A imprensa negra de Piracicaba e a colocação dos pronomes clíticos

June 5, 2017 | Autor: Ana Regina Calindro | Categoria: Historical Syntax
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_ 2011 História Português Paulista (III) História dodo Português Paulista (III), 2011 – 187 (pp. 187-216)

A imprensa negra de Piracicaba e a colocação dos pronomes clíticos Ana Regina Vaz Cilindro*

Considerações Iniciais A colocação pronominal é, reconhecidamente, um fator crucial na identificação de diferenças gramaticais verificadas, desde o século XVIII, entre o português europeu (de agora em diante PE) e o português brasileiro (de agora em diante PB). De fato, vários estudos de natureza sincrônica e diacrônica têm reconhecido que as diferenças entre as variantes brasileira e europeia da língua portuguesa não é apenas superficial, mas gramatical, uma vez que, enquanto o PE se tornou uma língua que apresenta como padrão normal a colocação enclítica dos pronomes átonos, a próclise estando restrita à presença de “atratores” na posição pré-verbal, o PB tornou-se a mais proclítica das línguas românicas. Como já bastante discutido na literatura recente sobre o PE, o uso dos clíticos e a colocação pronominal enclítica são adquiridos pelas crianças durante a fase de aquisição da língua materna. O mesmo não ocorre com as crianças adquirindo o PB. Sabe-se que a aquisição dos clíticos acusativos e dativos de 3ª pessoa, por exemplo, é feita através da escolaridade. No entanto, a escola não impede que outras estratégias de realização dos complementos pronominais sejam produtivas na fala e escrita dos falantes cultos, substituindo o uso dos clíticos. Da mesma forma, a escola não resgata totalmente os padrões lusitanos de colocação pronominal, embora sejam considerados, nos compêndios gramaticais, como modelo a ser seguido. Ora, tal conflito coloca uma questão muito interessante para os estudos de sintaxe diacrônica: a de buscar nos textos brasileiros a presença das formas vernáculas, que se contrapõem aos usos exemplares. Podemos inferir que tanto o emprego dos clíticos, principalmente os de 3ª pessoa, acusativos e dativos, quanto os padrões de colocação prescritos nas gramáticas, se manifestariam de forma mais marcante na fala e, principalmente, nos textos de pessoas com um maior grau de letramento. * e-mail:

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Recentemente, tornou-se consensual entre os linguistas o reconhecimento de que os jornais constituem fontes relevantes para se observar aspectos de variação e mudança gramatical, uma vez que se compõem de diferentes tipos de textos, os quais apresentam um contínuo no grau de formalidade, do menos formal para o mais formal. Além disso, o objetivo principal dos jornais é a comunicação, o que faz com que, muitas vezes, seus colaboradores sacrifiquem o ideal de correção gramatical a fim de neutralizar diferentes níveis de linguagem e atingir um maior número de leitores. Vale ressaltar ainda que o fato de os jornais apresentam textos com características diversas, no mesmo exemplar, os tornam uma boa fonte para o estudo de aspectos sócio-históricos, os quais podem estar na base do uso variado de certas formas, umas mais representativas do vernáculo, outras mais próximas dos padrões normativos. Partindo dessas suposições, meu objetivo neste estudo é verificar aspectos de variação no uso da colocação dos pronomes pessoais átonos, com base em dois periódicos da cidade de Piracicaba. O primeiro deles é um jornal representativo da chamada Imprensa Negra, O Patrocínio (1925 a 1930); o segundo é o jornal A Gazeta de Piracicaba (1882 a 1937), um exemplar da imprensa majoritária da época.12

1. Este artigo foi baseado na minha dissertação de mestrado, orientada pela professora Maria Aparecida Torres-Morais – “A colocação dos pronomes clíticos em O Patrocínio: periódico da imprensa negra de Piracicaba”, apresentada ao Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Universidade de São Paulo, em 2009.

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A escolha dos dois periódicos teve como base a hipótese de que os jornais da imprensa negra deixariam escorrer com mais nitidez as tintas do vernáculo brasileiro, como resultado de um fator de natureza social: os negros, durante os séculos da escravidão, e mesmo após as primeiras décadas da República, representaram uma parcela da população com diferenciado acesso à escolarização. Ora, os jornais negros eram escritos por negros e para negros. Daí a inferência de que os seus colaboradores ou não dominariam com tanta precisão os padrões cultos ou, mesmo dominandoos, buscariam adotar padrões mais próximos da oralidade, ao menos em certos tipos de textos, com o objetivo de atingir um público maior, possivelmente com baixa escolaridade. Ao contrário, o periódico de imprensa majoritária apresentaria textos escritos por uma parcela da população mais escolarizada, com um domínio mais efetivo dos usos cultos representativos do português lusitano. A análise da colocação pronominal nos dois periódicos revelou, porém, que ambos apresentaram padrões de colocação pronominal muito semelhantes entre si, como veremos ao longo deste texto, organizado da seguinte forma: na seção dois, com o intuito de enquadrar o jornal negro piracicabano no contexto sócio-histórico da época, apresento uma síntese da história de Piracicaba e uma abordagem de questões sociais relativas a esse importante município do estado de São Paulo, o qual é conhecido por apresentar características linguísticas reconhecidamente relevantes no âmbito dialetal. Em seguida, faço um enquadramento do negro na sociedade piracicabana, em particular através de sua escolarização. Por fim, na última parte da seção, apresento alguns aspectos do papel da Imprensa Negra, em Piracicaba, e na cidade no estado de São Paulo como um todo, com destaque para o jornal piracicabano, O Patrocínio. Na seção 3 apresento um levantamento da colocação dos pronomes clíticos em alguns estudos, os quais trataram das diferenças entre o PB e em PE. Por fim, na seção 4 será apresentada a análise quantitativa dos dados retirados de O Patrocínio, em comparação

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com os dados extraídos da Gazeta de Piracicaba. Farei um levantamento dos diferentes contextos que são relevantes para se observara ocorrência da variação entre os usos lusitanos e brasileiros deste fenômeno gramatical. Na conclusão apresento algumas considerações finais a respeito dos resultados encontrados. 1. PIRACICABA E O CORPUS ESCOLHIDO 1.1 Piracicaba Desde os primórdios, Piracicaba – fundada em 1767 - revela significativa importância no interior paulista. No ano de 1836, o “Quadro Estatístico da Província de São Paulo”, aponta que Piracicaba possuía 10.291 habitantes e tinha o maior número de alfabetizados de toda a Província: 395 de seus moradores. Itu contava com 166 alfabetizados de seus 11.146 habitantes e Curitiba apenas 152 de 16.157 (cf. ELIAS NETTO, 2002/03). Em 1894, segundo documentos no Arquivo do Estado de São Paulo, Piracicaba era a terceira cidade mais importante do interior, seguindo apenas Campinas e Sorocaba. Naquele ano a população era de 15.000 habitantes e a cidade produzia 4,16% do algodão e 6,32% de frutas cítricas do estado. Atualmente, a cidade de Piracicaba é notória pelo seu dialeto caipira que, mesmo na área urbana, tem grande força. Existem diversas suposições acerca da origem desse modo de falar. Elias Netto (2002/03), ao explicar a origem do dialeto “caipiracicabano”, observa que o Vale do Paraíba e o Vale do Tietê manteriam resquícios do português arcaico2, sendo que a própria palavra “caipira” faz referência a essa “cultura antiga” que ficou à margem dos rios percorridos pelo colonizador, habitada pelos índios tupi guarani. “Cá i pira” em tupi significa “a mata que acompanha o rio”. Amadeu Amaral, em seu livro de 1920, O Dialeto Caipira, afirma que o caipira conservaria os arcaísmos, sem necessidade de incorporar novos termos ao seu vocabulário, devido à realidade estática em que viviam durante séculos. Dessa maneira, foram mantidos no dialeto caipira termos que, apesar de vivos em português europeu, são desconhecidos no Brasil, tais como: chêda, tamoeiro, náfego, etc. Além do dialeto propriamente dito, outro fator relacionado à caracterização do indivíduo denominado “caipira” é a questão da formação do mercado de trabalho e da identidade brasileira após a abolição da escravatura. Na passagem do século XIX para o século XX, o país recebia levas de europeus que vinham para substituir o trabalho escravo. Dessa forma, o povo brasileiro passou a ser definido em contraposição ao europeu, considerado superior culturalmente e racialmente, apesar da grande maioria dos imigrantes ser analfabeta e provir de regiões carentes. Assim, a identidade do povo brasileiro passou a ser representada pelo caboclo, sertanejo e caipira, resultados da miscigenação das etnias formadoras da nação (cf. OLIVEIRA & KEWITZ, 2002).

2.

e XV.

Para Mattos e Silva (2001) o termo “Português Arcaico” abrange o período entre os séculos XIII

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1.2 O negro em Piracicaba Desde o princípio do povoamento de Piracicaba, a presença do negro na região é expressiva. No ano de 1836, o Marechal D. P. Muller registrou no “Almanak de São Paulo” que havia em Piracicaba 1756 escravos negros homens e 622 mulheres, de um total de 10.291 habitantes, o que totaliza 23,1% da população. Celestina Mendes Torres (apud ELIAS NETTO, 2007), contudo, apresenta um estudo sobre a evolução da propriedade rural em Piracicaba, em que o número de escravos já era maior. A pesquisadora revela que, em 1828, a cidade contava com 8.311 moradores, sendo que, 27% da população, ou 2.303 almas, eram negros escravos, além de 90 mulatos e 42 agregados3. De acordo ainda com almanaque anteriormente citado, em 1887, um ano antes da abolição, Piracicaba possuía cerca de 22.000 habitantes, identificando-se como o terceiro município paulista com o maior número de escravos (5663 – 25,74% da população total), atrás apenas de Campinas (15.427) e Bananal (6.903). Após a abolição, no entanto, os negros não foram integrados à sociedade. Seu trabalho nas fazendas foi substituído pela mão de obra estrangeira. Isso os deixou em uma situação muito difícil. Uns passam a sobrevier em subempregos, outros na condição de agregados, e outros ainda se viram obrigados a emigrar para as áreas despovoadas do sertão. Esse fato pode ser comprovado através da comparação entre os censos realizados no século XIX e XX. Nesse período, houve em Piracicaba a diminuição expressiva da população negra, como demonstram os dados do gráfico a seguir: Gráfico I: A população Negra em Piracicaba 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 1828

1836

1887

1940

1980

2000

Os jornais oficiais piracicabanos do final do século XIX e início do XX, entre eles, A Gazeta de Piracicaba e O Jornal de Piracicaba, nos dão pistas indiretas da discriminação imposta aos negros no cotidiano da vida urbana. A imprensa local O termo agregado engloba: escravos libertos, índios, criados livres, parentes pobres, mães viúvas, tias e irmãs solteironas que viviam com uma família. 3.

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reclamava da algazarra dos “pretos desordeiros” que se reuniam em botequins. Da mesma forma, festas dos negros eram tidas como imorais, por causa das suas umbigadas, requebros e falta de compromisso com a moralidade branca. Entretanto, apesar da queda no número de habitantes negros em Piracicaba, é possível verificar a influência dos africanos e de seus descendentes na cultura “caipiracicabana”, através da culinária, das festas populares, no sincretismo religioso, nas lendas, na língua, na música, nos esportes e na dança – que tem como herança a batucada. Piracicaba conta, além disso, com a Sociedade Beneficente 13 de Maio, fundada em 1901, com o nome de Sociedade Beneficente “Antonio Bento”, em homenagem ao Patriarca da Liberdade – Antonio Bento de Souza Castro. Segundo relatos, a entidade foi idealizada por abolicionistas brancos ligados à maçonaria. O objetivo da congregação era criar um espaço onde os ex-escravos e seus descendentes pudessem reunir-se e, assim, integrar-se à comunidade em geral. Além das festividades, a associação prestava serviços médicos, farmacêuticos, jurídicos e educacionais à comunidade. O periódico O Patrocínio – exemplar da Imprensa Negra de Piracicaba estava diretamente ligado à Sociedade 13 de Maio, como será melhor explicitado posteriormente. Contudo, antes de falar da imprensa negra propriamente dita, é necessário esclarecer a questão da escolaridade da população negra na época, diretamente ligada à possibilidade da criação de órgãos de imprensa sob a responsabilidade exclusiva dos negros.

1.2.1. Escolarização da população negra do século XIX ao XX. Diversos textos sobre a escolarização dos negros tais como, Gonçalves & Silva (2000), Cruz (2005) e Morais (2007), afirmam que o estudo dessa questão é dificultado pela falta de fontes históricas a esse respeito. Muitas delas foram destruídas não só durante o processo de dominação, como também por iniciativas particulares, ilustradas pelo famoso caso em que o notável Rui Barbosa decide queimar diversos documentos sobre a escravidão no intuito de “limpar a nossa história”. A Reforma Couto Ferraz de 1854 apresentou o decreto 1.331, o qual estabelece tanto a obrigatoriedade da escola primária para crianças maiores de sete anos, como a gratuidade das escolas primárias e secundárias da corte. Contudo, não seriam admitidas nas escolas crianças com doenças contagiosas ou escravas, e não havia menção nessa lei sobre a questão da educação de adultos. Apesar desse impedimento, os negros conseguiam, em muitos casos, receber uma educação informal, como relatam Araújo & Silva (2005, p.69): “A educação informal (...) poderia acontecer tanto no meio rural como no meio urbano por meio da observação silenciosa das aulas das sinhás-moças e da instrução religiosa dos padres, entre outras situações improvisadas”. Ademais, de acordo com Morais (2007), no século XIX era comum confiar a educação de um filho livre ou forro, ou, até mesmo, de um escravo pequeno, a um mestre artesão ou professor particular. No caso dos escravos, existe a possibilidade de que alguns senhores contratavam professores particulares para alfabetizá-los, com a intenção de lucrar com eles.

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Ainda em relação ao século XIX, Barbosa (apud CRUZ, 2005, p.28) afirma que em 1871, ano em que começou a vigorar a Lei do Ventre Livre, havia em Campinas cerca de cinco escolas públicas voltadas para os “negros libertos e escravos”. Dentre elas, o colégio São Benedito, criado em 1902 para alfabetizar os filhos dos negros, e o Colégio Perseverança ou Cesarino, primeiro colégio feminino fundado em 1860 por Antônio Cesarino e sua esposa, que eram negros. Dessa forma, ao contrário do que se pensava, os escravos, em certas circunstâncias, conseguiam ter acesso à escolarização, mesmo antes da lei oficial que determinou a abolição da escravatura. Porém, segundo Gonçalves & Silva (2000, p.141), das 403.827 crianças nascidas4 entre os anos de 1871 e 1885 apenas 113 (0,02%) frequentaram estabelecimentos de ensino. Cruz (2005) aponta ainda para estudo de Souza (1999), em que o autor identifica crianças negras em fotografias de diferentes grupos escolares de Campinas, entre os anos de 1897 e 1925. Há um caso semelhante em Piracicaba, no Grupo Moraes Barros, em que há fotos de 1912 e 1917 com a presença de negros. Em um âmbito mais geral, Gonçalves & Silva (2000, p.139 e 140) afirmam que: “A escolarização, entre os homens negros nascidos no início do século XX, quando ocorreu, foi, em sua maioria na idade adulta. Já as mulheres eram encaminhadas a orfanatos, onde recebiam preparo para trabalhar como empregada doméstica ou como costureira”. A primeira chance real de inserção dos negros na educação formal, portanto, teria ocorrido no final do século XIX e início do XX, com o desenvolvimento industrial, que, inclusive, impulsionou o surgimento do ensino popular e do ensino profissionalizante. Segundo Araújo & Silva (2005, p.73), “Pretos e pardos que obtiveram sucesso nesta direção formaram uma nova classe social independente e intelectualizada. A mobilização desta classe configurou-se como um mecanismo de autoproteção e resistência, servindo de base para a (re)organização das primeiras reivindicações sociais negras no pós-abolição e o surgimento dos movimentos negros” . Exemplos desses movimentos são os jornais negros e a entidade de cunho político - Frente Negra Brasileira5. A imprensa negra foi um veículo que tentou mostrar à população negra a importância da educação formal, como será explicitado na seção seguinte. Os textos dos jornais de imprensa negra eram compostos, em sua maioria, por membros de uma elite intelectual, preocupada com a norma culta. Jayme de Aguiar, um dos fundadores do Clarim da Alvorada, frequentou o colégio regular. Correia Leite, do mesmo periódico, apesar de se intitular autoditada, teve acesso à norma padrão, principalmente através de seu colega Jayme de Aguiar: “Ele ia duas vezes por semana e me dava aulas de matemática e português. Comecei a melhorar. (...) O texto não menciona com precisão se esse número se refere a todo o país, ou a uma região específica. 5 A Frente Negra Brasileira foi fundada em São Paulo no ano de 1931, por Arlindo Veiga dos Santos, intelectual negro. Possuía núcleos no Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Rio Grande do Sul, Pernambuco e interior paulista. Essa entidade pretendia irradiar por todo o Brasil a união política e social da população negra e, assim, afirmar seus direitos históricos e reivindicar seus direitos sociais e políticos. Além disso, objetivavam a elevação moral, intelectual, artística, técnica, profissional da população negra e prestavam assistência, social, jurídica, econômica e de trabalho à comunidade. Suas ideias eram difundidas através de cabos distritais que viajavam pelo país arregimentando adeptos e fundando núcleos. 4.

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Consegui ingressar num curso de contabilidade” (CORREIA LEITE, 1992, p.29). Com a saída do colega de O Clarim da Alvorada, em 1929, Correia Leite faz a seguinte afirmação: “– O jornal pode sair com vírgula errada, com erro de concordância, mas vai sair. Porque agora eu tenho umas ideias” (op. cit, p.40). Lino Guedes, um dos fundadores de O Getulino, exemplar da imprensa negra de Campinas, foi filho de ex-escravos, cuja família era protegida do líder político da cidade de Socorro. Estudou no grupo escolar de Socorro, tendo sido um dos fundadores do jornal O Espião, em 1908. Quatro anos depois, obtém seu primeiro emprego como revisor auxiliar do jornal O Diário do Povo. E em 1918, é contratado como revisorchefe do Correio de Campinas. Os três autores mencionados eram colaboradores de O Patrocínio de Piracicaba. O redator-chefe dessa folha foi Alberto de Almeida. Apesar de não terem sido encontrados documentos e registros ao seu respeito, soube-se que veio para Piracicaba, proveniente do Rio de Janeiro, para estudar. Morava e trabalhava em uma república estudantil da Escola de Agronomia Luiz de Queiroz (ESALQ-USP). Embora não se saiba mais detalhes a respeito de sua origem e escolarização, através de seus textos é possível crer que, de alguma forma, Almeida teve acesso à norma culta veiculada nos textos escritos. Concluí-se, portanto, que a maior parte dos indivíduos que organizaram os jornais de imprensa negra, teve acesso a alguma forma de estudo. De acordo com Garcia (1997, p.32): “A diferença desse grupo de intelectuais responsáveis pela Imprensa Negra em relação à maioria da sociedade, não só paulistana, mas brasileira, residia no fato de serem alfabetizados, e nesse sentido, constituírem uma ‘elite’”. Dessa maneira, como será verificado na análise dos dados, é possível perceber uma grande preocupação com a adequação à norma culta vigente na maioria dos artigos que compõem os exemplares do O Patrocínio.

1.2.2. Escolarização na cidade de Piracicaba Piracicaba chegou a ser conhecida como “A cidade das escolas”, denominação atribuída à cidade pelo escritor Thales Castanho de Andrade (1890-1977), em sua obra de 1922 (cf. MONTEIRO, 1988). Realmente, desde a independência do Brasil, a Câmara Municipal preocupava-se com a necessidade de que se instalasse na cidade a “Mestria Régia de primeiras letras”. De acordo com o estudo intitulado Piracicaba “a cidade das escolas” (1988), do jornalista e professor Noedi Monteiro, a primeira escola de primeiras letras para meninos, com 30 estudantes, instalou-se na cidade em 1826. No estudo de Monteiro, até o ano de 1897, não há menção quanto à raça dos alunos destes estabelecimentos, nem de qual seria a situação educacional dos negros após a abolição em Piracicaba. Somente em 1898, há o registro da inauguração da “Escola Igualitária de instrução primária e secundária para o sexo masculino”. O estabelecimento era mantido pela Sociedade Igualitária, na Rua 13 de Maio, n° 11 e dirigido por Joviano Pinto. De acordo com Monteiro (1988, p.9):

História do Português Paulista (III), 2011 – 195 Em seu relatório6 de 1902, como presidente da Câmara de Vereadores de Piracicaba, o Dr. Paulo de Moraes Barros, afirma: “É bastante animador o estado actual da instrução no municipio, quer na parte devida á acção do Estado, quer na parte devida á acção da Camara Municipal, quer na parte devida á acção particular”.

Por fim, Moraes Barros aponta que, na época, Piracicaba era a cidade com maior número de estabelecimentos de instrução do estado de São Paulo e afirma que “para conseguir esse resultado, a sua Camara Municipal não tem poupado sacrifícios e esforços, devendo ser citada, entre outros, a lei que izenta se impostos os directores e professores de collegios e escolas”. (op. cit). Vejamos abaixo um gráfico atual com a porcentagem histórica de pessoas alfabetizadas na cidade de Piracicaba: Gráfico II: População alfabetizada de Piracicaba 100%

94,95% 85%

80%

77% 64,20%

60%

40% 21,90%

20%

0%

3,80% 1836

1900

1940

1960

1980

2000

Piracicaba, dessa forma, mostrou-se uma cidade preocupada com a instrução da população. Apesar de não haver referências específicas à classe social e raça dos alunos, parece que havia esforços para que o ensino abrangesse a grande parcela da população. Em 1902, o município possuía duas escolas em bairros mais distantes do centro, uma em Charqueada e outra em Tanquinho, e quatro escolas noturnas - Escola Nocturna Estadual, Escola Noturna Municipal, Escola Cooperativa da Fábrica de Tecidos e Escola Igualitária Instructiva- com alunos majoritariamente operários. A última delas teria sido aberta para atender à população negra. Contudo, não há confirmação se esse estabelecimento era frequentado somente por negros. No entanto, em foto publicada em um artigo de “A Província de Piracicaba” a respeito da Escola Cooperativa da Fábrica de Tecidos, notei a presença de um aluno negro:

6.

1980.

Esse relatório foi publicado em um caderno especial do “Jornal de Piracicaba”, em 3 de agosto de

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Nas minhas buscas pelas fontes sobre a escolaridade negra, ocorreu também uma agradável surpresa. Os livros de registro dos alunos do Grupo Moraes Barros encontravam-se em armários, muitos bem armazenados e conservados. Esses registros datam de 1911 em diante. E, embora nos registros, constassem apenas o nome dos alunos, naturalidade e filiação, sem nenhuma menção à raça, pude encontrar um arquivo de fotos antigas. Entre elas, uma foto de 1912, reproduzida abaixo, em que se nota um aluno negro. Em outra foto de uma classe de 1917, entre 30 alunos, há dois negros.

Os jornalistas que viriam a colaborar com O Patrocínio e, também, os leitores desse periódico estão, provavelmente, inseridos nesse contexto. Através do histórico apresentado tem-se a impressão de que, no começo do século XX, havia uma grande tentativa na cidade de Piracicaba de alfabetizar as crianças, não importando sua origem e posição social. Havia na cidade, além de escolas para a população infantil, também escolas noturnas para adultos e operários, inclusive uma para a população negra.

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1.2.3. A Imprensa Negra e o Jornal O Patrocínio A Imprensa Negra está diretamente relacionada ao movimento negro, surgido no início do século XX, como herança da luta quilombola que atravessou todo o período colonial e do império. Esses jornais estavam ligados a diversas associações sociais e recreativas afro-brasileiras. Apesar de serem entidades de cunho social, também estavam engajadas em uma mobilização pela cidadania, através de ações para a inclusão do negro no mercado de trabalho, no sistema de ensino e na sociedade civil em geral. Lutavam, portanto, contra o preconceito e a exclusão que o negro pósabolição sofrera em todas as esferas. A esse respeito, Bastide (1951, p. 110) observa que: “Esses jornais procuram primeiramente agrupar os homens de cor, dar-lhes o senso da solidariedade, encaminhálos, educá-los a lutar contra o complexo de inferioridade”. Portanto, o primeiro objetivo desta imprensa era a educação, o protesto ficava em segundo plano. Esse fator pode ser confirmado em diversos textos do jornal O Patrocínio, como na convocação para o primeiro Congresso da Mocidade Negra do Brasil: Si Piracicaba goza a fama de culta, representada pelos seus filhos brancos, é necessário que os filhos negros de Piracicaba procurem dar-lhe igual valor. Precisamos seguir o exemplo maravilhoso dos homens de cor de Botucatu, que não trepidaram em formar uma commissão composta de nomes de reconhecida idoneidade moral, com o fim unico de pugnar pelo congresso, angariando donativos com os quaes possam auxiliar a commisão organisadora do primeiro Congresso da Mocidade Negra do Brasil (Pat.-20/10/1929,p.6) 7

Além de conscientizar os negros, esses jornais criticavam atitudes tidas por infames. Condenavam o alcoolismo e faziam um apelo à moralidade e à dignidade nas relações sociais. Também, lutavam contra estereótipos, comumente ligados à criminalidade, indolência, deboche, preguiça e falta de iniciativa. Chegavam até a condenar os “batuques”, os sambas e as danças populares. A Imprensa Negra, segundo Bastide (op.cit.), caracterizou-se ainda por ser um grande instrumento de puritanismo negro. Os artigos clamavam pelo comportamento adequado nas relações entre homens e mulheres, falavam da maneira correta de se vestir e de boas maneiras. De acordo com Nascimento (2003, p. 227): “Tal postura reflete a necessidade de afirmar, contra a imagem estereotipada cultivada pelo racismo, outra limpa e positiva, de honorabilidade e polidez, para contrapor à imagem do negro como selvagem”, questão essa que pode ser verificada no seguinte trecho de O Patrocínio: Não gosto desses negros que vivem por ahi, enfulhados por esses botécos. Não gosto dos gestos desses homens, que ao levar o copo á bocca quebrando o pulso no ar, destacam para o lado o dedo minimo meio arqueado. Aquillo è feio é rediculo. E geralmente os que assim procedem, são sempre pretenciosos e convencidos. Não gostam que se lhes apontem o mal que pode acarretar esse pernicioso vicio. (O Pat.-7/4/1928, p. 2)

7. A referência obedecerá ao seguinte padrão: o jornal O Patrocínio será abreviado por Pat. e a Gazeta de Piracicaba por Gaz., em seguida será apresentada a data e a página em que o item se encontra.

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Para o estudo da Imprensa Negra paulista, os autores propõem periodizações diferentes, de acordo com os objetivos e o corpus de sua pesquisa. Bastide (1951) divide os jornais em três fases. A primeira, de 1915 a 1930, foi iniciada com O Menelick, de São Paulo. Essa data coincide com a Primeira Guerra Mundial e o desenvolvimento do ensino gratuito primário no Brasil. O segundo período se estende de 1930 a 1937. Com o restabelecimento do regime democrático, a Imprensa Negra retorna em sua terceira fase, de 1945 em diante. Diferentemente, Ferrara (1986) considera que o primeiro momento vai de 1915 a 1923, no qual os jornais negros dessa época, bem como os periódicos provincianos não negros, são essencialmente veículos de comunicação e divulgação social, como falecimentos, casamentos, festas religiosas, quermesses, mexericos, entre outros. Segundo Bastide (op.cit), para a classe negra era importante mostrar que os negros conheciam as regras de polidez, faziam parte da sociedade e celebravam sua existência, não sendo eles, portanto, os selvagens que muitos imaginavam. Conforme o periódico, as notícias sociais ocupavam entre 30 e 60% do número de colunas. No ano de 1923, o jornal O Getulino foi fundado em Campinas. Esse periódico apesar de ainda trazer as notas sociais dos anteriores, possuía um tom mais reivindicatório, abrindo, por essa razão, a segunda fase da Imprensa Negra que perduraria até 1937, quando há a instauração do Estado Novo. Ainda na segunda fase, em 1924, surge em São Paulo O Clarim da Alvorada, fundado por José Correia Leite e Jayme de Aguiar, no qual o caráter combativo acentua-se e começa a se aprimorar. A sua intenção era a de reerguer a memória das lutas passadas e convocar a comunidade a reorganizar-se para dar continuidade às mesmas. O periódico piracicabano O Patrocínio – um “orgam, literario, critico e humoristico” não fugiu aos padrões, objetivos e ideais da Imprensa Negra como um todo. Na organização do conteúdo de suas matérias encontramos a seção social, com notícias de casamentos, aniversários, batizados, falecimentos. Na seção literária, por assim dizer, temos poemas e contos. Não faltam ainda as notas esportivas e anúncios. Nota-se que, acima de tudo, o jornal dá um espaço privilegiado para os artigos de protesto e reivindicação, na linha de O Getulino. Portanto, esse periódico faz parte da segunda fase descrita por Ferrara (op. cit). O redator-chefe dessa folha, Alberto de Almeida, assina artigos em todos os nove exemplares. Em sua maioria são textos de protesto e conscientização da classe negra, como neste exemplo: Quando iniciamos nesta pequena lucta verdadeiramente infausta e desigual, tivemos em mira unicamente um fim: -- prestar pequenissimos e desinteressados serviços á nossa classe, que na opinião de muitos é a ultima na escala social. Queriamos e queremos ver os homens de cor unidos, trabalhando todos para o bem estar commum, reunidos em sociedades que nos educassem e elevassem nos a um certo grau social, de modo a não ficarmos tão distanciados das outras classes. (Pat. -23/3/1930, p. 2)

O principal colaborador desta folha, porém, foi Jayme de Aguiar, jornalista de grande prestígio por sua atuação no jornal da Imprensa Negra paulistana O Clarim da

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Alvorada. De fato, nos nove exemplares coletados, encontramos artigos e poemas de sua autoria em seis deles. Moura (2002, p.15) coletou um depoimento do jornalista a respeito dos jornais O Patrocínio e O Getulino de Campinas, fundado pelos irmãos Andrade, Lino Guedes e outros: Esses dois jornais foram um sucesso. A vinda, logo após a revolução, de jornalistas campineiros negros para São Paulo, como Gervásio Oliveira, Benedito Florêncio, Lino Guedes e outros, possibilitou a sua participação também na grande batalha em prol da grandeza do negro. Todos eles irão participar da imprensa negra paulistana. Para efeito de comparação serão analisados dados do jornal da imprensa majoritária Gazeta de Piracicaba editado na mesma época de O Patrocínio. Esse jornal era o mais antigo da cidade na época, tendo sido fundado em junho 1882 e perdurado até 1938. A Gazeta de Piracicaba era a principal fonte de informação imprensa da cidade no período de transição do Brasil Império para a República. Desde seu início, foi um periódico ligado ao ideal republicano, tendo sido divulgador dos propósitos do futuro presidente Prudente de Moraes, natural de Itu e morador da cidade de Piracicaba até seu falecimento em 1902. Como exposto nas considerações iniciais, a colocação pronominal foi escolhida como fenômeno gramatical a ser investigado na linguagem dos jornais, pois, apresenta aspectos que caracterizam particularidades do PE e PB. Tendo em vista que os jornais negros eram escritos por negros, para uma população negra, acreditávamos que os mesmos dariam espaço maior ao uso da próclise nos diferentes contextos verbais e sentenciai. Já o jornal da imprensa majoritária apresentaria uma colocação mais próxima dos padrões lusitanos. Contudo, como veremos na análise quantitativa dos dados, ambos os jornais têm padrões muito semelhantes. Ou seja, embora o uso proclítico em certos contextos revele a variedade brasileira, ainda é a ênclise que alcança um percentual mais elevado. 2. A COLOCAÇÃO DOS PRONOMES CLÍTICOS NO PE e PB Em PE, a ênclise representa a colocação padrão, como revelam as pesquisas realizadas com base não só em material escrito variado, como também em dados de língua falada nas diferentes regiões do país, incluindo a fala de pessoas analfabetas, ou de baixa escolaridade8. A seguir, destaco alguns contextos que mostram o uso categórico da ênclise. Observe-se que o fator relevante é a natureza do elemento em posição pré-verbal. Assim, nos contextos de verbos finitos (flexionados) ocorre ênclise categórica com verbos em posição inicial absoluta (01), com verbos antecedidos por sujeito referencial (SN) (02), ou sujeito pronominal (03), com advérbios de tempo, modo, lugar (04 e 05). Há ainda ênclise categórica nas orações coordenadas (06) e reduzidas (07)9. 8. cf. site do Corpus Dialectal para Estudo da Sintaxe ( CORDIASL-SIN) disponibilizado em www. clul.ul.pt. 9. Na minha dissertação, também analisei a colocação pronominal com elementos topicalizados.

200 – vaz cilindro _ A imprensa negra de Piracicaba e a colocação... (01) Preparei-lhe um lindo jantar. (02) O João deu-lhe um presente. (03) Ele encontrou-as no cinema. (04) Ontem convidei-as para fazer compras. (05) Frequentemente visitei-o no hospital. (06) O José leu o livro e emprestou-o à Maria. (07) Chegando à casa, preparo-te um bom jantar.

Por sua vez, a próclise está restrita a contextos particulares que apresentam palavras atratoras pré-verbais, tais como: complementizadores (08), negação (09), quantificadores (10) e certos advérbios (11). (08) O José disse que lhe deu o livro (09) Ele não as encontrou no cinema. (10) Todos o visitaram no hospital. (11) Só ontem as convidei para jantar.

Em PB, ao contrário, a próclise tornou-se o padrão básico. Como é possível verificar nos exemplos abaixo, a colocação pré-verbal independe da presença de palavras atratoras. Os contextos listados de (12) a (17) são semelhantes aos apresentados anteriormente para o PE. (12) Nos vemos amanhã. (13) O José me vendeu este carro. (14) Ele nos procurou semana passada. (15) Depois te conto tudo. (16) Dormi cedo, mas me levantei muito tarde. (17) Chegando em casa, te ligo.

A preferência dos brasileiros pela colocação proclítica pode ser verificada não apenas em situações informais, na fala de iletrados. Como aponta Schei (2003), em seu estudo baseado no material do projeto NURC10, a próclise é a colocação primordial, verificada em cerca de 90% dos casos analisados. Além disso, na linguagem literária há variação entre ênclise e próclise, como atestam Torres-Morais & Ribeiro (2005) em seu estudo a respeito da colocação pronominal no livro O Alquimista de Paulo Coelho (1988). Nessa obra, o autor apresenta próclise em contextos em que, de acordo com a prescrição gramatical, baseada na norma lusitana, deveria ocorrer ênclise. Um exemplo seriam as sentenças com sujeito pronominal pré-verbal e conjunção coordenativa inicial (18 a e b). De fato, na “tradução” do romance feita para a edição portuguesa, o que se encontra é o que está em (19 a e b). (18) a. Ele me parece mais velho e mais sábio. b. – ... e me levava até as Pirâmides do Egito. (19) a. Ele parece-me mais velho e mais sábio. b. – ... e levava-me até as Pirâmides do Egito. (TORRES-MORAIS & RIBEIRO, 2005, p.31) 10. Projeto NURC – Projeto de Estudo da Norma Urbana Culta. Seu corpus consiste em mais de 1500 horas de língua falada, registradas durante os anos 70 nas cidades de Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. E todos seus informantes possuíam formação universitária.

História do Português Paulista (III), 2011 – 201

Outro traço notável da gramática brasileira é o da colocação dos clíticos em posição inicial absoluta na frase, ou seja, na ausência de qualquer constituinte antes do verbo. No PE, tal ordem esteve praticamente ausente ao longo de toda a sua história. A colocação proclítica nos contextos V1, portanto, atinge até mesmo as formas verbais do imperativo,como exemplificado em (20), contexto em que a ênclise é categórica em PE. (20) Me dê um décimo de suas ovelhas (PB) (TORRES-MORAIS & RIBEIRO, 2005, p.32) Também as construções com dois verbos apresentam diferenças no padrão de colocação no PB e no PE, como atestam os exemplos abaixo: (21) A Maria pode me encontrar hoje. (PB) (*PE) (22) A Maria pode-me encontrar hoje. (PE) (23) A Maria pode encontrar-me hoje. (PE) (PB)

Observe-se, em particular, o caso da próclise ao verbo principal (21), que se revela também como estratégia implementada no PB (cf. Pagotto, 1993 e Cyrino, 1993). De fato, com base em sentenças como (21) e (22), temos que a colocação pronominal em PB e PE não se dá ao mesmo elemento na frase: em (21) o pronome se encontra proclítico ao verbo principal e, em (22), está enclítico ao auxiliar. Com base neste contraste, Galves (1998, p.83) afirma que no PB há “... uma relação mais lexical, com o verbo fonte da interpretação – do que gramatical – com o verbo auxiliar portador dos morfemas de tempo e concordância”. Vale destacar outro ponto: mesmo na presença de operadores de próclise, a colocação pronominal não é a mesma nas duas variedades. É o que mostra Galves (1998) em sua análise dos dados retirados do corpus do NURC. Nos contextos com locuções verbais, a presença da negação e conjunção subordinativa não ativa a subida do clítico, que se mantém proclítico ao verbo principal. (24) Agora não tinha me lembrado.

(25) Essas indústrias novas que estão se implantando.

Ora, nos dois casos, o PE apresenta um movimento longo do clítico, condicionado pela presença das partículas atratoras, não e que, como ilustrado em (26) e (27). Nestes casos, os clíticos estão proclíticos ao auxiliar e não ao verbo principal.

(26) Agora não me tinha lembrado. (27) Essas indústrias novas que se estão implantando.

As variantes brasileira e portuguesa apresentam, portanto, padrões bem distintos ao que se refere à colocação pronominal11. Contudo, as mudanças que hoje caracterizam 11. A respeito de todas essas diferenças entre PE e PB, diversos estudos linguísticos comprovam que, de fato, as duas variantes percorreram caminhos diferentes a partir do português clássico, o que acarretou padrões distintos de colocação pronominal (cf. PAGOTTO, 1993; MARTINS, 1994; TORRES-MORAIS, 1995; GALVES, BRITTO & PAIXÃO DE SOUSA, 2005; e GALVES, 2007)

202 – vaz cilindro _ A imprensa negra de Piracicaba e a colocação...

os usos cultos brasileiros não são reconhecidas nas gramáticas prescritivas. Dessa forma, a educação formal brasileira pretende recuperar, e em muitos casos, introduzir, tanto o uso como a colocação enclítica dos pronomes átonos. Entretanto, como ilustramos acima, com exemplos retirados dos dados do NURC e da língua literária, a escolarização consegue resgatar com algum êxito as formas clíticas, mas não sua colocação enclítica. Deste modo, tanto na linguagem oral, quanto escrita, os falantes brasileiros mantêm, prioritariamente, a colocação proclítica (cf. KATO, 2006). Observe-se, porém, que ainda restam contextos em que a ênclise parece ser favorecida no PB. Um deles mostra o pronome enclítico a verbos no infinitivo. Outro apresenta certas “formas cristalizadas” 12. No primeiro caso, o falante realiza a ênclise com pronomes de terceira pessoa (28) para evitar o uso estigmatizado de um pronome pessoal reto em função acusativa. (28) Precisamos avisá-la a respeito da reunião.

A respeito do segundo caso, Mário de Andrade, já em 1925, fez a seguinte afirmação: “Nós brasileiros, geralmente antepomos o pronome ao verbo. Geralmente. Tem, porém, alguns verbos em que se formou como uma locução de pronome e verbo com este antes. Assim como o verbo sentar” (apud PINTO, 1990, p. 233, 234). São exemplares dessa categoria: casar-se, chamar-se, tornar-se: (29) Eles casaram-se em março.

Outro fator interessante, em relação ao uso da ênclise pelos brasileiros, são casos em que mesmo havendo palavras ativadoras de próclise na sentença, o autor opta pela colocação pós-verbal. No corpus do projeto NURC, por exemplo, foram localizados três casos em que o pronome está posposto ao verbo em uma frase subordinada, ou seja, em contexto favorecedor de próclise (cf. Schei, 2003)13. O mesmo tipo de dado foi verificado no jornal O Patrocínio, no qual há 11 exemplos em que os pronomes estão enclíticos ao verbo, mesmo havendo um operador de próclise na sentença. Na Gazeta de Piracicaba, há, também, cinco dados semelhantes: (30) Quando lá chegámos eu fiquei satisfeitissima por encontrar todas as minhas amiguinhas, que acolheram-me com os seus afaveis sorrisos, provas evidentes de sinceridade. (Pat. – 7/7/1929, p.2) (31) Passa uma mulher, bella mulher, todos erguem-se, offerecem seus amores, com olhares apaixonados; (Pat. – 7/7/1929, p.3) (33) Para o mesmo fim realizou se hontem um esplendido sarau dansante que prolongou se, com harmonia e cordialidade, até altas horas. (Gaz. – 8/4/1928, p.2) 12. A denominação “formas cristalizadas” foi adotada por Pereira (1981). Schei (2003) aponta para o fato desta nomenclatura talvez não ser a mais adequada, uma vez que estes verbos não tornam a ênclise obrigatória, mas apenas a favorecem. Os estudos sobre este assunto não esclarecem se a ênclise com estes verbos é favorecida com todos os pronomes clíticos ou se apenas com se. 13. Autoras como Carneiro (2005, apud 2007, p.526) e Vieira (2004) também encontraram esse tipo de construção em seus corpora.

História do Português Paulista (III), 2011 – 203 (34) Do contrario, ver’nos’emos forçados a não publical’as. (Gaz. – 19/10/1930, p.4)

Alguns autores têm tratado estes casos como um fenômeno de hipercorreção no sentido em que revelariam um domínio equivocado dos usos de prestígio. Neste caso, ao tentarem se adequar à norma culta para mostrar plena habilidade com a língua, os indivíduos cometeriam equívocos, utilizando a ênclise em contextos de próclise ou mesóclise. Recentemente, porém, esta hipótese tem sido contestada. A ênclise nestes contextos faria parte da mesma gramática que privilegia a próclise. Como dito anteriormente, a escolha de dois jornais distintos, um representativo da imprensa negra, outro da imprensa majoritária teve como motivação um pressuposto: a de que os jornais negros deixariam entrever com mais força a colocação pronominal brasileira, uma vez que as dificuldades enfrentadas pelos negros no acesso à escolaridade formal teriam, de alguma forma, impedido um domínio mais efetivo dos padrões cultos14. Por outro lado, mesmo supondo que os jornalistas negros fizessem parte de uma elite letrada, restava a hipótese de que eles estavam escrevendo para a comunidade negra em geral, o que lhes motivaria a nivelar a linguagem aos usos efetivos da língua. No entanto, a previsão não se realizou, como mostram os resultados quantitativos obtidos com os dados dos dois jornais selecionados. 3. ANÁLISE DOS DADOS A análise quantitativa dos dados mostrou que o padrão de colocação pronominal encontrado em O Patrocínio e na Gazeta de Piracicaba é muito semelhante. Esse fato contraria a hipótese primordial de que o jornal da imprensa negra apresentaria uma colocação diferenciada da do jornal de imprensa majoritária. No entanto, embora ambos os jornais ainda apresentem os padrões da língua de prestígio, começam a revelar, em alguns contextos sentenciais e verbais, a colocação que caracteriza a variedade brasileira. Ao analisar os nove exemplares de O Patrocínio, foram computados 394 dados em que há a ocorrência de clíticos nos contextos estabelecidos na seção 3. Na Gazeta de Piracicaba há 312 ocorrências de clíticos. Nos casos dos verbos simples, foram considerados apenas contextos neutros, ou seja, sem a presença de operadores de próclise. Já, com os grupos verbais, as ocorrências com atratores foram computadas, pois, nesses casos, a colocação apresenta variação. Em relação à colocação geral dos pronomes clíticos 15, as porcentagens dos dois jornais são praticamente idênticas, como se pode verificar nos dois gráficos a seguir:

14. O estudo de Duarte e Pagotto (2004) segue a mesma linha, uma vez que ao analisarem as cartas de um casal para seus netos entre 1879 e 1892, os dados mostraram que o avô era mais normativo, pois apresentava um padrão mais enclítico em suas cartas. A avó, ao contrário, deixava entrever o vernáculo da época, sendo mais proclítica. 15. Na minha dissertação, também abordei aspectos relacionados à colocação dos pronomes de primeira, segunda e terceira pessoas.

204 – Vaz Cilindro _ A imprensa negra de Piracicaba e a colocação...

Gráficos III e IV: Resultado geral da colocação dos clíticos no corpus. O Patrocínio

Gazeta de Piracicaba

24%

25%

75%

76%

Próclise

Ênclise

Próclise

Ênclise

3.1. Verbos Simples Iniciando a apresentação com as formas verbais simples, destaco dois gráficos, os quais apresentam os resultados envolvendo os diferentes elementos pré-verbais. Estes gráficos são importantes, porque revelam algumas diferenças percentuais entre os dois jornais, quando se leva em conta tais elementos. Por exemplo, no caso do sujeito pronominal, em O Patrocínio há 74% de ênclise vs. 26% de próclise. Na Gazeta, porém a próclise é categórica. Gráfico V: A colocação dos pronomes clíticos com verbos simples, nos contextos

selecionados em O Patrocínio. Gráfico VI: A colocação dos pronomes clíticos com verbos simples, nos contextos selecionados na Gazeta de Piracicaba.

História do Português Paulista (III), 2011 – 205

A seguir, explicitaremos os resultados referentes a cada um dos contextos acima mencionados. 3.1.1 Verbos em posição V1 Como atestaram diversos estudos, uma importante marca do português brasileiro do século XX é a possibilidade de o pronome encontrar-se proclítico ao verbo que inicia uma oração, ou seja, em posição V1. No corpus estudado, porém, há uma única ocorrência de próclise com a ordem V1 em O Patrocínio e nenhum caso na Gazeta. Essa propriedade do PB, portanto, ainda não conseguira transpor totalmente a norma reguladora da linguagem escrita. (34) — E’ verdade; me esqueci que a professora está na obrigação de apresentar o discipulo. (Pat. – 23/3/1930, p.1)

3.1.2 Sujeito referencial e pronominal Em relação às construções com sujeito referencial (SN) e sujeito pronominal, como dissemos, o padrão europeu apresenta a ênclise, colocação esta que já é categórica a partir do século XIX (cf., por exemplo, Galves, Britto e Paixão de Sousa, 2005) No PB, a colocação comum é a próclise. Note-se que, com relação a estes contextos, os jornais apresentam uma percentagem de próclise relativamente significativa. Assim, em O Patrocínio, há 33% de próclise com SN sujeito, sendo esta porcentagem aumentada para 74%, na presença do sujeito pronominal. (35) Naturalmente o meu amigo J. F. N. se esqueceu de que macaco velho não mete a mão nem acha lenha sem verificar a cunha; (Pat. –22/4/1928, p.4) (36) Ainda hontem, quando nós estavamos na janella, ela me cumprimentou! (Pat. -7/4/1928, p.1)

Na Gazeta de Piracicaba, esse fato é confirmado, uma vez que há próclise em 44% dos casos com SN e Sujeito próclise categórica com sujeito pronominal. (37) Quando eu era pequenina, meus Paes me deram Emulsão de Scott. Continuei a tomal-a quando ás vezes me sentia atacada da menor debilidade e por isso poucas vezes estive adoentada. (Gaz. – 23/3/1930, p.2) (38) — Vendo-te assim remoçada, eu me revolto com a sorte que foi tão injusta commigo: deu-me os peores Incommodos Uterinos aos quaes devo este aspecto vencido, de velhice prematura. (Gaz. – 23/3/1930, p.4)

3.1.3 Advérbios de tempo, modo e lugar Com os advérbios de tempo, modo e lugar, em ambos os jornais houve maior ocorrência de ênclise no corpus, embora a quantidade de próclise seja bastante

206 – vaz cilindro _ A imprensa negra de Piracicaba e a colocação...

significativa. Dos 25 exemplos verificados em O Patrocínio, 36% apresentam próclise e 64% ênclise. Na Gazeta de Piracicaba, dos 23 casos, 40% dos clíticos antecedem os verbos e 60% estão pospostos. (39) ...; depois, passado alguns annos, nos separamos por motivo de sua mudança para outro bairro. (Pat. – 7/4/1928, p.1) (40) Lá se achavam todos: mandados e mandões (Gaz. – 8/4/1928, p.2)

3.1.4 Orações coordenadas A respeito das sentenças coordenadas, os conectivos que as introduzem não ativam a próclise no PE. No português clássico, porém, como mostra Torres-Morais (1995, p.167), conectivos e e mas podiam ativar a anteposição dos clíticos em contextos onde eram tratados como advérbios. Nesses casos, atuavam como elemento inicial evitando a violação à restrição V1. No corpus deste trabalho, contudo, tanto no exemplar de imprensa negra como no de imprensa majoritária, a ênclise é predominante na presença da conjunção e. Na Gazeta de Piracicaba não há dados com mas. Em O Patrocínio, porém, nos cinco dados com essa conjunção, três apresentam próclise e dois apresentam ênclise. Dessa forma, podemos concluir que, apesar da preferência pela ênclise, já há variação no corpus. (41) Escravisaram no, libertou-se; queriam-no ignorante, aprendeu a ler e instruiu se; puzeram-lhe a cabeça a premio; redobrou-lhe o vigor e a audacia na defesa da grande e nobre causa de que se constituira paladina. (Pat. – 29/6/1930, p.2) (42) Procuremos evitar a tuberculose, fortificando os nossos pulmões e alcatroando-os com Cognac de Alcatrão Xavier. (Gaz. – 28/9/1929, p.2) (43) Não digo com certeza quem é o felizardo, porque não sou linguarudo; mas me parece que é o Luiz Dias. (Pat. – 29/9/1929, p.2)

Os resultados apresentados nessa seção nos mostraram que, apesar da ênclise ainda ter presença significativa nos textos analisados, alguns contextos já revelam a colocação que caracteriza a variedade brasileira. De fato, observou-se que a próclise é muito produtiva em contextos como o de sujeito pronominal antecedendo o verbo. Além disso, nos contextos com SN sujeito e advérbios pré-verbais, a diferença percentual entre as duas colocações é de apenas cerca de 30% em favor da ênclise. Esses fatores, portanto, demonstram claramente que, já no início do século XX, a colocação proclítica estava presente em textos escritos e não somente na língua falada. 3.2 Orações infinitivas preposicionadas No caso das orações infinitivas preposicionadas, estudos atestam que tanto na variante brasileira quanto na europeia, há alternância entre próclise e ênclise, com

História do Português Paulista (III), 2011 – 207

as preposições para e de. Em relação à preposição a, o uso da variante pós-verbal é categórico em PE, enquanto em PB ocorre variação. Os gráficos a seguir apresentam os resultados obtidos com a análise do corpus em questão: Gráfico VII: Colocação dos pronomes clíticos em sentenças preposicionadas de O Patrocínio. O Patrocínio 80 70

73

67

66

60 50 34

40

27

30

Próclise

33

Ênclise

20 10 0 para

de

a

Gráfico VIII: Colocação dos pronomes clíticos em sentenças preposicionadas da Gazeta de Piracicaba. Gazeta de Piracicaba 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0

82 64 54 46

Próclise

36

Ênclise

18

para

de

a

Os dados revelam que, com para e de há variação semelhante ao que ocorre no PE. Abaixo apresento alguns casos da colocação proclítica: (44) Possuindo-se esta indispensavel qualidade, por certo todas as barreiras serão movidas e vencidos todos os obstaculos que apparecerem para se anteporem ao nosso intento! (Pat. – 20/10/1929, p.8) (45) Para se evitar a grippe e os resfriados, deve-se tomar de manhã e à noite um calice pequeno de Cognac de Alcatrão Xavier. (Gaz. – 28/9/1929, p.2)

208 – vaz cilindro _ A imprensa negra de Piracicaba e a colocação... (46) É o dia em que a mulher negra brasileira das gerações futuras, há de encher se de orgulho pelas tradicções dos seus antepassados. (Pat. – 28/9/1929, p.1) (47) Os progressos da sciencia conseguiram descobrir o meio de se evitar a tuberculose e que consiste em se evitar as grippes e os resfriados. (Pat. – 28/9/1929, p.2)

Já, com a preposição a, embora a ênclise seja mais produtiva, não é categórica como em PE. De fato, há um percentual significativo de próclise nesse contexto. (48) E quando o vento tornar a vos trazer outra vez a estes lugares, talvez haja passado já muito tempo! (Pat. – 19/10/1930, p.2) (49) ... procedido hoje ao sorteio dos vinte e oito jurados que devem servir na segunda sessão ordinaria do Jury, desta comarca, no corrente anno, a iniciar se no dia 7 de Maio vindouro, às onze horas, ... (Gaz. – 8/4/1928, p.3)

3.3. Grupos Verbais A colocação dos pronomes clíticos em grupos verbais no PB atual também difere em diversos aspectos do PE moderno e, consequentemente, do que está descrito nas gramáticas normativas. Como mencionado na seção três, em PE a colocação comum é a que está apresentada em (51) e (52), enquanto em PB a colocação padrão é a que está em (50) 16: (50) A Maria pode me encontrar hoje. (PB) (*PE) (51) A Maria pode-me encontrar hoje. (PE) (52) A Maria pode encontrar-me hoje. (PE) (PB)

Mesmo na presença de operadores de próclise, a colocação pronominal não é a mesma nas duas variedades, como atestam os exemplos abaixo – (53) e (54), do PB, (55) e (56), do PE: (53) Agora não tinha me lembrado.

(54) Essas indústrias novas que estão se implantando. (55) Agora não me tinha lembrado. (56) Essas indústrias novas que se estão implantando.

Para esta análise, chamaremos de V1 o primeiro verbo do grupo verbal e V2 o segundo. Há quatro possibilidades de colocação dos pronomes clíticos com grupos verbais: (i) clítico anteposto ao V1 – cl V1 V2; (ii) pronome entre os verbos, ligado ao V1 por hífen - V1-cl V2; (iii) clítico entre os verbos, sem o hífen – V1 cl V2; (iv) pronome enclítico ao V2 – V1 V2 cl17. O gráfico abaixo expressa os resultados gerais obtidos na analise do jornal representativo da imprensa negra. Mesmos exemplos anteriores, aqui renumerados. Esses dados algumas vezes apresentam hífen e em outras não, porém como nesse caso esse fator não interfere na interpretação dos dados, ele não será computado. 16. 17.

História do Português Paulista (III), 2011 – 209

Gráfico XIX: Resultado geral com grupos verbais em O Patrocínio.

O Patrocínio

29% 36%

cl V1 V2 V1- cl V2 V1 cl V2 V1 V2 cl

21%

14%

O gráfico X apresenta os resultados da análise do jornal representativo da imprensa majoritária. Gráfico X: Resultado geral com grupos verbais na Gazeta de Piracicaba. Gazeta de Piracicaba

30%

cl V1 V2 45%

V1- cl V2 V1 cl V2 V1 V2 cl 10% 15%

De acordo com diversos estudos já mencionados, a colocação usual dos clíticos com grupos verbais em PB é a terceira (V1 cl V2) em que o pronome se encontra proclítico ao segundo verbo e não enclítico ao primeiro, como é a norma no PE. No corpus analisado, essa colocação acontece com mais frequência em O Patrocínio, atingindo o percentual de 21% dos casos, e 15% na Gazeta de Piracicaba. A diferença percentual entre ambos, no entanto, é pequena, o que nos permite afirmar que a colocação pronominal característica do PB atual não encontra um solo favorável no jornal negro em oposição ao jornal da imprensa majoritária. Em relação à ordem cl V1 V2, a mesma ainda é bastante produtiva na variante lusitana, mas muito pouco usada no PB culto, falado e escrito. Contudo, os jornais estudados se aproximaram do PE, apresentando percentagens significativas dessa colocação – 30 % na Gazeta de Piracicaba e 36% em O Patrocínio. Observe-se que, contra as nossas expectativas, essa ordem é mais produtiva no jornal negro.

210 – Vaz Cilindro _ A imprensa negra de Piracicaba e a colocação...

Para analisar com mais clareza os diferentes padrões de colocação dos clíticos nesses contextos, os grupos verbais foram divididos de acordo com a natureza de V1 e V2. No caso de V1, eles foram categorizados como verbos auxiliares, de controle, causativos e perceptivos. Observe-se primeiramente os gráficos gerais de colocação dos pronomes clíticos com grupos verbais no periódico O Patrocínio e na Gazeta de Piracicaba: Gráfico XI: Resultados gerais de colocação com verbos auxiliares, de controle, causativos e perceptivos em O Patrocínio.

Gráfico XII: Resultados gerais de colocação com verbos auxiliares, de controle, causativos e perceptivos na Gazeta de Piracicaba Gazeta de Piracicaba 80

68

70 60 50

cl V1 V2

47

40 30

23

20 10 0

V1-cl V2

33 33

30 19

V1cl V2 17 17

10 0

V. Auxiliar

3

V. Controle

V. Causativo / Perceptivo

V1 V2 cl

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No PE, grupos verbais com auxiliares ter, haver, estar, ir têm duas possibilidades de colocação pronominal: ênclise ao verbo principal, ou ao verbo flexionado. O PB, como já mencionado, favorece a colocação em que o pronome pode estar proclítico ao verbo principal (V1 cl V2). Além disso, em PE, pode haver um movimento longo do clítico, que se apresenta em próclise ao verbo flexionado (cl V1 V2), na presença de atratores. Em O Patrocínio a colocação predominante com verbos auxiliares é a última, com 39%. No entanto, apenas 50% deste total mostra a subida do clítico com operador de próclise (ex. 57). Essa colocação é seguida por V1 cl V2 com 35%, mostrando já no corpus escrito o padrão do PB moderno (ex. 58). (57) Ainda que ja ha dois seculos se haja estabelecido nos Estados Unidos a raça negra, ha apenas tres annos que se começaram a organizar, e por-se em contato uns com os outros os differentes grupos catholicos pertencentes a essa raça ... (Pat. – 7/9/1928, p.1) (58) Cheio de odio, de dor, de ciume, tudo misturado, fui me colocar ao lado de uma cesta de rosas, mas (sic) ebrio do que um alcoolatra. (Pat. – 23/3/1930, p.1) Na Gazeta de Piracicaba, a colocação predominante também é cl V1 V2, com 47%, sendo 63% com atratores (ex.59), seguida de V1 cl V2, com 30% (ex. 60): (59) Não quero acreditar que o sr. Júlio Prestes, que é um moço de inegavel honestidade, esteja a par do que se vem praticando em seu nome. (Gaz. – 28/9/1929, p.1) (60) Este novo gremio futebolistico local vae se impondo, dia a dia, pelo aumero de adhesões, que vem obtendo. (Gaz.– 20/8/1930, p.2) O segundo grupo verbal a ser levado em consideração é o que apresenta os chamados verbos de controle – com significação modal ou aspectual – constituídos por predicados epistêmicos, volitivos e conativos, como querer, desejar, prometer, poder, dever. De acordo o padrão lusitano, o pronome deve ocorrer enclítico ao verbo principal não finito (V1 V2 cl). No PB, porém, há normalmente próclise ao verbo principal (V1 cl V2). Os resultados com verbos de controle nos dois jornais diferem dos dados com verbos auxiliares. O uso dos clíticos com esse grupo de verbos segue com mais fidelidade o padrão normativo da língua. No periódico de imprensa negra, 50% dos casos seguem a norma culta V1 V2 cl; 25% ilustram as outras colocações, a saber: cl V1 V2 e V1 cl V2. Entretanto, não há nenhum exemplo de V1-cl V2, também produtivo no PE. Vejamos alguns exemplos: (61) A vida é tudo nesse mundo; tu estando viva, posso amar-te onde tu estiveres, porque em todas as partes há cèu, flôres e Deus. (Pat. – 7/9/1928, p.3)

212 – vaz cilindro _ A imprensa negra de Piracicaba e a colocação... (62) ... ; pois num ambiente pobre como nosso, só mesmo a custa de muita força de vontade se pode conseguir alguma cousa. (Pat. – 20/10/1929, p.1) (63) Ella não se extingue, porém, pode se abrandal-a, o que, si não o fizermos havemos de nos arrepender, pois, a sua retenção poderá nos causar desagradaveis consequencias. (Pat. – 29/6/1930, p.1) No exemplar da imprensa majoritária, a colocação lusitana também é preponderante, equivalendo a 68% do corpus (64) Mas o seu orgulho ferido impediu-a de ver claro. Desvairada pela sua cólera, ella desde logo tomou partido violento contra o cardeal e quiz abatel-o. (Gaz. – 20/8/1930, p.1)

O último grupo dessa seção é o dos verbos causativos – mandar, fazer, deixar – juntamente com os perceptivos – ver, ouvir, sentir. Nesse caso, a colocação normativa é a ênclise ao verbo da oração causativa (V1-cl V2). No PB, porém, domina uma colocação inovadora, ou seja, próclise ao verbo da oração principal (cl V1 V2). Em O Patrocínio, a colocação segue o padrão inovador brasileiro com 52% de cl V1 V2 e 43% seguindo o padrão culto. No entanto, 33% apresentam hífen (V1-cl V2). Os 10% restantes apresentam a ordem V1 cl V2. (65) E’ a saudade que vive e viverá sempre n’alma sofredora, porque a essencia do passado a faz nascer. (Pat. – 7/9/1928, p.1) (66) Deixae-o morrer em paz, não lhe toqueis porque seria inútil animal - o para a vida. (Pat. – 7/9/1928, p.1) (67) Tambem, outro não fora o meu intuito, senão o de deixal a esperar bastante, para que tivesse uma porção de coisas bellas para me dizer. (Pat. – 23/3/1930, p.1)

Na Gazeta de Piracicaba, a colocação lusitana (V1-cl V2) é majoritária em 50% dos dados. Contudo, 33% apresentam hífen e 17% não. O padrão inovador cl V1 V2 está presente em 33% das ocorrências. (68) ..., o vermifugo de Xavier, tonifica as creanças, fal-as crescer sadia e fortes e é receitado pelas sumidades medicas. (Gaz. – 28/9/1929, p.4) (69) A Scena impressionante em que o velho paralythico, num esforço supremo, sente se convulsionado por uma commoção violenta. (Gaz. – 8/4/1928, p.4) (70) O nitrato de prata, causa o verdadeiro terror nos doentes e de muitas cegueiras, o faz desapparecer. (Gaz. 28/9/1929, p.3)

Esses resultados mostram, portanto, que nos dados com grupos verbais também se notou a presença de colocação brasileira nos dois exemplares. Nos dados com verbos auxiliares, causativos e perceptivos essa questão ficou mais clara - os dados dos jornais assemelham-se entre si na expressão do vernáculo. Somente com verbos de controle, a colocação de prestígio tem um percentual bem maior. Tal percentual, porém, é semelhante nos dois jornais, confirmando os resultados obtidos com as formais verbais simples.

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Considerações finais Ao encerrar este texto, destaco, mais uma vez, que o pressuposto de que os jornalistas negros apresentariam um menor domínio das formas de prestígio, pelas dificuldades de acesso ao ensino escolar da época, não se confirmou. Muitos foram autodidatas, e esta prática parece ter sido eficiente para que reconhecessem e assimilassem os padrões cultos veiculados na língua escrita. Lembramos que Lino Guedes e outros colaboradores do Getulino eram, inclusive, revisores em jornais da imprensa majoritária. Por outro lado, os jornalistas negros que escreviam para os negros não se preocuparam em fazer concessões em sua linguagem para atingir um público que, provavelmente, não tivesse um nível de letramento condizente com a linguagem dos textos mais formais. Outro fato que deve ser destacado é o de que os jornais negros veiculavam uma grande preocupação com a educação e cultura como formas de inserção. Ou seja, o letramento e o domínio da norma culta eram fatores fundamentais para que a população negra pudesse ascender na sociedade. Em relação aos colaboradores do jornal de imprensa majoritária, os dados obtidos a respeito do letramento e escolarização na cidade de Piracicaba levam a crer que esses jornalistas tiveram acesso com mais facilidade à escolarização formal. Uma vez que, como verificado na seção um, havia em Piracicaba uma grande preocupação quanto à educação, pelo menos em seu meio urbano. Sendo assim, os autores da Gazeta de Piracicaba também se preocupavam com a adequação de seus textos à norma culta, como foi perceptível na análise dos dados do corpus. Como explicitado na seção dois, essa norma culta almejada pelos colaboradores de ambas as imprensas é, até os dias de hoje, pautada na norma característica do PE e não do PB. Porém, no período em questão, o PB já vinha mostrando características próprias, diferentes da variante europeia. Dessa forma, através da análise dos dados, nos diversos contextos selecionados, foi realmente possível perceber a presença do vernáculo do período. Nos casos com sujeito pronominal antecedendo o verbo, por exemplo, a porcentagem de próclise, nos dois exemplares, foi bem mais alta que a de ênclise – 74% vs. 26% em O Patrocínio e 100% de próclise na Gazeta de Piracicaba. Além disso, os dados com grupos verbais também apresentaram resultados interessantes. Foi possível verificar, nos dois jornais, a ocorrência crescente da colocação do pronome proclítico ao verbo principal do grupo verbal, que vem sendo atestada desde o século XIX e tornou-se a colocação comum no PB atual. O fato de ser possível observar características próximas ao vernáculo do período nos dois exemplares analisados, portanto, aponta a relevância desse corpus, pois ele confirma características particulares do PB do século XX já notadas por outros estudos. Particularidades essas, que já se faziam presentes mesmo em textos que tentavam prezar pela correção gramatical baseada na variante lusitana. Referências Bibliográficas AMARAL, Amadeu (1976 [1920]). O Dialeto Caipira – Gramática e Vocabulário. SP, Secretaria de Cultura, Ciência e tecnologia do Estado de SP.

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