A influência da internet no design gráfico das publicações em papel

June 7, 2017 | Autor: Ana Veloso | Categoria: Suportes Digitais
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A influência da internet no design gráfico das publicações em papel Sabrina Bleicher Universidade de Aveiro, Portugal Ana Isabel Veloso Universidade de Aveiro, Portugal Berenice Santos Gonçalves Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil Resumo A grande explosão, nos últimos dez anos, de novos sistemas de comunicação, com especial destaque à internet, facilitou o acesso rápido a qualquer tipo de informação. De acordo com Pelta (2003), gerou-se um consenso entre os profissionais da comunicação de que se vive num universo complexo, em que é indispensável comunicar-se com velocidade e precisão. Todo este dinamismo, obrigou os meios tradicionais de comunicação a modificar-se, transformar-se, adaptar-se. Essas mudanças de paradigmas repercutiram imensamente no universo das publicações diárias, os jornais, e provocaram variantes na linguagem e na estética do seu design gráfico editorial, impresso e online. Segundo defende Cooke (2005), as notícias podem ser vistas também como uma mercadoria, e como tal, as mudanças no design são normalmente planeadas para maximizar o apelo funcional e estético deste produto para o consumo num mercado competitivo. Neste contexto, os últimos anos parecem delinear indicadores de uma nova tendência onde os parâmetros que antes definiam apenas o design gráfico online, passam a influenciar em maior medida o design das publicações diárias em papel. Este artigo focaliza-se no cruzamento entre a forma de apresentação da informação na rede "Internet" e a informação apresentada nas publicações impressas. Tem como resultado uma sistematização dos princípios fundamentais que, sob influência da internet, norteiam os actuais projectos gráficos editoriais das publicações em papel.

1. Introdução Na longa história da cultura humana, a preocupação com as transformações dos sistemas de comunicação é uma preocupação recente. “Ela data de meados do século XX, tendo coincidido com a emergência da cultura de massas” (Santaella, 2001: 24). Desde então, as questões trazidas por ela tornaram-se cada vez mais importantes até sua inegável omnipresença resultante da recente proliferação dos chamados novos meios de comunicação. Nesse âmbito, várias actividades outrora bem distintas, relacionadas a transmissão da mensagem e aos dispositivos utilizados para isso, atravessaram um

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período de progressiva indefinição de fronteiras (Furtado, 2006). A pesquisa de informação, a consulta, a análise e toda sorte de leituras e de escrita moldaram novas realidades, trouxeram novos comportamentos e com isso, novos questionamentos e reflexões. Lupton (Lupton, 2006) define esse cenário como uma “situação multimediática1”, ou seja, um momento em que diferentes suportes coexistem, tornam-se híbridos e influenciam-se mutuamente. Essa influência mútua dos meios de comunicação inspirou o desenvolvimento da pesquisa que agora se apresenta. O objectivo central deste artigo foi analisar de que maneira o meio online pode influenciar nas características dos actuais projectos gráficos das publicações impressas. Para tal, buscou-se, através do enquadramento teórico, compreender os paradigmas criados com os novos meios de comunicação; e através de um exemplo prático, sistematizar e organizar um conjunto de princípios que tornasse possível perceber como algumas características oriundas do meio online, passam a determinar, hoje, em maior medida, a linguagem visual das publicações em papel.

2. Enquadramento teórico 2.1. Os novos meios de comunicação e a internet

O início da era multimedia data dos anos 80. Neste período, a informática, que por muito tempo teve seu uso limitado a áreas muito específicas, perdeu, pouco a pouco, seu status de técnica e de sector industrial particular para começar a fundir-se com outras áreas, como as telecomunicações, o cinema, a televisão e a editoração (Lévy, 2001). A partir dessas fusões, segundo Lévy (2001: 32), “novas formas de transmitir mensagens apareceram: este decénio viu a invasão dos videogames, o triunfo da 1

Para Lévy (2001), o termo multimedia significa aquilo que emprega diversos suportes ou diversos veículos de comunicação. Actualmente é muito utilizado também para referir a duas tendências principais dos sistemas de comunicação contemporâneos: a multimodalidade e a integração digital. Nesse sentido o autor conclui que o termo “multimedia” quando não designar um tipo particular de suporte ou de processamento, estará, provavelmente, enunciando a intenção de designar um horizonte de uma estrutura de comunicação integrada, digital e interactiva.

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informática “amigável” (interfaces gráficas e interacções sensório-motoras) e o surgimento dos hiperdocumentos”. De acordo com o autor, foi no final dos anos 80 e início dos anos 90, que as tecnologias digitais surgiram como novo espaço de organização, de transacção, de sociabilidade e de comunicação. Esta recente forma de comunicar deu origem ao que se chama hoje de novos meios de comunicação, “uma expressão empregada para descrever a grande explosão de sistemas de entretenimento e informação desenvolvidos nos últimos dez anos” (Austin; Doust, 2008: 10). Diferenciando-os, assim, do que se denomina meios tradicionais de comunicação. Os meios tradicionais de comunicação, de acordo com Austin e Doust (Austin; Doust, 2008), são aqueles que se desenvolveram antes da era multimedia. De uma forma generalizada, podem ser representados pelo meio impresso, pelo rádio, cinema e televisão. Em linhas gerais, os meios tradicionais caracterizam-se por serem analógicos, sequenciais e estáticos, o que os diferencia nitidamente dos novos meios de comunicação que são digitais, interactivos e dinâmicos (Austin; Doust, 2008). O quadro 01 explicita comparativamente as características supracitadas.

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Meios de Tradicionais Exemplos

Comunicação Novos Meios de Comunicação

Meio impresso; rádio; cinema; Internet, Jogos de computador, televisão, etc. CD-ROM, DVD, Ambientes Virtuais. Analógicos (forma de medida ou Digitais (que trabalha representação de grandezas na exclusivamente com valores qual um sensor ou indicador binários). acompanha de forma contínua, sem hiatos nem lacunas, a variação da grandeza que está sendo medida ou representada).

Características

Sequenciais (relativo à ocorrência de eventos que se seguem no tempo, sem superposição).

Estáticos (sem parado, imóvel).

Interactivos (ato ou faculdade de diálogo intercambiáveis entre o usuário de um sistema e a máquina, mediante um terminal equipado de ecrã de visualização).

movimento; Dinâmicos (característica daquele ou daquilo que é enérgico, activo; diligência, energia, vitalidade).

Quadro 01: Quadro Comparativo entre os Novos Meios de Comunicação e os Meios Tradicionais Fonte: Quadro estruturado com base nas afirmações de Austin e Doust (Austin; Doust, 2008).

A digitalização, em contraposição às tecnologias analógicas, consiste em um factor de grande diferenciação dos novos meios de comunicação, que por essa razão podem ser chamados também de meios digitais de comunicação. Codificação digital, explica Santaella (Santaella, 2004), significa quaisquer fontes de informação – seja um som, um texto, ou uma fotografia – que podem ser homogeneizadas em cadeiras de 0 e 1, também chamadas unidades de código binário (um e zero), ou bits. A informação analógica é, de acordo com Lévy (Lévy, 2001), uma sequência contínua de valores e, por conta disso, perde qualidade sempre que é reproduzida. A transcrição digital, por outro lado, é descontínua, pois os dados são processados via código numérico e, quando armazenados através desta configuração, tornam possível a reprodução sem perda de qualidade. Tapia (Tapia, 2003) explica que estes factores

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permitem com que formatos, tipos, grids, cores e texturas construídos no computador sejam fáceis de processar, arquivar e fragmentar. Além disso, a informação gerada digitalmente é mais facilmente transferível, ocupa pouco espaço e não tem peso, portanto sua transmissão pode ser feita de forma praticamente imediata. O desenvolvimento do trânsito da informação através de sistemas digitais permitiu a invenção de novas formas de busca e navegação por uma imensa base de dados com acesso rápido e fácil. Nesse sentido, a tecnologia dos meios digitais passou a ser usada para transmitir informações através de um sistema de comunicação em rede, integrado, chamado internet. Esta rede de computadores interconectados permitiu ao usuário obter, acessar, trocar e armazenar informações globalizadas de/em qualquer parte do mundo. Transformou, portanto, de forma significativa a relação do utilizador com os meios de comunicação. Dentre todas as transformações, destacam-se dois conceitos - que apesar de já existirem antes do surgimento dos meios digitais, foram bastante estimulados por eles a saber: a interactividade e os hipertextos.

2.2. A interactividade e o hipertexto O termo “interactividade”, para Lévy (Lévy, 2001), refere-se à participação activa do beneficiário de uma transacção de informação. Para Santaella (Santaella, 2004), está nas vizinhanças semânticas das palavras acção, agenciamento, correlação e cooperação, das quais empresta seus significados. Segundo a autora (Santaella, 2004), na ligação com o termo acção, adquire o sentido de operação, trabalho e evolução. Da sua ligação com agenciamento, vem o sentido de inter-trabalho. Na vizinhança com o termo correlação, ganha o sentido de influência mútua e com o termo cooperação adquire os sentidos de contribuição, co-agenciamento, sinergia e simbiose. Contudo, não há como discutir interactividade, sem mencionar o hipertexto. O conceito do hipertexto já existe muito antes das noções de interactividade anteriormente

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descritas, entretanto seu desenvolvimento foi muito estimulado por esse dinamismo dos novos meios de comunicação. Para definir exatamente o que é um hipertexto, faz-se necessário recorrer à uma comparação com o texto tradicional2. O texto tradicional é uma obra que, tipicamente, deve ser lida começando-se pela primeira linha e seguindo de forma linear, uma frase após a outra, até a última. Um hipertexto, ao contrário, não tem uma ordem preferencial para ser lido (Tornaghi, 2005), esta ordem depende das escolhas de leitura do leitor/utilizador. O desenvolvimento do potencial do hipertexto, segundo Braga (Braga 2005), deu-se com os novos meios de comunicação – em especial com a internet – porque os limites do ecrã dificultaram a leitura de textos construídos de forma linear e demandaram uma organização que fosse mais adequada ao meio. Assim, a segmentação do texto em unidades menores interconectadas entre si foi uma alternativa para contornar os limites impostos pelo ecrã e incorporar de forma funcional os recursos oferecidos pelo meio. De acordo com Lemke (Lemke 2002 apud Braga, 2005), o meio visual impresso também oferece uma série de recursos de saliência – títulos, parágrafos, tipo de letra, paginação, entre outros – fixar sua atenção em segmentos aleatórios: títulos e subtítulos, início e fim de parágrafo, bibliografia. No entendimento do autor, o que difere o texto impresso do hipertexto não é apenas a diferença de tecnologia mas sim o fato de, em primeiro lugar, a rede de conexões do hipertexto activar a expectativa de que haverá links atrelados aos diferentes segmentos textuais. Em segundo lugar, a interacção entre esses segmentos não ser orientada por uma sequência padrão pré-estabelecida. Em outras palavras, o hipertexto difere do texto impresso na medida em que oferece ao leitor unidades de informação com possibilidades de trajectórias e loops sem que haja um eixo narrativo ou argumentativo que os relacione entre si de forma sequencial (Braga, 2005). Assim, a comunicação pelo ecrã cria não só novos gêneros de leitura e escrita, como pressupõe em seus leitores, novos comportamentos.

2

A expressão “texto tradicional” , em contraposição ao hipertexto, refere-se ao típico bloco linear, sequencial e compacto de texto dos livros comuns.

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Convém destacar, contudo, que a transição de um comportamento para outro nem sempre é fácil. A natureza humana tem por si uma postura de contrariedade às mudanças. No início da era cristã, por exemplo, os leitores dos códex tiveram que se desligar da tradição do livro em rolo. No século XVIII, não foi fácil à Europa adaptar-se a uma circulação mais efervescente e efémera do impresso. Os leitores defrontavam-se com um objecto novo, o livro, que lhes permitia novos pensamentos, e que, ao mesmo tempo, supunha o domínio de uma forma imprevista, implicando comportamentos inéditos (Chartier, 1999). A questão não está, portanto, na tecnologia, mas no uso que se faça dela. Não há, desse modo, necessidade de ruptura, mas de compreender a reorganização dos mecanismos de leitura e de suas possibilidades, sem criar uma dicotomia entre passado e presente. O que importa é constatar que novas maneiras e suportes acrescentam-se aos conhecidos, sem necessidade de os substituir. Uma

media

nunca

sobrepõe-se

a

outra,

complementa

Worthington

(Worthington, 1999), um período de mimetismo é seguido por um período de definição do novo e de redefinição do antigo. Percebe-se, assim, porque o meio digital apropriouse por muito tempo da linguagem do meio impresso, até desenvolver e potencializar as suas próprias características e trazer outras realidades. Contudo, por estar inserido em um ciclo constante de evolução, o impresso também passa a apropriar-se das novidades trazidas pelo digital. A reordenação destas possibilidades deu ao design gráfico razões suficientes para funcionar como um veículo de reflexão e de produção para tais inovações. A linguagem visual, sua configuração e composição têm grande relevância para a compreensão e a comunicação de qualquer conteúdo. Um projecto gráfico coerente, seja de uma página Web, seja de uma publicação impressa, tem o potencial de estimular o leitor a “prosseguir num caminho rumo a […] exploração de uma obra, independentemente de sua natureza” (Brioste; Campos, 2006: 86). A partir do exposto, percebe-se como os novos meios de comunicação, em especial pela internet, podem interferir nos projectos e nos modos de produção do design gráfico. O tópico a seguir discute essa influência.

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2.3. A influência da internet no design gráfico O design gráfico3, bem como as outras vertentes do design, normalmente configura-se como espelho da cultura na qual actua, é moldado por ela ao mesmo tempo que a molda (Worthington, 1999). Por essa razão, não ficou imune às mudanças trazidas pelos novos medias. Em outras palavras, os hábitos culturais dos meios digitais geraram mudanças no design gráfico e reafirmaram o papel dos seus suportes (Lupton, 2006). No cerne destas transformações estão as expectativas dos utilizadores dos media tradicionais que distinguiram-se daquelas dos usuários dos novos media. Estes querem sentir-se produtivos, enquanto os primeiros são contemplativos; não querem processar, e sim, buscar; são activos e não passivos; são interactivos (Lupton, 2006). A partir disso, pode-se dizer que os hábitos culturais dos meios digitais consolidam-se e, consequentemente as medias tradicionais sentem necessidade de adaptar-se, reinventando-se e buscando novos caminhos para atingir este público que utiliza, ao mesmo tempo, diferentes suportes. Através da análise deste cruzamento entre as potencialidades da informação na rede – internet – e a informação apresentada nas edições impressas é possível constatar que os meios tradicionais de comunicação, e aqui fala-se das publicações em papel4, buscam hoje conciliar, além de suas próprias especificidades, características do novos meios de comunicação. Procuram ser mais interactivas, embora ainda conservem uma intrínseca sequencialidade. Buscam ser mais dinâmicas, embora mantenham suas informações em um suporte fisicamente estático. Em absoluto, fazem uso da codificação digital para criar soluções para atingir estes objectivos, ainda que a impressão converta-se, no fim, em um resultado analógico (Quadro 01). 3

O design gráfico, uma área específica do design, trata de resolver problemas de transmissão de informação, através de projectos que envolvem textos, imagens e outros elementos gráficos. Trata da organização da informação e busca ser um instrumento de grande eficácia para a promoção do bem estar e para a divulgação das informações (Haslam, 2007). 4 Publicar, de uma forma bastante simples, quer dizer comunicar-se com as pessoas. De acordo com Evans (Evans, 2005) é uma palavra derivada do latim “publicus” que quer dizer “fazer público, dar ao público, deixar-se ver, mostrar-se em público”; actualmente significa preparar e distribuir um material escrito para o consumo público. Este material denomina-se publicação que pode ser impressa ou digital. Dentre os tipos mais comuns de publicações estão: os livros, os jornais e as revistas.

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Factores como os supracitados justificam a necessidade do design gráfico impresso de apropriar-se de características antes exclusivas do meio online. Como forma de elucidar este cenário, tendo em vista as diversas formas de expressão do design gráfico e das publicações em geral, buscou-se nos jornais de distribuição gratuita exemplos práticos da hipótese trabalhada neste artigo. Optou-se por este tipo de publicação porque, de acordo com Zappaterra (Zappaterra, 2008), os títulos mais recentes deste género – como o jornal sueco Metro, lançado em 1995 e o londrino thelondonpaper, de 2006 – apresentam em suas edições impressas numerosos elementos adquiridos no meio online. Dois factores coerentes justificam a afirmação de Zapaterra. Em primeiro lugar, os jornais de distribuição gratuita passaram a preencher um hábito de leitura muito recente, também adquirido com a internet: a busca constante pela informação rápida e globalizada. Em segundo lugar, as publicações recentes deste segmento foram desenvolvidas com o objectivo de servir a um público que não possui o hábito de ler diariamente os jornais tradicionais. Este público é representado por uma população economicamente activa e relativamente jovem, abaixo dos 40 anos, já habituado a ler e escrever no meio on-line.

3. Apresentação de novos paradigmas do design gráfico: indicadores da tendência actual Da reflexão teórica apresentada na secção 2 sobressaíam indicadores que sugerem uma tendência actual em encontrar influências da internet no design gráfico das publicações em papel. Esta tendência pode ser percebida tanto em aspectos funcionais, quanto estruturais, que combinam não só noções de leitura, mas essencialmente questões de visibilidade (Worthington, 1999). Lupton (2006) define o conceito de visibilidade ao afirmar que tanto as palavras pode ser “vistas” – percebidas como ícones, formas, padrões – como as imagens podem ser lidas – analisadas, decodificas, isoladas.

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O dilema, segundo Worthington (1999), parece ser decidir como a informação deve aparecer em cada suporte – já que actualmente ambos dividem um mesmo vocabulário – para que, através de imagens e palavras, a mensagem seja transmitida, tanto na ecrã quanto na página. Com o objetivo de descobrir como estes novos paradigmas são transmitidos para o papel, delineou-se alguns princípios fundamentais do design gráfico e compôs-se um conjunto de indicadores que, aparentemente, norteiam os actuais paradigmas dos projectos gráficos das publicações em papel. Compõe este conjunto de princípios adoptados: a navegação; o hipertexto e o bloco de texto; as imagens e a cores; e os tipos sem serifa.

3.1 A navegação No design editorial da página impressa a informação é condensada na forma de símbolos, utilizam-se códigos para guiar a visita do leitor. O leitor, para encontrar o que busca em um livro, em uma revista, recorre ao índice, e depois a página desejada (Austin; Doust, 2008). No meio online foram inventadas as barras de “voltar” ou “avançar” para guiar o leitor. Ou então, é através do menu que se tem acesso, de uma maneira imediata, aos conteúdos que se deseja. Todas as opções supracitadas são formas de navegação. Os diagramas, as cartas, os gráficos e os mapas impressos ou digitais também são formas de organizar a informação de forma acessível e navegável. Um bom título, claro, consistente e com o devido contraste e destaque também são muito úteis. Na internet, os menus e os links são posicionados de forma lógica e consistente no ecrã e utilizam-se muitas vezes das chamadas “linhas de orientação” (Exemplo: Início > Produtos > Sapatos). Na figura 01 é possível ver uma aplicação prática de como, na actualidade, as publicações em papel se apropriam muito dos recursos Web para apresentar formas de facilitar a orientação do leitor na página. Estão em causa factores como o prazo para a obtenção das informações, que actualmente é instantâneo e os leitores que procuram

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obtê-lo de forma fácil, clara e precisa. O índice das secções do jornal em questão (Jornal Metro São Paulo) apresenta-se destacado e encontra-se organizado no lado esquerdo da página, uma abaixo da outra, distribuídas em uma mesma coluna, em uma posição que remete facilmente a maioria dos “menus” das páginas Web.

Figura 01: Formas de navegação – Jornal Metro – Edição São Paulo (19/11/2008) Fonte: Disponível em:

3.2. A comunicação através de imagens e cores O design utiliza-se constantemente de cores e imagens para transmitir suas mensagens. Ambos são elementos chaves que podem utilizados no auxílio a compreensão do conteúdo pelo leitor. Com as possibilidades trazidas pelas novas tecnologias e os novos meios de comunicação, a imagem conquistou um papel importantíssimo na transmissão da

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informação. Associada ao texto, complementa a mensagem de forma eficiente em um universo que o visual choca, emociona, chama a atenção. Nos meios tradicionais, inovou, ganhou espaço, dimensão e os mais diversos formatos. A digitalização da imagem permitiu sua manipulação sem perda de qualidade, e isso teve como consequência possibilidades infinitas. Fotografias recortadas, a invadir a área de texto, composição de imagens sobrepostas são apenas algumas das possibilidades. Neste cenário, as cores participam como componentes activos e amplificadores do fenómeno contemporâneo da saturação de imagens. Segundo Guimarães (Guimarães, 2003), a cor é certamente um significante de grande influência, pode-se considerar que ela se antecipa aos outros e direcciona à mensagem. Quanto maior sua força dentro do repertório, mais naturalmente será lembrada e facilitará a assimilação das formas. O grafismo colorido e a fotografia, a página vistosa são reflexos da influência da internet e dos novos meios de comunicação. O exemplo apresentado na figura 02 demonstra algumas das possibilidades supracitadas de manipulação das imagens. Este tipo de tratamento foi potencializado com os novos meios de comunicação e hoje é amplamente utilizado nas publicações em papel. Pode-se observar também, na figura 03, como a cor é utilizada com liberdade para destacar o texto e complementá-lo, através de elementos gráficos como barras, caixas, linhas e filetes5.

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Barras, caixas, linhas e filetes são exemplos de elementos gráficos de uma página. Estes normalmente têm como função essencial cooperar com o texto na transmissão da mensagem. As barras são elementos gráficos destinados a separar ou destacar outros elementos da paginação de forma a dar-lhes ênfase. Podem, em certos casos, ter títulos ou pequenos textos em aberto. As caixas são superfícies delimitadas, contendo um texto, um gráfico ou uma imagem. As linhas e os filetes são elementos gráficos destinados a fechar caixas, a sublinhar textos e a separar colunas ou outros elementos da página (Rocha; Nogueira, 1999).

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Figura 02: Uso das imagens – Jornal thelondonpaper – Londres (10/03/2009) Fonte: Disponível em:

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Figura 03: Uso das cores – Jornal Metro – Edição São Paulo, Brasil (19/11/2008) Fonte: Disponível em: www.readmetro.com

3.3 O hipertexto e os blocos de texto Outra característica que remete directamente às páginas on-line são os textos curtos, separado em blocos, consequência, dentre outros factores, da disseminação do uso do hipertexto. O hipertexto tornou-se uma ferramenta comum, que rompeu com as sequências estáticas e lineares do texto tradicional. Permitiu ao leitor movimentar-se ao longo de um conteúdo através de um movimento singular, ao interligar informações segundo seus próprios interesses e necessidades momentâneas, navegando e construindo suas próprias sequências e rotas. Essa necessidade de movimento constante no ecrã, juntamente com as necessidades do leitor acostumado olhar para um texto electrónico por um curto espaço de tempo, significa, aparentemente, que os textos agora devem ser escritos em curtos

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blocos de informação. Seguindo esta tendência, as publicações em papel enchem-se de pequenos blocos de textos, de informações rápidas por todos os lados (Figura 04). Com tantas informações diferentes nas páginas, o meio on-line e as publicações em papel compartilham o conceito de hierarquia. Segundo Lupton (Lupton, 2006), a hierarquia indica um sistema que organiza conteúdo, enfatiza alguns dados em detrimento de outros. Ajuda os leitores a localizarem-se no texto, a saber onde entrar e sair e como seleccionar algumas de suas ofertas. Cada nível deve ser indicado por um ou mais sinais aplicados consistentemente ao longo do texto. Podem ser espaciais (recuo, entrelinha ou posição na página) ou gráficos (tamanho, estilo, cor ou fonte). Fica, então, ao critério do leitor localizá-las e ler aquilo que mais lhe interessar.

Figura 04: Uso dos curtos blocos de texto e de diversas informações na página – Jornal thelondonpaper – Londres (10/03/2009) Fonte: Disponível em: http://thelondonepaper.newspaperdirect.com

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3.4. A tipografia limpa: tipos sem serifas6 Lupton (Lupton, 2006) ressalta que a tipografia é o elemento essencial de qualquer composição textual, além de modificar-se com o advento das novas tecnologias, acompanha urgência do homem em expressar-se culturalmente. Consequentemente, se surgem ferramentas que possibilitam formas modernas de produção, cresce também a demanda por novos formatos e experimentações tipográficas. Tudo isso, combinado à facilidade da produção digital e ao mercado online, promoveu o aparecimento de uma imensa variedade de fontes. O crescimento da oferta de tipos na internet elevou a velocidade de transposição de antigas barreiras, como, por exemplo, a ideia de que tipos com serifa seriam mais fáceis de ler que aqueles que não as têm. Não que seja esta uma informação falsa, contudo, é hoje bastante relativa. Nesse sentido, notam-se constantes transformações no ramo da tipografia e as fontes tradicionais do âmbito editorial, como a famosa Times New Roman, deixam de ser a única opção possível. Dentro da pluralidade de estilos existentes, uma das tendências dominantes tem sido o retorno da simplicidade. Tipograficamente, o pensamento transformou-se e o desenvolvimento de fontes passou a buscar uma espécie de neutralidade visual, uma transparência tipográfica (Haslam, 2007). As publicações em papel, portanto, de forma a atingir esse objectivo, utilizam-se actualmente com liberdade das fontes sem serifa, como é possível ver na da figura 05. Essa tipografia limpa dá um toque moderno às páginas, requisito fundamental para atrair este novo tipo de leitor que agora se consolida.

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As serifas são elementos de um tipo que compõe sua anatomia. Correspondem a pequenos segmentos de reta que rematam/ornamentam as hastes de alguns tipos de letra por intermédio de um enlace. Podem ser retiformes (em forma de cunha), mistiformes (combinando linhas curvas e retas), filiformes (muito finas, como fios) ou quadrangulares (também chamadas egípcias) (Souza, 2002).

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Figura 05: Jornal thelondonpaper – Londres (10/03/2009) Fonte: Disponível em:

Esta busca pela simplicidade tem muito a ver com o curso seguido pelo design gráfico na internet. E parece que a ideia de que o usuário quer uma página da Web limpa, clara e acessível tem saltado deste campo também para o papel, conclui Pelta (Pelta, 2004).

4. Considerações finais Actualmente vive-se, no campo da comunicação, um cenário de constantes transformações. Nesse panorama, as capacidades específicas do universo digital questionam algumas noções atribuíveis à cultura do impresso – como a sua fixidez, linearidade, sequencialidade, autoridade ou finitude – e provocam transformações nas clássicas definições de autor, leitor e suas relações mútuas (Furtado, 2006). Abre-se espaço para novas formas comunicação escrita e visual.

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O leitor actual tem acesso a conteúdos globais, efémeras, normalmente a um custo baixo ou inexistente. Busca rapidamente as informações, e deseja obtê-las de forma fácil, clara e precisa. Não admite ser passivo diante da leitura, pois convive diariamente com a interactividade dos novos meios. Acostumou-se às formas dinâmicas de escrita e leitura. Estes novos hábitos pressupõem, portanto, uma readaptação dos meios tradicionais de comunicação, em especial aqueles que trabalham directamente com a transmissão da informação para o consumo público, como as publicações em papel. Estas, actualmente, buscam um diálogo mais directo e eficiente com esse leitor actual. Inspiram-se, então, na linguagem corrente dos novos media, e utilizam-se do design gráfico para construí-la de forma coerente. Este artigo pretendeu, dentro do contexto supracitado, explorar estas novas formas de apresentações gráficas. O enquadramento teórico consistiu em uma análise da evolução dos meios de comunicação e da posterior distinção de suas especificidades. A partir disso, foi possível destacar alguns princípios fundamentais do design gráfico e compor um conjunto de indicadores que, aparentemente, norteiam as actuais tendências da linguagem visual das publicações impressas. Nesse âmbito, foram discutidos os conceitos de navegação, hipertexto, bloco de texto, imagens, cores e tipos. A composição deste conjunto tornou possível perceber que algumas características antes exclusivas do meio online, passam a determinar, hoje, em maior medida, o design gráfico das publicações em papel. O cruzamento – entre a rede www e a edição impressa – acelera o que provavelmente consolidar-se-á como um novo modelo gráfico em um futuro não muito distante (Zapaterra, 2008). Nesse sentido, pesquisas analíticas que permitam uma sistematização das especificidades e uma descrição de características deste novo modelo que agora se consolida, são apenas algumas das direcções em que pode-se avançar. Sabe-se que a magnitude do impacto das tecnologias e sua vertiginosa evolução sobre o design gráfico é difícil prever. Contudo, como afirma Zapaterra (Zapaterra, 2008) estar atento às novas tecnologias e concepções da área através da pesquisa científica e da documentação mostram-se boas alternativas.

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A investigação e a consequente sistematização de dados podem servir como referência aos profissionais da área. Por conseguinte, será, também, um facilitador do desenvolvimento de modelos gráficos que responderão a expectativa dos leitores e irão de encontro aos seus novos hábitos. A importância deste tipo de pesquisa concretiza-se no facto de que todas as mudanças, sejam elas tecnológicas, culturais ou económicas, implicam em oportunidade (Zapaterra, 2008). Os responsáveis pela criação destas linguagens devem estar sempre a frente, preparados para aproveitá-las. Afinal, a actual convergência de todas as transformações supracitadas nunca foram tão interessantes e promissoras para o design gráfico como agora.

5. Referências bibliográficas Austin, Tricia; Doust, Richard (2008). Diseño de nuevos medios de comunicación. Barcelona: Blume, pp.10-67. Braga, Denise B.(2005) “A comunicação interactiva em ambiente hipermídia: as vantagens da hipermodalidade para o aprendizado no meio digital”. In: Hipertexto e géneros digitais: novas formas de construção do sentido. Rio de Janeiro: Lucerna, pp. 146-147. Brioste, Marcelo; Campos, Gisela B (2005) “Composição Visual em interfaces gráficas e digitais”. In: Estudos em Design, V.13, n.2 (Dezembro). Rio de Janeiro: Associação de Ensino de Design do Brasil, pp. 86-107. Chartier, Roger (1999). A Aventura do livro: do leitor ao navegador. São Paulo: Editora UNESP/ Impressora Oficial do Estado de São Paulo, pp. 93. Evans, Poppy (2005). Exploring Publication Design. New York: Thomson Delmar Learning, pp. 21-27 Furtado, José Afonso (2006). O papel e o pixel. Do impresso ao digital: continuidades transformações. Florianópolis: Escritório do Livro. Guimarães, Luciano (2003). As cores na mídia. São Paulo: Anna Blume. Haslam, Andrew (2007). O livro e o designer II: como criar e produzir livros. São Paulo: Edições Rosari, pp.94. Lévy, Pierre (2001). Cibercultura. São Paulo: Editora 34, pp. 31-51. Lupton, Ellen (2006). Pensar com tipos: guia para designers, escritores, editores e estudantes. Tradução: André Stolarski. São Paulo: Cosac Naify, pp.27-30; 74.

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