A Improvisação no Culto Cristão

June 15, 2017 | Autor: Walena Marçal | Categoria: Igreja, Liturgia, Demetra e Kore, culto e rito, Adoração, Culto cristão
Share Embed


Descrição do Produto

Planejamento para a Integração dos elementos da Liturgia:
evitando a improvisação na adoração cristã

Walena de Almeida Marçal Magalhães(


Introdução: uma leitura de contexto

Este é um tempo de correria. A máxima dos dias atuais, que já está em
voga há um bom período é que "tempo é dinheiro". Podemos ampliar esta visão
para a de que tempo é produção, é resultado. Segundo Petrini, há algumas
palavras que apresentam bem o atual contexto histórico:
mudança acelerada, vida como turbilhão, implosão,
fragmentação, desintegração são expressões frequentemente
usadas, não para descrever analiticamente, mas para aludir
sugestivamente a essa realidade, complexa e multifacetada,
que alguns chamam de pós-modernidade e outros de
modernidade em crise(Petrini, 2004, p.32).

Nestes tempos pós-modernos os resultados são muito valorizados. No
ministério corremos também de um lado para o outro, buscando atender às
exigências eclesiásticas, que, pelo espírito de nosso tempo, se tornaram
mais e mais semelhantes às exigências empresariais.

Hoje, ministros são tão cobrados como o são os líderes das grandes
empresas nacionais e multinacionais. Um exemplo disso é o artigo de uma
revista secular de circulação nacional sobre carreira profissional apontar,
em novembro de 2005, que os pastores também têm foco em produtividade e que
a jornada dos pastores evangélicos da atualidade é longa e tem metas
ambiciosas (2005, p.65). Não sei se tal citação deveria nos alegrar ou
entristecer. Ela pode envaidecer alguns ministros, mas, certamente, traz a
outros a consciência de que tem havido algumas distorções a respeito do que
Deus espera dos vocacionados e das igrejas. Isso merece certa reflexão.


O resultado dessa situação é muitas vezes o esgotamento ministerial.
Observa-se, por causa das exigências eclesiásticas, o desenvolvimento de um
espírito veladamente competitivo, a necessidade de cultivar o ego, a
exigência extremada da auto-superação a despeito das limitações e a busca
por resultados, características que acabam por igualar as tendências das
igrejas ao espírito do mundo, ao sopro dos modismos empresariais.

A prova mais clara de que isso acontece é que nos chamados "arraiais
evangélicos" há hoje um vastíssimo "cardápio" de métodos de crescimento de
igrejas que nos são propostos. Isso evidencia a crescente preocupação com
os resultados. Observa-se que a cada dia mais e mais ministros e igrejas se
debruçam num método hoje, daqui a cinco anos em outro, correndo atrás do
vento, sem saber onde vão parar. Modelos norte-americanos são copiados
geralmente sem adaptações e até os folders dos congressos desses modelos
nos provocam certo riso, por vermos nossos pastores brasileiros naquelas
típicas fotos semelhantes às dos empresários bem-sucedidos lá da outra
América: cabelos impecáveis, sorrisos cinematográficos. O que Jesus diria
dessas coisas?

Tal realidade mostra apenas uma parte de quão complexos são os dias
atuais. Corre-se hoje em busca de uma eficiência que muitas vezes está
longe de se preocupar com o que Deus realmente quer. As pessoas estão
preocupadas com os resultados que os homens esperam, com os fins. Bomilcar
considera que...
em vez de sermos consideradas pessoas que precisam
cumprir o propósito existencial de todos, sem
exceção, e ser adoradoras de nosso Criador, viramos
apenas público consumidor. Vida transformada,
integridade e excelência no que somos e fazemos para
o Senhor perderam muito de seu valor, e a imagem que
aparentemente transmitimos ou veiculamos ganha mais
importância. (grifo da autora) (BOMILCAR, 2005,
p.314)

Toda essa busca por eficiência e eficácia acaba por tornar ministros
e igrejas ativistas, "esquizofrênicos", divididos ao ponto de perder sua
integridade e de muitas vezes se desviar do real foco do seu trabalho. Às
vezes, nessa correria mercadológica, tem-se deixado de lado o fundamental:
conhecer mais a Deus, contemplá-lo em um momento devocional pessoal, buscar
intimidade com Deus e aprender mais dEle e da Sua Palavra, coisas que são
primordiais para um ministério abençoado, e, por conseqüência, bem-sucedido
do ponto de vista de Deus.

Riscos do ativismo eclesiástico

É preciso ficar alerta para que, na busca desenfreada por resultados,
ministros não incorram no erro de se tornarem prestadores de serviços
eclesiásticos, o que afetaria diretamente a vida, família, vocação,
ministério e igreja, trazendo uma grave crise de identidade.


As igrejas precisam ficar cônscias de que estas exigências
ministeriais que hoje se impõem aos ministros podem conduzi-los à falta ou
desorganização do tempo, o que redunda em muitas conseqüências para a vida
pessoal e para o ministério da igreja. Consideremos algumas delas:
1- A falta de integridade ministerial. Não priorizando seu relacionamento
com Deus, o ministro passa a pregar, cantar e ensinar aquilo que não vive.
Demonstra conhecer um Deus que compreende apenas através dos livros (quando
os lê).
2- A falta de visão das igrejas e de alguns líderes a respeito da
importância de se ter um ministro de adoração ou música, com formação
apropriada e respeitável (sem ser curso por correspondência) e que tenha
maturidade cristã necessária para analisar as situações e orientar a
igreja. Hoje qualquer um pode se auto-intitular "ministro de louvor" ou
"levita" (o que é um anacronismo), ou até receber esse título por parte dos
dirigentes da igreja. Olhando pela ótica do mercado, isso tem sido até
economicamente lucrativo, pois sai mais barato. Mas, como afirma o dito
popular que "o barato sai caro", vemos ministros de música que não têm
formação em música sacra, atuando apenas por terem feito alguns mini-cursos
em congressos de louvor e adoração, ou por lerem alguns dos livros de
algumas dessas "celebridades" do mundo gospel atual.
3- A "importação" de usos, costumes e material estranhos à denominação, sem
a devida filtragem doutrinária. Ressaltam-se aqui cânticos que
sorrateiramente vão penetrando na vida das igrejas batistas sem qualquer
critério e que têm "ensinado" doutrinas e expressões não-bíblicas.
4- O surgimento de heresias pela falta de estudo aprofundado e análise
pormenorizada à luz da Bíblia de tudo o que surge como "modismos" em nossos
arraiais. Muitos deles possuem "base bíblica" questionável, completamente
descontextualizada e hermeneuticamente equivocada.
5-A busca de novidades em fontes não seguras. Os ministros e igrejas devem
buscar atualização, dentre outras formas, através da participação de
eventos. Mas o que se vê hoje no Brasil é uma pulverização de congressos e
encontros que copiam o formato de modelos estranhos à denominação batista e
que recebem verdadeira aclamação.
6-A insegurança de estar na contramão da história. Alguns de nossos
ministros e igrejas temem andar hoje na contramão, sendo como foi o profeta
Micaías, que ousou enfrentar o stabilishment sacerdotal de sua época, cerca
de quatrocentos profetas, preferindo dizer a verdade de Deus e fazer a sua
vontade, a agradar os poderosos reis Acabe e Josafá (I Reis 22). Esquecemo-
nos que Jesus nos trouxe o exemplo da "contracultura cristã" (Stott, 1989,
2). É com Ele nosso compromisso. Isso deve nos trazer segurança.
7-A concorrência eclesiástica. Há tantos tipos diferentes de igrejas e
tantas exigências do "mercado", que muitos ministros e igrejas têm sido
incentivados a apelarem à criatividade improvisatória;
8-Ausência de reflexão profunda. Como já disse alguém: pensar dói! Toda vez
que alguém reflete, exercita um ato de confronto e isso é sempre
desconfortável, tirando-nos da nossa "zona de conforto", da nossa
acomodação. Entretanto, a reflexão nos leva à potencialidade de mudanças
relevantes. É mister se ter em mente que, que quem não pensa é pensado
pelos outros.
9-O cultivo da preguiça, indolência e comodismo, que, segundo estudiosos,
estão presentes de certa forma na cultura "tupiniquim", e que levam a
deixarmos tudo pra última hora, sem o devido preparo.
10-A banalização do culto público. É necessário lembrar que o culto é um
momento fundamental na vida da comunidade de fé, pois é momento de busca de
intimidade com Deus. O culto traz ao homem a possibilidade de relacionar-se
melhor com o Todo-Poderoso. Isso significa que as pessoas presentes no
culto devem sair daquele ambiente mais próximas de Deus, amando-O mais,
confiando em Sua Palavra e Revelação e querendo mais e mais intimidade com
o Senhor. Não é isso que se observa, infelizmente, em muitas igrejas. Vê-
se, sim, indução à cartase, práticas de auto-ajuda, massageamento do ego (e
dos ouvidos), entretenimento, dentre outras coisas. Tudo centralizado no
homem e não em Deus.
11-Os falsos "ventos de avivamento" que batem à nossa porta,
desacompanhados de humilhação diante de Deus, humildade diante dos homens e
santificação genuína. Foram abolidas a visão kenótica (Fp 2) e do "servo
sofredor" (Jr 20). O exemplo dado pelo Mestre ficou de lado. Muitos estão
mais para uma antropologia nietzschiana, firmada na auto-afirmação, do que
para uma visão cristã do novo homem, firmada na dependência de Deus. O que
se vê são egos exaltados, muita soberba e arrogância por parte de
lideranças personalistas, além do desenvolvimento de visão triunfalista,
sem mudanças interiores substanciais, apenas com aparência exterior (neo-
farisaísmo).


Essas conseqüências já têm afetado e abalado muitas igrejas no Brasil.
Precisamos estar de olhos abertos para vê-las. Não podemos subestimá-las,
sob pena de estragos a médio e longo prazos.

O desmazelo com o culto público

Ministros e igrejas precisam lembrar que a prioridade máxima da Igreja
é o compromisso com Deus e com Sua Palavra. O culto público precisa ser
valorizado como o momento eclesiástico mais importante, pois é a reunião
que congrega toda a igreja e demonstra de forma clara a devoção ao Senhor.
O culto cristão será, então, "teocêntrico" e não "antropocêntrico". A
visão dos líderes e da igreja deverá ser a de agradar a Deus e não aos
homens. (Rm 12.1,2)


Preocupações como: fidelidade a Deus e à Sua Palavra, unidade,
uniformidade, integridade, coerência doutrinária, seriedade e firmeza de
propósito devem estar sempre presentes nas coisas referentes ao culto
cristão e seu planejamento. O desmazelo(ausência de zelo) precisa ser
sempre renunciado em favor de uma postura de cuidado com as coisas de Deus.
Isso deve abranger o planejamento do culto, que sendo feito, facilitará
que as características citadas sejam observadas e checadas.


A equipe do culto precisa entender o importante papel espiritual que
tem e o planejamento dá indícios dessa importância. O Dr. Jilton Morais,
falando sobre as providências e cuidados no sermão segmentado, mas que
cremos se aplicam a qualquer ordem de culto, orienta:
Reúna-se com a equipe dos músicos e ore com eles,
mostrando-lhes a responsabilidade de toda a equipe na
pregação da Palavra, quer falada ou cantada. É
importante que a equipe toda sinta em todos os
momentos o peso da responsabilidade de estar
comunicando a Palavra (MORAES, 2002, p.137).


Algumas pessoas declaram que culto planejado incorre no risco de virar
missa. Mas pensemos nos seguintes questionamentos:
Será que uma ordem de culto bem feita, liturgicamente
preparada, é, necessariamente fria ou morta? Será
que o Espírito Santo ilumina e age somente quando
nada está previsto, não há ordem, é tudo espontâneo?
Ou Ele age no processo de preparação?(CUNHA, 2002,
p.23)




É possível inovar? Com certeza. Mas essa inovação deve ser coerente
com o que somos, com nossa história. Às vezes temos nos rendido às vaidades
pessoais, ao desafio do crescimento da igreja a qualquer preço, à avaliação
do sucesso ministerial através de números e animação de auditórios lotados.
Com isso fazemos qualquer negócio para que os cultos sejam agradáveis à
congregação, esquecendo-nos de que o culto cristão tem apenas uma platéia:
Deus.

Harold Best nos diz que basicamente o "culto consiste na consciência
de que alguém ou alguma coisa é maior – tem maior valor – e, por
conseqüência, deve ser seguido, temido, e adorado"(1993, p143). Precisamos
no cultos que prestamos a Deus ter uma profunda consciência de Sua presença
a aprovação. A preocupação com o andamento e planejamento do culto nada tem
a ver com resultados ou performance, mas com a centralidade em Deus.


Podemos ver no apóstolo Paulo toda uma preocupação no tocante à
organização do culto em I Coríntios capítulos 11 a 14. Nesses textos, o
apóstolo dá orientações sobre atos e costumes referentes ao culto de seu
tempo: uso do véu, celebração da ceia, uso de dons na igreja, o amor mútuo,
etc. No final do capítulo 14 ele resume suas orientações dizendo: "tudo
seja feito com ordem e decência."


Outro aspecto a considerar é a unidade de pensamento na equipe
responsável pelo planejamento e execução da liturgia. Para tal é preciso
haver união de pensamento e proposta. Romanos 15.5 e 6 nos traz a
advertência: "Ora, o Deus da paciência e da consolação vos conceda o mesmo
sentir de uns para com os outros, segundo Cristo Jesus, para que
concordemente e a uma voz glorifiqueis ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus
Cristo."


No planejamento é preciso buscar a orientação de Deus, através do
Espírito Santo que conhece todas as coisas e pessoas, inclusive os não
salvos que hão de estar ali e que poderão ter um encontro com o Salvador. O
autor Junius Dotson diz que
no meio de nosso planejamento, devemos estar sempre abertos
à ação do Espírito Santo. Durante a experiência de adoração
sempre deveremos seguir a orientação do Espírito em relação
a um novo direcionamento. Ironicamente, quanto mais preparo
de culto tivermos, mais sensíveis estaremos à voz de Deus
na celebração da adoração (Dotson, 2005).


Para ele a adoração precisa ser vibrante, vital e relevante para a
vida de toda a comunidade:
Vibrante – no sentido de dar oportunidade ao povo de adorar de formas
variadas. No texto de Romanos 12.1 somos conclamados a apresentarmo-nos
"como sacrifício vivo" a Deus.
Vital – no sentido de ser um momento de conexão com o Criador. Cada novo
sermão deve trazer o frescor de novas aplicações dos conteúdos da Palavra
de Deus. A mensagem da Cruz é a mesma, mas as ilustrações, estilos e formas
podem variar. Nosso culto deve ser "racional", deve ter um sentido (Rm
12.1b). As ações não podem ser feitas como um fim em si mesmas, mas devem
ter um propósito.
Relevante - O texto de João 4.24 que diz: "Deus é espírito; e importa que
os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade." A Palavra deve ser
exposta de forma relevante a cada fim-de-semana. A liderança de culto
precisa sempre estar questionando "O que esta Palavra quer dizer a este
povo reunido nesta comunidade, nesta experiência de culto?"



Buscar, conhecer, ler, aprofundar, refletir, organizar, treinar são
algumas palavras de ordem no tocante ao planejamento da liturgia. Deve
haver uma certa flexibilidade, pois o culto não pode ser engessado. Mas não
planejar, ou planejar e na hora da execução mudar tudo, não condiz com os
preceitos bíblicos e com o bom senso.

É necessário conceber que o planejamento do culto já é adoração. Cunha
nos diz que
os atos de culto e até mesmo a preparação para os mesmos
são um serviço a Deus. Todos os que estão relacionados com
o lugar do culto e ali servem ou trabalham – se fizerem
este trabalho em espírito e em verdade – são adoradores
(CUNHA, 2002, p.19).


Se isso acontecer, mudam-se completamente os paradigmas que nortearão
as ações. Isso nos tornará mais responsáveis espiritualmente sobre aquilo
que nos propusermos a fazer.


É indispensável que entendamos a organização e planejamento de culto
como obra de Deus. O autor Williams diz que "a adoração se inicia na
presença de Deus, mas ela também começa por causa da presença de Deus"
(2004, p.10).


O Planejamento como princípio integrador da ordem de culto
A Bíblia nos ensina que devemos planejar as coisas da vida. Ora, se é
assim com as coisas de nosso interesse muito mais o deve ser com as coisas
do interesse de Deus. Vejamos as palavras de Jesus:

"Qual dentre vós, pretendendo construir uma torre, não se
assenta primeiro a calcular a despesa e verificar se tem os
meios para a concluir ? Para não suceder que, tendo lançado
os alicerces e não a podendo acabar, todos os que a virem
zombem dele, dizendo: Este homem começou a construir e não
pôde acabar. Ou qual é o rei que, indo para combater outro
rei, não se assenta primeiro para calcular se com dez mil
homens poderá enfrentar o que vem contra ele com vinte
mil?" (Lucas 14.28-31)


Uma das grandes queixas nas chamadas igrejas tradicionais hoje são as
liturgias/missas, que se repetem de forma mecânica e igual a cada domingo.
Por outro lado há também uma queixa a respeito das igrejas mais
contemporâneas e de liturgias mais carismáticas no que diz respeito à
ausência de uma ordem, de uma interligação entre os diversos momentos do
culto. Ambos os problemas se dão por falta de planejamento. Rubem Amorese
diz que
"a liturgia de uma cerimônia religiosa define-se como a
forma da celebração de um amplo conjunto simbólico, no
caso, o evangelho. Não é possível celebrar algum conteúdo
sem uma forma. A forma sem conteúdo, em um certo sentido,
pode existir, mas não o contrário." (1995, p. 72)


Então mesmo que não se queira, a liturgia é importante, pois sem ela o
culto acaba se tornando um emaranhado de momentos que se intercalam, mas
que não fazem sentido juntos, não têm unidade.


O planejamento pode ser feito com antecedência. No início do ano, por
exemplo, é preciso que a equipe ministerial sente junta para pensar e
sonhar a respeito das necessidades da comunidade de fé. Aí apenas linhas
gerais poderão ser anotadas, seguindo os calendários disponíveis. Pode-se
neste momento planejar as principais datas e temas a serem abordados e
trabalhados no decorrer do ano eclesiástico, bem como os métodos e recursos
que poderão ser utilizados. Providências a respeito disso podem ser tomadas
com antecedência, especialmente no que se refere a gastos financeiros.


De seis a três meses, pode-se tentar fazer a elaboração de uma tabela
de temas das pregações e principais ênfases (por exemplo, missões), o que
favorecerá o preparo de sermões apropriados, repertório musical adequado,
ensino de hinos e cânticos apropriados, etc.


Com uma semana de antecedência é fundamental que os envolvidos com a
ordem de culto saibam exatamente o que será pregado e qual tema será
enfatizado no culto a ser realizado. Assim, as diversas partes do culto e
linguagens a serem utilizadas poderão ser conectadas umas às outras,
favorecendo uma ordem de culto mais didática. Com ordem e concatenação de
idéias fica mais fácil para a liderança de culto e para os demais
adoradores a compreensão e fixação das verdades bíblicas propagadas naquela
liturgia.


A elaboração de um planejamento parte do pressuposto de que a igreja
tem um calendário. Se não tem, é necessário fazer um com urgência. O
calendário de cultos ajudará o líder inclusive a controlar assuntos que
nunca foram abordados e que são importantes para a comunidade. Outros
aspecto é verificar a freqüência com que determinados hinos são repetidos e
outros são deixados de fora. Enfim, ajuda a liderança de culto a ter um
espelho do que tem acontecido na vida cúltica da comunidade de fé. A autora
Malefyt(2006, p.1) nos mostra que há quatro tipos básicos de calendários
que devemos observar na hora de montarmos o planejamento geral dos cultos
da igreja: o calendário cronológico (dos dias e meses do ano), o
calendário do ano eclesiástico da igreja(no Brasil algumas igrejas começam
seu ano eclesiástico em Abril), o calendário de feriados nacionais e
sociais (dia das mães, dia da mulher, etc) e o calendário denominacional
(dia do pastor batista, dia do ministro de música, páscoa). Isso será
importante porque ajudará a igreja a trazer à memória os grandes
acontecimentos bíblicos e da história cristã.



É possível variar e tornar a adoração coletiva mais atrativa, sem cair
nos modismos do mercado. Para isso é necessário planejamento e
criatividade, ambos feitos com base em preceitos bíblicos. Na oficina sobre
culto criativos publicada no livro do congressista do 20º Congresso da
AMBB, há algumas sugestões de como usar a criatividade nos cultos. A
principal delas foi a exploração dos diversos sentidos humanos : audição,
visão, tato, paladar e olfato. Esses sentidos podem e devem ser explorados
de forma a sensibilizar o ser humano e conduzi-lo à presença de Deus em
adoração.


Segundo Shawchuck, muitas vezes os que elaboram as ordens de culto
também não estão satisfeitos com elas, mas permanecem fazendo-as do mesmo
jeito pelo simples hábito de fazê-las (1997, p.1) O autor mostra que se as
crianças da igreja contemporânea estiverem tão entediadas com nossas
liturgias sempre iguais como os adultos estão, não haverá quem freqüente as
reuniões de adoração no futuro. Isso é motivo para análise.


Encarando o culto do ponto de vista dos relacionamentos
Culto é relacionamento. É relacionamento do homem com Deus. De Deus
com o homem e do homem com o homem.

Falando sobre a verticalidade do culto, preciamos lembrar que é
preciso relacionar-se com Deus para cultua-lo. Westhney e Leila nos levam
a refletirmos que "antes de estabelecer regras para um encontro oficial,
formal e institucionalizado, Deus estabeleceu padrões com o homem-indivíduo
e suas famílias(...). A necessidade do povo em adorar, o leva a obedecer as
ordens do Senhor"(GUSMÃO e LUZ , 2003, p.79). Deus requer de nós antes
nosso relacionamento com ele, muito mais que nossos atos de celebração.


Cada dia mais vemos se perder o aspecto do "sacrifício" nos cultos
realizados pelas igrejas de hoje. Há muita celebração, euforia, alegria, o
que por si só não são aspectos negativos nem irrelevantes. Mas o sentido do
arrependimento, do colocar-se em posição inferior a Deus, reconhecendo que
somos criaturas e não podemos por isso dar ordens ao Senhor, estão se
perdendo. Falta o caráter da contrição, da dependência, do arrependimento e
da mudança de vida. Souza declara que "é preciso ensinar a igreja a
experimentar a pedagogia do arrependimento", que é "a relação dinâmica
entre o ouvir a Palavra de Deus e a resposta que se dá a ela em nível
pessoal ou coletivo."(BARRO, 2004, p.97)


Do ponto de vista horizontal, é necessário que os que planejam os
cultos atentem para o fato de ele estar ou não sendo relevante à
comunidade, sendo uma real expressão coletiva de culto e não somente uma
expressão de culto da liderança. Levar isso em conta facilitará o trabalho
e fornecera material para a reunião de avaliação da equipe de liturgia, que
deve acontecer periodicamente, pelo menos a cada dois meses. Isso
demonstrará um importante aspecto da equipe ministerial: a disciplina.




Planejar cada ato de culto é um grande desafio. Requer dos líderes de
culto a capacidade de manter o entusiasmo, sem tornarem-se 'animadores de
auditório' e o desenvolvimento de energia que se renova a cada encontro.
Requer dos pastores um planejamento antecipado das mensagens, o que não é
muito fácil, mas é recompensador. Isso ajudará todo o restante da equipe a
preparar-se melhor com textos, músicas, poesias, recursos midiáticos,
subsídios que podem favorecer uma melhor apreensão de cada tema trabalhado.


Devemos, por fim, nos lembrar do que Paulo disse em seu discurso em
Atenas: que em Deus "vivemos, e nos movemos, e existimos, como alguns de
vossos poetas têm dito: Porque dele também somos geração."(Atos 17.28) Deus
requer de nós uma atualização constante, uma reflexão a cada momento do que
somos, por quê o somos, para quem somos e qual o propósito de nossa
existência como comunidade que adora. Como diz a autora Sally Morgenthaler,
que a cada dia sejamos desafiados por essa norma: sermos comunidades de fé
plenas de poetas, filmes, histórias, músicas, estética e pensamento do
nosso tempo (2006, p.1), mas sejamos capazes de seguir em frente firmes e
inabaláveis, mudando formas de maneira coerente, sem jamais alterar o cerne
da mensagem bíblica. Para isso, que Deus nos ajude!




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMORESE, Rubem Martins. Celebração do evangelho. Viçosa: Ultimato, 1995.
103p.

BARRO, Jorge Henrique (org.). Uma igreja sem propósitos. São Paulo: Mundo
Cristão, 2004. 234p.

BEST, Harold. Music: through the eyes of faith. New York : Harper San
Francisco, 1993. 225p.

Bíblia de Estudo Almeida. Barueri : Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.

BOMILCAR, Nelson (org.). O melhor da espiritualidade brasileira. São Paulo:
Mundo Cristão, 2005. 351p.

CUNHA, Guilhermino. O culto que agrada a Deus. São Paulo: Cultura Cristã,
2002. 159p.

DOTSON, Junius. All Roads Lead To Worship. In: Circuit Rider, Janeiro e
Fevereiro de 2005, disponível no site:
http://worshipconnection.cokesbury.com. Maio de 2006.

GUSMÃO, Leila C. dos Santos e LUZ, Wetsh Ney Rodrigues. Culto cristão:
contemplação e comunhão. Rio de Janeiro: JUERP/AMBB, 2003, 204p.

MAGALHÃES, Walena Marçal. Cultos Criativos. In: Livro do Congressista do
18º Congresso da AMBB. Recife: AMBB, 2003.

__________________________Cultos Criativos. In: Livro do Congressista do
20º Congresso da AMBB. Rio de Janeiro : AMBB, 2005.

MALEFYT, Norma de Waal e VANDERWELL, Howard. Worship insights: bible
studies for worship committees. In: http://www.calvin.edu/worship/ planning
/ insights/ 11.php. Maio de 2006.

MORAES, Jilton. Púlpito, pregação e música. Rio de Janeiro : JUERP,
2002.224p.

MORGENTHALER, Sally. Worship in postmodern world. In: http://www.
easumbandy.com/resources/index.php. Maio de 2006.


PETRINI, João Carlos. Pós-modernidade e família: um itinerário de
compreensão. Bauru: EDUSC, 2003. 228 p.

SHAWCHUCK, Norman. Why don't we make worship more attrractive? In:
http://worshipconnection.cokesbury.com/tl_preview. Maio de 2006.


SILVÉRIO, Fabiana Corrêa. Profissão de fé. In: Revista Você S/A, ed 89.
São Paulo: Abril, 2005. 90p.

STOTT, John. A Mensagem do sermão do monte. São Paulo: ABU, 1989. 235p.

WILLIAMS, Roger. Adoração: um tesouro a ser explorado. Venda Nova:
Betânia, 2004. 95p.

( A autora é professora de Artes/Música do Instituo Federal de ciência e
Tecnologia do Tocantins-Campus Palmas. Já atuou como professora no
Seminário Teológico Batista Goiano (GO), Faculdade Teológica Batista
Equatorial (PA), Seminário Batista Getsêmani (TO) e Seminário Teológico
Batista do Tocantins. Foi ministra de música nos campos Goiano, Paraense e
Tocantinense. É mestranda em Ciências do Ambiente pela UFT e desenvolve
pesquisa na linha de pesquisa de Sociedade, Cultura e Meio Ambiente. Artigo
publicado pela AMBB.

-----------------------
A adoração começa no planejamento e vai além da execução.
Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.