A Imprensa e a Cidade de Santos. 1849-1930. Edição comemorativa dos 200 anos do surgimento da imprensa no Brasil
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A Imprensa e a Cidade de Santos 1849 - 1930
dezembro 2008
Alexandre Alves
A Imprensa e a Cidade de Santos EDIÇÃO COMEMORATIVA DOS 200 ANOS DO SURGIMENTO DA IMPRENSA NO BRASIL
A Imprensa e a Cidade de Santos
Expediente
Editora Fundação Arquivo e Memória de Santos Fotografias e reproduções Rogério Bomfim Alessandra xxxxx (colaboração) Dirceu Fernandes Lopes (colaboração) Acervo particular do jornal A Tribuna Tratamento de imagens David Cardoso Pesquisa e textos Alexandre Alves Eduardo Verzoni (colaboração) Projeto gráfico, direção de arte e capa David Cardoso Revisão e edição Rosangela B. Vieira de Menezes e Silva – Mtb. 12.816
A Imprensa e a Cidade de Santos
Texto Fams
A Imprensa e a Cidade de Santos
documentada, enriquece sobremaneira a visão que cada um de nós tem sobre o passado de nosso município. Mais ainda: é um instrumento valioso na compreensão do processo histórico que transformou Santos numa das cidades mais importantes do Brasil. Importância esta que não se limita à condição de grande porto, fundamental para a economia nacional, mas também
A Imprensa e a Cidade de Santos
Marcar os 200 anos da Imprensa no Brasil com uma obra como esta, tão completa e
como berço e pólo de movimentos sociais de ampla influência nos destinos políticos do País. A iniciativa da Fundação Arquivo e Memória de Santos em publicar o presente trabalho, de autoria de Alexandre Alves e Eduardo Verzoni, foi extremamente oportuna. Baseado em minuciosa pesquisa, o livro mostra a trajetória da Imprensa santista entre 1849 – ano em que foi publicado primeiro jornal na cidade, o ‘Revista Comercial’ – até 1930. O leitor tem assim uma visão muito interessante da vida na cidade durante essas oito décadas. ‘A Imprensa na Cidade de Santos’ nos reporta a uma época de grandes mudanças, que resultaram na formação política, social e econômica do município em que hoje vivemos e amamos. É uma obra ímpar não apenas para estudantes, jornalistas e pesquisadores, mas para todos os que se interessam pela História de Santos.
João Paulo Tavares Papa Prefeito de Santos
A Imprensa e a Cidade de Santos
A comemoração de certas efemérides costuma propiciar o aparecimento de revisões e balanços no campo da história, sugerindo a formulação de novas perspectivas de abordagem e estabelecendo uma pauta de futuras investigações. É o que ocorre com este trabalho de Alexandre Alves, com a colaboração de Eduardo Verzoni, na oportunidade do bicentenário da introdução da imprensa no Brasil. Nos quadros da então acanhada Província de São Paulo, cujos prelos tardaram a aparecer,
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À GUISA DE INTRODUÇÃO
a Cidade de Santos ocupou um lugar de destaque. Em 1849 já ostentava a publicação regular da Revista Commercial, que se estendeu até 1872. Logo depois surgia O Nacional (1850), dirigido por Martim Francisco Ribeiro de Andrada e vendido no mesmo ano a Francisco Manuel Raposo de Almeida, figura curiosa e polêmica que deixou marcas importantes na história da tipografia santista. Raposo de Almeida foi responsável pela Revista Litteraria (1850-1851), a primeira que se publicou na cidade inteiramente voltada para a “instrucção e recreio” dos leitores, e por outros títulos saídos de sua Typographia Imparcial, todos em 1851: os de caráter político, como A Colonia Senador Vergueiro, de Carlos Perret Gentil; A facção saquarema, de Agostinho José de Oliveira Machado, e Memorial offfrecido [sic] aos senhores deputados provinciaes da Provincia de São Paulo na sessão de 1851; e os de caráter literário, como O Dia de Finados, meditação de Teotônio Flávio da Silveira, e aqueles de autoria do próprio Raposo de Almeida – As folhas de um album, O monge da Serra d’Ossa e O Camões. A Typographia Commercial de Guilherme Délius, outro personagem importante dessa primeira fase da história da imprensa santista, também se empenhava na publicação de livros. Os tempos eram difíceis, e as casas impressoras sobreviviam, a duras penas, com os periódicos de cunho informativo. Mas as dificuldades não impediram Délius de publicar títulos diversos: A estrangeira, drama de Francisco Luís d’Abreu Medeiros (1851); Oração de Santa Thereza, de José Norberto de Oliveira (1852); Ensaio sobre alguns synonimos da lingua portugueza, de frei Francisco de São Luís, em dois volumes (1856); Pedro Martelli, drama de Álvaro Augusto de Carvalho (1856);
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Sermão do Espirito Santo, do cônego José Norberto de Oliveira (1856), e Taboadas com as principaes regras da Arithmetica practica (1856), entre outros. Ao focalizar as articulações entre jornalismo e sociedade, os autores de Imprensa e vida urbana em Santos (1849-1930) oferecem um contexto significativo para compreender a produção, a circulação e o consumo, não apenas dos periódicos, mas também dos livros e folhetos impressos no período. Trata-se, sem dúvida, de painel instigante para a caracterização de um corpus documental cujo potencial informativo é praticamente inesgotável. Mas como estão esses documentos e onde encontrá-los? A resposta não é nada animadora, pois as bibliotecas públicas ou não acusam sua presença ou só dispõem de coleções incompletas dos títulos aqui mencionados.
10 Que a auspiciosa iniciativa da Fundação Arquivo e Memória de Santos em recuperar o patrimônio histórico do município se ocupe também dos documentos impressos, submetendo-os à microfilmagem de preservação e à digitalização para fins de acesso. A demanda dos pesquisadores é cada vez maior, e não podemos esperar outra data emblemática para conferir as perdas impostas pelo tempo.
Ana Maria de Almeida Camargo
Ana Maria de Almeida Camargo é professora do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP)
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“Um jornal só pode subsistir se reproduzir uma
diária e o telégrafo, que em um instante difundem
doutrina ou um sentimento comum a um grande
invenções por todo o mundo, fabricam mais mi-
número de homens. Um jornal sempre represen-
tos (e o gado burguês acredita neles e aumenta
ta, portanto, uma associação a que seus leitores
com base neles) em um dia do que antes se fazia
habituais são afiliados. Essa associação pode ser
em um século.” (Karl Marx, Carta a Kugelmann,
mais ou menos definida, mais ou menos estreita,
27 de julho de 1871)
mais ou menos numerosa; mas existe pelo menos em germe nos espíritos, pelo simples fato de
“Antigamente existia a tortura. Hoje em dia existe
que o jornal não morre [...]. Quanto mais iguais
a imprensa. É isso um progresso, indubitavelmen-
se tornam as condições, menos os homens são
te; mas é ainda uma coisa má, prejudicial e des-
individualmente fortes, mais se deixam levar pela
moralizadora. Alguém – foi Burke? – chamou o
corrente da multidão e mais dificuldade têm de
jornalismo o quarto poder. Isto era certo, eviden-
manter-se sozinhos numa opinião que esta aban-
temente, então. Mas na hora atual, é realmente o
dona. O jornal representa a associação; pode-se
único poder e tragou os outros três [...]. Estamos
dizer que ele fala a cada um de seus leitores em
dominados pelo jornalismo [...]. A tirania que in-
nome de todos os outros e os conduz com tanto
tenta exercer sobre a vida privada da coletividade
maior facilidade quanto mais são fracos individu-
parece-me realmente extraordinária. O fato é que
almente. Portanto, o império dos jornais tende a
o público sente uma insaciável curiosidade de sa-
crescer à medida que os homens se igualam.”
ber tudo, exceto aquilo que vale a pena saber.
(Alexis de Tocqueville, A democracia na América,
Inteirado disto e com seus costumes mercantes,
1835).
o jornalismo atende à sua demanda. Nos séculos passados, o público pregava os jornalistas pelas orelhas no pelourinho. Coisa realmente atroz.
“Acreditou-se até agora que o crescimento dos
Hoje em dia são os jornalistas que cravam suas
mitos cristãos durante o Império Romano foi pos-
próprias orelhas em todos os buracos de fecha-
sível apenas porque a imprensa ainda não fora in-
dura. O que é muito pior.” (Oscar Wilde. A alma
ventada. É precisamente o contrário. A imprensa
do homem sob o socialismo, 1890)
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As citações revelam algumas das inquietações suscitadas
ção, que descamba para o sensacionalismo, o espetáculo e a
no século XIX por uma das invenções centrais da modernidade:
superexposição da vida privada das pessoas. Essas mudanças
o jornal. A imprensa é relacionada por Tocqueville à manipulação
afetam os próprios jornais, resultando no declínio do jornalismo
e partidarização da opinião pública, conseqüências do enfraque-
investigativo e opinativo, no empobrecimento da linguagem e no
cimento da personalidade individual e do nivelamento social. Já
aviltamento dos conteúdos.
Marx entende a imprensa burguesa como a maior criadora de
Nascida dos intermináveis debates sobre a liberdade de
mitos modernos, comparando sua força ao poder da religião na
expressão e de opinião, a partir da segunda metade do século
mistificação e na manipulação da opinião, pois, da mesma forma
XVIII, no bojo do movimento iluminista, a imprensa tornou-se um
que as ficções religiosas, os mitos difundidos na imprensa apre-
elemento essencial e característico da experiência de mundo do
sentam-se como expressão direta da realidade. Oscar Wilde, por
homem moderno. Até o início do século XX, os jornais eram o
fim, com sua ironia provocadora e caracteristicamente inglesa,
principal meio de formação da opinião pública, principalmente a
vincula a imprensa à massificação e vulgarização da sociedade
chamada ‘grande imprensa’, ou seja, os jornais diários.
moderna e denuncia a tirania exercida pelo jornalismo sobre a
Nessa época, os jornais já ofereciam uma grande quan-
vida privada das pessoas. Três reações distintas que revelam o
tidade de notícias nacionais e internacionais, mas tendiam a se
espanto e a perplexidade sentidos pelos homens do século XIX
enraizar, sobretudo, no ambiente imediato e familiar aos leitores,
face ao advento da imprensa de massa.
apresentando-lhes os acontecimentos que pontuavam o seu co-
Opinião semelhante era compartilhada, já em pleno sécu-
tidiano e concitando-os a tomar uma posição ativa diante deles.
lo XX, por Monteiro Lobato, que criticava as pretensões literárias
Na França de 1912, por exemplo, existiam mais de trezentos
dos jornais tupiniquins:
jornais diários em Paris e 242 no interior, além de centenas de folhas semanais ou bissemanais, que muitas vezes chegavam a ser mais populares que os próprios diários .
“O jornal nos sufoca todas as tentativas de literatura, com
Este livro é o resultado de um projeto realizado em 2007,
seus repórteres analfabetos, com a sua meia língua engalicada
sob os auspícios da Fundação Arquivo e Memória de Santos
[...] os autores dessa copiosíssima flora cogumelar de jornalecos
(Fams), com o objetivo de realizar um levantamento sistemático
e revistas que inunda o País inteiro, é a mesma no Maranhão e
e metódico sobre a imprensa santista, restituindo a sua memória
na Caçapava riograndense [...]”.
histórica e ressaltando sua importância. Dessa forma, é possível avaliar o papel do jornalismo santista no contexto mais amplo da história da imprensa no Brasil. Somente no período que vai de
Esses juízos, críticos e peremptórios, sobre a imprensa
1849 (quando surgiu Revista Commercial, o primeiro jornal na
podem parecer hoje despropositados, absurdos e, no mínimo,
cidade) a 1930 (fim da República Velha), circularam mais de 200
exagerados. Mas são reações análogas às experimentadas na
jornais na cidade. A maior parte teve duração efêmera, mas muitos
atualidade face ao avanço inaudito dos meios eletrônicos de in-
foram instrumentos essenciais no processo de transformação da
formação. Hoje, critica-se a crescente mercantilização e massi-
cidade, nas lutas sociais e na constituição da identidade da mais
ficação dos meios de comunicação em um mundo acelerado,
importante cidade portuária do Brasil.
bombardeado diariamente por toneladas de informações frag-
A repercussão que teve o movimento abolicionista e repu-
mentadas e descontextualizadas. A quantidade e a velocidade
blicano em Santos, e, depois dele, a importância que tiveram os
da informação é tal que se torna virtualmente impossível ao
movimentos operários, devem-se, em larga medida, ao vigor do
ouvinte ou telespectador refletir sobre aquilo que vê e ouve. A
jornalismo e da imprensa na cidade, que estimularam e poten-
conseqüência é a banalização e superficialização da informa-
cializaram a circulação de novas idéias. As idéias constituem o
fermento dos movimentos sociais. Esta é uma das peculiaridades
Acreditamos que esta publicação seja importante neste
da cidade de Santos, no contexto do país como um todo, e ajuda
momento também porque decorre de uma urgência - muitos dos
muito a compreender seu desenvolvimento histórico. A circula-
jornais em questão estão em processo acelerado de deterioração
ção de idéias foi de fundamental importância para criar um caldo
nos arquivos e, se não forem digitalizados ou microfilmados, po-
de cultura e uma massa crítica que forneceram as bases para
dem deixar de existir em breve.
teriza a cidade até a atualidade.
Além disso, é importante ressaltar a contribuição do jornalismo santista para a imprensa nacional neste momento em
Para dar conta do assunto, o livro foi dividido em duas
que se comemora os 200 anos da imprensa no Brasil, iniciada
partes. Na primeira, apresentamos um estudo intitulado Impren-
com a transferência da Corte Portuguesa para o país, em 1808,
sa, Cidade e Modernidade, que analisa as especificidades do
e a criação da Impressão Régia.
jornalismo santista em relação ao desenvolvimento da imprensa
Não se trata apenas de uma efeméride, mas também de
no Rio de Janeiro e em São Paulo. Na segunda parte, foram
uma oportunidade para enfatizar a importância da imprensa livre
selecionados 46 textos (editoriais, notícias, artigos e poemas) de
nas transformações históricas e nos combates contra as velhas
mais de 20 jornais distintos, cobrindo todo o período em análise
e novas tiranias.
(1849-1930) e considerando os diversos temas e questões dis-
A Imprensa e a Cidade de Santos
esses movimentos e delinearam o perfil cosmopolita que carac-
cutidos pela imprensa santista na época. Esta coletânea constitui um panorama amplo da vida urbana local, abordando uma variedade de assuntos: debates em torno do trabalho escravo e da abolição; discussões sobre a construção da estrada de ferro; modernização do porto; notícias sobre as epidemias que assolavam a cidade e propostas para o seu saneamento; defesas da liberdade de imprensa e relatos de empastelamento de jornais; matérias sobre grandes acontecimentos, como a Comuna de Paris e a Revolução de 1930; poemas satíricos ou humorísticos; debates sobre socialismo, anarquismo, condições de trabalho e reivindicações do movimento operário. O livro congrega materiais de difícil acesso, dispersos em diversos acervos, fundamentais para compreender tanto a história de Santos, quanto o desenvolvimento da imprensa no Estado de São Paulo. Optou-se por manter a grafia original dos jornais em vez de modernizá-la, para manter o caráter de documentos históricos desses textos. Trata-se de fontes importantes para conhecer o passado da cidade, o cotidiano de seus habitantes em uma época de transformações, o debate de idéias e as discussões na imprensa do período. São textos que poderão ser úteis aos pesquisadores da história de Santos ou da imprensa; aos professores, que poderão explorar os documentos em sala de aula; aos alunos de cursos universitários, assim como aos interessados em geral.
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Imprensa, Cidade e Modernidade
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PARTE I
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1. Finalmente a imprensa chega ao Brasil A imprensa, uma das invenções mais importantes da modernidade, chegou ao Brasil tardiamente, com mais de três séculos de atraso.
idéias eram considerados crimes e sacrilégios, ofensas à lei e à religião. No mundo colonial português, temia-se, mais do que qualquer outra coisa, a difusão de idéias contrárias aos interesses do Estado e aos dogmas da Igreja. Foi somente após a transferência da Corte Portuguesa para o Brasil, em 1808, que passaram a haver atividades tipográficas regulares no país. Nos porões de um dos navios que
O Brasil viveu seus três primeiros séculos de existência imerso em trevas, desconhecendo os meios de comunicação que já marcavam o cotidiano da Europa e de alguns países da América, visto que estava entre a forte repressão da Metrópole, o controle da Igreja e a ausência de mercado 2.
trouxeram a Corte para a colônia, foi embarcado um prelo adquirido na Inglaterra e destinado à Secretaria do Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra. Um decreto de maio daquele ano autorizava a utilização de tipografias e instituía a Impressão Régia do Rio de Janeiro. Pela primeira vez, chegavam livros e imprensa ao Brasil, com aval do Governo. A Impressão Régia era responsável por publicar toda a
A administração colonial portuguesa não se limitava a
documentação oficial, além de obras que contribuíssem para
censurar livros e impressos, como já era praxe na Metrópole,
difundir uma imagem positiva da monarquia portuguesa. Em
mas proibia completa e terminantemente a presença de tipogra-
1815, com a elevação do Brasil a Reino Unido de Portugal e
fias e as atividades de impressão nos domínios portugueses. O
Algarves, a Impressão Régia passou a se chamar Régia Oficina
mesmo não aconteceu nem nas colônias espanholas, que dispu-
Tipográfica e, em 1818, quando Dom João foi aclamado rei, mu-
nham de imprensa e universidades desde o século XVII, nem nas
dou novamente a designação para Tipografia Real.
inglesas, que as possuíam desde o século XVIII.
A Imprensa e a Cidade de Santos
Imprensa, Cidade e Modernidade
Contudo, apesar da permissão de imprimir, ainda não
Livros, bibliotecas e materiais impressos eram muito ra-
havia liberdade de imprensa no país. O material publicado estava
ros e considerados perigosos no Brasil Colonial, por serem fonte
sujeito à censura: continuava proibida a impressão de papéis e
potencial de subversão. Os que os possuíssem estavam sujeitos
livros que contrariassem o Estado e a religião, medida que qua-
a duras penas, caso fossem títulos censurados pelo Governo ou
drava bem ao estilo absolutista de governo.
pela Igreja. Imprimir era crime: quem exercesse atividades tipo-
Dos prelos da Impressão Régia saiu, a 10 de setembro
gráficas nas colônias portuguesas era preso e deportado para o
de 1808, o primeiro periódico impresso no Brasil: Gazeta do Rio
Reino, além de ter seus prelos destruídos. Ler, imprimir e divulgar
de Janeiro. Tinha quatro páginas, em formato in-quarto, e era
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publicada duas vezes por semana. Seu objetivo fundamental era
trabalho escravo e a liberdade de expressão. Por sua iniciativa,
fazer propaganda da monarquia, exaltando seus feitos e dando
é considerado o fundador da imprensa no Brasil. Em um dos
visibilidade aos atos oficiais. Para se ter uma idéia do conteúdo
exemplares do Correio, Hipólito da Costa esclarece as razões que
do primeiro periódico brasileiro, reportemo-nos à descrição do
o levaram a lançar o jornal em um país estrangeiro: “Resolvi
inglês John Armitage:
lançar esta publicação na capital inglesa dada a dificuldade de
A Imprensa e a Cidade de Santos
publicar obras periódicas no Brasil, já pela censura prévia, já “Por meio della só se informava com toda a fidelidade ao publico do estado de saúde de todos os Principes da Europa, e de quando em quando as suas paginas serão illustradas com alguns documentos de officio, noticia dos dias natalícios, odes, e panegyris a respeito da família reinante; não se manchavão essas paginas com as effervescencias da democracia, nem com a exposição de agravos. A julgar-se do Brazil pelo seu único periódico, devia ser considerado como hum paraíso terrestre onde nunca se tinha expressado hum só queixume”.
pelos perigos a que os redatores se exporiam, falando livremente das ações dos homens poderosos”. Em 1811, começou a circular na cidade de Salvador, antiga capital colonial e segunda maior cidade do país, o jornal Idade de Ouro do Brasil, impresso no mesmo formato que o Gazeta do Rio de Janeiro e igualmente vinculado aos interesses do governo joanino e da Igreja. Impresso na gráfica de Manuel Antonio da Silva Serva, tinha como redatores dois portugueses: o bacharel Diogo Soares da Silva e o padre Inácio José de Macedo. O próprio título do periódico assinala a intenção apologética e propagandística, sugerindo que a vinda da Corte Portuguesa ao Brasil seria o início
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Gazeta do Rio de Janeiro foi o primeiro jornal impresso
de uma verdadeira idade dourada para o país.
no Brasil, mas não foi o primeiro jornal que circulou no país. Três
Em 1821, com o retorno de Dom João VI a Portugal,
meses antes, começara a circular o Correio Braziliense, ou Arma-
acabava a censura no Brasil e nascia uma imprensa nacionalista
zém Literário, de José Hipólito da Costa. O Correio era um jornal
e favorável à independência. Nesse momento, surgiram diversos
mensal em formato de brochura e com mais de uma centena de
jornais, a maior parte constituída de pasquins efêmeros, impres-
páginas. Impresso em Londres e influenciado pelo liberalismo
sos de maneira extremamente precária, que se polarizavam entre
inglês, era muito mais uma revista dedicada a discutir idéias e
os favoráveis à manutenção do vínculo com Portugal e os defen-
doutrinas do que um jornal de notícias, como o Gazeta.
sores da independência. Apesar da precariedade, esses jornais
Proibido pela censura portuguesa, o Correio circulava
tiveram uma boa dose de influência na formação de uma opinião
clandestinamente nas capitanias, trazendo informações da Euro-
pública favorável à emancipação e foram importantes tanto na
pa e criticando o absolutismo da monarquia instalada no Brasil.
pressão para que o príncipe regente Pedro I permanecesse no
O jornal de Hipólito da Costa defendia idéias radicais para o Bra-
Brasil (o chamado ‘Fico’), como na elaboração, em 1823, da
sil da época, como a abolição da escravidão, a vinda de imigran-
primeira Constituição brasileira.
tes como força de trabalho livre e a transferência da capital do país para o interior.
Após 175 números, a publicação do Correio cessa em dezembro de 1822, poucos meses depois da declaração da in-
Hipólito da Costa havia sido diretor da Junta da Imprensa
dependência. Ele havia cumprido sua função de pôr um país
Régia em Lisboa, mas acabou se indispondo com a monarquia
recém-saído da condição de colônia em contato com o mundo,
portuguesa. Acusado de ser maçom, foi preso pela Inquisição em
divulgando idéias e acontecimentos, como a independência das
1802. Em 1804, fugiu para a Inglaterra, onde teve a idéia, con-
colônias espanholas. Com o fim da censura e a conquista da
cretizada quatro anos mais tarde, de lançar o Correio. Contudo,
soberania, iniciava-se uma nova fase na imprensa brasileira.
Hipólito da Costa não era republicano. Influenciado pelo libera-
A imprensa do Primeiro Reinado e do período regencial
lismo inglês, defendia a monarquia constitucional, a abolição do
tem caráter fundamentalmente político e reflete a luta entre dife-
as distâncias, permitindo o aumento das trocas comerciais e da
Os redatores desses jornais eram, na sua maior parte,
circulação de informações, tanto entre as províncias, quanto com
membros das grandes famílias e elites locais, bacharéis forma-
o exterior. Desenvolvem-se a atividade bancária, o comércio e as
dos em Coimbra ou clérigos e pregadores católicos. O Revérbero
primeiras indústrias, atividades em que se destacou o visconde
Constitucional Fluminense (1821), redigido por Gonçalves Ledo
de Mauá, que fundou empresas e construiu as primeiras estradas
e Januário da Cunha Barbosa, era um jornal nativista que se
de ferro do Brasil.
opunha à manutenção da união do Brasil com Portugal. Em Re-
As cidades começam a ganhar vida própria, emancipan-
cife, após ter participado da Revolução Pernambucana de 1817,
do-se do campo e da lavoura. Surge uma classe média urbana,
Cipriano Barata lança Sentinela da Liberdade (1822).
sedenta de informação e cultura, que formará o público-alvo para
Após a dissolução da Assembléia Constituinte por Pedro
a imprensa em expansão no Segundo Reinado.
I, os irmãos Andrada lançam O Tamoio (1823), que fazia oposição ao governo e atacava os portugueses, mas tinha o cuidado de resguardar a pessoa do imperador. A agora extinta Gazeta do Rio de Janeiro passa a se chamar Diário do Governo (1823) e continua sendo o porta-voz oficial do império. Desse período, destacam-se ainda os jornais O Espelho (1821), de Manuel de Araújo F. Guimarães; o oposicionista A Malagueta (1821), fundado por Luís Augusto May; o Correio do Rio de Janeiro (1822 e 1823); O Papagaio e O Macaco Brasileiro (1823). Um dos jornais mais duradouros do período foi A Aurora Fluminense (1827), de Evaristo da Veiga, que se manteve por oito anos, procurando conter as tendências absolutistas de Dom Pedro I e, ao mesmo tempo, evitar a linguagem virulenta e exaltada dos pasquins oposicionistas. No período que se sucede à abdicação do imperador, em 1831, começa a se manifestar a veia cômica da imprensa brasileira, com a proliferação de pasquins, muitos deles satíricos e humorísticos, com títulos curiosos como O Buscapé, O Doutor Tirateimas, O Narciso, O Enfermeiro dos Doidos e O Minhoca, em 1831; O Carijó (1832); O Cabrito, A Marmota, O Burro Magro e O Par de Tetas, em 1833, entre muitos outros. O reinado de Pedro II, com relativa paz, clima de tolerância e riqueza gerada pelo café, foi propício para a difusão da imprensa. Passadas as tempestades políticas do Primeiro Reinado e da Regência, o país entra no Segundo Reinado com mudanças. Em 1850, é abolido o tráfico negreiro, dando lugar às primeiras experiências com o trabalho livre nas fazendas do interior paulista. Os lucros do café financiam a construção das ferrovias e as melhorias urbanas. A navegação a vapor e o telégrafo encurtam
2. Imprensa e jornalismo no burgo dos estudantes: São Paulo A propagação da imprensa na modernidade está associada fundamentalmente ao crescimento das cidades e à intensifica-
A Imprensa e a Cidade de Santos
rentes perspectivas sobre o processo de emancipação do país.
ção da vida urbana, com a conseqüente demanda de informação por uma classe média culta e educada. Foi assim que houve o boom da imprensa na Europa e nos Estados Unidos durante o século XIX. Entretanto, num país escravocrata e analfabeto, recémsaído da condição colonial, como o Brasil no período imperial, a imprensa demorou a ser viável como atividade comercial. A urbanização incipiente e precária, a falta de dinamismo de uma economia agrária fundada no trabalho escravo, as poucas atividades comerciais e industriais, e a inexistência de uma classe média educada e numericamente representativa são fatores que contribuíram significativamente para o atraso do surgimento da cultura impressa no Brasil. No momento da abdicação de Pedro I, em 1831, a população brasileira era de 4 milhões e 500 mil habitantes. Destes, 2 milhões e 500 mil eram livres, 1 milhão e 200 mil escravos e 800 mil índios. O ensino público praticamente inexistia e as primeiras letras eram precariamente administradas pelos padres de paróquia. Só havia duas universidades, fundadas em 1827: as faculdades de Direito de Olinda, em Pernambuco, e do Largo São Francisco, em São Paulo. Com exceção dos centros administrativos de algumas províncias, como Rio de Janeiro, Recife, Salvador e Vila Rica, a vida urbana era fraca e incipiente no Brasil.
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A Imprensa e a Cidade de Santos
Nessa situação, os papéis impressos eram consumidos
pelo Farol Paulistano e O Observador Constitucional, sucedem-
pelas minguadas camadas urbanas dos grandes centros adminis-
se títulos como A Voz Paulistana (1830); o Correio Paulistano e
trativos, constituídas essencialmente pelo funcionalismo público,
o Novo Farol Paulistano (1831); O Justiceiro (1834), que durou
pelos quadros da Igreja, estudantes, comerciantes e profissionais
até 1835, e O Paulista Oficial (1835), porta-voz do governo da
liberais. O surgimento paulatino de tipografias nas diversas pro-
província. O Observador Paulistano (1838), fundado pelo ex-re-
víncias acabou modificando substancialmente o ambiente cultu-
gente Diogo Antônio Feijó, foi um bissemanário que durou até a
ral em que vivia a população colonial naquela época. Além da
revolta liberal de 1842.
Corte no Rio de Janeiro, havia prelos em Salvador, Recife, Vila Rica, São João Del Rei e em Porto Alegre.
jornal O Governista, defendendo a opinião do governo provincial.
Em São Paulo, que ainda era acanhado burgo estudan-
Havia também folhas satíricas, como O Escorpião, O Meteoro e O
til, o surgimento da imprensa se associava necessariamente à
Pensador; jornais religiosos, a exemplo de O Despertador Cristão
presença da Faculdade de Direito do Largo São Francisco. O pri-
e O Amigo da Religião, e de sociedades literárias ou congêneres,
meiro jornal impresso em São Paulo foi Farol Paulistano (1827),
tais como Revista da Sociedade Filomática, Revista Mensal do
dirigido por José da Costa Carvalho, futuro marquês de Monte
Ensaio Filosófico Paulistano (1854), O Independente, A Camélia
Alegre e presidente da província, com a colaboração de Odorico
e Ensaios Litterarios do Atheneu Paulistano.
Mendes e do futuro senador Vergueiro.
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Nesse mesmo ano, O Paulista Oficial é substituído pelo
No Segundo Reinado, os títulos continuam a se suceder:
Antes do Farol, havia periódicos que circulavam em for-
O Acayaba (1852), do jovem Quintino Bocaiúva, mais tarde linha
ma manuscrita, pois São Paulo ainda não possuía um prelo. Um
de frente da defesa do Partido Republicano, e O Guayaná e A
desses jornais manuscritos foi O Paulista (1823), um bissemaná-
Academia, ambos de 1856, que já faziam campanha abolicio-
rio redigido pelo professor de latim Antonio Mariano de Azevedo
nista. Destacam-se também os jornais ligados às sociedades lite-
Marques, alcunhado ‘mestrinho’, que era copiado por amanuen-
rárias dos acadêmicos e estudantes da Faculdade do Largo São
ses “pagos por uma sociedade patriótica”, sendo as folhas depois
Francisco: Revista Litteraria (1859-51), O Ytororó (1859-60), Es-
pacientemente separadas e distribuídas.
boços Litterarios (1859-60) e Revista da Academia de S. Paulo
O Observador Constitucional (1829), fundado pelo mé-
(1859). O Ipiranga (1849), jornal de tendência liberal fundado
dico italiano Líbero Badaró, foi o segundo jornal impresso na
por Rafael Tobias de Aguiar e Antonio Carlos Ribeiro de Andrada,
Província. De linha liberal, opunha-se à Igreja, aos desmandos
redigido pelos acadêmicos da Faculdade de Direito, foi o primeiro
do poder provincial e ao absolutismo do governo monárquico,
relativamente duradouro, mas ainda não era diário.
pugnando pela liberdade de imprensa. Era impresso na gráfica
O primeiro jornal diário paulistano foi O Constitucional
do Farol Paulistano, que estava sendo processado por ‘crime de
(1853), de linha conservadora, com apenas quatro páginas e
opinião’, e revolucionou a vida na cidade até o assassinato de
vendido ao preço módico de 120 réis. O Correio Paulistano
Libero Badaró, em 1830, a mando de Pedro I. A repercussão
(1854), órgão que se declarava imparcial, fundado por Pedro Ta-
desse assassinato acirrou os ânimos e exaltou a imprensa liberal
ques de Almeida Alvim, foi o primeiro jornal diário importante da
contra o já desgastado governo, levando Pedro I à abdicação em
imprensa paulista. Entre 1827, quando surgiu o Farol Paulistano,
7 de abril de 1831.
e 1854, ano de nascimento do Correio Paulistano, circularam na
Apesar de ter demorado a surgir em São Paulo, a imprensa logo se expandiu pela província, com a proliferação de títulos
província 64 periódicos, todos de duração efêmera e predominantemente redigidos por acadêmicos e estudantes.
a partir do final do Primeiro Reinado, a maioria, entretanto, de
Para quem está habituado com os grandes jornais da im-
duração efêmera. Os redatores, em geral, eram oriundos da Fa-
prensa atual, é surpreendente essa multiplicação vertiginosa de
culdade de Direito do Largo São Francisco. Após o impulso dado
títulos e, em particular, a pouca duração de cada um deles. No
um dos redatores, Salvador de Mendonça, desabafa e expõe as dificuldades para manter um jornal em funcionamento no Brasil daquele período, o que explica a efemeridade da maior parte dos títulos. Seu testemunho nos ajuda a compreender melhor a difícil missão da imprensa em um império escravista: “[...] a obra do jornalismo, no Brasil, onde a imprensa vegeta sob o peso dos grandes salários do pessoal tipográfico ainda escasso, do custo exorbitante do papel e outros materiais importados e, mais que tudo, do gravoso porte de circulação, verdadeiras asas de chumbo postas à ave transmissora do pensamento, a obra do jornalismo, no Brasil, requer pesados sacrifícios pecunirários. Aos produtos desta sagrada indústria escasseiam consumidores, porque geralmente os súditos de um regime que se mantêm pela ausência da opinião não podem sentir a falta das liberdades que a imprensa procura reivindicar.”
3. A imprensa santista e o processo de urbanização da cidade Em sua monografia sobre a imprensa em São Paulo, Lafayete de Toledo arrola 123 títulos em Santos, entre jornais e revistas, no período de 1848 a 1896. Entre 1827 e 1896, segundo seu levantamento, foram publicados 1.536 periódicos no estado de São Paulo. Desses, a maior parte (664) pertence à cidade de São Paulo. Santos vem a seguir com 130 títulos, na frente de Campinas (66) e Taubaté (52). Somente no ano de 1896, quando foi escrita a monografia, verifica-se a fundação de 96 jornais e revistas no estado. No decorrer do Segundo Reinado, a imprensa expande-se nas regiões mais prósperas da província de São Paulo, acompanhando o roteiro do café. Santos representa, nesse contexto, um caso particular, tendo sido uma das primeiras cidades paulistas a ter imprensa. Entre 1849 e 1930, houve quase 200 jornais e mais de duas dezenas de revistas na cidade, e, embora a maior parte tenha sido de duração efêmera, essa quantidade de títulos impressiona e demanda hipóteses para explicá-la. Que relação
Segundo o Almanaque da Província, de 1858, só havia três tipografias na cidade de São Paulo: Dois de Dezembro, de Antonio Louzada Antunes, instalada no palácio do governo; Lei, que imprimia o jornal do mesmo nome, localizada atrás da cadeia pública; e Imparcial, de Joaquim Roberto de Azevedo Marques, situada na Rua do Ouvidor, onde era impresso o Correio Paulistano. Os prelos eram bastante rudimentares, movidos à mão e feitos de madeira. Somente em 1863, a Tipografia Imparcial passou a imprimir o Correio em uma Alauzet, máquina de aço que a partir de 1869 passou a ser movida a vapor, o que permitiu ampliar as tiragens. Nessa época, era muito comum a circulação de jornais ser interrompida simplesmente por falta de papel, insumo caro e importado da Europa. A essas dificuldades de natureza técnica, soma-se a exigüidade do público leitor em uma cidade que, ainda segundo o Almanaque de 1858, contava apenas com duas livrarias e sete escolas - cinco para meninos e duas para meninas.
A Imprensa e a Cidade de Santos
último número antes de O Ipiranga deixar de circular, em 1869,
guarda a imprensa com o devir da cidade portuária entre a segunda metade do século XIX e as primeiras décadas do século XX? Que fatores propiciaram os empreendimentos jornalísticos em Santos e qual o perfil de sua imprensa? Que vínculo pode-se estabelecer entre essa imprensa e as lutas sociais das quais a cidade foi palco nesse período? Até meados do século XIX, Santos era uma vila pequena e sem grande expressão. Uma exígua população vivia basicamente do que produzia o mar – pesca, extração do sal marinho e comercialização de óleo de baleia, utilizado na época para acender os lampiões. Porém, com o deslocamento do centro dinâmico da economia cafeeira das fazendas fluminenses para o Vale do Paraíba e, posteriormente, para o Planalto Paulista, a partir da década de 1830, o porto de Santos assumiu uma posição cada vez mais estratégica na economia nacional. O crescimento e a riqueza de Santos, portanto, devem-se ao porto e ao eixo que a cidade forma com São Paulo. Na verdade, até hoje, a maior parte das exportações brasileiras ainda passa pelo porto santista.
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A Imprensa e a Cidade de Santos
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O destino de Santos esteve, desde o início, ligado ao de
O único jornal que se sustentou foi Revista Commercial,
São Paulo. Em seu estudo sobre a geografia de São Paulo, Caio
devido em grande parte à dedicação e competência de Guilher-
Prado Júnior as considerava “cidades casadas”, formando um
me Délius, que trouxe a Santos todo o know-how e a experiên-
único “sistema” São Paulo-Santos. Nele, Santos desempenha o
cia adquiridos na cidade de Hamburgo, na Alemanha. Délius
papel de ponto de articulação com o exterior, por intermédio do
era um médico extremamente culto: conhecia diversas línguas
porto, enquanto São Paulo é o centro de convergência dos flu-
antigas e modernas; foi professor de latim, inglês e alemão no
xos provenientes do planalto paulista. A importância do sistema
Colégio Alemão de Santos, além de tradutor juramentado da
Santos-São Paulo seria justamente o maior responsável pela pre-
Alfândega local.
ponderância econômica do estado de São Paulo, a “locomotiva”, na economia nacional.
Desde o início, o periódico manteve uma linha marcadamente liberal e antiescravista. Entre janeiro e março de 1851,
Em 1823, segundo o historiador Francisco Martins dos
Revista Commercial publica, em partes sucessivas, o famoso
Santos, a vila possuía apenas 4.700 habitantes, dos quais 2 mil
discurso de José Bonifácio na Constituinte de 1823, onde o
eram escravos e 2.700 livres - entre estes, 1.400 eram mesti-
‘patriarca da independência’ defendeu a abolição da escravidão
ços. Em 1839, quando foi elevada à categoria de cidade, Santos
no Brasil. Desde os primeiros números, o jornal faz campanha
era “o tipo apurado de uma povoação colonial sem fortuna e as
sistemática pela abolição. No entanto, Délius evita o confronto
praias lodosas do porto [...] freqüentadas por bandos de urubus
direto com o governo e a retórica política inflamada dos jornais
davam a nota característica local”.
e pasquins da época. Através de dados numéricos e tabelas, o
É nesse contexto, algo desolador, que surge a imprensa
Revista procura comprovar economicamente a inviabilidade do
em Santos, apenas dez anos após sua elevação de vila a cida-
trabalho escravo e as vantagens do trabalho livre. Outra estraté-
de. O primeiro jornal santista foi Revista Commercial, fundado
gia é transcrever discursos, cartas e outros textos, publicados no
em 1849 pelo alemão Guilherme Délius, com tipografia própria.
Brasil e no exterior, para conferir credibilidade e consistência às
Surge em seguida O Nacional (1850), de Martim Francisco de
posturas adotadas pelo jornal.
Andrada (filho do célebre irmão de José Bonifácio), impresso na
Entre 1851 e 1852, reflete-se em suas páginas a luta
Tipografia Imparcial e no mesmo formato que O Ipiranga, da ca-
com o concorrente O Mercantil, de Manoel Raposo de Almeida,
pital. Martim Francisco foi compelido a vender a tipografia por
tomando posição em favor dos brasileiros no conflito entre os
dificuldades financeiras. O comprador, o português Manoel Ra-
nacionais e os portugueses, que se desenrolava naquele mo-
poso de Almeida, fundou O Mercantil (1850), que durou dois
mento. A partir de 1860, o Revista já não tem perfil estritamente
anos, na tentativa de concorrer com o Revista Commercial.
comercial. Em crise financeira, estava à procura de um público
Em 1851, foram editados na cidade ainda dois pequenos
mais amplo e precisava expandir sua circulação. Em 1865, Dé-
jornais – O Precursor e Médico Popular –, que tiveram vida efê-
lius é obrigado a vender o jornal junto com a tipografia comercial.
mera. Em 1857, começou a circular O Commercial, dos irmãos
Depois de passar pela mão de diferentes donos, Revista Com-
Joaquim Roberto e Roberto Maria de Azevedo Marques. O jornal,
mercial pára de circular em 1872, quando se encerra o primeiro
de linha conservadora, contava com o apoio do poder municipal
ciclo da imprensa santista.
e publicava as atas municipais, mas conseguiu se manter ape-
Um dos fatores que facilitavam a circulação de informação
nas até 1860. A maior parte das publicações desse período não
em Santos era o fato de na cidade funcionar a única linha regular
conseguiu sobreviver por muito tempo devido às mesmas dificul-
de correio com São Paulo e com a Corte, no Rio de Janeiro. As
dades registradas em São Paulo: alto custo do papel, ausência de
comunicações com o interior do estado só se tornaram regulares
mão-de-obra qualificada, público leitor e anúncios insuficientes
após a construção da ferrovia SPR, em 1867, interligando Santos
para viabilizar comercialmente os periódicos.
a Jundiaí. Não por acaso, foi justamente nas cidades situadas ao
epidemias vitimaram um total de 22.588 pessoas, quase me-
a imprensa floresceu no interior. A partir de 1874, também ficara
tade da população do município, que em 1900 era de 50.389
mais fácil obter informações do exterior. Até então, chegavam
habitantes.
notícias apenas por carta, mas, nesse ano, a primeira agência
Impulsionada pelo crescimento das exportações de café
de notícias do mundo, a Reuter-Havas, instalou uma sucursal
e também de açúcar, a cidade se desenvolve continuamente e
no Rio de Janeiro. O Jornal do Comércio recebia o noticiário da
passa por um processo acelerado de adensamento da malha
agência por telegrama e depois o repassava a outros jornais, que
urbana. Com a vinda de imigrantes europeus, e também de
passaram a ter uma página internacional.
migrantes de São Paulo e do nordeste, há expressivo aumento
Foram fundamentais também as tipografias existentes
populacional. Em 1890, Santos tinha 13.012 habitantes, pas-
em Santos, a primeira das quais teria sido a Commercial, de Gui-
sou a ter 88.967 em 1913 e, em 1935, atingiu a cifra de
lherme Délius. A informação sobre a impressão de livros nesse
142.059 habitantes. Mas esse crescimento tem seu custo. A
período nos dá uma idéia das tipografias santistas. Em 1851, foi
presença da lama escura, típica de mangues e áreas pantanosas,
impresso o drama A estrangeira, de Francisco Luiz d´Abreu, na
marcava tanto a fisionomia da cidade que, vista à distância do
Typographia Commercial, de Guilherme Délius. Em 1852, pela
mar, Santos parecia negra, como observava o escritor Júlio Ribei-
mesma tipografia, a Oração de Santa Thereza, do padre José
ro em 1888: “Vista do mar, do estuário a cidade é negra: black
Norberto de Oliveira, e, em 1860, a comédia Os grandes da
town lhe chamavam os ingleses”. A insalubridade da cidade era
época, ou A febre eleitoral, de Antonio Pereira dos Santos, na
famosa e afastava dela visitantes, investimentos e trabalhadores.
typographia de V. A. de Mello. Segundo o Almanak da Cidade
Santos foi construída sobre antigos mangues e estava rodeada
de Santos, em 1871 havia três tipografias em funcionamento:
por áreas pantanosas, além do clima quente e úmido, e dos ve-
a Typographia Commercial, que editava o Revista Commercial
rões prolongados que os santistas conhecem bem até hoje. Con-
às terças, quintas e sábados; a Typographia do Commercio, que
tam os relatos que, nos dias de chuva, as ruas sem calçamento
imprimia o jornal Commercio de Santos às segundas, quartas e
transformavam-se em verdadeiros lagos. Quando a maré baixava,
sextas, e a Typographia Imparcial, que publicava A Imprensa às
enormes lamaçais malcheirosos contaminavam a cidade. Esses
terças e quintas-feiras.
fatores a tornavam propícia às infestações: na segunda metade
A partir da década de 1870, a cidade se enriquece cada vez mais com o comércio e a exportação do café plantado nas
do século XIX, proliferam doenças como febre amarela, varíola, peste bubônica, difteria e tuberculose.
grandes propriedades do interior paulista. O porto santista tinha
As medidas adotadas pelo poder público para controlar
se tornado indispensável para a economia nacional, mas faltava
as epidemias eram paliativas e ineficientes, como limpeza das
à cidade uma infra-estrutura urbana compatível com sua impor-
praias, quarentenas no porto e construção de um hospital para
tância estratégica. O período decisivo na transformação de sua
isolamento dos doentes. Só foram tomadas providências sérias
paisagem urbana vai de 1870 à década de 1910, no decorrer do
quando as moléstias começaram a ‘subir a serra’ junto com os
qual sua fisionomia modifica-se radicalmente - Santos deixa de
passageiros da ferrovia inglesa, ameaçando a cidade de São Pau-
ser uma cidade semicolonial para ingressar na modernidade.
lo. Obrigado a tomar atitudes, o governo da província instituiu
Na reforma urbana de Santos, o maior problema a ser
duas comissões, independentes da municipalidade e diretamente
equacionado era o das epidemias, que assolavam a região. A
subordinadas ao Estado: a Comissão Sanitária, responsável por
preocupação com as epidemias já se reflete nos últimos núme-
vistoriar habitações, promover desinfecções e fiscalizar a limpeza
ros do jornal Revista Commercial, em 1872. Os dados revelam
de quintais e terrenos baldios, e a Comissão de Saneamento, res-
a magnitude do problema: entre 1891 e 1895, morreram, só
ponsável pelas obras de canalização de água e pela construção
de febre amarela, 5.740 pessoas, e, entre 1890 e 1900, as
da rede de esgotos. Para higienizar a cidade e implementar um
A Imprensa e a Cidade de Santos
longo da linha – como Campinas, Jundiaí e Guaratinguetá – onde
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plano urbanístico, foi contratado o engenheiro Saturnino de Brito.
XIX. Impulsionados pelas melhorias nas técnicas de impressão e
Era preciso remodelar o traçado das ruas, modernizar o porto e
pelo crescimento demográfico, multiplicam-se os periódicos na
prevenir a ocorrência de infestações. Saturnino formulou seu pla-
cidade. A imprensa tende a se segmentar e se partidarizar, refle-
no, posto em prática a partir de 1905, com o engenhoso sistema
tindo as lutas políticas e ideológicas do período.
A Imprensa e a Cidade de Santos
de canais de drenagem, ainda hoje em pleno funcionamento.
ásperas críticas ao governo monarquista, principalmente após a
te pelos comissários do café, impulsiona a expansão urbana da
catástrofe da Guerra do Paraguai. Surge também uma imprensa
cidade. Na passagem do século XIX para o século XX, começa
monarquista e conservadora, vinculada ao governo imperial e à
a circular o sistema de bondes, inicialmente puxados por burros,
Igreja. Mais tarde, na passagem do século XIX para o XX, apare-
antes da eletrificação das linhas em 1909. A iluminação pública
cerá também uma imprensa operária, que introduz uma nova voz
passa do sistema a gás para a eletricidade em 1904. Nos bairros
no jornalismo santista.
ricos, são edificados casarões e palacetes, surgem hotéis caros e cassinos na orla e no Monte Serrat. Abrem-se grandes avenidas, calçadas e iluminadas, como a Conselheiro Nébias e a Ana Costa. Há mudanças de hábitos e comportamentos, sintomas do novo século: os santistas começam a freqüentar as praias e a expor seus corpos ao sol. O último canal, conforme o projeto
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Surge uma imprensa republicana e abolicionista, que faz
A afluente burguesia da região, composta principalmen-
de Saturnino, é construído em 1927, completando o processo de transformação da paisagem urbana santista. Paralelamente, os trabalhadores portuários e os descendentes dos escravos libertos vão sendo empurrados para os morros, num modelo excludente de ocupação do espaço urbano típico das grandes cidades brasileiras. Em Santos, forma-se o primeiro contingente significativo de proletariado urbano do estado de São Paulo. O processo de higienização foi também de segregação espacial, como ressalta a historiadora Ana Lanna: “[...] encontramos a população local sendo atacada, transformada e responsabilizada por todos pelas mazelas e vícios da cidade. É sobre ela que estas intervenções “modernizadoras” recairão com violência, definindo novos lugares./ A discussão e implementação de uma cidade higiênica e bela e associação entre salubridade física e social foi uma das formas fundamentais de generalização dos valores burgueses, de controle desta população móvel e instável.”
Todas essas transformações ecoarão nas páginas de uma imprensa que se expande a partir das últimas décadas do século
4. Vicissitudes do jornalismo no Segundo Reinado Entre as décadas de 1860 e 1870, começa a se afirmar a cultura escrita no Brasil, com surtos editoriais, fundação de jornais e revistas, publicação de opúsculos e folhetins, além dos populares almanaques das cidades. A intensificação da vida urbana e o crescimento de uma classe média sequiosa de informação permitiram a ampliação da cultura impressa no país. Aumenta o número de tipografias e se multiplicam as casas editoriais, como a de Francisco Alves de Oliveira (1872), antiga Livraria Clássica, no Rio de Janeiro. Até a década de 1850, a imprensa brasileira era feita de modo artesanal e com distribuição bastante restritra. O jornalismo não passava de uma aventura solitária: tudo era improvisado, sendo até mesmo possível alguém fazer um jornal sozinho e depois lutar para distribuí-lo. A partir das décadas seguintes, no entanto, o jornal passará a ser encarado como uma empresa, que exige investimentos e implica em divisão de trabalho. As inovações técnicas e o aprimoramento da apresentação gráfica dão ensejo ao surgimento das revistas ilustradas, humorísticas e de caricaturas. Nas revistas de caricaturas, o humor funcionava como uma válvula de escape para as tensões políticas e o desenho era uma forma de comunicação imediata, de fácil compreensão. A primeira caricatura foi impressa no Jornal do Commercio em 1837, de autoria do pintor Manoel de Araújo Porto-Alegre,
com o fim da Guerra do Paraguai (1864-1870). Após a funda-
ca – Periódico Plástico-Filosófico (1844), idealizado por Araújo
ção do Partido Republicano, em 1870, cria-se uma imprensa
Porto-Alegre e Rafael Mendes de Carvalho, durou até 1845 e
partidária, destinada a difundir o ideário republicano e formar
representou o primeiro avanço técnico na imprensa brasileira.
uma opinião pública antimonarquista. Em dezembro de 1870, é
Em 1864, era lançado em São Paulo O Diabo Coxo, de Luiz
lançado no Rio de Janeiro o jornal A República, órgão do Clube
Gama e Ângelo de Agostini. Impresso na Tipograia Alemã, saía
Republicano dirigido por Quintino Bocaiúva. A imprensa da Cor-
aos domingos e trazia quatro páginas de ilustrações e quatro pá-
te tendeu a se manter monarquista, mas mesmo lá penetrou a
ginas de textos. Foi a primeira revista ilustrada paulista e marcou
propaganda republicana, com jornais como a Gazeta de Notícias
época pelas críticas impiedosas que fazia aos políticos e à Igreja,
e o Diário de Notícias (1875), e, principalmente, O Paiz (1884),
utilizando o humor corrosivo como uma verdadeira arma.
dirigido por Quintino. Na última década da monarquia no Brasil,
Os romances de folhetim tornaram-se populares no Se-
multiplicam-se os jornais e pasquins republicanos, lutando por
gundo Reinado, especialmente no Rio de Janeiro, onde eram
reformas como a separação entre a Igreja e o Estado, o federalis-
publicados por jornais como Diário do Rio de Janeiro, Jornal do
mo e o fim dos castigos corporais nas forças armadas.
Comércio e Correio Mercantil. Os escritores eram um dos maio-
Em São Paulo, destacam-se o Correio Paulistano (1872),
res atrativos desses jornais. Além dos folhetins, eles escreviam
que muda de orientação, convertendo-se em órgão do Partido
artigos e crônicas, em que refletiam sobre os acontecimentos
Republicano Paulista, e A Província de São Paulo (1875), futuro
mundiais e as transformações pelas quais passava o Brasil.
O Estado de São Paulo. O Correio Paulistano tornou-se abolicio-
O escritor Manuel Antonio de Almeida publicou seu romance, Memórias de um Sargento de Milícias (1853), nas pági-
nista após ser comprado por Antônio da Silva Prado em 1887. Foi o primeiro jornal paulista impresso em rotativa.
nas do Correio Mercantil. José de Alencar, que era redator-chefe
O jornal A Província de São Paulo foi lançado por uma
do Diário do Rio de Janeiro, publicou em suas páginas os roman-
sociedade em comandita por iniciativa de Francisco Rangel Pes-
ces Cinco Minutos (1856), Viuvinha (1857) e O Guarani (1857).
tana e outros empresários do interior paulista, principalmente da
Escritores como Joaquim Manuel de Macedo, Gonçalves Dias,
cidade de Campinas. Constitui um dos primeiros exemplos de
Bernardo Guimarães, Castro Alves, Alexandre Herculano e Feli-
organização empresarial da imprensa no Brasil. Dependia exclu-
ciano de Castilho freqüentavam amiúde as páginas dos jornais da
sivamente de anúncios e assinaturas para sobreviver e também
Corte. Foi em um pequeno jornal, A Marmota, que Machado de
introduziu a venda avulsa nas ruas. Passou a se chamar O Es-
Assis iniciou sua carreira, tendo escrito crônicas, contos e crítica
tado de S. Paulo após ter passado para a direção de Júlio de
literária para vários jornais.
Mesquita em 1891.
Até o surgimento das grandes empresas jornalísticas, na
Max Leclerc, correpondente de um jornal parisiense, es-
passagem do século XIX ao XX, era raro o tratamento objetivo
teve no Brasil em 1889 para cobrir a queda da monarquia de
da notícia, que em geral mimetizava a linguagem ornamentada
Pedro II e fez observações cortantes sobre a imprensa brasileira
da literatura. Nessa época de imprensa artesanal, não havia se-
no período, criticando tanto os jornais comerciais, quanto a im-
paração de seções, nem segmentação. Literatura e imprensa se
prensa partidária:
conjugavam, unindo a demanda de uma classe média urbana por informação e cultura à necessidade de os autores nacionais encontrarem canais de expressão. Não obstante, o folhetim também cumpria a função de desviar a atenção das tensões sociais e dos conflitos políticos do império escravista de Pedro II. Tensões e conflitos que eclodiram
“A imprensa no Brasil é um reflexo fiel do estado social nascido do governo paterno e anárquico de D. Pedro II: por um lado, alguns grandes jornais muito prósperos, providos de uma organização material poderosa e aperfeiçoada, vivendo principalmente de publicidade, organizados em suma e antes de tudo como uma emprêsa
A Imprensa e a Cidade de Santos
e, sugestivamente, era uma cena de suborno. A Lanterna Mági-
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A Imprensa e a Cidade de Santos
comercial e visando mais penetrar em todos os meios e estender o círculo de seus leitores para aumentar o valor de sua publicidade, a empregar sua influência na orientação da opinião pública. [...] Em tôrno deles, a multidão multicor de jornais de partidos que, longe de ser bons negócios, vivem de subvenções dêsses partidos, de um grupo ou de um político e só são lidos se o homem que os apoia está em evidência ou é temível.”
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dida pela imprensa santista desde o Revista Commercial de Guilherme Délius. Contribuiu para isso o fato de Santos nunca ter sido um grande centro escravista. Pelo contrário, muitos santistas colaboraram intensivamente, por meio dos clubes abolicionistas e da criação de quilombos, para o fim da escravidão. A partir de 1870, setores cada vez mais amplos da população livre da cidade envolviam-se na luta abolicionista, acoitando escravos, patrocinando fugas, reunindo fundos para obter alforrias, defendendo escravos foragidos na Justiça. Os escravos fugitivos das fazendas do interior
A partir de 1870, setores urbanos que faziam parte da
paulista eram encaminhados pelos caifases ao Quilombo do Jaba-
elite cultural do país, como intelectuais, jornalistas e escritores,
quara, fundado em 1882 em Santos. Os caifases eram a facção
engajaram-se na luta pela abolição do trabalho escravo no Brasil.
mais radical e combativa do movimento abolicionista paulista. Sob
Eles participavam ativamente dos clubes abolicionistas e denun-
a liderança do advogado Antônio Bento, eles agenciavam fugas
ciavam, em artigos de jornal e palestras, os atos de violência
coletivas, perseguiam capitães-do-mato e ameaçavam senhores
contra os escravos e a injustiça de regime escravista. Assim, in-
de escravos. Os negros foragidos eram enviados ao Quilombo do
fluenciaram a opinião pública, causando um sentimento de re-
Jabaquara e à Província do Ceará, território livre desde 1884. De-
volta diante da escravidão. A imprensa abolicionista teve papel
vido à ação dos abolicionistas, a maioria das cidades paulistas já
muito importante na difusão do ideal abolicionista e na formação
havia abolido a escravidão antes da Lei Áurea, em 1888.
dessa opinião pública.
Santos tornou-se, na última década do regime escravista,
Nesse contexto, surgiu uma série de jornais que tinha
um pólo aglutinador de escravos em fuga. Na cidade, ao con-
como causa maior a supressão da escravidão. Em diferentes ci-
trário do que ocorreu no Rio de Janeiro, o abolicionismo estava
dades do Brasil, mas principalmente no Rio de Janeiro, esses
intimamente ligado ao movimento republicano. Nos anos finais
jornais denunciavam, pressionavam e mobilizavam a população
da escravidão, estima-se que cerca de 10 mil negros fugidos
em defesa da causa abolicionista. Na capital, surgiram a Ga-
tenham se estabelecido em Santos. A repercussão que teve o
zeta de Notícias (1875) e a Gazeta da Tarde (1880), dirigida
movimento abolicionista na cidade deve-se, em larga medida, ao
por José do Patrocínio, além de muitos outros jornais pequenos
seu jornalismo e a sua imprensa. Santos foi declarada território
que eram distribuídos à população, por vezes em improvisadas
livre em 1886, antes, portanto, da abolição oficial. Mas alguns
cópias manuscritas.
supostos abolicionistas se aproveitavam da situação para ganhar
Em 1884, o jornal O Libertador anunciou a libertação to-
dinheiro com uma causa humanitária ou obter mão-de-obra ba-
tal dos escravos da província do Ceará. O fato foi saudado pelos
rata, no momento em que crescia a oferta de empregos e havia
mais célebres intelectuais abolicionistas da época, como José do
dificuldade em conseguir trabalhadores.
Patrocínio, que se deslocou do Rio de Janeiro especialmente para
Entre os jornais que se engajaram na causa abolicionista
testemunhar esse evento. Joaquim Nabuco também comemorou
em Santos, destaca-se em primeiro lugar O Raio (1875), hebdo-
com entusiasmo esse acontecimento, que registrou em carta es-
madário que apoiava o abolicionismo de Luis Gama, mas durou
crita alguns anos depois em Paris: “A emancipação do Ceará foi o
apenas cerca de um ano. Após seu fechamento, outro jornal,
acontecimento decisivo para a causa abolicionista. O efeito moral
A Tesoura, publicava, com tristeza, a seguinte notícia: “A maior
da existência de uma Província livre, resgatada e, desde então,
novidade da semana foi o fechamento do Raio, que bastante
fechada para a escravidão foi imenso; o efeito político imediato”.
contristou aos seus numerosos leitores. Depositamos, como sig-
Como vimos acima, o abolicionismo era uma causa defen-
nal de gratidão, uma saudade sobre sua sepultura”.
libertos à sociedade e ao mercado de trabalho livre. Excluídos da participação política e do mercado de trabalho, expulsos das
cularam em cópias manuscritas entre 1881 e 1883: O Porvir,
terras do quilombo, foram condenados à marginalização. Com a
O Embrião, O Pirata, O Guarani, O Periquito e O Papagaio. Em
aceleração do processo de urbanização, entre a última década
seguida surgiram O Alvor (1884) e O Piratiny (1885), fundados
do século XIX e a primeira do século XX, a população de negros
por membros do Partido Republicano de Santos, entre os quais
pobres foi, cada vez mais, empurrada para a vida perigosa e
Antônio Augusto Bastos, Guilherme de Melo e o poeta Vicente
precária nas encostas dos morros santistas.
de Carvalho. Em 1886, circula o jornal Vinte e Sete de Fevereiro, vinculado ao clube abolicionista do mesmo nome. Em 1887, circulou A Vila da Redenção, título que faz referência ao Quilombo do Jabaquara, de Quintino de Lacerda, pequeno jornal de distribuição gratuita, redigido por Alberto Sousa, João Emmerich e Gastão Bousquet. Já para comemorar a abolição, passa a circular, em 21 de maio de 1888, o jornal Luiz Gama, vinculado ao clube do mesmo nome. O líder dos negros no Quilombo do Jabaquara era o ex-escravo Quintino de Lacerda. Amigo do abolicionista Silva Jardim e do governador Bernardino de Campos, Quintino foi a ponte entre a elite branca e os negros libertos. Na grande greve do porto de Santos, em 1891, ele boicotou os operários grevistas, arregimentando, a pedido de Bernardino, “turmas de homens de cor” (na expressão usada pelo Correio Paulistano de 21 de maio de 1891) para manter as cifras de embarque e não prejudicar as exportações de café. Em 1893, quando houve a Revolta de Armada, tomou o partido do governo e ofereceu seus serviços a Floriano Peixoto, pelo que foi condecorado Major Honorário do Exército Brasileiro. Foi eleito vereador da Câmara Municipal em 1895, mas impedido de tomar posse pelos outros vereadores brancos, que se negavam a compartilhar o poder com um negro analfabeto. Quintino de Lacerda era um personagem interessante e contraditório. Chegou a ser célebre em Santos, ocupando o noticiário dos jornais e recebendo elogios das autoridades. Ao mesmo tempo em que defendia os direitos dos negros libertos, principalmente o de permanecer nas terras do quilombo após a abolição, Quintino era cooptado pelas elites locais, que se utilizavam de seus serviços e se aproveitavam de sua liderança sobre os negros. Os grupos e associações abolicionistas foram dissolvidos após o fim da escravidão, quando, teoricamente, sua missão estava concluída. Não havia nenhum plano para a integração dos
5. A grande imprensa na passagem do século XIX ao século XX No Brasil, a partir da última década do século XIX, há um expressivo incremento da imprensa, devido ao aperfeiçoamento técnico das oficinas gráficas e à intensificação do crescimento urbano nas grandes cidades do país. Em grandes capitais, como São Paulo e Rio de Janeiro, surgiram revistas ilustradas no início
A Imprensa e a Cidade de Santos
Vários jornais, produzidos por estudantes, membros de clubes abolicionistas como a célebre Bohemia Abolicionista, cir-
do século XX, que incorporavam a ilustração e a fotografia. No Rio de Janeiro, as principais foram Revista da Semana e O Malho (1902), Kosmos (1904), Fon-Fon! (1907) e Careta (1908). No início do século XX, as elites cultas de vários países, entre eles Estados Unidos, França e Alemanha, liam jornais como The Times, Journal des Débats e Neue Freie Presse. Mas surge uma imprensa de massa, que recorre cada vez mais a inovações visuais para popularizar a informação: cabeçalhos em caixa-alta, lay-out de página, mistura de texto e imagem, e incrementos na publicidade. Havia modificações não só no plano da forma, mas também do conteúdo, dividido em seções e porções pequenas e independentes, adaptando-se a um tipo de leitor de menor nível cultural e pouco acostumado a se concentrar em longos textos. Essas mudanças permitiram a ampla difusão dos jornais. Por volta de 1890, grandes diários ingleses, por exemplo, chegavam a alcançar tiragens de um milhão de exemplares. Nessa mesma época, no Brasil, grandes diários, como Jornal do Brasil e O Estado de S. Paulo, conseguiam vender, no máximo, alguns milhares de exemplares. Em 1900, o Jornal do Brasil atingiu a tiragem de 50 mil exemplares diários e, em 1903, chegou a 62 mil exemplares. Em 1896, O Estado de S. Paulo imprimia 8 mil exemplares; em 1906, atingiu a tiragem de 35 mil.
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A Imprensa e a Cidade de Santos
Dez anos após sua elevação à categoria de cidade, Santos ganha, em 1849, o primeiro jornal, fundado pelo médico
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alemão Guilherme Délius. De linha liberal e antiescravista, Revista Commercial evitava o confronto direto com o governo e procurava comprovar, economicamente, as vantagens do trabalho livre. Rodado em tipografia própria, o jornal transcrevia textos publicados no Brasil e no exterior.
partidária pela informação. Temas antes secundários, como o noticiário policial, o esporte e a moda, ocupam um espaço cada
anunciantes, leitores e com o poder modificam-se completamen-
vez maior. A profissão de jornalista ainda não era reconhecida e
te. Surge o problema das sucessões políticas e a necessidade de
os escritores tinham que se esforçar para redigir reportagens e
os detentores do poder comprarem a opinião da imprensa para
notícias objetivamente, evitando a linguagem retórica e ornamen-
garantir a manutenção do mando político.
tada com que haviam se acostumado.
O problema se agrava nas sucessões presidenciais, quan-
Todo esse dinamismo foi, em parte, antecipado pela im-
do se torna praxe a compra de jornalistas pelo governo: “É agora
prensa santista, que desde o final do século XIX já possuía jor-
muito mais fácil comprar um jornal do que fundar um jornal; e é
nais diários, de ampla circulação, como Diário de Santos (1872),
ainda mais prático comprar a opinião do jornal do que comprar
Tribuna do Povo (1894) e Santos Commercial (1894). O Diário
o jornal”. Evidentemente, continuam a existir jornais críticos, que
de Santos foi o jornal mais importante da cidade depois do Revis-
fazem oposição virulenta ao governo, mas os ataques visam mais
ta Commercial, de Guilherme Délius, e o mais duradouro, depois
indivíduos do que idéias: algumas personalidades são sacrali-
do Tribuna do Povo, de Olímpio Lima. Foi também o primeiro
zadas, enquanto outras são enxovalhadas diante dos olhos do
jornal santista organizado como empresa e gerido por uma so-
público leitor.
ciedade comercial. Para ele contribuíram alguns dos melhores
De qualquer maneira, tende a desaparecer o jornal como
jornalistas da cidade na época, tanto que foi considerado uma
aventura e empreendimento individual, apoiado em alguma figu-
verdadeira escola de jornalismo. A partir de 1877, passou a ser
ra de prestígio (político ou intelectual), como o redator, e impres-
impresso em tipografia a vapor, que também imprimia a Revista
so em oficinas artesanais. Uma das conseqüências da passagem
Nacional de Ciências, Artes e Letras (1877), editada pelo escritor
do jornalismo como aventura solitária ao jornalismo empresa-
Inglez de Sousa, introdutor do naturalismo na literatura brasileira.
rial é a redução do número de periódicos, pois abrir um jornal
Republicano e abolicionista, o Diário de Santos fazia virulentas e
passa a ser um empreendimento de risco que exige vultosos
inflamadas críticas à Igreja e ao governo monarquista.
investimentos.
Ao contrário do que se costuma divulgar, não há nenhu-
A adoção da racionalidade econômica pelos jornais tam-
ma relação entre o jornal Revista Commercial, que fechou em
bém implicou mudanças na linguagem jornalística. A notícia
1872, e o Diário de Santos. Este comprou a tipografia do Co-
passa a ser tratada de maneira mais objetiva e o jornal deixa
mércio de Santos (1869), que fechou também no ano de 1872
de mimetizar a linguagem literária e rebuscada dos escritores,
devido a dificuldades financeiras. No editorial de 21 de julho de
apesar de estes continuarem a ser requisitados como redatores
1876, o Diário de Santos já destacava a necessidade de reformas
dos principais jornais. Olavo Bilac, Alphonsus de Guimarães,
no porto de Santos para facilitar as exportações: “[...] é dever
João do Rio, Coelho Neto, Arthur Azevedo, só para citar nomes
nosso insistir sobre a conveniência e necessidade de um caes e
famosos, contribuíram regularmente para jornais. As contribui-
esse melhoramento cada dia se torna mais indeclinável./A nossa
ções literárias passam a ser seções fixas, separadas das notícias,
cidade é a segunda na província, e sob alguns pontos, a primei-
geralmente postas no rodapé, junto com as críticas literárias. As
ra, pelo menos encarada quanto a seu commercio [...]”.
revistas ilustradas, que começam a proliferar na Belle Époque,
Somente em 1892 essa necessidade se concretizaria,
são agora os meios mais adequados para a criação e a discussão
com a inauguração do primeiro trecho de 260 metros do cais
estético-literária.
do porto pela Companhia Docas de Santos. A partir de 1911, o
Observa-se, além disso, outras mudanças relativamente
Diário de Santos esteve sob a direção de Rangel Pestana, que,
lentas: o folhetim tende a ser substituído pelas colunas e reporta-
entretanto, não conseguiu mantê-lo em funcionamento, acaban-
gens, o artigo político pela entrevista e a doutrinação ideológico-
do por fechar em 1918.
A Imprensa e a Cidade de Santos
Como esclarece Werneck Sodré, a partir do momento em que o jornal se torna uma empresa capitalista, suas relações com
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A Imprensa e a Cidade de Santos
Fundado pelo maranhense Olímpio Lima em 1894, Tribuna do Povo foi
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um dos primeiros jornais de São Paulo a ter duas edições diárias. Contrário ao governo republicano de Floriano Peixoto, o jornal foi empastelado logo após o primeiro número, em março de 1894, e depois em abril e dezembro do ano seguinte. O nome foi depois alterado para A Tribuna, sendo hoje o nono jornal mais antigo em circulação.
foram depredadas. O jornal monarquista A Tribuna Liberal - que em 1890 teve o nome alterado para A Tribuna – foi empastelado
se explicitamente monarquista, afirmando que “[...] a República
em 29 de novembro de 1890 por suas críticas ao governo de
não foi obra do Povo, mas sim dos militares. O povo apenas
Deodoro. Esse acontecimento gerou uma onda de protestos em
ficou surpreso com o golpe”. Uma clara provocação aos republi-
todo o meio jornalístico brasileiro. O jornal A Platéia, de Eduardo
canos, que responderam com o empastelamento do jornal em 5
Prado, também se engajou na luta antiflorianista.
de dezembro de 1895. O jornal foi obrigado a interromper sua
Em Santos, o jornal A Tribuna do Povo (1894), fundado
publicação, mas reapareceu em 29 de dezembro com o seguinte
pelo maranhense Olímpio Lima, tomou partido contra o governo
relato do ocorrido, que nos ajuda a entender o significado de um
republicano. Apesar de intitular-se “desligado das peias partidá-
empastelamento, tão comum naquela época:
rias [...] independente e livre”, o jornal afrontou de forma aberta e virulenta os florianistas.
[...] encontramos tudo em destroços: machina quebrada, cavaletes partidos, caixas viradas, marmore espatifado, janellas arrebentadas, cartões, caixas de papel, participações tudo pelo chão, numa desordem medonha! Um relogio de parede levou 11 machadadas no mostrador; um cliché com o retrato do Sr. D. Pedro II e que ia servir para o numero especial, sobre o quarto anniversario do fallecimento do grande brazileiro, todo quebrado á machado; espigões de rolo torcido; lampeões amassados, furados; mesa de paginação partida; estandes escangalhadas; bolandeiras, galés, componedores arremessados á distancia.
Nesse momento, os ânimos estavam acirrados, devido principalmente à fracassada revolta da armada em 1893. A Marinha de Guerra uniu-se aos federalistas dos estados do sul do país contra as práticas centralistas e autoritárias de Floriano. O almirante Custódio de Melo, ex-ministro da Marinha, liderou a revolta, bombardeando a capital federal em 6 de abril de 1893. Em seguida, rumou para o sul, com o objetivo de se reunir às tropas federalistas em Desterro. No caminho, tentou estabelecer uma base em Santos, com o apoio do almirante Saldanha da Gama. Em seus ataques, logo no lançamento do jornal, Olímpio
A luta entre republicanos e monarquistas, depois da
acusa Floriano de tirania, despotismo e bonapartismo, chaman-
Proclamação, prosseguiu na imprensa brasileira. Após a renún-
do-o, entre outras coisas, de “o carniceiro do Paraguai” e “sal-
cia de Deodoro da Fonseca, os republicanos se reagruparam em
teador”. Em conseqüência, o jornal foi empastelado logo após
torno da figura de Floriano Peixoto, veterano da Guerra do Para-
o primeiro número, em março de 1894. Tribuna do Povo seria
guai. Os monarquistas criticavam o autoritarismo do governo re-
empastelado mais duas vezes: em abril de 1895 e em dezembro
publicano, defendendo o liberalismo e o parlamentarismo. Entre
do mesmo ano, pouco depois da depredação do jornal Santos
seus adeptos estavam Rui Barbosa, Joaquim Nabuco e o líder
Commercial. Participou das ações de vandalismo o chamado Ba-
abolicionista José do Patrocínio. O Paiz, de Quintino Bocaiúva,
talhão Patriótico Silva Jardim, liderado por Quintino de Lacerda,
apoiava a política oficial de Floriano, tal como O Estado de S.
que atuava a mando do presidente do estado (cargo hoje deno-
Paulo, de Júlio de Mesquita. O Jacobino e O Nacionalista tam-
minado governador), Bernardino de Campos.
bém eram jornais de propaganda florianista.
A Imprensa e a Cidade de Santos
O principal rival do Diário de Santos era o jornal Santos Commercial (1894). Em 15 de novembro de 1895, declarou-
Tribuna do Povo foi um dos primeiros jornais paulistas a
Em 1891, surge o Jornal do Brasil, com nomes de peso
ter duas tiragens diárias, com o lançamento da edição vespertina
como Joaquim Nabuco e José Veríssimo, em ferrenha oposição
em 1898. Com a morte de Olímpio Lima, em 1907, assumiu a
ao governo republicano. Organiza-se como empresa, possuindo
administração José de Paiva Magalhães, que permaneceu até
rotativas modernas, e também é o primeiro jornal brasileiro a ter
1909, quando o jornal foi vendido a M. Nascimento Júnior. Em
uma equipe de correspondentes no exterior. Após dar destaque à
1912, o jornal passou a ser impresso em uma rotativa Albert, o
notícia da morte de Pedro II, em dezembro de 1891, suas oficinas
que permitiu ampliar a quantidade de páginas.
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6. Uma voz dissonante: a imprensa operária Para compreender o surgimento da imprensa operária em Santos, é preciso entender o processo de enriquecimento e transformação da cidade entre as últimas décadas do século XIX e as primeiras do século XX, decorrente da economia do
A Imprensa e a Cidade de Santos
café. Entre 1880 e 1929, o Brasil respondia por aproximadamente três quartos da comercialização de café no mundo. As exportações de café desse período chegaram a representar 75% de toda a balança comercial brasileira. Porém, após a Segunda Guerra Mundial, o Brasil foi desbancado pelo café produzido na Colômbia, considerado de melhor qualidade – ainda hoje o café brasileiro participa com cerca de um quarto das exportações mundiais do produto. O porto de Santos foi fundamental na constituição de um complexo portuário capitalista no Brasil. Ao contrário do porto do Rio de Janeiro, mantido pelo Estado, o de Santos era administra-
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do por uma empresa privada sob concessão do governo. Após duas tentativas frustradas do poder público de modernizar o porto, a Companhia Docas de Santos recebeu uma concessão para realizar obras e administrá-lo por 90 anos, de 1890 a 1980. Entretanto, desde as primeiras diligências para a construção do porto, desenvolveu-se um conflito entre a Companhia Docas, que detinha a concessão, e os comerciantes da cidade, donos das pontes e trapiches que se encontravam no local de construção do cais. As obras começaram em 1892 e prosseguiram até 1909, quando o cais, dotado de armazéns, pátios, frigorífico e linha férrea, atingiu 4.720 metros de rampa. O movimento de mercadorias no porto cresce, então, exponencialmente. Em 1860, o movimento foi de 36.250 sacas de café, em 1895 chegou a 2 milhões de sacas e, em 1909, atingiu a marca de 13.130.933 sacas exportadas. A modernização do porto e o saneamento da cidade podem ser consideradas obras interligadas, integrando o processo de reestruturação da paisagem urbana de Santos, que transcorreu entre as últimas décadas do século XIX e o início do século XX. A Companhia Docas, o império de Guinle, pode ser considerada o maior grupo capitalista brasileiro da época. Foi também um dos maiores impérios empresariais da história do capitalismo no Brasil. Mas, se nos inícios da industrialização brasileira a força
do capital se faz sentir em Santos, não menos presente é a força do trabalho e da classe operária: a cidade foi palco de um dos mais fortes e bem organizados movimentos de trabalhadores do Brasil, sob a liderança da categoria dos estivadores. Nas últimas décadas do século XIX, aconteceram em Santos algumas das primeiras greves do país, ligadas aos trabalhadores do porto: portuários (1877), construção civil (1888), estivadores e cocheiros (1889). Em 1891, ocorreu em Santos a primeira greve geral do Brasil, iniciada por duas categorias profissionais essenciais para a vida da cidade: os estivadores do porto e os cocheiros de bondes. Na época dos imigrantes, podia-se falar verdadeiramente em uma babel portuária, composta por trabalhadores das mais variadas origens e com diversos interesses, e cuja organização foi tarefa do Sindicato dos Estivadores de Santos. A maior parte dos trabalhadores era constituída de imigrantes portugueses e espanhóis, que desembarcavam em contingentes cada vez maiores no porto. Santos era a porta de entrada dos imigrantes estrangeiros em direção às fazendas de café do interior paulista. Entre 1850 e 1930, teriam entrado aproximadamente 4 milhões e meio de imigrantes no Brasil, dentre eles, cerca de 1 milhão e 500 mil italianos, 1 milhão e 400 mil portugueses e aproximadamente 600 mil espanhóis, que se estabeleceram principalmente em São Paulo. A burguesia comercial santista, enriquecida com as exportações de café, também fazia questão de evidenciar o seu poder. Em 1922, ficou pronta a sede da Bolsa Oficial de Café, edificada pela Companhia Constructora de Santos, de Roberto Simonsen, e financiada pela Associação Comercial de Santos. A Bolsa Oficial, que hoje abriga o Museu do Café, é um imponente edifício em estilo eclético, encravado no centro histórico de Santos, cuja função original era centralizar, organizar e controlar as operações do mercado cafeeiro. Construído em apenas dois anos com o que havia de melhor e mais caro em termos de materiais na época – cúpulas de cobre, mosaicos de mármore, colunatas de granito -, além de esculturas, vitrais e três enormes painéis do pintor Benedicto Calixto, o edifício era um monumento à burguesia santista, um verdadeiro totem do capital cafeeiro. Como ressalta a historiadora Ana Lanna, a Bolsa Oficial era uma espécie de “propaganda edificada”:
“Pretendia difundir a riqueza do café atraindo para São Paulo capitais e trabalhadores. Fica patente nas suas intenções o projeto de cidade e de nação que a elite cafeeira formulara 80 anos antes da edificação desse monumento: a construção de uma nação e seu povo com suporte no capital internacional e nos trabalhadores brancos europeus, que aqui viriam, para com suas noções de progresso e civilidade formar o povo brasileiro, amortecendo os efeitos de 400 anos
idéias socialistas e à formação de cooperativas de ajuda mútua a
de escravidão”.
do a socialização dos meios de produção como a base econômica
trabalhadores, era responsável pela publicação do jornal A Ação Social (1892). Além de difundir o ideário socialista, o centro organizava palestras aos participantes e construiu uma biblioteca para trabalhadores. Em 1895, Silvério Fontes lançou A Questão Social, critidores do Deus Milhão” e “sua majestade o dinheiro”, e defendende uma sociedade mais justa. Devido, em grande parte, a sua
Os órgãos da imprensa operária nasceram para desafiar
formação como médico e cientista, e ao clima intelectual da épo-
a prepotência do capital cafeeiro e romper o monopólio da bur-
ca, entendia o socialismo em termos evolucionistas, não como
guesia na imprensa, introduzindo novas vozes, heréticas e diver-
um projeto revolucionário, mas como um progresso e uma evo-
gentes. Após as lutas pela abolição e pela República, nasce em
lução natural do corpo social para um estágio superior. Como o
Santos um movimento operário forte e combativo, impulsionado
pai, o poeta Martins Fontes participou da campanha sanitarista,
por uma imprensa vibrante, que foi responsável pela organização
mas em política sentiu-se muito mais atraído pelo socialismo
dos trabalhadores e pelas primeiras greves gerais que o Brasil
libertário do russo Piotr Kropotkin.
conheceu. O historiador Francisco Foot Hardman ressalta o papel da imprensa na organização da classe operária nesse período:
Em 1891, começa a circular o jornal União dos Operários, de Cirilo Costa, editado pela associação mutualista do mesmo nome, constituída principalmente por mestres da construção
“Numa época em que os grandes meios de comuni-
civil. Em 1892, Benedito Figueiredo Ramos publicava O Operá-
cação de massa inexistiam, a imprensa, em especial
rio, pequeno jornal vinculado ao Partido Operário, que difundia
o jornalismo, possuía um papel decisivo como veículo
um socialismo doutrinariamente vago e abstrato, cujo objetivo era
social de informação e formação: a imprensa operária,
defender os interesses da classe trabalhadora.
em particular, destaca-se por sua função de articula-
As três organizações – Centro Socialista, União Operária
dora de interesses históricos de classe, como fatos de
e Partido Operário – unem-se em 1896 para formar o Partido
agitação e propaganda, na tentativa de aglutinar ele-
Operário Socialista, que teve duração efêmera devido à falta de
mentos de uma consciência operária comum”.
base social. Benedito Ramos fundaria em 1897 o jornal A Greve e Silvério Fontes participaria, em 1900, da criação do diário
Em 1889, surgiu na cidade o primeiro núcleo socialis-
Avanti!, redigido em italiano, além de colaborar na organização
ta de que se tem notícia no Brasil, fundado por Silvério Fon-
do Segundo Congresso Socialista Brasileiro (1902), no qual foi
tes, Sóter de Araújo e Carlos de Escobar. Silvério era médico da
criado o Partido Socialista Brasileiro.
Santa Casa de Misericórdia de Santos e, assim como os outros
Em 1904, constitui-se a Sociedade Primeiro de Maio,
dois integrantes, havia participado ativamente das campanhas
formada por operários da construção civil. Nesse mesmo ano,
abolicionista e republicana (em 1886, já havia fundado o jornal
começa a circular o jornal União dos Operários, editado pela
abolicionista A Evolução), antes de se converter ao socialismo.
Sociedade Internacional União dos Operários, fundada em 7 de
Ele é pai do famoso poeta Martins Fontes (1884-1937), muito
agosto de 1904. Criada inicialmente para representar os inte-
lido na época, também médico sanitarista e adepto do anarquis-
resses das categorias dos portuários e dos ferroviários, a socie-
mo. O Centro Socialista, voltado inicialmente à divulgação das
dade logo passou a agrupar trabalhadores de todos os setores,
A Imprensa e a Cidade de Santos
cando logo em seus primeiros números a “sociedade dos adora-
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A Imprensa e a Cidade de Santos
Integrante do primeiro núcleo socialista de que se tem notícia no Brasil, Silvério Fontes criou em Santos, em 1895, o jornal A Questão Social, um
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dos pioneiros a propagar a ideologia no país. Médico e pai do famoso poeta Martins Fontes, ele havia lançado, em 1882 e 1886, o jornal abolicionista A Evolução e, em 1892, A Ação Social. Em 1900, ele participou da criação do diário Avanti!, redigido em italiano.
de consumo produzidos por empresas subsidiadas pelo Estado.
imprensa conservadora e defendia o direito à voz dos operários.
Nessa época, o café já havia perdido a importância que tivera até
Sua ação foi fundamental na organização da grande greve dos
então. A crise mundial do capitalismo, na década de 1930, afe-
portuários, em 1905.
tou a economia cafeeira no Brasil. Depois de sucessivas quedas
No Congresso Operário realizado no Rio de Janeiro em
de preço e queima de safras, a Bolsa Oficial de Café foi fechada
1906, é lançado O Proletário, jornal de tendência anarco-sindi-
em 1937 por tempo indeterminado, sendo reaberta somente em
calista, que marca o início do predomínio desta corrente sobre o
1942, no contexto do esforço de guerra, passando a se chamar
movimento operário. Em 1907 aparece A Aurora e, em 1909, A
Bolsa Oficial de Café e Mercadorias.
Aurora Social. Neste último ano, surge também Tribuna Operária,
Durante toda a Era Vargas, a cidade perde sua autonomia
jornal editado pela Sociedade Internacional União dos Operários.
por ser considerada área de segurança nacional, o que provocou
Lutava pela diminuição da jornada de trabalho para oito horas
um forte impacto negativo na imprensa da cidade, que perdeu
(em 1909, estava sendo votado no Rio de Janeiro projeto de lei
o dinamismo e o vigor que tivera nas décadas anteriores. Foi
garantindo esse direito) e criticava jornais como Cidade de Santos
nessa época que se difundiu o mito da ‘Moscou Brasileira’ e do
e A Tribuna do Povo, que defendiam os interesses da Companhia
‘Porto Vermelho’, por causa da combatividade do movimento dos
Docas e se opunham ao direito de greve dos trabalhadores. Na
estivadores e dos sindicatos da região .
edição de 7 de agosto de 1907, publicava: “A Tribuna de hoje
Em 1937, os portuários deflagraram a primeira greve
não é a de outros tempos, que era um jornal do povo, hoje Ella
geral do Estado Novo, desafiando o autoritarismo do governo
é do polvo” (o ‘polvo’ era o nome sob o qual era conhecida a
Vargas, que nesse momento flertava com os regimes fascistas
Companhia Docas de Santos).
europeus. Os trabalhadores se recusavam a embarcar uma carga
O periódico anarquista O Proletário, de 1911, ia além
de café destinada às tropas do ditador Francisco Franco, que
das reivindicações trabalhistas, conclamando os leitores a uma
seria levada à Espanha por um navio da Alemanha nazista. A
revolução total em todas as esferas da vida, à guerra contra a
solidariedade aos revolucionários que resistiam ao fascismo de
sociedade capitalista e contra o “princípio religioso”, responsável
Franco na Guerra Civil Espanhola foi o motivo da paralisação.
pela resignação social e a manutenção do status quo. A Revolta
Entretanto, no estado de exceção instaurado pelo Estado Novo,
e A Dor Humana (1911), e A Rebelião também eram periódicos
qualquer tentativa de paralisação do trabalho era considerada cri-
em linha com o anarco-sindicalismo.
me contra a segurança nacional e julgada como traição à pátria
Foi ao longo das duas primeiras décadas do século XX
por um Tribunal de Segurança.
que Santos ficou conhecida pelo epíteto de “Barcelona brasileira”,
O movimento durou dez dias, no decorrer dos quais o
com a emergência de um movimento operário forte, organizado
governo Vargas efetuou prisões e torturas, demissões em massa
e combativo. O anarco-sindicalismo constituía o ideal comum
e decretou intervenção federal em Santos. Ocupado o porto pelo
aos trabalhadores do porto, brasileiros de várias regiões do país
exército, os estivadores foram obrigados a trabalhar à força, sob
e imigrantes de várias partes do mundo, aos quais se deve, sem
as ordens de um coronel integralista. Esse evento, amplamente
dúvida, o caráter multicultural e cosmopolita que marca a cidade
divulgado na imprensa brasileira da época, foi relatado, em cores
portuária até a atualidade.
heróicas, mas com fidelidade aos fatos, pelo escritor Jorge Ama-
Após o crash da bolsa de Nova York em 1929, o café entra em colapso. Os preços caem vertiginosamente e a crise econômica leva ao início do processo de industrialização induzido e tutelado pelo Estado autoritário comandado por Getúlio Vargas. As exportações do porto se diversificam, incluindo os bens
do no romance Os subterrâneos da liberdade. Fatos como esse mostram com clareza que não pode haver imprensa livre onde não há autonomia e liberdade política.
A Imprensa e a Cidade de Santos
chegando a ter milhares de membros. Seu jornal opunha-se à
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A Imprensa e a Cidade de Santos
De inspiração anarquista, O Proletário foi lançado em 1906, durante congreso operário realizado no
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Rio de Janeiro, marcando o início dessa corrente ideológica sobre o movimento operário. Em Santos circularam inúmeros jornais da imprensa operária – todos de vida efêmera -, que nasceram para desafiar a prepotência do capital cafeeiro e romper o monopólio da burguesia local.
(principalmente portugueses, espanhóis e italianos, e minorita-
O desenvolvimento da imprensa em Santos decorre, em
riamente ingleses, alemães, japoneses e libaneses), que aqui se
larga medida, como vimos, do fato de ser a maior cidade por-
estabeleceram. Essas comunidades de imigrantes ajudaram a
tuária do país, por onde circulava parte da riqueza gerada com
impulsionar a imprensa na cidade, fundando uma diversidade
o café. Um dos elementos que permitiram o surto cafeeiro foi a
de jornais, muitos deles em língua estrangeira, voltados para a
construção da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, em 1867, pela
associação e a ajuda mútua entre seus membros ou para pro-
São Paulo Railway Company. De toda a malha ferroviária paulis-
palar suas reivindicações face às duras condições de trabalho,
ta, era a única estrada de ferro explorada diretamente pela firma
cimentando a sua união em torno de ideais em comum.
inglesa. Um investimento altamente rentável, pois implicava o
Contudo, após 1930 há um relativo declínio da impren-
monopólio do transporte de toda a produção de café do interior
sa na cidade, que decorre de diversos fatores conjugados. Em
do estado de São Paulo e de outras áreas vinculadas ao porto
primeiro lugar, há a crise da economia do café após o crash da
de Santos. A ‘Inglesa’, como era conhecida na época, fazia a
bolsa de Nova York em 1929, o que diminuiu substancialmente
ligação entre as fazendas produtoras de café do planalto paulista
o movimento no porto de Santos por longos anos e, conseqüen-
e o porto. Antes de sua inauguração, as sacas de café eram
temente, afetou a economia da cidade. Em segundo lugar, a in-
transportadas, com muita lentidão e perdas consideráveis, no
tervenção federal em 1930, após o golpe de estado de Getúlio
lombo de mulas, pela velha Estrada da Maioridade, que ligava
Vargas. Os prefeitos passaram a ser subordinados ao governo
Santos a São Paulo. Com a ferrovia, o café que chegava a Santos
estadual e governavam sem a Câmara Municipal. A partir de
ia diretamente das fazendas para os trapiches dos comissários do
1937, com o golpe que instituiu o Estado Novo, a imprensa foi
café, na área portuária, de modo rápido e seguro. Os comissários
amordaçada pela censura do Departamento de Imprensa e Pro-
eram encarregados de classificar, manipular, misturar, ensacar e
paganda (DIP) da ditadura varguista. Em terceiro e último lugar,
rotular as variedades de café a serem exportadas. Fortunas foram
com a difusão do rádio nas décadas de 1920 e 1930, e, mais
feitas na atividade de exportação do café, chegando a ponto de
tarde, com a difusão da televisão, a partir da década de 1950,
os comissários financiarem a safra dos fazendeiros.
a imprensa perde espaço. A concorrência com outros meios de
No decorrer das últimas três décadas do século XIX, após a construção da ferrovia e com a modernização do porto, as
informação faz com que diminua drasticamente a quantidade de jornais diários e também as tiragens, de maneira geral.
exportações cresceram vertiginosamente. No final do século, o
O valor estratégico do porto, o perfil cosmopolita que a
movimento no porto santista era frenético. Somente no ano de
cidade adquiriu após as reformas urbanas e a vinda dos imigran-
1897, para dar apenas um exemplo, foram embarcadas seis mi-
tes, e a força que os movimentos sociais manifestaram na cidade
lhões de sacas de café. Poucos anos depois, o porto chegou a
fizeram com que Santos fosse considerada potencialmente pe-
monopolizar 95% do volume total das exportações brasileiras.
rigosa e, por isso, sujeita à intervenção de regimes e governos
Entre os anos de 1880 e 1929, o Brasil respondia por três quar-
autoritários. A autonomia municipal, subtraída em 1930 por Var-
tos do comércio mundial de café.
gas, só seria recuperada em 1953, para ser perdida novamente
Toda essa riqueza passava pelas mãos ávidas dos co-
com o golpe militar de 1964, quando Santos, considerada então
missários do café, o que fez com que, em Santos, se formasse
área de segurança nacional, passou a ser governada diretamente
uma burguesia e uma classe média urbana relativamente nume-
pelos militares. Nesse ínterim, a imprensa havia mudado com-
rosa, em termos de Brasil, que necessitava da informação, do
pletamente no país. O jornalismo havia deixado de ser atividade
entretenimento e da cultura oferecidos pelos jornais e revistas.
de escritores para se tornar profissão e os jornais passaram a ser
Ao mesmo tempo, com a construção do complexo portuário, a
empresas capitalistas que obedecem aos ditames da concorrên-
cidade tornou-se pólo de atração para trabalhadores estrangeiros
cia e da racionalidade econômica. Os grandes jornais da cidade,
A Imprensa e a Cidade de Santos
À guisa de conclusão
39
como Cidade de Santos e A Tribuna, foram cooptados pelo poder
são poucos, bastante segmentados e especializados, cada um
e a multiplicidade de pequenos jornais simplesmente desapare-
voltado para um assunto determinado (revistas de variedades; ta-
ceu sem deixar vestígio. Contudo, é claro que isso não se deve
blóides sensacionalistas; jornais de notícias; jornais de negócios;
apenas à repressão política e aos imperativos econômicos, mas
órgãos de categorias profissionais, de setores de atividade, de
também ao desenvolvimento de outras mídias no decorrer do
sindicatos, etc.). Utiliza-se uma linguagem objetiva, informativa e
século XX.
padronizada, oposta aos arroubos literários e ao subjetivismo do
A Imprensa e a Cidade de Santos
Podendo chegar simultaneamente a todos os lugares, os
40
jornalismo do século XIX e do início do século XX.
meios audiovisuais passam a dominar o acesso à informação e
Talvez o fenômeno contemporâneo que mais se asse-
impõem uma outra relação com a notícia. Os meios audiovisu-
melhe à proliferação de publicações que ocorreu naquela época
ais de comunicação desenraizam a informação, que é retirada
seja, mutatis mutandis, o fenômeno dos blogues e dos bloguei-
de seu contexto, e enfocam preferencialmente o mundo privado,
ros, que reintroduzem a palavra escrita e o jornalismo opinati-
em vez da vida pública. Na era da imagem, a publicidade e o
vo no próprio âmago da sociedade da imagem: a rede mundial
marketing reinam soberanos, e contribuem para uniformizar e
de computadores. Houve blogues que derrubaram políticos nos
padronizar estilos de vida, modos de pensar e agir. Ao contrário
EUA, que denunciaram guerras, viraram livros ou são utilizados
dos velhos jornais, o meio de comunicação deixa de ser o espaço
para divulgar o que a mídia tradicional não tem interesse em
de formação de uma opinião pública, deixa de ter o papel de uma
revelar. Muitos blogues, entretanto, não passam de meras exten-
tribuna, passando a ser um instrumento de recepção passiva,
sões e vitrines de políticos, celebrities ou dos órgãos que ainda
de difusão de modas e de reprodução do conformismo social:
hoje dominam a mídia, impressa ou audiovisual.
“[...] a rede das comunicações é tal que, mesmo sem um acordo
Será que os blogues se converterão em uma nova forma
prévio, todos se interessam pelos mesmos assuntos nos mesmos
de transmitir informação, como foi a palavra impressa nos sé-
momentos, para desenvolver as mesmas opiniões”.
culos XIX e XX? Ou se tornarão meros apêndices dos interesses
Para compreender a imprensa no período que estamos enfocando, pode ser útil uma comparação com a atualidade. Hoje, apesar da maior facilidade técnica para imprimir, os títulos
políticos ou comerciais das forças dominantes? Essa é uma questão que só o tempo responderá.
ANTOLOGIA DE TEXTOS A Imprensa e a Cidade de Santos
PARTE II 41
42 A Imprensa e a Cidade de Santos
TRABALHO ESCRAVO E ABOLIÇÃO 43
A Imprensa e a Cidade de Santos
1. Desde o seu aparecimento, em 2 de setembro de 1849, o jornal Revista Commercial defendeu o fim da escravidão. Em janeiro de 1851, ao publicar a homilia, reproduzida a seguir, apela aos sentimentos cristãos para propagandear a causa.
A Imprensa e a Cidade de Santos
A ESCRAVIDÃO EM TODA SUA NUDEZ
44
DEUS meu, livra-me dentre as mãos do pecador, e do poder d’aquelle, que obra contra a tua lei, e do homem injusto. SALMO. LXX. 4
Vivemos
n’um
paiz
que
se
diz
meu senhor! – Mas nada de compaixão,
christão e n’um seculo que se proclama
por que este verdugo não está farto
de civilisação, e comtudo apresentão-
ainda de sua vingança, direi antes do
se factos que denuncião a mais estu-
sangue de seu semelhante. – Entretanto
penda immoralidade e os costumes d’um
é um homem como nós, cujo sangue jor-
povo barbaro.
ra sobre a relva, - e a humanidade se
Quem quizer convencer-se d’esta
cala!
verdade, dê um passeio ao nascer do
É o horrendo martyrio á sangue
sol no lugar, denominado Itororó, e ali
frio, e em toda a calma da reflexão
verá apparecer á essa hora um misero
practicado a um homem, que soffre o
escravo que mal pode caminhar, trajan-
cruel captiveiro d’um seu semelhante
do camisa salpicada do quente sangue,
barbaro e deshumano, - e porque? Dirão
que já tem sahido das feridas feitas
por ter querido evadir-se d’esse capti-
pelo vergalho. – Batte-lhe o coração
veiro, lembrando-se que também nascêra
approximando-se do pelourinho, onde de
livre. –
novo vae ser amarrado para receber nova ração, sempre nas mesmas feridas, e as dores que lhe causão as torturas do
Maldição sobre o monstro da humanidade! – Misericordia
para
o
miseravel
barbaro e diario supplicio soffoccão a
que, arrancado ás suas praias soffre
sua vóz, que já se tornou rouca pelos
n’uma terra civilisada a estupidez e a
gritos lamentosos. Mil vezes talvez já
crueldade d’um homem que se diz chris-
exclamou debaixo dos padecimentos do
tão, e Catholico-Apostolico-Romano!!!
inexoravel castigo as palavras: Basta, (Revista Commercial, 20 de janeiro de 1851, pág. 3)
transferência da Corte Portuguesa para o Brasil
1849-1872 1808
1850-1852
1850-1852
1851
jornais Correio Braziliense ou Armazém Literário (Londres); Gazeta do Rio de Janeiro
2. Nesta matéria, de fevereiro de 1851, o jornal Revista Commercial pede o fim do tráfico negreiro, que continuava a existir, embora proibido por lei desde 1830. A periodicidade variou durante os 22 anos em que o jornal circulou. Não chegou, entretanto, a ser um diário.
REPRESSÃO DO TRAFICO Eis a questão da actualidade,
rem o trafico, encarando-o como é, a
que ocupa todas as attenções: a cau-
origem de todas as nossas desgraças
sa na verdade é santa, e por isso
e não por ser feito por estrangeiros.
encontra o mais decidido apoio, não
A immoralidade, a falta de religião
só nos corações brasileiros, como
e a ignorancia, eis os motores do
á uma grande parte de estrangeiros
trafico de escravatura nesta queri-
honrados, daquelles que habitão o
da patria. A opposição grita, bra-
paiz, para ganharem com o suor do
da – guerra ao trafico – mas o que
seu rosto. Alguns annos ha que o go-
veem os homens imparciaes? – a oppo-
verno do Brasil, como agora apertado
sição opõe-se, oppoz-se ao comercio
pela Grãa-Bretanha, fez todos os es-
de escravatura? – quando se oppoz?
forços para reprimir o commercio de
– quererão por ventura melhor ver o
gente, porem logo as cousas forão-se
pensamento da opposição do que no
tornando como d’antes, o escandalo
profundo silencio que guarda com os
chegou ao maior apice, e de novo o
que do seu lado fizerão e protegerão
governo britannico com mão armada
o trafico? – Não se tem visto até
lembra o cumprimento dos tratados:
serem alguns endeosados? – É pois
é então que vemos a costa crivada de
deste modo que o governo ha de ter
cruzadores inglezes e nacionaes, as
apoio e coadjuvação no cumprimento
tomadias multiplicarem-se, as auto-
do seu, do nosso dever? – Pode por
ridades locaes ajudarem o governo,
ventura o governo levar á effeito
contra o qual tantos tiros se dispá-
essa medida de salvação da patria,
rão, esse governo que tantas sympa-
quando em vez de união precisa, en-
thias tem ganho na Europa, e que a
controu o mais decidido patronato,
merece dos Brasileiros que não que-
sendo todos em geral com rarissimas
criação da Impressão Régia no Rio de Janeiro
Impressão Régia publica o jornal Gazeta do Rio de Janeiro, o primeiro impresso no Brasil
A Imprensa e a Cidade de Santos
PUBLICAÇÃO A PEDIDO
45
A Imprensa e a Cidade de Santos
46
exceções amigos do abominavel com-
estão os benemeritos que tem sabido
mercio, porque lhes tem dado maior
manobrar o timão do estado no mar
ou menor interesse? - São só por
tempestuoso em que os nossos peca-
ventura estrangeiros que do trafi-
dos o lançárao. A elle devemos a paz
co têm vivido, e com ele enrique-
e a elle devemos a gloria de dar o
cido? – Sejamos francos. Nós, nós
primeiro passo para a liberdade, se
os Brasileiros somos os verdadeiros
formos prudentes, e tivermos um vis-
culpados, nós somos os verdadeiros
lumbre de patriotismo para o ajudar-
criminosos, que a Deos daremos res-
mos a esmagar o monstro do trafico,
trictas contas do mal que temos fei-
com o qual temos feito liga quando
to á Humanidade e á nossa patria.
nos tem sido de interesse. Tenha-
É tempo ainda do arrependimento; a
mos amor á patria, á esse monarcha,
Deos imploremos o perdão, e a sua
nosso compatriota cuja conservação
divina protecção para combattermos
devemos implorar ao Monarcha do Uni-
o germen das presentes e futuras mi-
verso, como um dos maiores favores
sérias da patria! Unamo-nos todos,
que nos póde conceder: respeitemos
repillamos d’entre nós aquelle que
ás autoridades: d’ahi nascerá para
quizer o trafico feito pelos Bra-
nós uma fonte de felicidade, e fi-
sileiros!
nalmente sejamos Brasileiros!
Unamo-nos todos á roda
de um governo sabio, á cuja frente
1811
jornal Idade de Ouro do Brasil (BA); Revista O Patriota (RJ)
(Revista Commercial, 16 de fevereiro de 1851, página 3)
3. Em março de 1851, o jornal Revista Commercial defende seu ponto de vista de forma pragmática, procurando
COMPARAÇÃO ENTRE O CUSTO DO TRABALHO ESCRAVO E DO TRABALHO LIVRE Diz-se muitas vezes que o tra-
fixado. – Aqui damos os resultados
balho livre é mais lucrativo do que
dos calculos arithmeticos, e con-
o escravo, e isto tem-se repetido
venção-se os incredulos diante dos
sem que, ao menos que vissemos, se
algarismos de que por determinação
tenha apresentado a prova numerica.
providencial – o honesto é o mais
É o que pretendemos fazer, e com
util, ou segundo a bella expressão
os numeros mostraremos que a ver-
do sabio Humboldt – na ordem social
dade d’aquella proposição excede os
e politica o injusto encerra em si o
limites que nós mesmo lhe tinhamos
principio da destruição. – Ei-los:
elevação do Brasil a Reino Unido de Portugal e Algarves
1815 Impressão Régia passa a se chamar Régia Oficina Tipográfica
A Imprensa e a Cidade de Santos
demonstrar, com números, a inviabilidade econômica da manutenção do trabalho escravo.
47
A Imprensa e a Cidade de Santos
Assim em 12 annos um fazen-
no paiz da escravidão! – Esta é, na
deiro que empregasse 50 escravos no
expressão de um eloquente defensor
custeio
economi-
da liberdade, como os miasmas feti-
saria pela substituição de braços
dos que tudo matão e destroem, é o
livres uma somma de 14:356$750 rs.,
minotauro dos antigos com seus en-
que posta a juros a 6 por cento se
sanguentados sacrificios.
de
suas
terras,
elevaria no fim de 25 annos, termo
48
Felizmente
tem-se
a
opinião
de sua vida, pois que suppomos que
publica manifestado contra o trafico
ele principia seus trabalhos aos 25
de africanos, e a atitude do gover-
annos de idade, a não despresivel
no dá esperanças de vermos acabado
quantia de 61:619$164, com que po-
tão detestado commercio. Assim seja
deria felicitar seus filhos além de
e breve, que outra grande obra ha de
sua lavoura, que sempre teria mar-
effectuar em nossos dias a – aboli-
chado em progresso.
ção da escravidão.
Espanta a imaginação quando se considerão as riquezas que entre nós
(do Auxiliador)
vão perdidas! Em balde a natureza dotou nosso solo de tantas rique-
(Revista Commercial, 31 de março
zas, tudo murcha, tudo se aniquila
de 1851, página 3)
Revolução Pernambucana
1817
4. Fiel a seu programa, o jornal Revista Commercial volta a defender o fim da escravidão, buscando legitimar seus
SUPERIORIDADE DO TRABALHO LIVRE SOBRE O TRABALHO FORÇADO da
de alguns cortes; são aproveitados
escravatura, a colonia ingleza de
Na
época
da
emancipação
para outras culturas que enriquecem
Mauricias, com 30,000 escravos, ex-
as terras, as quaes em dous ou tres
portava somente 3,000 tonneladas de
annos se achão outra vez promptas
assucar, presentemente, com 40,000
para a plantação das cannas. O pro-
trabalhadores livres, exporta 90 a
ducto dos terrenos estrumados com o
100,000 tonneladas. O Colonial Ga-
guano é enorme; mais de mil tonne-
zette de 8 de junho de 1854 diz: “As
ladas deste fertilisador forão em-
noticias que recebemos da Europa não
pregadas durante o anno passado. A
nos causão abalo algum a respeito
introducção do trabalho livre foi a
da competição do assucar da beter-
salvação da ilha”. Igual resultado
raba. A capacidade productiva desta
se pode esperar no Brazil pela in-
ilha ainda não está conhecida, cada
troducção de industriosos e intelli-
anno o custo da producção do assucar
gentes colonos.
diminue. Melhoramentos na cultura, e no fabrico, ajudados pela barateza do trabalho tem produzido esta
(Revista Commercial, 2 de novembro
felicidade. Os cannaviaes não são
de 1854, página 3)
mais entregues ao descanço depois
Dom João é aclamado rei e passa a se chamar Dom João VI
1818 Régia Oficina Tipográfica passa a se chamar Tipografia Real
A Imprensa e a Cidade de Santos
pontos de vistas com um exemplo do exterior. A matéria foi publicada em novembro de 1854.
49
5. Em 1878, o conservador Correio de Santos circulava duas vezes por semana. Houve outros dois títulos com o
A Imprensa e a Cidade de Santos
mesmo nome, lançados em 1869 e 1885. Neste artigo, extraído da edição de 21 de novembro, o jornal tece comentários sobre matéria publicada pelo Diário de Santos acerca da escravidão.
50
O ESTADO SERVIL Bastante impressionado pelo assumpto da primeira columna do “Dia-
seos defeitos, está em vigor desde 28 de Setembro de 1871.*
rio de Santos”, de 9 do corrente, to-
O que porem não podemos com-
mamos a resolução de escrever alguma
prehender é – que se tenha despendi-
cousa acerca do estado servil.
do tanto dinheiro com a colonisação
Não opinamos com o articulis-
estrangeira, quando é certo que ella
ta relativamente a causa motriz dos
tem servido mais para favorecer a
homicidios, tão frequentes e prati-
especulação do que para suavizar a
cados pelos escravos nas pessoas dos
sorte do escravo brazileiro, chegan-
seos senhores, administradores, fei-
do a produzir no animo de pessoas
tores etc.; pois testemunha occular
illustradas, como na do articulista,
dos máos tratos de muito infelizes,
á que nos referimos, a convicção de
pertencentes ao captiveiro, suppo-
que – a lavoura nacional esteja as-
mos com fundamento, que não são os
sentada tão somente sobre o trabalho
attractivos da apparente liberdade
escravo!
dos galés, mas sim a miseria e o de-
Esta asseveração não é total-
sespero, que têm levado a mór parte
mente verdadeira; porque alem do me-
a encontrar no crime o final dos
lhoramento
seos quase diarios soffrimentos!
do na provincia, acresce que muitos
fabril,
tão
dissemina-
Que o mal cessaria com a ex-
lavradores fazem, ha tempos á esta
tincção do elemento servil não ha
parte, plantações, dignas de nota,
duvidar; e cremos até que o governo
mediante o auxilio de camaradas, ho-
o comprehendeo de certo modo, visto
mens livres, que por certa retribui-
ter quebrado lanças pela liberdade
ção se prestam á vida agrícola, como
do ventre, lei que, não obstante os
ainda substituido o trabalho servil
após 36 anos na Europa, retorna ao país José Bonifácio de Andrada e Silva
1819
pelo do colono européo aproveitavel, em parte de suas terras, por mera
2º. Certificar qual a alimentação e trato dos escravos pelos respec-
O mal portanto não vem da lei
tivos senhores, administradores &.
de 10 de Junho de 1835, que apezar de
3º. Conhecer os meios moraes que
ser imperfeita como quase todas que
empregam os senhores, para suavisar
possuimos, garantio demais as rega-
a triste condição dos escravos.
lias dos senhores de escravos.
Cremos
piamente
que
se
essa
“Entretanto, alguma cousa, diz
commissão fôr bem constituída, se
o articulista, pode-se fazer – no
estabelecerá o equilibrio de obe-
sentido de minorar-se o mal, e evi-
diencia e dominio entre o escravo
tar-se a reproducção tão frequente
e o senhor, aos quaes não será es-
d’aquelles crimes.”
tranho que trimensalmente saberá o neste
governo do estado moral de taes es-
ponto; porem divergimos dos meios
Pensamos
igualmente
tabelecimentos, como da sua prospe-
lembrados.
ridade material.
E como o articulista appella-
Os meios energicos a nosso ver,
rá para o poder legislativo, á elle
não deverão comprehender só as vic-
offerecemos as bases para a respec-
timas da prepotencia senhoril, mas
tiva reforma nos tres pontos abaixo
tambem
exarados:
se esforçam todos os dias em mais
1º.
Creação,
nas
cabeças
de
os
tyramnos
occiosos
que
embrutecel-as.
commarca, de uma commissão de tres
Continuaremos.
membros, fazendo parte d’ella um me-
Z.
dico, uma auctoridade policial e um agricultor, afim de verificar a pro-
Correio de Santos, 21 de novembro de
porção do plantio em relação a força
1878, páginas 1 e 2)
*A lei de 10 de junho de 1835 praticamente condenava à morte qualquer escravo que assassinasse seu amo. Em caso de ferimentos leves, a pena eram açoites. Revolução Liberal do Porto
1820
A Imprensa e a Cidade de Santos
experiencia comparativa.
escrava de cada fazenda.
51
A Imprensa e a Cidade de Santos
Criado em outubro de 1872, Diário de Santos foi o primeiro
52
jornal santista organizado como empresa e gerido por uma sociedade comercial. Reunia os principais jornalistas da época e foi considerado uma verdadeira escola de jornalismo. Foi o periódico local mais longevo do século XIX.
A Imprensa e a Cidade de Santos
PORTO E ESTRADA DE FERRO
retorno de Dom João VI a Portugal
1821 jornais Revérbero Constitucional Fluminense, Diário do Rio de Janeiro, O Espelho e A Malagueta (RJ)
53
6. O jornal Revista Commercial trazia abaixo de seu título a inscrição ‘Monitor dos Negociantes Santistas’, que melhor o identificava. Seu fundador, Guilherme Délius, esteve à frente da publicação até 1865. Neste longo artigo, publicado em fevereiro de 1852, o jornal defende, com veemência, os interesses portuários e comerciais de Santos.
A Imprensa e a Cidade de Santos
IMPORTANCIA DO PORTO DE SANTOS
54
S. PAULO, 13 DE DEZEMBRO DE 1851
Como eu lhe escrevia em carta
mais se compadece com os meios fi-
anterior, o futuro da cidade de San-
nanceiros da provincia, é o melho-
tos é mui esperançoso em rasão de
ramento da grande estrada, que ra-
diversas circumstancias, que todas
mificando-se por diversos municipios
lhe são favoraveis: a entrada franca
de cima da serra desce pelo Cubatão
de sua excelente barra, o magnifico
a Santos, cuja importancia fica se-
e mui seguro ancoradouro, a facili-
gura, e sê-lo-ha ainda quando com o
dade do desembarque e embarque das
tempo novas outras estradas desção
mercadorias em trapiches a que os
a serra, porque muitas d’ellas terão
navios de alto bordo atracão com a
melhor direcção para esta mesma ba-
maior segurança, e a posição embaixo
cia do que para os outros portos da
da serra, no ponto onde desemboca a
provincia.
principal estrada da provincia, pela
E uma vez firmada a prepon-
qual descem os productos de quasi
derancia do porto de Santos, e as-
toda a sua lavoura, e sobem os que
sentadas ali as primeiras casas de
consome do exterior.
commercio da provincia, que outra
Tempo virá em que os progressos
localidade menos favorecida pela na-
da industria e agricultura ao inte-
tureza poderá sustentar concurren-
rior ou parte montanhosa da provin-
cia com esta que tantas circumstan-
cia tornem precisas mais estradas
cias felizes convidão, forção mesmo
que a do Cubatão que desce na proxi-
a se desenvolver e a prosperar?
midade de Santos, e as que vão a S.
Assim a praça de Santos é e deve
Sebastião, a Ubatuba e a portos da
ser por longos annos a principal da
provincia do Rio de Janeiro. N’estes
provincia toda de S. Paulo, o que
proximos annos o mais razoavel e que
lhe dá maior importancia no ponto
revolta, em Santos, do soldado Francisco das Chagas, o ‘Tiradentes santista’
Diário Constitucional (BA)
Rio de Janeiro, a de Santos póde ir
acreditar o ministerio actual quando
chamando a si alguma parte dos meios
a trata do mesmo modo que as meno-
que se concentrão naquella, e res-
res localidades do imperio, a quem
tituir assim á provincia de S. Pau-
talvez por favor se tenha concedido
lo a importancia commercial que lhe
alfandegas. Ou será talvez por causa
compete por sua numerosa população,
d’essa mesma importancia e esperan-
morigerada e trabalhadora, e seu ex-
çoso futuro que lhe lanção tantas
cellente porto de mar?
pêas os chamados estadistas, que até
Como quer que seja, ou futeis,
mesmo na industria e commercio que-
ou impoliticos e desleaes os motivos
rem perfeita concentração, e que na
em que se funda o gabinete de 29 de
praça do Rio de Janeiro se fação to-
setembro, o que é certo é que luta
das as transacções dos mercados vi-
debalde contra forças poderosas que
sinhos com prejuizo dos interesses
a natureza favorece, e que por fim
mineiros, paulistas, catharinenses,
hão de sahir victoriosas contra es-
rio-grandenses, etc.?
tes arrojos de uma concentração não
Será em rasão da nenhuma importancia, ou mesmo da pequena im-
só politica, porém até commercial e industriosa na côrte do imperio.
portancia da provincia de S. Paulo e
[...]
da praça e alfandega de Santos que o
Dizem-me mais que além da co-
ministerio de 29 de setembro incluio
lonia Vergueiro alguns fazendeiros
a esta em o numero daquellas alfan-
ricos, seguindo o seu bello exemplo,
degas que a principio tentou suppri-
têm
mir, como por vezes o declarou nas
mandar vir colonos, e tudo indica
camaras o Sr. Deputado Vianna? E que
que a provincia tomará a diantei-
vendo a indisposição que se levan-
ra na colonisação estrangeira. Isto
tava entre os proprios amigos, subs-
quer dizer que tambem se desenvol-
tituio depois pelos meios indirectos
verá sua agricultura, que augmenta-
de desanimação e suppressão que de-
rá sua exportação, o que verifican-
correm do decreto de 4 de julho?
do-se principalmente nos districtos
Ou porque, visinha da praça do
mandado,
ou
se
preparão
para
que se servem do porto de Santos,
Independência do Brasil e início do primeiro reinado
1822 jornais Espelho (RJ), O Sentinela da Liberdade (PE); deixa de circular o Correio Braziliense
A Imprensa e a Cidade de Santos
de vista commercial do que o parece
55
A Imprensa e a Cidade de Santos
dará a esta cidade a prosperidade que lhe auguramos, e para que está destinada. [...] Não são favores o que ella pede, é apenas justiça, é que seja tratada a provincia de S. Paulo com igualda-
56
de, e segundo a importancia que tem sempre tido e merecido no imperio. S.F. (C. Mercantil do Rio)
(Revista Commercial, 16 de fevereiro de 1852, páginas 1 e 2)
Dom Pedro I dissolve a Assembléia Constituinte e outorga a primeira Constituição Brasileira
1823 jornais O Tamoio, O Papagaio, O Macaco Brasileiro (RJ); extinta, A Gazeta do Rio de Janeiro passa a se chamar Diário do Governo; O Paulista (manuscrito)
7. O jornal Revista Commercial defende o progresso material do país, apesar de manter posição política conservadora em relação ao regime. Até o seu desaparecimento, em 1872, posicionou-se a favor da monarquia. Aqui ele registra, em maio de 1854, a inauguração da primeira linha férrea no Rio de Janeiro.
Inauguração da primeira linha ferrea no Brasil Todos sabem de que importancia
O vapor Nitherohy, que nos con-
é a abertura de uma estrada para um
duzio, atracou á ponte de Mauá ás 10
paiz novo, onde todos os meios de
horas da manhã, depois de uma hora e
communicação
meia de viagem atravez desta nossa
são
difficultosissi-
mos, pessimos e mui caros.
bella bahia. O trilho de ferro prin-
Se considerarmos que além de
cipia já ali e segue até o Fragoso,
ser uma estrada ordinaria uma fon-
em uma extensão de nove milhas, sendo
te de riqueza, communicando os lu-
sómente por ora composto de uma via.
gares mais remotos com os grandes
Dahi
seguimos
para
um
vasto
mercados, sendo o principal, e em
armazem de ferro e coberto (que ser-
nossa opinião, o unico meio de co-
virá de gare, ou deposito de carros,
lonisação entre nós, pensamos que a
etc.), que se achava elegantemente
inauguração de um caminho de ferro
preparado para a benção das possan-
é um acontecimento que deve marcar
tes locomotivas que ião estrear no
eternamente a sua data entre os me-
nosso paiz, e abrir-lhe um futuro
lhoramentos de que necessita o nosso
todo lisongeiro de engrandecimento,
paiz.
riqueza e civilisação. É sabido que os Estados-Unidos
Pouco tempo depois chegárão SS.
devem a sua prosperidade e o forma-
MM. II. acompanhadas por altos dig-
rem hoje um dos primeiros paizes do
natarios do Imperio, parte do cor-
mundo, fazendo já uma fatal concur-
po diplomatico, etc. achando-se já
rencia á velha Europa, aos immen-
aquelle recinto occupado pelas pes-
sos e faceis meios de commmunicação
soas gradas do paiz, e no qual via-
que cortão em todos os sentidos esta
se grande numero das mais distinc-
parte da America.
tas senhoras.
1825 jornais Compilador Mineiro, Diário de Pernambuco (existe até hoje)
A Imprensa e a Cidade de Santos
2 DE MAIO
57
A Imprensa e a Cidade de Santos
Benzerão-se logo as tres que de-
outros por meio de chapas de ferro
vião funccionar no dia, e á meia hora
de uma maneira solida, formando as-
depois do meio dia, seguio o primeiro
sim um todo.
comboi composto de uma locomotiva, 3
Estes coussinets, que são de
grandes carros de passageiros e um
uma moderna invenção em Inglaterra,
ultimo para mercadorias, etc. Em 23
apresentão a vantagem de economisar
minutos de ida e outros tantos de
os travessões de madeira em que na
volta, depois de uma pequena demo-
Europa são pregados os coussinets;
ra no Fragoso, voltamos a Mauá, onde
mas tem o inconveniente de tornarem
forão SS. MM. II. recebidas com mil
o caminho mais duro, repousando el-
vivas
frenetica,
les immediatamente sobre a arêa, por
que não só da côrte como mesmo das
não existir mais um corpo elastico
circumvisinhanças
entre o coussinet e a arêa.
de
uma
população tinha
concorrido
para um acto tão solemne e de tanta
58
importancia para o Brasil.
No Brasil onde existe a madeira e onde o ferro nos vem do estrangeiro
Pelo exame rapido que nos foi
julgamos que não ha verdadeira eco-
possível fazer do caminho de fer-
nomia em substituil-a por este ul-
ro nesta occasião, pareceu-nos elle
timo, attendendo sobretudo que dahi
muito solido e assaz bem construido.
resulta um caminho menos elastico.
As linhas ferreas (rails) são presas
As locomotivas são dos Srs. Fair-
nos differentes coussinets da mesma
bairn & Sons, um dos melhores cons-
maneira que geralmente é emprega-
tructores inglezes e achão-se montadas
da na Europa. Os coussinets
com o seu tender sobre seis rodas.
formão
corpo com o fundo exterior de uma
Os carros dos passageiros são
especie de panella ou bacia (tudo
muito compridos, pouco mais ou menos
fundido ao mesmo tempo), que des-
duas vezes mais que os que habitu-
cança immediatamente sobre a arêa:
almente são empregados na Europa, e
estes coussinets são ligados entre
por consequencia de difficil passa-
si por meio de uma barra de ferro,
gem nas curvas de pequeno raio, por
a fim de conservarem o parallelismo
não ser possivel que os seus eixos
dos rails, que são emendados uns aos
se movão n’um plano horisontal.
fundação das faculdades de Direito de Olinda e de São Paulo
1827 jornais A Aurora Fluminense; Farol Paulistano, o primeiro impresso em São Paulo; Diário de Porto Alegre
muito pequeno, resultando d’ahi que a
uso frequente do grande material de um caminho de ferro.
passagem do comboi n’ellas deve ter
A 1ª. corrida como as duas ou-
lugar sempre com pequena velocidade,
tras, forão muito concurridas e fei-
a uma differença muito sensivel do
tas com o melhor exito.
rail exterior da curva ao interior.
Depois da benção das locomo-
Com o systema empregado neste
tivas o Sr. Irenêo Evangelista de
primeiro caminho de ferro, e para
Souza dirigio a S.M. o Imperador uma
andar com a velocidade acostumada
allocução tendente á memoravel inau-
na Europa, seria necessario maiores
guração do primeiro caminho de ferro
raios nas curvas, ou então modificar
no Brasil, á qual S.M. o Imperador
os eixos como ultimamente propoz o
dignou-se responder:
Sr. Arnoux (inventor e director do
“A
directoria
da
estrada
de
engenhoso caminho de ferro de Paris
ferro de Mauá póde estar certa de
a Sceaux, que percorre facilmente
que não é menor o meu jubilo ao to-
com grande velocidade curvas até de
mar parte no começo de uma empreza
25 braças de raio).
que tanto ha de animar o commercio,
A ultima idéa do Sr. Arnoux, de
as artes e a industria do imperio”.
tornar os eixos movediços em posição
Assim que SS. MM. II chegarão
horisontal valeu um bello relatorio
da primeira corrida da locomotiva,
do corpo de engenheiros de França e
o Sr. ministro do imperio convidou
é ensaiado com muito bom exito em al-
o Sr. Irenêo a ir beijar a mão do
gumas das grandes linhas deste paiz,
Monarcha, que acabava de conferir-
como a do caminho de ferro do Norte,
lhe o titulo de barão de Mauá, em
apresentando não só as vantagens de
remuneração dos importantes servi-
se poderem applicar curvas de peque-
ços que prestara ao paiz. [...]
nos raios, e por consequencia diminuir muito as differentes despezas
(Revista Commercial, 8 de maio de
de construcção das vias ferreas, como
1854, página 1)
tambem as de evitar em grande parte o
1828 Guerra da Cisplatina
A Imprensa e a Cidade de Santos
As curvas nos parecerão de raio
59
8. Nesta pequena nota, publicada no dia do lançamento de O Commercial, em 16 de agosto de 1857, o jornal comenta o projeto da estrada de ferro. Semanal e com linha política, o jornal circulou por menos de três anos.
A Imprensa e a Cidade de Santos
ESTRADA DE FERRO Consta-nos que no vapor Josephina sahido deste porto no dia 11 do corrente seguiram para a corte os engenheiros encarregados de levantar o plano da projetada estrada de ferro, levando este trabalho ja concluido. Agora que se acha pro-
60
vada a possibilidade da obra, confiamos que se desvanecerão as difficuldades, e se ha de realisar este
importante
melhoramento
tão
vivamente almejado pela provincia de São Paulo. (O Commercial, 16 de agosto de 1857, página 2)
jornal O Observador Constitucional, o segundo impresso em São Paulo
1829
9. Publicado no jornal Revista Commercial em maio de 1860, o discurso abaixo foi pronunciado por Martim Francisco Ribeiro de Andrada (II), quando do início das obras da estrada de ferro Santos-Jundiaí. A ferrovia seria inaugurada sete anos mais
e
a producção de todos os municipios
vós senhores, que de diversos pontos
Santistas!
Irmãos
queridos
do sul da provincia, e a par da ri-
da provincia viestes honrar esta au-
queza bem adquirida, esta quasi sem-
gusta ceremonia, consenti que o mais
pre a civilisação e a moralidade.
humilde dos que por ella fazem vo-
Olhemos,
senhores,
para
essa
tos, traga do coração aos labios as
nacionalidade, que tantos progres-
phrases que o enthusiasmo gera.
sos fez nos dominios da industria.
Eis o dia: eis a hora! eis o
Na patria de Washington, o guincho
momento solemne em que a patria dos
da locomotiva no deserto é creador,
heróes se enflora com o laurel que o
e ao fiat lux da industria surgem
progresso offerta, e que a civilisa-
as povoações como por encanto! Eis o
ção prepara!
exemplo que nos cumpre a seguir!
Não é o triumpho sangrento que
Possa esta festa pacifica da
banha com tepido pranto os olhos da
industria, não ser amarga á obreza
viuva e do orphão que vindes cele-
honesta, nem fatal ao templo, que a
brar, senhores! É o triumpho augusto
devoção dos fieis levantou ao Autor
da intelligencia sobre a materia,
do Mundo! Abandonar o lar que nos
da industria sobre a immobilidade!
escutou o primeiro balbuciar da in-
longe, bem longe dos prognosticos do
fancia, é bem amargo; não dormir o
egoismo! O progresso que ora tem en-
ultimo somno onde se vio despontar
tre nós o systema de viação, não é
a primeira aurora, é um pensamen-
exclusivo de uma só povoação; San-
to acerbo, para os desherdados da
tos, S. Paulo, Jundiahy, hão-se au-
fortuna!
ferir lucros mais directos desta em-
Ver o templo augusto que es-
preza, mas ella ha de influir sobre
cutou nossas preces mutilado pelo
assassinato do jornalista Libero Badaró (SP), a mando de Dom Pedro I
1830 jornal A Voz Paulistana
A Imprensa e a Cidade de Santos
tarde.
61
A Imprensa e a Cidade de Santos
62
martelo, dõe no fundo d’alma aos que mais de uma vez no seu sacrario ele-
merecem ser saudados por nós! Mauá,
Monte
Alegre,
Pimenta
varão orações fervorosas ao Supremo
Bueno, são nomes, que d’ora avante
Ser!
os Santistas trarão impressos nas Confiemos, senhores, que os es-
páginas da gratidão, que, na phrase
crupulos da população serão atten-
colorida de um habil escriptor, é a
didos pelos distinctos cidadãos, que
memoria do coração! (applausos)
estão a testa d’esta grande empreza,
Perdoae ao humilde levitha do
e que a acção benefica daquelle que
templo do progresso as phrases tos-
todos os Brazileiros abençoão, e de
cas que o coração dictou, e que a
seu digno representante n’esta pro-
arte não havia preparado, e com to-
vincia, não faltarão ao povo de San-
das as forças que vos dá uma con-
tos n’esta emergencia.
vicção sincera e robusta acompanhar
Senhores, os que se devotão ao paiz
impellidos
pelo
patriotismo,
pondo a margem os terrenos e mes-
o viva que vou levantar: - Vivão os protectores da estrada de ferro de Santos a Jundiahy!
quinhos interesses, terão um lugar distincto no pantheon da historia! Os que sem receber um seitil,
(Revista Commercial, 18 de maio de 1860, página 2)
tomarão a peito esta grande empreza,
abdicação de Dom Pedro I; início do período de Regência
1831 jornais Correio Paulistano, Novo Farol Paulistano; O Buscapé, O Doutor Tirateimas, O Narciso, O Enfermeiro dos Doidos, O Minhoca (RJ)
A Imprensa e a Cidade de Santos
COTIDIANO E POLÍTICA
1832
jornal O Carijó (RJ)
63
10. O Progresso – Jornal Comercial, Noticioso e Literário era voltado principalmente às questões locais. Nesta curta nota, menciona o aumento da população por conta dos migrantes que vinham para Santos trabalhar nas obras da construção da
A Imprensa e a Cidade de Santos
estrada de ferro.
SEGURANÇA PUBLICA attenção
porque me todas as classes ha bons
dos Exms. Srs. Delegado de Policia
Chamamos
de
novo
a
e maus. Dizem-nos que um destes dias
d’esta cidade e Presidente da Pro-
fora evadida a casa de um marcineiro
vincia para a pouca ou nenhuma se-
por alguns individuos que vagavão
gurança em que estamos por falta de
ébrios pelas ruas pondo em sobresal-
força armada que faça o serviço noc-
to a familia d’esse pacifico artista
turno da cidade.
que socegado estava em sua caza.
Todos os dias chegão novas pes-
64
soas para trabalhar na estrada de ferro, e outras occupações, e nós
(O Progresso, 23 de agosto de 1860,
não sabemos quaes os seus costumes
página 3)
1833 jornais O Cabrito, A Marmota, O Burro Magro, O Par das Tetas (RJ)
11. O Mercantil - Jornal Noticioso, Comercial e Político foi fundado em agosto de 1867. Era ligado ao Partido Liberal, cujo ideário propagandeava com vigor. Ao completar um ano, passou a ter periodicidade diária. Neste texto, extraído da edição de 10 de outubro de 1868, a imprensa e seu poder multiplicador são exaltados.
Rio, 2 de outubro de 1868
Estamos
em
nossos
postos
de
honra. Não nos assustão as ameaças do poder.
recrutar, processar e prender; emfim todo o vasto apparelho official. A
nós
Pregar a idéa liberal em toda
sente-nos
extensão, em todos os seus desen-
imprensa.
outros
apenas
liberaes, o
exercicio
conda
volvimentos, extreme dos elementos
Porque, pois, tomão-se de sus-
estranhos que a vicião; clamar alto
to e terror diante da attitude que
contra a deturpação perfida de nos-
assumimos?
sas instituições; denunciar á execração do paiz os autores de nossas desgraças, tal é a nossa tarefa.
Porque atirão-nos insinuações perfidas? O instincto de conservação é
Para levá-la ao cabo só temos a
admiravel de sagacidade. Nossos ad-
imprensa, o mais bello e o mais ad-
versarios sentem que se a seu lado
miravel instrumento da civilisação
estão os elementos materiaes do po-
moderna.
der mundano, temos, os liberaes, por
Nossos adversarios fallão das eminencias do poder. Para esmagar as resistencias que ousa oppôr-lhes a consciencia
nós, a força mais poderosa do seculo – a força da idéa, centuplicada por esta alavanca movel denominada – a imprensa.
popular, a divindade protectora pôz-
O terror de que se mostrão do-
lhes nas mãos a força publica – um
minados, é a mais brilhante home-
exercito formidavel e uma poderosa
nagem á excellencia e grandeza de
armada -; a fortuna do Estado, o co-
nossa causa.
fre das graças, a faculdade de nome-
O erro não abre espaço por si;
ar e demitir em massa, o direito de
sem o apoio do poder e da força ma-
1834
jornal O Justiceiro (SP)
A Imprensa e a Cidade de Santos
IMPRENSA LIBERAL
65
A Imprensa e a Cidade de Santos
66
terial, elle esváe-se á luz da intelligencia como tenue fumo ao sopro do vento.
Tal a causa dos terrores de nossos adversarios. Que lhes monta a posse indis-
Se no fundo de nossa causa es-
putada do poder publico, se contra
tivesse o erro, nossos adversarios,
elles actúa com indomavel energia a
senhores
força da idéa?
do
poder
chancearião
de
nossos esforços. Mas a idéa liberal é a verdade
(Do Diario do Povo)
dos tempos modernos. Illuminem-na ao clarão da imprensa, e ella, como o fogo do céo,
(O Mercantil, 10 de outubro de 1868, páginas 2 e 3)
ha de romper triumphante todos os travezes que lhe levantão os sophismas do absolutismo, os calculos de interesses sordidos e as machinações da hypocrisia.
Revolução Farroupilha (até 1845)
1835
jornal O Paulista Oficial
A Imprensa e a Cidade de Santos
O Mercantil, fundado em agosto de 1867, propagandeava com vigor o ideário do Partido Liberal. Ao completar um ano, passou a circular diariamente. Fundado por Manoel Raposo de Almeida, foi um dos principais concorrentes do Revista Commercial, o primeiro jornal santista. Mas O Mercantil deixou de circular dois anos depois.
67
12. Com o fechamento do jornal Revista Commercial, em fins de 1872, o Diário de Santos passou a ser o grande jornal da cidade, tendo participação ativa nas campanhas abolicionista e republicana. Em seu terceiro dia de circulação, o alvo do editorial
A Imprensa e a Cidade de Santos
de capa é a atuação da polícia local.
12 de outubro de 1872 Incessantes clamores se levan-
Contracte a companhia sua ron-
tam contra o procedimento da policia
da como se faz na corte, pois é es-
desta cidade, que persegue a guarda
tipendiada
nacional apesar das garantias e pri-
e
vilegios que a cercam.
totalmente ás obrigações da força
Dizem alguns que procedem assim
68
em virtude de ordem do actual dele-
tem
pelos
interesse
cofres a
publicos,
zelar,
alheios
publica, que muito tem em que se occupar.
gado, que, sendo empregado da casa
Vemos as praças servirem de bi-
do commandante superior, não duvida
lheteiros no theatro, e mantenedores
praticar tão grande attentado.
nos cavallinhos, e outras vezes pos-
Nada entretanto podemos ao cer-
tadas em frente ás casas commerciaes
to garantir, mas é fóra de questão
ás ordens de seus amos, que por sua
que estando a policia sob as ordens
vez são caixeiros, e apesar de tanto
do delegado, é elle responsavel mo-
ordenança, e tanta farça de solda-
ral perante a opinião.
dos, querem ainda mais!
Admira como sendo s. s. tenente
Tal é a porção que temos que
dessa guarda briosa, e recommenda-
sobra ainda para conduzir escravas
vel por tantos titulos, equipara-a a
do delegado de policia, e assistir
pretos fugidos!
os castigos por elle determinados.
Pede-se hoje augmento de força,
Temos concluido que o commando
quando o numero de praças é bastante
superior não tem apoio ou affeições,
para o publico serviço, mas allega-
pois ao contrario não haveriam pra-
se que é mister mais força porque os
ças de guarda nacional mais de qua-
lampeões carecem de guarda á noite.
tro mezes destacadas, e menos ainda
1837 Jornal do Commercio publica a primeira caricatura, de autoria do pintor Manoel de Araújo Porto-Alegre
fortaleza.
presidencia improvisa financeiros,
Pretexta-se fazer
prisões
Aguardemos o futuro, já que a
embriaguez
caprichosas,
para impro-
e paga liberalmente aos censitarios commissionados.
visam se flagrancias, persegue-se a guarda nacional, emfim tudo se pra-
(Diário de Santos, 12 de outubro de
tica porque a impunidade é um facto
1872, página 1)
consummado. Mas o delegado julga bem desempenhar suas funcções e o governo acha que elle é bom, e está no caso de continuar a servir. Que o governo assim pense, é natural, mas que o delegado insista em sua continuação, parece-nos na verdade extraordinario!! Desde que temos promotor negociante, e que accumula o lugar de advogado da camara, nada nos é dado mais admirar.
1838 jornais O Observador Paulistano e A Lanterna Mágica, que publica a primeira caricatura no país
A Imprensa e a Cidade de Santos
a deserção em massa que se deu na
69
13. Em julho de 1908, o jornal Cidade de Santos, em circulação desde 1898, publica esta violenta recepção a um novo periódico que, segundo ele, estaria a serviço dos interesses da prefeitura e de membros do Partido Municipal. Não foi possível
A Imprensa e a Cidade de Santos
apurar a que título o texto se refere.
70
NOVO D. QUIXOTE Appareceu na arena jornalistica da terra um novo contendor, arma-
que a construcção não desmoronasse antes de chegar ao fim.
do de ponto em preto, armadura pro-
Como
exercicio
de
paciencia,
tectora, viseira descida e lança em
não se pode negar que não tenha a
riste, avançando a medo alguns pas-
sua utilidade, que não traga algu-
sos, como se quizesse experimentar
ma experiencia para o futuro, que
a força dos adversarios.
não indique no novo architecto uma
Coxeou, porem, na primeira en-
tal ou qual inclinação para cons-
trada e é de crer que o novo palladi-
trucções dessa natureza, que dis-
no não tenha pernas em que se possa
trahem as creanças e as impedem de
firmar, para esgrimir duro e firme
fazer algum estropicio. Antes assim!
durante a pelleja em que se veio
á falta de doce, brinquedos e quando
metter
não se contentam com elles, meia du-
expontaneamente,
pensando
levar tudo de vencida.
zia de palmadas fazem a conta.
Novo d. Quixote, em vez de moi-
A dona do novo cavalleiro an-
nhos de vento, contenta-se em cons-
dante
truir para ter o gostinho de os der-
para defendel a entrou na liça e é
rubar, simples Castellos de cartas,
de crer que, para conservar lhe as
podendo assim contar em cada assalto
boas graças e merecer lhe os attrac-
uma victoria.
tivos favores, se mostre digno da
Gostamos brinquedo
de
vel
innocente
o
dos
naquelle castelli-
é
a
matrona
da
Prefeitura;
sua digna Dulcinéa. Decahida
da
sua
virtude
de
nhos de cartas, tenteiando o estylo
Vestal, a Prefeitura tem andado ex-
com todo o cuidado e paciencia para
posta a todos os baldões, soffrido
elevação de Santos à categoria de cidade
1839
alguns senhores vereadores, membros
encontrasse alma bastante generosa
do Partido Municipal, que a manejam
e animo bastante ousado, que arris-
á sua vontade e de accordo com os
casse um golpe em sua defeza. E a
proprios interesses.
nobre attitude do novel cavalleiro,
Homem sem conhecimentos e sem
não pode deixar de merecer os ap-
amor proprio, incapaz de medir as
plausos da turba, tomando a causa de
consequencias de qualquer acto que
uma criminosa desprotegida, abando-
pratique, a não ser pelo interes-
nada da sorte e dos amigos, entregue
se immediato, o Prefeito de Santos
ás consequencias fataes do seu pre-
é uma irrisão, atirada á cara do
ceder pouco honesto.
povo pelas paixões politicas de um
As suas faltas ahi estão em
partido sem homogeneidade, sem tra-
publicos libellos, que a lança do
dicções, sem programma e sem forças
cavalleiro, por mais afiada e dex-
para vencer as difficuldades de mo-
tramente brandida, não será capaz de
mento, a não ser pela má fé, pela
anniquillar, salvando lhe a reputa-
burla e pela audacia que poz em cam-
ção, que barateiou impudicamente, em
po nas vesperas da eleição.
transacções interesseiras.
Alcançado o poder, que era o
Não deve, pois, ser falha de
seu unico objectivo nunca mais fez
interesse a defeza dessa apatacada
cousa alguma, a não ser a divisão
matrona, que só depois de arrastada
dos dinheiros publicos entre os pro-
pelas ruas da Amargura, como casti-
tegidos e correligionarios.
go das suas culpas, conseguiu topar
E nisso se tem cifrado toda a
um defensor, que se propõe arrostar,
sua actividade, todo o seu esforço,
num rasgo de generosidade, as con-
todo o seu programma.
vicções de um povo, que tolera por indifferença mas que não se deixa
(Cidade de Santos, 22 de julho
vencer por ignorancia.
de 1908, página 1)
A
Prefeitura
nesta
cidade
é
presentemente um joguete nas mãos de
fim da regência; aos 14 anos, Dom Pedro II assume o trono
1840
1842
Jornal O Governista substitui O Paulista Oficial
A Imprensa e a Cidade de Santos
de cara os maiores insultos, sem que
71
14. Em janeiro de 1909, o jornal independente A Vanguarda, que se intitulava Diário da Manhã, comenta as próximas eleições para a Câmara e o Senado Federal. Na nota seguinte, defende o comércio local frente à poderosa Companhia Docas de Santos.
A Imprensa e a Cidade de Santos
Surgido em 1908, o periódico circulou durante quatro anos.
72
ELEIÇÕES Realisam-se
hoje
as
eleições
para renovação da Camara Federal e
Os eleitores vão votar... Nós, que só poderemos applaudir
do terço do Senado. Em todo o paiz
victorias
eleitoraes
quando
ellas
agitam-se os cabos politicos e exer-
symbolisarem uma victoria do povo
cem as olygarquias o seu poder so-
contra os seus oppressores, limita-
berano sobre um eleitorado desmo-
mo-nos, pois, a pedir aos indepen-
ralisado e frouxo, inconsciente dos
dentes que votem no velho e honra-
seus direitos e dos seus deveres.
do democrata sr. Antonio Moreira da
A prova desse gráo de aviltamento
Silva.
a que chegou o eleitorado brazileiro teremos dentro de alguns dias, quando o telegrapho communicar-nos
(A Vanguarda, 30 de janeiro de 1909,
que bem poucos foram os candidatos
página 1)
independentes triumphantes. E assim, por mais tres annos, uma choldra politica que assaltou o poder, continuará a dominar o paiz, fazendo negociatas com capitalistas extrangeiros e transações vergonhosas com os monopolisadores das industrias rendosas a custa de um indecente proteccionismo.
1844 Jornal A Lanterna Mágica, primeiro avanço técnico da imprensa brasileira
fundado em 1908 e seu
A Imprensa e a Cidade de Santos
O jornal A Vanguarda foi
redator-chefe, Silvino Martins, era filiado ao Partido Republicano. De cunho independente, intitulava-se Diário da Manhã e defendia o comércio local, opondo-se à poderosa Companhia Docas de Santos.
73
15. Nesta nota, o jornal independente A Vanguarda defende o comércio local frente à poderosa Companhia Docas de Santos.
A Imprensa e a Cidade de Santos
COM A DOCAS A Companhia Docas de Santos, no
A Companhia Docas deve lembrar-
costumeiro habito de sugar a huma-
se que o commercio contribuinte tem
nidade e aquelles que lhe dão a vida
o direito de exigir maior attenção
com o trabalho quotidiano, deu agora
para os seus interesses, porque para
para fazer economias em prejuizo do
isso paga e não pouco.
commercio.
74
Assim é que depois das 3 horas da tarde, quando o trabalho é mais
(A Vanguarda, 14 de janeiro de 1909,
apertado, o pessoal do escriptorio,
página 1)
fica attonito com o serviço a seu cargo, porque sendo pequeno o numero de empregados, as partes, com direito justo, exigem o desembaraço de seus despachos e os pobres empregados vêm-se atrapalhados para atendel-os.
governo inglês institui o Bill Aberdeen, proibindo o tráfico de escravos no Atlântico
1845
1849 jornais Revista Commercial, o primeiro de Santos; O Ipiranga (SP)
16. O jornal A Vanguarda tinha como redator-chefe Silvino Martins, que era também membro do diretório do Partido Republicano Conservador. Nesta coluna, de fevereiro de 1909, trata de questões ligadas à exportação de café e defende os interesses de Santos. SEMANA FINANCEIRA
O CAFÉ A semana que se findou foi pre-
a Brazilian Warrants Company, com um
nhe de acontecimentos em relação ao
capital de 300 mil libras, subscrito
café. O governo pagou aos srs. E.
por tres importantes casas londri-
Johnston & Comp. a quantia de 3.125
nas, e que tem por fim a construc-
libras, primeira prestação trimes-
ção de grandes armazens em S. Pau-
tral do contracto para a propaganda
lo, para entreposto de café contra a
do café na Inglaterra, e em Londres
emissão de warrants.
a São Paulo Coffee Company, inaugurou as vendas publicas, no mercado de Mincing Land, de cafés verdes sob
E, com o digno fecho das boas noticias sobre a famosa rubiacea,
cumpre-nos
lembrar
a denominação São Paulo, alcançando
que anda pelo interior do Estado, em
preços nunca vistos os cafés chama-
activa e proficua viagem de propa-
dos Santos e o café da marca [-].
ganda o nosso presado collega do Il
Como si não bastasse essa agra-
Secolo, dr. Antonio Piccarolo, que
davel noticia, vinda da Inglaterra,
levantou a idéa de se estabelecer a
da Italia tambem tivemos boas novas.
troca do café pelo vinho italiano,
Doze cooperativas de consumo de Mi-
por meio das cooperativas da Ita-
lão realisaram uma sumptuosa fes-
lia, resolvendo-se a crise vinicola
ta de propaganda do café brasileiro,
que assoberba a patria de Dante e a
distribuindo aos que a assistiram
crise do café que perturbou a marcha
50 mil chicaras de café, manipulado
ascendente do nosso progresso.
segundo os costumes do nosso paiz, e sem [-] alguma de chicorea.
A nota triste, quanto ao café, deu-a na semana finda o governo do
Ainda na Inglaterra trata-se da
Estado. A lei absurda de de 25 de
constituição de uma grande empreza,
agosto de 1903, que creou embaraços
abolição do tráfico negreiro; primeiras experiências com trabalho livre
1850
jornais O Mercantil e O Nacional (Santos)
A Imprensa e a Cidade de Santos
Santos, 6 de fevereiro
75
A Imprensa e a Cidade de Santos
76
á exportação do café, limitando a
E o secretario, em vez de re-
nove milhões de saccas a exportação
solver logo sobre a interpretação da
do anno agricola de 1908-1909 (1º. de
lei, como era de seu rigoroso dever,
julho de 1908 a 30 de junho de 1909)
entendeu que lhe era mais urgente
e estabelecendo o imposto addicional
ir dar um passeio até S. Manuel, em
de 20% ad-valorem para o excedente
visita aos seus cafezaes.
desse numero pre-estabelecido, vai
[...]
entrar em vigor dentro em pouco, e a Recebedoria de Rendas do Estado já declarou que não acceitará despacho
(A Vanguarda, 8 de fevereiro de 1909,
de café algum, depois de completo o
página 1)
numero de 9 milhões, sem o pagamento do imposto adicional de 20%. A Associação Commercial desta cidade, em judiciosa representação que dirigiu ao secretario da fazenda, sr. Dr. Olavo Egydio, pedia essa interpretação da lei citada, e, em telegramma, lembrou ao mesmo secretario uma promessa feita em oficio de 12 de Janeiro ultimo.
1851
jornais O Precursor e O Médico Popular (Santos)
A Imprensa e a Cidade de Santos
PRAÇAS, EPIDEMIAS E CANAIS
criação do Banco do Brasil
1853
77
17. Em 1860, circulava às quintas-feiras O Progresso – Jornal Comercial, Noticioso e Literário. No artigo abaixo, observa-se o que o periodismo convencionou chamar de nariz-de-cera, uma introdução tão longa quanto dispensável. Esta publicação
A Imprensa e a Cidade de Santos
desapareceu no mesmo ano.
78
NECESSIDADES LOCAIS A nuvem é grossa, e o adelga-
dia: menos a nossa menos o commercio
çal-a com os nossos escriptos seria
de Santos, que em logar de melhorar,
uma grande vantagem! O commercio e
conscienciosamente acreditamos que
os
arraigados
o seu systema tem peorado. Devido a
no seu pessimo systema, que só a
commerciantes
estão
que? Á ineptidão dos commerciantes?
alavanca os póde alluir.
Talvez não porque ha no seo seio
Trabalhar sem systema é marcar
bastante intelligencias capazes de
passo em terreno vicioso. Trabalhar
uma reforma para a sua melhoria; no
por ostentação e sem proveito, é re-
entanto não sabemos a que attribuir
trogradar; mas a mania de se dizer,
a sua falta de resolução: máo fado
- meu pai fazia assim, eu assim devo
pesa sobre este logar !
dizer. – é, sejamos francos, serem
[...]
seguidores de más rotinas, sem terem
Que
dispendio
viria
ao
com-
uma idéa nova para aperfeiçoarem o
mercio da organisação de uma praça,
que lhes foi legado imperfeito.
onde fossem conhecer as transacções?
Todo o homem e todas as cousas
onde organizassem um methodo razo-
são dignas de melhoramentos: e assim
avel para regularisarem o quantum
succede.
levariam pelo seu trabalho em com-
Basta considerar-se, já não dizemos a navegação e estrada de ferro;
missões, responsabilidades, e mais negocios?
consideremos as praças commerciaes
Ninguem se propõe a isso; o
e veremos se ainda estão, como come-
commercio é surdo, mesmo quando se
çaram? Não têem tomado o devido in-
trata dos seus interesses.
cremento, têem caminhado de dia para
jornais O Constitucional, primeiro diário paulistano, e O Paranapiacaba (Santos)
[...]
as quitandeiras de rua, e com ven-
commerciaram em Santos e nunca aqui
dilhões libertos , zungús, coitos de
houve praça de commercio! A resposta
pilhagem &c. &c. derramados por toda
é boa! Porque nossos paes nunca foram
a cidade; e por isso na impossibi-
peritos em commercio, nós tambem o
lidade de serem fiscalisados pela
não devemos ser: nossos paes traba-
policia, que aqui é bem deminuta.
lhavam de graça, nós tambem devemos
E,
como
trabalhar: nossos paes não nos le-
Como
garam nada, nós tambem nada devemos
fiscalisação?
pôr
evitar
tudo
ao
tudo
isto?
alcance
da
legar; assim tudo o mais. Se aplicam
Fazendo uma praça de mercado
este raciocinio, em breve estaremos
onde tudo se vá vender, evita-se o
no tempo do barbarismo!
estarem immensas casas de pretos e
[...] Desengane-mo-nos
A Imprensa e a Cidade de Santos
Não querem; e dizem; nossos paes
pretas derramadas pela cidade, que crassa
só servem para protegerem a desmo-
ignorante avassalla tudo, ou o com-
ou
a
ralisação, e de coito a vadios; mas
mercio de Santos está condemnado a
como dissemos, não podem ser fisca-
ser sempre escravo pela sua má ver-
lisados pela falta que ha actualmen-
sação em negócios. Se elles não se
te e que sempre houve de pessoal na
unem, não se harmonisam, não buscam
policia.
um centro para se tornarem fortes....
[...]
Ao contrario, cada um de per si bus-
Conhecemos um bom local para
ca dominar só, para guerrear o res-
se fazer uma boa praça de mercado, e
to; e n’este intuito jamais chegarão
bem no centro da cidade.
a um accordo rasoavel e de interesse futuro.
Coberto o ribeiro que fica entre o Arsenal e a casa de Santa cruz,
[...]
desapropriado o quintal do Carmo,
Carecemos de uma praça de mer-
que para isso for necessario, pode
cado, para acabar por uma vez com
fazer-se um portão na rua Direita,
1854
jornais O Correio Paulistano, Revista Mensal do Ensaio Filosófico Paulistano
79
A Imprensa e a Cidade de Santos
80
em frente ao ribeiro, coberto, outro
esta obra tão necessaria ao melhora-
na rua do Campo, o primeiro fica com
mento; porque alem de serem mesqui-
communicação para o mar, para fa-
nhos os seus rendimentos ella tem se
cilitar a conducção do pescado para
empenhado com outros melhoramentos;
a praça, e de muitos generos que
com tudo demostraremos no seguinte
vêem dos sítios, que os mandarão ao
numero o meio de para essa obra se
mercado.
obter recursos e as vantagens que a
No meio da praça póde obter-se
mesma camara dahi pode tirar; de-
com muita facilidade um chafariz,
monstraremos mais a necessidade de
porque da agoa que vem para o largo
uma praça de mercado, pelo decresci-
póde tornar-se um ramal. O ribei-
mento de braços para o serviço do-
ro que passa no meio do quintal do
mestico e a difficuldade de obtel-
Carmo, é já uma grande vantagem, por
os, que se sente de dia para dia.
servir de esgoto ás águas, não só das chuvas, como quando se lavar a
(O Progresso, 23 de agosto de 1860,
praça; vantagem esta que se diffi-
páginas 1 e 2)
culta n’outro qualquer logar. Sabemos que a nossa camara, não está na possibilidade de emprehender
inauguração da primeira ferrovia do país, ligando o Rio de Janeiro a Petrópolis
1855 jornais A Vila da Redenção, A Procelária, O Incolor, O Reclame, Farpas, O Colibri, O Bilontra e Cidade de Santos (Santos)
18. As epidemias foram um sério problema enfrentado por Santos no século XIX. Neste editorial, publicado em julho de 1872, poucos meses antes de seu fechamento, o jornal Revista Commercial comenta o surto de varíola e exige providências das
Continua
a
grassar
a
bexiga
de lamentar que composta de Paes de
nesta cidade e esta enfermidade que
familia tenha posto á margem tão
existe incubada desde Janeiro; de-
grave assumpto, aliás de sua priva-
senvolve-se agora com tal força que
tiva competencia.
está reconhecida como epidemia.
O artigo 69 da lei de 1º. De Ou-
Grande numero de pessoas tem
tubro de 1828 terminantemente dis-
sido attacadas deste mal que segundo
põe que ás camaras municipaes per-
se afirma se apresenta com pessimo
tence curar em que se vaccinem todos
caracter, e casas ha que contam a um
os meninos dos districtos, e adultos
tempo mais que quatro enfermos.
que não tiverem sido: e no entre-
Ninguem ignora a gravidade do
tanto além de nossas publicações ,
mal sobretudo na estação que atra-
nada temos observado com relação a
vessamos; ninguem desconhece os hor-
esta providencia que constitue uma
rores e sobresaltos que o desenvol-
das mais bellas attribuições destas
vimento de uma epidemia desta ordem
corporações.
traz á sociedade; e no entretanto
É tempo ainda de tratar-se se-
nenhuma medida nos consta no senti-
riamente do caso, e a camara certa-
do de convencer-se ao povo da neces-
mente intervirá para a realisação da
sidade da vaccina.
prescripção legal, visto interessar
Bem comprehendemos que muitas são as necessidades do municipio, reconhecemos
que
a
actual
a todos. Uma commmissão organisada em
camara
cada districto debaixo das vistas
tem prestado importantes serviços,
e indicação da edilidade poderá ser
mas não podemos igualmente deixar
encarregada de aconselhar pelas ca-
1856 jornais O Patriota, Diário da Manhã, O Dever, A Verdade (Santos)
A Imprensa e a Cidade de Santos
autoridades.
81
A Imprensa e a Cidade de Santos
82
sas a adopção do recurso medico, e
tando-se com verdadeira dedicação,
marcando-se dias no paço municipal
mas falta quem compilla o povo a
com previa audiencia dos facultati-
procural-os, para dest’arte salval-o
vos que deverão alternar para pode-
do cruento mal que tanto o liotili-
rem dar vasão ao serviço, parecia-
sa já.
nos util que por editaes assim se
Não era intento nosso occupar-
annunciasse a vaccina, estatuindo-
mo-nos pela imprensa, deste assump-
se a obrigação de voltarem os vacci-
to, mas o despreso que observamos a
nados para a extracção do puz, como
isso obriga-nos.
procedeu-se na provincia do Rio, em
Não convém dormir, não convém
virtude da lei provincial n. 378 de
que sejamos indifferentes a este es-
7 de Maio de 1846 mandada observar
tado de cousas; é preciso lembrar-
por todas as camaras pela lei n. 538
mo-nos de que o mal que soffrermos
de 19 de julho de 1850.
affectará as povoações visinhas, e
Temo-nos dirigido os Drs. Moy-
sobre nós terá de recahir toda a
sés, Cunha Moreira e Frederico, e
culpa das desgraças que assolarem
com verdadeiro prazer dizemos, en-
seus habitantes.
contramos estes facultativos cheios
Por nossa parte julgamos ter
de nobre enthusiasmo pela salubri-
cumprido a missão de jornalista de-
dade
pouco
nunciando ao povo e ao governo o
caso em que é tida a vaccina entre
abysmo que se abre aos pés dos habi-
nós, onde infelizmente só erguem-se
tantes desta cidade.
publica,
admirados
do
pedestaes aos prejuízos, e ás idéas inaceitáveis. Temos tres vaccinadores pres-
1857
jornais O Guayaná e A Academia (SP)
(Revista Commercial, 6 de julho de 1872, página 1)
19. A partir de 1871, o jornal A Imprensa passou a ser redigido pelo bacharel e poeta Joaquim Xavier da Silveira. Nestas duas pequenas notas de 1874, o texto enfoca a epidemia de varíola que então grassava em Santos e na província. Xavier da Silveira
RIO CLARO Devido
a
peste
das
bexigas
victimas, já ha feito.
n’aquella localidade, tem os preços
Não são só dignos de louvores e
dos generos attingido á tal eleva-
da estima publica aquelles, que dis-
ção, que a fome entre a pobreza já
pondo de recursos pecuniarios prote-
se faz sentir.
gem a população desvalida montando
Felizmente o espirito philan-
enfermarias para o seu tratamento;
tropico de seus habitantes tem pro-
tambem aquelle que não dispondo des-
curado de alguma fórma metigar os
ses recursos procura pelos meios ao
soffrimentos fornecendo quantias e
seu alcance aliviar a humanidade so-
generos ao Sr. Candido Valle para
ffredora, torna-se credor de louvor
serem destribuidos pela pobreza.
e da estima publica.
(A Imprensa, 9 de março de 1874,
acaba de offerecer a população desta
página 2)
cidade, como preservativo contra a
O Sr. Carlos Pedro Etchecoin
variola, ou pelo menos para minorar
Á PEDIDOS
os terríveis effeitos della suas Pilulas Paulistanas. É uma acção meritoria, que aca-
Na quadra calamitosa, que atra-
ba de praticar o Sr. Etchecoin a quem
vessa esta cidade flagellada pela
os habitantes desta cidade ficarao
variola, um homem tocado dos senti-
gratos,
mentos humanitarios, que o animão, e
TIL
cheio de caridade, vem tambem com o seu fraco contingente concorrer para
(A Imprensa, 27 de julho de 1874,
debellar esse flagello que tantas
página 3)
1859 jornais Revista Literária, O Ytororó, Esboços Literários e Revista da Academia de S. Paulo (SP)
A Imprensa e a Cidade de Santos
faleceria, vitimado pela doença, em agosto desse mesmo ano.
83
A Imprensa e a Cidade de Santos
Criado em 1870, o jornal A Imprensa passou a ser re-
84
digido no ano seguinte pelo bacharel e poeta Joaquim Xavier da Silveira, que nele defendia ardorosamente seus ideais abolicionistas e de liberdade de consciência, a moralidade política e a construção do cais santista.
20. A inauguração do primeiro trecho dos canais de Santos, em agosto de 1907, mereceu este artigo de capa no jornal Cidade
das
está passando a cidade, foi o pri-
obras de Saneamento desta cidade,
meiro passo para o seu saneamento e
constitue um facto digno de todas
para a conquista do renome de cidade
as attenções e louvores, por parte
hygienica e commercial que tem ad-
d’aquelles que sinceramente se inte-
quirido á custa de grandes sacrifi-
ressam pelo progresso, pelo bom nome
cios, com uma persistencia digna dos
e pelo aformoseamento de Santos.
grandes emprehendedores e de quem
A
inauguração
de
parte
É já um facto comprovado o estado hygienico desta cidade, que tão
está acostumado ao trabalho constante e rehabilitador.
pessima reputação creou em tempos
Desde esse momento, iniciou-se
idos, devido ao abandono em que os
para esta cidade uma nova era de me-
poderes publicos a deixavam, como
lhoramentos indispensaveis, que lhe
votada ao exterminio.
tem modificado o seu aspecto pri-
Cidade de um futuro incontes-
mitivo, tornando-a uma cidade uma
tavelmente grandioso, graças á sua
cidade á altura do papel que lhe
posição geographica, á superioridade
está reservado nas relações entre os
do seu porto maritimo, que a tor-
grandes emporios commerciaes. O Governo do Estado, que era
na o ponto forçado de communicação com todas as partes do universo, a
accusado,
cidade de Santos, começou ha pouco
de
a conquista da sua forçada posição
aos proprios recursos, tomou a ini-
entre as grandes cidades, abertas ao
ciativa do seu saneamento, quando
commercio internacional.
presidente o sr. Dr. Bernardino de
A grandiosa obra iniciada pela
deixar
justa esta
ou
injustamente,
cidade
abandonada
Campos.
Companhia Docas, saneando as mar-
A epoca dos grandes melhora-
gens do canal maritimo, que ainda
mentos, não estava porem iniciada
ha pouco não passavam de miasmati-
no Rio, e a principio todas as gran-
cos lamaçaes, foi o ponto de partida
des obras que iam ser iniciadas nes-
para essa grandiosa reforma porque
ta cidade não passavam de um sonho
1860
jornal O Progresso (Santos)
A Imprensa e a Cidade de Santos
de Santos, publicação fundada em 1898.
85
A Imprensa e a Cidade de Santos
86
vago, aereo, sem forma nem feitio,
realidade pratica, depois que o sr.
uma especie de miragem seductora,
Dr. Jorge Tibiriçá assumiu o gover-
que nos attrahia e nos fascinava.
no do Estado, tendo como secretario
Falava-se em milhares de contos
da agricultura e obras publicas o
que o governo ia dispender, e essa
sr. Dr. Carlos Botelho, incansavel
miragem cada vez mais se afastava
no desempenho da missão que lhe foi
dos nossos olhos no dizer da des-
confiada.
crença, sem um oasis para reconfor-
Ao sr. Dr. Saturnino Rodrigues
tar o desanimo dos que se deixavam
de Brito, incontestavelmente uma das
invadir pela descrença nos nossos
glorias da engenharia nacional, se
homens politicos, pela falta de con-
deve o bellissimo plano geral, que,
fiança nos governos patrioticos.
sob sua direcção está sendo execu-
E os trabalhos para as gran-
tado para o saneamento da cidade,
diosas obras de Saneamento tiveram
plano de que hontem demos um ligeiro
iniciativa, trazendo assim uma es-
esboço.
perança, vaga embora, de que Santos
É um plano realmente grandio-
seria em breve uma cidade realmente
so, alliando a belleza á segurança,
digna de ser vista e admirada, não
a simplicidade ao conforto da sua
só relativamente á sua importancia
grandiosidade.
commercial, mas egualmente digna de
Concluidas que sejam as obras
admiração pela belleza de sua obras
de Saneamento, Santos pode orgulhar-
sanitarias.
se de ser uma cidade modernamente
A principio, o plano do sane-
original, sem inveja das que mais
amento do sr. Dr. José Pereira Re-
se destaquem pelas suas obras de
bouças soffreu discussões e modi-
architectura e da sua estabilidade
ficações,
sanitaria.
pois
esse
melhoramento
offerecia serios embaraços na sua execução. As obras só tiveram um cunho de
1861
jornal A Civilização (Santos)
Ao colossal movimento commercial do seu porto, alliará as suas bellezas naturaes e artisticas, a
natureza casando-se admiravelmente A Imprensa e a Cidade de Santos
com a arte, provocando a admiração dos touristes, mostrando-se ao mundo como um grande emporio e uma cidade modelo. São, pois, justas as homenagens que hoje presta a nossa municipalidade ao patriotico governo do Estado, e ao digno engenheiro-chefe das obras do Saneamento.
87
(Cidade de Santos, 27 de agosto de 1907, página 1)
Guerra do Paraguai
1863 jornal O Caboclo (Santos)
1864
21. O veterano Diário de Santos, em atividade desde outubro de 1872, registra a inauguração do primeiro trecho dos canais.
A Imprensa e a Cidade de Santos
Este jornal, que teve diversos proprietários durante sua longa existência, ainda circularia por mais 10 anos.
88
VARIAS Fugiriamos
ás
normas
que
salubridade, executadas sob a habil
adoptámos, ao programma que esta
e proficiente direcção do sr. dr. Sa-
folha executa, se não saudassemos
turnino de Brito secundado por seus
hoje ao Governo do Estado que vem
operosos auxiliares, rendemos ao sr.
inaugurar as obras da Commissão de
dr. Jorge Tibiriçá e seus companhei-
Saneamento.
ros de administração, a homenagem
Interessados pelo engrandeci-
a que têm direito, pelo serviço que
mento da terra santista, luctando
acabam de prestar á cidade de Santos
pelas formosas conquistas do pro-
o entreposto do Estado de S. Paulo.
gresso,
não
podemos
regatear
ap-
plausos aos governos que mostram comprehender
suas
necessidades,
vindo ao encontro de suas justissimas aspirações. Felicitando-nos
pela
inaugu-
ração das obras que visam a nossa
1864
jornal O Santista; O Diabo Coxo (SP), primeira revista ilustrada paulista
(Diario de Santos, 27 de agosto de 1907, página 1)
A Imprensa e a Cidade de Santos
LIBERDADE DE IMPRENSA
construção da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí pela São Paulo Railway Company
1867
jornais O Lírio e O Mercantil (Santos)
89
22. A CIVILISAÇÃO – FOLHA CONSAGRADA AOS INTERESSES GERAES DO PAIZ circulou em 1861, durante pouco tempo. Seu redator-chefe era o português naturalizado Augusto Emilio Zaluar, no Brasil desde 1850. Autor de Peregrinação pela Província de São Paulo, trabalhou também no Diário do Rio de Janeiro e no Correio Mercantil, ambos na Corte. O texto abaixo é assinado pelo bacharel Antonio Pereira dos Santos, vereador em Santos durante várias legislaturas, que havia dirigido o jornal
A Imprensa e a Cidade de Santos
O Ytororó em 1859 e se tornaria, em 1865, proprietário do Revista Commercial.
90
O REI DO SECULO Ha nas sociedades modernas um poder que, diffundindo a luz por todas as camadas
dente – a educação intellectual e moral dos povos.
do povo, é o mais
Menos solido e pretencioso, po-
poderoso instrumento de instrucção,
rém essencialmente mais democratico
liberdade, moralidade e civilisação.
e generalisador, o jornal presta-se
Este poder, que, qual Briaréo de cem
mais ás propagandas do que o livro.
braços, faz ouvir n’um só dia, n’uma
O jornal é a cartilha do povo,
mesma hora, n’um único instante, no
onde elle bebe diariamente a lar-
seio das multidões, reproduzida por
gos
mil bocas uniformes, a sua voz pro-
complexo e variado, reclamado pe-
phetica: este poder, que é o mais
las massas. Escripto de improviso,
estrenuo lidador no complicado de-
ao correr da penna, sob a impres-
bate de todos os problemas humani-
são do momento, inflammado sempre de
tarios: este poder, que é o verbo
paixão, rico de factos quotidianos,
do progresso inspirando o genio das
o jornal é a chronica periodica de
nações: este poder chama-se Jornal.
acontecimentos sociaes, o echo ins-
tragos
o
ensino
superficial,
Filho, o mais legitimo, da im-
pirado dos sentimentos populares, o
prensa, essa, de todas as grandes
pregoeiro vigilante das necessida-
descobertas, a mais fecunda e util
des publicas, o mantenedor denodado
ao aperfeiçoamento do genero huma-
da dama caprichosa e soberana de-
no, o jornal abraça um campo de es-
nominada opinião, o profligador im-
tudos vastissimo – a universalidade
parcial dos abusos e desmandos das
dos humanos conhecimentos, e tem por
autoridades constituidas e usufruc-
missão um commettimento transcen-
tuarios do poder.
1869 jornais Comércio de Santos, O Pirilampo e Correio de Santos (Santos)
de representação, a cujos reclamos são surdos os homens do poder, menos
da agricultura, mentor da industria,
artistico que o theatro, essa tri-
guia do commercio, campeão da or-
buna viva das nações cultas, onde,
dem e da liberdade, patrono sensato
para a missão da propaganda concor-
do (ilegível), defensor da autorida-
rem dous operarios, igualmente esti-
de legitima, estadista, (ilegível)
maveis, o poeta e o actor, o jornal,
e fiscal da administraçao publica,
Sisypho da imprensa, é o respira-
em uma palavra, inimigo figadal do
douro mais largo ás aspirações pro-
obscurantismo e soldado activo do
gressistas das sociedades modernas,
progresso, o jornal é, de todas as
a alavanca mais possante na empre-
tribunas sociaes, a mais elevada, a
za humanitaria do melhoramento dos
mais nobre, a mais potente, a mais
povos. O seculo IX (sic) é o seculo
fecunda e a mais civilisadora.
da intelligencia e das luzes, mas é
Dotado de uma força catechiza-
tambem o seculo do vapor, do caminho
dora incrivel, elle faz de dia para
de ferro e do telegrapho electri-
dia
sua
co. O jornal representa a applicação
obra de proselytismo. Cada leitor,
progressos
espantosos
na
d’estes tres velozes motores indus-
de milhares de devorão as suas co-
triaes á diffusão das primeiras. O
lumnas, é mais um espirito em que
jornal é o raio da civilisação.
o jornal incute o amor das gran-
Dirigindo-se a todos, desde o
des idéas; é mais um (ilegível) que
proletario da classe intima da so-
arrebanha para o crescente exerci-
ciedade até o funccionario publico
to dos (ilegível) da intelligencia;
mais altamente collocado, a voz do
é mais um neophyto a quem segreda
jornal vibra os seus accentos e pe-
os mysterios da santa conquista da
netra por toda a parte. O jornal,
verdade.
além de seus tantos outros mereci-
Mais duradouro que a palavra,
mentos incontestaveis, é um laço de
cujos sons fugitivos se perdem para a
approximação e igualdade social en-
memoria, mais efficaz que o direito
tre todas as classes e homens. Es-
Manifesto Republicano; inicia-se o movimento abolicionista
1870 jornais A República (RJ), O Imparcial e A Imprensa (Santos)
A Imprensa e a Cidade de Santos
Levita da sciencia, apostolo da moral, sacerdote do direito, pharol
91
A Imprensa e a Cidade de Santos
92
cripto para todos, vive para todos e
ra esse eterno derrocador de todas
por todos. E’ uma ponte democrática
as grandezas illegitimas e arbitra-
construida entre o povo e o governo.
rias. E’ que o jornal, zelador dos
Para um conhecer o outro, basta lê-
direitos sagrados do povo, sóe (sic)
lo. O jornal é a publicidade.
tomar contas severas ao poder, pelos
Pregando exemplos colhidos ás
seus abusos e excessos, e os es-
mãos cheias na Historia, essa arca-
tigmatisa cheio de indignação com a
santa dos triumphos e r e (sic) ve-
eloquencia esmagadora da razão e da
zes da humanidade, argumentando com
verdade. O despotismo tem por bases
a razão, essa adivinha
a ignorancia e a força – abomina a
do futuro
pela previsão e raciocinio, ajudan-
luz e ama o mysterio.
do-se, para colorir o estylo e en-
O jornalismo póde pois ser con-
cantar os espiritos, da imaginação,
siderado o criterium para se jul-
esse jardim inesgotavel da intelli-
garem as instituições de um povo.
gencia, o jornal, sobre qualquer ma-
Quando mais desafogada e autorisada
teria que se proponha a discorrer,
se mostrar a linguagem de seus pe-
sabe conhecer sempre o triumphar de
riodicos, tanto mais liberal e po-
todas as duvidas e preconceitos. Os
pular será a constituição de seu go-
trophéos diarios, colhidos por elle
verno: e quando este for avaro de
na eslacada (sic) da polemica, pro-
concessões democraticas, ficai certo
vão a fina tempera de suas armas, e
que a voz da imprensa diaria será
a superioridade com que sabe haver-
timida e peáda.
se nas justas do pensamento. Adversario do despotismo, pois elle , o jornal, é o alumno mimoso
O jornal é o (ilegível) politico dos (ilegível). Santos, Julho de 1861
da liberdade, vereis todos os dictadores e tyrannos, no gozo supremo
A. PEREIRA DOS SANTOS.
de uma autoridade absoluta, amordaçarem-no, pelo terror que lhes inpi-
(A CIVILISAÇÃO, 7 de julho de 1861, página 1)
fundação da Associação Comercial de Santos, a mais antiga do país
1870
meses em 1861, o jornal A Civilisação tinha como reda-
A Imprensa e a Cidade de Santos
Circulando durante alguns
tor-chefe o português naturalizado Augusto Emílio Zaluar, que chegou ao Brasil em 1850 - ele atuou também nos jornais Diário do Rio de Janeiro e Correio Mercantil, na Corte. A Civilisação publicava textos de Antonio Pereira dos Santos, vereador santista que se tornaria, em 1865, proprietário do jornal Revista Commercial.
93
23. Em 16 de agosto de 1857, começa a circular O Commercial, que duraria três anos. O jornal publicava as atas do legislativo
A Imprensa e a Cidade de Santos
municipal. Abaixo, na íntegra de seu programa, exalta a liberdade de imprensa e a vocação comercial de Santos.
94
PROGRAMMA, Outr’ora, quando as recrimina-
nova era, que foi proclamada solem-
ções do espirito de partido cons-
nemente pelo pai commum dos brasi-
tituiam quasi que exclusivamente a
leiros veio operar uma grande pha-
missão da imprensa no Brasil; quando
se na historia politica. Tolerancia
o triumpho para as idéas que profes-
para
sava um periodico era a unica selva
para todas as opiniões! Não hajam
que o alimentava e fortalecia, nada
vencedores nem vencidos! – eis as
mais facil do que a missão do jorna-
palavras
lista, que, vestindo a armadura do
Brasileiro – que assim espancou as
seu credo, apresentava – na arena do
idéas de exterminio que os partidos
combate e descendo a viseira do seu
mutuamente alimentavam.
todas
as
crenças!
sacramentaes
do
Liberdade
Monarcha
elmo, arremettia furioso contra as
Desde então, um grande pensa-
phalanges do campo contrario. Mas
mento foi o alvo de todas as ambições
ahi, posto o seu valor e galhardia,
– de todos os programmas: - Refor-
a victoria custava-lhe tambem muti-
mas, melhoramentos em todos os ramos
lações, que muitas vezes o inutili-
que prendem com o progresso material
zavam para sempre! Golpes de morte
e moral do paiz. Colonização, de-
desferia elle, que o salpicavam de
senvolvimento do credito, auxilios á
nodoas indeleveis do sangue de seus
lavoura e ao commercio!...
irmãos.
Trabalhemos pois todos na gran-
Cedo porem, e felizmente, a im-
de obra da reconstrucção do paiz;
prensa reconheceu que a sua missão
concorramos todos com as nossas for-
havia sido transviada do glorioso
ças para esta primeira e urgente ne-
caminho que lhe foi marcado. Uma
cessidade – e a illustração do povo
Lei do Ventre Livre
1871
Santos como das povoações da mari-
consequencia.
nha desta provincia, o COMMERCIAL
Eis porque apparece hoje o COM-
julga poder prestar um verdadeiro
MERCIAL, jornal especialmente con-
serviço – e nisso consistirá a sua
sagrado aos interesses commerciaes
maior recompensa.
da Provincia, e particularmente da
Contando com assiduos corres-
cidade de Santos. Elle vem preen-
pondentes, não só na capital como
cher uma lacuna ate hoje existen-
nos pontos mais importantes do in-
te na primeira praça commercial da
terior, alimentamos a esperança de
Provincia, e por isso espera todo o
levar o COMMERCIAL ao mais alto gráo
concurso e protecção dos habitantes
de interesse compativel com os re-
desta cidade, bem como do interior,
cursos de que dispozermos.
para os quaes servirá como de um monitor, ou mais propriamente de um indicador do estado das tranzacções,
(O Commercial, 16 de agosto de 1857,
das diferentes oscilações da praça
página 1)
etc etc. Noticioso, quanto seja possivel, discutindo com liberdade as necessidades mais urgentes não só de
1872 jornal Diário de Santos, o primeiro da cidade organizado como empresa; deixa de circular o jornal Revista Commercial, o primeiro de Santos
jornal Correio Paulistano, o primeiro impresso em rotativa em São Paulo
A Imprensa e a Cidade de Santos
será a sua primeira e indeclinavel
95
24. A Lei – Folha Diária de uma Associação Particular foi um periódico vinculado ao Partido Conservador, fundado em 1877 e desaparecido no mesmo ano. O artigo faz menção a um rumoroso caso de desfalque ocorrido na Câmara de Santos. Observa-
A Imprensa e a Cidade de Santos
se, na matéria, a batalha entre os órgãos de imprensa na defesa das facções políticas que representavam.
96
DESFALQUES Os redactores do “Diario”, dan-
dos, e cujo descobrimento occasionou
do mais uma prova da leviandade e
o pedido de demissão do funccionario
falta de criterio com que procedem
pouco escrupuloso.
sempre, contestam a exactidão de um
Se formos novamente provocados
facto a que alludimos em um dos nos-
e continuarem a duvidar das nossas
sos artigos sobre os desfalques.
asseverações, ver-nos-hemos forçados
Em attenção ao estado contrista-
a narrar o facto com todas as suas
dor em que se acha o ex-procurador da
circunstancias; e então a respon-
camara liberal, a que nos referimos,
sabilidade dos desgostos que temos
temo-nos abstido até agora de narrar
querido evitar recahira unicamente
o facto alludido tão minuciosamente
sobre aquelles para quem a reputação
como estamos habilitados a fazel-o.
alheia vale tão pouco como um brin-
Se os redactores do “Diario”
quedo infantil.
desejam saber a verdade toda inteira e o nome do ex-procurador, indague dos seus amigos politicos os srs. tenente-coronel Theodoro de Menezes Forjaz, commendador Nicolau Vergueiro e Jorge Avelino que fizeram parte da camara, em que se deram as irregularidades ou desfalques referi-
1873 jornal Correio Mercantil (Santos)
(A Lei, 14 de junho de 1877, página 2)
A Imprensa e a Cidade de Santos Publicação diária de uma associação particular vinculada ao Partido Conservador, A Lei circulou em 1877, por poucos meses. O jornal defendia ardorosamente as facções políticas que representava.
97
25. O editorial abaixo foi publicado por ocasião do primeiro aniversário do jornal Tribuna do Povo, em abril de 1895. Quatro anos mais tarde, Olympio Lima, em dificuldades financeiras, seria obrigado a vender o periódico. Logo em seguida, fundou um novo jornal, de curtíssima duração, chamado Correio da Semana. Em 19 de dezembro de 1899, retornou com outro periódico
A Imprensa e a Cidade de Santos
chamado A Tribuna, até hoje em circulação. Olympio Lima dirigiu o jornal até 1907, quando faleceu, aos 46 anos.
98
O NOSSO RUMO Cremo-nos já bastante conheci-
de tudo e por cima de tudo querem
dos do publico de Santos para que
e empenham-se por manter illeso e
hajamos
inalteravel o maior e mais excelso
mister
exibir-lhe
creden-
ciaes no momento em que estreitamo-
predicado do homem, - o caracter.
nos no jornalismo diario.
Renegariamos de todo o nosso
O nosso passado, que ainda é de
passado e sentirmo-nos-iamos rebai-
hontem, pode servir de garantia á
xados aos nossos proprios olhos, se,
missão que ora nos propomos exercer
pela vida e progresso desta folha,
au jour le jour.
tivessemos de assignar uma aposta-
Não mo
neutro
comprehendendo senão
como
jornalismeio
termo
d’aquillo que é ou do que pode ser
sia, o que seria abrir um hediondo
epitaphio
ao
nosso
proprio
eu
moral.
– meio facil e commodo de agir entre
Não! A TRIBUNA DO POVO pede,
o fluxo e o refluxo das marés –, pre-
quer, precisa do concurso e da sym-
ferimos apresentar-nos tal qual so-
pathia de todos os seus coevos, de
mos, com os nossos defeitos e com as
todos os homens de bem, por prefe-
nossas bondades, a ter que abdicar
rencia, mas não abdica, em que peze
do direito innato a todo homem que
a todos os maus, da prerrogativa de
se julga parte componente do meio
apreciar, senão com a competencia
social em que vive e porventura, de
que lhe falta, ao menos com a inde-
toda a Nação – a posse de sua pro-
pendencia que lhe sobra, os factos
pria individualidade.
e as leis, os homens e as coisas,
Deus nos guarde da pretenção de
segundo a educação de seu criterio
agradar a todos, - cousa absoluta-
politico, ao influxo de seu proprio
mente impossivel para os que acima
sentimentar.
primeira linha de telégrafo submarino do país
1874
jornal O Buscapé (Santos)
emporio commercial chamado cidade de Santos, pondo-se ao lado de todas as
liticos que fizeram da Suissa a re-
classes laboriosas que fomentam o seu
publica modelo e da aristocratica
engrandecimento.
Inglaterra a monarchia mais liberal do mundo, - o parlamentarismo. O
parlamentarismo
que
ha
Eis ahi o nosso rumo: o do publicista probidoso, convencido e sciente
de
da responsabilidade do seu magiste-
forçosamente trazer para a Republica
rio, empenhando labores e sacrificios
aquillo que ainda não está na Repu-
para que seja mantida a moralidade
blica: - a verdade nos programmas:
dos costumes; o respeito mutuo entre o
a circumspeição nas leis; a liber-
governo e o cidadão, desde o distric-
dade no individuo; a garantia so-
to ao municipio, desde o municipio ao
lida e necessaria para o exercicio
estado e deste ao cume da ordem poli-
amplo de todas as nossas energias
tica, á nação.
individuaes.
E, se por qualquer eventualidade
Isso que importa muito e muito
ou circunstancia não nos for permit-
a nossa nacionalidade, não exclue
tido transpor os obices que superam
do dever imperioso de collocar-se ao
tão difficeis caminhos, retrocedere-
lado do fraco contra a oppressão do
mos ao nosso ponto de partida, sem
forte; de vingar e fazer vingar o
perder o fito. Cairemos, que importa!
direito publico, quando acalcanhado
mas de pé, ennobrecidos e dignos.
pelos agentes do governo; de pre-
Basta.
venir a administração publica nos
Olympio Lima
seus desvios e de pleitear emfim, por todos os meios ao seu dispor,
(Tribuna do Povo, 10 de abril de 1895,
o progresso moral e material deste
página 1)
1875 jornais Gazeta de Noticias e Diário de Noticias (RJ); A Província de São Paulo (mais tarde passa a chamar-se O Estado de S. Paulo); O Raio (Santos)
A Imprensa e a Cidade de Santos
Nestas condições pugnou e continua a pugnar pelos principios po-
99
A Imprensa e a Cidade de Santos
100
Panfletário inflamado, Olímpio Lima se cercou de jornalistas audazes para defender suas idéias. Nesta imagem de 1902, estão os jornalistas da redação de A Tribuna do Povo – da direita para a esquerda, Artur Peixoto, Anatólio Valadares e Francisco Pereira (em pé); Alberto Veiga, Urbano Neves, Olímpio Lima e Pompílio dos Santos (sentados).
26. O jornal A Questão Social circulou quinzenalmente a partir de setembro de 1895, acredita-se, por um ano. Trazia como subtítulo ‘Orgam do Centro Socialista’ e difundia os ideais da doutrina. O médico Silvério Fontes, pai do poeta Martins Fontes, era seu diretor principal e já havia lançado A Evolução em 1882 e 1886, e A Ação Social em 1892, os três de conteúdo seme-
Apresenta-se hoje na arena jor-
Entretanto, forçoso é confessar
nalistica a “Questão Social” defen-
que as aspirações humanas devem ser
dendo uma justa causa – a reivindi-
integralisadas e a questão social
cação dos direitos do proletariado.
passa a ser complexa, isto é, tanto
Na Europa, onde o socialismo
litteraria, como philosophica, tan-
chegou a seu periodo de maturação
to affectiva, como esthetica, tanto
historica, a propaganda vae fazendo
moral, como politica.
grande proselytismo.
E seremos nós indifferentes ao
Alli, como na America do Norte,
estudo desses problemas, quando ta-
não se confunde a doutrina, que já
lentos de primeira ordem tanto se
entrou em sua phase positiva, nem
tem preoccupado com a sua difficil
com a republica, como a ensinou Pla-
solução?
tão, nem com a utopia, como a idealisou Thomaz Morus.
Entre nós, as condições actuaes não nos permittem encarar o socia-
Resultado de estudos acurados d’uma pleiade de pensadores representando o primus interpares Karl
lismo como medida que se imponha por uma agitação revolucionaria. Desfraldando
a
bandeira
reformista,
do
Marx, o socialismo encontrou, prin-
collectivismo
cipalmente na Allemanha, sua base
se “A QUESTÃO SOCIAL”, sem paixões,
propõe-
cientifica.
que considera antagonicas á idéa de
Não queremos dizer com isso que
progresso, a luctar tenazmente, para
o problema social seja uma refor-
que sejam mais rapidos os effeitos
ma
pois
do movimento evolucionista scienti-
della nascerá a principal reivindi-
fico, que deve dar em resultado a
cação proletaria.
nova organisação da Sociedade.
exclusivamente
1876 jornal A Tesoura (Santos)
economica,
A Imprensa e a Cidade de Santos
lhante. Abaixo, o editorial do primeiro número da quarta empreitada jornalística de seu idealizador.
101
A Imprensa e a Cidade de Santos
Por maiores que sejam as precauções dos excessivamente timidos e as apprehensões dos privilegiados, a repercussão, no Brazil, das idéas que se agitam no velho mundo ha de ser fatal, a bem dos interes-
102
ses geraes da collectividade. Oxalá o esforço que ora fazemos, pugnando pela implantação de doutrina regeneradora, encontre echo em todos os que comprehendem o alcance das leis altruistas, em todos os que combatem pelo nivelamento das classes, entrando com o contingente de sua collaboração para que se levante, em breve, o majestoso edificio da solidariedade e da justiça sociaes. (A Questão Social, setembro de 1895, página 1)
greve dos portuários em Santos
1877 jornais O Desfalque, Foguete, A Lei e Diário de Noticias (Santos)
27. Em 15 de novembro de 1895, aniversário da Proclamação da República, o jornal Santos Commercial, que até então se dizia republicano, decidiu abraçar a causa monarquista. A reação foi o empastelamento de suas oficinas na madrugada de 5 de dezembro. Só voltando a circular em 29 deste mesmo mês, passou a estampar abaixo de seu logotipo de capa: “Empastellado pelo corpo de bombeiros municipaes, na madrugada de 5 de dezembro de 1895, mandado pela Camara Municipal em
BANDITISMO
Assalto às officinas do “SANTOS COMMERCIAL” na madrugada de 5 do andante a mando da Camara Municipal Opinião da Imprensa
“San-
O assalto já estava planejado
tos Commercial”, orgam do partido
ha muito tempo, se não realisou-se
monarchista.
antes, foi porque o commandante do
Reapparece
hoje
o
Precisamos antes de tudo di-
corpo de bombeiro Levindo Lucio Pi-
zer ao publico que consideramos como
res não se quis a isto prestar-se;
auctores do attentado de que fomos
na Confeitaria Cascata, em reunião
victimas
Camara
de tres canalhas bem conhecidos nes-
que o povo
ta cidade, foi oferecida a Levindo
de Santos considera como a mais hu-
a quantia de 2:000$ para escangalhar
milhante e miseravel que esta terra
as nossas ophicinas.
os
vereadores
Municipal, d’essa camara
da
tem tido. Elles, vereadores, e quem sabe mais alguns sycophantas que o “San-
Levindo entretanto
recusou,
como
elles
perguntando arranjariam
dinheiro.
tos Commercial” tenha posto a desco-
-Muito facil, respondeu um dos
berta as sua mazellas, encontrarm em
taes safardanas: você requisita con-
Fabio Paulista de Carvalho o braço
certos e outras coisas no corpo de
forte para a consecução de negrega-
bombeiros, equivalente a 2:000$000,
dos fins.
e eu mando promptamente pagar. Se Levindo tivesse accordado na
Revista Nacional de Ciências, Artes e Letras (Santos), editada por Inglez de Souza, introdutor do naturalismo na literatura brasileira
A Imprensa e a Cidade de Santos
combinação com o Diario de Santos”.
103
A Imprensa e a Cidade de Santos
proposta, o facto que toda gente sé-
Acordando em sobressalto o sr.
ria condemnou, já se teria dado mui-
Eurico Saldanha ficou perplexo; mo-
to antes do dia 5 do corrente.
rando n’uma casa onde existiam 10 de
creanças, sua senhora, uma cunhada e
meia dúzia de ladrões, tem dito a
Fabio,
o
bandido
a
soldo
um irmão, não podia de fórma alguma
diversas pessoas que não tinha ten-
deixal-os sós, pois que os bandidos,
ção de vir com os seus comandados ao
os ordinarios bombeiros, covardes,
“Santos Commercial” mas que precipi-
ingratos a quem já temos defendi-
tado e uma vez que a desgraça estava
do para receberem os seus ordenados
feita completaria a obra.
em atraso dessa Camara monstruosa,
Como é miseravel este individuo! Vivendo uma vida aventureira;
104
poderiam ir até o lar domestico, na furia selvatica de que se achavam possuidos. E nestas condições, dado
sem emprego, frequentador eterno de
o
todos os bordeis, possuidor de todas
quem a defenderia?
caso
do
desrespeito
á
familia,
as qualidades ruins, Fabio, como que
Depois que os bandidos comme-
procura uma attenuante para minorar
teram o crime, e que por ordem do seu
a grandiosidade de seu crime!
commandante formaram em frente ao
--Passemos agora a relatar o crime:
edifício, ainda foi ouvido bem distinctamente o grito: “hão de conhecer o quanto vale um republicano!”
Seriam 4 ½ horas da madrugada,
Irrisão! Nós já conhecemos isso
quando nosso director, que mora nos
de sobra; realmente, se o valor de
fundos do predio, recebeu aviso de
um republicano consiste em assaltar
um empregado que dormia na officina
a horas mortas a propriedade alheia,
que diversas pessoas tinham arrom-
certo de não encontrar resistencia,
bado a janella e invadido a casa, e
pode esse republicano armar-se de
que estavam destruindo tudo que en-
gazuas e chaves falsas e commetter
contravam á mão.
toda sorte de latrocinios!
Fundação da Sociedade Auxiliadora da Instrução, a primeira escola gratuita de Santos
1878 jornal Correio de Santos
tudo em destroços: machina quebrada,
sião, hypothecando a todos o nosso reconhecimento.
cavaletes partidos, caixas viradas,
A’s 8 horas compareceu nas offi-
marmore espatifado, janellas arre-
cinas o sr. J. P. Azevedo Sodré, de-
bentadas, cartões, caixas de papel,
legado de então, acompanhado do dr.
participações tudo pelo chão, numa
Moura Ribeiro que fez corpo delicto
desordem medonha!
nas mesmas officinas.
Um relogio de parede levou 11
Veio tambem em companhia do sr.
machadadas no mostrador; um cliché
Delegado, o Leoncio Carneiro, inten-
com o retrato deo Sr. D. Pedro II e
dente de obras, e, como os outros,
que ia servir para o numero espe-
mostrou-se pezaroso, contristado, e
cial, sobre o quarto anniversario do
sinão chorou foi porque não trouxe
fallecimento do grande brazileiro,
nos bolsos algumas pimentas mala-
todo quebrado á machado; espigões de
guetas para passar nos olhos...
rolo
torcido;
lampeões
amassados,
furados; mesa de paginação partida;
Este
sr.
Leoncio
é
de
muita
força!
estandes escangalhadas; bolandeiras,
Com certeza s. s. não teve scien-
galés, componedores arremessados á
cia da assembléia que accordou na
distancia.
destruição das nossas officinas...
Felizmente
os
bandidos
não vieram na sala da redacção; talvez por já ser tarde, pois quando
Também foi o unico intendente que por cá appareceu.
elles acabaram a bonita empreitada,
--
davam no relogio da matriz 5 horas!
A
O
visitou
quando
o
“Santos Commercial” fez a sua declaração monarchica, fomos assistir
tava; e aqui aproveitamos a oppor-
a uma festa realisada no quartel do
tunidade para agradecer a diversos
3º. Batalhão de policia; conversando
cavalheiros
com diversas pessoas sobre a nova
palavras
dirigiram
por
de
a
Novembro,
nossa
nos
que
de
casa, viu o estado em que ella es-
que
povo
15
conforto
essa
occa-
1879 jornais O Caixeiro Popular, O Popular, O Domingo e Ônibus (Santos)
politica do jornal, Fabio interveio
A Imprensa e a Cidade de Santos
Vindo ás officinas encontramos
105
A Imprensa e a Cidade de Santos
106
e declarou terminantemente que ar-
mados, enfileirados, como quem vi-
ranjaria meia duzia de homens e es-
nha apagar um incendio, como quem
cangalharia o “Santos Commercial”.
vinha cumprir um dever.
Isto foi ouvido por diversas pesso-
Depois de satisfeitos, depois
as, que não citamos os seus nomes
de invadirem e destruirem a proprie-
por emquanto.
dade alheia, receberam voz de formar
Quando Fabio seguiu daqui para o Sul, á disposição do General Gal-
e marchar, o que obedeceram seguindo todos em paz para o quartel!
vão, démos uma noticia, na qual prophetisamos a terminação da revolta
Veja o publico a que ponto chegaram as coisas no Brasil !
rio-grandense com o auxilio do he-
E se não ha de condemnar este
róe Paulista: dissemos aquillo muito
systema de governo que tanto nos
seriamente...
avilta!
Pois Fabio, em conversa a bor-
O directorio governista, pelo
do com um amigo declarou que havia
seu presidente, telegraphou ao dr.
de vingar-se do “Santos Commercial”
Bernardino
somente por causa da inoffensiva no-
que nenhum amigo do governo tinha
ticia que publicou.
tomado parte no attentado.
Todas essas ameaças realizaramse na madrugada de 5 do corrente. Apoiado
necessariamente
por
quem pode, manda e quer, sim, porque
de
Campos,
declarando
Tomado parte em que sentido? vindo
com
os
bombeiros?
Ah!
Isso
certamente que não! Existem
meios
mais
commodos
Fabio sem estar autorisado por al-
para se praticar um crime, sem ser
guem não se abalançaria a acceitar
preciso a pessoa comparecer no the-
e praticar tal empreitada, terminou
atro dos acontecimentos!
a sua campanha de destruição ás 5 horas da madrugada. Não disfarçou os seus soldados, não; appareceram todos fardados, ar-
Mas
é
justo
assignalar
aqui
que o directorio foi á palacio pedir ao governo a nomeação de um delegado especial...
proibição do tráfico interprovincial de escravos
1880 jornais A Gazeta da Tarde (SP) e Gazeta Comercial (Santos)
Fabio de contrario a um governo a
O delegado Sodré não cumpriu
quem elle offereceu os seu sangue
com o seu dever de autoridade hones-
para ser derramado no campo da pugna
ta e imparcial? Se o directorio não
em defeza desse mesmo governo!
tinha a menor cumplicidade no facto,
Caprichos da sorte!
porque não deixou o senhor Sodré se-
--
guir impavido na descoberta dos ou-
Reencetamos
a
publicação
do
tros criminosos, dos mandantes por
nosso jornal: é um engano pensarem
exemplo?
os adversarios que pela violencia
Comvenhamos que o directorio
conseguirão nos fazer calar: o povo
governista descobriu-se , mostrou as
esta do nosso lado, elle é que nos
unhas, temendo a luz clarissima da
sustenta com tal auxilio não é lici-
verdade!
to duvidar-se da existencia prolon-
E não será Fabio amigo do governo do dr. Bernardino de Campos! Ah!
ingratos!
cedo
começa
gada do “Santos Commercial”. Aos nossos amigos e correligio-
a
narios, tanto de S. Paulo como daqui,
repulsa dos que applaudiram o cri-
agradecemos o apoio que nos presta-
me, se elle não fosse feito tão ás
ram numa emergencia tão perigoza.
claras! O mundo é assim mesmo: hontem
Saberemos corresponder, dia a dia, a esse apoio.
era um proprietario de jornal, que para fugir á indignação popular, ar-
(Santos Commercial, 29 de dezembro
redava-se da amizade de Fabio, de-
de 1895, página 1)
clarando que nem siquer o conhecia; hoje é o directorio, taxando o mesmo
1881 jornais Boêmia Abolicionista, O Embrião, A Semana e A Comédia (Santos)
A Imprensa e a Cidade de Santos
Porque?
107
28. A partir de seu número 49, de setembro de 1896, o jornal A Questão Social apresenta-se como uma publicação mensal. De conteúdo mais teórico, diferente do dos jornais que então circulavam em Santos, esse periódico foi um dos pioneiros da
A Imprensa e a Cidade de Santos
pregação socialista no Brasil. A íntegra do editorial de seu primeiro aniversário é transcrita a seguir.
EDITORIAL Ha um anno a heresia socialis-
Em vez de ser a doutrina dos de-
ta começou a ser pregada, entre nós,
sesperados e dos famintos, como insi-
sem rebuço, por um pequeno grupo de
nuam maliciosamente os interessados
convictos.
na continuação do individualismo, os
A sição
108
Questão entre
os
Social
tomou
po-
subditos de sua magestade – o dinheiro
combatentes
do
-, chamando o odioso sobre principios
collectivismo.
da maior elevação moral, o socialismo
Desde então, iniciou-se a luc-
é a esperança de todos os opprimidos,
ta contra a orthodoxia economica,
porque dignifica o trabalho e extin-
defendida
gue a miseria. Acceitam-no todos os
pelos
representantes
do
capital.
que comprehendem os soffrimentos do
Commettimento ousado n’uma sociedade
de
adoradores
do
proletariado, ou sejam os que culti-
Deus-Mi-
vam as [-] ou os que aperfeiçoam suas
lhão; tentamen ingente diante das
faculdades affectivas na crença sin-
prerrogativas e isenções creadas em
cera da regeneração humana.
favor da burguezocracia.
[-] o desenvolvimento das scien-
Mas era mister romper com os
cias politico-sociaes, [-] da philo-
rotineiros e provar que o socialismo
sophia da historia, os sociologos tem
não pretende a divisão de riquezas,
affirmado que a republica politica e
porém, sim, a socialisação de todos
o regimen burguez, irmãos siamezes
os meios de producção, para que se
na organização actual, são productos,
firme de vez a solidariedade humana,
na maior parte, dos acurados estudos
em substituição á caridade official
dos
ou egoista.
seculo passado, como a republica so-
philosophos
encyclopedistas
do
Quilombo do Jabaquara, em Santos
1882 jornais O Porvir, A Noticia, A Evolução, O Guarani, O Periquito, O Papagaio e O Pirata (Santos)
amplia-se até a lucta de classe; é
consequencias, principalmente, das
cerrar os ouvidos á voz da verdade,
investigações scientificas da phi-
quando proclama que a terra não deve
losophia allemã contemporanea.
ser
propriedade
individual,
fosse
A Questão Social tem colloca-
qual fosse sua origem; é desconhecer
do sempre o problema socialista em
que todos os meios de producção su-
base scientifica, sem phantasia,
jeitos a forças associadas devem ser
nem
collectivisados.
sentimentalismo,
encarando-o
sobretudo debaixo do ponto de vis-
cessar a espoliação vigente, que ha
ta economico. Tem
sempre
É o socialismo que ha de fazer
aconselhado
que
deve ser resolvido por meios pa-
de derribar o braço secular da iniquidade burgueza.
cificos, aproveitando-se o suffragio universal, e constituindo-se o operariado em partido de classe. Suppor-se que o socialismo no Brazil não tem razão de ser, porque as condições presentes do proletario brazileiro estão muito distanciadas das miseraveis contingencias do operario europeu, é não comprehender que a lucta pela vida
1883 jornais Gazeta de Santos, A Propaganda e O Furo (Santos)
A Imprensa e a Cidade de Santos
cial e o collectivismo hão de ser
(A Questão Social, 15 setembro de 1896, página 1)
109
29. A Gazeta do Povo, órgão independente, foi um vespertino nascido em 12 de dezembro de 1917. Circulava de segunda a sábado e pertenceu a três grupos diferentes até 1930. Abaixo, o editorial de apresentação no primeiro dia de circulação.
A Imprensa e a Cidade de Santos
AO QUE VIMOS A “Gazeta do Povo” surge como consequencia inevitavel de um ac-
aspirações do povo.
cidente social. E vem para atten-
Será este o nosso ponto de vista
der uma contingencia imperiosa do
principal, servindo-nos assim de di-
momento, como vehiculo modesto de
rectriz a conducta que nos impomos.
informações de tudo quanto possa in-
Não obedeceremos, porém, a in-
teressar ao nosso meio.
110
affinidades com os interesses e as
juncções facciosas de qualquer na-
Para tanto se empregará todo
tureza, nem a interesses de seitas,
seu esforço offerecerá quanto lhe
que acarretam quasi sempre, aprecia-
seja possivel um serviço minucioso
ções mais ou menos apaixonadas: mas
de informes, sem se exhimir, toda-
nem por isto deixaremos ao abandono
via, de commentar, a seu turno, quan-
o caminho que, apesar disso, as con-
do lhe pareça conveniente, quaesquer
veniencias locaes indicarem e nem
factos que se verificarem, fazendo o
subordinaremos á qualquer conside-
porém, - e sempre -, com a necessaria
ração o interesse publico, que deve
imparcialidade, sem estardalhaços,
ser collocado acima de tudo.
mas com firmeza e independencia. Prendam-se elles á nossa vida
Frios e impenitentes nas nossas apreciações,
estaremos
invariavel-
local entendam com os interesses ge-
mente ao lado da justa causa, arros-
raes do Estado ou da Nação reflictam
tando, sem dubiedades e sem temor,
as convulsões do mundo nos pheno-
com as consequencias, boas ou más, da
menos sociaes que se desenrolarem
ousadia com que entramos na liça.
aqui ou ali todos serão invariavel-
É este o nosso programma.
mente sujeitos á mesma apreciação e ao mesmo criterio, contanto que im-
(Gazeta do Povo, 12 de dezembro de
pliquem, como condição primordial,
1917, página 1)
libertação dos escravos na província do Ceará
1884 jornais Diário Popular (SP), O Paiz (RJ), Jornal da Tarde; em Santos, O Alvor, Diário do Comércio, O Aporo, A Luta e Correio de Santos
A Imprensa e a Cidade de Santos
CRÍTICAS À IGREJA
1885 jornais Gazeta de Santos, A Propaganda e O Furo (Santos)
111
30. O jornal O Diário de Santos apareceu em outubro de 1872, com a compra do acervo gráfico do falecido Commercio de Santos. Apresentava-se como “Jornal Imparcial, Comercial e Noticioso”. Foi o periódico local mais duradouro do século XIX e só encerrou as atividades por volta de 1918. Em seu segundo dia de circulação, ataca a Igreja Católica e as atividades de seus membros em
A Imprensa e a Cidade de Santos
assuntos alheios à fé.
112
O PRESENTE E O FUTURO Nos tempos antigos em que a civilisação envolta em densas trévas
ca, dão lugar á falta de respeito que se nota pelas cousas da igreja.
não podia romper o circulo de ferro
Verdadeiros usurarios negociam
em que se achava; nos tempos anti-
uns com escravos que alugam e sublo-
gos em que as crenças erroneas, e os
cam, e se porventura não lhes che-
falsos preceitos desviavam a razão
ga o dia para ultimar as repetidas
da senda que lhe cumpria procurar,
transacções, não ha meio de forçal-
nestes tempos em que tudo era cahos,
os a levar á cabeceira do moribundo
tudo era confusão, os vigarios com-
as ultimas consolações espirituaes.
prehendiam mais as suas obrigações que hoje. Não fazemos allusão a pessoa
Outros illudindo a boa fé das pobres ovelhas, que á mingua de pão lhes pedem adiantamentos para seu
certa, e menos ainda a este ou aquel-
trabalho,
le partido, mas visamos apenas des-
nas a firmar creditos onde a liber-
tacar alguns typos que temos estuda-
dade dos infelizes se prende para
do, e desde já declaramos que quando
sempre.
dizemos vigarios, não fallamos no todo metaphysico, mas sim no moral.
faltando
a
fé,
obrigam-
Alguns pondo á margem o decoro da sociedade, cercam-se de adorado-
Grande parte das parochias está
ras de todas as cores e affrontam o
provida de estrangeiros em razão de
publico pudor ostentando a posse da
não quererem os bispos autorisar a
estola que lhes não veda de praticar
continuação da administração de cer-
taes indecencias.
tos sacerdotes que atirados ao com-
Além existem vigarios que si-
mercio, ás lutas medonhas da politi-
mulando o respeito á igreja, de ca-
Santos é declarada território livre de escravidão
1886 jornais A Evolução, Idéia Nova, Gazetinha, Vinte e Sete de Fevereiro, Ensaio, A Evolução e O Pince-nez (Santos)
ahi forem trazidos para pagamento
severo, mas estes hypocritas se não
das consciencias vendidas.
lembram que as proprias chagas de
E
são
vigarios e
são
que
comprão
Christo lhes não embargam o passo,
consciencias,
pois que á face della commettem todos
banqueteião-se nos festins de Bal-
vigarios
que
os dias os mais negros peccados.
thazar, emquanto sobem ao céo candi-
Um dia de eleição é uma pagina
das e puras almas sem que a presença
triste em nosso estado de civili-
do sacerdote lhes mitigasse a dor
sação, e o que mais admira em taes
das ultimas agonias!
occasiões, vemos sempre um protago-
Muitas vezes voltão os enter-
nista de tão infernaes dramas, e que
ros da porta dos templos, e com vo-
ordinariamente é um vigario.
zes
ameaçadoras
repellem-se
fieis
Ora reune as ovelhas aconse-
que pedem confissão; mas indo faz-se
lhando-lhes resistencia até a morte,
porque os vigarios afastando-se da
e guardando até no proprio sacra-
humildade que lhes prescreve a car-
rio rewolvers para si e seus amigos.
reira que abraçarão, pretendem hoje
(Que profanação, meu Deus!).
presidencias,
Outras vezes excitão-nas a acu-
encargos,
que
deputações tornam
e
outros
incompativel
direm por outros nomes nas chamadas
sua missão com os deveres arduos a
respectivas, ameaçando-as com a ma-
desempenhar.
gestade Divina, e as iras do Senhor,
Mephistophelicas
machinações
se conduzirem listas ou cedulas de
originam-se, a paz que muitas ve-
seus adversarios; e finalmente es-
zes existio desapparece de súbito,
cancarão as portas de suas habitações
intrigas
onde
bebidas
vantam os maridos contra as mulhe-
espirituosas de todas as especies, e
res, os pais contra os filhos, ami-
dinheiro para acudir aos saques que
gos contra amigos até de infancia,
encontrão-se
vinhos,
1887 jornais A Vila da Redenção, A Procelária, O Incolor, O Reclame, Farpas, O Colibri, O Bilontra e Cidade de Santos (Santos)
habilmente
A Imprensa e a Cidade de Santos
beça baixa percorrem a praça com ar
manejadas
le-
113
e finalmente governantes contra governados, e em tudo reside o dedo
A Imprensa e a Cidade de Santos
perigoso de um vigario que visando engrandecer-se, e attingir as mais altas posições, não duvida esquecer o Evangelho, e tudo o que de sublime existe para unica realisação de seus sordidos planos. No templo, além da missa ou festa que lhes dá o rendimento ao pé do altar, nada mais fazem, e nem ao menos uma so predica que guie os devotos ao caminho da salvação.
114
No Piauhy acaba de ser assassinado um tabellião dentro do templo, onde dous vigarios dirigiam a carnificina, e tal foi o cynismo delles que recusaram-se até a fazer a encommendação do morto. Basta,
basta,
a
narração
é
triste, e cumpre-nos apenas buscar os meios de remediar o mal. É o que vamos propôr para garantia do futuro de um tão negro presente.
(Diario de Santos, 11 de outubro de 1872, página 1)
Santos é declarada território livre de escravidão
1888 jornais O Lepidóptero, Luiz Gama, Flora, A Luz e Diário da Tarde (Santos)
A Imprensa e a Cidade de Santos
Republicado e abolicionista, o Diário de Santos, fundado em 1872, fazia virulentas e inflamadas críticas à Igreja e ao governo monarquista. Foi um dos primeiros jornais a defender a necessidade de reformas no porto, para facilitar as exportações, e o de vida mais longa no século XIX.
115
31. O Proletário foi um jornal de inspiração anarquista fundado em 1911. Em matéria publicada em janeiro do ano seguinte,
A Imprensa e a Cidade de Santos
ele investe contra a Igreja Católica.
116
O BAPTISMO A religião, nomeadamente a ca-
trario de seus paes que lhes deram
tholica é um amontoado de fantasma-
uma religião contra a qual elle se
gorias que trazem o homem prezo do
revolta.
berço ao tumulo, ao nascer, já se en-
Por cuja falta não raras vezes
tra no molho da agua benta, ao correr
quando procura combater os absurdos
da vida os jejuns, as macerações, as
dogmas da religião, recebe como res-
confissões e o casamento. Na morte a
posta “cala-te, que tu tambem foste
encommendação, as missas, etc.
baptisado”.
De todas estas aberrações que
Porque e para que levar uma
espiritos fracos admitiram, accei-
creança a pia da agua benta? Não é
taram e veneram ainda hoje, o que
porventura do amor de dois entes que
mais indigno e revoltante resulta é
se querem que se estimam com ardor,
o baptismo, com que direito se coage
que proveio este fructo de seus ca-
a liberdade humana, colhendo um ente
rinhos? Não foi ainda a natureza que
sem consciencia, sem raciocinio, sem
os levou a completar-se satisfazendo
responsabilidade
ingressal-o
uma necessidade phisiologica? Acazo
nas filas catholicas dando-lhe um
não é a natureza influindo nos tem-
banho na Igreja? Mais tarde a cre-
peramentos por uma força dinamica,
ança faz-se homem e ao desenvolver
que atrai esses dous entes um para
as faculdades evolutivas no meio so-
o outro pela irresistivel força da
ciavel e social em que vive, chega
simpathia? Não é ainda a natureza
a outras conclusões contrarias as
que nos provê de todo o necessario
dos seus progenitores, e tem sempre
para viver desde a alimentação até
na mente o acto violento e arbi-
o oxigenio que respiramos? a luz e
para
proclamação da República
Silvério Fontes funda, em Santos, o primeiro núcleo socialista do Brasil
1889 jornais O Patriota, Diário da Manhã, O Dever e A Verdade (Santos)
Bem sei que não falta quem co-
funccionamento das celulas do nosso
nheça todo este mal; o que falta é
organismo? Assim sendo, um ente que
força de vontade e convicção firme
nasce é por um direito natural e por
para oppor-se a elle. Não é diffi-
consequencia logica á natureza deve
cil encontrar quem tenha sempre uma
ser entregue em cujo seio tem vasto
praga contra os padres nos labios,
campo para crescer e desenvolver-se,
mas é raro os que se desprendem da
a que vem então a intervenção de um
rotina dos dogmas, das mentiras re-
estranho no lar conjugal? Será por
lijiozas. Uma boa porção dizem “eu
acaso necessario, forçoso, ter que
não faço isto por devoção, é sim-
dizer a um parasita, que o amor pro-
plesmente para que o mundo falle”
duziu mais um rebento mimoso?...
todos dizem o mesmo e caso houves-
Não!!! Só a rutina, a velhaca-
se energia, franqueza e lealdade, no
ria gera e alimenta essas farças es-
externar
tupidas de um conego lavar um astro
que a maioria não frequentam a Igre-
em uma pia, no dizer do primorozo
ja por devoção mas “para que o mundo
poeta Guerra Junqueiro admittindo,
não falle”. E assim se veio eterni-
porém, as lendas da bolorenta Bi-
zando o erro, o embuste, a falsidade
blia, admittindo a necessidade dos
e a mentira atravez de mil gerações
banhos como medida de higiene.
escravas da sua propria fraqueza.
opiniões
verificar-se-ia
Temos que condemnar o uso des-
Nem as infamias praticadas pelo
sa pia ante-igienica, onde permanece
clero nem os erros grosseiros e mal
agua estagnada e onde mettem as mãos
escriptos dos Velhos e Novos Testa-
escrofulosos,
tubercu-
mentos, nem as brazas das fogueiras
losos fazendo d’ella uma permanente
conseguem apagar na mente dos fa-
mutação de miasmas prostadoras de
naticos esse ardor mystico por uma
innumeras enfermidades.
religião nefasta cuja sombra negra
raquitivos,
A Imprensa e a Cidade de Santos
o calor indispensaveis para o bom
primeira Constituição da República;
1891 Jornal do Brasil (RJ); A Província de São Paulo passa a se chamar O Estado de S. Paulo
117
tolda as brilhantes scintilações de um seculo de progresso e de luz! A Imprensa e a Cidade de Santos
Cumpre, porém, a todos que reconhecem o mal do baptismo não o realizar de forma alguma nem para comprazer o fanatismo ingenuo, nem para encobrir hypocrizias. E aos paes sobretudo ante o direito humano, ante o respeito a liberdade de opinião, ante o cumprimento de um dever, cumpre não coagir a liberdade dos filhos, fazendo-os seguir suas opiniões politicas
118
religiosas. Deixem a creança crescer, deixem que se faça homem para que então seja christão, judeu ou mahometano. Fazer o contrario é cometter uma indignidade, um erro grosseiro como esse de afogar todas as aspirações de um ente, ao nascer, na pia benta da beatissima religião catholica romana. Santos, 15 de janeiro. Eladio Cezar Antunha (O Proletario, 15 de janeiro de 1912, páginas 1 e 2)
onda de epidemias em Santos mata mais de 22 mil pessoas até 1900
portuários de Santos deflagram a primeira greve geral do país
marechal Deodoro da Fonseca assume a Presidência da República
1891
jornal União dos Operários (Santos)
A Imprensa e a Cidade de Santos
A VIDA OPERÁRIA
Revolta da Armada; Santos é bombardeada
1892
jornais A Ação Social e O Operário (Santos)
1893
119
32. Em 1905, circulava o jornal União dos Operários – Orgão da Sociedade Internacional União dos Operários e defensor dos interesses do operariado em geral. Era impresso na tipografia de A Tribuna. Nesta edição, um curto editorial conclama a classe
A Imprensa e a Cidade de Santos
operária à leitura do periódico. Na matéria seguinte, investe contra os órgãos da imprensa burguesa conservadora.
É indispensavel que os opera-
luz que nos guia para o aperfeiçoa-
rios leiam este jornal; se tiverem
mento moral, e nos ensina tudo o que
amor proprio, se quizerem conquistar
existe em volta de nós, e o caminho
a sua liberdade, se quizerem que a
que devemos seguir para alcançar o
vida de suas famílias sejam garan-
bem estar geral da humanidade.
tidas, se quizerem destruir o jugo
120
Mas santo Deus! Entre essa im-
que os martyrisa, porque é o meio
prensa
de instruir o operario e preparal-
ra das grandes doutrinas, existem
o para a luta contra o capital e
inumeraveis cancros (esta é a maior
o absurdo grilhão implantado pelos
parte da imprensa), que destroem em
governos. É o melhor meio de pro-
grande parte o producto do esforço
paganda das ideias de liberdade e
inaudito dos propagadores da verda-
emancipação operaria.
de, do direito, da justiça e do bem;
A IMPRENSA
civilisadora
e
propagado-
e como infelizmente aquelles são em numero muito superior, conseguiriam abafar de uma vez o grito dessa im-
A imprensa que é a propagado-
prensa livre e bem intencionada, se
ra da verdade, do direito, da jus-
não tivesse a seu lado a força do
tiça e da civilisação, é a que nos
direito e o direito da razão.
traz as noticias dos acontecimentos
Mesmo nesta cidade existem por
contemporaneos, tornou-se indispen-
honra
savel á vida
cancros que procuram destruir o que
dos povos, como a luz
que illumina tudo quanto aos nossos olhos se apresenta;
a imprensa é a
dos
que
possam
dizer,
dois
de bom existe entre nós. Intitulando-se defensores das
Prudente José de Morais e Barros assume a Presidência
1894 jornais Tribuna do Povo, Santos Commercial, A Revolução, Neto do Diário, Correio da Semana e L’Independente (Santos)
não passou de uma invenção dessas
fendem a um grupo de syphiliticos da
mesmas auctoridades e desses can-
malvadez que já se acham em estado
cros com o unico fim de ficarem bem
comatoso.
vistos pelas aves de rapina e para
Apoiam e defendem a oppressão,
que lhes chegue o cheiro das igua-
o roubo, a arbitrariedade, o despo-
rias do festim de Balthazar; para
tismo, a tyrannia, emfim, tudo quan-
ver se conseguem galgar um posto de
to existe de ruim no meio da socie-
onde possam dizer com toda a arro-
dade, aconselhando ainda a prisão e
gancia – Quero, mando e posso.
o massacre da propria victima que protesta.
É necessario cauterisar esses cancros que abrem um formidavel va-
São esses figurões os que des-
cuo no sentimento humano, para que
troem o sentimento perfeito da hu-
desappareça esse terrivel flagello
manidade, e o transformam em senti-
que destroe a humanidade, que se
mento vil e horripilante.
opere a cura radical e que se evite, de
de uma vez para sempre, essa moles-
complots que nunca existiram, para
São
esses
os
inventarios
tia contagiosa, perdição dos povos
que trabalhadores honrados e pacifi-
que por ella são atingidos.
cos sejam perseguidos e presos pela
Fujam os covardes, inimigos até
policia, que os encarcera em enxo-
da propria consciencia! Fujam palha-
vias immundas e os espanca e faz
ços da hypocrisia, instrumento da
passar trinta e quarenta horas sem
propagação do banditismo.
comer, e ainda são insultados por
Só para isso valeis.
auctoridades sem moral, sem educação
Libertario
e sem criterio. Tudo isso para obrigar esses infelizes que lhe cahem nas garras,
(União dos Operarios, 15 de setembro de 1905, página 1)
a confessar o que não sabem, o que
comemorado em Santos, pela primeira vez no país, o Dia do Trabalho
1895
fundação do Partido Operário Socialista, em Santos
1896 Jornais A Questão Social, A Lanterneta, A Luva, O Eco, O Lidador, O Chicote, O Combate, O Bond, A Folha e Correio da Tarde (Santos)
jornais O Avança, A Metralha, Gazeta da Tarde, Brasil-Otomano, O Brazil e A Arte (Santos)
A Imprensa e a Cidade de Santos
classes conservadoras apoiam e de-
121
33. ‘A união faz a força’ e ‘Um por todos, todos por um’ eram as palavras de ordem que o União dos Operários trazia impressas
A Imprensa e a Cidade de Santos
junto ao título do jornal. Nesta matéria, de setembro de 1905, o ataque é direcionado ao jornal Cidade de Santos.
122
Á CIDADE DE SANTOS A Cidade de Santos vem pelas
do a castigos phisicos com excesso;
suas columnas abarrotadas de impro-
para não julgar o Passa Quatro que
perios, unica arma dos nulos que não
nós não sabemos temos resolvido le-
tendo outras formas ou ignorando-as
vantar uma cruz a um outro, lá para
trata-nos de verdadeiros bandidos e
a Barra, e estamos resolvidos a per-
salteadores, peior do que Luigi Vam-
pectuar a memoria daquelles infeli-
pa o grande salteador da Calabria.
zes mortos sem culpa nem pena. E como
Socegue a Cidade e ha de per-
a Cidade continue com a sua attitude
mittir uma observação. A nossa at-
contra nós, publicamos todos esses
titude foi tão pacifica durante a
assumptos actualmente incobertos. [...]
grève e depois da grève, que justamente a Cidade não se conforma com
Livre Pensador
ella. Tenha em conta que se tivessemos procedido como o Passa Quatro, quando o infeliz Manuel Rodrigues,
(União dos Operarios, 15 de setembro
morto na cadeia desta cidade, devi-
de 1905, página 3)
Revolta dos Canudos (até 1897)
1896
1897 Manuel Ferraz de Campos Sales assume a Presidência
jornais A Penna, O Gaúcho, A Opinião, A Greve e A idéia (Santos)
em 1909, o jornal – antes
A Imprensa e a Cidade de Santos
Lançado em Santos denominado União dos Operários - lutava pela diminuição da jornada de trabalho para oito horas, que estava sendo votada no Rio de Janeiro naquele ano, e criticava abertamente outras publicações que defendiam os interesses da Companhia Docas e se opunham ao direito de greve.
123
34. Na edição especial de agosto de 1909, o jornal Tribuna Operária exalta o aniversário de cinco anos da Sociedade Interna-
A Imprensa e a Cidade de Santos
cional União dos Operários, que editava o jornal.
124
SALVE 7 DE AGOSTO Companheiros, saudemos o dia
os seus lucros, sem dar a minima
de hoje! dia de futuro para todos
attenção aos que contribuiam direc-
que fazem parte da Sociedade Inter-
tamente para tal fim.
nacional União dos Operarios, dia
Todos
os
tyranos
banquetea-
que em nossas faces queimadas pelo
vam-se à farta, porque sabiam que
sol dos labores diarios na conquista
a grande turba-multa dos explora-
do pão, vê-se satisfação e confra-
dos, em vez de se unirem para pro-
ternisação; mas tambem este dia mar-
curar attenuar este estado de cou-
ca uma data que para nós não deverá
sas, levavam a degladiar-se uns com
ser nunca esquecida: é a data em que
os outros, e em vez de procurarem
os trabalhadores de Santos se prepa-
um logar onde discutissem os meios
raram para a entrada na grande lucta
de melhorar sua sorte, só procura-
economica, lucta esta que não foi
vam as tabernas e os bordeis para
por nós provocada, mas, sim, fomos
se embriagar e brigar, para que os
obrigados a acceital-a. Antes desta
tyranos tivessem a gloria de ver os
data – 7 de agosto de 1904 – os tra-
cossacos daqui completarem a obra,
balhadores de Santos eram tratados
espancando-os e conduzindo-os para a
pelos tyranicos patrões, peiores que
cadeia! E, depois, as inimizades que
bestas de carga! Trabalhavam como
ficavam no seio dos mesmos? Até ahi
machinas, que só paravam quando os
tudo muito bom.
machinistas, que eram os mesmos patrões,
determinavam.
Nesta
Depois do dia 7 de agosto de
época
1905, que um grupo de trabalhadores,
tudo estava bem para este grupo de
vendo o estado em que se encontrava
parasytas que dia a dia triplicavam
os mesmos, á custa de muitos sacri-
1898 jornais Cidade de Santos, A Aspiração e O Tempo (Santos); Tribuna do Povo (Santos) lança edição vespertina
1899 jornais A Pulga, A Gargalhada, O Estimulo e A Tribuna (Santos)
formas, pela palavra e pela impren-
ciedade Internacional União dos Ope-
sa, demonstrar aos trabalhadores das
rarios, sociedade esta que até hoje
Docas e das demais classes a explo-
tem procurado, por todos os meios, a
ração que lhes fazem e o modo porque
reunião dos trabalhadores de Santos!
os humilham; aconselhar a todos a
A Internacional foi um phantasma que
precisão de se rebellar contra estas
surgiu ante esta burguezia infame e
tyrannias impostas a homens livres
despotica que tem procurado todos
em pleno seculo das luzes!
os meios para que entre os traba-
A Internacional não conta com
lhadores de Santos hajam discordias,
as perseguições que lhe movem os ca-
luctas de raças e outras coisas mais
valduras dos Novitas, Buturão, Pa-
infames, como até os assaltos pra-
dre Francisco de Sá e Neumann Gep,
ticados pela policia nas pessoas de
proprietários de vehiculos, dos qua-
seus directores e associados...
es contou que deram 10:000$000 a um
Mas, com tudo isso, a Inter-
delegado para destruir a séde da
nacional continúa firme na defesa
Internacional. Não vêem estes cas-
das classes a ella filiadas, que são
murros que nada adiantam com isto?
as seguintes: Estivadores, descarga,
Podem destruir utensilios da séde,
carroceiros, Docas, Ingleza, Ternos
mas não as convicções e consciencias
de Armazem, Ensaque e avulsos.
da classe dos Carroceiros...
A Internacional não se intimida nem recua das perseguições que
Pobres
ignorantes!
Pobres
palermas!
lhe move o terrível polvo de Santos,
A Internacional não se atemo-
que se chama Companhia Docas, repre-
risa ante os exportadores e commis-
sentada pelos tyranos Gafrés e seus
sarios de café, verdadeiros assal-
carrascos e lacaios Fontes, Barreto
tadores dos fazendeiros e de seus
e outros eunuchos dos mesmos. A ac-
trabalhadores de terno de Armazem e
ção da Internacional é por todas as
Ensaque, os quaes srs. querem, por
1900 jornais O Bôer, El Bersagliere e A Fanfarra (Santos)
1901 jornais Correio da Manhã (RJ); Revista da Semana e Santos (Santos)
A Imprensa e a Cidade de Santos
ficios conseguiu a fundação da So-
125
A Imprensa e a Cidade de Santos
todos os meios, fazerem os companhei-
preço e condições sobre o seu tra-
ros que nasceram nesta terra ficarem
balho e que seja reconhecida pelos
rivaes de trabalhadores de outras
mesmos
terras, para melhor poderem roubal-
União dos Operarios.
a
Sociedade
Internacional
os á vontade. Pois a Internacional
E, terminando, a mesma comme-
ahi está para propagar, por todos
morando o seu quinto anniversario,
os meios, aos companheiros, que vós
congratula-se com todos os associa-
quereis fazer delles escravos. Mas
dos e suas dignas familias.
é preciso saberdes que a escravidão
Santos, 7 de agosto de 1909.
já se acabou e que o trabalhador não pode ter preconceitos de raça no
(Tribuna Operaria, 7 de agosto de
seu mister, porque só traz lucro com
1909, página 4)
estas cousas para os exploradores.
126
Como tambem a Internacional procurará, entre os operarios que formam a Classe dos avulsos, a organisação de
classes desde que tenham numero
superior a 50 do mesmo officio. Portanto, terminando, a Internacional apella para os camaradas de todas as classes que activem uma propaganda energica e forte para que todos os companheiros que ainda não são associados se associem para que, todos organisados em um poderoso nucleo, possamos muito breve demonstrar aos burguezes de Santos que o trabalhador tem o direito de fazer
Francisco de Paula Rodrigues Alves assume a Presidência da República
começa a funcionar a Escola Barnabé, no primeiro prédio escolar público de Santos
1902 jornais Vanguarda Portugueza (Santos); revistas O Malho e Revista da Semana (RJ)
35. A luta pela jornada de trabalho de oito horas é tema da matéria extraída da Tribuna Operária de agosto de 1909, que antes se chamava União dos Operários. O jornal comenta a postura dos grandes jornais locais frente à proposta.
MUNDO OPERARIO
Do “Correio da Manhã”, jornal
mento desta lei, sendo neste caso o
de grande circulação no Rio de Ja-
agente do districto onde ella não
neiro, de 29 de junho passado, ex-
fôr executada, processado por falta
trahimos o seguinte:
de cumprimento de dever.
O
intendente
Ernesto
Garcez
apresentou ao Conselho Municipal o
A Imprensa e a Cidade de Santos
no Rio de Janeiro – oito horas de trabalho – um projecto de lei que se impõi
Artigo 5º. Revogam-se as disposições em contrario.
seguinte projecto:
127
Como se vê, é um projecto que
O Conselho Municipal resolve:
vem minorar os soffrimentos do ope-
Artigo 1º. Fica estabelecido o
rariado carioca e abrir um incentivo
dia normal de 8 horas para o tra-
em todo o operariado do Brazil.
balho dos operarios da Prefeitura Municipal.
O “Correio da Manhã”, em seu commentario, apoia o referido pro-
Artigo 2º. As fabricas, offi-
jecto, declarando que as 8 horas de
cinas, empresas, trapiches e docas
trabalho se impõi, aqui, como vimos,
desta cidade, serão obrigadas a ins-
o sr. Sylvio de Lores, redactor da
tituir o dia de 8 horas para todos
“Tribuna”, combateu-o, e ficava por
os seus operarios, sob pena de multa
isto se Belizario de Souza não pro-
de 200$000 a 1:000$000.
testasse pel’A Vanguarda.
Artigo 3º. As multas serão co-
“A Tribuna” de hoje não é a de
bradas pelo agente do districto onde
outros tempos, que era um jornal do
se dér a infracção.
povo, hoje ella é do “polvo”.1
Artigo 4º. Aos presidentes das Associações Operarias cabe denunciar
(Tribuna Operaria, 7 de agosto de
ao prefeito municipal o não cumpri-
1907, página 4)
Revolta da Vacina
1910 1904
1905 jornais A Revisão, União dos Operários e O Mercantil (Santos); revista Kosmos (RJ)
jornais O Empata, União dos Operários, Boletim Comercial e O Jornal (Santos)
“O polvo” é o termo que a imprensa operária usava para se referir à Companhia Docas 1
36. O jornal A Tribuna Operária, em agosto de 1909, ataca o Cidade de Santos, um dos expoentes da grande imprensa local da época.
A Imprensa e a Cidade de Santos
Ecos da gréve
128
GRÉVE DOS PADEIROS Sobre o que publicou a “Cidade
Agora pergunto ao redactor da
de Santos”, no dia 18 de junho de
“Cidade”: qual o beneficio que dá a
1909, nem convinha responder, porque
Sociedade Beneficente da Docas, aos
sei que o lacaio só tem a fazer o que
que lá não mais trabalham e muito
o seu amo ordena; mas na qualidade
contribuiram para ella? Se um tra-
de operario me revolta o cynismo com
balhador de lá adoecer em casa ou na
que a redacção apreciou os factos e
rua, o que ella lhe faz?
commentou-os.
Portanto, isto é que já não é
Diz uma infinidade de insultos
roubo, é um assalto a mão armada, pois
aos operarios, declarando que elles
o pagador da Docas desconta 2$000 sem
são mandados por meia dúzia, que pa-
o trabalhador muitas vezes poder pa-
gam 2$000 por mez, mais 5$000 por
gar, pois muitas vezes recebem 40$000
chapa, pergunta onde vai este di-
e menos durante um mez. Mas este as-
nheiro e outras bestiologias mais.
salto é legal porque é praticado por
Agora, digo-lhe eu: não se intrometta no que não conhece; nós não
quem tem dinheiro para comprar jornaes como a “Cidade de Santos”.
mandamos ninguem, as assembléas são
Emfim, sei que a vossa missão
soberanas, não decretamos conselhos,
é esta, e na qualidade de opera-
os companheiros é que os elegem; as
rio dispenso vosso interesse em meu
mensalidades de 2$000 são empregadas
favor.
em beneficio de todos como os mesmos
Santos – Agosto – 1909
sabem, as chapas que o sr. fala é
J. Jaguarão
para nós conhecermos quem são nossos companheiros e custam simplesmente
(Tribuna Operaria, 7 de agosto de
500 réis ao sócio, e não 5$000.
1909, número especial, página 4)
Santos Dumont realiza o primeiro vôo no 14-Bis, em Paris
1906
Afonso Pena assume a Presidência da República e morre no cargo
Nilo Procópio assume a Presidência da República
37. O Proletário foi um jornal de difusão do anarquismo. Começou a circular em junho de 1911, inicialmente mensal e mais tarde quinzenal. O texto, transcrito na íntegra, é seu editorial de apresentação.
AO POVO
Ao ver a luz como existencias
Somos a grande multidão dos fa-
positivas e fulgurantes que pela sua
mintos despojados de todos os meios
energia inquietam as moléculas, os
de supervivencia e de todas as dig-
astros e as constelações, impedindo-
nidades pelos larapios palacianos;
os continuamente numa activa gravi-
a grande prole encarcerada entre as
tação universal “O Proletario” surge
grades que formam todos os contri-
no campo da luta pelo “Ideal” synte-
buintes a constituição do “estado” e
tisado pela sua propria epigrafe mo-
supliciada pelos governantes da pre-
vimentando todos os valores humanos
potencia; a classe laboriosa, con-
para verificar uma completa revolu-
denada á morte pela ley “divina” e
ção em todas as essencias moraes e
humana; a prole “perseguida e frag-
orgánicas da sociedade presente.
mentada pelas armas das aguerridas
Proletario é todo aquele que
tropas legaes; a iludida miseravel-
não é proprietario, que não possue
mente por todos os cleros e por to-
propriedade
viver
dos os livros e escritores sagrados;
sem trabalhar ou o que é o mesmo,
a grande falange dos ilusos explo-
não tem capital suficiente para fa-
rados por todos os politicos que em
zer que os outros trabalhem por ele
nome da patria fazem fortuna e colo-
e para ele.
cam as suas bancas sobre a desgraça
suficiente
para
todos
do povo; somos em fim, a humanidade
operarios,
sacrificada por todas ignominias e
todos os assalariados seja qual for
vandalismos que se tem sucedido so-
de sua ocupação, emprego, ou elevado
bre a Terra.
Proletarios trabalhadores
são,
todos
os
cargo que desempenhem. Primeiro Congresso Operário no Rio de Janeiro
pois,
É no seio desta humanidade soinauguração da Academia de Commercio de Santos, a primeira escola de Contabilidade do país,
1906 Jornal O Verso (Santos); revista Fon-Fon! (RJ)
A Imprensa e a Cidade de Santos
O Proletario no campo da luta pelo Ideal
129
A Imprensa e a Cidade de Santos
130
fredora onde nacem as idéas gene-
É para isso que “O Proletario”
rosas e os sentimentos de suprema
vem tomar parte influente nos des-
bondade, que mesmo nas horas de an-
tinos dos povos, com a inteira inde-
gustia, em vez de clamar vingança,
pendencia que caracteriza a impren-
elabora toda uma sociedade de bem
sa libertaria, na qual se reflete
estar, de satisfação e alegria, tan-
toda a claridade e toda a justiça,
to para ella como para os malvados
juntamente com a sua ação altamente
que ha velipendiam. É esse tambem
humanitaria,
o ideal pelo qual vimos a lutar com
mos, todos os valores humanos para
todos os nossos entusiasmos liber-
verificar uma completa revolução em
tarios que se engrandecem no pei-
todas as essencias moraes e orgáni-
to dos homens para quem a liberdade
cas da sociedade presente, a bem da
absoluta é o factor primordial da
emancipação do proletariado, da paz
felicidade.
e da ordem resultante da harmonia da
Esta
folha
vem
contribuir
a
movimentando
repeti-
vida de relação.
grande obra da emancipação das mas-
Iniciamos esta batalha fazendo
sas populares, afastando-as de todos
um chamado a todos os proletarios,
os atavismos, de todas as crenças,
a todos os homens bem intencionados
de todas as fés, de todos os dogmas,
e a todas as vitimas para reali-
iluminando ás
suas conciencias com
zar a nossa ação unanime num comba-
as luzes da ciencia, da razão e da
te decisivo que faça desaparecer to-
lógica, retirando-as assim dos cos-
dos os vestigios do regime burguez,
tumes e dos vicios que as degradam
fazendo clarear a aurora do Ideal
para que cheguem a possessionar-se de
libertario.
sua dignidade e de tudo quanto seja necessario para viver livremente.
(O Proletario, 1 de junho de 1911, página 1)
Carlos Augusto de Vasconcellos Tavares assume pela primeira vez o cargo de prefeito de Santos
chegada a Santos do navio Kasatu Maru, trazendo os primeiros imigrantes japoneses ao país
1908
1909 jornais A Bomba, A Vanguarda e Tribuna Popular (Santos); revista Careta (RJ)
jornais Aurora Social e A Tribuna Operária (Santos)
38. A cada edição, O Proletário trazia diferentes máximas da doutrina junto ao logotipo de capa: “Todas as relações entre individuos que se encontram em condições sociaes desiguais, são neccessariamente injustas” ou “Todo aquelle que sobre mim pu-
O PROGRESSO DO PROLETARIADO [...]
tra a sociedade capitalista; olhemos
O proletariado de hoje não é o
para o grande desenvolvimento que o
mesmo que o de hontem, assim como o
ideal anarquista está tendo de um
de amanhã não será o mesmo de hoje;
ponto a outro do globo e, teremos
elle,
aperfeiçoa-se
forçosamente de concluir, que lon-
moral e intelectualmente, abraçando
ge de ser uma utopia, o triumpho do
as idéas novas que o guiam, para a
ideal anarquista é inevitavel, em
luta em prol dos seus direitos, luta
epoca não longinqua. Mas, é a pro-
essa que inevitavelmente, terminará
pria sociedade capitalista que no-lo
com o triumpho de uma vida nova a
mostra em sua continua decadencia
anarquia.
procurando com mil meios evitar a
dia
para
dia,
Observemos esse grandioso mo-
queda que, ella que com intilligen-
vimento de revolta, que em todo o
cia, vê inevitavel. O principio re-
mundo vem desenvolvendo o proleta-
ligioso está morto, pois as novas
riado, as luctas que elle vem reali-
gerações com o espirito esclarecido
zando não sómente de caracter eco-
o abandonaram por completo. A insti-
nomico, mas tambem de indole moral,
tuição militar que em outros tempos
estudemos a energia, a altivez e a
se sustentava com o apoio unanime do
decizão com a qual os trabalhadores
povo, perdeu todo esse apoio e hoje
sabem conduzir-se; observemos as me-
subsiste, imposta pela violencia e
lhoras e as liberdades relativas que
pela força bruta. [...]
todos os dias augmentam, conquistadas pela acção do proletariado na
(O Proletario, 15 de janeiro de 1912,
guerra que elle está realizando con-
página 1)
Revolta da Chibata
1910
marechal Hermes da Fonseca assume a Presidência da República
1911 jornais A Revolta, A Republica, O Proletário, A Dor Humana e A Rebelião (Santos)
A Imprensa e a Cidade de Santos
zer a mão para me governar é um usurpador e um tirano”. O texto abaixo foi extraído de seu número 8, de janeiro de 1912.
131
39. O Solidário começou a circular em 1923, como órgão dos trabalhadores em alimentação. De periodicidade incerta, em 1927 já aparece como veículo de imprensa da classe operária. Abaixo, em uma coluna assinada por seu diretor e publicada
A Imprensa e a Cidade de Santos
em dezembro daquele ano, prega a união das massas contra o poder do capital internacional.
132
ALLIANÇA NECESSARIA No Brasil, as tres forças li-
cio, por que é também a classe que
beraes do paiz, precisam fazer uma
mais soffre a oppressão, a exploração
alliança indestructivel se quizerem
e as injustiças do regime.
vencer as batalhas que, nos diversos
Egualmente a classe media tem
sectores da actividade humana, dia a
que entrar nessa alliança, posto que,
dia se travam, com aspectos apparen-
isoladamente, não é mais que um ins-
temente differentes.
trumento nas mãos dos que a exploa
ram. Suas aspirações, suas ideias,
classe media e o proletariado, têm
Os
intellectuaes
encontrarão no proletariado um fiel
necessariamente
que
liberaes,
ca-
companheiro na luta e sempre dispos-
deias d’uma alliança para poder en-
forjar
as
to, porque seus interesse economi-
trar na luta titanica que o campo das
cos são identicos, como identicas são
conquistas offerece.
suas necessidades.
Até aqui, muito differente tem
A classe media vem do prole-
sido a attitude de certos intellectu-
tariado, na sua grande porcentagem,
aes em relação a classe proletaria.
no entanto, continua a exitar entre
E’ preciso porem, que comprehen-
este e a burguezia.
dam os que sinceramente anceiam mais
Ao proletariado cabe-lhe pois,
liberdade e justiça, que só o pro-
como vanguarda do liberalismo moder-
letariado os poderá ajudar na rea-
no, esclarecer á classe media sua
lisação de seus ideaes, visto que a
situação, trazendo-a para o seu ver-
classe operaria sempre foi a classe
dadeiro campo de luta das conquistas
mais liberal de todas as épocas – a
economicas e politicas. Não ha mais
mais resoluta para luta, a de maior
para onde exitar.
capacidade de resistencia e sacrifiGuerra do Contestado (até 1916)
1912
1913 jornais A Noticia e Jornal de Santos (Santos); A Tribuna (Santos) passa a ser impressa em rotativa Albert
jornais A Berlinda e Dia (Santos)
tico e economico de todas as nações
Ou os intellectuaes, e a classe riado, numa concentração de forças,
E de tal forma elles perscru-
num bloco massiço, indestructivel,
taram o sentir das massas, suas mi-
ou serão vencidos, um a um, pelas
serias, necessidades e aspirações,
forças concentradas e disciplinadas
que hoje são os authenticos inter-
da burguezia insaciavel.
pretes,
os
fieis
vanguardeiros
e
Poderia citar, innumeros exem-
leaes generaes dos formidaveis ba-
plos, já hoje, dessa alliança nas
talhões de ferro que constituem o
cinco partes do mundo, cujos intel-
proletariado.
lectuaes já comprehenderam e muito
E assim tambem cada dia o pro-
acertadamente, que o proletariado é
prio fogo vivo da peleja , forja no-
um depositario de forças latentes e
vos esgremistas na classe media. E’ preciso porem, não dispersar
inesgotaveis. No Brasil egualmente o proleta-
as forças, rolar cada vez mais para
riado conta já com um regular numero
a esquerda, abandonar o falso demo-
de
abandonando
cratismo, cuidar mais dos problemas
o seu commodismo de gabinete, com-
economicos das massas, e veremos en-
promettendo seu futuro, arriscando
tão, o despertar do povo soffredor,
posição ganha á custa de inauditos
para a conquista de seus direitos
esforços e pela competencia, vieram
politicos até aqui postergados, e
aos braços do proletariado resolutos
vendidos ao ouro dos banqueiros de
e francos para a luta, formando na
Londres e Nova York.
intellectuaes
que,
vanguarda, recebendo assim as priJoão F.
meiras balas inimigas.
de Oliveira
E que essa valorosa pleiade de destemidos e bravos, fez o estudo
(O Solidario, 29 de dezembro de 1927,
profundo do maior problema que hoje
página 2)
empolga e apprehende o mundo poli-
Venceslau Brás Pereira Gomes assume a Presidência da República
1914
A Imprensa e a Cidade de Santos
– a questão social.
media, formam ao lado do proleta-
assassinato do senador gaúcho Pinheiro Machado
1915
jornal A Prensa (Santos)
133
A Imprensa e a Cidade de Santos
Veículo dos trabalhadores do ramo de alimentação, O
134
Solidário começou a circular em 1923, com periodicidade incerta. Quatro anos mais tarde, o jornal aparece como órgão da classe operária, defendendo a união dos trabalhadores contra o poder do capital internacional.
A Imprensa e a Cidade de Santos
POEMAS
inauguração da sede santista da Cruz Vermelha, que criou a primeira escola de enfermagem do país
1917 jornais Gazeta do Povo, A Portuguesa e O Noroeste (Santos)
135
40. O periódico O Caboclo circulou como encarte do jornal Revista Commercial de janeiro a março de 1863. Era um manifesto patriótico, preparando os brasileiros para a guerra com a Inglaterra no episódio que ficou conhecido como a ‘questão Christie’, nome do embaixador inglês no Brasil. Os ingleses pediam indenização pelo suposto saque de um navio na costa gaúcha em 1861. No ano seguinte, marinheiros ingleses foram presos no Rio de Janeiro por arruaças nas ruas, o que acirrou mais ainda os ânimos diplomáticos entre os dois países. Com arbitramento do Rei Leopoldo I, da Bélgica, chegou-se a um acordo em junho
A Imprensa e a Cidade de Santos
de 1863. Abaixo, um poema de Xavier da Silveira, extraído do número 6 da publicação.
Á PATRIA Fulge ao longe no prisma dos
Este povo que tem por luzeiro,
livres,
Nobre estrella brilhante do sul,
Sol brilhante que aclara o futuro;
Zomba ufano da força servil,
É das aras da patria querida,
Do orgulhoso do altivo John Bull.
Fogem – servos – que vivem no escuro.
136
Brazileiros! Se é doce a canção Entrada depois da victoria;
D’Albion insolentes marujos
Tem doçuras tambem a morrer-se
Vem a um povo brioso insultar;
Na defeza da patria com gloria!
Mas q’importa? O gigante que dorme Ha de em breve do somno acordar.
J. X. SILVEIRA
Ai d’aquelles que ousados então,
(O Caboclo, 4 de fevereiro de 1863,
Pretenderem zombar de seus brios,
página 4)
Que o gigante na hora da lucta, Vae certeiro, não busca desvios. Temos campos e mattas frondosas, Onde morão milhares de bravos, Não tememos em terra marujos, Que são homens dos mares escravos.
Francisco de Paulo Rodrigues Alves morre antes assumir a Presidência da República
1918
Delfim Moreira da Costa Ribeiro assume a Presidência da República
A Imprensa e a Cidade de Santos Manifesto preparando os brasileiros para guerra contra a Inglaterra, O Caboclo circulou em 1863, durante três meses, como encarte do Revista Commercial, o primeiro jornal de Santos.
137
41. O Diário de Santos, em julho de 1883, publica este poema do jovem Vicente de Carvalho, que participaria ativamente das campanhas abolicionista e republicana. Em 1905, ele passou a dirigir O Jornal. Foi também deputado estadual e secretário do
A Imprensa e a Cidade de Santos
Interior. Santista nascido em 1866, Vicente de Carvalho faleceu em São Paulo, em 1924.
138
SPLEEN (A Victorino Monteiro)
No socego lethal das noites
Mergulhado no horror que invade a
invernosas
Natureza,
Quando soluça o vento uns funebres
Sinto abrir-se-me na alma o abysmo
gemidos,
da Tristeza
E a chuva bate fria aos vidros
Em cujo fundo negro habita a flor
sacudidos
do Mal;
Com a cadencia feral das musicas chorosas;
E nas ondas do spleen que o espírito me toma
Emquanto ao longe estoira a
Eu tenho o sanguinário instincto
trovoada rouca
do chacal,
Pelos antros sem fim do espaço
E comprehendo Nero incendiando
illimitado,
Roma!
Fazendo estremecer o mundo estatelado
Vicente de Carvalho
A’ medonha expansão daquella furia louca;
(Diario de Santos, 6 de julho de 1883, página 1)
Epitácio Pessoa da Silva assume a Presidência da República
1919
jornais Diário da Noite (SP) e O Jornal
42. Esta paródia, da qual foi reproduzido pequeno trecho, foi publicada também no Diário de Santos em julho de 1883. A sátira faz alusão a problemas enfrentados pela cidade e menciona outros jornais da época, como A Evolução, de Silvério Fontes, e a Gazeta de Santos, fundada naquele mesmo ano.
(enxertos)
CANTO I
As vassouras e carros decantados
Cessem da Evolução e da Gazeta
Que levaram da rua estranho pó,
As grandes descobertas que fizeram;
E por beccos nunca d’antes
Cale-se do escriptor e do poeta
varejados
Esta fama de heroes...que não
Foram muito além do Saboó;
tiveram,
E em montanhas de lixo, reforçados,
Que eu canto em verso heroico e
-Mais do que promettia um homem só;
tinta preta
No caminho remoto edificaram
A gloria dos heroes que não
Novo reino, que tanto perfumaram;
morreram: -Cesse tudo que a Evolução antiga
E tambem as memorias gloriosas
canta
D’aquelles edis que foram farejando
Que um novo cemiterio se alevanta
Da Jabaquara as terras viciosas,
[...]
E as Palmeiras andaram devassando; E aquelles que, por idéas
D. Fulano Camões Junior
valorosas, Vão novo cemiterio procurando;
(Diário de Santos, 15 de julho de
Cantando espalharei por toda a
1883, página 1)
parte. Se a tanto me ajudar assumpto e arte.
1920 jornais Gazeta Mercantil (SP); em Santos, Jornal da Noite, Comércio de Santos, Santos e Boletim Comercial da Praça de Santos
1921 jornais Folha da Noite (SP); em Santos, Jornal do Chauffeur e A Raça
A Imprensa e a Cidade de Santos
LUZIADAS
139
43. A Pulga foi um jornal humorístico lançado em 1899 – acredita-se que tenha tido vida efêmera. Abaixo do título, trazia o
A Imprensa e a Cidade de Santos
comentário “Alarguem os chambres e...riam”. O poema que se segue foi extraído de seu número de apresentação.
140
Este bichinho innocente,
Dizemos sem arrogancia,
Que todos vós conheceis,
E mesmo, pois, sem malicia,
Vai possuir toda gente
Que até por extravagancia
Que tiver duzentos reis.
A Pulga morde a policia.
A linda moça galante,
Sendo um dos bichos simplorios
Quando tirar a camisa,
Picará factos facetos:
A Pulga que a martyrisa
Desde os celebres coretos
Ha de encontral-a offegante.
Até os quatro mil mictorios.
No próprio cós, da ceroula
Não sendo a sorte contraria,
E na braguilha das calças,
D’ella não tendo schymose,
Vermelha como a papoula,
Da Mimosa Serpiaria
A Pulga irá dançar valsas.
Morrerá tomando dose.
Pois muita gente que julga
(A Pulga, abril de 1899, página 1)
Ter espirito e talento, Não deixa, n’este momento, De ser picado de Pulga.
fundação do Partido Comunista Brasileiro (PCB)
1922
Semana da Arte Moderna de São Paulo
inauguração da Bolsa Oficial de Café (Santos)
Arthur da Silva Bernardes assume a Presidência da República
“Lei Adolfo Gordo”, que cerceia a liberdade de imprensa e permite a perseguição aos jornalistas
1923 jornais O Solidário, Diário Mercantil e O Mutualista (Santos)
inauguração do Pantheon dos Andradas (Santos)
A Imprensa e a Cidade de Santos
ACONTECIMENTOS INTERNACIONAIS
141
44. A Imprensa circulou entre 1870 e 1874, duas vezes por semana. Entre seus editores figuram o alemão Guilherme Délius, fundador e primeiro proprietário da Revista Commercial. Dedicava longo espaço ao noticiário internacional, como se pode
A Imprensa e a Cidade de Santos
observar neste detalhado informe sobre a Comuna de Paris.
142
GUERRA CIVIL EM FRANÇA A comunna de Paris ainda re-
já passou para o novo ministro da
siste, apezar de tudo presagiar que
guerra Delescluse [sic]. A carta de
a resistencia toca o seu termo. As
Rosset, dando a sua demissão, e pe-
tropas de Paris abandonarão o forte
dindo um quarto na prisão de
de Vanves, como tinhão abandonado o
[-] é significativa. Diz elle
de Issy. Agora os insurgentes estão
que nada se pode fazer, porque todos
reduzidos ao recinto da cidade. As
mandão, ninguem obedece. Isso pinta
baterias do exercito de Versailles
bem o estado de anarchia em que se
já se achão estabelecidas no bosque
encontra a cidade. Alguns telegram-
de Bolonha, d’onde tratão de abrir
mas já anuncião tentativas de in-
brechas na muralha. As parallelas
surreição dentro de Paris contra a
dos sitiantes já estão a 150 metros
communa. O Journal Sociale diz que
do recinto das muralhas, e a porta
os membros da commissão central de-
de Auteuil foi destruida, como o ti-
vem ser executados. No meio d’esta
nha sido a porta Maillot.
desordem geral a communa e os outros
O que se está passando dentro
poderes constituidos occupão-se em
de Paris confirma as noticias da si-
discussões pueris e ridiculas ácer-
tuação desesperada em que se achão
ca dos uniformes e distinctivos das
os insurgentes. O poder supremo pas-
autoridades, e da mudança dos nomes
sa rapidamente de umas para outras
das ruas e praças publicas. Mandarão
mãos. Ha dias o comando das tro-
lançar por terra a columna da praça
pas passava de Cluseret para Ros-
Vendôme, e este barbaro attentado já
set. Este chefe já foi destituido e
foi executado, segundo consta de um
mettido na prisão, e o poder militar
telegramma. Tambem arrazarão a
Revolução Paulista
1924
Coluna Prestes (até 1927)
1925 jornais Folha da Manhã (SP) e O Globo (RJ); em Santos, Ação Operária e A Farpa
pouca importancia, se acaso não forão victimas da destruição a sua magnifica livraria e os seus manuscriptos e apontamentos historicos. Apezar de tudo, porém, a resistencia dos que tem as armas na mão [-] e promette ser desesperada. Ao passo que perdem os fortes e que vêem as brechas começadas a abrir nas muralhas e as portas da cidade destruidas, vão construindo barricadas addicionaes nas ruas da cidade, o que tornará sanguinolentos e destruidores os ultimos combates. Em Versailles, a situação do chefe do poder executivo vae-se consolidando. Thiers tem-se havido com habilidade para resistir com energia aos exaltados que querem que se transija com a communa e os reaccionarios monarchicos da direita da assembléa. Ha poucos dias n’uma sessão agitada e tempestuosa as suas declarações causarão grande emoção e impozerão respeito á má vontade da direita, dando-lhe a assembléa quasi unanimemente um voto de confiança plena. As eleições municipaes vierão dar-lhe força, e apoiado nos republicanos moderados e nos monarchistas liberaes que ligados constituem a maioria da França pode resistir aos exaltados e legitimistas.
As ultimas correspondencias de Paris confirmão o estado de anarchia em que vivem o governo e a cidade. A junta de salvação publica
nomeada
há poucos dias já foi substituida por outra. Ha pouco era Felix Pyat o oraculo dos insurgentes e o heroe da communa, hoje é Delescluse [-] quem governa, e os amigos d’este accusão abertamente Felix Pyat de traidor. Noticias de Paris recebidas em Versailles dizem que se descobrira uma conspiração, cujo primeiro acto fora o abandono do forte de Issy, e que a isto devia seguir-se a insur-
A Imprensa e a Cidade de Santos
casa de Mr. Thiers, o que tem
reição, entregando-se uma das portas da cidade ás tropas de Versailles. A maior parte dos conspiradores estão presos e o jornal official da communa diz que se instituio um tribunal marcial para os julgar, e que o seu castigo ha de ser exemplar. Isto já se passou ha dias, sem que depois se tenha mais fallado em tal, o que faz crer que fora uma armadilha da communa para desculpar o abandono do forte de Issy que teve por verdadeira causa o ataque das tropas de Versailles, que tornou a defeza d’aquelle forte impossivel. [...] (A Imprensa, 9 de junho de 1871, página 1)
Washington Luis Pereira de Sousa assume a Presidência da República; fundação da Rádio Club de Santos, a primeira da cidade e a terceira a funcionar com regularidade no país
1926 jornais Praça de Santos e O Rebate (Santos)
143
45. A Tribuna, em seu 21º ano de vida, informa a chegada da “terrível e monstruosa conflagração”. Publicada na capa da edição de 4 de agosto de 1914, resume, em um jornalismo enxuto e moderno, o posicionamento dos vários países europeus
A Imprensa e a Cidade de Santos
frente ao conflito, que só mais tarde seria chamado de Primeira Guerra Mundial.
144
EM PLENA LUTA Já não restam duvidas sobre a situação européa.
que a Inglaterra apoie as alliadas com todas as suas forças de terra e mar.
A conflagração, a terrivel e mons-
Posta de parte a neutralidade da Italia,
truosa conflagração do Velho Mundo é um
muito problematica a nosso ver, da guerra que
triste facto.
a Austria mantem contra a Servia pouco se
As hostilidades já tiveram inicio
sabe, não estando, todavia, confirmada ainda
na fronteira russo-allemã, sendo os re-
a tomada de Belgrado. O imperio dos Habsburg
sultados duvidosos.
terá ainda que enfrentar com o Montenegro e
A Allemanha, não obstante a guer-
as tropas russas da respectiva fronteira.
ra não estar officialmente declarada, já
Eis a posição; e, pelo que della se pode
entrou em aberta luta com a França, sen-
deduzir, dentro em pouco a maior parte da
do que os nossos telegrammas de hoje dão
Europa não será mais que um montão de ruinas
noticia dos primeiros encontros, cujo
fumegantes.
escarniçamento apresenta uma idéa muito nitida de todo horror que revistirá esse prélio de gigantes.
(A Tribuna, 4 de agosto de 1914, página 1)
A invasão de Luxemburgo pelas tropas
allemãs,
com
manifesta
quebra
de
neutralidade daquelle territorio que as potencias
accordaram,
está
provocando
por parte da Bélgica vivos protestos e talvez a sua intervenção directa no conflito, sendo que, á vista disso, ao que parece, já está absolutamente resolvido
1927
jornal Folha de Santos
A Imprensa e a Cidade de Santos
REVOLUÇÃO DE 1930
1928 jornais Diário Carioca (RJ); em Santos, A Escova e A Mocidade; Revista O Cruzeiro (SP)
145
46. Praça de Santos foi um título nascido em 1926, após mudança editorial do então Boletim Comercial da Praça de Santos, que já existia desde 1920. Identificava-se como “Matutino Independente - Sem compromissos partidarios nem ligação official”. Na matéria reproduzida, o então diretor Raphael Corrêa de Oliveira rende homenagem a Antonio Siqueira Campos. O herói da Coluna Prestes falecera em um desastre aéreo quando retornava, sob nome falso, ao Brasil. A revolução de 30 triunfaria seis
A Imprensa e a Cidade de Santos
meses mais tarde.
146
SIQUEIRA CAMPOS E A REVOLUÇÃO Não quero acreditar que Siquei-
reu em pleno combate. Dentro da-
ra Campos tenha morrido. Não me con-
quelle sinistro aeroplano, debaten-
formo com essa estupida fatalidade,
do-se nas aguas traiçoeiras do rio
menos pela dôr immensa de perder um
da Prata, Siqueira Campos morria
amigo querido e bom, mas pela des-
em acção energica pela realidade
graça que semelhante absurdo repre-
do seu nobre ideal. Ali travou ele
senta para o Brasil, nesta hora em
sua ultima batalha pela libertação
que o processo revolucionario marcha
do Brasil. A revolução brasileira,
vertiginosamente.
castigada pelos revezes mais duencontra
ros, sustentou na tragica manhã de
na morte o facto fulminante de sua
Siqueira
Campos
não
ante-hontem, com a bravura de que
vida. Porque essa vida, toda cheia
só os privilegiados são capazes, o
de heroismo, de dedicação, de re-
mais desigual dos embates. E, ainda
nuncias pessoaes, foi uma atitude
desta vez, Siqueira Campos foi o
bellissima de despreso pela morte.
heróe da epopéa, o formidavel sa-
E nem se diga que a estupidez desse
crificado da causa commum. A revo-
desenlace, foi uma ironia do desti-
lução não perdeu um chefe, perdeu
no fulminando sem o relevo epico de
um exercito. O Brasil não perdeu
uma batalha de fogo, o incompara-
só um soldado valente, mas, tam-
vel lutador. Não teve o destino esse
bém, um dos espiritos mais lucidos,
poder. A covardia da sorte foi im-
uma das intelligencias mais agu-
potente para matar Siqueira Campos
das, uma das culturas mais solidas
pacificamente.
que temos logrado possuir nestes
Porque, na realidade, elle mor-
últimos quinze anos. Não se ale-
crash da Bolsa de Nova York
1929
jornais Diário e O Alfinete (Santos)
de fraqueza. Vamos, sim, com mais
voram furiosamente esta desgraçada
decisão, com melhor enthusiasmo, as-
nação. Perdemos um chefe. Perdemos
sumir o compromisso irrevogavel de
um exercito. Perdemos um guia seguro
continuar-lhe a obra e seguir-lhe os
e illuminado.
exemplos de fé na resurreição de nos-
Mas,
a
revolução
brasileira,
sa terra, purificada pelo sangue e
como todos os grandes movimentos de
pelo fogo dos grandes sacrificios.
reivindicações legitimas e de reno-
Morreu Siqueira Campos?
vações naturaes, é inesgotavel na
Viva Siqueira Campos!
força dos seus valores e na vastidão
Viva a Revolução!
das suas energias. Para os que ficam, só ha um meio
Raphael Corrêa de Oliveira
de honrar, de cultuar com justiça a memória de Antonio Siqueira Campos: é proseguir na luta e vencer.
(Praça de Santos, 12 de maio de 1930,
Diante do seu cadaver, não va-
página 1)
mos chorar lagrimas de desespero ou
fim da República Velha; golpe de estado de Getúlio Vargas
A Imprensa e a Cidade de Santos
grem, porém, os cães de fila que de-
presidente Washington Luis Pereira de Sousa é deposto
1930
jornais A Sogra, Santos Alegre e O Estrilo
147
47. No informe abaixo, observa-se a postura da Gazeta do Povo frente aos acontecimentos que então convulsionavam o país. Dali a dois dias, a sede do vespertino, que se intitulava independente, seria empastelada pela multidão que comemorava a
A Imprensa e a Cidade de Santos
vitória da revolução que conduziu Getúlio Vargas ao poder. O jornal não voltou a circular.
148
A CIDADE EM CALMA E A ACÇÃO DAS AUTORIDADES A cidade continua calma, embo-
Não ha abusos nem violencias,
ra depois de certa hora se note re-
movendo-se, no emtanto, guerra sem
trahimento do povo, que prefere fi-
tregoas aos boateiros, que são pre-
car em casa. Sem embargo, funccionam
sos e recolhidos ao xadrez, sejam
regularmente todas as casas de di-
elles quem forem, como se vê ain-
versões, com optimas concorrencias.
da
Para a boa ordem reinante, muito tem contribuido a acção energica
hoje
pela
relação
das
prisões
effectuadas. Tambem
desappareceu
o
temor
da policia, a cuja frente se encontra
que havia nos primeiros dias quanto
o illustre dr. Aguinaldo Goes, auto-
á sorte dos jovens reservistas san-
ridade que se impoz definitivamente
tistas, pois elles ficam todos em
no conceito publico, trabalhando sem
Santos, sendo que os do Itaipú já ob-
descanço desde que irrompeu o movi-
têm licença para virem á cidade suas
mento sedicioso. E não lhe tem fal-
familias, e estas tambem os podem ir
tado o apoio das demais autoridades
vêr ao Forte.
estadoaes, federaes ou municipaes,
Taes
medidas
das
autoridades
devendo-se registrar a acção profi-
vieram tranquillisar definitivamen-
qua dos deputados Carvalhal Filho,
te a familia santista e desmentir
Bias Bueno e Alberto Cintra, e dr.
de fórma categorica boatos malevolos
Sousa Dantas, operoso prefeito muni-
que haviam sido espalhados logo de
cipal, além do major Victor Barbosa,
inicio.
chefe da Policia Maritima, egualmente esforçado e trabalhador.
(Gazeta do Povo, 22 de outubro de 1930, página 4)
assume o governo junta governativa
1930
intervenção federal em Santos
criação da primeira Faculdade de Ciências Econômica de Santos
1931
48. Em coluna publicada na Praça de Santos, em 27 de outubro de 1930, é festejada a vitória da Aliança Liberal. Entre os prédios citados na matéria, está o do jornal A Tribuna, identificado pela multidão com o governo que acabara de cair. As sedes
24 DE OUTUBRO Foi gloriosa a jornada de 24 de Outubro! Quando
Ora, essa lei a todos, indistinctamente, garante o direito de
a
estugueira
politica
se dissolveu completamente e a ci-
manifestação
do
pensamento,
tenha
elle a côr que tiver.
dade ficou inteiramente entregue ao
A bandeira que reuniu o povo
arbitrio popular, a burguezia teve
e o soldado, a blusa e a farda, o
excellente opportunidade para veri-
pequeno
ficar que a massa, sem o freio da
commerciante, foi a da liberdade de
policia, soube se portar como uma
Pensamento, do Direito de manifesta-
verdadeira multidão ordeira, cons-
ção da Idéa.
ciente de sua responsabilidade.
funccionario
e
o
pequeno
Nós, que na senzala do “perei-
Poderia ter incendiado trezen-
rismo” e do “perrepismo” nunca tive-
tos prédios. Ninguem a impederia de
mos o direito de manifestar o nosso
commetter desatinos.
pensamento e que viviamos escorra-
Os quatro ou cinco prédios de-
çados da Casa Amarella para as tor-
vorados pelas chammas não passaram
turas do Cambucy, attingidos sempre
de quatro ou cinco incendios symbo-
pela mãos criminosas dos “Ibrahins”,
licos, pois, com elles o povo quis
dos “Ferreiras da Rosa” e dos “Lau-
significar o odio á opressão inutil
delinos”
e aos oppressores.
nossas mãos esse direito reconquis-
deixaremos
fugir
de
Breve, tudo voltou á calma.
tado, á custa de soffrimento, sangue
A revolução foi liberal, para
e energia.
forçar o estricto cumprimento da letra e do espirito da Constituição de 24 de fevereiro. promulgada a terceira Constituição
1934
não
Agora, nós. Chegou a nossa hora. Clamemos as nossas necessidades em unisono. Getúlio Dornelles Vargas é eleito presidente
A Imprensa e a Cidade de Santos
da Gazeta do Povo e da Folha de Santos também foram atacadas. A República Velha chegava ao fim.
149
A Imprensa e a Cidade de Santos
Não pedir palliativos, contentandonos com promessas, mas as leis de protecção ao trabalho e dignificação dos callos que nos enchem as mãos. Não estaremos mais nas galerias para assistir a fuzarca perpetuada nos quarenta annos da mais desavergonhada pandega republicana. A 24 de outubro, soou o toque
150
de reunir. Reunamo-nos, pois, para exigir (que podemos exigir) o nosso direito de pensar, falar, querer e realizar. Trabalhadores de todas as profissões, unamo-nos! LUCIO JAGUARÃO (Praça de Santos, 27 de outubro de 1930, página 2)
golpe do Estado Novo
1937
fechamento da Bolsa Oficial do Café (Santos) – reaberta em 1942
Santos perde sua autonomia político-administrativa
SELEÇÃO DE IMAGENS 151
A Imprensa e a Cidade de Santos
152 A Imprensa e a Cidade de Santos
A Imprensa e a Cidade de Santos
Fundado pelo português Manoel Raposo de Almeida em 1850, O Mercantil propagandeava com vigor o ideário do Partido Liberal. Foi o principal concorrente do jornal Revista Commercial,
o
primeiro
da cidade, criado no ano anterior. Em 1851, O Mercantil passou a circular diariamente.
153
A Imprensa e a Cidade de Santos
A Tesoura, que circulou em Santos em 1876, foi um dos
154
muitos jornais da cidade engajados na luta abolicionista. Ele chegou a publicar notícia lamentando o fechamento de O Raio, hebdomadário lançado em 1875 que se destacou em defesa da causa, mas fechou no ano seguinte.
A Imprensa e a Cidade de Santos O Foguete surgiu em Santos em 1877, ano em que também circularam o Desfalque, A Lei e Diário de Notícia, este último o único a circular por mais tempo.
155
A Imprensa e a Cidade de Santos
156 Em 1879, surgiram em Santos os jornais O Popular, O Caixeiro, O Domingo e Ônibus, todos de vida efêmera.
A Imprensa e a Cidade de Santos Oito jornais surgiram em Santos em 1887. Além de O Colibri, circularam também A Vila da Redenção, A Procelária, O Incolor, O Reclame, Farpas, O Bilontra e Cidade de Santos.
157
A Imprensa e a Cidade de Santos
Lançado em 1894, Santos Commercial era um jornal diário, de ampla circulação.
158
Em 15 de novembro de 1895, declarou-se explicitamente monarquista, provocação que os republicanos responderam com o empastelamento do jornal, em dezembro. A publicação só voltou a circular 24 dias depois, em 29 de dezembro.
A Imprensa e a Cidade de Santos
159 O jornal O Bond surgiu em 1895, ano em que surgiram outras 11 publicações, todas de vida curta.
A Imprensa e a Cidade de Santos
160
A Arte, que circulou em Santos em 1896, refletia as novas exigências da sociedade santista, formada a partir do crescimento das exportações de café.
Lanterneta
co-
A Imprensa e a Cidade de Santos
A
meçou a circular em 1º de janeiro de 1895, com a função de criticar “a tudo e a todos, observada a mais pura decencia”, como consta na apresentação de sua primeira edição. O hebdomadário foi um dos muitos jornais de cunho humorístico em Santos.
161
A Imprensa e a Cidade de Santos
Auto-intitulado “órgão literário, crítico e noticio-
162
so”, pertencente a uma associação, A Penna começou a circular quinzenalmente, em 1897. Nesta edição, o jornal destaca, no Expediente, seus 14 representantes no país.
A Imprensa e a Cidade de Santos A Pulga foi um dos muitos jornais satíricos publicados em Santos. Lançado em 1899, teve vida curta, a exemplo da maioria das publicação desse período.
163
A Imprensa e a Cidade de Santos
164
Com a morte de seu fundador, Olímpio
ções próprias na Rua General Câmara nº
Lima, em 1907, Tribuna do Povo ficou sob
90/94, A Tribuna adquire a primeira rota-
a administração de José de Paiva Maga-
tiva, uma impressora M.A..N., com capa-
lhães e, dois anos depois, foi vendido a
cidade para editar jornais de 40 páginas.
M. Nascimento Jr. Em 1927, já em instala-
A Imprensa e a Cidade de Santos
165
Com 114 anos de existência, A Tribuna é um dos
a TV Tribuna (afiliada à Rede Globo), rádio Tribuna
mais antigos jornais do país. Hoje ele integra o Sis-
FM, jornais Primeiramão Santos e Campinas, por-
tema A Tribuna de Comunicação (SAT), que inclui
tal A Tribuna Digital e o jornal Expresso Popular.
A Imprensa e a Cidade de Santos
LISTA DE JORNAIS DE SANTOS 1849-1930
166
Revista Comercial (1849-1872)
O Caixeiro (1879)
Idéia Nova (1886)
O Nacional (1850-1852)
O Popular (1879)
A Evolução (1886)
O Mercantil (1850-1852)
O Domingo (1879)
Gazetinha (1886)
O Precursor (1851)
Ônibus (1879)
Vinte e Sete de Fevereiro (1886)
Médico Popular (1851)
Gazeta Comercial (1880)
Ensaio (1886)
O Paranapiacaba (1853)
Boêmia Abolicionista (1881)
O Pince-Nez (1886)
A Juventude (1855)
O Embrião (1881)
A Vila da Redenção (1887-1888)
O Clamor Público (1855)
A Semana (1881)
A Procelária (1887)
O Comercial (1857-1860)
A Comédia (1881)
O Incolor (1887)
O Ytororó (1859-1860)
O Porvir (1882)
O Reclame (1887)
O Progresso (1860)
A Notícia (1882)
Farpas (1887)
A Civilização (1861)
A Evolução (1882)
O Colibri (1887)
O Caboclo (1863)
O Guarani (1882)
O Bilontra (1887)
O Santista (1864)
O Periquito (1882)
Cidade de Santos (1887)
O Lírio (1867)
O Papagaio (1882)
O Lepidóptero (1888)
O Mercantil (1867-1868?)
O Pirata (1882)
Luiz Gama (1888)
Comércio de Santos (1869-1872)
Gazeta de Santos (1883)
Flora (1888)
O Pirilampo (1869-1871)
A Propaganda (1883)
A Luz (1888)
Correio de Santos (1869)
O Furo (1883)
Diário da Tarde (1888-1889)
O Imparcial (1870-?)
Diário do Comércio (1884-1891)
O Patriota (1889)
A Imprensa (1870-1874)
O Aporo (1884)
Diário da Manhã (1889-1891?)
Diário de Santos (1872-1918)
A Luta (1884)
O Dever (1889)
Correio Mercantil (1873)
Correio de Santos (1884-1891)
A Verdade (1889)
O Buscapé (1874-1875?)
Jornal da Tarde (1884-?)
O Biscouto (1890)
O Raio (1875-1876)
O Alvor (1884)
Gazeta do Povo (1890)
A Tesoura (1876)
O Piratiny (1885)
O Nacional (1890-1895)
O Desfalque (1877)
O Popular (1885-?)
Isca (1890)
O Foguete (1877)
O Tipógrafo (1885)
Luneta (1891)
Diário de Notícias (1877-?)
Santos-Andaluzia (1885)
Novidades (1891-1893)
A Lei (1877)
O Collegial (1885-1887)
A Ação Social (1892)
Correio de Santos (1878)
Revista (1885)
O Operário (1892)
A Greve (1897)
A Prensa (1915-1919)
Carta Branca (1892)
A Idéia (1897)
Gazeta do Povo (1917-1930)
A Notícia (1893)
Cidade de Santos (1898-1912?)
A Portuguesa (1917)
Olho (1893)
A Aspiração (1898)
O Noroeste (1917)
A Tribuninha (1894)
O Tempo (1898)
Boletim Comercial da Praça de
Tribuna do Povo (1894-1900?)
A Pulga(1899)
Santos (1920-1926)
L’Independente (1894)
A Gargalhada (1899)
Jornal da Noite (1920- 193..?)
Santos Comercial (1894-?)
O Estímulo (1899)
Comercio de Santos (1920-1932)
A Revolução (1894)
A Tribuna (1899- )
Jornal do Chauffeur (1921)
Neto do Diário (1894)
O Bôer (1900)
A Raça (1921)
Correio da Semana (1894)
El Bersagliere (1900)
O Solidário (1923-1928?)
O Corretor (1895)
A Fanfarra (1900)
Diário Mercantil (1923)
A Lanterneta (1895)
Santos (1901)
O Mutualista (1923)
A Luva (1895)
Vanguarda Portugueza (1902)
Ação Operária (1925)
O Eco (1895)
A Revisão (1904)
A Farpa (1925)
O Lidador (1895)
O Mercantil (1904-1905)
Praça de Santos (1926-193..?)
O Chicote (1895)
O Jornal (1905)
O Rebate (1926)
O Combate (1895)
O Empata (1905)
Folha de Santos (1927-1935)
O Bond (1895)
União dos Operários (1905-1909)
A Escova (1928)
A Questão Social (1895)
Boletim Comercial (1905-?)
A Mocidade (1928)
A Folha (1895)
O Verso (1907)
O Diário (1929)
Correio da Tarde (1895)
A Bomba (1908)
O Alfinete (1929)
O Avança (1896)
A Vanguarda (1908-1912)
A Sogra (1930)
A Metralha (1896)
Tribuna Popular (1908-1909)
Santos Alegre (1930)
Jornal Brasil Otomano (1896)
Tribuna Operária (1909-?)
O Estrilo (1930)
Gazeta da Tarde (1896)
A República (1911)
O Brazil (1896)
O Proletário (1911-1912?)
A Arte (1896)
A Notícia (1912-1913)
A Penna (1897)
Jornal de Santos (1912-1913)
O Gaúcho (1897)
A Berlinda (1913)
A Opinião (1897)
O Dia (1913)
A Imprensa e a Cidade de Santos
O Leque (1892)
167
A Imprensa e a Cidade de Santos
ÍNDICE ONOMÁSTICO
168
Abreu, Francisco Luiz d’ – 20
Delius, Guilherme – 16, 17, 23, 25
Mesquita, Julio – 21, 27
Agostini, Angelo – 21
Emmerich, João – 24
Monte Alegre, Marquês de – 13
Aguiar, Rafael Tobias de – 14
Feijó, Diogo Antonio – 13
Nabuco, Joaquim – 23, 27
Almeida, Manoel Raposo de – 16, 17
Fonseca, Deodoro da – 26, 27
Nascimento Júnior – 28
Alvim, Pedro Taques de Almeida – 14
Fontes, Martins – 30
Patrocínio, José do – 22, 23, 27
Andrada e Silva, José Bonifácio de – 17
Fontes, Silvério – 30
Pedro I, Dom – 11, 12
Andrada II, Martim Francisco de – 16
Gama, Luis – 21, 24
Pedro II, Dom – 11, 12, 26, 27
Andrada, Antonio Carlos Ribeiro de – 14
Gama, Saldanha da – 27
Peixoto, Floriano – 27
Andradas – 11
Guimarães, Alphonsus de – 34
Pestana, Francisco Rangel – 21, 26
Azevedo, Arthur – 34
Guimarães, Manuel Araújo F. - 11
Porto Alegre, Manoel de Araújo – 21
Badaró, Líbero – 13
Hardman, Francisco Foot – 29
Prado Júnior, Caio – 15
Barata, Cipriano – 11
João VI, Dom – 9,10
Prado, Antonio – 21
Barbosa, Rui – 27
Kropotkin, Piotr – 30
Prado, Eduardo – 27
Bastos, Antonio Augusto – 24
Lacerda, Quintino de – 28
Ramos, B. Figueiredo – 31
Bento, Antonio – 23
Lanna, Ana – 29
Rio, João do – 34
Bilac, Olavo – 33
Leclerc, Max – 21
Santos, Francisco Martins dos – 16
Bocaiúva, Quintino – 14, 21, 27
Lima, Olympio – 25, 27, 28
Serva, Manuel Antonio da Silva – 10
Bousquet, Gastão – 24
Magalhães, José de Paiva – 28
Sodré, Nelson Werneck – 33
Brasil, Tito Lívio – 29
Marques, Antonio Mariano de Azevedo – 13
Sousa, Alberto – 24
Calixto, Benedicto – 29
Marques, Joaquim Roberto de Azevedo – 16
Sousa, Inglez de – 26
Campos, Bernardino de – 28
Marques, Roberto Maria de Azevedo – 16
Tocqueville, Alexis de – 5
Carvalho, José da Costa – 13
Marx, Karl - 5
Toledo, Lafayete de – 15
Carvalho, Rafael Mendes de – 21
Mauá, Visconde de – 12
Vargas, Getulio – 32
Carvalho, Vicente de – 24
May, Luís Augusto – 11
Veiga, Evaristo da – 11
Coelho Neto – 34
Melo, Custódio de – 27
Vergueiro, César Lacerda de – 29
Costa, José Hipólito da – 10
Mendonça, Salvador de – 14
Veríssimo, José – 27
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ACERVOS PESQUISADOS Associação Comercial de Santos Arquivo Edgar Leuenroth (IEL – Unicamp) Arquivo Público do Estado de São Paulo Biblioteca Mário de Andrade Fundação Arquivo e Memória de Santos (Fams) Hemeroteca Municipal de Santos Instituto de Estudos Brasileiros (IEB – USP) Instituto Histórico e Geográfico de Santos Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo Museu Paulista/Ipiranga (USP) Sociedade Humanitária dos Empregados do Comércio (Santos)
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Departamento de Pesquisas do jornal A Tribuna (Santos)
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AGRADECIMENTOS A todos aqueles que de alguma forma contribuíram para a realização desta pesquisa e a redação deste livro, nossos sinceros agradecimentos. Agradecimentos especiais a Cristina Guedes Gonçalves, ex-presidente da Fundação Arquivo e Memória de Santos (Fams), e Gilka Zannin Rosas, diretora de Arquivos da Fams, que criaram as condições necessárias para que este projeto se efetivasse. Agradecemos da mesma forma ao atual
172
presidente da Fundação, José Manuel Costa Alves, por ter apoiado o projeto e possibilitado a publicação deste livro. À historiadora Rita Márcia Martins Cerqueira, que conhece os meandros da história de Santos, pelas dicas valiosas. À equipe do Arquivo Edgard Leuenroth (AEL), que sempre nos atendeu com muita presteza, competência e generosidade. A Fábio M. da Costa, da Hemeroteca Municipal de Santos, pelo auxílio na consulta e reprodução dos periódicos. Ao fotógrafo Rogério Bomfim, pelo competente trabalho na reprodução das imagens. A Rosangela Menezes e David Cardoso pelo eficiente trabalho na edição, criação e finalização deste livro.
A Imprensa e a Cidade de Santos
Doutor em História pela Universidade de São Paulo (USP), ALEXANDRE ALVES nasceu em São Paulo, em 1974. Autor de artigos e estudos na área de história da cultura, atua como pesquisador-colaborador no Departamento de História da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde desenvolve o projeto A Vida como Obra de Arte: Individualidade, Cultura e Poder no século XIX.
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174 A Imprensa e a Cidade de Santos
Apresentação
5
Introdução
9
Abertura
11
1 PARTE I. Imprensa, Cidade e Modernidade
17
1. Finalmente a imprensa chega ao Brasil
19
2. Imprensa e jornalismo no burgo dos estudantes: São Paulo
021
3. A imprensa santista e o processo de urbanização da cidade
023
4. As vicissitudes do jornalismo no Segundo Reinado
026
5. A grande imprensa na passagem do século XIX para o século XX
029
6. Uma voz dissonante: a imprensa operária
034
À guisa de conclusão
039
PARTE II. Antologia de textos
041
I. Trabalho escravo e abolição
043
II. Porto e estrada de ferro
053
III. Cotidiano e política
063
IV. Praças, epidemias e canais
077
V. Liberdade de imprensa
89
VI. Críticas à Igreja
111
VII. A vida operária
119
VIII. Poemas
135
IX. Acontecimentos internacionais
141
X. Revolução de 1930
145
PARTE III. Seleção de Imagens Lista de Jornais de Santos (1849-1930) Índice Onomástico Bibliografia
151
166 168 169
Agradecimentos
172
O autor
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A Imprensa e a Cidade de Santos
SUMÁRIO
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176 A Imprensa e a Cidade de Santos
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