A influência das áreas verdes urbanas no bem estar do morador: análise das ferramentas do design territorial / The influence of urban green areas in the welfare of the dweller: analysis of the territorial design tools

August 9, 2017 | Autor: M. Liebl Keil | Categoria: Urban Design, CITES
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A influência das áreas verdes urbanas no bem estar do morador: análise das ferramentas do design territorial The influence of urban green areas in the welfare of the dweller: analysis of the territorial design tools

cidade, design territorial, método de design, ferramentas de design Viver nas cidades é a realidade de mais da metade da população brasileira. Viver com qualidade de vida é o objetivo (ou sonho) dos moradores urbanos. O artigo aborda como as áreas verdes urbanas ampliam a percepção de melhoria da qualidade de vida dos moradores e como o design pode auxiliar nos projetos urbanos. Por meio do estudo de três ações, foi possível determinar similaridades na percepção de bemestar e qualidade de vida e, dessa forma, identificar possíveis ações do design e quais ferramentas poderiam auxiliar num projeto de design para áreas urbanas. Como resultado, destaca-se o fato de que projetos urbanos de uso coletivo têm um grande grau de complexidade, que deve ser previsto nas ações de planejamento de projeto de produtos e sistemas de comunicação. O artigo, com base nos estudos, pode ainda determinar as etapas de um projeto para áreas urbanas e sugerir ferramentas que possibilitem melhores resultados. city, territorial design, design method, design tools Living in cities is the reality of more than half of the population. Living with quality of life is the goal (or dream) of urban residents. This paper discusses how urban green areas increased the perception of improving the quality of life of residents and how design can help in urban projects. Through the study of three actions, it was possible to determine similarities in the perception of well-being and quality of life and thus identify possible actions of design and which design tools could help for urban areas project. As a result, there is the fact that urban projects of collective use have a great degree of complexity that must be specified in the project planning actions of products and communication systems. This paper, based on studies, may also determine the stages of a project for urban areas and suggest tools that enable better results.

Anais do o 5 Simpósio Paranaense de Design Sustentável o (5 SPDS)

Proceedings of the th 5 Parana Symposium on Sustainable Design 5th ( SPDS)

Curitiba | Brasil | 2014 ISBN

Curitiba | Brazil | 2014 ISBN

1 Introdução As cidades estão em pleno crescimento demográfico, segundo dados oficiais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010). Essa tendência é mundial e, dados das Nações Unidas (ONU, 2013), apontam que em 2050, 75% da população mundial será urbana. Em termos numéricos, isso representa em torno de 250 mil pessoas por dia a mais nas cidades do planeta, o equivalente a uma nova Londres por mês (ROGERS, 2013). Para dar conta dessa população crescente, serão necessários esforços para garantir o bem estar nos centros urbanos. Em nenhum outro lugar, o termo sustentabilidade é mais propício aos esforços visando à manutenção e a melhoria da qualidade de vida do que nas cidades. Em meio a todo esse questionamento internacional visando à propulsão do consumo como acelerador da economia, vários pesquisadores propõem um novo modelo de desenvolvimento sustentável (MANZINI, 2008; PAPANEK, 1995). Já não era mais suficiente cuidar das emissões de gases, do consumo de matérias-primas não renováveis, da poluição da água, do solo, dos alimentos etc. O ser humano também faz parte do meio ambiente e como tal precisa ser preservado, com igual empenho. Entram em cena as questões da sustentabilidade social, com diretrizes sociais que buscam a vida digna, com qualidade, justiça, equidade, coesão social, e responsabilidade. Se o homem vive nas cidades é preciso humanizá-las. Essa discussão encontra eco nas diversas áreas do conhecimento, em especial, na sociologia, na geografia e também no design (MANZINI, 2008; MANZINI e VEZZOLLI, 2002; PAPANEK,1995, ZURLO, 2004; NORMAN, 2004; entre tantos outros). Trata-se de estudar o ser humano, o espaço com o qual ele interage e como ele se relaciona com os objetos. Dessa forma, o bem estar, ligado às áreas urbanas, toma corpo e importância. Nesse contexto, o comportamento humano é alvo de pesquisas minuciosas e busca-se entender o porquê de uma ou outra ação ou reação. As intensas mobilizações urbanas verificadas desde o movimento denominado “Primavera Árabe” (2010) inaugurou uma nova forma de protestos, onde inexistem grandes lideranças e são movidos por um interesse comum a uma população, que se rebela face a ações governamentais, econômicas, políticas que ela (população) considera desalinhadas ao seu interesse e bem estar. No início deste século, há uma consciência de que se pode viver melhor e cabe a todos buscar novas realidades sustentáveis, por mais triviais que pareçam. Ações que demandam mudança comportamental são realizadas de baixo para cima (bottom up) porque dependem de uma série de iniciativas colaborativas que não podem ser impostas, mas precisam ser conquistadas (MANZINI, 2008). No entanto, podem ser planejadas, criadas e facilitadas por governos e instituições e assim envolver a comunidade local. Considerando-se esse contexto, o objetivo desse estudo foi demonstrar, por meio de exemplos referentes às áreas verdes das cidades, formas de se realizar ações sustentáveis em governos locais, sejam com a demanda inicial tomada no modelo top down (GreenKeys, e Jardins de Sheffield), quanto no modelo bottom up (Canteiros de Rio Negrinho). Eles foram considerados por serem jardins e canteiros urbanos onde as ações foram executadas pelos próprios moradores do lugar em estudo, e que apresentasse uma longevidade e continuidade das ações. GreenKeys, 3 anos, foi considerado pela área de abrangência do projeto que ocorreu em 12 cidades em 6 países (Alemanha, Bulgária, Eslovênia, Grécia, Hungria, Itália e Polônia) onde foi possível verificar diversas experiências e diferentes resultados. O projeto dos Jardins de Sheffield ocupou inicialmente o verão de 1995, mas devido aos resultados, teve continuidade em projetos de pesquisa da Universidade de Sheffield até o ano de 2007. O projeto dos canteiros de Rio Negrinho conta com mais de 10 anos e apresenta constante crescimento na cidade. Com isso, buscou-se identificar o que deve ser previsto nas ações de planejamento de projeto de produtos e sistemas de comunicação, destacando-se as fases de um projeto para áreas verdes urbanas e sugerir ferramentas que possibilitam melhores resultados no design de seus equipamentos.

2 Benefícios das áreas verdes urbanas – 3 casos O dinâmico processo de crescimento das cidades tem como característica a ocupação intensiva dos espaços para acomodar as diversas necessidades espaços residenciais, industriais, serviços públicos, infraestrutura (água, esgoto, energia, telefonia), áreas de lazer e transporte, pressionando as paisagens naturais e culturais (COSTA, 2010). Um espaço muitas vezes negligenciado são as áreas verdes. Esses estuários de vegetação natural formam „verdadeiras ilhas nas cidades-sem-fim‟ (COSTA, 2010, p. 1). As áreas verdes exercem uma importante influência na qualidade de vida das populações urbanas, na melhoria do meio ambiente e manutenção do equilíbrio natural. Os elementos naturais nesse ambiente artificial são importantes para recompor o equilíbrio natural dos habitantes, promovendo a biodiversidade e trazendo benefícios estéticos, espirituais e psicológicos, muito além do simples crescimento de plantas (MILANO, 1988; VOLPE-FILIK; SILVA; LIMA, 2007; DUNNETT; QASIM, 2000; COSTA, 2010). A seguir, apresentam-se três tipos de soluções desenvolvidas com a finalidade de se oferecer áreas verdes que contribuam para a melhoria do bem estar das populações nas cidades. Jardins de Sheffield - Reino Unido Pesquisas realizadas no Reino Unido por Dunnett e Qasim (2000) apontam que as percepções de bem estar, proporcionado por espaços ajardinados na área urbana, foram relacionados à cinco aspectos.



Primeiro foi o aumento da criatividade devido à redução do estresse diário. 36% dos entrevistados declararam que se sentiam mais relaxados quando em contato com as áreas verdes e 23% valorizaram a oportunidade de auto expressão. Essa característica foi mais apontada por profissionais especialmente na faixa de 35 a 55 anos. Esse efeito foi creditado ao relaxamento que árvores e flores exercem sobre o ser humano, reduzindo o estresse e deixando-o mais feliz.



Em segundo foi o aumento das atividades físicas, ocorridas na construção e na manutenção como plantio, rega, limpeza assim como um local para praticar plantio comunitário de alimentos. Outro benefício foi o uso desses locais para atividades físicas.



O terceiro aspecto está relacionado ao conforto causado pelo maior contato com a natureza, 43% dos entrevistados responderam que locais verdes eram lugares onde poderiam entrar em contato com a natureza e com as mudanças de estação. Jardins eram vistos como um alívio e contraste necessário para os elementos rígidos do ambiente construído da cidade.



O quarto aspecto é o social, 23% dos entrevistados afirmaram que, ao ocupar-se com o jardim, havia maior probabilidade de interagir com os vizinhos, o que foi considerado positivo.



Em último, a possibilidade de produção de produtos orgânicos para consumo próprio, foi apontada como um benefício que se estende à família.

Nesse estudo (DUNNETT e QASIM, 2000), ilustrado na Figura 1, os espaços urbanos verdes, sejam jardins, quintais, praças ou parques, foram identificados como uma área que pode contribuir com o meio ambiente, promovendo uma paisagem bonita e relaxante. No aspecto econômico, foi comprovada a valorização imobiliária das propriedades situadas próximas às áreas verdes. As percepções variam de acordo com a faixa etária, sexo e ocupação. Pessoas acima de 55 anos, na maioria aposentadas, atribuíram grande importância aos jardins, assim como jovens com filhos abaixo de 5 anos, porque esses teriam maior contato

com a natureza, um ambiente mais salubre, com menores índices de poluição e poderiam aprender a respeitá-la e valorizá-la desde crianças. Figura 1: Esquerda Jardim particular em Sheffield, (Inglaterra). Centro „The Sheffield Family Community Garden‟ no Parson Cross Park. Direita, Garden Studio in Sheffield, UK, summer 2010.

Fontes: Esquerda: Beech Hill Road, Broomhill, Sheffield, UK" by 02vallancel. Centro: Sheffield City Council). Direita: (Courtesy of David Foster)

Portanto os benefícios são percebidos pelos independentemente do tamanho do espaço verde.

moradores,

turistas

e

visitantes

Projeto GreenKeys - Europa O projeto GreenKeys (COSTA, 2010) teve como objetivo a criação e implementação de estratégias para o desenvolvimento urbano sustentável, baseados em espaços urbanos verdes adequados às perspectivas sociais, ecológicas e econômicas, ampliando a quantidade de cidades sustentáveis na Europa, criando um “Pool for Green Space Strategies”, ilustradas na Figura 2, abaixo. Figura 2: Esquerda: plantio de vegetação para a reabilitação de áreas verdes em Praça Máttiaz em Budapeste (Húngria); Centro: seção de brainstorming com adolescentes para o ponto de encontro ao ar livre Leipzig (Alemanha), Direita: Parque Blüher em Dresden (Alemanha).

Fonte: Acervo GreenKeys-Project.

O projeto foi financiado pela União Europeia e Governo da Alemanha e envolveu 20 parceiros institucionais, 12 cidades e 8 instituições apoiadoras da Alemanha, Bulgária, Grécia, Hungria, Itália, Polônia e Eslovênia que trabalharam conjuntamente. Além disso, em todas as cidades participantes, buscou-se envolver de forma ativa diversas faixas etárias (COSTA, 2010). O projeto foi desenvolvido de 2005 a 2008 e dele resultou um manual de estratégias que contém sugestões para a preparação e implementação de áreas verdes urbanas em cidades Europeias (COSTA et. al., 2006), trabalhando no mesmo sentido que Costa, que afirma que „as áreas verdes urbanas têm um papel importante em relação à qualidade de vida de seus habitantes e são essenciais na formação da identidade da comunidade, porque dão forma, pregam o caráter e a imagem de um bairro ou de uma cidade‟ (COSTA, 2010, p.2). O objetivo comum a todos os projetos foi aumentar o uso social do espaço verde como lugar para interações sociais para todos os grupos de moradores, ampliando a atratividade da área, já que, quanto aos projetos de áreas degradadas, é consenso que para aumentar a conscientização e dar novo ou fortalecer a identificação dentro da área residencial, serão necessários novos insumos. Quando uma área está degradada deveria ser interditada para evitar que essa degradação se alastre: a „Teoria das janelas quebradas‟. Essa teoria defendida em 1982 pelos americanos James Wilson e George Kelling (apud RUBIN, s/d), revela que quando em uma construção ocorrer a quebra de uma janela, resultado do vandalismo ou não,

se não for consertada em curto prazo de tempo, novas depredações ocorrerão até não restar uma única vidraça. Segundo essa teoria, o lixo nas ruas e as pichações em paredes provocam o aumento da desordem, induzem ao vandalismo e aos pequenos crimes. Sob o aspecto ecológico, em quase todas as cidades do projeto Green Keys, o principal alvo é a preservação ou melhoria da vegetação natural, impactando na mudança climática apontada como uma das razões para a construção e preservação das áreas verdes (COSTA, 2010), como Sofia que propôs o aumento da cobertura vegetal da cidade. Outro item apontado foi a promoção da saúde pública, pois as áreas verdes estimulam as atividades físicas, melhoram a saúde física e psíquica a medida que produzem a sensação de bem estar e qualidade de vida. (COSTA, 2010). Canteiros públicos de Rio Negrinho, Santa Catarina - BR Rio Negrinho em Santa Catarina é uma cidade com aproximadamente 43 mil habitantes. Em 2004, algumas pessoas da comunidade buscaram reformar o paisagismo da praça principal, pois era habitada por moradores de rua que se ocultavam na vegetação alta, o que tornava o local propício a assaltos e inibia o acesso dos moradores à biblioteca pública que também se encontra neste local. Através do trabalho de voluntários e do apoio da prefeitura municipal e da Câmara dos diretores Lojistas- CDL, foram feitas diversas intervenções no ajardinamento do lugar (poda de árvores, substituição de plantas, melhorias na iluminação e sinal livre de internet) (AUGUSTIN, 2014). Essas intervenções inibiram o uso indevido do lugar e tornaram o local aprazível, esteticamente belo e passou a ser novamente utilizado pela comunidade, turistas e visitantes e, a partir desse projeto público e voluntário, outras iniciativas foram e continuam sendo realizadas como o ajardinamento do trevo de acesso à cidade, centro cívico, terminal urbano de passageiros, rodoviária, melhoria das calçadas da cidade, academia ao ar livre para a terceira idade, entre outros (AUGUSTIN, 2014), como pode ser observado na Figura 3, abaixo. Figura 3: Esquerda: Praça do Avião e Biblioteca Pública Municipal; Centro e Direita: canteiros do Centro Cívico.

Fonte: Ornato Jardins Ltda. https://www.facebook.com/www.ornatojardins.com.br?rf=440898039293090

Relatos dos moradores apontam o aumento da autoestima e orgulho através da percepção de pertencimento com o lugar, incentivo às atividades físicas, rede de apoio e fiscalização contra a criminalidade e vandalismo nos espaços públicos ajardinados, abertura de novos postos de trabalho tanto para a manutenção dos espaços verdes quanto para o aumento do fluxo de moradores, visitantes e turistas nas áreas ajardinadas, incentivo à melhoria e manutenção das propriedades privadas e seus jardins particulares, ligação entre os moradores. Diante desses resultados positivos, para suprir a escassa demanda de recursos financeiros, atualmente o projeto recebe aporte financeiro através do „Programa de Implantação e Manutenção de Áreas Verdes‟, do Consórcio Intermunicipal da Bacia Hidrográfica do Alto Rio Negro Catarinense - Consórcio Quiriri (AUGUSTIN,2014).

4. Considerações projetos e implementações possíveis de design Nos casos estudados foram relatados vários benefícios obtidos com a construção e manutenção das áreas verdes urbanas. Observou-se que independe se a iniciativa do ajardinamento partiu do governo ou se foi a partir de iniciativa dos moradores, mas que, em todos os casos, foram relatadas melhorias no bem estar das pessoas e na qualidade de vida.

No Quadro 1, a seguir, são relacionados os benefícios percebidos pelos atores em cada um dos projetos e possíveis ações do design para a implantação dos jardins e para a continuidade das ações. Quadro 1: Benefícios percebidos pelos atores e ações de implementações de design

Benefícios percebidos pelos atores

Jardins de Sheffield

aumento da criatividade aumento das atividades físicas

Projetos GreenKeys

1. 2.

Canteiros de Rio Negrinho   

conforto causado pelo maior contato com a natureza



Aumento do contato social







Produção de produtos orgânicos Cuidado dos moradores para evitar vandalismos

  

Redução da violência urbana (assaltos, uso de drogas) Aumento do valor dos imóveis na região do projeto Geração de novas fontes de renda (visitantes, turistas) Aumento das atividades culturais Reforçar os valores ecológicos

Ações e implementações: de design/arquitetura (Diretas) designer é orientador/ organizador de atividades

Geometria dos canteiros e caminhos 1 para estimular o relaxamento mental Projetos de equipamentos para 1 atividades físicas , Projetos de roteiros de caminhadas, 2 ciclo turismo Equipamentos para manutenção dos 1 espaços verdes , Projeto de Sinalização das espécies 1 da vegetação Projeto de áreas que estimulem a 1 interação social Projeto de equipamento urbano (bancos, quiosques, áreas de lazer 1 infantil, pontos de ônibus)

Projetos de design contra o crime, Equipamentos de monitoramento 1 urbano via câmeras , Estimular serviços de parcerias com 2 os moradores e comerciantes



Redesenho de sites das prefeituras e 1 grupos de apoio

 

Projeto de material de publicidade , Projetos de sites, aplicativos para aparelhos eletrônicos (celulares, 1 tablets etc)

1

- Benefício relatado

5. Metodologia de design para projetos territoriais Com base nos casos apresentados anteriormente, associados a uma literatura voltada para projetos de design de serviços, como no caso a construção de jardins e áreas verdes, projeto aplicado a um território, as ferramentas com melhor chance de sucesso são citadas no Quadro 2, a seguir, com base em Maffei e Villari (2006). Na primeira fase, as conexões com os atores são cruciais para o desenvolvimento do

projeto. As ações no nível relacional, que determinam uma rede de sujeitos (atores) envolvidos com o processo de design na esfera local, estabelecendo os sistemas de relação, identificação das competências e funções, onde a gestão e o quadro de referências são definidos, determinam, também, a continuação do projeto. Nessa fase é criada a comunidade de design, em que seus participantes compartilham de um mesmo objetivo (ibid). A segunda fase compreende o nível onde são tomadas as definições estratégicas de design, a partir da análise do contexto estruturante do território. O projeto parte de um sistema de conhecimento local, situado nos membros da comunidade e disseminado por e entre eles. O papel do designer nesse estágio é o de identificar orientações pertinentes ao campo de ação, sugerir cenários, identificar e visualizar novas oportunidades, sugerir ferramentas para favorecer as metas de projetos comuns à comunidade e facilitar a comunicação internamente entre os participantes e externamente aos visitantes e turistas (MAFFEI e VILLARI, 2006). Na terceira fase, os resultados são percebidos no sistema de artefatos e serviços. O designer passa a ser o interpretador das necessidades e desejos, atuando como um recurso específico de criação e concretização dentro da comunidade de design. Suas ações são desenvolvidas juntamente com outras competências locais (econômicas, sociais, administrativas, legislativas), sugerindo soluções capazes de apoiar iniciativas práticas no território (MAFFEI e VILLARI, 2006). Quadro 2: Ferramentas do design sugeridas em cada uma das fases do projeto.

Nível de Design estratégico

Nível relacional

Fases

Ações

Ferramentas do design

Características da ferramenta

Definição dos objetivos – metas projetuais

Blue Sky

2

Conceitos do projeto -

Wicked problems Mess problems map – Sistemas complexos

Construção de cenário de design baseados no entendimento que existem padrões de comportamento humano que se repetem através da história. A Blue Sky tem a intenção de encontrar elementos em outros contextos, além dos limites da pesquisa contextual (SCALETSKY e BORBA, 2010). Wicked problems - Problemas complexos com constantes mudanças de comportamento do consumidor que não são resolvidos com estratégias usuais de projetos, porque apresenta causas contraditórias e incompletas. O termo Wicked (perverso, em português) refere-se à resistência à resolução. São problemas sem solução definitiva (HORN, 2001).

Priorização de conceitos

Strategy wheel

3 4

Mapeamento do sistema

Mapa do sistema SWOT

5

Mapeamento do usuário

Exploring Customer needs MEPSS Service Blueprint

1

Nível dos artefatos e serviços

6

5

Planejamento de ações Ações de design para a sustentabilidade

MSDS – Method for System Design for sustainability

Diagrama que permite a compreensão rápida das forças estratégicas do objeto de design e prioridades de projeto (Delft Design Guide, part 2). Descrição visual da organização técnica do serviço: os diferentes atores envolvidos, suas relações recíprocas e os fluxos de materiais, energia, informação e dinheiro através do sistema (Service Design Tools). Identificar as necessidades dos clientes e explorar maneiras de melhor satisfazer essas necessidades (MePSS Webtool). Identificação das etapas de execução e suas respectivas interações com o cliente (SANTANA et al., 2011). Dar suporte e orientar todo o processo de desenvolvimento de inovações de sistema para a sustentabilidade (VEZZOLI, 2010)

6

Consolidação/ avaliação das ações

Mapa de satisfação

Medir a satisfação do usuário do sistema

Considerações finais Em projetos que visam ao desenvolvimento de um território, certamente se espera que o designer não seja somente um criador de artefatos, mas auxilie a comunidade a expressar os seus valores e o seu orgulho em pertencer ao lugar, como no caso dos jardins de Rio Negrinho. O designer pode auxiliar na expressão de subjetivas inovações práticas com base nas linguagens e saberes, considerando a cultura local, bem como auxiliar na concretização de soluções, compreendendo o contexto local e a comunicação das riquezas e singularidades desse território por meio do design de artefatos e/ou serviços. Mas também ao tratar de solução de design para o cliente coletivo, algumas particularidades e envolvimentos são necessários ao desenvolvimento desses projetos, como no caso de Sheffield e do projeto europeu. Do ponto de vista macro, o ponto central relatado na bibliografia específica e nos exemplos estudados, destaca-se, certamente, o envolvimento do poder público e da comunidade local. O designer atua nesse cenário como uma conexão e interpretação dos desejos e necessidades desses atores. Foram identificados pontos, em que o design não foi mencionado, como no caso das questões referentes à segurança, mas eles também poderiam ser aprofundados e incluídos nos projetos. Para dar conta desse cenário complexo é necessária a utilização de metodologias e ferramentas próprias que atendam às particularidades do projeto. Nesse caso, a metodologia proposta por Maffei e Villari (2006) auxiliou na discriminação de algumas técnicas de projeto que podem auxiliar em ambos os casos. Conforme a situação, no entanto, recomenda-se a revisão das técnicas sugeridas, com a retirada ou inclusão de novas, conforme as especificidades do projeto a ser desenvolvido. Ressalta-se ainda que os benefícios desse tipo de projeto são perceptíveis quando a comunidade se identifica com o lugar criado a partir das intervenções e se apropria dos lugares passando a zelar pela manutenção dos mesmos. Verificou-se, nos casos apresentados, a criação de um elo social entre os moradores do lugar, assim como a sensação de bem estar e melhoria da qualidade de vida quando o contato com a natureza está mais próximo das residências, locais de trabalho e de passagem. O trabalho aqui apresentado não é extensivo. Novos estudos, que tenham como objetivo a valorização do território urbano, necessitam metodologias específicas, assim como ferramentas que auxiliem na elaboração desse tipo de projeto, devendo o tema ser aprofundado. Referências AUGUSTIN, C. W. Ciliane Wille Augustin: depoimento [out. 2014]. Entrevistadora M.M.L. KEIL. São Bento do Sul, 2014. Arquivo eletrônico com 111 minutos. Entrevista concedida a M.M.L. KEIL. COSTA, Carlos Smaniotto et. al. Appraisal Report on General Framework in Partner Cities and Current Status of the Pilot Projects. Dresden: IOER. 2006. Disponível em: . Último acesso: out. 2014. COSTA, Carlos Smaniotto. Áreas Verdes: um elemento chave para a sustentabilidade urbana. A abordagem do Projeto GreenKeys. Arquitextos, São Paulo, ano 11, n. 126.08, Vitruvius, nov. 2010 . DUNNETT, N. e QASIM, M. Perceived Benefits to Human Well-being of Urban Gardens. International Human Issues in Horticulture. Jan- March. 2000. Disponível em . Último acesso: out. 2014. HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro, RJ: DP&A. 2006. HORN,R.E. Knowledge Mapping for Complex Social Messes. presentation to the “Foundations in the Knowledge Economy” at the David and Lucile Packard Foundation, July 16, 2001. MAFFEI, S. e VILLARI, B. Design for Local Development.Building a design approach for the territorial capital resources based on a situated perspective. Cumulus Working Paper, Nantes. Helsinki: University of Art and Design Helsinki. 2006.

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i

Universidade Federal do Paraná - UFPR, Brasil. Universidade do Contestado - UnC, Brasil, . ii Universidade Federal do Paraná - UFPR, Brasil. Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR, Brasil, < [email protected]>.

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