A INFLUÊNCIA DA BLOGOSFERA NOS PORTAIS DE NOTÍCIAS Um estudo do portal Brasil Post

June 3, 2017 | Autor: Giovanni Ramos | Categoria: Blogs, Webjornalismo, Linguagem
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A INFLUÊNCIA DA BLOGOSFERA NOS PORTAIS DE  NOTÍCIAS  Um estudo do portal Brasil Post      Giovanni Ricardo Ramos1  Isabele Schlossmacher2      Resumo    Este  trabalho  tem como  objetivo analisar a influência dos blogs nos portais de notícias a partir  de  um  estudo  do  site  Brasil  Post.  Primeiramente,   buscou­se   o   conceito  de  blog  desde  o  seu  surgimento,  as  características  de  linguagem  e  as  relações  com  a  sociedade  predominantes  nestes  espaços.  Com  o  conceito  de  blog  formado,  foi  analisado  o  portal  de  notícias  Brasil  Post,  sua  linha  editorial  e  12  matérias   de  grande  repercussão  selecionadas   pelo  portal  no  primeiro ano de existência do site.  Buscou­se entender quais características dos blogosfera são  encontradas nas matérias do portal que surgiu há 10 anos como um agregador de blogs.      Palavras­chave: ​ Webjornalismo, blogs, linha editorial, linguagem          1 INTRODUÇÃO      Segundo  o  site  Blogger  Brasil  (2015), um blog é “página web atualizada freqüentemente,  composta  por  pequenos  parágrafos  apresentados  de  forma cronológica”. Segundo reportagem  da  Revista  Época  (Michelsohn, Fagundes, 2011), no final de 2010, a Pingdom, empresa sueca  de monitoramento de sites calculou que existiam mais de 152 milhões de blogs no mundo.   Uma  reportagem  de  O  Globo  (Godoy,  2010)  afirma  que  em  2005,  a  escritora  e   economista  americana  Arianna  Huffington  entrou  para  o  jornalismo  online  criando  o  Huffington  Post,  um  site  de  notícias  que  mesclava  notícias  e  opinião  através  de  diversos  blogueiros  que  tinham  seus  blogs  anexados  ao  portal.  Em  cinco  anos,  ela  já  reunia  6  mil  blogs, tornando­se um gigante do jornalismo online .  Em  uma  entrevista  ao  O  Globo  (Godoy,   2010),  Ariana  afirmou:  “A  maneira  como  as   pessoas  consomem notícias é muito diferente hoje. Elas não querem só ler, querem  se engajar,  colaborar. Somos parte disso, do mundo do Facebook, do Twitter”.   O  objetivo  deste  artigo  é  estudar  a  ligação  entre  o  jornalismo  online  e  a  blogosfera,  buscando  saber  as   influências  dos  blogs  nos  portais  de  notícias  a  partir  do  Brasil  Post,  filial  brasileira  do  Huffington  Post.  Busca­se  saber  quais  características  que  compreendem  a  linguagem  dos  blogs  podem  ser  encontradas  na  linha  editorial  e  nas  reportagens   publicadas  pelo Brasil Post.    1

 Jornalista, acadêmico de pós gradução em Marketing Digital. Uniasselvi. E­mail: [email protected]   Mestre em Engenharia de Produção (UFSC). Docente Uniasselvi Fameblu. E­mail: [email protected] 

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2      2 METODOLOGIA    A  metodologia  para  este  estudo  de  caso  partiu  de  uma  pesquisa  bibliográfica  sobre  as  características  da  linguagem  dos  blogs.  Uma  pesquisa  documental  em  portais  de  notícias  da  história da ferramenta na internet foi acrescentada para fundamentação teórica.  A  pesquisa   bibliográfica  é   feita  a  partir  do  levantamento  de referências  teóricas  já  analisadas,  e  publicadas  por  meios  escritos  e  eletrônicos,  como  livros,  artigos  científicos,  páginas   de  web  sites.  Qualquer  trabalho  científico  inicia­se  com  uma  pesquisa  bibliográfica,  que   permite  ao  pesquisador   conhecer  o  que   já  se  estudou  sobre o assunto (FONSECA, 2002, apud GERHARDT, SILVEIRA, 2009, p.37)   

Foram  selecionadas  quatro   características  dos  blogs  da  pesquisa  bibliográfrica.  Com  os  dados,  foi  feito  um  levantamento  com  a  seleção  de  12  matérias  do  Brasil  Post.  Os  textos  foram  escolhidos  pelo  portal  como  os  “12  casos  onde  o  Brasil  Post  fez  a  diferença” (Iraheta,  2015).  Após  o  levantamento,  foi  feita  uma  análise  dos  dados  qualitativa  buscando  nos  textos  selecionados, as características dos blogs definidas na pesquisa bibliográfica.       3 OS BLOGS    3.1 O conceito de blog    Segundo  Clemente  (2009),  a  palavra  blog  é uma abreviação de weblog, uma junção das  palavras  web  e  log,   cuja  tradução  literal  é  diário  de  rede.  O  termo  foi  inventado  pelo  americano  Jorn  Barger,  que  criou  um  site  com  este  nome  em  1998  como  uma  página  que  divulgava outros endereços na internet.  O  conceito  de  blogs  atual  consiste  em  páginas  na  internet que possuem um conjunto de  características que se associam a um diário pessoal. Clemente (2009, p. 2) conceitua:  Weblog,   portanto,  é  uma  espécie  de  diário  ou  página  pessoal  mantido  na  Internet,  que  pode  ter  um  ou   mais  autores.   É  um  tipo  de  site   que  possui  características  próprias.  Normalmente,  apenas  com  um  autor,  mas,  em alguns  casos, com dois  ou  mais.   E  em  pequeno  número,  os  blogs  coletivos  (ou  grupais),  formados  por  profissionais  de  uma  determinada   área  em  comum  ou  que   tenham  intenções  correlatas  por   determinado  assunto  e  utilizam  o  blog  para  discutir  e  divulgar  seus  interesses e opiniões. 

  Destaca­se  ainda  como  característica  que  diferencia  os  blogs  das  demais  páginas  de  conteúdo  na  internet,  a  agilidade  na  produção  do  material  publicado.   Komesu  (2004,  p.  1)  afirma  que “a facilidade para a edição,  atualização e manutenção dos textos em rede foram – e 

3    são  –  os  principais  atributos  para  o  sucesso  e  a  difusão  dessa  chamada  ferramenta  de  auto­expressão”.    3. 1.1 História    O  termo  weblog,  utilizado  pelo   americano  Jorn  Barger  (Clemente,  2009), deu a origem  a palavra blog, porém, o conceito deste tipo de publicação vem do início da década de 90.   Segundo  Orduña  et  al  (2007), o  weblog precursor  foi  o  What´s  new  in  ´92,  criado  por  Tim­Berners  Lee  em  1992,  que  tinha  como  finalidade  divulgar  as  novidades  sobre  as  pesquisas  do  projeto  World  Wide  Web,  que mais tarde  daria espaço para o  que conhecemos hoje como Internet (CLEMENTE, 2009, p. 2). 

  A  primeira  plataforma  para  a  publicação  dos  blogs  como  conhecemos   hoje  foi  o  Blogger,  criado  pela  Pyra   Labs  em  1999 (Blogger, 2015). A ferramenta, de uso  gratuito pelos  usuários,  foi  apresentada  como  uma  forma  popular  para publicação de textos na internet, pois  a  criação  de  um  site  próprio  exigia  hospedagem  e  conhecimento  técnico  em  criação  de  páginas. A Pyra Labs foi incorporada ao Google em 2003.   Em  2003,  a  americana  B2  deu  origem  ao  Wordpress  (Codex  Wordpress,  2015),  plataforma  utilizada  no  mundo  inteiro,  cuja  principal  característica  é  a  liberação  do  código­fonte,  permitindo  que  programadores  do  mundo  inteiro  pudessem  alterar  o  sistema,  aperfeiçoando a ferramenta.    3. 1.2 A blogosfera no Brasil    As  plataformas  chegaram  ao  Brasil  em  2001,  através  do  Weblogger,  um  serviço  incorporado  ao  Portal  Terra  dois  anos  depois.  Em 2002, surge o Blogger Brasil, uma parceria  das Organizações Globo com a Pyra Labs (Revista Época, 2006).  O  portal  UOL  lançou  seu  primeiro  blog em 2003, com o comunicador Marcelo Tas. No  início  de  2004,  a  empresa  criou  sua  plataforma  para  que  seus  assinantes   pudessem  também  montar seus blogs (Revista Época, 2006).  Em  2010,  a  empresa  de  análise  de  tráfego  online  Sysomos  apontou  o  Brasil  como  o  quarto  país  do  mundo  em  número   de  blogueiros  (Felitti,  2010),  a  frente  de  países  como  Canadá,  Alemanha  e  França.  Com  4,88%  do  total,  o  país  ficou  atrás  apenas  dos  Estados  Unidos, Reino Unido e Japão.  Já  a  ConScore,  que  também  analisa  a  audiência  da  internet,  colocou  o  Brasil  em  segundo  lugar  mundial  no  alcance  dos  blogs,  ficando  atrás  apenas  do  Japão  (Rosário,  2014). 

4    Ainda  segundo  o  Sysomos,  53%  dos  blogueiros  brasileiros  possui  idade  entre   21   e  35 anos e  as mulheres possuem uma pequena maioria entre os usuários, com 50,9%.    3. 2 Linguagem    A  facilidade  de  produção  e  atualização  e  a   gratuidade  das  plataformas  de  blogs  democratizaram  a  comunicação,  permitindo  que  qualquer  pessoa  possa  ter  uma  página  na  internet  e  assim,  ser  um   emissor  de  conteúdo  (Aguiar,  2006).  Essa  possibilidade  dá  surgimento  aos  self­media  (Catarina,  2006),  que  são  meios  de  comunicação  feitos  por  uma  pessoa ou um pequeno grupo sem uma organização de veículo de comunicação tradicional.  A  proliferação  de   blogs  rompeu  com  o  tradicional  modelo  emissorreceptor.  Os  meios  de  comunicação  social  deixaram  de  ter  exclusividade  de  publicação  e   a  audiência  passou  a  ter  também  esse  poder.  Com  o  aparecimento  dos  blogs  apareceram  novos  vigilantes,  os  vigilantes  dos  próprios  media  (CATARINA, 2006,  p. 59). 

  A  inversão  de  papeis  que  torna  o  receptor  um  emissor  da  informação  altera  também,  o  conceito  de  popularidade  e  audiência  de  um  veículo  de  comunicação.  Para  Marlow  (2004,  apud  AMARAL,  RECUERO,  MONTARDO,  2008,  p.  2),  “Weblogs  constituem  uma  conversação  massivamente  descentralizada  onde  milhões  de  autores  escrevem  para  a  sua  própria audiência”.  A  liberdade  de  expressão,  até  então  restrita  as  seções  de  cartas nos jornais, ligações em  programas  ao  vivo  de rádio e enquetes na televisão, tornou­se mais expressiva na internet e os  blogs  foram  as  primeiras  ferramentas  disponíveis.  O  aumento  dos  espaços  para o público nas   demais  mídias  não  são  suficientes  para  atender  uma  sociedade  que  deseja  se  expressar.  “No  fundo,  estas  páginas  oferecem  espaços  de  opinião  impossíveis  de  concretizar  nos  media  tradicionais” (CATARINA, 2006, p. 22).    3. 2.1 Subjetividade opinativa    A  blogosfera  é  um  universo  de pequenos veículos de comunicação que não precisam da  estrutura  tradicional  de  uma  empresa  do  ramo  para  exercer  a  atividade  (Catarina,  2006).  A  liberdade  de  expressão  leva  o  emissor  a  produzir  mensagens  opinativas,  sobre  determinados  assuntos, sem a formatação textual utilizadas nos jornais impressos.  Os  blogs  são  também  um  bom  exemplo  de   recuperação  de   uma  subjectividade  opinativa,  muito  presente  no jornalismo antes da industrialização e que entretanto  se  havia  perdido...Os blogs são, em muitos casos, simples formas de contar histórias do  dia­a­dia.  Representam  alguns  blogs  uma  recuperação  de  características  do  jornalismo,  antes da  industrialização,  quando  este  ainda  mantinha  relações estreitas 

5    com  a  literatura  popular?   Recorde­se   que,  nessa  altura,  o  jornalismo  dava  grande  importância  ao  contar   de  “estórias”  bizarras,  polémicas,  sátiras,  etc  (CATARINA,  2006, p. 25). 

  Quando  lançadas  no  Brasil,  as  plataformas  de  blogs  se  apresentavam  como  diários  íntimos  virtuais,  cuja  características  de  linguagem  se  aproximam,  apesar  de  terem  propósitos  diferentes  (Komesu,  2007).  Se  os  diários  narravam  a  vida  pessoal  de  uma  pessoa,  os  blogs  ganharam  força  por  usar  as  técnicas  parecidas  para  narrar  fatos  externos,  tornando  os  blogueiros observadores do dia­dia.    3. 2.2 Segmentação    As  plataformas  de  blogs  permitiram  uma  segmentação  de  conteúdo  impraticável  em  outras  mídias  e  com  restrições  no  jornalismo  online  (Simão,  2008).  O  baixo  custo  e  a  fácil  manutenção  possibilitaram  que  qualquer  área  da  sociedade  pudesse   ter  sua  voz  de  expressão  através de um blog.  A  segmentação  permitida  na  blogosfera  aproximou  ainda  mais  a  ferramenta  do  jornalismo.  As  plataformas  passaram  a  ser  usadas  por  jornalistas  especialistas  em  determinados  assuntos,  que  puderam   se  aprofundar  em  temas  deixados  de  lado  nos  grandes  veículos.  Simão  (2008),  explica  que  a  variedade  fez  com que a blogosfera tornasse referência  para diversos assuntos.  Pode­se  dizer  que  há blogs  sobre tudo, desde os “baby blogs”,  ou blogs de bebés em  que  os  pais   partilham  o  crescimento  dos  filhos   dia  a  dia  no  blog,  até  blogs  especializados  em  medicina,  em  tecnologia,   em  humor  ou  simplesmente  blogs  de  pensamentos  individuais  ou  colectivos,  passando  também   por  blogs  erótico­pornográficos,  de  “watch  dog”,  regionais,  institucionais, educacionais, etc. é  pois fácil de compreender que os blogs acabam sempre por ser  uma importante fonte   de informação que se especializa em certos temas (SIMÃO, 2008, p. 6). 

  3. 2.3 Interatividade    Duas  características  em  comum  em  todas  as  plataformas  para  criação  de  blogs  existentes  são  os  espaços  para  comentários  e  uma  área  para  publicação  de  links  para  outras  páginas.  Correia  (2008)   explica  que  o  uso  dessas  duas  ferramentas  permite  a  interação  dos  blogueiros  com  seus  leitores  e  com  outros  blogs,  possibilidades  que  se  tornaram  usuais  na  blogosfera.  O receptor  opta.  O receptor selecciona. O receptor define quase  tudo (se não mesmo   tudo).  Com  a  sua  maneira  de  pensar, sua  maneira característica de ver o mundo, ele  tem  a  última  palavra  quanto  ao  tipo  de  informação  que  quer  receber  e  quando  a  pretende  receber.  Assim,  o  receptor,  pode  assumir  diversos  papéis  (CORREIA,   2008, p. 7)​ . 

6      Para  Amaral,  Recuero  e  Montardo  (2008),  a  interação  dos  blogueiros  com  leitores  e  outros  produtores  auxilia  na  criação  de  estruturas  sociais  que  afetam  diretamente  a  produção  de conteúdo do blog.  “Weblogs, assim,  são ferramentas de  publicação que  possuem,  também, um impacto  social  auxiliando  na  construção  de  estruturas  sociais,  através  das  trocas  de   comentários  (Mishne   e  Glance,   2006) e  conversações (Efimova  e  de  Moor,  2005).  Essas  trocas  de  links  entre   blogueiros,  que  podem acontecer  nos  comentários, nos  blogrolls  e  mesmo  nos  textos  das postagens, são  frequentemente também analisadas  como  conversação  (Efimova  e  De  Moor,  2005;   Primo  e  Smaniotto,  2005)”  (AMARAL, RECUERO E MONTARDO, 2008, p. 7)​ .  

.    3. 3 Jornalismo e a blogosfera    Segundo  Aguiar  (2009),  a  blogosfera  tornou­se  comum  no  jornalismo,  funcionando  tanto  como  uma  coluna  virtual   hospedada  em  um  grande  portal  ou  como  um  espaço  para  a  prática do jornalismo de linha editorial independente.   Os  principais  sites  noticiosos  brasileiros  como  O  Globo,   O  Estado  de  São  Paulo,  Último  Segundo  e  Folha  de  São  Paulo,  por  exemplo,  criam  blogs  para  seus  colunistas  e  mantém  uma  comunicação  paralela   com   seu  pú­blico  através  deles,  inclusive  utilizando  chamadas  nas suas páginas  principais  para  textos desses  blogs  (Aguiar, 2006, p. 6).   

O  uso dos blogs nos jornais gerou um debate no jornalismo,  Aguiar (2006) lembra que a  neutralidade  e  objetividade,  características  do  jornalismo,  entram  em  conflito  com  a  subjetividade opinativa dos blogs.   Mas  para  Palacios  e   Munhoz  (2010),  a  simples  publicação  contínua  de  artigos  de  um  formado  de  opinião  não  poderia  ser  classificada  de  blog,  por  estarem  dentro  de  um  espaço  fechado e não conectado à blogosfera.  Na   medida  em  que  o  Blog  tem  como  uma  de  suas  características  justamente  a  ligação  com  outros  congêneres,  no  contexto  da  Blogosfera,  é  de  se  questionar  até  mesmo   se não  seria  abusivo  denominar­se  como Blogs esses  produtos  jornalísticos  da   grande  imprensa,  que  mais  se   assemelham  a  colunas  jornalísticas  autorais,  funcionando  on­line  e  num  regime  de   atualização  contínua.  A  não   inserção  na   Blogosfera  faz  de  um  Blog  nada  mais que  uma  página  pessoal,  apenas  com  maior  facilidade de atualização (PALACIOS, MUNHOZ, 2010, p. 2). 

  3.4 Jornalismo cidadão    O  jornalista  cidadão  é  um  não­profissional  de  comunicação  que  presta  serviços  a  sociedade  através  de  notícias e registros em seu blog (Correia, 2008). O blogueiro acompanha  os  fatos  de  sua  cidade­região  e  reporta  as  informações  em  seu   blog  assim  como  um 

7    profissional  de  jornalismo  faz  em  um  veículo  tradicional.  No  entanto, ele apenas cobre o fato  e publica, com fotos, vídeos e relatos.  Para  Simão  (2007),  os  blogs  “são  o  primeiro  passo  para  o  ‘jornalismo  do  cidadão’”,  ainda  que  outros  tipos  de  blogueiros   também  atuem  na  opinião.  A  agilidade  desses  jornalistas­cidadãos mudou  a forma de fazer as notícias nos grandes veículos, já que o cidadão  costuma  chegar  antes  que  o  profissional  no  local  do  acontecimento,  registrando e publicando  antes através de smartphones e tablets.  Já  Palacios  e  Munhoz  (2010)  entende  que  o  fenômeno  obriga  os  veículos  de  comunicação  tradicionais  a  repensarem  a  forma  de  fazer  o  jornalismo,  obrigando  em  muitos  casos, a fazer parcerias com esses cidadãos, através de ferramentas de interação.  O  jornalismo  cidadão  abre  uma  nova  e  dinâmica  fonte  de   informação.  A  grande  mídia,  ao  mesmo  tempo  em  que busca  preservar  seus  espaços  de  funcionamento  e  hegemonia,  vê­se  forçada  a  estabelecer  simbioses   com   os  novos  circuitos  de  informação.  As  relações  contraditórias  de  complementação,  apropriação  e oposição  entre  a   midiasfera  e a blogosfera  começam  a  ficar  evidentes nos  jornais  on­line  de  todo o mundo (PALACIOS, MUNHOZ, 2010, p. 77).  

  3. 5 O projeto de Arianna Huffington    O  Brasil  Post  é  um  portal  de  notícias  e  agregador de blogs lançado no dia 28 de janeiro  de  2014  a  partir  de  uma   associação  do  Huffigton  Post,  portal  de  notícias  americano  com  a  Editora  Abril.  O  Huffington Post foi criado em 2005 pela jornalista Arianna Huffigton, com o  objetivo  de  agregar   diversos  blogs   americanos  em  um  site  de  notícias  nacional  (Brasil  Post,  2015). Além dos Estados Unidos e do Brasil, o Huffigton está em outros 11 países.    3. 5.1 Linha editorial    Em  um  especial  de um ano do site no país publicado no fim de janeiro de 2014, o Brasil  Post  apresentou  em  linhas  gerais,  o  projeto  editorial  do  grupo.  Entre  os  pontos  apresentados  está o posicionamento sobre determinados assuntos (Brasil Post, 2015).  O  Huffington  Post  não  tem  partido  político,  mas  todas  as  suas  edições  ao  redor  do   mundo  se  posicionam   favoravelmente  a  bandeiras  progressistas  como  o   respeito  pleno aos  direitos  humanos,  descriminalização  da maconha,  a  preservação  do  meio   ambiente,  os  direitos  LGBT,  o combate ao  racismo, o empoderamento  das mulheres  e a transparência na gestão pública (Brasil Post, 2015). 

Segundo  a  reportagem  (2015),  o  Brasil  Post  possui  600  blogueiros,  com  espaço  para  receber  novos  colaboradores.  A  respeito  da  linguagem  dos  textos, o site afirma não seguir  a a  linguagem utilizada no jornalismo impresso. 

8    Procuramos escrever  como falamos com nossos amigos. Não seguimos a fórmula da  pirâmide  invertida.  Usamos  emoticons,  GIFs  e  ~gírias   da  internet~  se  isso  fizer  sentido   no  contexto da  notícia.  Nossos  títulos  não  obedecem  às  fórmulas  do  jornal  impresso...   

A  linha  editorial  aponta   também  a  participação do leitor. Segundo a matéria especial de  aniversário  (Brasil  Post,  2015),  a  equipe  de  jornalistas  lê  e  procura  responder  todos  os  comentários  recebidos,   usando  como  pauta,  além  de  acompanhar  publicações  externas,  republicando assuntos interessantes no site, com link para o endereço de origem.   

3.5.2 Matérias selecionadas    O  Brasil Post selecionou 12 matérias de grande repercussão e audiência  no  primeiro ano  de  existência  que,  segundo   os  editores,  são  exemplos  do  tipo  de  jornalismo  que  desejam  praticar (Iraheta, 2015).  Em  todas  as  reportagens,  a  publicação  toma  posição  sobre  os  fatos  reportados.  Na  reportagem  “Protesto  online  motivado  por  pesquisa  do  Ipea  convoca  selfies  de topless  contra  o  estupro”  (Loureiro,   2014),  a  subjetividade  opinativa  é  evidenciada  não  apenas  no  parcialidade  ­   a  autora  da  reportagem  defende  o protesto ­ mas também a linguagem informal  comum entre os blogs, como no primeiro parágrafo.  Na  quinta­feira (27),  minha  timeline  do  Facebook  foi  inundada  por  comentários  de   amigos   chocados  com  os  resultados  da   pesquisa  do  Ipea  sobre   a  percepção  do  brasileiro  acerca  da  mulher.  Os  dados  realmente  mostram  uma  realidade  absurda:  65%  dos  entrevistados  acreditam  que  mulher  que  usa  roupa  curta  merece  ser  atacada. Pior: 66% dos entrevistados eram... Mulheres. Oi? (LOUREIRO, 2014).   

A  interatividade,   outra  característica  dos  blogs,  também  fica  evidente  na  reportagem  “Após  movimentação  popular,  Itamaraty  confirma  que  vai  negar  entrada  de  Julien  Blanc  no  Brasil”  (Martinelli,  2014).  A   reportagem  toma  novamente  posição  ao  apoiar   as  campanhas  contra  a  vinda  de  um  americano  para  o  país,  sob  ​ acusação  de  incitar  a  violência  contra  as  mulheres​ .  A  jornalista  Andréa  Martinelli,  autora  da  reportagem,  interage  com  o  público  e  as  redes  sociais,  citando  o  depoimento  de  um  diplomata  brasileiro  sobre  o  assunto publicado na  rede  social  Facebook  e  uma  petição  pública  criada  no  site  Avaaz  pedindo  a  Polícia  Federal  que negue o visto ao americano.  Para barrar a vinda dele,  uma petição pública endereçada à Polícia Federal foi criada  no  ​ Avaaz​ .  Mais  de  288  mil  pessoas  já   assinaram  o  documento  até  o  presente  momento.  Um  evento  no   ​ Facebook  ​ também  foi  criado  para  divulgar a petição.  O  texto divulgado na petição diz que…(MARTINELLI, 2014).   

A  publicação  “Não,  não  somos  macacos.  Somos  humanos!”,  de  autoria  de  Dojival  Vieira,  advogado,  jornalista  e  criador  da  Afropress  (Vieira,  2014)  traz  a  segmentação,  outra 

9    característica  dos  blogs,  ao  Brasil  Post.  Dos  12  textos  selecionados,  é  o  único  que  não  faz  parte  da  equipe  de  redação  do  portal,  mas  ganhou  destaque  por  trazer  uma  opinião  especializada,  segmentada,  sobre  o  assunto  em  questão.  Vieira  é  um  dos  600  blogueiros  anexados ao portal, que escreve especificamente sobre os direitos dos afrodescendentes. .        4 CONSIDERAÇÕES FINAIS      Das  quatro  características  dos  blogs  encontradas  na  pesquisa  bibiográfica  ­  subjetividade  opinativa,  interatividade,  segmentação  e  participação  popular  (jornalismo  cidadão),  a  subjetividade  opinativa  foi  encontrada  nos  12  textos  selecionados,  evidenciando  esta semelhança entre a linguagem dos blogs e a proposta pelo portal.  O  Brasil  Post  também  se  mostra  um  portal  com  influência  da  blogosfera  no  que  se  refere  a  interatividade  e  segmentação.  A  empresa  afirma  possuir  600  blogueiros  anexados  e  no  caso  da  repercussão  sobre  o  racismo,  a  direção  editorial  escolheu  um  dos  blogs,  de  propriedade  de   do   criador  de  um  site  segmentado  ­  Afropress  (www.afropress.com),  para  explanar sobre o assunto e demarcar o posicionamento do portal.   A  interatividade   com  o  público  vai  além  do  espaço  para  comentários  no  final  das  matérias.  Como  visto  no  caso  da  reportagem  sobre  a  campanha  contra  a   vinda  de  um  americano  acusado de incitar a violência contra as mulheres, a repórter acompanhou o assunto  pelas  rede  sociais,  e  interagiu,  publicando  as  campanhas  online e  também a primeira resposta  dada por um embaixador brasileiro.  Já  as  características  do  jornalismo  cidadão  não  foram  encontradas  no  portal.  Todos  os  textos  selecionados  tinham  foco  na  repercussão  e  opinião sobre os assuntos, nenhum deles na  notícia.  Na  matéria  em  que  a  linha  editorial  é  apresentada,  o  Brasil  post  afirma  que  “  acreditamos  que  a   repercussão  de  um  fato  é  tão  relevante  quanto  o  fato  por  si  próprio”  (Iraheta, 2014), evidenciando o não interesse pelo foco na notícia.        REFERÊNCIAS         

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