forma com São Paulo. Na verdade, até hoje, a maior parte das exportações brasileiras ainda passa pelo porto santista.

23

A Imprensa e a Cidade de Santos

24

O destino de Santos esteve, desde o início, ligado ao de

O único jornal que se sustentou foi Revista Commercial,

São Paulo. Em seu estudo sobre a geografia de São Paulo, Caio

devido em grande parte à dedicação e competência de Guilher-

Prado Júnior as considerava “cidades casadas”, formando um

me Délius, que trouxe a Santos todo o know-how e a experiên-

único “sistema” São Paulo-Santos. Nele, Santos desempenha o

cia adquiridos na cidade de Hamburgo, na Alemanha. Délius

papel de ponto de articulação com o exterior, por intermédio do

era um médico extremamente culto: conhecia diversas línguas

porto, enquanto São Paulo é o centro de convergência dos flu-

antigas e modernas; foi professor de latim, inglês e alemão no

xos provenientes do planalto paulista. A importância do sistema

Colégio Alemão de Santos, além de tradutor juramentado da

Santos-São Paulo seria justamente o maior responsável pela pre-

Alfândega local.

ponderância econômica do estado de São Paulo, a “locomotiva”, na economia nacional.

Desde o início, o periódico manteve uma linha marcadamente liberal e antiescravista. Entre janeiro e março de 1851,

Em 1823, segundo o historiador Francisco Martins dos

Revista Commercial publica, em partes sucessivas, o famoso

Santos, a vila possuía apenas 4.700 habitantes, dos quais 2 mil

discurso de José Bonifácio na Constituinte de 1823, onde o

eram escravos e 2.700 livres - entre estes, 1.400 eram mesti-

‘patriarca da independência’ defendeu a abolição da escravidão

ços. Em 1839, quando foi elevada à categoria de cidade, Santos

no Brasil. Desde os primeiros números, o jornal faz campanha

era “o tipo apurado de uma povoação colonial sem fortuna e as

sistemática pela abolição. No entanto, Délius evita o confronto

praias lodosas do porto [...] freqüentadas por bandos de urubus

direto com o governo e a retórica política inflamada dos jornais

davam a nota característica local”.

e pasquins da época. Através de dados numéricos e tabelas, o

É nesse contexto, algo desolador, que surge a imprensa

Revista procura comprovar economicamente a inviabilidade do

em Santos, apenas dez anos após sua elevação de vila a cida-

trabalho escravo e as vantagens do trabalho livre. Outra estraté-

de. O primeiro jornal santista foi Revista Commercial, fundado

gia é transcrever discursos, cartas e outros textos, publicados no

em 1849 pelo alemão Guilherme Délius, com tipografia própria.

Brasil e no exterior, para conferir credibilidade e consistência às

Surge em seguida O Nacional (1850), de Martim Francisco de

posturas adotadas pelo jornal.

Andrada (filho do célebre irmão de José Bonifácio), impresso na

Entre 1851 e 1852, reflete-se em suas páginas a luta

Tipografia Imparcial e no mesmo formato que O Ipiranga, da ca-

com o concorrente O Mercantil, de Manoel Raposo de Almeida,

pital. Martim Francisco foi compelido a vender a tipografia por

tomando posição em favor dos brasileiros no conflito entre os

dificuldades financeiras. O comprador, o português Manoel Ra-

nacionais e os portugueses, que se desenrolava naquele mo-

poso de Almeida, fundou O Mercantil (1850), que durou dois

mento. A partir de 1860, o Revista já não tem perfil estritamente

anos, na tentativa de concorrer com o Revista Commercial.

comercial. Em crise financeira, estava à procura de um público

Em 1851, foram editados na cidade ainda dois pequenos

mais amplo e precisava expandir sua circulação. Em 1865, Dé-

jornais – O Precursor e Médico Popular –, que tiveram vida efê-

lius é obrigado a vender o jornal junto com a tipografia comercial.

mera. Em 1857, começou a circular O Commercial, dos irmãos

Depois de passar pela mão de diferentes donos, Revista Com-

Joaquim Roberto e Roberto Maria de Azevedo Marques. O jornal,

mercial pára de circular em 1872, quando se encerra o primeiro

de linha conservadora, contava com o apoio do poder municipal

ciclo da imprensa santista.

e publicava as atas municipais, mas conseguiu se manter ape-

Um dos fatores que facilitavam a circulação de informação

nas até 1860. A maior parte das publicações desse período não

em Santos era o fato de na cidade funcionar a única linha regular

conseguiu sobreviver por muito tempo devido às mesmas dificul-

de correio com São Paulo e com a Corte, no Rio de Janeiro. As

dades registradas em São Paulo: alto custo do papel, ausência de

comunicações com o interior do estado só se tornaram regulares

mão-de-obra qualificada, público leitor e anúncios insuficientes

após a construção da ferrovia SPR, em 1867, interligando Santos

para viabilizar comercialmente os periódicos.

a Jundiaí. Não por acaso, foi justamente nas cidades situadas ao

epidemias vitimaram um total de 22.588 pessoas, quase me-

a imprensa floresceu no interior. A partir de 1874, também ficara

tade da população do município, que em 1900 era de 50.389

mais fácil obter informações do exterior. Até então, chegavam

habitantes.

notícias apenas por carta, mas, nesse ano, a primeira agência

Impulsionada pelo crescimento das exportações de café

de notícias do mundo, a Reuter-Havas, instalou uma sucursal

e também de açúcar, a cidade se desenvolve continuamente e

no Rio de Janeiro. O Jornal do Comércio recebia o noticiário da

passa por um processo acelerado de adensamento da malha

agência por telegrama e depois o repassava a outros jornais, que

urbana. Com a vinda de imigrantes europeus, e também de

passaram a ter uma página internacional.

migrantes de São Paulo e do nordeste, há expressivo aumento

Foram fundamentais também as tipografias existentes

populacional. Em 1890, Santos tinha 13.012 habitantes, pas-

em Santos, a primeira das quais teria sido a Commercial, de Gui-

sou a ter 88.967 em 1913 e, em 1935, atingiu a cifra de

lherme Délius. A informação sobre a impressão de livros nesse

142.059 habitantes. Mas esse crescimento tem seu custo. A

período nos dá uma idéia das tipografias santistas. Em 1851, foi

presença da lama escura, típica de mangues e áreas pantanosas,

impresso o drama A estrangeira, de Francisco Luiz d´Abreu, na

marcava tanto a fisionomia da cidade que, vista à distância do

Typographia Commercial, de Guilherme Délius. Em 1852, pela

mar, Santos parecia negra, como observava o escritor Júlio Ribei-

mesma tipografia, a Oração de Santa Thereza, do padre José

ro em 1888: “Vista do mar, do estuário a cidade é negra: black

Norberto de Oliveira, e, em 1860, a comédia Os grandes da

town lhe chamavam os ingleses”. A insalubridade da cidade era

época, ou A febre eleitoral, de Antonio Pereira dos Santos, na

famosa e afastava dela visitantes, investimentos e trabalhadores.

typographia de V. A. de Mello. Segundo o Almanak da Cidade

Santos foi construída sobre antigos mangues e estava rodeada

de Santos, em 1871 havia três tipografias em funcionamento:

por áreas pantanosas, além do clima quente e úmido, e dos ve-

a Typographia Commercial, que editava o Revista Commercial

rões prolongados que os santistas conhecem bem até hoje. Con-

às terças, quintas e sábados; a Typographia do Commercio, que

tam os relatos que, nos dias de chuva, as ruas sem calçamento

imprimia o jornal Commercio de Santos às segundas, quartas e

transformavam-se em verdadeiros lagos. Quando a maré baixava,

sextas, e a Typographia Imparcial, que publicava A Imprensa às

enormes lamaçais malcheirosos contaminavam a cidade. Esses

terças e quintas-feiras.

fatores a tornavam propícia às infestações: na segunda metade

A partir da década de 1870, a cidade se enriquece cada vez mais com o comércio e a exportação do café plantado nas

do século XIX, proliferam doenças como febre amarela, varíola, peste bubônica, difteria e tuberculose.

grandes propriedades do interior paulista. O porto santista tinha

As medidas adotadas pelo poder público para controlar

se tornado indispensável para a economia nacional, mas faltava

as epidemias eram paliativas e ineficientes, como limpeza das

à cidade uma infra-estrutura urbana compatível com sua impor-

praias, quarentenas no porto e construção de um hospital para

tância estratégica. O período decisivo na transformação de sua

isolamento dos doentes. Só foram tomadas providências sérias

paisagem urbana vai de 1870 à década de 1910, no decorrer do

quando as moléstias começaram a ‘subir a serra’ junto com os

qual sua fisionomia modifica-se radicalmente - Santos deixa de

passageiros da ferrovia inglesa, ameaçando a cidade de São Pau-

ser uma cidade semicolonial para ingressar na modernidade.

lo. Obrigado a tomar atitudes, o governo da província instituiu

Na reforma urbana de Santos, o maior problema a ser

duas comissões, independentes da municipalidade e diretamente

equacionado era o das epidemias, que assolavam a região. A

subordinadas ao Estado: a Comissão Sanitária, responsável por

preocupação com as epidemias já se reflete nos últimos núme-

vistoriar habitações, promover desinfecções e fiscalizar a limpeza

ros do jornal Revista Commercial, em 1872. Os dados revelam

de quintais e terrenos baldios, e a Comissão de Saneamento, res-

a magnitude do problema: entre 1891 e 1895, morreram, só

ponsável pelas obras de canalização de água e pela construção

de febre amarela, 5.740 pessoas, e, entre 1890 e 1900, as

da rede de esgotos. Para higienizar a cidade e implementar um

A Imprensa e a Cidade de Santos

longo da linha – como Campinas, Jundiaí e Guaratinguetá – onde

25

plano urbanístico, foi contratado o engenheiro Saturnino de Brito.

XIX. Impulsionados pelas melhorias nas técnicas de impressão e

Era preciso remodelar o traçado das ruas, modernizar o porto e

pelo crescimento demográfico, multiplicam-se os periódicos na

prevenir a ocorrência de infestações. Saturnino formulou seu pla-

cidade. A imprensa tende a se segmentar e se partidarizar, refle-

no, posto em prática a partir de 1905, com o engenhoso sistema

tindo as lutas políticas e ideológicas do período.

A Imprensa e a Cidade de Santos

de canais de drenagem, ainda hoje em pleno funcionamento.

ásperas críticas ao governo monarquista, principalmente após a

te pelos comissários do café, impulsiona a expansão urbana da

catástrofe da Guerra do Paraguai. Surge também uma imprensa

cidade. Na passagem do século XIX para o século XX, começa

monarquista e conservadora, vinculada ao governo imperial e à

a circular o sistema de bondes, inicialmente puxados por burros,

Igreja. Mais tarde, na passagem do século XIX para o XX, apare-

antes da eletrificação das linhas em 1909. A iluminação pública

cerá também uma imprensa operária, que introduz uma nova voz

passa do sistema a gás para a eletricidade em 1904. Nos bairros

no jornalismo santista.

ricos, são edificados casarões e palacetes, surgem hotéis caros e cassinos na orla e no Monte Serrat. Abrem-se grandes avenidas, calçadas e iluminadas, como a Conselheiro Nébias e a Ana Costa. Há mudanças de hábitos e comportamentos, sintomas do novo século: os santistas começam a freqüentar as praias e a expor seus corpos ao sol. O último canal, conforme o projeto

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Surge uma imprensa republicana e abolicionista, que faz

A afluente burguesia da região, composta principalmen-

de Saturnino, é construído em 1927, completando o processo de transformação da paisagem urbana santista. Paralelamente, os trabalhadores portuários e os descendentes dos escravos libertos vão sendo empurrados para os morros, num modelo excludente de ocupação do espaço urbano típico das grandes cidades brasileiras. Em Santos, forma-se o primeiro contingente significativo de proletariado urbano do estado de São Paulo. O processo de higienização foi também de segregação espacial, como ressalta a historiadora Ana Lanna: “[...] encontramos a população local sendo atacada, transformada e responsabilizada por todos pelas mazelas e vícios da cidade. É sobre ela que estas intervenções “modernizadoras” recairão com violência, definindo novos lugares./ A discussão e implementação de uma cidade higiênica e bela e associação entre salubridade física e social foi uma das formas fundamentais de generalização dos valores burgueses, de controle desta população móvel e instável.”

Todas essas transformações ecoarão nas páginas de uma imprensa que se expande a partir das últimas décadas do século

4. Vicissitudes do jornalismo no Segundo Reinado Entre as décadas de 1860 e 1870, começa a se afirmar a cultura escrita no Brasil, com surtos editoriais, fundação de jornais e revistas, publicação de opúsculos e folhetins, além dos populares almanaques das cidades. A intensificação da vida urbana e o crescimento de uma classe média sequiosa de informação permitiram a ampliação da cultura impressa no país. Aumenta o número de tipografias e se multiplicam as casas editoriais, como a de Francisco Alves de Oliveira (1872), antiga Livraria Clássica, no Rio de Janeiro. Até a década de 1850, a imprensa brasileira era feita de modo artesanal e com distribuição bastante restritra. O jornalismo não passava de uma aventura solitária: tudo era improvisado, sendo até mesmo possível alguém fazer um jornal sozinho e depois lutar para distribuí-lo. A partir das décadas seguintes, no entanto, o jornal passará a ser encarado como uma empresa, que exige investimentos e implica em divisão de trabalho. As inovações técnicas e o aprimoramento da apresentação gráfica dão ensejo ao surgimento das revistas ilustradas, humorísticas e de caricaturas. Nas revistas de caricaturas, o humor funcionava como uma válvula de escape para as tensões políticas e o desenho era uma forma de comunicação imediata, de fácil compreensão. A primeira caricatura foi impressa no Jornal do Commercio em 1837, de autoria do pintor Manoel de Araújo Porto-Alegre,

com o fim da Guerra do Paraguai (1864-1870). Após a funda-

ca – Periódico Plástico-Filosófico (1844), idealizado por Araújo

ção do Partido Republicano, em 1870, cria-se uma imprensa

Porto-Alegre e Rafael Mendes de Carvalho, durou até 1845 e

partidária, destinada a difundir o ideário republicano e formar

representou o primeiro avanço técnico na imprensa brasileira.

uma opinião pública antimonarquista. Em dezembro de 1870, é

Em 1864, era lançado em São Paulo O Diabo Coxo, de Luiz

lançado no Rio de Janeiro o jornal A República, órgão do Clube

Gama e Ângelo de Agostini. Impresso na Tipograia Alemã, saía

Republicano dirigido por Quintino Bocaiúva. A imprensa da Cor-

aos domingos e trazia quatro páginas de ilustrações e quatro pá-

te tendeu a se manter monarquista, mas mesmo lá penetrou a

ginas de textos. Foi a primeira revista ilustrada paulista e marcou

propaganda republicana, com jornais como a Gazeta de Notícias

época pelas críticas impiedosas que fazia aos políticos e à Igreja,

e o Diário de Notícias (1875), e, principalmente, O Paiz (1884),

utilizando o humor corrosivo como uma verdadeira arma.

dirigido por Quintino. Na última década da monarquia no Brasil,

Os romances de folhetim tornaram-se populares no Se-

multiplicam-se os jornais e pasquins republicanos, lutando por

gundo Reinado, especialmente no Rio de Janeiro, onde eram

reformas como a separação entre a Igreja e o Estado, o federalis-

publicados por jornais como Diário do Rio de Janeiro, Jornal do

mo e o fim dos castigos corporais nas forças armadas.

Comércio e Correio Mercantil. Os escritores eram um dos maio-

Em São Paulo, destacam-se o Correio Paulistano (1872),

res atrativos desses jornais. Além dos folhetins, eles escreviam

que muda de orientação, convertendo-se em órgão do Partido

artigos e crônicas, em que refletiam sobre os acontecimentos

Republicano Paulista, e A Província de São Paulo (1875), futuro

mundiais e as transformações pelas quais passava o Brasil.

O Estado de São Paulo. O Correio Paulistano tornou-se abolicio-

O escritor Manuel Antonio de Almeida publicou seu romance, Memórias de um Sargento de Milícias (1853), nas pági-

nista após ser comprado por Antônio da Silva Prado em 1887. Foi o primeiro jornal paulista impresso em rotativa.

nas do Correio Mercantil. José de Alencar, que era redator-chefe

O jornal A Província de São Paulo foi lançado por uma

do Diário do Rio de Janeiro, publicou em suas páginas os roman-

sociedade em comandita por iniciativa de Francisco Rangel Pes-

ces Cinco Minutos (1856), Viuvinha (1857) e O Guarani (1857).

tana e outros empresários do interior paulista, principalmente da

Escritores como Joaquim Manuel de Macedo, Gonçalves Dias,

cidade de Campinas. Constitui um dos primeiros exemplos de

Bernardo Guimarães, Castro Alves, Alexandre Herculano e Feli-

organização empresarial da imprensa no Brasil. Dependia exclu-

ciano de Castilho freqüentavam amiúde as páginas dos jornais da

sivamente de anúncios e assinaturas para sobreviver e também

Corte. Foi em um pequeno jornal, A Marmota, que Machado de

introduziu a venda avulsa nas ruas. Passou a se chamar O Es-

Assis iniciou sua carreira, tendo escrito crônicas, contos e crítica

tado de S. Paulo após ter passado para a direção de Júlio de

literária para vários jornais.

Mesquita em 1891.

Até o surgimento das grandes empresas jornalísticas, na

Max Leclerc, correpondente de um jornal parisiense, es-

passagem do século XIX ao XX, era raro o tratamento objetivo

teve no Brasil em 1889 para cobrir a queda da monarquia de

da notícia, que em geral mimetizava a linguagem ornamentada

Pedro II e fez observações cortantes sobre a imprensa brasileira

da literatura. Nessa época de imprensa artesanal, não havia se-

no período, criticando tanto os jornais comerciais, quanto a im-

paração de seções, nem segmentação. Literatura e imprensa se

prensa partidária:

conjugavam, unindo a demanda de uma classe média urbana por informação e cultura à necessidade de os autores nacionais encontrarem canais de expressão. Não obstante, o folhetim também cumpria a função de desviar a atenção das tensões sociais e dos conflitos políticos do império escravista de Pedro II. Tensões e conflitos que eclodiram

“A imprensa no Brasil é um reflexo fiel do estado social nascido do governo paterno e anárquico de D. Pedro II: por um lado, alguns grandes jornais muito prósperos, providos de uma organização material poderosa e aperfeiçoada, vivendo principalmente de publicidade, organizados em suma e antes de tudo como uma emprêsa

A Imprensa e a Cidade de Santos

e, sugestivamente, era uma cena de suborno. A Lanterna Mági-

27

A Imprensa e a Cidade de Santos

comercial e visando mais penetrar em todos os meios e estender o círculo de seus leitores para aumentar o valor de sua publicidade, a empregar sua influência na orientação da opinião pública. [...] Em tôrno deles, a multidão multicor de jornais de partidos que, longe de ser bons negócios, vivem de subvenções dêsses partidos, de um grupo ou de um político e só são lidos se o homem que os apoia está em evidência ou é temível.”

28

dida pela imprensa santista desde o Revista Commercial de Guilherme Délius. Contribuiu para isso o fato de Santos nunca ter sido um grande centro escravista. Pelo contrário, muitos santistas colaboraram intensivamente, por meio dos clubes abolicionistas e da criação de quilombos, para o fim da escravidão. A partir de 1870, setores cada vez mais amplos da população livre da cidade envolviam-se na luta abolicionista, acoitando escravos, patrocinando fugas, reunindo fundos para obter alforrias, defendendo escravos foragidos na Justiça. Os escravos fugitivos das fazendas do interior

A partir de 1870, setores urbanos que faziam parte da

paulista eram encaminhados pelos caifases ao Quilombo do Jaba-

elite cultural do país, como intelectuais, jornalistas e escritores,

quara, fundado em 1882 em Santos. Os caifases eram a facção

engajaram-se na luta pela abolição do trabalho escravo no Brasil.

mais radical e combativa do movimento abolicionista paulista. Sob

Eles participavam ativamente dos clubes abolicionistas e denun-

a liderança do advogado Antônio Bento, eles agenciavam fugas

ciavam, em artigos de jornal e palestras, os atos de violência

coletivas, perseguiam capitães-do-mato e ameaçavam senhores

contra os escravos e a injustiça de regime escravista. Assim, in-

de escravos. Os negros foragidos eram enviados ao Quilombo do

fluenciaram a opinião pública, causando um sentimento de re-

Jabaquara e à Província do Ceará, território livre desde 1884. De-

volta diante da escravidão. A imprensa abolicionista teve papel

vido à ação dos abolicionistas, a maioria das cidades paulistas já

muito importante na difusão do ideal abolicionista e na formação

havia abolido a escravidão antes da Lei Áurea, em 1888.

dessa opinião pública.

Santos tornou-se, na última década do regime escravista,

Nesse contexto, surgiu uma série de jornais que tinha

um pólo aglutinador de escravos em fuga. Na cidade, ao con-

como causa maior a supressão da escravidão. Em diferentes ci-

trário do que ocorreu no Rio de Janeiro, o abolicionismo estava

dades do Brasil, mas principalmente no Rio de Janeiro, esses

intimamente ligado ao movimento republicano. Nos anos finais

jornais denunciavam, pressionavam e mobilizavam a população

da escravidão, estima-se que cerca de 10 mil negros fugidos

em defesa da causa abolicionista. Na capital, surgiram a Ga-

tenham se estabelecido em Santos. A repercussão que teve o

zeta de Notícias (1875) e a Gazeta da Tarde (1880), dirigida

movimento abolicionista na cidade deve-se, em larga medida, ao

por José do Patrocínio, além de muitos outros jornais pequenos

seu jornalismo e a sua imprensa. Santos foi declarada território

que eram distribuídos à população, por vezes em improvisadas

livre em 1886, antes, portanto, da abolição oficial. Mas alguns

cópias manuscritas.

supostos abolicionistas se aproveitavam da situação para ganhar

Em 1884, o jornal O Libertador anunciou a libertação to-

dinheiro com uma causa humanitária ou obter mão-de-obra ba-

tal dos escravos da província do Ceará. O fato foi saudado pelos

rata, no momento em que crescia a oferta de empregos e havia

mais célebres intelectuais abolicionistas da época, como José do

dificuldade em conseguir trabalhadores.

Patrocínio, que se deslocou do Rio de Janeiro especialmente para

Entre os jornais que se engajaram na causa abolicionista

testemunhar esse evento. Joaquim Nabuco também comemorou

em Santos, destaca-se em primeiro lugar O Raio (1875), hebdo-

com entusiasmo esse acontecimento, que registrou em carta es-

madário que apoiava o abolicionismo de Luis Gama, mas durou

crita alguns anos depois em Paris: “A emancipação do Ceará foi o

apenas cerca de um ano. Após seu fechamento, outro jornal,

acontecimento decisivo para a causa abolicionista. O efeito moral

A Tesoura, publicava, com tristeza, a seguinte notícia: “A maior

da existência de uma Província livre, resgatada e, desde então,

novidade da semana foi o fechamento do Raio, que bastante

fechada para a escravidão foi imenso; o efeito político imediato”.

contristou aos seus numerosos leitores. Depositamos, como sig-

Como vimos acima, o abolicionismo era uma causa defen-

nal de gratidão, uma saudade sobre sua sepultura”.

libertos à sociedade e ao mercado de trabalho livre. Excluídos da participação política e do mercado de trabalho, expulsos das

cularam em cópias manuscritas entre 1881 e 1883: O Porvir,

terras do quilombo, foram condenados à marginalização. Com a

O Embrião, O Pirata, O Guarani, O Periquito e O Papagaio. Em

aceleração do processo de urbanização, entre a última década

seguida surgiram O Alvor (1884) e O Piratiny (1885), fundados

do século XIX e a primeira do século XX, a população de negros

por membros do Partido Republicano de Santos, entre os quais

pobres foi, cada vez mais, empurrada para a vida perigosa e

Antônio Augusto Bastos, Guilherme de Melo e o poeta Vicente

precária nas encostas dos morros santistas.

de Carvalho. Em 1886, circula o jornal Vinte e Sete de Fevereiro, vinculado ao clube abolicionista do mesmo nome. Em 1887, circulou A Vila da Redenção, título que faz referência ao Quilombo do Jabaquara, de Quintino de Lacerda, pequeno jornal de distribuição gratuita, redigido por Alberto Sousa, João Emmerich e Gastão Bousquet. Já para comemorar a abolição, passa a circular, em 21 de maio de 1888, o jornal Luiz Gama, vinculado ao clube do mesmo nome. O líder dos negros no Quilombo do Jabaquara era o ex-escravo Quintino de Lacerda. Amigo do abolicionista Silva Jardim e do governador Bernardino de Campos, Quintino foi a ponte entre a elite branca e os negros libertos. Na grande greve do porto de Santos, em 1891, ele boicotou os operários grevistas, arregimentando, a pedido de Bernardino, “turmas de homens de cor” (na expressão usada pelo Correio Paulistano de 21 de maio de 1891) para manter as cifras de embarque e não prejudicar as exportações de café. Em 1893, quando houve a Revolta de Armada, tomou o partido do governo e ofereceu seus serviços a Floriano Peixoto, pelo que foi condecorado Major Honorário do Exército Brasileiro. Foi eleito vereador da Câmara Municipal em 1895, mas impedido de tomar posse pelos outros vereadores brancos, que se negavam a compartilhar o poder com um negro analfabeto. Quintino de Lacerda era um personagem interessante e contraditório. Chegou a ser célebre em Santos, ocupando o noticiário dos jornais e recebendo elogios das autoridades. Ao mesmo tempo em que defendia os direitos dos negros libertos, principalmente o de permanecer nas terras do quilombo após a abolição, Quintino era cooptado pelas elites locais, que se utilizavam de seus serviços e se aproveitavam de sua liderança sobre os negros. Os grupos e associações abolicionistas foram dissolvidos após o fim da escravidão, quando, teoricamente, sua missão estava concluída. Não havia nenhum plano para a integração dos

5. A grande imprensa na passagem do século XIX ao século XX No Brasil, a partir da última década do século XIX, há um expressivo incremento da imprensa, devido ao aperfeiçoamento técnico das oficinas gráficas e à intensificação do crescimento urbano nas grandes cidades do país. Em grandes capitais, como São Paulo e Rio de Janeiro, surgiram revistas ilustradas no início

A Imprensa e a Cidade de Santos

Vários jornais, produzidos por estudantes, membros de clubes abolicionistas como a célebre Bohemia Abolicionista, cir-

do século XX, que incorporavam a ilustração e a fotografia. No Rio de Janeiro, as principais foram Revista da Semana e O Malho (1902), Kosmos (1904), Fon-Fon! (1907) e Careta (1908). No início do século XX, as elites cultas de vários países, entre eles Estados Unidos, França e Alemanha, liam jornais como The Times, Journal des Débats e Neue Freie Presse. Mas surge uma imprensa de massa, que recorre cada vez mais a inovações visuais para popularizar a informação: cabeçalhos em caixa-alta, lay-out de página, mistura de texto e imagem, e incrementos na publicidade. Havia modificações não só no plano da forma, mas também do conteúdo, dividido em seções e porções pequenas e independentes, adaptando-se a um tipo de leitor de menor nível cultural e pouco acostumado a se concentrar em longos textos. Essas mudanças permitiram a ampla difusão dos jornais. Por volta de 1890, grandes diários ingleses, por exemplo, chegavam a alcançar tiragens de um milhão de exemplares. Nessa mesma época, no Brasil, grandes diários, como Jornal do Brasil e O Estado de S. Paulo, conseguiam vender, no máximo, alguns milhares de exemplares. Em 1900, o Jornal do Brasil atingiu a tiragem de 50 mil exemplares diários e, em 1903, chegou a 62 mil exemplares. Em 1896, O Estado de S. Paulo imprimia 8 mil exemplares; em 1906, atingiu a tiragem de 35 mil.

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A Imprensa e a Cidade de Santos

Dez anos após sua elevação à categoria de cidade, Santos ganha, em 1849, o primeiro jornal, fundado pelo médico

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alemão Guilherme Délius. De linha liberal e antiescravista, Revista Commercial evitava o confronto direto com o governo e procurava comprovar, economicamente, as vantagens do trabalho livre. Rodado em tipografia própria, o jornal transcrevia textos publicados no Brasil e no exterior.

partidária pela informação. Temas antes secundários, como o noticiário policial, o esporte e a moda, ocupam um espaço cada

anunciantes, leitores e com o poder modificam-se completamen-

vez maior. A profissão de jornalista ainda não era reconhecida e

te. Surge o problema das sucessões políticas e a necessidade de

os escritores tinham que se esforçar para redigir reportagens e

os detentores do poder comprarem a opinião da imprensa para

notícias objetivamente, evitando a linguagem retórica e ornamen-

garantir a manutenção do mando político.

tada com que haviam se acostumado.

O problema se agrava nas sucessões presidenciais, quan-

Todo esse dinamismo foi, em parte, antecipado pela im-

do se torna praxe a compra de jornalistas pelo governo: “É agora

prensa santista, que desde o final do século XIX já possuía jor-

muito mais fácil comprar um jornal do que fundar um jornal; e é

nais diários, de ampla circulação, como Diário de Santos (1872),

ainda mais prático comprar a opinião do jornal do que comprar

Tribuna do Povo (1894) e Santos Commercial (1894). O Diário

o jornal”. Evidentemente, continuam a existir jornais críticos, que

de Santos foi o jornal mais importante da cidade depois do Revis-

fazem oposição virulenta ao governo, mas os ataques visam mais

ta Commercial, de Guilherme Délius, e o mais duradouro, depois

indivíduos do que idéias: algumas personalidades são sacrali-

do Tribuna do Povo, de Olímpio Lima. Foi também o primeiro

zadas, enquanto outras são enxovalhadas diante dos olhos do

jornal santista organizado como empresa e gerido por uma so-

público leitor.

ciedade comercial. Para ele contribuíram alguns dos melhores

De qualquer maneira, tende a desaparecer o jornal como

jornalistas da cidade na época, tanto que foi considerado uma

aventura e empreendimento individual, apoiado em alguma figu-

verdadeira escola de jornalismo. A partir de 1877, passou a ser

ra de prestígio (político ou intelectual), como o redator, e impres-

impresso em tipografia a vapor, que também imprimia a Revista

so em oficinas artesanais. Uma das conseqüências da passagem

Nacional de Ciências, Artes e Letras (1877), editada pelo escritor

do jornalismo como aventura solitária ao jornalismo empresa-

Inglez de Sousa, introdutor do naturalismo na literatura brasileira.

rial é a redução do número de periódicos, pois abrir um jornal

Republicano e abolicionista, o Diário de Santos fazia virulentas e

passa a ser um empreendimento de risco que exige vultosos

inflamadas críticas à Igreja e ao governo monarquista.

investimentos.

Ao contrário do que se costuma divulgar, não há nenhu-

A adoção da racionalidade econômica pelos jornais tam-

ma relação entre o jornal Revista Commercial, que fechou em

bém implicou mudanças na linguagem jornalística. A notícia

1872, e o Diário de Santos. Este comprou a tipografia do Co-

passa a ser tratada de maneira mais objetiva e o jornal deixa

mércio de Santos (1869), que fechou também no ano de 1872

de mimetizar a linguagem literária e rebuscada dos escritores,

devido a dificuldades financeiras. No editorial de 21 de julho de

apesar de estes continuarem a ser requisitados como redatores

1876, o Diário de Santos já destacava a necessidade de reformas

dos principais jornais. Olavo Bilac, Alphonsus de Guimarães,

no porto de Santos para facilitar as exportações: “[...] é dever

João do Rio, Coelho Neto, Arthur Azevedo, só para citar nomes

nosso insistir sobre a conveniência e necessidade de um caes e

famosos, contribuíram regularmente para jornais. As contribui-

esse melhoramento cada dia se torna mais indeclinável./A nossa

ções literárias passam a ser seções fixas, separadas das notícias,

cidade é a segunda na província, e sob alguns pontos, a primei-

geralmente postas no rodapé, junto com as críticas literárias. As

ra, pelo menos encarada quanto a seu commercio [...]”.

revistas ilustradas, que começam a proliferar na Belle Époque,

Somente em 1892 essa necessidade se concretizaria,

são agora os meios mais adequados para a criação e a discussão

com a inauguração do primeiro trecho de 260 metros do cais

estético-literária.

do porto pela Companhia Docas de Santos. A partir de 1911, o

Observa-se, além disso, outras mudanças relativamente

Diário de Santos esteve sob a direção de Rangel Pestana, que,

lentas: o folhetim tende a ser substituído pelas colunas e reporta-

entretanto, não conseguiu mantê-lo em funcionamento, acaban-

gens, o artigo político pela entrevista e a doutrinação ideológico-

do por fechar em 1918.

A Imprensa e a Cidade de Santos

Como esclarece Werneck Sodré, a partir do momento em que o jornal se torna uma empresa capitalista, suas relações com

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A Imprensa e a Cidade de Santos

Fundado pelo maranhense Olímpio Lima em 1894, Tribuna do Povo foi

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um dos primeiros jornais de São Paulo a ter duas edições diárias. Contrário ao governo republicano de Floriano Peixoto, o jornal foi empastelado logo após o primeiro número, em março de 1894, e depois em abril e dezembro do ano seguinte. O nome foi depois alterado para A Tribuna, sendo hoje o nono jornal mais antigo em circulação.

foram depredadas. O jornal monarquista A Tribuna Liberal - que em 1890 teve o nome alterado para A Tribuna – foi empastelado

se explicitamente monarquista, afirmando que “[...] a República

em 29 de novembro de 1890 por suas críticas ao governo de

não foi obra do Povo, mas sim dos militares. O povo apenas

Deodoro. Esse acontecimento gerou uma onda de protestos em

ficou surpreso com o golpe”. Uma clara provocação aos republi-

todo o meio jornalístico brasileiro. O jornal A Platéia, de Eduardo

canos, que responderam com o empastelamento do jornal em 5

Prado, também se engajou na luta antiflorianista.

de dezembro de 1895. O jornal foi obrigado a interromper sua

Em Santos, o jornal A Tribuna do Povo (1894), fundado

publicação, mas reapareceu em 29 de dezembro com o seguinte

pelo maranhense Olímpio Lima, tomou partido contra o governo

relato do ocorrido, que nos ajuda a entender o significado de um

republicano. Apesar de intitular-se “desligado das peias partidá-

empastelamento, tão comum naquela época:

rias [...] independente e livre”, o jornal afrontou de forma aberta e virulenta os florianistas.

[...] encontramos tudo em destroços: machina quebrada, cavaletes partidos, caixas viradas, marmore espatifado, janellas arrebentadas, cartões, caixas de papel, participações tudo pelo chão, numa desordem medonha! Um relogio de parede levou 11 machadadas no mostrador; um cliché com o retrato do Sr. D. Pedro II e que ia servir para o numero especial, sobre o quarto anniversario do fallecimento do grande brazileiro, todo quebrado á machado; espigões de rolo torcido; lampeões amassados, furados; mesa de paginação partida; estandes escangalhadas; bolandeiras, galés, componedores arremessados á distancia.

Nesse momento, os ânimos estavam acirrados, devido principalmente à fracassada revolta da armada em 1893. A Marinha de Guerra uniu-se aos federalistas dos estados do sul do país contra as práticas centralistas e autoritárias de Floriano. O almirante Custódio de Melo, ex-ministro da Marinha, liderou a revolta, bombardeando a capital federal em 6 de abril de 1893. Em seguida, rumou para o sul, com o objetivo de se reunir às tropas federalistas em Desterro. No caminho, tentou estabelecer uma base em Santos, com o apoio do almirante Saldanha da Gama. Em seus ataques, logo no lançamento do jornal, Olímpio

A luta entre republicanos e monarquistas, depois da

acusa Floriano de tirania, despotismo e bonapartismo, chaman-

Proclamação, prosseguiu na imprensa brasileira. Após a renún-

do-o, entre outras coisas, de “o carniceiro do Paraguai” e “sal-

cia de Deodoro da Fonseca, os republicanos se reagruparam em

teador”. Em conseqüência, o jornal foi empastelado logo após

torno da figura de Floriano Peixoto, veterano da Guerra do Para-

o primeiro número, em março de 1894. Tribuna do Povo seria

guai. Os monarquistas criticavam o autoritarismo do governo re-

empastelado mais duas vezes: em abril de 1895 e em dezembro

publicano, defendendo o liberalismo e o parlamentarismo. Entre

do mesmo ano, pouco depois da depredação do jornal Santos

seus adeptos estavam Rui Barbosa, Joaquim Nabuco e o líder

Commercial. Participou das ações de vandalismo o chamado Ba-

abolicionista José do Patrocínio. O Paiz, de Quintino Bocaiúva,

talhão Patriótico Silva Jardim, liderado por Quintino de Lacerda,

apoiava a política oficial de Floriano, tal como O Estado de S.

que atuava a mando do presidente do estado (cargo hoje deno-

Paulo, de Júlio de Mesquita. O Jacobino e O Nacionalista tam-

minado governador), Bernardino de Campos.

bém eram jornais de propaganda florianista.

A Imprensa e a Cidade de Santos

O principal rival do Diário de Santos era o jornal Santos Commercial (1894). Em 15 de novembro de 1895, declarou-

Tribuna do Povo foi um dos primeiros jornais paulistas a

Em 1891, surge o Jornal do Brasil, com nomes de peso

ter duas tiragens diárias, com o lançamento da edição vespertina

como Joaquim Nabuco e José Veríssimo, em ferrenha oposição

em 1898. Com a morte de Olímpio Lima, em 1907, assumiu a

ao governo republicano. Organiza-se como empresa, possuindo

administração José de Paiva Magalhães, que permaneceu até

rotativas modernas, e também é o primeiro jornal brasileiro a ter

1909, quando o jornal foi vendido a M. Nascimento Júnior. Em

uma equipe de correspondentes no exterior. Após dar destaque à

1912, o jornal passou a ser impresso em uma rotativa Albert, o

notícia da morte de Pedro II, em dezembro de 1891, suas oficinas

que permitiu ampliar a quantidade de páginas.

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6. Uma voz dissonante: a imprensa operária Para compreender o surgimento da imprensa operária em Santos, é preciso entender o processo de enriquecimento e transformação da cidade entre as últimas décadas do século XIX e as primeiras do século XX, decorrente da economia do

A Imprensa e a Cidade de Santos

café. Entre 1880 e 1929, o Brasil respondia por aproximadamente três quartos da comercialização de café no mundo. As exportações de café desse período chegaram a representar 75% de toda a balança comercial brasileira. Porém, após a Segunda Guerra Mundial, o Brasil foi desbancado pelo café produzido na Colômbia, considerado de melhor qualidade – ainda hoje o café brasileiro participa com cerca de um quarto das exportações mundiais do produto. O porto de Santos foi fundamental na constituição de um complexo portuário capitalista no Brasil. Ao contrário do porto do Rio de Janeiro, mantido pelo Estado, o de Santos era administra-

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do por uma empresa privada sob concessão do governo. Após duas tentativas frustradas do poder público de modernizar o porto, a Companhia Docas de Santos recebeu uma concessão para realizar obras e administrá-lo por 90 anos, de 1890 a 1980. Entretanto, desde as primeiras diligências para a construção do porto, desenvolveu-se um conflito entre a Companhia Docas, que detinha a concessão, e os comerciantes da cidade, donos das pontes e trapiches que se encontravam no local de construção do cais. As obras começaram em 1892 e prosseguiram até 1909, quando o cais, dotado de armazéns, pátios, frigorífico e linha férrea, atingiu 4.720 metros de rampa. O movimento de mercadorias no porto cresce, então, exponencialmente. Em 1860, o movimento foi de 36.250 sacas de café, em 1895 chegou a 2 milhões de sacas e, em 1909, atingiu a marca de 13.130.933 sacas exportadas. A modernização do porto e o saneamento da cidade podem ser consideradas obras interligadas, integrando o processo de reestruturação da paisagem urbana de Santos, que transcorreu entre as últimas décadas do século XIX e o início do século XX. A Companhia Docas, o império de Guinle, pode ser considerada o maior grupo capitalista brasileiro da época. Foi também um dos maiores impérios empresariais da história do capitalismo no Brasil. Mas, se nos inícios da industrialização brasileira a força

do capital se faz sentir em Santos, não menos presente é a força do trabalho e da classe operária: a cidade foi palco de um dos mais fortes e bem organizados movimentos de trabalhadores do Brasil, sob a liderança da categoria dos estivadores. Nas últimas décadas do século XIX, aconteceram em Santos algumas das primeiras greves do país, ligadas aos trabalhadores do porto: portuários (1877), construção civil (1888), estivadores e cocheiros (1889). Em 1891, ocorreu em Santos a primeira greve geral do Brasil, iniciada por duas categorias profissionais essenciais para a vida da cidade: os estivadores do porto e os cocheiros de bondes. Na época dos imigrantes, podia-se falar verdadeiramente em uma babel portuária, composta por trabalhadores das mais variadas origens e com diversos interesses, e cuja organização foi tarefa do Sindicato dos Estivadores de Santos. A maior parte dos trabalhadores era constituída de imigrantes portugueses e espanhóis, que desembarcavam em contingentes cada vez maiores no porto. Santos era a porta de entrada dos imigrantes estrangeiros em direção às fazendas de café do interior paulista. Entre 1850 e 1930, teriam entrado aproximadamente 4 milhões e meio de imigrantes no Brasil, dentre eles, cerca de 1 milhão e 500 mil italianos, 1 milhão e 400 mil portugueses e aproximadamente 600 mil espanhóis, que se estabeleceram principalmente em São Paulo. A burguesia comercial santista, enriquecida com as exportações de café, também fazia questão de evidenciar o seu poder. Em 1922, ficou pronta a sede da Bolsa Oficial de Café, edificada pela Companhia Constructora de Santos, de Roberto Simonsen, e financiada pela Associação Comercial de Santos. A Bolsa Oficial, que hoje abriga o Museu do Café, é um imponente edifício em estilo eclético, encravado no centro histórico de Santos, cuja função original era centralizar, organizar e controlar as operações do mercado cafeeiro. Construído em apenas dois anos com o que havia de melhor e mais caro em termos de materiais na época – cúpulas de cobre, mosaicos de mármore, colunatas de granito -, além de esculturas, vitrais e três enormes painéis do pintor Benedicto Calixto, o edifício era um monumento à burguesia santista, um verdadeiro totem do capital cafeeiro. Como ressalta a historiadora Ana Lanna, a Bolsa Oficial era uma espécie de “propaganda edificada”:

“Pretendia difundir a riqueza do café atraindo para São Paulo capitais e trabalhadores. Fica patente nas suas intenções o projeto de cidade e de nação que a elite cafeeira formulara 80 anos antes da edificação desse monumento: a construção de uma nação e seu povo com suporte no capital internacional e nos trabalhadores brancos europeus, que aqui viriam, para com suas noções de progresso e civilidade formar o povo brasileiro, amortecendo os efeitos de 400 anos

idéias socialistas e à formação de cooperativas de ajuda mútua a

de escravidão”.

do a socialização dos meios de produção como a base econômica

trabalhadores, era responsável pela publicação do jornal A Ação Social (1892). Além de difundir o ideário socialista, o centro organizava palestras aos participantes e construiu uma biblioteca para trabalhadores. Em 1895, Silvério Fontes lançou A Questão Social, critidores do Deus Milhão” e “sua majestade o dinheiro”, e defendende uma sociedade mais justa. Devido, em grande parte, a sua

Os órgãos da imprensa operária nasceram para desafiar

formação como médico e cientista, e ao clima intelectual da épo-

a prepotência do capital cafeeiro e romper o monopólio da bur-

ca, entendia o socialismo em termos evolucionistas, não como

guesia na imprensa, introduzindo novas vozes, heréticas e diver-

um projeto revolucionário, mas como um progresso e uma evo-

gentes. Após as lutas pela abolição e pela República, nasce em

lução natural do corpo social para um estágio superior. Como o

Santos um movimento operário forte e combativo, impulsionado

pai, o poeta Martins Fontes participou da campanha sanitarista,

por uma imprensa vibrante, que foi responsável pela organização

mas em política sentiu-se muito mais atraído pelo socialismo

dos trabalhadores e pelas primeiras greves gerais que o Brasil

libertário do russo Piotr Kropotkin.

conheceu. O historiador Francisco Foot Hardman ressalta o papel da imprensa na organização da classe operária nesse período:

Em 1891, começa a circular o jornal União dos Operários, de Cirilo Costa, editado pela associação mutualista do mesmo nome, constituída principalmente por mestres da construção

“Numa época em que os grandes meios de comuni-

civil. Em 1892, Benedito Figueiredo Ramos publicava O Operá-

cação de massa inexistiam, a imprensa, em especial

rio, pequeno jornal vinculado ao Partido Operário, que difundia

o jornalismo, possuía um papel decisivo como veículo

um socialismo doutrinariamente vago e abstrato, cujo objetivo era

social de informação e formação: a imprensa operária,

defender os interesses da classe trabalhadora.

em particular, destaca-se por sua função de articula-

As três organizações – Centro Socialista, União Operária

dora de interesses históricos de classe, como fatos de

e Partido Operário – unem-se em 1896 para formar o Partido

agitação e propaganda, na tentativa de aglutinar ele-

Operário Socialista, que teve duração efêmera devido à falta de

mentos de uma consciência operária comum”.

base social. Benedito Ramos fundaria em 1897 o jornal A Greve e Silvério Fontes participaria, em 1900, da criação do diário

Em 1889, surgiu na cidade o primeiro núcleo socialis-

Avanti!, redigido em italiano, além de colaborar na organização

ta de que se tem notícia no Brasil, fundado por Silvério Fon-

do Segundo Congresso Socialista Brasileiro (1902), no qual foi

tes, Sóter de Araújo e Carlos de Escobar. Silvério era médico da

criado o Partido Socialista Brasileiro.

Santa Casa de Misericórdia de Santos e, assim como os outros

Em 1904, constitui-se a Sociedade Primeiro de Maio,

dois integrantes, havia participado ativamente das campanhas

formada por operários da construção civil. Nesse mesmo ano,

abolicionista e republicana (em 1886, já havia fundado o jornal

começa a circular o jornal União dos Operários, editado pela

abolicionista A Evolução), antes de se converter ao socialismo.

Sociedade Internacional União dos Operários, fundada em 7 de

Ele é pai do famoso poeta Martins Fontes (1884-1937), muito

agosto de 1904. Criada inicialmente para representar os inte-

lido na época, também médico sanitarista e adepto do anarquis-

resses das categorias dos portuários e dos ferroviários, a socie-

mo. O Centro Socialista, voltado inicialmente à divulgação das

dade logo passou a agrupar trabalhadores de todos os setores,

A Imprensa e a Cidade de Santos

cando logo em seus primeiros números a “sociedade dos adora-

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A Imprensa e a Cidade de Santos

Integrante do primeiro núcleo socialista de que se tem notícia no Brasil, Silvério Fontes criou em Santos, em 1895, o jornal A Questão Social, um

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dos pioneiros a propagar a ideologia no país. Médico e pai do famoso poeta Martins Fontes, ele havia lançado, em 1882 e 1886, o jornal abolicionista A Evolução e, em 1892, A Ação Social. Em 1900, ele participou da criação do diário Avanti!, redigido em italiano.

de consumo produzidos por empresas subsidiadas pelo Estado.

imprensa conservadora e defendia o direito à voz dos operários.

Nessa época, o café já havia perdido a importância que tivera até

Sua ação foi fundamental na organização da grande greve dos

então. A crise mundial do capitalismo, na década de 1930, afe-

portuários, em 1905.

tou a economia cafeeira no Brasil. Depois de sucessivas quedas

No Congresso Operário realizado no Rio de Janeiro em

de preço e queima de safras, a Bolsa Oficial de Café foi fechada

1906, é lançado O Proletário, jornal de tendência anarco-sindi-

em 1937 por tempo indeterminado, sendo reaberta somente em

calista, que marca o início do predomínio desta corrente sobre o

1942, no contexto do esforço de guerra, passando a se chamar

movimento operário. Em 1907 aparece A Aurora e, em 1909, A

Bolsa Oficial de Café e Mercadorias.

Aurora Social. Neste último ano, surge também Tribuna Operária,

Durante toda a Era Vargas, a cidade perde sua autonomia

jornal editado pela Sociedade Internacional União dos Operários.

por ser considerada área de segurança nacional, o que provocou

Lutava pela diminuição da jornada de trabalho para oito horas

um forte impacto negativo na imprensa da cidade, que perdeu

(em 1909, estava sendo votado no Rio de Janeiro projeto de lei

o dinamismo e o vigor que tivera nas décadas anteriores. Foi

garantindo esse direito) e criticava jornais como Cidade de Santos

nessa época que se difundiu o mito da ‘Moscou Brasileira’ e do

e A Tribuna do Povo, que defendiam os interesses da Companhia

‘Porto Vermelho’, por causa da combatividade do movimento dos

Docas e se opunham ao direito de greve dos trabalhadores. Na

estivadores e dos sindicatos da região .

edição de 7 de agosto de 1907, publicava: “A Tribuna de hoje

Em 1937, os portuários deflagraram a primeira greve

não é a de outros tempos, que era um jornal do povo, hoje Ella

geral do Estado Novo, desafiando o autoritarismo do governo

é do polvo” (o ‘polvo’ era o nome sob o qual era conhecida a

Vargas, que nesse momento flertava com os regimes fascistas

Companhia Docas de Santos).

europeus. Os trabalhadores se recusavam a embarcar uma carga

O periódico anarquista O Proletário, de 1911, ia além

de café destinada às tropas do ditador Francisco Franco, que

das reivindicações trabalhistas, conclamando os leitores a uma

seria levada à Espanha por um navio da Alemanha nazista. A

revolução total em todas as esferas da vida, à guerra contra a

solidariedade aos revolucionários que resistiam ao fascismo de

sociedade capitalista e contra o “princípio religioso”, responsável

Franco na Guerra Civil Espanhola foi o motivo da paralisação.

pela resignação social e a manutenção do status quo. A Revolta

Entretanto, no estado de exceção instaurado pelo Estado Novo,

e A Dor Humana (1911), e A Rebelião também eram periódicos

qualquer tentativa de paralisação do trabalho era considerada cri-

em linha com o anarco-sindicalismo.

me contra a segurança nacional e julgada como traição à pátria

Foi ao longo das duas primeiras décadas do século XX

por um Tribunal de Segurança.

que Santos ficou conhecida pelo epíteto de “Barcelona brasileira”,

O movimento durou dez dias, no decorrer dos quais o

com a emergência de um movimento operário forte, organizado

governo Vargas efetuou prisões e torturas, demissões em massa

e combativo. O anarco-sindicalismo constituía o ideal comum

e decretou intervenção federal em Santos. Ocupado o porto pelo

aos trabalhadores do porto, brasileiros de várias regiões do país

exército, os estivadores foram obrigados a trabalhar à força, sob

e imigrantes de várias partes do mundo, aos quais se deve, sem

as ordens de um coronel integralista. Esse evento, amplamente

dúvida, o caráter multicultural e cosmopolita que marca a cidade

divulgado na imprensa brasileira da época, foi relatado, em cores

portuária até a atualidade.

heróicas, mas com fidelidade aos fatos, pelo escritor Jorge Ama-

Após o crash da bolsa de Nova York em 1929, o café entra em colapso. Os preços caem vertiginosamente e a crise econômica leva ao início do processo de industrialização induzido e tutelado pelo Estado autoritário comandado por Getúlio Vargas. As exportações do porto se diversificam, incluindo os bens

do no romance Os subterrâneos da liberdade. Fatos como esse mostram com clareza que não pode haver imprensa livre onde não há autonomia e liberdade política.

A Imprensa e a Cidade de Santos

chegando a ter milhares de membros. Seu jornal opunha-se à

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A Imprensa e a Cidade de Santos

De inspiração anarquista, O Proletário foi lançado em 1906, durante congreso operário realizado no

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Rio de Janeiro, marcando o início dessa corrente ideológica sobre o movimento operário. Em Santos circularam inúmeros jornais da imprensa operária – todos de vida efêmera -, que nasceram para desafiar a prepotência do capital cafeeiro e romper o monopólio da burguesia local.

(principalmente portugueses, espanhóis e italianos, e minorita-

O desenvolvimento da imprensa em Santos decorre, em

riamente ingleses, alemães, japoneses e libaneses), que aqui se

larga medida, como vimos, do fato de ser a maior cidade por-

estabeleceram. Essas comunidades de imigrantes ajudaram a

tuária do país, por onde circulava parte da riqueza gerada com

impulsionar a imprensa na cidade, fundando uma diversidade

o café. Um dos elementos que permitiram o surto cafeeiro foi a

de jornais, muitos deles em língua estrangeira, voltados para a

construção da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, em 1867, pela

associação e a ajuda mútua entre seus membros ou para pro-

São Paulo Railway Company. De toda a malha ferroviária paulis-

palar suas reivindicações face às duras condições de trabalho,

ta, era a única estrada de ferro explorada diretamente pela firma

cimentando a sua união em torno de ideais em comum.

inglesa. Um investimento altamente rentável, pois implicava o

Contudo, após 1930 há um relativo declínio da impren-

monopólio do transporte de toda a produção de café do interior

sa na cidade, que decorre de diversos fatores conjugados. Em

do estado de São Paulo e de outras áreas vinculadas ao porto

primeiro lugar, há a crise da economia do café após o crash da

de Santos. A ‘Inglesa’, como era conhecida na época, fazia a

bolsa de Nova York em 1929, o que diminuiu substancialmente

ligação entre as fazendas produtoras de café do planalto paulista

o movimento no porto de Santos por longos anos e, conseqüen-

e o porto. Antes de sua inauguração, as sacas de café eram

temente, afetou a economia da cidade. Em segundo lugar, a in-

transportadas, com muita lentidão e perdas consideráveis, no

tervenção federal em 1930, após o golpe de estado de Getúlio

lombo de mulas, pela velha Estrada da Maioridade, que ligava

Vargas. Os prefeitos passaram a ser subordinados ao governo

Santos a São Paulo. Com a ferrovia, o café que chegava a Santos

estadual e governavam sem a Câmara Municipal. A partir de

ia diretamente das fazendas para os trapiches dos comissários do

1937, com o golpe que instituiu o Estado Novo, a imprensa foi

café, na área portuária, de modo rápido e seguro. Os comissários

amordaçada pela censura do Departamento de Imprensa e Pro-

eram encarregados de classificar, manipular, misturar, ensacar e

paganda (DIP) da ditadura varguista. Em terceiro e último lugar,

rotular as variedades de café a serem exportadas. Fortunas foram

com a difusão do rádio nas décadas de 1920 e 1930, e, mais

feitas na atividade de exportação do café, chegando a ponto de

tarde, com a difusão da televisão, a partir da década de 1950,

os comissários financiarem a safra dos fazendeiros.

a imprensa perde espaço. A concorrência com outros meios de

No decorrer das últimas três décadas do século XIX, após a construção da ferrovia e com a modernização do porto, as

informação faz com que diminua drasticamente a quantidade de jornais diários e também as tiragens, de maneira geral.

exportações cresceram vertiginosamente. No final do século, o

O valor estratégico do porto, o perfil cosmopolita que a

movimento no porto santista era frenético. Somente no ano de

cidade adquiriu após as reformas urbanas e a vinda dos imigran-

1897, para dar apenas um exemplo, foram embarcadas seis mi-

tes, e a força que os movimentos sociais manifestaram na cidade

lhões de sacas de café. Poucos anos depois, o porto chegou a

fizeram com que Santos fosse considerada potencialmente pe-

monopolizar 95% do volume total das exportações brasileiras.

rigosa e, por isso, sujeita à intervenção de regimes e governos

Entre os anos de 1880 e 1929, o Brasil respondia por três quar-

autoritários. A autonomia municipal, subtraída em 1930 por Var-

tos do comércio mundial de café.

gas, só seria recuperada em 1953, para ser perdida novamente

Toda essa riqueza passava pelas mãos ávidas dos co-

com o golpe militar de 1964, quando Santos, considerada então

missários do café, o que fez com que, em Santos, se formasse

área de segurança nacional, passou a ser governada diretamente

uma burguesia e uma classe média urbana relativamente nume-

pelos militares. Nesse ínterim, a imprensa havia mudado com-

rosa, em termos de Brasil, que necessitava da informação, do

pletamente no país. O jornalismo havia deixado de ser atividade

entretenimento e da cultura oferecidos pelos jornais e revistas.

de escritores para se tornar profissão e os jornais passaram a ser

Ao mesmo tempo, com a construção do complexo portuário, a

empresas capitalistas que obedecem aos ditames da concorrên-

cidade tornou-se pólo de atração para trabalhadores estrangeiros

cia e da racionalidade econômica. Os grandes jornais da cidade,

A Imprensa e a Cidade de Santos

À guisa de conclusão

39

como Cidade de Santos e A Tribuna, foram cooptados pelo poder

são poucos, bastante segmentados e especializados, cada um

e a multiplicidade de pequenos jornais simplesmente desapare-

voltado para um assunto determinado (revistas de variedades; ta-

ceu sem deixar vestígio. Contudo, é claro que isso não se deve

blóides sensacionalistas; jornais de notícias; jornais de negócios;

apenas à repressão política e aos imperativos econômicos, mas

órgãos de categorias profissionais, de setores de atividade, de

também ao desenvolvimento de outras mídias no decorrer do

sindicatos, etc.). Utiliza-se uma linguagem objetiva, informativa e

século XX.

padronizada, oposta aos arroubos literários e ao subjetivismo do

A Imprensa e a Cidade de Santos

Podendo chegar simultaneamente a todos os lugares, os

40

jornalismo do século XIX e do início do século XX.

meios audiovisuais passam a dominar o acesso à informação e

Talvez o fenômeno contemporâneo que mais se asse-

impõem uma outra relação com a notícia. Os meios audiovisu-

melhe à proliferação de publicações que ocorreu naquela época

ais de comunicação desenraizam a informação, que é retirada

seja, mutatis mutandis, o fenômeno dos blogues e dos bloguei-

de seu contexto, e enfocam preferencialmente o mundo privado,

ros, que reintroduzem a palavra escrita e o jornalismo opinati-

em vez da vida pública. Na era da imagem, a publicidade e o

vo no próprio âmago da sociedade da imagem: a rede mundial

marketing reinam soberanos, e contribuem para uniformizar e

de computadores. Houve blogues que derrubaram políticos nos

padronizar estilos de vida, modos de pensar e agir. Ao contrário

EUA, que denunciaram guerras, viraram livros ou são utilizados

dos velhos jornais, o meio de comunicação deixa de ser o espaço

para divulgar o que a mídia tradicional não tem interesse em

de formação de uma opinião pública, deixa de ter o papel de uma

revelar. Muitos blogues, entretanto, não passam de meras exten-

tribuna, passando a ser um instrumento de recepção passiva,

sões e vitrines de políticos, celebrities ou dos órgãos que ainda

de difusão de modas e de reprodução do conformismo social:

hoje dominam a mídia, impressa ou audiovisual.

“[...] a rede das comunicações é tal que, mesmo sem um acordo

Será que os blogues se converterão em uma nova forma

prévio, todos se interessam pelos mesmos assuntos nos mesmos

de transmitir informação, como foi a palavra impressa nos sé-

momentos, para desenvolver as mesmas opiniões”.

culos XIX e XX? Ou se tornarão meros apêndices dos interesses

Para compreender a imprensa no período que estamos enfocando, pode ser útil uma comparação com a atualidade. Hoje, apesar da maior facilidade técnica para imprimir, os títulos

políticos ou comerciais das forças dominantes? Essa é uma questão que só o tempo responderá.

ANTOLOGIA DE TEXTOS A Imprensa e a Cidade de Santos

PARTE II 41

42 A Imprensa e a Cidade de Santos

TRABALHO ESCRAVO E ABOLIÇÃO 43

A Imprensa e a Cidade de Santos

1. Desde o seu aparecimento, em 2 de setembro de 1849, o jornal Revista Commercial defendeu o fim da escravidão. Em janeiro de 1851, ao publicar a homilia, reproduzida a seguir, apela aos sentimentos cristãos para propagandear a causa.

A Imprensa e a Cidade de Santos

A ESCRAVIDÃO EM TODA SUA NUDEZ

44

DEUS meu, livra-me dentre as mãos do pecador, e do poder d’aquelle, que obra contra a tua lei, e do homem injusto. SALMO. LXX. 4

Vivemos

n’um

paiz

que

se

diz

meu senhor! – Mas nada de compaixão,

christão e n’um seculo que se proclama

por que este verdugo não está farto

de civilisação, e comtudo apresentão-

ainda de sua vingança, direi antes do

se factos que denuncião a mais estu-

sangue de seu semelhante. – Entretanto

penda immoralidade e os costumes d’um

é um homem como nós, cujo sangue jor-

povo barbaro.

ra sobre a relva, - e a humanidade se

Quem quizer convencer-se d’esta

cala!

verdade, dê um passeio ao nascer do

É o horrendo martyrio á sangue

sol no lugar, denominado Itororó, e ali

frio, e em toda a calma da reflexão

verá apparecer á essa hora um misero

practicado a um homem, que soffre o

escravo que mal pode caminhar, trajan-

cruel captiveiro d’um seu semelhante

do camisa salpicada do quente sangue,

barbaro e deshumano, - e porque? Dirão

que já tem sahido das feridas feitas

por ter querido evadir-se d’esse capti-

pelo vergalho. – Batte-lhe o coração

veiro, lembrando-se que também nascêra

approximando-se do pelourinho, onde de

livre. –

novo vae ser amarrado para receber nova ração, sempre nas mesmas feridas, e as dores que lhe causão as torturas do

Maldição sobre o monstro da humanidade! – Misericordia

para

o

miseravel

barbaro e diario supplicio soffoccão a

que, arrancado ás suas praias soffre

sua vóz, que já se tornou rouca pelos

n’uma terra civilisada a estupidez e a

gritos lamentosos. Mil vezes talvez já

crueldade d’um homem que se diz chris-

exclamou debaixo dos padecimentos do

tão, e Catholico-Apostolico-Romano!!!

inexoravel castigo as palavras: Basta, (Revista Commercial, 20 de janeiro de 1851, pág. 3)

transferência da Corte Portuguesa para o Brasil

1849-1872 1808

1850-1852

1850-1852

1851

jornais Correio Braziliense ou Armazém Literário (Londres); Gazeta do Rio de Janeiro

2. Nesta matéria, de fevereiro de 1851, o jornal Revista Commercial pede o fim do tráfico negreiro, que continuava a existir, embora proibido por lei desde 1830. A periodicidade variou durante os 22 anos em que o jornal circulou. Não chegou, entretanto, a ser um diário.

REPRESSÃO DO TRAFICO Eis a questão da actualidade,

rem o trafico, encarando-o como é, a

que ocupa todas as attenções: a cau-

origem de todas as nossas desgraças

sa na verdade é santa, e por isso

e não por ser feito por estrangeiros.

encontra o mais decidido apoio, não

A immoralidade, a falta de religião

só nos corações brasileiros, como

e a ignorancia, eis os motores do

á uma grande parte de estrangeiros

trafico de escravatura nesta queri-

honrados, daquelles que habitão o

da patria. A opposição grita, bra-

paiz, para ganharem com o suor do

da – guerra ao trafico – mas o que

seu rosto. Alguns annos ha que o go-

veem os homens imparciaes? – a oppo-

verno do Brasil, como agora apertado

sição opõe-se, oppoz-se ao comercio

pela Grãa-Bretanha, fez todos os es-

de escravatura? – quando se oppoz?

forços para reprimir o commercio de

– quererão por ventura melhor ver o

gente, porem logo as cousas forão-se

pensamento da opposição do que no

tornando como d’antes, o escandalo

profundo silencio que guarda com os

chegou ao maior apice, e de novo o

que do seu lado fizerão e protegerão

governo britannico com mão armada

o trafico? – Não se tem visto até

lembra o cumprimento dos tratados:

serem alguns endeosados? – É pois

é então que vemos a costa crivada de

deste modo que o governo ha de ter

cruzadores inglezes e nacionaes, as

apoio e coadjuvação no cumprimento

tomadias multiplicarem-se, as auto-

do seu, do nosso dever? – Pode por

ridades locaes ajudarem o governo,

ventura o governo levar á effeito

contra o qual tantos tiros se dispá-

essa medida de salvação da patria,

rão, esse governo que tantas sympa-

quando em vez de união precisa, en-

thias tem ganho na Europa, e que a

controu o mais decidido patronato,

merece dos Brasileiros que não que-

sendo todos em geral com rarissimas

criação da Impressão Régia no Rio de Janeiro

Impressão Régia publica o jornal Gazeta do Rio de Janeiro, o primeiro impresso no Brasil

A Imprensa e a Cidade de Santos

PUBLICAÇÃO A PEDIDO

45

A Imprensa e a Cidade de Santos

46

exceções amigos do abominavel com-

estão os benemeritos que tem sabido

mercio, porque lhes tem dado maior

manobrar o timão do estado no mar

ou menor interesse? - São só por

tempestuoso em que os nossos peca-

ventura estrangeiros que do trafi-

dos o lançárao. A elle devemos a paz

co têm vivido, e com ele enrique-

e a elle devemos a gloria de dar o

cido? – Sejamos francos. Nós, nós

primeiro passo para a liberdade, se

os Brasileiros somos os verdadeiros

formos prudentes, e tivermos um vis-

culpados, nós somos os verdadeiros

lumbre de patriotismo para o ajudar-

criminosos, que a Deos daremos res-

mos a esmagar o monstro do trafico,

trictas contas do mal que temos fei-

com o qual temos feito liga quando

to á Humanidade e á nossa patria.

nos tem sido de interesse. Tenha-

É tempo ainda do arrependimento; a

mos amor á patria, á esse monarcha,

Deos imploremos o perdão, e a sua

nosso compatriota cuja conservação

divina protecção para combattermos

devemos implorar ao Monarcha do Uni-

o germen das presentes e futuras mi-

verso, como um dos maiores favores

sérias da patria! Unamo-nos todos,

que nos póde conceder: respeitemos

repillamos d’entre nós aquelle que

ás autoridades: d’ahi nascerá para

quizer o trafico feito pelos Bra-

nós uma fonte de felicidade, e fi-

sileiros!

nalmente sejamos Brasileiros!

Unamo-nos todos á roda

de um governo sabio, á cuja frente

1811

jornal Idade de Ouro do Brasil (BA); Revista O Patriota (RJ)

(Revista Commercial, 16 de fevereiro de 1851, página 3)

3. Em março de 1851, o jornal Revista Commercial defende seu ponto de vista de forma pragmática, procurando

COMPARAÇÃO ENTRE O CUSTO DO TRABALHO ESCRAVO E DO TRABALHO LIVRE Diz-se muitas vezes que o tra-

fixado. – Aqui damos os resultados

balho livre é mais lucrativo do que

dos calculos arithmeticos, e con-

o escravo, e isto tem-se repetido

venção-se os incredulos diante dos

sem que, ao menos que vissemos, se

algarismos de que por determinação

tenha apresentado a prova numerica.

providencial – o honesto é o mais

É o que pretendemos fazer, e com

util, ou segundo a bella expressão

os numeros mostraremos que a ver-

do sabio Humboldt – na ordem social

dade d’aquella proposição excede os

e politica o injusto encerra em si o

limites que nós mesmo lhe tinhamos

principio da destruição. – Ei-los:

elevação do Brasil a Reino Unido de Portugal e Algarves

1815 Impressão Régia passa a se chamar Régia Oficina Tipográfica

A Imprensa e a Cidade de Santos

demonstrar, com números, a inviabilidade econômica da manutenção do trabalho escravo.

47

A Imprensa e a Cidade de Santos

Assim em 12 annos um fazen-

no paiz da escravidão! – Esta é, na

deiro que empregasse 50 escravos no

expressão de um eloquente defensor

custeio

economi-

da liberdade, como os miasmas feti-

saria pela substituição de braços

dos que tudo matão e destroem, é o

livres uma somma de 14:356$750 rs.,

minotauro dos antigos com seus en-

que posta a juros a 6 por cento se

sanguentados sacrificios.

de

suas

terras,

elevaria no fim de 25 annos, termo

48

Felizmente

tem-se

a

opinião

de sua vida, pois que suppomos que

publica manifestado contra o trafico

ele principia seus trabalhos aos 25

de africanos, e a atitude do gover-

annos de idade, a não despresivel

no dá esperanças de vermos acabado

quantia de 61:619$164, com que po-

tão detestado commercio. Assim seja

deria felicitar seus filhos além de

e breve, que outra grande obra ha de

sua lavoura, que sempre teria mar-

effectuar em nossos dias a – aboli-

chado em progresso.

ção da escravidão.

Espanta a imaginação quando se considerão as riquezas que entre nós

(do Auxiliador)

vão perdidas! Em balde a natureza dotou nosso solo de tantas rique-

(Revista Commercial, 31 de março

zas, tudo murcha, tudo se aniquila

de 1851, página 3)

Revolução Pernambucana

1817

4. Fiel a seu programa, o jornal Revista Commercial volta a defender o fim da escravidão, buscando legitimar seus

SUPERIORIDADE DO TRABALHO LIVRE SOBRE O TRABALHO FORÇADO da

de alguns cortes; são aproveitados

escravatura, a colonia ingleza de

Na

época

da

emancipação

para outras culturas que enriquecem

Mauricias, com 30,000 escravos, ex-

as terras, as quaes em dous ou tres

portava somente 3,000 tonneladas de

annos se achão outra vez promptas

assucar, presentemente, com 40,000

para a plantação das cannas. O pro-

trabalhadores livres, exporta 90 a

ducto dos terrenos estrumados com o

100,000 tonneladas. O Colonial Ga-

guano é enorme; mais de mil tonne-

zette de 8 de junho de 1854 diz: “As

ladas deste fertilisador forão em-

noticias que recebemos da Europa não

pregadas durante o anno passado. A

nos causão abalo algum a respeito

introducção do trabalho livre foi a

da competição do assucar da beter-

salvação da ilha”. Igual resultado

raba. A capacidade productiva desta

se pode esperar no Brazil pela in-

ilha ainda não está conhecida, cada

troducção de industriosos e intelli-

anno o custo da producção do assucar

gentes colonos.

diminue. Melhoramentos na cultura, e no fabrico, ajudados pela barateza do trabalho tem produzido esta

(Revista Commercial, 2 de novembro

felicidade. Os cannaviaes não são

de 1854, página 3)

mais entregues ao descanço depois

Dom João é aclamado rei e passa a se chamar Dom João VI

1818 Régia Oficina Tipográfica passa a se chamar Tipografia Real

A Imprensa e a Cidade de Santos

pontos de vistas com um exemplo do exterior. A matéria foi publicada em novembro de 1854.

49

5. Em 1878, o conservador Correio de Santos circulava duas vezes por semana. Houve outros dois títulos com o

A Imprensa e a Cidade de Santos

mesmo nome, lançados em 1869 e 1885. Neste artigo, extraído da edição de 21 de novembro, o jornal tece comentários sobre matéria publicada pelo Diário de Santos acerca da escravidão.

50

O ESTADO SERVIL Bastante impressionado pelo assumpto da primeira columna do “Dia-

seos defeitos, está em vigor desde 28 de Setembro de 1871.*

rio de Santos”, de 9 do corrente, to-

O que porem não podemos com-

mamos a resolução de escrever alguma

prehender é – que se tenha despendi-

cousa acerca do estado servil.

do tanto dinheiro com a colonisação

Não opinamos com o articulis-

estrangeira, quando é certo que ella

ta relativamente a causa motriz dos

tem servido mais para favorecer a

homicidios, tão frequentes e prati-

especulação do que para suavizar a

cados pelos escravos nas pessoas dos

sorte do escravo brazileiro, chegan-

seos senhores, administradores, fei-

do a produzir no animo de pessoas

tores etc.; pois testemunha occular

illustradas, como na do articulista,

dos máos tratos de muito infelizes,

á que nos referimos, a convicção de

pertencentes ao captiveiro, suppo-

que – a lavoura nacional esteja as-

mos com fundamento, que não são os

sentada tão somente sobre o trabalho

attractivos da apparente liberdade

escravo!

dos galés, mas sim a miseria e o de-

Esta asseveração não é total-

sespero, que têm levado a mór parte

mente verdadeira; porque alem do me-

a encontrar no crime o final dos

lhoramento

seos quase diarios soffrimentos!

do na provincia, acresce que muitos

fabril,

tão

dissemina-

Que o mal cessaria com a ex-

lavradores fazem, ha tempos á esta

tincção do elemento servil não ha

parte, plantações, dignas de nota,

duvidar; e cremos até que o governo

mediante o auxilio de camaradas, ho-

o comprehendeo de certo modo, visto

mens livres, que por certa retribui-

ter quebrado lanças pela liberdade

ção se prestam á vida agrícola, como

do ventre, lei que, não obstante os

ainda substituido o trabalho servil

após 36 anos na Europa, retorna ao país José Bonifácio de Andrada e Silva

1819

pelo do colono européo aproveitavel, em parte de suas terras, por mera

2º. Certificar qual a alimentação e trato dos escravos pelos respec-

O mal portanto não vem da lei

tivos senhores, administradores &.

de 10 de Junho de 1835, que apezar de

3º. Conhecer os meios moraes que

ser imperfeita como quase todas que

empregam os senhores, para suavisar

possuimos, garantio demais as rega-

a triste condição dos escravos.

lias dos senhores de escravos.

Cremos

piamente

que

se

essa

“Entretanto, alguma cousa, diz

commissão fôr bem constituída, se

o articulista, pode-se fazer – no

estabelecerá o equilibrio de obe-

sentido de minorar-se o mal, e evi-

diencia e dominio entre o escravo

tar-se a reproducção tão frequente

e o senhor, aos quaes não será es-

d’aquelles crimes.”

tranho que trimensalmente saberá o neste

governo do estado moral de taes es-

ponto; porem divergimos dos meios

Pensamos

igualmente

tabelecimentos, como da sua prospe-

lembrados.

ridade material.

E como o articulista appella-

Os meios energicos a nosso ver,

rá para o poder legislativo, á elle

não deverão comprehender só as vic-

offerecemos as bases para a respec-

timas da prepotencia senhoril, mas

tiva reforma nos tres pontos abaixo

tambem

exarados:

se esforçam todos os dias em mais

1º.

Creação,

nas

cabeças

de

os

tyramnos

occiosos

que

embrutecel-as.

commarca, de uma commissão de tres

Continuaremos.

membros, fazendo parte d’ella um me-

Z.

dico, uma auctoridade policial e um agricultor, afim de verificar a pro-

Correio de Santos, 21 de novembro de

porção do plantio em relação a força

1878, páginas 1 e 2)

*A lei de 10 de junho de 1835 praticamente condenava à morte qualquer escravo que assassinasse seu amo. Em caso de ferimentos leves, a pena eram açoites. Revolução Liberal do Porto

1820

A Imprensa e a Cidade de Santos

experiencia comparativa.

escrava de cada fazenda.

51

A Imprensa e a Cidade de Santos

Criado em outubro de 1872, Diário de Santos foi o primeiro

52

jornal santista organizado como empresa e gerido por uma sociedade comercial. Reunia os principais jornalistas da época e foi considerado uma verdadeira escola de jornalismo. Foi o periódico local mais longevo do século XIX.

A Imprensa e a Cidade de Santos

PORTO E ESTRADA DE FERRO

retorno de Dom João VI a Portugal

1821 jornais Revérbero Constitucional Fluminense, Diário do Rio de Janeiro, O Espelho e A Malagueta (RJ)

53

6. O jornal Revista Commercial trazia abaixo de seu título a inscrição ‘Monitor dos Negociantes Santistas’, que melhor o identificava. Seu fundador, Guilherme Délius, esteve à frente da publicação até 1865. Neste longo artigo, publicado em fevereiro de 1852, o jornal defende, com veemência, os interesses portuários e comerciais de Santos.

A Imprensa e a Cidade de Santos

IMPORTANCIA DO PORTO DE SANTOS

54

S. PAULO, 13 DE DEZEMBRO DE 1851

Como eu lhe escrevia em carta

mais se compadece com os meios fi-

anterior, o futuro da cidade de San-

nanceiros da provincia, é o melho-

tos é mui esperançoso em rasão de

ramento da grande estrada, que ra-

diversas circumstancias, que todas

mificando-se por diversos municipios

lhe são favoraveis: a entrada franca

de cima da serra desce pelo Cubatão

de sua excelente barra, o magnifico

a Santos, cuja importancia fica se-

e mui seguro ancoradouro, a facili-

gura, e sê-lo-ha ainda quando com o

dade do desembarque e embarque das

tempo novas outras estradas desção

mercadorias em trapiches a que os

a serra, porque muitas d’ellas terão

navios de alto bordo atracão com a

melhor direcção para esta mesma ba-

maior segurança, e a posição embaixo

cia do que para os outros portos da

da serra, no ponto onde desemboca a

provincia.

principal estrada da provincia, pela

E uma vez firmada a prepon-

qual descem os productos de quasi

derancia do porto de Santos, e as-

toda a sua lavoura, e sobem os que

sentadas ali as primeiras casas de

consome do exterior.

commercio da provincia, que outra

Tempo virá em que os progressos

localidade menos favorecida pela na-

da industria e agricultura ao inte-

tureza poderá sustentar concurren-

rior ou parte montanhosa da provin-

cia com esta que tantas circumstan-

cia tornem precisas mais estradas

cias felizes convidão, forção mesmo

que a do Cubatão que desce na proxi-

a se desenvolver e a prosperar?

midade de Santos, e as que vão a S.

Assim a praça de Santos é e deve

Sebastião, a Ubatuba e a portos da

ser por longos annos a principal da

provincia do Rio de Janeiro. N’estes

provincia toda de S. Paulo, o que

proximos annos o mais razoavel e que

lhe dá maior importancia no ponto

revolta, em Santos, do soldado Francisco das Chagas, o ‘Tiradentes santista’

Diário Constitucional (BA)

Rio de Janeiro, a de Santos póde ir

acreditar o ministerio actual quando

chamando a si alguma parte dos meios

a trata do mesmo modo que as meno-

que se concentrão naquella, e res-

res localidades do imperio, a quem

tituir assim á provincia de S. Pau-

talvez por favor se tenha concedido

lo a importancia commercial que lhe

alfandegas. Ou será talvez por causa

compete por sua numerosa população,

d’essa mesma importancia e esperan-

morigerada e trabalhadora, e seu ex-

çoso futuro que lhe lanção tantas

cellente porto de mar?

pêas os chamados estadistas, que até

Como quer que seja, ou futeis,

mesmo na industria e commercio que-

ou impoliticos e desleaes os motivos

rem perfeita concentração, e que na

em que se funda o gabinete de 29 de

praça do Rio de Janeiro se fação to-

setembro, o que é certo é que luta

das as transacções dos mercados vi-

debalde contra forças poderosas que

sinhos com prejuizo dos interesses

a natureza favorece, e que por fim

mineiros, paulistas, catharinenses,

hão de sahir victoriosas contra es-

rio-grandenses, etc.?

tes arrojos de uma concentração não

Será em rasão da nenhuma importancia, ou mesmo da pequena im-

só politica, porém até commercial e industriosa na côrte do imperio.

portancia da provincia de S. Paulo e

[...]

da praça e alfandega de Santos que o

Dizem-me mais que além da co-

ministerio de 29 de setembro incluio

lonia Vergueiro alguns fazendeiros

a esta em o numero daquellas alfan-

ricos, seguindo o seu bello exemplo,

degas que a principio tentou suppri-

têm

mir, como por vezes o declarou nas

mandar vir colonos, e tudo indica

camaras o Sr. Deputado Vianna? E que

que a provincia tomará a diantei-

vendo a indisposição que se levan-

ra na colonisação estrangeira. Isto

tava entre os proprios amigos, subs-

quer dizer que tambem se desenvol-

tituio depois pelos meios indirectos

verá sua agricultura, que augmenta-

de desanimação e suppressão que de-

rá sua exportação, o que verifican-

correm do decreto de 4 de julho?

do-se principalmente nos districtos

Ou porque, visinha da praça do

mandado,

ou

se

preparão

para

que se servem do porto de Santos,

Independência do Brasil e início do primeiro reinado

1822 jornais Espelho (RJ), O Sentinela da Liberdade (PE); deixa de circular o Correio Braziliense

A Imprensa e a Cidade de Santos

de vista commercial do que o parece

55

A Imprensa e a Cidade de Santos

dará a esta cidade a prosperidade que lhe auguramos, e para que está destinada. [...] Não são favores o que ella pede, é apenas justiça, é que seja tratada a provincia de S. Paulo com igualda-

56

de, e segundo a importancia que tem sempre tido e merecido no imperio. S.F. (C. Mercantil do Rio)

(Revista Commercial, 16 de fevereiro de 1852, páginas 1 e 2)

Dom Pedro I dissolve a Assembléia Constituinte e outorga a primeira Constituição Brasileira

1823 jornais O Tamoio, O Papagaio, O Macaco Brasileiro (RJ); extinta, A Gazeta do Rio de Janeiro passa a se chamar Diário do Governo; O Paulista (manuscrito)

7. O jornal Revista Commercial defende o progresso material do país, apesar de manter posição política conservadora em relação ao regime. Até o seu desaparecimento, em 1872, posicionou-se a favor da monarquia. Aqui ele registra, em maio de 1854, a inauguração da primeira linha férrea no Rio de Janeiro.

Inauguração da primeira linha ferrea no Brasil Todos sabem de que importancia

O vapor Nitherohy, que nos con-

é a abertura de uma estrada para um

duzio, atracou á ponte de Mauá ás 10

paiz novo, onde todos os meios de

horas da manhã, depois de uma hora e

communicação

meia de viagem atravez desta nossa

são

difficultosissi-

mos, pessimos e mui caros.

bella bahia. O trilho de ferro prin-

Se considerarmos que além de

cipia já ali e segue até o Fragoso,

ser uma estrada ordinaria uma fon-

em uma extensão de nove milhas, sendo

te de riqueza, communicando os lu-

sómente por ora composto de uma via.

gares mais remotos com os grandes

Dahi

seguimos

para

um

vasto

mercados, sendo o principal, e em

armazem de ferro e coberto (que ser-

nossa opinião, o unico meio de co-

virá de gare, ou deposito de carros,

lonisação entre nós, pensamos que a

etc.), que se achava elegantemente

inauguração de um caminho de ferro

preparado para a benção das possan-

é um acontecimento que deve marcar

tes locomotivas que ião estrear no

eternamente a sua data entre os me-

nosso paiz, e abrir-lhe um futuro

lhoramentos de que necessita o nosso

todo lisongeiro de engrandecimento,

paiz.

riqueza e civilisação. É sabido que os Estados-Unidos

Pouco tempo depois chegárão SS.

devem a sua prosperidade e o forma-

MM. II. acompanhadas por altos dig-

rem hoje um dos primeiros paizes do

natarios do Imperio, parte do cor-

mundo, fazendo já uma fatal concur-

po diplomatico, etc. achando-se já

rencia á velha Europa, aos immen-

aquelle recinto occupado pelas pes-

sos e faceis meios de commmunicação

soas gradas do paiz, e no qual via-

que cortão em todos os sentidos esta

se grande numero das mais distinc-

parte da America.

tas senhoras.

1825 jornais Compilador Mineiro, Diário de Pernambuco (existe até hoje)

A Imprensa e a Cidade de Santos

2 DE MAIO

57

A Imprensa e a Cidade de Santos

Benzerão-se logo as tres que de-

outros por meio de chapas de ferro

vião funccionar no dia, e á meia hora

de uma maneira solida, formando as-

depois do meio dia, seguio o primeiro

sim um todo.

comboi composto de uma locomotiva, 3

Estes coussinets, que são de

grandes carros de passageiros e um

uma moderna invenção em Inglaterra,

ultimo para mercadorias, etc. Em 23

apresentão a vantagem de economisar

minutos de ida e outros tantos de

os travessões de madeira em que na

volta, depois de uma pequena demo-

Europa são pregados os coussinets;

ra no Fragoso, voltamos a Mauá, onde

mas tem o inconveniente de tornarem

forão SS. MM. II. recebidas com mil

o caminho mais duro, repousando el-

vivas

frenetica,

les immediatamente sobre a arêa, por

que não só da côrte como mesmo das

não existir mais um corpo elastico

circumvisinhanças

entre o coussinet e a arêa.

de

uma

população tinha

concorrido

para um acto tão solemne e de tanta

58

importancia para o Brasil.

No Brasil onde existe a madeira e onde o ferro nos vem do estrangeiro

Pelo exame rapido que nos foi

julgamos que não ha verdadeira eco-

possível fazer do caminho de fer-

nomia em substituil-a por este ul-

ro nesta occasião, pareceu-nos elle

timo, attendendo sobretudo que dahi

muito solido e assaz bem construido.

resulta um caminho menos elastico.

As linhas ferreas (rails) são presas

As locomotivas são dos Srs. Fair-

nos differentes coussinets da mesma

bairn & Sons, um dos melhores cons-

maneira que geralmente é emprega-

tructores inglezes e achão-se montadas

da na Europa. Os coussinets

com o seu tender sobre seis rodas.

formão

corpo com o fundo exterior de uma

Os carros dos passageiros são

especie de panella ou bacia (tudo

muito compridos, pouco mais ou menos

fundido ao mesmo tempo), que des-

duas vezes mais que os que habitu-

cança immediatamente sobre a arêa:

almente são empregados na Europa, e

estes coussinets são ligados entre

por consequencia de difficil passa-

si por meio de uma barra de ferro,

gem nas curvas de pequeno raio, por

a fim de conservarem o parallelismo

não ser possivel que os seus eixos

dos rails, que são emendados uns aos

se movão n’um plano horisontal.

fundação das faculdades de Direito de Olinda e de São Paulo

1827 jornais A Aurora Fluminense; Farol Paulistano, o primeiro impresso em São Paulo; Diário de Porto Alegre

muito pequeno, resultando d’ahi que a

uso frequente do grande material de um caminho de ferro.

passagem do comboi n’ellas deve ter

A 1ª. corrida como as duas ou-

lugar sempre com pequena velocidade,

tras, forão muito concurridas e fei-

a uma differença muito sensivel do

tas com o melhor exito.

rail exterior da curva ao interior.

Depois da benção das locomo-

Com o systema empregado neste

tivas o Sr. Irenêo Evangelista de

primeiro caminho de ferro, e para

Souza dirigio a S.M. o Imperador uma

andar com a velocidade acostumada

allocução tendente á memoravel inau-

na Europa, seria necessario maiores

guração do primeiro caminho de ferro

raios nas curvas, ou então modificar

no Brasil, á qual S.M. o Imperador

os eixos como ultimamente propoz o

dignou-se responder:

Sr. Arnoux (inventor e director do

“A

directoria

da

estrada

de

engenhoso caminho de ferro de Paris

ferro de Mauá póde estar certa de

a Sceaux, que percorre facilmente

que não é menor o meu jubilo ao to-

com grande velocidade curvas até de

mar parte no começo de uma empreza

25 braças de raio).

que tanto ha de animar o commercio,

A ultima idéa do Sr. Arnoux, de

as artes e a industria do imperio”.

tornar os eixos movediços em posição

Assim que SS. MM. II chegarão

horisontal valeu um bello relatorio

da primeira corrida da locomotiva,

do corpo de engenheiros de França e

o Sr. ministro do imperio convidou

é ensaiado com muito bom exito em al-

o Sr. Irenêo a ir beijar a mão do

gumas das grandes linhas deste paiz,

Monarcha, que acabava de conferir-

como a do caminho de ferro do Norte,

lhe o titulo de barão de Mauá, em

apresentando não só as vantagens de

remuneração dos importantes servi-

se poderem applicar curvas de peque-

ços que prestara ao paiz. [...]

nos raios, e por consequencia diminuir muito as differentes despezas

(Revista Commercial, 8 de maio de

de construcção das vias ferreas, como

1854, página 1)

tambem as de evitar em grande parte o

1828 Guerra da Cisplatina

A Imprensa e a Cidade de Santos

As curvas nos parecerão de raio

59

8. Nesta pequena nota, publicada no dia do lançamento de O Commercial, em 16 de agosto de 1857, o jornal comenta o projeto da estrada de ferro. Semanal e com linha política, o jornal circulou por menos de três anos.

A Imprensa e a Cidade de Santos

ESTRADA DE FERRO Consta-nos que no vapor Josephina sahido deste porto no dia 11 do corrente seguiram para a corte os engenheiros encarregados de levantar o plano da projetada estrada de ferro, levando este trabalho ja concluido. Agora que se acha pro-

60

vada a possibilidade da obra, confiamos que se desvanecerão as difficuldades, e se ha de realisar este

importante

melhoramento

tão

vivamente almejado pela provincia de São Paulo. (O Commercial, 16 de agosto de 1857, página 2)

jornal O Observador Constitucional, o segundo impresso em São Paulo

1829

9. Publicado no jornal Revista Commercial em maio de 1860, o discurso abaixo foi pronunciado por Martim Francisco Ribeiro de Andrada (II), quando do início das obras da estrada de ferro Santos-Jundiaí. A ferrovia seria inaugurada sete anos mais

e

a producção de todos os municipios

vós senhores, que de diversos pontos

Santistas!

Irmãos

queridos

do sul da provincia, e a par da ri-

da provincia viestes honrar esta au-

queza bem adquirida, esta quasi sem-

gusta ceremonia, consenti que o mais

pre a civilisação e a moralidade.

humilde dos que por ella fazem vo-

Olhemos,

senhores,

para

essa

tos, traga do coração aos labios as

nacionalidade, que tantos progres-

phrases que o enthusiasmo gera.

sos fez nos dominios da industria.

Eis o dia: eis a hora! eis o

Na patria de Washington, o guincho

momento solemne em que a patria dos

da locomotiva no deserto é creador,

heróes se enflora com o laurel que o

e ao fiat lux da industria surgem

progresso offerta, e que a civilisa-

as povoações como por encanto! Eis o

ção prepara!

exemplo que nos cumpre a seguir!

Não é o triumpho sangrento que

Possa esta festa pacifica da

banha com tepido pranto os olhos da

industria, não ser amarga á obreza

viuva e do orphão que vindes cele-

honesta, nem fatal ao templo, que a

brar, senhores! É o triumpho augusto

devoção dos fieis levantou ao Autor

da intelligencia sobre a materia,

do Mundo! Abandonar o lar que nos

da industria sobre a immobilidade!

escutou o primeiro balbuciar da in-

longe, bem longe dos prognosticos do

fancia, é bem amargo; não dormir o

egoismo! O progresso que ora tem en-

ultimo somno onde se vio despontar

tre nós o systema de viação, não é

a primeira aurora, é um pensamen-

exclusivo de uma só povoação; San-

to acerbo, para os desherdados da

tos, S. Paulo, Jundiahy, hão-se au-

fortuna!

ferir lucros mais directos desta em-

Ver o templo augusto que es-

preza, mas ella ha de influir sobre

cutou nossas preces mutilado pelo

assassinato do jornalista Libero Badaró (SP), a mando de Dom Pedro I

1830 jornal A Voz Paulistana

A Imprensa e a Cidade de Santos

tarde.

61

A Imprensa e a Cidade de Santos

62

martelo, dõe no fundo d’alma aos que mais de uma vez no seu sacrario ele-

merecem ser saudados por nós! Mauá,

Monte

Alegre,

Pimenta

varão orações fervorosas ao Supremo

Bueno, são nomes, que d’ora avante

Ser!

os Santistas trarão impressos nas Confiemos, senhores, que os es-

páginas da gratidão, que, na phrase

crupulos da população serão atten-

colorida de um habil escriptor, é a

didos pelos distinctos cidadãos, que

memoria do coração! (applausos)

estão a testa d’esta grande empreza,

Perdoae ao humilde levitha do

e que a acção benefica daquelle que

templo do progresso as phrases tos-

todos os Brazileiros abençoão, e de

cas que o coração dictou, e que a

seu digno representante n’esta pro-

arte não havia preparado, e com to-

vincia, não faltarão ao povo de San-

das as forças que vos dá uma con-

tos n’esta emergencia.

vicção sincera e robusta acompanhar

Senhores, os que se devotão ao paiz

impellidos

pelo

patriotismo,

pondo a margem os terrenos e mes-

o viva que vou levantar: - Vivão os protectores da estrada de ferro de Santos a Jundiahy!

quinhos interesses, terão um lugar distincto no pantheon da historia! Os que sem receber um seitil,

(Revista Commercial, 18 de maio de 1860, página 2)

tomarão a peito esta grande empreza,

abdicação de Dom Pedro I; início do período de Regência

1831 jornais Correio Paulistano, Novo Farol Paulistano; O Buscapé, O Doutor Tirateimas, O Narciso, O Enfermeiro dos Doidos, O Minhoca (RJ)

A Imprensa e a Cidade de Santos

COTIDIANO E POLÍTICA

1832

jornal O Carijó (RJ)

63

10. O Progresso – Jornal Comercial, Noticioso e Literário era voltado principalmente às questões locais. Nesta curta nota, menciona o aumento da população por conta dos migrantes que vinham para Santos trabalhar nas obras da construção da

A Imprensa e a Cidade de Santos

estrada de ferro.

SEGURANÇA PUBLICA attenção

porque me todas as classes ha bons

dos Exms. Srs. Delegado de Policia

Chamamos

de

novo

a

e maus. Dizem-nos que um destes dias

d’esta cidade e Presidente da Pro-

fora evadida a casa de um marcineiro

vincia para a pouca ou nenhuma se-

por alguns individuos que vagavão

gurança em que estamos por falta de

ébrios pelas ruas pondo em sobresal-

força armada que faça o serviço noc-

to a familia d’esse pacifico artista

turno da cidade.

que socegado estava em sua caza.

Todos os dias chegão novas pes-

64

soas para trabalhar na estrada de ferro, e outras occupações, e nós

(O Progresso, 23 de agosto de 1860,

não sabemos quaes os seus costumes

página 3)

1833 jornais O Cabrito, A Marmota, O Burro Magro, O Par das Tetas (RJ)

11. O Mercantil - Jornal Noticioso, Comercial e Político foi fundado em agosto de 1867. Era ligado ao Partido Liberal, cujo ideário propagandeava com vigor. Ao completar um ano, passou a ter periodicidade diária. Neste texto, extraído da edição de 10 de outubro de 1868, a imprensa e seu poder multiplicador são exaltados.

Rio, 2 de outubro de 1868

Estamos

em

nossos

postos

de

honra. Não nos assustão as ameaças do poder.

recrutar, processar e prender; emfim todo o vasto apparelho official. A

nós

Pregar a idéa liberal em toda

sente-nos

extensão, em todos os seus desen-

imprensa.

outros

apenas

liberaes, o

exercicio

conda

volvimentos, extreme dos elementos

Porque, pois, tomão-se de sus-

estranhos que a vicião; clamar alto

to e terror diante da attitude que

contra a deturpação perfida de nos-

assumimos?

sas instituições; denunciar á execração do paiz os autores de nossas desgraças, tal é a nossa tarefa.

Porque atirão-nos insinuações perfidas? O instincto de conservação é

Para levá-la ao cabo só temos a

admiravel de sagacidade. Nossos ad-

imprensa, o mais bello e o mais ad-

versarios sentem que se a seu lado

miravel instrumento da civilisação

estão os elementos materiaes do po-

moderna.

der mundano, temos, os liberaes, por

Nossos adversarios fallão das eminencias do poder. Para esmagar as resistencias que ousa oppôr-lhes a consciencia

nós, a força mais poderosa do seculo – a força da idéa, centuplicada por esta alavanca movel denominada – a imprensa.

popular, a divindade protectora pôz-

O terror de que se mostrão do-

lhes nas mãos a força publica – um

minados, é a mais brilhante home-

exercito formidavel e uma poderosa

nagem á excellencia e grandeza de

armada -; a fortuna do Estado, o co-

nossa causa.

fre das graças, a faculdade de nome-

O erro não abre espaço por si;

ar e demitir em massa, o direito de

sem o apoio do poder e da força ma-

1834

jornal O Justiceiro (SP)

A Imprensa e a Cidade de Santos

IMPRENSA LIBERAL

65

A Imprensa e a Cidade de Santos

66

terial, elle esváe-se á luz da intelligencia como tenue fumo ao sopro do vento.

Tal a causa dos terrores de nossos adversarios. Que lhes monta a posse indis-

Se no fundo de nossa causa es-

putada do poder publico, se contra

tivesse o erro, nossos adversarios,

elles actúa com indomavel energia a

senhores

força da idéa?

do

poder

chancearião

de

nossos esforços. Mas a idéa liberal é a verdade

(Do Diario do Povo)

dos tempos modernos. Illuminem-na ao clarão da imprensa, e ella, como o fogo do céo,

(O Mercantil, 10 de outubro de 1868, páginas 2 e 3)

ha de romper triumphante todos os travezes que lhe levantão os sophismas do absolutismo, os calculos de interesses sordidos e as machinações da hypocrisia.

Revolução Farroupilha (até 1845)

1835

jornal O Paulista Oficial

A Imprensa e a Cidade de Santos

O Mercantil, fundado em agosto de 1867, propagandeava com vigor o ideário do Partido Liberal. Ao completar um ano, passou a circular diariamente. Fundado por Manoel Raposo de Almeida, foi um dos principais concorrentes do Revista Commercial, o primeiro jornal santista. Mas O Mercantil deixou de circular dois anos depois.

67

12. Com o fechamento do jornal Revista Commercial, em fins de 1872, o Diário de Santos passou a ser o grande jornal da cidade, tendo participação ativa nas campanhas abolicionista e republicana. Em seu terceiro dia de circulação, o alvo do editorial

A Imprensa e a Cidade de Santos

de capa é a atuação da polícia local.

12 de outubro de 1872 Incessantes clamores se levan-

Contracte a companhia sua ron-

tam contra o procedimento da policia

da como se faz na corte, pois é es-

desta cidade, que persegue a guarda

tipendiada

nacional apesar das garantias e pri-

e

vilegios que a cercam.

totalmente ás obrigações da força

Dizem alguns que procedem assim

68

em virtude de ordem do actual dele-

tem

pelos

interesse

cofres a

publicos,

zelar,

alheios

publica, que muito tem em que se occupar.

gado, que, sendo empregado da casa

Vemos as praças servirem de bi-

do commandante superior, não duvida

lheteiros no theatro, e mantenedores

praticar tão grande attentado.

nos cavallinhos, e outras vezes pos-

Nada entretanto podemos ao cer-

tadas em frente ás casas commerciaes

to garantir, mas é fóra de questão

ás ordens de seus amos, que por sua

que estando a policia sob as ordens

vez são caixeiros, e apesar de tanto

do delegado, é elle responsavel mo-

ordenança, e tanta farça de solda-

ral perante a opinião.

dos, querem ainda mais!

Admira como sendo s. s. tenente

Tal é a porção que temos que

dessa guarda briosa, e recommenda-

sobra ainda para conduzir escravas

vel por tantos titulos, equipara-a a

do delegado de policia, e assistir

pretos fugidos!

os castigos por elle determinados.

Pede-se hoje augmento de força,

Temos concluido que o commando

quando o numero de praças é bastante

superior não tem apoio ou affeições,

para o publico serviço, mas allega-

pois ao contrario não haveriam pra-

se que é mister mais força porque os

ças de guarda nacional mais de qua-

lampeões carecem de guarda á noite.

tro mezes destacadas, e menos ainda

1837 Jornal do Commercio publica a primeira caricatura, de autoria do pintor Manoel de Araújo Porto-Alegre

fortaleza.

presidencia improvisa financeiros,

Pretexta-se fazer

prisões

Aguardemos o futuro, já que a

embriaguez

caprichosas,

para impro-

e paga liberalmente aos censitarios commissionados.

visam se flagrancias, persegue-se a guarda nacional, emfim tudo se pra-

(Diário de Santos, 12 de outubro de

tica porque a impunidade é um facto

1872, página 1)

consummado. Mas o delegado julga bem desempenhar suas funcções e o governo acha que elle é bom, e está no caso de continuar a servir. Que o governo assim pense, é natural, mas que o delegado insista em sua continuação, parece-nos na verdade extraordinario!! Desde que temos promotor negociante, e que accumula o lugar de advogado da camara, nada nos é dado mais admirar.

1838 jornais O Observador Paulistano e A Lanterna Mágica, que publica a primeira caricatura no país

A Imprensa e a Cidade de Santos

a deserção em massa que se deu na

69

13. Em julho de 1908, o jornal Cidade de Santos, em circulação desde 1898, publica esta violenta recepção a um novo periódico que, segundo ele, estaria a serviço dos interesses da prefeitura e de membros do Partido Municipal. Não foi possível

A Imprensa e a Cidade de Santos

apurar a que título o texto se refere.

70

NOVO D. QUIXOTE Appareceu na arena jornalistica da terra um novo contendor, arma-

que a construcção não desmoronasse antes de chegar ao fim.

do de ponto em preto, armadura pro-

Como

exercicio

de

paciencia,

tectora, viseira descida e lança em

não se pode negar que não tenha a

riste, avançando a medo alguns pas-

sua utilidade, que não traga algu-

sos, como se quizesse experimentar

ma experiencia para o futuro, que

a força dos adversarios.

não indique no novo architecto uma

Coxeou, porem, na primeira en-

tal ou qual inclinação para cons-

trada e é de crer que o novo palladi-

trucções dessa natureza, que dis-

no não tenha pernas em que se possa

trahem as creanças e as impedem de

firmar, para esgrimir duro e firme

fazer algum estropicio. Antes assim!

durante a pelleja em que se veio

á falta de doce, brinquedos e quando

metter

não se contentam com elles, meia du-

expontaneamente,

pensando

levar tudo de vencida.

zia de palmadas fazem a conta.

Novo d. Quixote, em vez de moi-

A dona do novo cavalleiro an-

nhos de vento, contenta-se em cons-

dante

truir para ter o gostinho de os der-

para defendel a entrou na liça e é

rubar, simples Castellos de cartas,

de crer que, para conservar lhe as

podendo assim contar em cada assalto

boas graças e merecer lhe os attrac-

uma victoria.

tivos favores, se mostre digno da

Gostamos brinquedo

de

vel

innocente

o

dos

naquelle castelli-

é

a

matrona

da

Prefeitura;

sua digna Dulcinéa. Decahida

da

sua

virtude

de

nhos de cartas, tenteiando o estylo

Vestal, a Prefeitura tem andado ex-

com todo o cuidado e paciencia para

posta a todos os baldões, soffrido

elevação de Santos à categoria de cidade

1839

alguns senhores vereadores, membros

encontrasse alma bastante generosa

do Partido Municipal, que a manejam

e animo bastante ousado, que arris-

á sua vontade e de accordo com os

casse um golpe em sua defeza. E a

proprios interesses.

nobre attitude do novel cavalleiro,

Homem sem conhecimentos e sem

não pode deixar de merecer os ap-

amor proprio, incapaz de medir as

plausos da turba, tomando a causa de

consequencias de qualquer acto que

uma criminosa desprotegida, abando-

pratique, a não ser pelo interes-

nada da sorte e dos amigos, entregue

se immediato, o Prefeito de Santos

ás consequencias fataes do seu pre-

é uma irrisão, atirada á cara do

ceder pouco honesto.

povo pelas paixões politicas de um

As suas faltas ahi estão em

partido sem homogeneidade, sem tra-

publicos libellos, que a lança do

dicções, sem programma e sem forças

cavalleiro, por mais afiada e dex-

para vencer as difficuldades de mo-

tramente brandida, não será capaz de

mento, a não ser pela má fé, pela

anniquillar, salvando lhe a reputa-

burla e pela audacia que poz em cam-

ção, que barateiou impudicamente, em

po nas vesperas da eleição.

transacções interesseiras.

Alcançado o poder, que era o

Não deve, pois, ser falha de

seu unico objectivo nunca mais fez

interesse a defeza dessa apatacada

cousa alguma, a não ser a divisão

matrona, que só depois de arrastada

dos dinheiros publicos entre os pro-

pelas ruas da Amargura, como casti-

tegidos e correligionarios.

go das suas culpas, conseguiu topar

E nisso se tem cifrado toda a

um defensor, que se propõe arrostar,

sua actividade, todo o seu esforço,

num rasgo de generosidade, as con-

todo o seu programma.

vicções de um povo, que tolera por indifferença mas que não se deixa

(Cidade de Santos, 22 de julho

vencer por ignorancia.

de 1908, página 1)

A

Prefeitura

nesta

cidade

é

presentemente um joguete nas mãos de

fim da regência; aos 14 anos, Dom Pedro II assume o trono

1840

1842

Jornal O Governista substitui O Paulista Oficial

A Imprensa e a Cidade de Santos

de cara os maiores insultos, sem que

71

14. Em janeiro de 1909, o jornal independente A Vanguarda, que se intitulava Diário da Manhã, comenta as próximas eleições para a Câmara e o Senado Federal. Na nota seguinte, defende o comércio local frente à poderosa Companhia Docas de Santos.

A Imprensa e a Cidade de Santos

Surgido em 1908, o periódico circulou durante quatro anos.

72

ELEIÇÕES Realisam-se

hoje

as

eleições

para renovação da Camara Federal e

Os eleitores vão votar... Nós, que só poderemos applaudir

do terço do Senado. Em todo o paiz

victorias

eleitoraes

quando

ellas

agitam-se os cabos politicos e exer-

symbolisarem uma victoria do povo

cem as olygarquias o seu poder so-

contra os seus oppressores, limita-

berano sobre um eleitorado desmo-

mo-nos, pois, a pedir aos indepen-

ralisado e frouxo, inconsciente dos

dentes que votem no velho e honra-

seus direitos e dos seus deveres.

do democrata sr. Antonio Moreira da

A prova desse gráo de aviltamento

Silva.

a que chegou o eleitorado brazileiro teremos dentro de alguns dias, quando o telegrapho communicar-nos

(A Vanguarda, 30 de janeiro de 1909,

que bem poucos foram os candidatos

página 1)

independentes triumphantes. E assim, por mais tres annos, uma choldra politica que assaltou o poder, continuará a dominar o paiz, fazendo negociatas com capitalistas extrangeiros e transações vergonhosas com os monopolisadores das industrias rendosas a custa de um indecente proteccionismo.

1844 Jornal A Lanterna Mágica, primeiro avanço técnico da imprensa brasileira

fundado em 1908 e seu

A Imprensa e a Cidade de Santos

O jornal A Vanguarda foi

redator-chefe, Silvino Martins, era filiado ao Partido Republicano. De cunho independente, intitulava-se Diário da Manhã e defendia o comércio local, opondo-se à poderosa Companhia Docas de Santos.

73

15. Nesta nota, o jornal independente A Vanguarda defende o comércio local frente à poderosa Companhia Docas de Santos.

A Imprensa e a Cidade de Santos

COM A DOCAS A Companhia Docas de Santos, no

A Companhia Docas deve lembrar-

costumeiro habito de sugar a huma-

se que o commercio contribuinte tem

nidade e aquelles que lhe dão a vida

o direito de exigir maior attenção

com o trabalho quotidiano, deu agora

para os seus interesses, porque para

para fazer economias em prejuizo do

isso paga e não pouco.

commercio.

74

Assim é que depois das 3 horas da tarde, quando o trabalho é mais

(A Vanguarda, 14 de janeiro de 1909,

apertado, o pessoal do escriptorio,

página 1)

fica attonito com o serviço a seu cargo, porque sendo pequeno o numero de empregados, as partes, com direito justo, exigem o desembaraço de seus despachos e os pobres empregados vêm-se atrapalhados para atendel-os.

governo inglês institui o Bill Aberdeen, proibindo o tráfico de escravos no Atlântico

1845

1849 jornais Revista Commercial, o primeiro de Santos; O Ipiranga (SP)

16. O jornal A Vanguarda tinha como redator-chefe Silvino Martins, que era também membro do diretório do Partido Republicano Conservador. Nesta coluna, de fevereiro de 1909, trata de questões ligadas à exportação de café e defende os interesses de Santos. SEMANA FINANCEIRA

O CAFÉ A semana que se findou foi pre-

a Brazilian Warrants Company, com um

nhe de acontecimentos em relação ao

capital de 300 mil libras, subscrito

café. O governo pagou aos srs. E.

por tres importantes casas londri-

Johnston & Comp. a quantia de 3.125

nas, e que tem por fim a construc-

libras, primeira prestação trimes-

ção de grandes armazens em S. Pau-

tral do contracto para a propaganda

lo, para entreposto de café contra a

do café na Inglaterra, e em Londres

emissão de warrants.

a São Paulo Coffee Company, inaugurou as vendas publicas, no mercado de Mincing Land, de cafés verdes sob

E, com o digno fecho das boas noticias sobre a famosa rubiacea,

cumpre-nos

lembrar

a denominação São Paulo, alcançando

que anda pelo interior do Estado, em

preços nunca vistos os cafés chama-

activa e proficua viagem de propa-

dos Santos e o café da marca [-].

ganda o nosso presado collega do Il

Como si não bastasse essa agra-

Secolo, dr. Antonio Piccarolo, que

davel noticia, vinda da Inglaterra,

levantou a idéa de se estabelecer a

da Italia tambem tivemos boas novas.

troca do café pelo vinho italiano,

Doze cooperativas de consumo de Mi-

por meio das cooperativas da Ita-

lão realisaram uma sumptuosa fes-

lia, resolvendo-se a crise vinicola

ta de propaganda do café brasileiro,

que assoberba a patria de Dante e a

distribuindo aos que a assistiram

crise do café que perturbou a marcha

50 mil chicaras de café, manipulado

ascendente do nosso progresso.

segundo os costumes do nosso paiz, e sem [-] alguma de chicorea.

A nota triste, quanto ao café, deu-a na semana finda o governo do

Ainda na Inglaterra trata-se da

Estado. A lei absurda de de 25 de

constituição de uma grande empreza,

agosto de 1903, que creou embaraços

abolição do tráfico negreiro; primeiras experiências com trabalho livre

1850

jornais O Mercantil e O Nacional (Santos)

A Imprensa e a Cidade de Santos

Santos, 6 de fevereiro

75

A Imprensa e a Cidade de Santos

76

á exportação do café, limitando a

E o secretario, em vez de re-

nove milhões de saccas a exportação

solver logo sobre a interpretação da

do anno agricola de 1908-1909 (1º. de

lei, como era de seu rigoroso dever,

julho de 1908 a 30 de junho de 1909)

entendeu que lhe era mais urgente

e estabelecendo o imposto addicional

ir dar um passeio até S. Manuel, em

de 20% ad-valorem para o excedente

visita aos seus cafezaes.

desse numero pre-estabelecido, vai

[...]

entrar em vigor dentro em pouco, e a Recebedoria de Rendas do Estado já declarou que não acceitará despacho

(A Vanguarda, 8 de fevereiro de 1909,

de café algum, depois de completo o

página 1)

numero de 9 milhões, sem o pagamento do imposto adicional de 20%. A Associação Commercial desta cidade, em judiciosa representação que dirigiu ao secretario da fazenda, sr. Dr. Olavo Egydio, pedia essa interpretação da lei citada, e, em telegramma, lembrou ao mesmo secretario uma promessa feita em oficio de 12 de Janeiro ultimo.

1851

jornais O Precursor e O Médico Popular (Santos)

A Imprensa e a Cidade de Santos

PRAÇAS, EPIDEMIAS E CANAIS

criação do Banco do Brasil

1853

77

17. Em 1860, circulava às quintas-feiras O Progresso – Jornal Comercial, Noticioso e Literário. No artigo abaixo, observa-se o que o periodismo convencionou chamar de nariz-de-cera, uma introdução tão longa quanto dispensável. Esta publicação

A Imprensa e a Cidade de Santos

desapareceu no mesmo ano.

78

NECESSIDADES LOCAIS A nuvem é grossa, e o adelga-

dia: menos a nossa menos o commercio

çal-a com os nossos escriptos seria

de Santos, que em logar de melhorar,

uma grande vantagem! O commercio e

conscienciosamente acreditamos que

os

arraigados

o seu systema tem peorado. Devido a

no seu pessimo systema, que só a

commerciantes

estão

que? Á ineptidão dos commerciantes?

alavanca os póde alluir.

Talvez não porque ha no seo seio

Trabalhar sem systema é marcar

bastante intelligencias capazes de

passo em terreno vicioso. Trabalhar

uma reforma para a sua melhoria; no

por ostentação e sem proveito, é re-

entanto não sabemos a que attribuir

trogradar; mas a mania de se dizer,

a sua falta de resolução: máo fado

- meu pai fazia assim, eu assim devo

pesa sobre este logar !

dizer. – é, sejamos francos, serem

[...]

seguidores de más rotinas, sem terem

Que

dispendio

viria

ao

com-

uma idéa nova para aperfeiçoarem o

mercio da organisação de uma praça,

que lhes foi legado imperfeito.

onde fossem conhecer as transacções?

Todo o homem e todas as cousas

onde organizassem um methodo razo-

são dignas de melhoramentos: e assim

avel para regularisarem o quantum

succede.

levariam pelo seu trabalho em com-

Basta considerar-se, já não dizemos a navegação e estrada de ferro;

missões, responsabilidades, e mais negocios?

consideremos as praças commerciaes

Ninguem se propõe a isso; o

e veremos se ainda estão, como come-

commercio é surdo, mesmo quando se

çaram? Não têem tomado o devido in-

trata dos seus interesses.

cremento, têem caminhado de dia para

jornais O Constitucional, primeiro diário paulistano, e O Paranapiacaba (Santos)

[...]

as quitandeiras de rua, e com ven-

commerciaram em Santos e nunca aqui

dilhões libertos , zungús, coitos de

houve praça de commercio! A resposta

pilhagem &c. &c. derramados por toda

é boa! Porque nossos paes nunca foram

a cidade; e por isso na impossibi-

peritos em commercio, nós tambem o

lidade de serem fiscalisados pela

não devemos ser: nossos paes traba-

policia, que aqui é bem deminuta.

lhavam de graça, nós tambem devemos

E,

como

trabalhar: nossos paes não nos le-

Como

garam nada, nós tambem nada devemos

fiscalisação?

pôr

evitar

tudo

ao

tudo

isto?

alcance

da

legar; assim tudo o mais. Se aplicam

Fazendo uma praça de mercado

este raciocinio, em breve estaremos

onde tudo se vá vender, evita-se o

no tempo do barbarismo!

estarem immensas casas de pretos e

[...] Desengane-mo-nos

A Imprensa e a Cidade de Santos

Não querem; e dizem; nossos paes

pretas derramadas pela cidade, que crassa

só servem para protegerem a desmo-

ignorante avassalla tudo, ou o com-

ou

a

ralisação, e de coito a vadios; mas

mercio de Santos está condemnado a

como dissemos, não podem ser fisca-

ser sempre escravo pela sua má ver-

lisados pela falta que ha actualmen-

sação em negócios. Se elles não se

te e que sempre houve de pessoal na

unem, não se harmonisam, não buscam

policia.

um centro para se tornarem fortes....

[...]

Ao contrario, cada um de per si bus-

Conhecemos um bom local para

ca dominar só, para guerrear o res-

se fazer uma boa praça de mercado, e

to; e n’este intuito jamais chegarão

bem no centro da cidade.

a um accordo rasoavel e de interesse futuro.

Coberto o ribeiro que fica entre o Arsenal e a casa de Santa cruz,

[...]

desapropriado o quintal do Carmo,

Carecemos de uma praça de mer-

que para isso for necessario, pode

cado, para acabar por uma vez com

fazer-se um portão na rua Direita,

1854

jornais O Correio Paulistano, Revista Mensal do Ensaio Filosófico Paulistano

79

A Imprensa e a Cidade de Santos

80

em frente ao ribeiro, coberto, outro

esta obra tão necessaria ao melhora-

na rua do Campo, o primeiro fica com

mento; porque alem de serem mesqui-

communicação para o mar, para fa-

nhos os seus rendimentos ella tem se

cilitar a conducção do pescado para

empenhado com outros melhoramentos;

a praça, e de muitos generos que

com tudo demostraremos no seguinte

vêem dos sítios, que os mandarão ao

numero o meio de para essa obra se

mercado.

obter recursos e as vantagens que a

No meio da praça póde obter-se

mesma camara dahi pode tirar; de-

com muita facilidade um chafariz,

monstraremos mais a necessidade de

porque da agoa que vem para o largo

uma praça de mercado, pelo decresci-

póde tornar-se um ramal. O ribei-

mento de braços para o serviço do-

ro que passa no meio do quintal do

mestico e a difficuldade de obtel-

Carmo, é já uma grande vantagem, por

os, que se sente de dia para dia.

servir de esgoto ás águas, não só das chuvas, como quando se lavar a

(O Progresso, 23 de agosto de 1860,

praça; vantagem esta que se diffi-

páginas 1 e 2)

culta n’outro qualquer logar. Sabemos que a nossa camara, não está na possibilidade de emprehender

inauguração da primeira ferrovia do país, ligando o Rio de Janeiro a Petrópolis

1855 jornais A Vila da Redenção, A Procelária, O Incolor, O Reclame, Farpas, O Colibri, O Bilontra e Cidade de Santos (Santos)

18. As epidemias foram um sério problema enfrentado por Santos no século XIX. Neste editorial, publicado em julho de 1872, poucos meses antes de seu fechamento, o jornal Revista Commercial comenta o surto de varíola e exige providências das

Continua

a

grassar

a

bexiga

de lamentar que composta de Paes de

nesta cidade e esta enfermidade que

familia tenha posto á margem tão

existe incubada desde Janeiro; de-

grave assumpto, aliás de sua priva-

senvolve-se agora com tal força que

tiva competencia.

está reconhecida como epidemia.

O artigo 69 da lei de 1º. De Ou-

Grande numero de pessoas tem

tubro de 1828 terminantemente dis-

sido attacadas deste mal que segundo

põe que ás camaras municipaes per-

se afirma se apresenta com pessimo

tence curar em que se vaccinem todos

caracter, e casas ha que contam a um

os meninos dos districtos, e adultos

tempo mais que quatro enfermos.

que não tiverem sido: e no entre-

Ninguem ignora a gravidade do

tanto além de nossas publicações ,

mal sobretudo na estação que atra-

nada temos observado com relação a

vessamos; ninguem desconhece os hor-

esta providencia que constitue uma

rores e sobresaltos que o desenvol-

das mais bellas attribuições destas

vimento de uma epidemia desta ordem

corporações.

traz á sociedade; e no entretanto

É tempo ainda de tratar-se se-

nenhuma medida nos consta no senti-

riamente do caso, e a camara certa-

do de convencer-se ao povo da neces-

mente intervirá para a realisação da

sidade da vaccina.

prescripção legal, visto interessar

Bem comprehendemos que muitas são as necessidades do municipio, reconhecemos

que

a

actual

a todos. Uma commmissão organisada em

camara

cada districto debaixo das vistas

tem prestado importantes serviços,

e indicação da edilidade poderá ser

mas não podemos igualmente deixar

encarregada de aconselhar pelas ca-

1856 jornais O Patriota, Diário da Manhã, O Dever, A Verdade (Santos)

A Imprensa e a Cidade de Santos

autoridades.

81

A Imprensa e a Cidade de Santos

82

sas a adopção do recurso medico, e

tando-se com verdadeira dedicação,

marcando-se dias no paço municipal

mas falta quem compilla o povo a

com previa audiencia dos facultati-

procural-os, para dest’arte salval-o

vos que deverão alternar para pode-

do cruento mal que tanto o liotili-

rem dar vasão ao serviço, parecia-

sa já.

nos util que por editaes assim se

Não era intento nosso occupar-

annunciasse a vaccina, estatuindo-

mo-nos pela imprensa, deste assump-

se a obrigação de voltarem os vacci-

to, mas o despreso que observamos a

nados para a extracção do puz, como

isso obriga-nos.

procedeu-se na provincia do Rio, em

Não convém dormir, não convém

virtude da lei provincial n. 378 de

que sejamos indifferentes a este es-

7 de Maio de 1846 mandada observar

tado de cousas; é preciso lembrar-

por todas as camaras pela lei n. 538

mo-nos de que o mal que soffrermos

de 19 de julho de 1850.

affectará as povoações visinhas, e

Temo-nos dirigido os Drs. Moy-

sobre nós terá de recahir toda a

sés, Cunha Moreira e Frederico, e

culpa das desgraças que assolarem

com verdadeiro prazer dizemos, en-

seus habitantes.

contramos estes facultativos cheios

Por nossa parte julgamos ter

de nobre enthusiasmo pela salubri-

cumprido a missão de jornalista de-

dade

pouco

nunciando ao povo e ao governo o

caso em que é tida a vaccina entre

abysmo que se abre aos pés dos habi-

nós, onde infelizmente só erguem-se

tantes desta cidade.

publica,

admirados

do

pedestaes aos prejuízos, e ás idéas inaceitáveis. Temos tres vaccinadores pres-

1857

jornais O Guayaná e A Academia (SP)

(Revista Commercial, 6 de julho de 1872, página 1)

19. A partir de 1871, o jornal A Imprensa passou a ser redigido pelo bacharel e poeta Joaquim Xavier da Silveira. Nestas duas pequenas notas de 1874, o texto enfoca a epidemia de varíola que então grassava em Santos e na província. Xavier da Silveira

RIO CLARO Devido

a

peste

das

bexigas

victimas, já ha feito.

n’aquella localidade, tem os preços

Não são só dignos de louvores e

dos generos attingido á tal eleva-

da estima publica aquelles, que dis-

ção, que a fome entre a pobreza já

pondo de recursos pecuniarios prote-

se faz sentir.

gem a população desvalida montando

Felizmente o espirito philan-

enfermarias para o seu tratamento;

tropico de seus habitantes tem pro-

tambem aquelle que não dispondo des-

curado de alguma fórma metigar os

ses recursos procura pelos meios ao

soffrimentos fornecendo quantias e

seu alcance aliviar a humanidade so-

generos ao Sr. Candido Valle para

ffredora, torna-se credor de louvor

serem destribuidos pela pobreza.

e da estima publica.

(A Imprensa, 9 de março de 1874,

acaba de offerecer a população desta

página 2)

cidade, como preservativo contra a

O Sr. Carlos Pedro Etchecoin

variola, ou pelo menos para minorar

Á PEDIDOS

os terríveis effeitos della suas Pilulas Paulistanas. É uma acção meritoria, que aca-

Na quadra calamitosa, que atra-

ba de praticar o Sr. Etchecoin a quem

vessa esta cidade flagellada pela

os habitantes desta cidade ficarao

variola, um homem tocado dos senti-

gratos,

mentos humanitarios, que o animão, e

TIL

cheio de caridade, vem tambem com o seu fraco contingente concorrer para

(A Imprensa, 27 de julho de 1874,

debellar esse flagello que tantas

página 3)

1859 jornais Revista Literária, O Ytororó, Esboços Literários e Revista da Academia de S. Paulo (SP)

A Imprensa e a Cidade de Santos

faleceria, vitimado pela doença, em agosto desse mesmo ano.

83

A Imprensa e a Cidade de Santos

Criado em 1870, o jornal A Imprensa passou a ser re-

84

digido no ano seguinte pelo bacharel e poeta Joaquim Xavier da Silveira, que nele defendia ardorosamente seus ideais abolicionistas e de liberdade de consciência, a moralidade política e a construção do cais santista.

20. A inauguração do primeiro trecho dos canais de Santos, em agosto de 1907, mereceu este artigo de capa no jornal Cidade

das

está passando a cidade, foi o pri-

obras de Saneamento desta cidade,

meiro passo para o seu saneamento e

constitue um facto digno de todas

para a conquista do renome de cidade

as attenções e louvores, por parte

hygienica e commercial que tem ad-

d’aquelles que sinceramente se inte-

quirido á custa de grandes sacrifi-

ressam pelo progresso, pelo bom nome

cios, com uma persistencia digna dos

e pelo aformoseamento de Santos.

grandes emprehendedores e de quem

A

inauguração

de

parte

É já um facto comprovado o estado hygienico desta cidade, que tão

está acostumado ao trabalho constante e rehabilitador.

pessima reputação creou em tempos

Desde esse momento, iniciou-se

idos, devido ao abandono em que os

para esta cidade uma nova era de me-

poderes publicos a deixavam, como

lhoramentos indispensaveis, que lhe

votada ao exterminio.

tem modificado o seu aspecto pri-

Cidade de um futuro incontes-

mitivo, tornando-a uma cidade uma

tavelmente grandioso, graças á sua

cidade á altura do papel que lhe

posição geographica, á superioridade

está reservado nas relações entre os

do seu porto maritimo, que a tor-

grandes emporios commerciaes. O Governo do Estado, que era

na o ponto forçado de communicação com todas as partes do universo, a

accusado,

cidade de Santos, começou ha pouco

de

a conquista da sua forçada posição

aos proprios recursos, tomou a ini-

entre as grandes cidades, abertas ao

ciativa do seu saneamento, quando

commercio internacional.

presidente o sr. Dr. Bernardino de

A grandiosa obra iniciada pela

deixar

justa esta

ou

injustamente,

cidade

abandonada

Campos.

Companhia Docas, saneando as mar-

A epoca dos grandes melhora-

gens do canal maritimo, que ainda

mentos, não estava porem iniciada

ha pouco não passavam de miasmati-

no Rio, e a principio todas as gran-

cos lamaçaes, foi o ponto de partida

des obras que iam ser iniciadas nes-

para essa grandiosa reforma porque

ta cidade não passavam de um sonho

1860

jornal O Progresso (Santos)

A Imprensa e a Cidade de Santos

de Santos, publicação fundada em 1898.

85

A Imprensa e a Cidade de Santos

86

vago, aereo, sem forma nem feitio,

realidade pratica, depois que o sr.

uma especie de miragem seductora,

Dr. Jorge Tibiriçá assumiu o gover-

que nos attrahia e nos fascinava.

no do Estado, tendo como secretario

Falava-se em milhares de contos

da agricultura e obras publicas o

que o governo ia dispender, e essa

sr. Dr. Carlos Botelho, incansavel

miragem cada vez mais se afastava

no desempenho da missão que lhe foi

dos nossos olhos no dizer da des-

confiada.

crença, sem um oasis para reconfor-

Ao sr. Dr. Saturnino Rodrigues

tar o desanimo dos que se deixavam

de Brito, incontestavelmente uma das

invadir pela descrença nos nossos

glorias da engenharia nacional, se

homens politicos, pela falta de con-

deve o bellissimo plano geral, que,

fiança nos governos patrioticos.

sob sua direcção está sendo execu-

E os trabalhos para as gran-

tado para o saneamento da cidade,

diosas obras de Saneamento tiveram

plano de que hontem demos um ligeiro

iniciativa, trazendo assim uma es-

esboço.

perança, vaga embora, de que Santos

É um plano realmente grandio-

seria em breve uma cidade realmente

so, alliando a belleza á segurança,

digna de ser vista e admirada, não

a simplicidade ao conforto da sua

só relativamente á sua importancia

grandiosidade.

commercial, mas egualmente digna de

Concluidas que sejam as obras

admiração pela belleza de sua obras

de Saneamento, Santos pode orgulhar-

sanitarias.

se de ser uma cidade modernamente

A principio, o plano do sane-

original, sem inveja das que mais

amento do sr. Dr. José Pereira Re-

se destaquem pelas suas obras de

bouças soffreu discussões e modi-

architectura e da sua estabilidade

ficações,

sanitaria.

pois

esse

melhoramento

offerecia serios embaraços na sua execução. As obras só tiveram um cunho de

1861

jornal A Civilização (Santos)

Ao colossal movimento commercial do seu porto, alliará as suas bellezas naturaes e artisticas, a

natureza casando-se admiravelmente A Imprensa e a Cidade de Santos

com a arte, provocando a admiração dos touristes, mostrando-se ao mundo como um grande emporio e uma cidade modelo. São, pois, justas as homenagens que hoje presta a nossa municipalidade ao patriotico governo do Estado, e ao digno engenheiro-chefe das obras do Saneamento.

87

(Cidade de Santos, 27 de agosto de 1907, página 1)

Guerra do Paraguai

1863 jornal O Caboclo (Santos)

1864

21. O veterano Diário de Santos, em atividade desde outubro de 1872, registra a inauguração do primeiro trecho dos canais.

A Imprensa e a Cidade de Santos

Este jornal, que teve diversos proprietários durante sua longa existência, ainda circularia por mais 10 anos.

88

VARIAS Fugiriamos

ás

normas

que

salubridade, executadas sob a habil

adoptámos, ao programma que esta

e proficiente direcção do sr. dr. Sa-

folha executa, se não saudassemos

turnino de Brito secundado por seus

hoje ao Governo do Estado que vem

operosos auxiliares, rendemos ao sr.

inaugurar as obras da Commissão de

dr. Jorge Tibiriçá e seus companhei-

Saneamento.

ros de administração, a homenagem

Interessados pelo engrandeci-

a que têm direito, pelo serviço que

mento da terra santista, luctando

acabam de prestar á cidade de Santos

pelas formosas conquistas do pro-

o entreposto do Estado de S. Paulo.

gresso,

não

podemos

regatear

ap-

plausos aos governos que mostram comprehender

suas

necessidades,

vindo ao encontro de suas justissimas aspirações. Felicitando-nos

pela

inaugu-

ração das obras que visam a nossa

1864

jornal O Santista; O Diabo Coxo (SP), primeira revista ilustrada paulista

(Diario de Santos, 27 de agosto de 1907, página 1)

A Imprensa e a Cidade de Santos

LIBERDADE DE IMPRENSA

construção da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí pela São Paulo Railway Company

1867

jornais O Lírio e O Mercantil (Santos)

89

22. A CIVILISAÇÃO – FOLHA CONSAGRADA AOS INTERESSES GERAES DO PAIZ circulou em 1861, durante pouco tempo. Seu redator-chefe era o português naturalizado Augusto Emilio Zaluar, no Brasil desde 1850. Autor de Peregrinação pela Província de São Paulo, trabalhou também no Diário do Rio de Janeiro e no Correio Mercantil, ambos na Corte. O texto abaixo é assinado pelo bacharel Antonio Pereira dos Santos, vereador em Santos durante várias legislaturas, que havia dirigido o jornal

A Imprensa e a Cidade de Santos

O Ytororó em 1859 e se tornaria, em 1865, proprietário do Revista Commercial.

90

O REI DO SECULO Ha nas sociedades modernas um poder que, diffundindo a luz por todas as camadas

dente – a educação intellectual e moral dos povos.

do povo, é o mais

Menos solido e pretencioso, po-

poderoso instrumento de instrucção,

rém essencialmente mais democratico

liberdade, moralidade e civilisação.

e generalisador, o jornal presta-se

Este poder, que, qual Briaréo de cem

mais ás propagandas do que o livro.

braços, faz ouvir n’um só dia, n’uma

O jornal é a cartilha do povo,

mesma hora, n’um único instante, no

onde elle bebe diariamente a lar-

seio das multidões, reproduzida por

gos

mil bocas uniformes, a sua voz pro-

complexo e variado, reclamado pe-

phetica: este poder, que é o mais

las massas. Escripto de improviso,

estrenuo lidador no complicado de-

ao correr da penna, sob a impres-

bate de todos os problemas humani-

são do momento, inflammado sempre de

tarios: este poder, que é o verbo

paixão, rico de factos quotidianos,

do progresso inspirando o genio das

o jornal é a chronica periodica de

nações: este poder chama-se Jornal.

acontecimentos sociaes, o echo ins-

tragos

o

ensino

superficial,

Filho, o mais legitimo, da im-

pirado dos sentimentos populares, o

prensa, essa, de todas as grandes

pregoeiro vigilante das necessida-

descobertas, a mais fecunda e util

des publicas, o mantenedor denodado

ao aperfeiçoamento do genero huma-

da dama caprichosa e soberana de-

no, o jornal abraça um campo de es-

nominada opinião, o profligador im-

tudos vastissimo – a universalidade

parcial dos abusos e desmandos das

dos humanos conhecimentos, e tem por

autoridades constituidas e usufruc-

missão um commettimento transcen-

tuarios do poder.

1869 jornais Comércio de Santos, O Pirilampo e Correio de Santos (Santos)

de representação, a cujos reclamos são surdos os homens do poder, menos

da agricultura, mentor da industria,

artistico que o theatro, essa tri-

guia do commercio, campeão da or-

buna viva das nações cultas, onde,

dem e da liberdade, patrono sensato

para a missão da propaganda concor-

do (ilegível), defensor da autorida-

rem dous operarios, igualmente esti-

de legitima, estadista, (ilegível)

maveis, o poeta e o actor, o jornal,

e fiscal da administraçao publica,

Sisypho da imprensa, é o respira-

em uma palavra, inimigo figadal do

douro mais largo ás aspirações pro-

obscurantismo e soldado activo do

gressistas das sociedades modernas,

progresso, o jornal é, de todas as

a alavanca mais possante na empre-

tribunas sociaes, a mais elevada, a

za humanitaria do melhoramento dos

mais nobre, a mais potente, a mais

povos. O seculo IX (sic) é o seculo

fecunda e a mais civilisadora.

da intelligencia e das luzes, mas é

Dotado de uma força catechiza-

tambem o seculo do vapor, do caminho

dora incrivel, elle faz de dia para

de ferro e do telegrapho electri-

dia

sua

co. O jornal representa a applicação

obra de proselytismo. Cada leitor,

progressos

espantosos

na

d’estes tres velozes motores indus-

de milhares de devorão as suas co-

triaes á diffusão das primeiras. O

lumnas, é mais um espirito em que

jornal é o raio da civilisação.

o jornal incute o amor das gran-

Dirigindo-se a todos, desde o

des idéas; é mais um (ilegível) que

proletario da classe intima da so-

arrebanha para o crescente exerci-

ciedade até o funccionario publico

to dos (ilegível) da intelligencia;

mais altamente collocado, a voz do

é mais um neophyto a quem segreda

jornal vibra os seus accentos e pe-

os mysterios da santa conquista da

netra por toda a parte. O jornal,

verdade.

além de seus tantos outros mereci-

Mais duradouro que a palavra,

mentos incontestaveis, é um laço de

cujos sons fugitivos se perdem para a

approximação e igualdade social en-

memoria, mais efficaz que o direito

tre todas as classes e homens. Es-

Manifesto Republicano; inicia-se o movimento abolicionista

1870 jornais A República (RJ), O Imparcial e A Imprensa (Santos)

A Imprensa e a Cidade de Santos

Levita da sciencia, apostolo da moral, sacerdote do direito, pharol

91

A Imprensa e a Cidade de Santos

92

cripto para todos, vive para todos e

ra esse eterno derrocador de todas

por todos. E’ uma ponte democrática

as grandezas illegitimas e arbitra-

construida entre o povo e o governo.

rias. E’ que o jornal, zelador dos

Para um conhecer o outro, basta lê-

direitos sagrados do povo, sóe (sic)

lo. O jornal é a publicidade.

tomar contas severas ao poder, pelos

Pregando exemplos colhidos ás

seus abusos e excessos, e os es-

mãos cheias na Historia, essa arca-

tigmatisa cheio de indignação com a

santa dos triumphos e r e (sic) ve-

eloquencia esmagadora da razão e da

zes da humanidade, argumentando com

verdade. O despotismo tem por bases

a razão, essa adivinha

a ignorancia e a força – abomina a

do futuro

pela previsão e raciocinio, ajudan-

luz e ama o mysterio.

do-se, para colorir o estylo e en-

O jornalismo póde pois ser con-

cantar os espiritos, da imaginação,

siderado o criterium para se jul-

esse jardim inesgotavel da intelli-

garem as instituições de um povo.

gencia, o jornal, sobre qualquer ma-

Quando mais desafogada e autorisada

teria que se proponha a discorrer,

se mostrar a linguagem de seus pe-

sabe conhecer sempre o triumphar de

riodicos, tanto mais liberal e po-

todas as duvidas e preconceitos. Os

pular será a constituição de seu go-

trophéos diarios, colhidos por elle

verno: e quando este for avaro de

na eslacada (sic) da polemica, pro-

concessões democraticas, ficai certo

vão a fina tempera de suas armas, e

que a voz da imprensa diaria será

a superioridade com que sabe haver-

timida e peáda.

se nas justas do pensamento. Adversario do despotismo, pois elle , o jornal, é o alumno mimoso

O jornal é o (ilegível) politico dos (ilegível). Santos, Julho de 1861

da liberdade, vereis todos os dictadores e tyrannos, no gozo supremo

A. PEREIRA DOS SANTOS.

de uma autoridade absoluta, amordaçarem-no, pelo terror que lhes inpi-

(A CIVILISAÇÃO, 7 de julho de 1861, página 1)

fundação da Associação Comercial de Santos, a mais antiga do país

1870

meses em 1861, o jornal A Civilisação tinha como reda-

A Imprensa e a Cidade de Santos

Circulando durante alguns

tor-chefe o português naturalizado Augusto Emílio Zaluar, que chegou ao Brasil em 1850 - ele atuou também nos jornais Diário do Rio de Janeiro e Correio Mercantil, na Corte. A Civilisação publicava textos de Antonio Pereira dos Santos, vereador santista que se tornaria, em 1865, proprietário do jornal Revista Commercial.

93

23. Em 16 de agosto de 1857, começa a circular O Commercial, que duraria três anos. O jornal publicava as atas do legislativo

A Imprensa e a Cidade de Santos

municipal. Abaixo, na íntegra de seu programa, exalta a liberdade de imprensa e a vocação comercial de Santos.

94

PROGRAMMA, Outr’ora, quando as recrimina-

nova era, que foi proclamada solem-

ções do espirito de partido cons-

nemente pelo pai commum dos brasi-

tituiam quasi que exclusivamente a

leiros veio operar uma grande pha-

missão da imprensa no Brasil; quando

se na historia politica. Tolerancia

o triumpho para as idéas que profes-

para

sava um periodico era a unica selva

para todas as opiniões! Não hajam

que o alimentava e fortalecia, nada

vencedores nem vencidos! – eis as

mais facil do que a missão do jorna-

palavras

lista, que, vestindo a armadura do

Brasileiro – que assim espancou as

seu credo, apresentava – na arena do

idéas de exterminio que os partidos

combate e descendo a viseira do seu

mutuamente alimentavam.

todas

as

crenças!

sacramentaes

do

Liberdade

Monarcha

elmo, arremettia furioso contra as

Desde então, um grande pensa-

phalanges do campo contrario. Mas

mento foi o alvo de todas as ambições

ahi, posto o seu valor e galhardia,

– de todos os programmas: - Refor-

a victoria custava-lhe tambem muti-

mas, melhoramentos em todos os ramos

lações, que muitas vezes o inutili-

que prendem com o progresso material

zavam para sempre! Golpes de morte

e moral do paiz. Colonização, de-

desferia elle, que o salpicavam de

senvolvimento do credito, auxilios á

nodoas indeleveis do sangue de seus

lavoura e ao commercio!...

irmãos.

Trabalhemos pois todos na gran-

Cedo porem, e felizmente, a im-

de obra da reconstrucção do paiz;

prensa reconheceu que a sua missão

concorramos todos com as nossas for-

havia sido transviada do glorioso

ças para esta primeira e urgente ne-

caminho que lhe foi marcado. Uma

cessidade – e a illustração do povo

Lei do Ventre Livre

1871

Santos como das povoações da mari-

consequencia.

nha desta provincia, o COMMERCIAL

Eis porque apparece hoje o COM-

julga poder prestar um verdadeiro

MERCIAL, jornal especialmente con-

serviço – e nisso consistirá a sua

sagrado aos interesses commerciaes

maior recompensa.

da Provincia, e particularmente da

Contando com assiduos corres-

cidade de Santos. Elle vem preen-

pondentes, não só na capital como

cher uma lacuna ate hoje existen-

nos pontos mais importantes do in-

te na primeira praça commercial da

terior, alimentamos a esperança de

Provincia, e por isso espera todo o

levar o COMMERCIAL ao mais alto gráo

concurso e protecção dos habitantes

de interesse compativel com os re-

desta cidade, bem como do interior,

cursos de que dispozermos.

para os quaes servirá como de um monitor, ou mais propriamente de um indicador do estado das tranzacções,

(O Commercial, 16 de agosto de 1857,

das diferentes oscilações da praça

página 1)

etc etc. Noticioso, quanto seja possivel, discutindo com liberdade as necessidades mais urgentes não só de

1872 jornal Diário de Santos, o primeiro da cidade organizado como empresa; deixa de circular o jornal Revista Commercial, o primeiro de Santos

jornal Correio Paulistano, o primeiro impresso em rotativa em São Paulo

A Imprensa e a Cidade de Santos

será a sua primeira e indeclinavel

95

24. A Lei – Folha Diária de uma Associação Particular foi um periódico vinculado ao Partido Conservador, fundado em 1877 e desaparecido no mesmo ano. O artigo faz menção a um rumoroso caso de desfalque ocorrido na Câmara de Santos. Observa-

A Imprensa e a Cidade de Santos

se, na matéria, a batalha entre os órgãos de imprensa na defesa das facções políticas que representavam.

96

DESFALQUES Os redactores do “Diario”, dan-

dos, e cujo descobrimento occasionou

do mais uma prova da leviandade e

o pedido de demissão do funccionario

falta de criterio com que procedem

pouco escrupuloso.

sempre, contestam a exactidão de um

Se formos novamente provocados

facto a que alludimos em um dos nos-

e continuarem a duvidar das nossas

sos artigos sobre os desfalques.

asseverações, ver-nos-hemos forçados

Em attenção ao estado contrista-

a narrar o facto com todas as suas

dor em que se acha o ex-procurador da

circunstancias; e então a respon-

camara liberal, a que nos referimos,

sabilidade dos desgostos que temos

temo-nos abstido até agora de narrar

querido evitar recahira unicamente

o facto alludido tão minuciosamente

sobre aquelles para quem a reputação

como estamos habilitados a fazel-o.

alheia vale tão pouco como um brin-

Se os redactores do “Diario”

quedo infantil.

desejam saber a verdade toda inteira e o nome do ex-procurador, indague dos seus amigos politicos os srs. tenente-coronel Theodoro de Menezes Forjaz, commendador Nicolau Vergueiro e Jorge Avelino que fizeram parte da camara, em que se deram as irregularidades ou desfalques referi-

1873 jornal Correio Mercantil (Santos)

(A Lei, 14 de junho de 1877, página 2)

A Imprensa e a Cidade de Santos Publicação diária de uma associação particular vinculada ao Partido Conservador, A Lei circulou em 1877, por poucos meses. O jornal defendia ardorosamente as facções políticas que representava.

97

25. O editorial abaixo foi publicado por ocasião do primeiro aniversário do jornal Tribuna do Povo, em abril de 1895. Quatro anos mais tarde, Olympio Lima, em dificuldades financeiras, seria obrigado a vender o periódico. Logo em seguida, fundou um novo jornal, de curtíssima duração, chamado Correio da Semana. Em 19 de dezembro de 1899, retornou com outro periódico

A Imprensa e a Cidade de Santos

chamado A Tribuna, até hoje em circulação. Olympio Lima dirigiu o jornal até 1907, quando faleceu, aos 46 anos.

98

O NOSSO RUMO Cremo-nos já bastante conheci-

de tudo e por cima de tudo querem

dos do publico de Santos para que

e empenham-se por manter illeso e

hajamos

inalteravel o maior e mais excelso

mister

exibir-lhe

creden-

ciaes no momento em que estreitamo-

predicado do homem, - o caracter.

nos no jornalismo diario.

Renegariamos de todo o nosso

O nosso passado, que ainda é de

passado e sentirmo-nos-iamos rebai-

hontem, pode servir de garantia á

xados aos nossos proprios olhos, se,

missão que ora nos propomos exercer

pela vida e progresso desta folha,

au jour le jour.

tivessemos de assignar uma aposta-

Não mo

neutro

comprehendendo senão

como

jornalismeio

termo

d’aquillo que é ou do que pode ser

sia, o que seria abrir um hediondo

epitaphio

ao

nosso

proprio

eu

moral.

– meio facil e commodo de agir entre

Não! A TRIBUNA DO POVO pede,

o fluxo e o refluxo das marés –, pre-

quer, precisa do concurso e da sym-

ferimos apresentar-nos tal qual so-

pathia de todos os seus coevos, de

mos, com os nossos defeitos e com as

todos os homens de bem, por prefe-

nossas bondades, a ter que abdicar

rencia, mas não abdica, em que peze

do direito innato a todo homem que

a todos os maus, da prerrogativa de

se julga parte componente do meio

apreciar, senão com a competencia

social em que vive e porventura, de

que lhe falta, ao menos com a inde-

toda a Nação – a posse de sua pro-

pendencia que lhe sobra, os factos

pria individualidade.

e as leis, os homens e as coisas,

Deus nos guarde da pretenção de

segundo a educação de seu criterio

agradar a todos, - cousa absoluta-

politico, ao influxo de seu proprio

mente impossivel para os que acima

sentimentar.

primeira linha de telégrafo submarino do país

1874

jornal O Buscapé (Santos)

emporio commercial chamado cidade de Santos, pondo-se ao lado de todas as

liticos que fizeram da Suissa a re-

classes laboriosas que fomentam o seu

publica modelo e da aristocratica

engrandecimento.

Inglaterra a monarchia mais liberal do mundo, - o parlamentarismo. O

parlamentarismo

que

ha

Eis ahi o nosso rumo: o do publicista probidoso, convencido e sciente

de

da responsabilidade do seu magiste-

forçosamente trazer para a Republica

rio, empenhando labores e sacrificios

aquillo que ainda não está na Repu-

para que seja mantida a moralidade

blica: - a verdade nos programmas:

dos costumes; o respeito mutuo entre o

a circumspeição nas leis; a liber-

governo e o cidadão, desde o distric-

dade no individuo; a garantia so-

to ao municipio, desde o municipio ao

lida e necessaria para o exercicio

estado e deste ao cume da ordem poli-

amplo de todas as nossas energias

tica, á nação.

individuaes.

E, se por qualquer eventualidade

Isso que importa muito e muito

ou circunstancia não nos for permit-

a nossa nacionalidade, não exclue

tido transpor os obices que superam

do dever imperioso de collocar-se ao

tão difficeis caminhos, retrocedere-

lado do fraco contra a oppressão do

mos ao nosso ponto de partida, sem

forte; de vingar e fazer vingar o

perder o fito. Cairemos, que importa!

direito publico, quando acalcanhado

mas de pé, ennobrecidos e dignos.

pelos agentes do governo; de pre-

Basta.

venir a administração publica nos

Olympio Lima

seus desvios e de pleitear emfim, por todos os meios ao seu dispor,

(Tribuna do Povo, 10 de abril de 1895,

o progresso moral e material deste

página 1)

1875 jornais Gazeta de Noticias e Diário de Noticias (RJ); A Província de São Paulo (mais tarde passa a chamar-se O Estado de S. Paulo); O Raio (Santos)

A Imprensa e a Cidade de Santos

Nestas condições pugnou e continua a pugnar pelos principios po-

99

A Imprensa e a Cidade de Santos

100

Panfletário inflamado, Olímpio Lima se cercou de jornalistas audazes para defender suas idéias. Nesta imagem de 1902, estão os jornalistas da redação de A Tribuna do Povo – da direita para a esquerda, Artur Peixoto, Anatólio Valadares e Francisco Pereira (em pé); Alberto Veiga, Urbano Neves, Olímpio Lima e Pompílio dos Santos (sentados).

26. O jornal A Questão Social circulou quinzenalmente a partir de setembro de 1895, acredita-se, por um ano. Trazia como subtítulo ‘Orgam do Centro Socialista’ e difundia os ideais da doutrina. O médico Silvério Fontes, pai do poeta Martins Fontes, era seu diretor principal e já havia lançado A Evolução em 1882 e 1886, e A Ação Social em 1892, os três de conteúdo seme-

Apresenta-se hoje na arena jor-

Entretanto, forçoso é confessar

nalistica a “Questão Social” defen-

que as aspirações humanas devem ser

dendo uma justa causa – a reivindi-

integralisadas e a questão social

cação dos direitos do proletariado.

passa a ser complexa, isto é, tanto

Na Europa, onde o socialismo

litteraria, como philosophica, tan-

chegou a seu periodo de maturação

to affectiva, como esthetica, tanto

historica, a propaganda vae fazendo

moral, como politica.

grande proselytismo.

E seremos nós indifferentes ao

Alli, como na America do Norte,

estudo desses problemas, quando ta-

não se confunde a doutrina, que já

lentos de primeira ordem tanto se

entrou em sua phase positiva, nem

tem preoccupado com a sua difficil

com a republica, como a ensinou Pla-

solução?

tão, nem com a utopia, como a idealisou Thomaz Morus.

Entre nós, as condições actuaes não nos permittem encarar o socia-

Resultado de estudos acurados d’uma pleiade de pensadores representando o primus interpares Karl

lismo como medida que se imponha por uma agitação revolucionaria. Desfraldando

a

bandeira

reformista,

do

Marx, o socialismo encontrou, prin-

collectivismo

cipalmente na Allemanha, sua base

se “A QUESTÃO SOCIAL”, sem paixões,

propõe-

cientifica.

que considera antagonicas á idéa de

Não queremos dizer com isso que

progresso, a luctar tenazmente, para

o problema social seja uma refor-

que sejam mais rapidos os effeitos

ma

pois

do movimento evolucionista scienti-

della nascerá a principal reivindi-

fico, que deve dar em resultado a

cação proletaria.

nova organisação da Sociedade.

exclusivamente

1876 jornal A Tesoura (Santos)

economica,

A Imprensa e a Cidade de Santos

lhante. Abaixo, o editorial do primeiro número da quarta empreitada jornalística de seu idealizador.

101

A Imprensa e a Cidade de Santos

Por maiores que sejam as precauções dos excessivamente timidos e as apprehensões dos privilegiados, a repercussão, no Brazil, das idéas que se agitam no velho mundo ha de ser fatal, a bem dos interes-

102

ses geraes da collectividade. Oxalá o esforço que ora fazemos, pugnando pela implantação de doutrina regeneradora, encontre echo em todos os que comprehendem o alcance das leis altruistas, em todos os que combatem pelo nivelamento das classes, entrando com o contingente de sua collaboração para que se levante, em breve, o majestoso edificio da solidariedade e da justiça sociaes. (A Questão Social, setembro de 1895, página 1)

greve dos portuários em Santos

1877 jornais O Desfalque, Foguete, A Lei e Diário de Noticias (Santos)

27. Em 15 de novembro de 1895, aniversário da Proclamação da República, o jornal Santos Commercial, que até então se dizia republicano, decidiu abraçar a causa monarquista. A reação foi o empastelamento de suas oficinas na madrugada de 5 de dezembro. Só voltando a circular em 29 deste mesmo mês, passou a estampar abaixo de seu logotipo de capa: “Empastellado pelo corpo de bombeiros municipaes, na madrugada de 5 de dezembro de 1895, mandado pela Camara Municipal em

BANDITISMO

Assalto às officinas do “SANTOS COMMERCIAL” na madrugada de 5 do andante a mando da Camara Municipal Opinião da Imprensa

“San-

O assalto já estava planejado

tos Commercial”, orgam do partido

ha muito tempo, se não realisou-se

monarchista.

antes, foi porque o commandante do

Reapparece

hoje

o

Precisamos antes de tudo di-

corpo de bombeiro Levindo Lucio Pi-

zer ao publico que consideramos como

res não se quis a isto prestar-se;

auctores do attentado de que fomos

na Confeitaria Cascata, em reunião

victimas

Camara

de tres canalhas bem conhecidos nes-

que o povo

ta cidade, foi oferecida a Levindo

de Santos considera como a mais hu-

a quantia de 2:000$ para escangalhar

milhante e miseravel que esta terra

as nossas ophicinas.

os

vereadores

Municipal, d’essa camara

da

tem tido. Elles, vereadores, e quem sabe mais alguns sycophantas que o “San-

Levindo entretanto

recusou,

como

elles

perguntando arranjariam

dinheiro.

tos Commercial” tenha posto a desco-

-Muito facil, respondeu um dos

berta as sua mazellas, encontrarm em

taes safardanas: você requisita con-

Fabio Paulista de Carvalho o braço

certos e outras coisas no corpo de

forte para a consecução de negrega-

bombeiros, equivalente a 2:000$000,

dos fins.

e eu mando promptamente pagar. Se Levindo tivesse accordado na

Revista Nacional de Ciências, Artes e Letras (Santos), editada por Inglez de Souza, introdutor do naturalismo na literatura brasileira

A Imprensa e a Cidade de Santos

combinação com o Diario de Santos”.

103

A Imprensa e a Cidade de Santos

proposta, o facto que toda gente sé-

Acordando em sobressalto o sr.

ria condemnou, já se teria dado mui-

Eurico Saldanha ficou perplexo; mo-

to antes do dia 5 do corrente.

rando n’uma casa onde existiam 10 de

creanças, sua senhora, uma cunhada e

meia dúzia de ladrões, tem dito a

Fabio,

o

bandido

a

soldo

um irmão, não podia de fórma alguma

diversas pessoas que não tinha ten-

deixal-os sós, pois que os bandidos,

ção de vir com os seus comandados ao

os ordinarios bombeiros, covardes,

“Santos Commercial” mas que precipi-

ingratos a quem já temos defendi-

tado e uma vez que a desgraça estava

do para receberem os seus ordenados

feita completaria a obra.

em atraso dessa Camara monstruosa,

Como é miseravel este individuo! Vivendo uma vida aventureira;

104

poderiam ir até o lar domestico, na furia selvatica de que se achavam possuidos. E nestas condições, dado

sem emprego, frequentador eterno de

o

todos os bordeis, possuidor de todas

quem a defenderia?

caso

do

desrespeito

á

familia,

as qualidades ruins, Fabio, como que

Depois que os bandidos comme-

procura uma attenuante para minorar

teram o crime, e que por ordem do seu

a grandiosidade de seu crime!

commandante formaram em frente ao

--Passemos agora a relatar o crime:

edifício, ainda foi ouvido bem distinctamente o grito: “hão de conhecer o quanto vale um republicano!”

Seriam 4 ½ horas da madrugada,

Irrisão! Nós já conhecemos isso

quando nosso director, que mora nos

de sobra; realmente, se o valor de

fundos do predio, recebeu aviso de

um republicano consiste em assaltar

um empregado que dormia na officina

a horas mortas a propriedade alheia,

que diversas pessoas tinham arrom-

certo de não encontrar resistencia,

bado a janella e invadido a casa, e

pode esse republicano armar-se de

que estavam destruindo tudo que en-

gazuas e chaves falsas e commetter

contravam á mão.

toda sorte de latrocinios!

Fundação da Sociedade Auxiliadora da Instrução, a primeira escola gratuita de Santos

1878 jornal Correio de Santos

tudo em destroços: machina quebrada,

sião, hypothecando a todos o nosso reconhecimento.

cavaletes partidos, caixas viradas,

A’s 8 horas compareceu nas offi-

marmore espatifado, janellas arre-

cinas o sr. J. P. Azevedo Sodré, de-

bentadas, cartões, caixas de papel,

legado de então, acompanhado do dr.

participações tudo pelo chão, numa

Moura Ribeiro que fez corpo delicto

desordem medonha!

nas mesmas officinas.

Um relogio de parede levou 11

Veio tambem em companhia do sr.

machadadas no mostrador; um cliché

Delegado, o Leoncio Carneiro, inten-

com o retrato deo Sr. D. Pedro II e

dente de obras, e, como os outros,

que ia servir para o numero espe-

mostrou-se pezaroso, contristado, e

cial, sobre o quarto anniversario do

sinão chorou foi porque não trouxe

fallecimento do grande brazileiro,

nos bolsos algumas pimentas mala-

todo quebrado á machado; espigões de

guetas para passar nos olhos...

rolo

torcido;

lampeões

amassados,

furados; mesa de paginação partida;

Este

sr.

Leoncio

é

de

muita

força!

estandes escangalhadas; bolandeiras,

Com certeza s. s. não teve scien-

galés, componedores arremessados á

cia da assembléia que accordou na

distancia.

destruição das nossas officinas...

Felizmente

os

bandidos

não vieram na sala da redacção; talvez por já ser tarde, pois quando

Também foi o unico intendente que por cá appareceu.

elles acabaram a bonita empreitada,

--

davam no relogio da matriz 5 horas!

A

O

visitou

quando

o

“Santos Commercial” fez a sua declaração monarchica, fomos assistir

tava; e aqui aproveitamos a oppor-

a uma festa realisada no quartel do

tunidade para agradecer a diversos

3º. Batalhão de policia; conversando

cavalheiros

com diversas pessoas sobre a nova

palavras

dirigiram

por

de

a

Novembro,

nossa

nos

que

de

casa, viu o estado em que ella es-

que

povo

15

conforto

essa

occa-

1879 jornais O Caixeiro Popular, O Popular, O Domingo e Ônibus (Santos)

politica do jornal, Fabio interveio

A Imprensa e a Cidade de Santos

Vindo ás officinas encontramos

105

A Imprensa e a Cidade de Santos

106

e declarou terminantemente que ar-

mados, enfileirados, como quem vi-

ranjaria meia duzia de homens e es-

nha apagar um incendio, como quem

cangalharia o “Santos Commercial”.

vinha cumprir um dever.

Isto foi ouvido por diversas pesso-

Depois de satisfeitos, depois

as, que não citamos os seus nomes

de invadirem e destruirem a proprie-

por emquanto.

dade alheia, receberam voz de formar

Quando Fabio seguiu daqui para o Sul, á disposição do General Gal-

e marchar, o que obedeceram seguindo todos em paz para o quartel!

vão, démos uma noticia, na qual prophetisamos a terminação da revolta

Veja o publico a que ponto chegaram as coisas no Brasil !

rio-grandense com o auxilio do he-

E se não ha de condemnar este

róe Paulista: dissemos aquillo muito

systema de governo que tanto nos

seriamente...

avilta!

Pois Fabio, em conversa a bor-

O directorio governista, pelo

do com um amigo declarou que havia

seu presidente, telegraphou ao dr.

de vingar-se do “Santos Commercial”

Bernardino

somente por causa da inoffensiva no-

que nenhum amigo do governo tinha

ticia que publicou.

tomado parte no attentado.

Todas essas ameaças realizaramse na madrugada de 5 do corrente. Apoiado

necessariamente

por

quem pode, manda e quer, sim, porque

de

Campos,

declarando

Tomado parte em que sentido? vindo

com

os

bombeiros?

Ah!

Isso

certamente que não! Existem

meios

mais

commodos

Fabio sem estar autorisado por al-

para se praticar um crime, sem ser

guem não se abalançaria a acceitar

preciso a pessoa comparecer no the-

e praticar tal empreitada, terminou

atro dos acontecimentos!

a sua campanha de destruição ás 5 horas da madrugada. Não disfarçou os seus soldados, não; appareceram todos fardados, ar-

Mas

é

justo

assignalar

aqui

que o directorio foi á palacio pedir ao governo a nomeação de um delegado especial...

proibição do tráfico interprovincial de escravos

1880 jornais A Gazeta da Tarde (SP) e Gazeta Comercial (Santos)

Fabio de contrario a um governo a

O delegado Sodré não cumpriu

quem elle offereceu os seu sangue

com o seu dever de autoridade hones-

para ser derramado no campo da pugna

ta e imparcial? Se o directorio não

em defeza desse mesmo governo!

tinha a menor cumplicidade no facto,

Caprichos da sorte!

porque não deixou o senhor Sodré se-

--

guir impavido na descoberta dos ou-

Reencetamos

a

publicação

do

tros criminosos, dos mandantes por

nosso jornal: é um engano pensarem

exemplo?

os adversarios que pela violencia

Comvenhamos que o directorio

conseguirão nos fazer calar: o povo

governista descobriu-se , mostrou as

esta do nosso lado, elle é que nos

unhas, temendo a luz clarissima da

sustenta com tal auxilio não é lici-

verdade!

to duvidar-se da existencia prolon-

E não será Fabio amigo do governo do dr. Bernardino de Campos! Ah!

ingratos!

cedo

começa

gada do “Santos Commercial”. Aos nossos amigos e correligio-

a

narios, tanto de S. Paulo como daqui,

repulsa dos que applaudiram o cri-

agradecemos o apoio que nos presta-

me, se elle não fosse feito tão ás

ram numa emergencia tão perigoza.

claras! O mundo é assim mesmo: hontem

Saberemos corresponder, dia a dia, a esse apoio.

era um proprietario de jornal, que para fugir á indignação popular, ar-

(Santos Commercial, 29 de dezembro

redava-se da amizade de Fabio, de-

de 1895, página 1)

clarando que nem siquer o conhecia; hoje é o directorio, taxando o mesmo

1881 jornais Boêmia Abolicionista, O Embrião, A Semana e A Comédia (Santos)

A Imprensa e a Cidade de Santos

Porque?

107

28. A partir de seu número 49, de setembro de 1896, o jornal A Questão Social apresenta-se como uma publicação mensal. De conteúdo mais teórico, diferente do dos jornais que então circulavam em Santos, esse periódico foi um dos pioneiros da

A Imprensa e a Cidade de Santos

pregação socialista no Brasil. A íntegra do editorial de seu primeiro aniversário é transcrita a seguir.

EDITORIAL Ha um anno a heresia socialis-

Em vez de ser a doutrina dos de-

ta começou a ser pregada, entre nós,

sesperados e dos famintos, como insi-

sem rebuço, por um pequeno grupo de

nuam maliciosamente os interessados

convictos.

na continuação do individualismo, os

A sição

108

Questão entre

os

Social

tomou

po-

subditos de sua magestade – o dinheiro

combatentes

do

-, chamando o odioso sobre principios

collectivismo.

da maior elevação moral, o socialismo

Desde então, iniciou-se a luc-

é a esperança de todos os opprimidos,

ta contra a orthodoxia economica,

porque dignifica o trabalho e extin-

defendida

gue a miseria. Acceitam-no todos os

pelos

representantes

do

capital.

que comprehendem os soffrimentos do

Commettimento ousado n’uma sociedade

de

adoradores

do

proletariado, ou sejam os que culti-

Deus-Mi-

vam as [-] ou os que aperfeiçoam suas

lhão; tentamen ingente diante das

faculdades affectivas na crença sin-

prerrogativas e isenções creadas em

cera da regeneração humana.

favor da burguezocracia.

[-] o desenvolvimento das scien-

Mas era mister romper com os

cias politico-sociaes, [-] da philo-

rotineiros e provar que o socialismo

sophia da historia, os sociologos tem

não pretende a divisão de riquezas,

affirmado que a republica politica e

porém, sim, a socialisação de todos

o regimen burguez, irmãos siamezes

os meios de producção, para que se

na organização actual, são productos,

firme de vez a solidariedade humana,

na maior parte, dos acurados estudos

em substituição á caridade official

dos

ou egoista.

seculo passado, como a republica so-

philosophos

encyclopedistas

do

Quilombo do Jabaquara, em Santos

1882 jornais O Porvir, A Noticia, A Evolução, O Guarani, O Periquito, O Papagaio e O Pirata (Santos)

amplia-se até a lucta de classe; é

consequencias, principalmente, das

cerrar os ouvidos á voz da verdade,

investigações scientificas da phi-

quando proclama que a terra não deve

losophia allemã contemporanea.

ser

propriedade

individual,

fosse

A Questão Social tem colloca-

qual fosse sua origem; é desconhecer

do sempre o problema socialista em

que todos os meios de producção su-

base scientifica, sem phantasia,

jeitos a forças associadas devem ser

nem

collectivisados.

sentimentalismo,

encarando-o

sobretudo debaixo do ponto de vis-

cessar a espoliação vigente, que ha

ta economico. Tem

sempre

É o socialismo que ha de fazer

aconselhado

que

deve ser resolvido por meios pa-

de derribar o braço secular da iniquidade burgueza.

cificos, aproveitando-se o suffragio universal, e constituindo-se o operariado em partido de classe. Suppor-se que o socialismo no Brazil não tem razão de ser, porque as condições presentes do proletario brazileiro estão muito distanciadas das miseraveis contingencias do operario europeu, é não comprehender que a lucta pela vida

1883 jornais Gazeta de Santos, A Propaganda e O Furo (Santos)

A Imprensa e a Cidade de Santos

cial e o collectivismo hão de ser

(A Questão Social, 15 setembro de 1896, página 1)

109

29. A Gazeta do Povo, órgão independente, foi um vespertino nascido em 12 de dezembro de 1917. Circulava de segunda a sábado e pertenceu a três grupos diferentes até 1930. Abaixo, o editorial de apresentação no primeiro dia de circulação.

A Imprensa e a Cidade de Santos

AO QUE VIMOS A “Gazeta do Povo” surge como consequencia inevitavel de um ac-

aspirações do povo.

cidente social. E vem para atten-

Será este o nosso ponto de vista

der uma contingencia imperiosa do

principal, servindo-nos assim de di-

momento, como vehiculo modesto de

rectriz a conducta que nos impomos.

informações de tudo quanto possa in-

Não obedeceremos, porém, a in-

teressar ao nosso meio.

110

affinidades com os interesses e as

juncções facciosas de qualquer na-

Para tanto se empregará todo

tureza, nem a interesses de seitas,

seu esforço offerecerá quanto lhe

que acarretam quasi sempre, aprecia-

seja possivel um serviço minucioso

ções mais ou menos apaixonadas: mas

de informes, sem se exhimir, toda-

nem por isto deixaremos ao abandono

via, de commentar, a seu turno, quan-

o caminho que, apesar disso, as con-

do lhe pareça conveniente, quaesquer

veniencias locaes indicarem e nem

factos que se verificarem, fazendo o

subordinaremos á qualquer conside-

porém, - e sempre -, com a necessaria

ração o interesse publico, que deve

imparcialidade, sem estardalhaços,

ser collocado acima de tudo.

mas com firmeza e independencia. Prendam-se elles á nossa vida

Frios e impenitentes nas nossas apreciações,

estaremos

invariavel-

local entendam com os interesses ge-

mente ao lado da justa causa, arros-

raes do Estado ou da Nação reflictam

tando, sem dubiedades e sem temor,

as convulsões do mundo nos pheno-

com as consequencias, boas ou más, da

menos sociaes que se desenrolarem

ousadia com que entramos na liça.

aqui ou ali todos serão invariavel-

É este o nosso programma.

mente sujeitos á mesma apreciação e ao mesmo criterio, contanto que im-

(Gazeta do Povo, 12 de dezembro de

pliquem, como condição primordial,

1917, página 1)

libertação dos escravos na província do Ceará

1884 jornais Diário Popular (SP), O Paiz (RJ), Jornal da Tarde; em Santos, O Alvor, Diário do Comércio, O Aporo, A Luta e Correio de Santos

A Imprensa e a Cidade de Santos

CRÍTICAS À IGREJA

1885 jornais Gazeta de Santos, A Propaganda e O Furo (Santos)

111

30. O jornal O Diário de Santos apareceu em outubro de 1872, com a compra do acervo gráfico do falecido Commercio de Santos. Apresentava-se como “Jornal Imparcial, Comercial e Noticioso”. Foi o periódico local mais duradouro do século XIX e só encerrou as atividades por volta de 1918. Em seu segundo dia de circulação, ataca a Igreja Católica e as atividades de seus membros em

A Imprensa e a Cidade de Santos

assuntos alheios à fé.

112

O PRESENTE E O FUTURO Nos tempos antigos em que a civilisação envolta em densas trévas

ca, dão lugar á falta de respeito que se nota pelas cousas da igreja.

não podia romper o circulo de ferro

Verdadeiros usurarios negociam

em que se achava; nos tempos anti-

uns com escravos que alugam e sublo-

gos em que as crenças erroneas, e os

cam, e se porventura não lhes che-

falsos preceitos desviavam a razão

ga o dia para ultimar as repetidas

da senda que lhe cumpria procurar,

transacções, não ha meio de forçal-

nestes tempos em que tudo era cahos,

os a levar á cabeceira do moribundo

tudo era confusão, os vigarios com-

as ultimas consolações espirituaes.

prehendiam mais as suas obrigações que hoje. Não fazemos allusão a pessoa

Outros illudindo a boa fé das pobres ovelhas, que á mingua de pão lhes pedem adiantamentos para seu

certa, e menos ainda a este ou aquel-

trabalho,

le partido, mas visamos apenas des-

nas a firmar creditos onde a liber-

tacar alguns typos que temos estuda-

dade dos infelizes se prende para

do, e desde já declaramos que quando

sempre.

dizemos vigarios, não fallamos no todo metaphysico, mas sim no moral.

faltando

a

fé,

obrigam-

Alguns pondo á margem o decoro da sociedade, cercam-se de adorado-

Grande parte das parochias está

ras de todas as cores e affrontam o

provida de estrangeiros em razão de

publico pudor ostentando a posse da

não quererem os bispos autorisar a

estola que lhes não veda de praticar

continuação da administração de cer-

taes indecencias.

tos sacerdotes que atirados ao com-

Além existem vigarios que si-

mercio, ás lutas medonhas da politi-

mulando o respeito á igreja, de ca-

Santos é declarada território livre de escravidão

1886 jornais A Evolução, Idéia Nova, Gazetinha, Vinte e Sete de Fevereiro, Ensaio, A Evolução e O Pince-nez (Santos)

ahi forem trazidos para pagamento

severo, mas estes hypocritas se não

das consciencias vendidas.

lembram que as proprias chagas de

E

são

vigarios e

são

que

comprão

Christo lhes não embargam o passo,

consciencias,

pois que á face della commettem todos

banqueteião-se nos festins de Bal-

vigarios

que

os dias os mais negros peccados.

thazar, emquanto sobem ao céo candi-

Um dia de eleição é uma pagina

das e puras almas sem que a presença

triste em nosso estado de civili-

do sacerdote lhes mitigasse a dor

sação, e o que mais admira em taes

das ultimas agonias!

occasiões, vemos sempre um protago-

Muitas vezes voltão os enter-

nista de tão infernaes dramas, e que

ros da porta dos templos, e com vo-

ordinariamente é um vigario.

zes

ameaçadoras

repellem-se

fieis

Ora reune as ovelhas aconse-

que pedem confissão; mas indo faz-se

lhando-lhes resistencia até a morte,

porque os vigarios afastando-se da

e guardando até no proprio sacra-

humildade que lhes prescreve a car-

rio rewolvers para si e seus amigos.

reira que abraçarão, pretendem hoje

(Que profanação, meu Deus!).

presidencias,

Outras vezes excitão-nas a acu-

encargos,

que

deputações tornam

e

outros

incompativel

direm por outros nomes nas chamadas

sua missão com os deveres arduos a

respectivas, ameaçando-as com a ma-

desempenhar.

gestade Divina, e as iras do Senhor,

Mephistophelicas

machinações

se conduzirem listas ou cedulas de

originam-se, a paz que muitas ve-

seus adversarios; e finalmente es-

zes existio desapparece de súbito,

cancarão as portas de suas habitações

intrigas

onde

bebidas

vantam os maridos contra as mulhe-

espirituosas de todas as especies, e

res, os pais contra os filhos, ami-

dinheiro para acudir aos saques que

gos contra amigos até de infancia,

encontrão-se

vinhos,

1887 jornais A Vila da Redenção, A Procelária, O Incolor, O Reclame, Farpas, O Colibri, O Bilontra e Cidade de Santos (Santos)

habilmente

A Imprensa e a Cidade de Santos

beça baixa percorrem a praça com ar

manejadas

le-

113

e finalmente governantes contra governados, e em tudo reside o dedo

A Imprensa e a Cidade de Santos

perigoso de um vigario que visando engrandecer-se, e attingir as mais altas posições, não duvida esquecer o Evangelho, e tudo o que de sublime existe para unica realisação de seus sordidos planos. No templo, além da missa ou festa que lhes dá o rendimento ao pé do altar, nada mais fazem, e nem ao menos uma so predica que guie os devotos ao caminho da salvação.

114

No Piauhy acaba de ser assassinado um tabellião dentro do templo, onde dous vigarios dirigiam a carnificina, e tal foi o cynismo delles que recusaram-se até a fazer a encommendação do morto. Basta,

basta,

a

narração

é

triste, e cumpre-nos apenas buscar os meios de remediar o mal. É o que vamos propôr para garantia do futuro de um tão negro presente.

(Diario de Santos, 11 de outubro de 1872, página 1)

Santos é declarada território livre de escravidão

1888 jornais O Lepidóptero, Luiz Gama, Flora, A Luz e Diário da Tarde (Santos)

A Imprensa e a Cidade de Santos

Republicado e abolicionista, o Diário de Santos, fundado em 1872, fazia virulentas e inflamadas críticas à Igreja e ao governo monarquista. Foi um dos primeiros jornais a defender a necessidade de reformas no porto, para facilitar as exportações, e o de vida mais longa no século XIX.

115

31. O Proletário foi um jornal de inspiração anarquista fundado em 1911. Em matéria publicada em janeiro do ano seguinte,

A Imprensa e a Cidade de Santos

ele investe contra a Igreja Católica.

116

O BAPTISMO A religião, nomeadamente a ca-

trario de seus paes que lhes deram

tholica é um amontoado de fantasma-

uma religião contra a qual elle se

gorias que trazem o homem prezo do

revolta.

berço ao tumulo, ao nascer, já se en-

Por cuja falta não raras vezes

tra no molho da agua benta, ao correr

quando procura combater os absurdos

da vida os jejuns, as macerações, as

dogmas da religião, recebe como res-

confissões e o casamento. Na morte a

posta “cala-te, que tu tambem foste

encommendação, as missas, etc.

baptisado”.

De todas estas aberrações que

Porque e para que levar uma

espiritos fracos admitiram, accei-

creança a pia da agua benta? Não é

taram e veneram ainda hoje, o que

porventura do amor de dois entes que

mais indigno e revoltante resulta é

se querem que se estimam com ardor,

o baptismo, com que direito se coage

que proveio este fructo de seus ca-

a liberdade humana, colhendo um ente

rinhos? Não foi ainda a natureza que

sem consciencia, sem raciocinio, sem

os levou a completar-se satisfazendo

responsabilidade

ingressal-o

uma necessidade phisiologica? Acazo

nas filas catholicas dando-lhe um

não é a natureza influindo nos tem-

banho na Igreja? Mais tarde a cre-

peramentos por uma força dinamica,

ança faz-se homem e ao desenvolver

que atrai esses dous entes um para

as faculdades evolutivas no meio so-

o outro pela irresistivel força da

ciavel e social em que vive, chega

simpathia? Não é ainda a natureza

a outras conclusões contrarias as

que nos provê de todo o necessario

dos seus progenitores, e tem sempre

para viver desde a alimentação até

na mente o acto violento e arbi-

o oxigenio que respiramos? a luz e

para

proclamação da República

Silvério Fontes funda, em Santos, o primeiro núcleo socialista do Brasil

1889 jornais O Patriota, Diário da Manhã, O Dever e A Verdade (Santos)

Bem sei que não falta quem co-

funccionamento das celulas do nosso

nheça todo este mal; o que falta é

organismo? Assim sendo, um ente que

força de vontade e convicção firme

nasce é por um direito natural e por

para oppor-se a elle. Não é diffi-

consequencia logica á natureza deve

cil encontrar quem tenha sempre uma

ser entregue em cujo seio tem vasto

praga contra os padres nos labios,

campo para crescer e desenvolver-se,

mas é raro os que se desprendem da

a que vem então a intervenção de um

rotina dos dogmas, das mentiras re-

estranho no lar conjugal? Será por

lijiozas. Uma boa porção dizem “eu

acaso necessario, forçoso, ter que

não faço isto por devoção, é sim-

dizer a um parasita, que o amor pro-

plesmente para que o mundo falle”

duziu mais um rebento mimoso?...

todos dizem o mesmo e caso houves-

Não!!! Só a rutina, a velhaca-

se energia, franqueza e lealdade, no

ria gera e alimenta essas farças es-

externar

tupidas de um conego lavar um astro

que a maioria não frequentam a Igre-

em uma pia, no dizer do primorozo

ja por devoção mas “para que o mundo

poeta Guerra Junqueiro admittindo,

não falle”. E assim se veio eterni-

porém, as lendas da bolorenta Bi-

zando o erro, o embuste, a falsidade

blia, admittindo a necessidade dos

e a mentira atravez de mil gerações

banhos como medida de higiene.

escravas da sua propria fraqueza.

opiniões

verificar-se-ia

Temos que condemnar o uso des-

Nem as infamias praticadas pelo

sa pia ante-igienica, onde permanece

clero nem os erros grosseiros e mal

agua estagnada e onde mettem as mãos

escriptos dos Velhos e Novos Testa-

escrofulosos,

tubercu-

mentos, nem as brazas das fogueiras

losos fazendo d’ella uma permanente

conseguem apagar na mente dos fa-

mutação de miasmas prostadoras de

naticos esse ardor mystico por uma

innumeras enfermidades.

religião nefasta cuja sombra negra

raquitivos,

A Imprensa e a Cidade de Santos

o calor indispensaveis para o bom

primeira Constituição da República;

1891 Jornal do Brasil (RJ); A Província de São Paulo passa a se chamar O Estado de S. Paulo

117

tolda as brilhantes scintilações de um seculo de progresso e de luz! A Imprensa e a Cidade de Santos

Cumpre, porém, a todos que reconhecem o mal do baptismo não o realizar de forma alguma nem para comprazer o fanatismo ingenuo, nem para encobrir hypocrizias. E aos paes sobretudo ante o direito humano, ante o respeito a liberdade de opinião, ante o cumprimento de um dever, cumpre não coagir a liberdade dos filhos, fazendo-os seguir suas opiniões politicas

118

religiosas. Deixem a creança crescer, deixem que se faça homem para que então seja christão, judeu ou mahometano. Fazer o contrario é cometter uma indignidade, um erro grosseiro como esse de afogar todas as aspirações de um ente, ao nascer, na pia benta da beatissima religião catholica romana. Santos, 15 de janeiro. Eladio Cezar Antunha (O Proletario, 15 de janeiro de 1912, páginas 1 e 2)

onda de epidemias em Santos mata mais de 22 mil pessoas até 1900

portuários de Santos deflagram a primeira greve geral do país

marechal Deodoro da Fonseca assume a Presidência da República

1891

jornal União dos Operários (Santos)

A Imprensa e a Cidade de Santos

A VIDA OPERÁRIA

Revolta da Armada; Santos é bombardeada

1892

jornais A Ação Social e O Operário (Santos)

1893

119

32. Em 1905, circulava o jornal União dos Operários – Orgão da Sociedade Internacional União dos Operários e defensor dos interesses do operariado em geral. Era impresso na tipografia de A Tribuna. Nesta edição, um curto editorial conclama a classe

A Imprensa e a Cidade de Santos

operária à leitura do periódico. Na matéria seguinte, investe contra os órgãos da imprensa burguesa conservadora.

É indispensavel que os opera-

luz que nos guia para o aperfeiçoa-

rios leiam este jornal; se tiverem

mento moral, e nos ensina tudo o que

amor proprio, se quizerem conquistar

existe em volta de nós, e o caminho

a sua liberdade, se quizerem que a

que devemos seguir para alcançar o

vida de suas famílias sejam garan-

bem estar geral da humanidade.

tidas, se quizerem destruir o jugo

120

Mas santo Deus! Entre essa im-

que os martyrisa, porque é o meio

prensa

de instruir o operario e preparal-

ra das grandes doutrinas, existem

o para a luta contra o capital e

inumeraveis cancros (esta é a maior

o absurdo grilhão implantado pelos

parte da imprensa), que destroem em

governos. É o melhor meio de pro-

grande parte o producto do esforço

paganda das ideias de liberdade e

inaudito dos propagadores da verda-

emancipação operaria.

de, do direito, da justiça e do bem;

A IMPRENSA

civilisadora

e

propagado-

e como infelizmente aquelles são em numero muito superior, conseguiriam abafar de uma vez o grito dessa im-

A imprensa que é a propagado-

prensa livre e bem intencionada, se

ra da verdade, do direito, da jus-

não tivesse a seu lado a força do

tiça e da civilisação, é a que nos

direito e o direito da razão.

traz as noticias dos acontecimentos

Mesmo nesta cidade existem por

contemporaneos, tornou-se indispen-

honra

savel á vida

cancros que procuram destruir o que

dos povos, como a luz

que illumina tudo quanto aos nossos olhos se apresenta;

a imprensa é a

dos

que

possam

dizer,

dois

de bom existe entre nós. Intitulando-se defensores das

Prudente José de Morais e Barros assume a Presidência

1894 jornais Tribuna do Povo, Santos Commercial, A Revolução, Neto do Diário, Correio da Semana e L’Independente (Santos)

não passou de uma invenção dessas

fendem a um grupo de syphiliticos da

mesmas auctoridades e desses can-

malvadez que já se acham em estado

cros com o unico fim de ficarem bem

comatoso.

vistos pelas aves de rapina e para

Apoiam e defendem a oppressão,

que lhes chegue o cheiro das igua-

o roubo, a arbitrariedade, o despo-

rias do festim de Balthazar; para

tismo, a tyrannia, emfim, tudo quan-

ver se conseguem galgar um posto de

to existe de ruim no meio da socie-

onde possam dizer com toda a arro-

dade, aconselhando ainda a prisão e

gancia – Quero, mando e posso.

o massacre da propria victima que protesta.

É necessario cauterisar esses cancros que abrem um formidavel va-

São esses figurões os que des-

cuo no sentimento humano, para que

troem o sentimento perfeito da hu-

desappareça esse terrivel flagello

manidade, e o transformam em senti-

que destroe a humanidade, que se

mento vil e horripilante.

opere a cura radical e que se evite, de

de uma vez para sempre, essa moles-

complots que nunca existiram, para

São

esses

os

inventarios

tia contagiosa, perdição dos povos

que trabalhadores honrados e pacifi-

que por ella são atingidos.

cos sejam perseguidos e presos pela

Fujam os covardes, inimigos até

policia, que os encarcera em enxo-

da propria consciencia! Fujam palha-

vias immundas e os espanca e faz

ços da hypocrisia, instrumento da

passar trinta e quarenta horas sem

propagação do banditismo.

comer, e ainda são insultados por

Só para isso valeis.

auctoridades sem moral, sem educação

Libertario

e sem criterio. Tudo isso para obrigar esses infelizes que lhe cahem nas garras,

(União dos Operarios, 15 de setembro de 1905, página 1)

a confessar o que não sabem, o que

comemorado em Santos, pela primeira vez no país, o Dia do Trabalho

1895

fundação do Partido Operário Socialista, em Santos

1896 Jornais A Questão Social, A Lanterneta, A Luva, O Eco, O Lidador, O Chicote, O Combate, O Bond, A Folha e Correio da Tarde (Santos)

jornais O Avança, A Metralha, Gazeta da Tarde, Brasil-Otomano, O Brazil e A Arte (Santos)

A Imprensa e a Cidade de Santos

classes conservadoras apoiam e de-

121

33. ‘A união faz a força’ e ‘Um por todos, todos por um’ eram as palavras de ordem que o União dos Operários trazia impressas

A Imprensa e a Cidade de Santos

junto ao título do jornal. Nesta matéria, de setembro de 1905, o ataque é direcionado ao jornal Cidade de Santos.

122

Á CIDADE DE SANTOS A Cidade de Santos vem pelas

do a castigos phisicos com excesso;

suas columnas abarrotadas de impro-

para não julgar o Passa Quatro que

perios, unica arma dos nulos que não

nós não sabemos temos resolvido le-

tendo outras formas ou ignorando-as

vantar uma cruz a um outro, lá para

trata-nos de verdadeiros bandidos e

a Barra, e estamos resolvidos a per-

salteadores, peior do que Luigi Vam-

pectuar a memoria daquelles infeli-

pa o grande salteador da Calabria.

zes mortos sem culpa nem pena. E como

Socegue a Cidade e ha de per-

a Cidade continue com a sua attitude

mittir uma observação. A nossa at-

contra nós, publicamos todos esses

titude foi tão pacifica durante a

assumptos actualmente incobertos. [...]

grève e depois da grève, que justamente a Cidade não se conforma com

Livre Pensador

ella. Tenha em conta que se tivessemos procedido como o Passa Quatro, quando o infeliz Manuel Rodrigues,

(União dos Operarios, 15 de setembro

morto na cadeia desta cidade, devi-

de 1905, página 3)

Revolta dos Canudos (até 1897)

1896

1897 Manuel Ferraz de Campos Sales assume a Presidência

jornais A Penna, O Gaúcho, A Opinião, A Greve e A idéia (Santos)

em 1909, o jornal – antes

A Imprensa e a Cidade de Santos

Lançado em Santos denominado União dos Operários - lutava pela diminuição da jornada de trabalho para oito horas, que estava sendo votada no Rio de Janeiro naquele ano, e criticava abertamente outras publicações que defendiam os interesses da Companhia Docas e se opunham ao direito de greve.

123

34. Na edição especial de agosto de 1909, o jornal Tribuna Operária exalta o aniversário de cinco anos da Sociedade Interna-

A Imprensa e a Cidade de Santos

cional União dos Operários, que editava o jornal.

124

SALVE 7 DE AGOSTO Companheiros, saudemos o dia

os seus lucros, sem dar a minima

de hoje! dia de futuro para todos

attenção aos que contribuiam direc-

que fazem parte da Sociedade Inter-

tamente para tal fim.

nacional União dos Operarios, dia

Todos

os

tyranos

banquetea-

que em nossas faces queimadas pelo

vam-se à farta, porque sabiam que

sol dos labores diarios na conquista

a grande turba-multa dos explora-

do pão, vê-se satisfação e confra-

dos, em vez de se unirem para pro-

ternisação; mas tambem este dia mar-

curar attenuar este estado de cou-

ca uma data que para nós não deverá

sas, levavam a degladiar-se uns com

ser nunca esquecida: é a data em que

os outros, e em vez de procurarem

os trabalhadores de Santos se prepa-

um logar onde discutissem os meios

raram para a entrada na grande lucta

de melhorar sua sorte, só procura-

economica, lucta esta que não foi

vam as tabernas e os bordeis para

por nós provocada, mas, sim, fomos

se embriagar e brigar, para que os

obrigados a acceital-a. Antes desta

tyranos tivessem a gloria de ver os

data – 7 de agosto de 1904 – os tra-

cossacos daqui completarem a obra,

balhadores de Santos eram tratados

espancando-os e conduzindo-os para a

pelos tyranicos patrões, peiores que

cadeia! E, depois, as inimizades que

bestas de carga! Trabalhavam como

ficavam no seio dos mesmos? Até ahi

machinas, que só paravam quando os

tudo muito bom.

machinistas, que eram os mesmos patrões,

determinavam.

Nesta

Depois do dia 7 de agosto de

época

1905, que um grupo de trabalhadores,

tudo estava bem para este grupo de

vendo o estado em que se encontrava

parasytas que dia a dia triplicavam

os mesmos, á custa de muitos sacri-

1898 jornais Cidade de Santos, A Aspiração e O Tempo (Santos); Tribuna do Povo (Santos) lança edição vespertina

1899 jornais A Pulga, A Gargalhada, O Estimulo e A Tribuna (Santos)

formas, pela palavra e pela impren-

ciedade Internacional União dos Ope-

sa, demonstrar aos trabalhadores das

rarios, sociedade esta que até hoje

Docas e das demais classes a explo-

tem procurado, por todos os meios, a

ração que lhes fazem e o modo porque

reunião dos trabalhadores de Santos!

os humilham; aconselhar a todos a

A Internacional foi um phantasma que

precisão de se rebellar contra estas

surgiu ante esta burguezia infame e

tyrannias impostas a homens livres

despotica que tem procurado todos

em pleno seculo das luzes!

os meios para que entre os traba-

A Internacional não conta com

lhadores de Santos hajam discordias,

as perseguições que lhe movem os ca-

luctas de raças e outras coisas mais

valduras dos Novitas, Buturão, Pa-

infames, como até os assaltos pra-

dre Francisco de Sá e Neumann Gep,

ticados pela policia nas pessoas de

proprietários de vehiculos, dos qua-

seus directores e associados...

es contou que deram 10:000$000 a um

Mas, com tudo isso, a Inter-

delegado para destruir a séde da

nacional continúa firme na defesa

Internacional. Não vêem estes cas-

das classes a ella filiadas, que são

murros que nada adiantam com isto?

as seguintes: Estivadores, descarga,

Podem destruir utensilios da séde,

carroceiros, Docas, Ingleza, Ternos

mas não as convicções e consciencias

de Armazem, Ensaque e avulsos.

da classe dos Carroceiros...

A Internacional não se intimida nem recua das perseguições que

Pobres

ignorantes!

Pobres

palermas!

lhe move o terrível polvo de Santos,

A Internacional não se atemo-

que se chama Companhia Docas, repre-

risa ante os exportadores e commis-

sentada pelos tyranos Gafrés e seus

sarios de café, verdadeiros assal-

carrascos e lacaios Fontes, Barreto

tadores dos fazendeiros e de seus

e outros eunuchos dos mesmos. A ac-

trabalhadores de terno de Armazem e

ção da Internacional é por todas as

Ensaque, os quaes srs. querem, por

1900 jornais O Bôer, El Bersagliere e A Fanfarra (Santos)

1901 jornais Correio da Manhã (RJ); Revista da Semana e Santos (Santos)

A Imprensa e a Cidade de Santos

ficios conseguiu a fundação da So-

125

A Imprensa e a Cidade de Santos

todos os meios, fazerem os companhei-

preço e condições sobre o seu tra-

ros que nasceram nesta terra ficarem

balho e que seja reconhecida pelos

rivaes de trabalhadores de outras

mesmos

terras, para melhor poderem roubal-

União dos Operarios.

a

Sociedade

Internacional

os á vontade. Pois a Internacional

E, terminando, a mesma comme-

ahi está para propagar, por todos

morando o seu quinto anniversario,

os meios, aos companheiros, que vós

congratula-se com todos os associa-

quereis fazer delles escravos. Mas

dos e suas dignas familias.

é preciso saberdes que a escravidão

Santos, 7 de agosto de 1909.

já se acabou e que o trabalhador não pode ter preconceitos de raça no

(Tribuna Operaria, 7 de agosto de

seu mister, porque só traz lucro com

1909, página 4)

estas cousas para os exploradores.

126

Como tambem a Internacional procurará, entre os operarios que formam a Classe dos avulsos, a organisação de

classes desde que tenham numero

superior a 50 do mesmo officio. Portanto, terminando, a Internacional apella para os camaradas de todas as classes que activem uma propaganda energica e forte para que todos os companheiros que ainda não são associados se associem para que, todos organisados em um poderoso nucleo, possamos muito breve demonstrar aos burguezes de Santos que o trabalhador tem o direito de fazer

Francisco de Paula Rodrigues Alves assume a Presidência da República

começa a funcionar a Escola Barnabé, no primeiro prédio escolar público de Santos

1902 jornais Vanguarda Portugueza (Santos); revistas O Malho e Revista da Semana (RJ)

35. A luta pela jornada de trabalho de oito horas é tema da matéria extraída da Tribuna Operária de agosto de 1909, que antes se chamava União dos Operários. O jornal comenta a postura dos grandes jornais locais frente à proposta.

MUNDO OPERARIO

Do “Correio da Manhã”, jornal

mento desta lei, sendo neste caso o

de grande circulação no Rio de Ja-

agente do districto onde ella não

neiro, de 29 de junho passado, ex-

fôr executada, processado por falta

trahimos o seguinte:

de cumprimento de dever.

O

intendente

Ernesto

Garcez

apresentou ao Conselho Municipal o

A Imprensa e a Cidade de Santos

no Rio de Janeiro – oito horas de trabalho – um projecto de lei que se impõi

Artigo 5º. Revogam-se as disposições em contrario.

seguinte projecto:

127

Como se vê, é um projecto que

O Conselho Municipal resolve:

vem minorar os soffrimentos do ope-

Artigo 1º. Fica estabelecido o

rariado carioca e abrir um incentivo

dia normal de 8 horas para o tra-

em todo o operariado do Brazil.

balho dos operarios da Prefeitura Municipal.

O “Correio da Manhã”, em seu commentario, apoia o referido pro-

Artigo 2º. As fabricas, offi-

jecto, declarando que as 8 horas de

cinas, empresas, trapiches e docas

trabalho se impõi, aqui, como vimos,

desta cidade, serão obrigadas a ins-

o sr. Sylvio de Lores, redactor da

tituir o dia de 8 horas para todos

“Tribuna”, combateu-o, e ficava por

os seus operarios, sob pena de multa

isto se Belizario de Souza não pro-

de 200$000 a 1:000$000.

testasse pel’A Vanguarda.

Artigo 3º. As multas serão co-

“A Tribuna” de hoje não é a de

bradas pelo agente do districto onde

outros tempos, que era um jornal do

se dér a infracção.

povo, hoje ella é do “polvo”.1

Artigo 4º. Aos presidentes das Associações Operarias cabe denunciar

(Tribuna Operaria, 7 de agosto de

ao prefeito municipal o não cumpri-

1907, página 4)

Revolta da Vacina

1910 1904

1905 jornais A Revisão, União dos Operários e O Mercantil (Santos); revista Kosmos (RJ)

jornais O Empata, União dos Operários, Boletim Comercial e O Jornal (Santos)

“O polvo” é o termo que a imprensa operária usava para se referir à Companhia Docas 1

36. O jornal A Tribuna Operária, em agosto de 1909, ataca o Cidade de Santos, um dos expoentes da grande imprensa local da época.

A Imprensa e a Cidade de Santos

Ecos da gréve

128

GRÉVE DOS PADEIROS Sobre o que publicou a “Cidade

Agora pergunto ao redactor da

de Santos”, no dia 18 de junho de

“Cidade”: qual o beneficio que dá a

1909, nem convinha responder, porque

Sociedade Beneficente da Docas, aos

sei que o lacaio só tem a fazer o que

que lá não mais trabalham e muito

o seu amo ordena; mas na qualidade

contribuiram para ella? Se um tra-

de operario me revolta o cynismo com

balhador de lá adoecer em casa ou na

que a redacção apreciou os factos e

rua, o que ella lhe faz?

commentou-os.

Portanto, isto é que já não é

Diz uma infinidade de insultos

roubo, é um assalto a mão armada, pois

aos operarios, declarando que elles

o pagador da Docas desconta 2$000 sem

são mandados por meia dúzia, que pa-

o trabalhador muitas vezes poder pa-

gam 2$000 por mez, mais 5$000 por

gar, pois muitas vezes recebem 40$000

chapa, pergunta onde vai este di-

e menos durante um mez. Mas este as-

nheiro e outras bestiologias mais.

salto é legal porque é praticado por

Agora, digo-lhe eu: não se intrometta no que não conhece; nós não

quem tem dinheiro para comprar jornaes como a “Cidade de Santos”.

mandamos ninguem, as assembléas são

Emfim, sei que a vossa missão

soberanas, não decretamos conselhos,

é esta, e na qualidade de opera-

os companheiros é que os elegem; as

rio dispenso vosso interesse em meu

mensalidades de 2$000 são empregadas

favor.

em beneficio de todos como os mesmos

Santos – Agosto – 1909

sabem, as chapas que o sr. fala é

J. Jaguarão

para nós conhecermos quem são nossos companheiros e custam simplesmente

(Tribuna Operaria, 7 de agosto de

500 réis ao sócio, e não 5$000.

1909, número especial, página 4)

Santos Dumont realiza o primeiro vôo no 14-Bis, em Paris

1906

Afonso Pena assume a Presidência da República e morre no cargo

Nilo Procópio assume a Presidência da República

37. O Proletário foi um jornal de difusão do anarquismo. Começou a circular em junho de 1911, inicialmente mensal e mais tarde quinzenal. O texto, transcrito na íntegra, é seu editorial de apresentação.

AO POVO

Ao ver a luz como existencias

Somos a grande multidão dos fa-

positivas e fulgurantes que pela sua

mintos despojados de todos os meios

energia inquietam as moléculas, os

de supervivencia e de todas as dig-

astros e as constelações, impedindo-

nidades pelos larapios palacianos;

os continuamente numa activa gravi-

a grande prole encarcerada entre as

tação universal “O Proletario” surge

grades que formam todos os contri-

no campo da luta pelo “Ideal” synte-

buintes a constituição do “estado” e

tisado pela sua propria epigrafe mo-

supliciada pelos governantes da pre-

vimentando todos os valores humanos

potencia; a classe laboriosa, con-

para verificar uma completa revolu-

denada á morte pela ley “divina” e

ção em todas as essencias moraes e

humana; a prole “perseguida e frag-

orgánicas da sociedade presente.

mentada pelas armas das aguerridas

Proletario é todo aquele que

tropas legaes; a iludida miseravel-

não é proprietario, que não possue

mente por todos os cleros e por to-

propriedade

viver

dos os livros e escritores sagrados;

sem trabalhar ou o que é o mesmo,

a grande falange dos ilusos explo-

não tem capital suficiente para fa-

rados por todos os politicos que em

zer que os outros trabalhem por ele

nome da patria fazem fortuna e colo-

e para ele.

cam as suas bancas sobre a desgraça

suficiente

para

todos

do povo; somos em fim, a humanidade

operarios,

sacrificada por todas ignominias e

todos os assalariados seja qual for

vandalismos que se tem sucedido so-

de sua ocupação, emprego, ou elevado

bre a Terra.

Proletarios trabalhadores

são,

todos

os

cargo que desempenhem. Primeiro Congresso Operário no Rio de Janeiro

pois,

É no seio desta humanidade soinauguração da Academia de Commercio de Santos, a primeira escola de Contabilidade do país,

1906 Jornal O Verso (Santos); revista Fon-Fon! (RJ)

A Imprensa e a Cidade de Santos

O Proletario no campo da luta pelo Ideal

129

A Imprensa e a Cidade de Santos

130

fredora onde nacem as idéas gene-

É para isso que “O Proletario”

rosas e os sentimentos de suprema

vem tomar parte influente nos des-

bondade, que mesmo nas horas de an-

tinos dos povos, com a inteira inde-

gustia, em vez de clamar vingança,

pendencia que caracteriza a impren-

elabora toda uma sociedade de bem

sa libertaria, na qual se reflete

estar, de satisfação e alegria, tan-

toda a claridade e toda a justiça,

to para ella como para os malvados

juntamente com a sua ação altamente

que ha velipendiam. É esse tambem

humanitaria,

o ideal pelo qual vimos a lutar com

mos, todos os valores humanos para

todos os nossos entusiasmos liber-

verificar uma completa revolução em

tarios que se engrandecem no pei-

todas as essencias moraes e orgáni-

to dos homens para quem a liberdade

cas da sociedade presente, a bem da

absoluta é o factor primordial da

emancipação do proletariado, da paz

felicidade.

e da ordem resultante da harmonia da

Esta

folha

vem

contribuir

a

movimentando

repeti-

vida de relação.

grande obra da emancipação das mas-

Iniciamos esta batalha fazendo

sas populares, afastando-as de todos

um chamado a todos os proletarios,

os atavismos, de todas as crenças,

a todos os homens bem intencionados

de todas as fés, de todos os dogmas,

e a todas as vitimas para reali-

iluminando ás

suas conciencias com

zar a nossa ação unanime num comba-

as luzes da ciencia, da razão e da

te decisivo que faça desaparecer to-

lógica, retirando-as assim dos cos-

dos os vestigios do regime burguez,

tumes e dos vicios que as degradam

fazendo clarear a aurora do Ideal

para que cheguem a possessionar-se de

libertario.

sua dignidade e de tudo quanto seja necessario para viver livremente.

(O Proletario, 1 de junho de 1911, página 1)

Carlos Augusto de Vasconcellos Tavares assume pela primeira vez o cargo de prefeito de Santos

chegada a Santos do navio Kasatu Maru, trazendo os primeiros imigrantes japoneses ao país

1908

1909 jornais A Bomba, A Vanguarda e Tribuna Popular (Santos); revista Careta (RJ)

jornais Aurora Social e A Tribuna Operária (Santos)

38. A cada edição, O Proletário trazia diferentes máximas da doutrina junto ao logotipo de capa: “Todas as relações entre individuos que se encontram em condições sociaes desiguais, são neccessariamente injustas” ou “Todo aquelle que sobre mim pu-

O PROGRESSO DO PROLETARIADO [...]

tra a sociedade capitalista; olhemos

O proletariado de hoje não é o

para o grande desenvolvimento que o

mesmo que o de hontem, assim como o

ideal anarquista está tendo de um

de amanhã não será o mesmo de hoje;

ponto a outro do globo e, teremos

elle,

aperfeiçoa-se

forçosamente de concluir, que lon-

moral e intelectualmente, abraçando

ge de ser uma utopia, o triumpho do

as idéas novas que o guiam, para a

ideal anarquista é inevitavel, em

luta em prol dos seus direitos, luta

epoca não longinqua. Mas, é a pro-

essa que inevitavelmente, terminará

pria sociedade capitalista que no-lo

com o triumpho de uma vida nova a

mostra em sua continua decadencia

anarquia.

procurando com mil meios evitar a

dia

para

dia,

Observemos esse grandioso mo-

queda que, ella que com intilligen-

vimento de revolta, que em todo o

cia, vê inevitavel. O principio re-

mundo vem desenvolvendo o proleta-

ligioso está morto, pois as novas

riado, as luctas que elle vem reali-

gerações com o espirito esclarecido

zando não sómente de caracter eco-

o abandonaram por completo. A insti-

nomico, mas tambem de indole moral,

tuição militar que em outros tempos

estudemos a energia, a altivez e a

se sustentava com o apoio unanime do

decizão com a qual os trabalhadores

povo, perdeu todo esse apoio e hoje

sabem conduzir-se; observemos as me-

subsiste, imposta pela violencia e

lhoras e as liberdades relativas que

pela força bruta. [...]

todos os dias augmentam, conquistadas pela acção do proletariado na

(O Proletario, 15 de janeiro de 1912,

guerra que elle está realizando con-

página 1)

Revolta da Chibata

1910

marechal Hermes da Fonseca assume a Presidência da República

1911 jornais A Revolta, A Republica, O Proletário, A Dor Humana e A Rebelião (Santos)

A Imprensa e a Cidade de Santos

zer a mão para me governar é um usurpador e um tirano”. O texto abaixo foi extraído de seu número 8, de janeiro de 1912.

131

39. O Solidário começou a circular em 1923, como órgão dos trabalhadores em alimentação. De periodicidade incerta, em 1927 já aparece como veículo de imprensa da classe operária. Abaixo, em uma coluna assinada por seu diretor e publicada

A Imprensa e a Cidade de Santos

em dezembro daquele ano, prega a união das massas contra o poder do capital internacional.

132

ALLIANÇA NECESSARIA No Brasil, as tres forças li-

cio, por que é também a classe que

beraes do paiz, precisam fazer uma

mais soffre a oppressão, a exploração

alliança indestructivel se quizerem

e as injustiças do regime.

vencer as batalhas que, nos diversos

Egualmente a classe media tem

sectores da actividade humana, dia a

que entrar nessa alliança, posto que,

dia se travam, com aspectos apparen-

isoladamente, não é mais que um ins-

temente differentes.

trumento nas mãos dos que a exploa

ram. Suas aspirações, suas ideias,

classe media e o proletariado, têm

Os

intellectuaes

encontrarão no proletariado um fiel

necessariamente

que

liberaes,

ca-

companheiro na luta e sempre dispos-

deias d’uma alliança para poder en-

forjar

as

to, porque seus interesse economi-

trar na luta titanica que o campo das

cos são identicos, como identicas são

conquistas offerece.

suas necessidades.

Até aqui, muito differente tem

A classe media vem do prole-

sido a attitude de certos intellectu-

tariado, na sua grande porcentagem,

aes em relação a classe proletaria.

no entanto, continua a exitar entre

E’ preciso porem, que comprehen-

este e a burguezia.

dam os que sinceramente anceiam mais

Ao proletariado cabe-lhe pois,

liberdade e justiça, que só o pro-

como vanguarda do liberalismo moder-

letariado os poderá ajudar na rea-

no, esclarecer á classe media sua

lisação de seus ideaes, visto que a

situação, trazendo-a para o seu ver-

classe operaria sempre foi a classe

dadeiro campo de luta das conquistas

mais liberal de todas as épocas – a

economicas e politicas. Não ha mais

mais resoluta para luta, a de maior

para onde exitar.

capacidade de resistencia e sacrifiGuerra do Contestado (até 1916)

1912

1913 jornais A Noticia e Jornal de Santos (Santos); A Tribuna (Santos) passa a ser impressa em rotativa Albert

jornais A Berlinda e Dia (Santos)

tico e economico de todas as nações

Ou os intellectuaes, e a classe riado, numa concentração de forças,

E de tal forma elles perscru-

num bloco massiço, indestructivel,

taram o sentir das massas, suas mi-

ou serão vencidos, um a um, pelas

serias, necessidades e aspirações,

forças concentradas e disciplinadas

que hoje são os authenticos inter-

da burguezia insaciavel.

pretes,

os

fieis

vanguardeiros

e

Poderia citar, innumeros exem-

leaes generaes dos formidaveis ba-

plos, já hoje, dessa alliança nas

talhões de ferro que constituem o

cinco partes do mundo, cujos intel-

proletariado.

lectuaes já comprehenderam e muito

E assim tambem cada dia o pro-

acertadamente, que o proletariado é

prio fogo vivo da peleja , forja no-

um depositario de forças latentes e

vos esgremistas na classe media. E’ preciso porem, não dispersar

inesgotaveis. No Brasil egualmente o proleta-

as forças, rolar cada vez mais para

riado conta já com um regular numero

a esquerda, abandonar o falso demo-

de

abandonando

cratismo, cuidar mais dos problemas

o seu commodismo de gabinete, com-

economicos das massas, e veremos en-

promettendo seu futuro, arriscando

tão, o despertar do povo soffredor,

posição ganha á custa de inauditos

para a conquista de seus direitos

esforços e pela competencia, vieram

politicos até aqui postergados, e

aos braços do proletariado resolutos

vendidos ao ouro dos banqueiros de

e francos para a luta, formando na

Londres e Nova York.

intellectuaes

que,

vanguarda, recebendo assim as priJoão F.

meiras balas inimigas.

de Oliveira

E que essa valorosa pleiade de destemidos e bravos, fez o estudo

(O Solidario, 29 de dezembro de 1927,

profundo do maior problema que hoje

página 2)

empolga e apprehende o mundo poli-

Venceslau Brás Pereira Gomes assume a Presidência da República

1914

A Imprensa e a Cidade de Santos

– a questão social.

media, formam ao lado do proleta-

assassinato do senador gaúcho Pinheiro Machado

1915

jornal A Prensa (Santos)

133

A Imprensa e a Cidade de Santos

Veículo dos trabalhadores do ramo de alimentação, O

134

Solidário começou a circular em 1923, com periodicidade incerta. Quatro anos mais tarde, o jornal aparece como órgão da classe operária, defendendo a união dos trabalhadores contra o poder do capital internacional.

A Imprensa e a Cidade de Santos

POEMAS

inauguração da sede santista da Cruz Vermelha, que criou a primeira escola de enfermagem do país

1917 jornais Gazeta do Povo, A Portuguesa e O Noroeste (Santos)

135

40. O periódico O Caboclo circulou como encarte do jornal Revista Commercial de janeiro a março de 1863. Era um manifesto patriótico, preparando os brasileiros para a guerra com a Inglaterra no episódio que ficou conhecido como a ‘questão Christie’, nome do embaixador inglês no Brasil. Os ingleses pediam indenização pelo suposto saque de um navio na costa gaúcha em 1861. No ano seguinte, marinheiros ingleses foram presos no Rio de Janeiro por arruaças nas ruas, o que acirrou mais ainda os ânimos diplomáticos entre os dois países. Com arbitramento do Rei Leopoldo I, da Bélgica, chegou-se a um acordo em junho

A Imprensa e a Cidade de Santos

de 1863. Abaixo, um poema de Xavier da Silveira, extraído do número 6 da publicação.

Á PATRIA Fulge ao longe no prisma dos

Este povo que tem por luzeiro,

livres,

Nobre estrella brilhante do sul,

Sol brilhante que aclara o futuro;

Zomba ufano da força servil,

É das aras da patria querida,

Do orgulhoso do altivo John Bull.

Fogem – servos – que vivem no escuro.

136

Brazileiros! Se é doce a canção Entrada depois da victoria;

D’Albion insolentes marujos

Tem doçuras tambem a morrer-se

Vem a um povo brioso insultar;

Na defeza da patria com gloria!

Mas q’importa? O gigante que dorme Ha de em breve do somno acordar.

J. X. SILVEIRA

Ai d’aquelles que ousados então,

(O Caboclo, 4 de fevereiro de 1863,

Pretenderem zombar de seus brios,

página 4)

Que o gigante na hora da lucta, Vae certeiro, não busca desvios. Temos campos e mattas frondosas, Onde morão milhares de bravos, Não tememos em terra marujos, Que são homens dos mares escravos.

Francisco de Paulo Rodrigues Alves morre antes assumir a Presidência da República

1918

Delfim Moreira da Costa Ribeiro assume a Presidência da República

A Imprensa e a Cidade de Santos Manifesto preparando os brasileiros para guerra contra a Inglaterra, O Caboclo circulou em 1863, durante três meses, como encarte do Revista Commercial, o primeiro jornal de Santos.

137

41. O Diário de Santos, em julho de 1883, publica este poema do jovem Vicente de Carvalho, que participaria ativamente das campanhas abolicionista e republicana. Em 1905, ele passou a dirigir O Jornal. Foi também deputado estadual e secretário do

A Imprensa e a Cidade de Santos

Interior. Santista nascido em 1866, Vicente de Carvalho faleceu em São Paulo, em 1924.

138

SPLEEN (A Victorino Monteiro)

No socego lethal das noites

Mergulhado no horror que invade a

invernosas

Natureza,

Quando soluça o vento uns funebres

Sinto abrir-se-me na alma o abysmo

gemidos,

da Tristeza

E a chuva bate fria aos vidros

Em cujo fundo negro habita a flor

sacudidos

do Mal;

Com a cadencia feral das musicas chorosas;

E nas ondas do spleen que o espírito me toma

Emquanto ao longe estoira a

Eu tenho o sanguinário instincto

trovoada rouca

do chacal,

Pelos antros sem fim do espaço

E comprehendo Nero incendiando

illimitado,

Roma!

Fazendo estremecer o mundo estatelado

Vicente de Carvalho

A’ medonha expansão daquella furia louca;

(Diario de Santos, 6 de julho de 1883, página 1)

Epitácio Pessoa da Silva assume a Presidência da República

1919

jornais Diário da Noite (SP) e O Jornal

42. Esta paródia, da qual foi reproduzido pequeno trecho, foi publicada também no Diário de Santos em julho de 1883. A sátira faz alusão a problemas enfrentados pela cidade e menciona outros jornais da época, como A Evolução, de Silvério Fontes, e a Gazeta de Santos, fundada naquele mesmo ano.

(enxertos)

CANTO I

As vassouras e carros decantados

Cessem da Evolução e da Gazeta

Que levaram da rua estranho pó,

As grandes descobertas que fizeram;

E por beccos nunca d’antes

Cale-se do escriptor e do poeta

varejados

Esta fama de heroes...que não

Foram muito além do Saboó;

tiveram,

E em montanhas de lixo, reforçados,

Que eu canto em verso heroico e

-Mais do que promettia um homem só;

tinta preta

No caminho remoto edificaram

A gloria dos heroes que não

Novo reino, que tanto perfumaram;

morreram: -Cesse tudo que a Evolução antiga

E tambem as memorias gloriosas

canta

D’aquelles edis que foram farejando

Que um novo cemiterio se alevanta

Da Jabaquara as terras viciosas,

[...]

E as Palmeiras andaram devassando; E aquelles que, por idéas

D. Fulano Camões Junior

valorosas, Vão novo cemiterio procurando;

(Diário de Santos, 15 de julho de

Cantando espalharei por toda a

1883, página 1)

parte. Se a tanto me ajudar assumpto e arte.

1920 jornais Gazeta Mercantil (SP); em Santos, Jornal da Noite, Comércio de Santos, Santos e Boletim Comercial da Praça de Santos

1921 jornais Folha da Noite (SP); em Santos, Jornal do Chauffeur e A Raça

A Imprensa e a Cidade de Santos

LUZIADAS

139

43. A Pulga foi um jornal humorístico lançado em 1899 – acredita-se que tenha tido vida efêmera. Abaixo do título, trazia o

A Imprensa e a Cidade de Santos

comentário “Alarguem os chambres e...riam”. O poema que se segue foi extraído de seu número de apresentação.

140

Este bichinho innocente,

Dizemos sem arrogancia,

Que todos vós conheceis,

E mesmo, pois, sem malicia,

Vai possuir toda gente

Que até por extravagancia

Que tiver duzentos reis.

A Pulga morde a policia.

A linda moça galante,

Sendo um dos bichos simplorios

Quando tirar a camisa,

Picará factos facetos:

A Pulga que a martyrisa

Desde os celebres coretos

Ha de encontral-a offegante.

Até os quatro mil mictorios.

No próprio cós, da ceroula

Não sendo a sorte contraria,

E na braguilha das calças,

D’ella não tendo schymose,

Vermelha como a papoula,

Da Mimosa Serpiaria

A Pulga irá dançar valsas.

Morrerá tomando dose.

Pois muita gente que julga

(A Pulga, abril de 1899, página 1)

Ter espirito e talento, Não deixa, n’este momento, De ser picado de Pulga.

fundação do Partido Comunista Brasileiro (PCB)

1922

Semana da Arte Moderna de São Paulo

inauguração da Bolsa Oficial de Café (Santos)

Arthur da Silva Bernardes assume a Presidência da República

“Lei Adolfo Gordo”, que cerceia a liberdade de imprensa e permite a perseguição aos jornalistas

1923 jornais O Solidário, Diário Mercantil e O Mutualista (Santos)

inauguração do Pantheon dos Andradas (Santos)

A Imprensa e a Cidade de Santos

ACONTECIMENTOS INTERNACIONAIS

141

44. A Imprensa circulou entre 1870 e 1874, duas vezes por semana. Entre seus editores figuram o alemão Guilherme Délius, fundador e primeiro proprietário da Revista Commercial. Dedicava longo espaço ao noticiário internacional, como se pode

A Imprensa e a Cidade de Santos

observar neste detalhado informe sobre a Comuna de Paris.

142

GUERRA CIVIL EM FRANÇA A comunna de Paris ainda re-

já passou para o novo ministro da

siste, apezar de tudo presagiar que

guerra Delescluse [sic]. A carta de

a resistencia toca o seu termo. As

Rosset, dando a sua demissão, e pe-

tropas de Paris abandonarão o forte

dindo um quarto na prisão de

de Vanves, como tinhão abandonado o

[-] é significativa. Diz elle

de Issy. Agora os insurgentes estão

que nada se pode fazer, porque todos

reduzidos ao recinto da cidade. As

mandão, ninguem obedece. Isso pinta

baterias do exercito de Versailles

bem o estado de anarchia em que se

já se achão estabelecidas no bosque

encontra a cidade. Alguns telegram-

de Bolonha, d’onde tratão de abrir

mas já anuncião tentativas de in-

brechas na muralha. As parallelas

surreição dentro de Paris contra a

dos sitiantes já estão a 150 metros

communa. O Journal Sociale diz que

do recinto das muralhas, e a porta

os membros da commissão central de-

de Auteuil foi destruida, como o ti-

vem ser executados. No meio d’esta

nha sido a porta Maillot.

desordem geral a communa e os outros

O que se está passando dentro

poderes constituidos occupão-se em

de Paris confirma as noticias da si-

discussões pueris e ridiculas ácer-

tuação desesperada em que se achão

ca dos uniformes e distinctivos das

os insurgentes. O poder supremo pas-

autoridades, e da mudança dos nomes

sa rapidamente de umas para outras

das ruas e praças publicas. Mandarão

mãos. Ha dias o comando das tro-

lançar por terra a columna da praça

pas passava de Cluseret para Ros-

Vendôme, e este barbaro attentado já

set. Este chefe já foi destituido e

foi executado, segundo consta de um

mettido na prisão, e o poder militar

telegramma. Tambem arrazarão a

Revolução Paulista

1924

Coluna Prestes (até 1927)

1925 jornais Folha da Manhã (SP) e O Globo (RJ); em Santos, Ação Operária e A Farpa

pouca importancia, se acaso não forão victimas da destruição a sua magnifica livraria e os seus manuscriptos e apontamentos historicos. Apezar de tudo, porém, a resistencia dos que tem as armas na mão [-] e promette ser desesperada. Ao passo que perdem os fortes e que vêem as brechas começadas a abrir nas muralhas e as portas da cidade destruidas, vão construindo barricadas addicionaes nas ruas da cidade, o que tornará sanguinolentos e destruidores os ultimos combates. Em Versailles, a situação do chefe do poder executivo vae-se consolidando. Thiers tem-se havido com habilidade para resistir com energia aos exaltados que querem que se transija com a communa e os reaccionarios monarchicos da direita da assembléa. Ha poucos dias n’uma sessão agitada e tempestuosa as suas declarações causarão grande emoção e impozerão respeito á má vontade da direita, dando-lhe a assembléa quasi unanimemente um voto de confiança plena. As eleições municipaes vierão dar-lhe força, e apoiado nos republicanos moderados e nos monarchistas liberaes que ligados constituem a maioria da França pode resistir aos exaltados e legitimistas.

As ultimas correspondencias de Paris confirmão o estado de anarchia em que vivem o governo e a cidade. A junta de salvação publica

nomeada

há poucos dias já foi substituida por outra. Ha pouco era Felix Pyat o oraculo dos insurgentes e o heroe da communa, hoje é Delescluse [-] quem governa, e os amigos d’este accusão abertamente Felix Pyat de traidor. Noticias de Paris recebidas em Versailles dizem que se descobrira uma conspiração, cujo primeiro acto fora o abandono do forte de Issy, e que a isto devia seguir-se a insur-

A Imprensa e a Cidade de Santos

casa de Mr. Thiers, o que tem

reição, entregando-se uma das portas da cidade ás tropas de Versailles. A maior parte dos conspiradores estão presos e o jornal official da communa diz que se instituio um tribunal marcial para os julgar, e que o seu castigo ha de ser exemplar. Isto já se passou ha dias, sem que depois se tenha mais fallado em tal, o que faz crer que fora uma armadilha da communa para desculpar o abandono do forte de Issy que teve por verdadeira causa o ataque das tropas de Versailles, que tornou a defeza d’aquelle forte impossivel. [...] (A Imprensa, 9 de junho de 1871, página 1)

Washington Luis Pereira de Sousa assume a Presidência da República; fundação da Rádio Club de Santos, a primeira da cidade e a terceira a funcionar com regularidade no país

1926 jornais Praça de Santos e O Rebate (Santos)

143

45. A Tribuna, em seu 21º ano de vida, informa a chegada da “terrível e monstruosa conflagração”. Publicada na capa da edição de 4 de agosto de 1914, resume, em um jornalismo enxuto e moderno, o posicionamento dos vários países europeus

A Imprensa e a Cidade de Santos

frente ao conflito, que só mais tarde seria chamado de Primeira Guerra Mundial.

144

EM PLENA LUTA Já não restam duvidas sobre a situação européa.

que a Inglaterra apoie as alliadas com todas as suas forças de terra e mar.

A conflagração, a terrivel e mons-

Posta de parte a neutralidade da Italia,

truosa conflagração do Velho Mundo é um

muito problematica a nosso ver, da guerra que

triste facto.

a Austria mantem contra a Servia pouco se

As hostilidades já tiveram inicio

sabe, não estando, todavia, confirmada ainda

na fronteira russo-allemã, sendo os re-

a tomada de Belgrado. O imperio dos Habsburg

sultados duvidosos.

terá ainda que enfrentar com o Montenegro e

A Allemanha, não obstante a guer-

as tropas russas da respectiva fronteira.

ra não estar officialmente declarada, já

Eis a posição; e, pelo que della se pode

entrou em aberta luta com a França, sen-

deduzir, dentro em pouco a maior parte da

do que os nossos telegrammas de hoje dão

Europa não será mais que um montão de ruinas

noticia dos primeiros encontros, cujo

fumegantes.

escarniçamento apresenta uma idéa muito nitida de todo horror que revistirá esse prélio de gigantes.

(A Tribuna, 4 de agosto de 1914, página 1)

A invasão de Luxemburgo pelas tropas

allemãs,

com

manifesta

quebra

de

neutralidade daquelle territorio que as potencias

accordaram,

está

provocando

por parte da Bélgica vivos protestos e talvez a sua intervenção directa no conflito, sendo que, á vista disso, ao que parece, já está absolutamente resolvido

1927

jornal Folha de Santos

A Imprensa e a Cidade de Santos

REVOLUÇÃO DE 1930

1928 jornais Diário Carioca (RJ); em Santos, A Escova e A Mocidade; Revista O Cruzeiro (SP)

145

46. Praça de Santos foi um título nascido em 1926, após mudança editorial do então Boletim Comercial da Praça de Santos, que já existia desde 1920. Identificava-se como “Matutino Independente - Sem compromissos partidarios nem ligação official”. Na matéria reproduzida, o então diretor Raphael Corrêa de Oliveira rende homenagem a Antonio Siqueira Campos. O herói da Coluna Prestes falecera em um desastre aéreo quando retornava, sob nome falso, ao Brasil. A revolução de 30 triunfaria seis

A Imprensa e a Cidade de Santos

meses mais tarde.

146

SIQUEIRA CAMPOS E A REVOLUÇÃO Não quero acreditar que Siquei-

reu em pleno combate. Dentro da-

ra Campos tenha morrido. Não me con-

quelle sinistro aeroplano, debaten-

formo com essa estupida fatalidade,

do-se nas aguas traiçoeiras do rio

menos pela dôr immensa de perder um

da Prata, Siqueira Campos morria

amigo querido e bom, mas pela des-

em acção energica pela realidade

graça que semelhante absurdo repre-

do seu nobre ideal. Ali travou ele

senta para o Brasil, nesta hora em

sua ultima batalha pela libertação

que o processo revolucionario marcha

do Brasil. A revolução brasileira,

vertiginosamente.

castigada pelos revezes mais duencontra

ros, sustentou na tragica manhã de

na morte o facto fulminante de sua

Siqueira

Campos

não

ante-hontem, com a bravura de que

vida. Porque essa vida, toda cheia

só os privilegiados são capazes, o

de heroismo, de dedicação, de re-

mais desigual dos embates. E, ainda

nuncias pessoaes, foi uma atitude

desta vez, Siqueira Campos foi o

bellissima de despreso pela morte.

heróe da epopéa, o formidavel sa-

E nem se diga que a estupidez desse

crificado da causa commum. A revo-

desenlace, foi uma ironia do desti-

lução não perdeu um chefe, perdeu

no fulminando sem o relevo epico de

um exercito. O Brasil não perdeu

uma batalha de fogo, o incompara-

só um soldado valente, mas, tam-

vel lutador. Não teve o destino esse

bém, um dos espiritos mais lucidos,

poder. A covardia da sorte foi im-

uma das intelligencias mais agu-

potente para matar Siqueira Campos

das, uma das culturas mais solidas

pacificamente.

que temos logrado possuir nestes

Porque, na realidade, elle mor-

últimos quinze anos. Não se ale-

crash da Bolsa de Nova York

1929

jornais Diário e O Alfinete (Santos)

de fraqueza. Vamos, sim, com mais

voram furiosamente esta desgraçada

decisão, com melhor enthusiasmo, as-

nação. Perdemos um chefe. Perdemos

sumir o compromisso irrevogavel de

um exercito. Perdemos um guia seguro

continuar-lhe a obra e seguir-lhe os

e illuminado.

exemplos de fé na resurreição de nos-

Mas,

a

revolução

brasileira,

sa terra, purificada pelo sangue e

como todos os grandes movimentos de

pelo fogo dos grandes sacrificios.

reivindicações legitimas e de reno-

Morreu Siqueira Campos?

vações naturaes, é inesgotavel na

Viva Siqueira Campos!

força dos seus valores e na vastidão

Viva a Revolução!

das suas energias. Para os que ficam, só ha um meio

Raphael Corrêa de Oliveira

de honrar, de cultuar com justiça a memória de Antonio Siqueira Campos: é proseguir na luta e vencer.

(Praça de Santos, 12 de maio de 1930,

Diante do seu cadaver, não va-

página 1)

mos chorar lagrimas de desespero ou

fim da República Velha; golpe de estado de Getúlio Vargas

A Imprensa e a Cidade de Santos

grem, porém, os cães de fila que de-

presidente Washington Luis Pereira de Sousa é deposto

1930

jornais A Sogra, Santos Alegre e O Estrilo

147

47. No informe abaixo, observa-se a postura da Gazeta do Povo frente aos acontecimentos que então convulsionavam o país. Dali a dois dias, a sede do vespertino, que se intitulava independente, seria empastelada pela multidão que comemorava a

A Imprensa e a Cidade de Santos

vitória da revolução que conduziu Getúlio Vargas ao poder. O jornal não voltou a circular.

148

A CIDADE EM CALMA E A ACÇÃO DAS AUTORIDADES A cidade continua calma, embo-

Não ha abusos nem violencias,

ra depois de certa hora se note re-

movendo-se, no emtanto, guerra sem

trahimento do povo, que prefere fi-

tregoas aos boateiros, que são pre-

car em casa. Sem embargo, funccionam

sos e recolhidos ao xadrez, sejam

regularmente todas as casas de di-

elles quem forem, como se vê ain-

versões, com optimas concorrencias.

da

Para a boa ordem reinante, muito tem contribuido a acção energica

hoje

pela

relação

das

prisões

effectuadas. Tambem

desappareceu

o

temor

da policia, a cuja frente se encontra

que havia nos primeiros dias quanto

o illustre dr. Aguinaldo Goes, auto-

á sorte dos jovens reservistas san-

ridade que se impoz definitivamente

tistas, pois elles ficam todos em

no conceito publico, trabalhando sem

Santos, sendo que os do Itaipú já ob-

descanço desde que irrompeu o movi-

têm licença para virem á cidade suas

mento sedicioso. E não lhe tem fal-

familias, e estas tambem os podem ir

tado o apoio das demais autoridades

vêr ao Forte.

estadoaes, federaes ou municipaes,

Taes

medidas

das

autoridades

devendo-se registrar a acção profi-

vieram tranquillisar definitivamen-

qua dos deputados Carvalhal Filho,

te a familia santista e desmentir

Bias Bueno e Alberto Cintra, e dr.

de fórma categorica boatos malevolos

Sousa Dantas, operoso prefeito muni-

que haviam sido espalhados logo de

cipal, além do major Victor Barbosa,

inicio.

chefe da Policia Maritima, egualmente esforçado e trabalhador.

(Gazeta do Povo, 22 de outubro de 1930, página 4)

assume o governo junta governativa

1930

intervenção federal em Santos

criação da primeira Faculdade de Ciências Econômica de Santos

1931

48. Em coluna publicada na Praça de Santos, em 27 de outubro de 1930, é festejada a vitória da Aliança Liberal. Entre os prédios citados na matéria, está o do jornal A Tribuna, identificado pela multidão com o governo que acabara de cair. As sedes

24 DE OUTUBRO Foi gloriosa a jornada de 24 de Outubro! Quando

Ora, essa lei a todos, indistinctamente, garante o direito de

a

estugueira

politica

se dissolveu completamente e a ci-

manifestação

do

pensamento,

tenha

elle a côr que tiver.

dade ficou inteiramente entregue ao

A bandeira que reuniu o povo

arbitrio popular, a burguezia teve

e o soldado, a blusa e a farda, o

excellente opportunidade para veri-

pequeno

ficar que a massa, sem o freio da

commerciante, foi a da liberdade de

policia, soube se portar como uma

Pensamento, do Direito de manifesta-

verdadeira multidão ordeira, cons-

ção da Idéa.

ciente de sua responsabilidade.

funccionario

e

o

pequeno

Nós, que na senzala do “perei-

Poderia ter incendiado trezen-

rismo” e do “perrepismo” nunca tive-

tos prédios. Ninguem a impederia de

mos o direito de manifestar o nosso

commetter desatinos.

pensamento e que viviamos escorra-

Os quatro ou cinco prédios de-

çados da Casa Amarella para as tor-

vorados pelas chammas não passaram

turas do Cambucy, attingidos sempre

de quatro ou cinco incendios symbo-

pela mãos criminosas dos “Ibrahins”,

licos, pois, com elles o povo quis

dos “Ferreiras da Rosa” e dos “Lau-

significar o odio á opressão inutil

delinos”

e aos oppressores.

nossas mãos esse direito reconquis-

deixaremos

fugir

de

Breve, tudo voltou á calma.

tado, á custa de soffrimento, sangue

A revolução foi liberal, para

e energia.

forçar o estricto cumprimento da letra e do espirito da Constituição de 24 de fevereiro. promulgada a terceira Constituição

1934

não

Agora, nós. Chegou a nossa hora. Clamemos as nossas necessidades em unisono. Getúlio Dornelles Vargas é eleito presidente

A Imprensa e a Cidade de Santos

da Gazeta do Povo e da Folha de Santos também foram atacadas. A República Velha chegava ao fim.

149

A Imprensa e a Cidade de Santos

Não pedir palliativos, contentandonos com promessas, mas as leis de protecção ao trabalho e dignificação dos callos que nos enchem as mãos. Não estaremos mais nas galerias para assistir a fuzarca perpetuada nos quarenta annos da mais desavergonhada pandega republicana. A 24 de outubro, soou o toque

150

de reunir. Reunamo-nos, pois, para exigir (que podemos exigir) o nosso direito de pensar, falar, querer e realizar. Trabalhadores de todas as profissões, unamo-nos! LUCIO JAGUARÃO (Praça de Santos, 27 de outubro de 1930, página 2)

golpe do Estado Novo

1937

fechamento da Bolsa Oficial do Café (Santos) – reaberta em 1942

Santos perde sua autonomia político-administrativa

SELEÇÃO DE IMAGENS 151

A Imprensa e a Cidade de Santos

152 A Imprensa e a Cidade de Santos

A Imprensa e a Cidade de Santos

Fundado pelo português Manoel Raposo de Almeida em 1850, O Mercantil propagandeava com vigor o ideário do Partido Liberal. Foi o principal concorrente do jornal Revista Commercial,

o

primeiro

da cidade, criado no ano anterior. Em 1851, O Mercantil passou a circular diariamente.

153

A Imprensa e a Cidade de Santos

A Tesoura, que circulou em Santos em 1876, foi um dos

154

muitos jornais da cidade engajados na luta abolicionista. Ele chegou a publicar notícia lamentando o fechamento de O Raio, hebdomadário lançado em 1875 que se destacou em defesa da causa, mas fechou no ano seguinte.

A Imprensa e a Cidade de Santos O Foguete surgiu em Santos em 1877, ano em que também circularam o Desfalque, A Lei e Diário de Notícia, este último o único a circular por mais tempo.

155

A Imprensa e a Cidade de Santos

156 Em 1879, surgiram em Santos os jornais O Popular, O Caixeiro, O Domingo e Ônibus, todos de vida efêmera.

A Imprensa e a Cidade de Santos Oito jornais surgiram em Santos em 1887. Além de O Colibri, circularam também A Vila da Redenção, A Procelária, O Incolor, O Reclame, Farpas, O Bilontra e Cidade de Santos.

157

A Imprensa e a Cidade de Santos

Lançado em 1894, Santos Commercial era um jornal diário, de ampla circulação.

158

Em 15 de novembro de 1895, declarou-se explicitamente monarquista, provocação que os republicanos responderam com o empastelamento do jornal, em dezembro. A publicação só voltou a circular 24 dias depois, em 29 de dezembro.

A Imprensa e a Cidade de Santos

159 O jornal O Bond surgiu em 1895, ano em que surgiram outras 11 publicações, todas de vida curta.

A Imprensa e a Cidade de Santos

160

A Arte, que circulou em Santos em 1896, refletia as novas exigências da sociedade santista, formada a partir do crescimento das exportações de café.

Lanterneta

co-

A Imprensa e a Cidade de Santos

A

meçou a circular em 1º de janeiro de 1895, com a função de criticar “a tudo e a todos, observada a mais pura decencia”, como consta na apresentação de sua primeira edição. O hebdomadário foi um dos muitos jornais de cunho humorístico em Santos.

161

A Imprensa e a Cidade de Santos

Auto-intitulado “órgão literário, crítico e noticio-

162

so”, pertencente a uma associação, A Penna começou a circular quinzenalmente, em 1897. Nesta edição, o jornal destaca, no Expediente, seus 14 representantes no país.

A Imprensa e a Cidade de Santos A Pulga foi um dos muitos jornais satíricos publicados em Santos. Lançado em 1899, teve vida curta, a exemplo da maioria das publicação desse período.

163

A Imprensa e a Cidade de Santos

164

Com a morte de seu fundador, Olímpio

ções próprias na Rua General Câmara nº

Lima, em 1907, Tribuna do Povo ficou sob

90/94, A Tribuna adquire a primeira rota-

a administração de José de Paiva Maga-

tiva, uma impressora M.A..N., com capa-

lhães e, dois anos depois, foi vendido a

cidade para editar jornais de 40 páginas.

M. Nascimento Jr. Em 1927, já em instala-

A Imprensa e a Cidade de Santos

165

Com 114 anos de existência, A Tribuna é um dos

a TV Tribuna (afiliada à Rede Globo), rádio Tribuna

mais antigos jornais do país. Hoje ele integra o Sis-

FM, jornais Primeiramão Santos e Campinas, por-

tema A Tribuna de Comunicação (SAT), que inclui

tal A Tribuna Digital e o jornal Expresso Popular.

A Imprensa e a Cidade de Santos

LISTA DE JORNAIS DE SANTOS 1849-1930

166

Revista Comercial (1849-1872)

O Caixeiro (1879)

Idéia Nova (1886)

O Nacional (1850-1852)

O Popular (1879)

A Evolução (1886)

O Mercantil (1850-1852)

O Domingo (1879)

Gazetinha (1886)

O Precursor (1851)

Ônibus (1879)

Vinte e Sete de Fevereiro (1886)

Médico Popular (1851)

Gazeta Comercial (1880)

Ensaio (1886)

O Paranapiacaba (1853)

Boêmia Abolicionista (1881)

O Pince-Nez (1886)

A Juventude (1855)

O Embrião (1881)

A Vila da Redenção (1887-1888)

O Clamor Público (1855)

A Semana (1881)

A Procelária (1887)

O Comercial (1857-1860)

A Comédia (1881)

O Incolor (1887)

O Ytororó (1859-1860)

O Porvir (1882)

O Reclame (1887)

O Progresso (1860)

A Notícia (1882)

Farpas (1887)

A Civilização (1861)

A Evolução (1882)

O Colibri (1887)

O Caboclo (1863)

O Guarani (1882)

O Bilontra (1887)

O Santista (1864)

O Periquito (1882)

Cidade de Santos (1887)

O Lírio (1867)

O Papagaio (1882)

O Lepidóptero (1888)

O Mercantil (1867-1868?)

O Pirata (1882)

Luiz Gama (1888)

Comércio de Santos (1869-1872)

Gazeta de Santos (1883)

Flora (1888)

O Pirilampo (1869-1871)

A Propaganda (1883)

A Luz (1888)

Correio de Santos (1869)

O Furo (1883)

Diário da Tarde (1888-1889)

O Imparcial (1870-?)

Diário do Comércio (1884-1891)

O Patriota (1889)

A Imprensa (1870-1874)

O Aporo (1884)

Diário da Manhã (1889-1891?)

Diário de Santos (1872-1918)

A Luta (1884)

O Dever (1889)

Correio Mercantil (1873)

Correio de Santos (1884-1891)

A Verdade (1889)

O Buscapé (1874-1875?)

Jornal da Tarde (1884-?)

O Biscouto (1890)

O Raio (1875-1876)

O Alvor (1884)

Gazeta do Povo (1890)

A Tesoura (1876)

O Piratiny (1885)

O Nacional (1890-1895)

O Desfalque (1877)

O Popular (1885-?)

Isca (1890)

O Foguete (1877)

O Tipógrafo (1885)

Luneta (1891)

Diário de Notícias (1877-?)

Santos-Andaluzia (1885)

Novidades (1891-1893)

A Lei (1877)

O Collegial (1885-1887)

A Ação Social (1892)

Correio de Santos (1878)

Revista (1885)

O Operário (1892)

A Greve (1897)

A Prensa (1915-1919)

Carta Branca (1892)

A Idéia (1897)

Gazeta do Povo (1917-1930)

A Notícia (1893)

Cidade de Santos (1898-1912?)

A Portuguesa (1917)

Olho (1893)

A Aspiração (1898)

O Noroeste (1917)

A Tribuninha (1894)

O Tempo (1898)

Boletim Comercial da Praça de

Tribuna do Povo (1894-1900?)

A Pulga(1899)

Santos (1920-1926)

L’Independente (1894)

A Gargalhada (1899)

Jornal da Noite (1920- 193..?)

Santos Comercial (1894-?)

O Estímulo (1899)

Comercio de Santos (1920-1932)

A Revolução (1894)

A Tribuna (1899- )

Jornal do Chauffeur (1921)

Neto do Diário (1894)

O Bôer (1900)

A Raça (1921)

Correio da Semana (1894)

El Bersagliere (1900)

O Solidário (1923-1928?)

O Corretor (1895)

A Fanfarra (1900)

Diário Mercantil (1923)

A Lanterneta (1895)

Santos (1901)

O Mutualista (1923)

A Luva (1895)

Vanguarda Portugueza (1902)

Ação Operária (1925)

O Eco (1895)

A Revisão (1904)

A Farpa (1925)

O Lidador (1895)

O Mercantil (1904-1905)

Praça de Santos (1926-193..?)

O Chicote (1895)

O Jornal (1905)

O Rebate (1926)

O Combate (1895)

O Empata (1905)

Folha de Santos (1927-1935)

O Bond (1895)

União dos Operários (1905-1909)

A Escova (1928)

A Questão Social (1895)

Boletim Comercial (1905-?)

A Mocidade (1928)

A Folha (1895)

O Verso (1907)

O Diário (1929)

Correio da Tarde (1895)

A Bomba (1908)

O Alfinete (1929)

O Avança (1896)

A Vanguarda (1908-1912)

A Sogra (1930)

A Metralha (1896)

Tribuna Popular (1908-1909)

Santos Alegre (1930)

Jornal Brasil Otomano (1896)

Tribuna Operária (1909-?)

O Estrilo (1930)

Gazeta da Tarde (1896)

A República (1911)

O Brazil (1896)

O Proletário (1911-1912?)

A Arte (1896)

A Notícia (1912-1913)

A Penna (1897)

Jornal de Santos (1912-1913)

O Gaúcho (1897)

A Berlinda (1913)

A Opinião (1897)

O Dia (1913)

A Imprensa e a Cidade de Santos

O Leque (1892)

167

A Imprensa e a Cidade de Santos

ÍNDICE ONOMÁSTICO

168

Abreu, Francisco Luiz d’ – 20

Delius, Guilherme – 16, 17, 23, 25

Mesquita, Julio – 21, 27

Agostini, Angelo – 21

Emmerich, João – 24

Monte Alegre, Marquês de – 13

Aguiar, Rafael Tobias de – 14

Feijó, Diogo Antonio – 13

Nabuco, Joaquim – 23, 27

Almeida, Manoel Raposo de – 16, 17

Fonseca, Deodoro da – 26, 27

Nascimento Júnior – 28

Alvim, Pedro Taques de Almeida – 14

Fontes, Martins – 30

Patrocínio, José do – 22, 23, 27

Andrada e Silva, José Bonifácio de – 17

Fontes, Silvério – 30

Pedro I, Dom – 11, 12

Andrada II, Martim Francisco de – 16

Gama, Luis – 21, 24

Pedro II, Dom – 11, 12, 26, 27

Andrada, Antonio Carlos Ribeiro de – 14

Gama, Saldanha da – 27

Peixoto, Floriano – 27

Andradas – 11

Guimarães, Alphonsus de – 34

Pestana, Francisco Rangel – 21, 26

Azevedo, Arthur – 34

Guimarães, Manuel Araújo F. - 11

Porto Alegre, Manoel de Araújo – 21

Badaró, Líbero – 13

Hardman, Francisco Foot – 29

Prado Júnior, Caio – 15

Barata, Cipriano – 11

João VI, Dom – 9,10

Prado, Antonio – 21

Barbosa, Rui – 27

Kropotkin, Piotr – 30

Prado, Eduardo – 27

Bastos, Antonio Augusto – 24

Lacerda, Quintino de – 28

Ramos, B. Figueiredo – 31

Bento, Antonio – 23

Lanna, Ana – 29

Rio, João do – 34

Bilac, Olavo – 33

Leclerc, Max – 21

Santos, Francisco Martins dos – 16

Bocaiúva, Quintino – 14, 21, 27

Lima, Olympio – 25, 27, 28

Serva, Manuel Antonio da Silva – 10

Bousquet, Gastão – 24

Magalhães, José de Paiva – 28

Sodré, Nelson Werneck – 33

Brasil, Tito Lívio – 29

Marques, Antonio Mariano de Azevedo – 13

Sousa, Alberto – 24

Calixto, Benedicto – 29

Marques, Joaquim Roberto de Azevedo – 16

Sousa, Inglez de – 26

Campos, Bernardino de – 28

Marques, Roberto Maria de Azevedo – 16

Tocqueville, Alexis de – 5

Carvalho, José da Costa – 13

Marx, Karl - 5

Toledo, Lafayete de – 15

Carvalho, Rafael Mendes de – 21

Mauá, Visconde de – 12

Vargas, Getulio – 32

Carvalho, Vicente de – 24

May, Luís Augusto – 11

Veiga, Evaristo da – 11

Coelho Neto – 34

Melo, Custódio de – 27

Vergueiro, César Lacerda de – 29

Costa, José Hipólito da – 10

Mendonça, Salvador de – 14

Veríssimo, José – 27

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ACERVOS PESQUISADOS Associação Comercial de Santos Arquivo Edgar Leuenroth (IEL – Unicamp) Arquivo Público do Estado de São Paulo Biblioteca Mário de Andrade Fundação Arquivo e Memória de Santos (Fams) Hemeroteca Municipal de Santos Instituto de Estudos Brasileiros (IEB – USP) Instituto Histórico e Geográfico de Santos Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo Museu Paulista/Ipiranga (USP) Sociedade Humanitária dos Empregados do Comércio (Santos)

A Imprensa e a Cidade de Santos

Departamento de Pesquisas do jornal A Tribuna (Santos)

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A Imprensa e a Cidade de Santos

AGRADECIMENTOS A todos aqueles que de alguma forma contribuíram para a realização desta pesquisa e a redação deste livro, nossos sinceros agradecimentos. Agradecimentos especiais a Cristina Guedes Gonçalves, ex-presidente da Fundação Arquivo e Memória de Santos (Fams), e Gilka Zannin Rosas, diretora de Arquivos da Fams, que criaram as condições necessárias para que este projeto se efetivasse. Agradecemos da mesma forma ao atual

172

presidente da Fundação, José Manuel Costa Alves, por ter apoiado o projeto e possibilitado a publicação deste livro. À historiadora Rita Márcia Martins Cerqueira, que conhece os meandros da história de Santos, pelas dicas valiosas. À equipe do Arquivo Edgard Leuenroth (AEL), que sempre nos atendeu com muita presteza, competência e generosidade. A Fábio M. da Costa, da Hemeroteca Municipal de Santos, pelo auxílio na consulta e reprodução dos periódicos. Ao fotógrafo Rogério Bomfim, pelo competente trabalho na reprodução das imagens. A Rosangela Menezes e David Cardoso pelo eficiente trabalho na edição, criação e finalização deste livro.

A Imprensa e a Cidade de Santos

Doutor em História pela Universidade de São Paulo (USP), ALEXANDRE ALVES nasceu em São Paulo, em 1974. Autor de artigos e estudos na área de história da cultura, atua como pesquisador-colaborador no Departamento de História da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde desenvolve o projeto A Vida como Obra de Arte: Individualidade, Cultura e Poder no século XIX.

173

174 A Imprensa e a Cidade de Santos

Apresentação



5

Introdução

9

Abertura

11

1 PARTE I. Imprensa, Cidade e Modernidade

17

1. Finalmente a imprensa chega ao Brasil

19

2. Imprensa e jornalismo no burgo dos estudantes: São Paulo

021

3. A imprensa santista e o processo de urbanização da cidade

023

4. As vicissitudes do jornalismo no Segundo Reinado

026

5. A grande imprensa na passagem do século XIX para o século XX

029

6. Uma voz dissonante: a imprensa operária

034

À guisa de conclusão

039

PARTE II. Antologia de textos

041

I. Trabalho escravo e abolição

043

II. Porto e estrada de ferro

053

III. Cotidiano e política

063

IV. Praças, epidemias e canais

077

V. Liberdade de imprensa

89

VI. Críticas à Igreja

111

VII. A vida operária

119

VIII. Poemas

135

IX. Acontecimentos internacionais

141

X. Revolução de 1930

145



PARTE III. Seleção de Imagens Lista de Jornais de Santos (1849-1930) Índice Onomástico Bibliografia

151

166 168 169

Agradecimentos

172

O autor

173

A Imprensa e a Cidade de Santos

SUMÁRIO

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176 A Imprensa e a Cidade de Santos

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