A INFLUÊNCIA DO PREÇO INTERNACIONAL E O IMPACTO DA PRODUÇÃO DE VEÍCULOS A ÁLCOOL SOBRE A PRODUÇÃO DE AÇÚCAR NO BRASIL NO PERÍODO 1990-2006 [email protected] Apresentação Oral-Comercialização, Mercados e Preços

July 1, 2017 | Autor: Mosar Ness | Categoria: Sugar cane, Raw materials
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A INFLUÊNCIA DO PREÇO INTERNACIONAL E O IMPACTO DA PRODUÇÃO DE VEÍCULOS A ÁLCOOL SOBRE A PRODUÇÃO DE AÇÚCAR NO BRASIL NO PERÍODO 1990-2006 [email protected] Apresentação Oral-Comercialização, Mercados e Preços GUSTAVO BERTOTTI; MOSAR LEANDRO NESS; ANGÉLICA MASSUQUETTI. PPGE UNISINOS, SÃO LEOPOLDO - RS - BRASIL. Grupo de Pesquisa: 1. Comercialização, Mercados e Preços. Resumo: No começo da década de 1990, deu-se início ao processo de desregulamentação dos produtos do setor sucroalcooleiro através da liberação de seus preços. Nesse contexto, esses preços passaram a ser determinados de acordo com as regras de livre mercado, no qual o governo deixou de determinar as cotas de produção de açúcar e de álcool para cada usina e destilaria, os preços da matéria-prima e dos produtos finais e a operacionalização das exportações de açúcar excedente produzido. Neste trabalho buscou-se analisar a produção de açúcar no Brasil e o grau de influência que o mercado internacional exerce através da transmissão de preços do açúcar de um mercado para outro. Para tanto, estimouse uma equação de oferta de açúcar no mercado brasileiro, através do método dos mínimos quadrados, no período de 1990 a 2006. As variáveis consideradas na equação da oferta de açúcar (quantidade produzida de cana-de-açúcar, preço do açúcar no mercado interno e preço do açúcar no mercado internacional) apresentaram sinais coerentes aos esperados, entretanto, a variável produção de veículos a álcool apresentou-se não significativa. O coeficiente da variável quantidade produzida de cana-de-açúcar foi de (0,79), ou seja, dada uma variação de 10% na produção de cana-de-açúcar no Brasil, a quantidade de açúcar irá variar 7,9% no mesmo sentido. Já o coeficiente da variável preço do açúcar no mercado interno (1,106) indica que uma elevação de 10% no preço do açúcar no mercado interno a oferta varia 11,06% no mesmo sentido. De outra parte, os resultados obtidos do coeficiente da variável preço do açúcar no mercado internacional (-1,091) indicam que, com o aumento de 10% no preço do açúcar no mercado internacional, a oferta de açúcar no mercado interno varia 10,91% em sentido oposto, ou seja, parte do açúcar ofertado internamente será deslocado para suprir a demanda do mercado externo. Palavras-chaves: Setor Sucroalcooleiro, Produção de Açúcar no Brasil, Mercado Internacional, Produção Brasileira de Veículos a Álcool. Abstract: At the beginning of the 1990s has begun the process of deregulation of the sugaralcohol sector products through the release of their prices. In this context, these prices have been determined in accordance with the rules of free market in which the government failed to establish the quotas for the production of sugar and alcohol for each mill and distillery, the prices of raw materials and final products and operationalization of exports of surplus sugar produced. In this study sought to examine the production of sugar in Brazil and the degree of influence that the international market through the provision of exercise prices of sugar in a market to another. Thus, it was estimated to obtain the supply of sugar in the Brazilian market, it was estimated an equation of supply of sugar by the method of least squares. The analysis included the period from 1990 to 2006. The variables considered in the equation of supply of sugar (quantity produced from sugar cane, the Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009 Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

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sugar price in the domestic market and price of sugar in the international market) had signs consistent to expected, however the variable production of vehicles made up the alcohol not significant. The coefficient of the variable yield of cane sugar was (0.79), ie given a variation of 10% in the production of sugar cane in Brazil, the amount of sugar will vary 7.9% in the same direction. But the coefficient of the variable price of sugar in the domestic market (1.106), indicates that an increase of 10% in the price of sugar in the domestic market supply varies 11.06% in the same direction. Elsewhere, the results of the coefficient of the variable price of sugar on international markets (-1.091), indicates that the increase of 10% in the price of sugar in the international market, the supply of sugar in the domestic market varies 10.91% in opposite direction, ie the domestic supply of sugar will be moved to meet the demand of the market. Key Words: Sugar-alcohol sector, Sugar production in Brazil, International Market, Brazilian production of alcohol in vehicles.

1 INTRODUÇÃO O presente trabalho tem como objetivo analisar a estrutura do mercado de açúcar no Brasil, através de um modelo de oferta, considerando as inter-relações do preço do açúcar regulado pelo mercado internacional e da produção brasileira de veículos a álcool. O período sob análise compreende entre janeiro de 1990 e dezembro de 2006. A cultura da cana-de-açúcar, no Brasil, relaciona-se com a história do país. Foi uma das primeiras culturas agrícolas organizadas no período da colonização pelos portugueses em meados do século XVI. A agroindústria canavieira brasileira teve seu desenvolvimento marcado por grande intervenção governamental, que ocorreu intensamente durante o período colonial. Nos primeiros anos da década de 1990 deu-se início ao processo de desregulamentação dos preços dos produtos do setor sucroalcooleiro através da liberação do preço do açúcar, a qual estendeu-se para o preço do álcool anidro e depois para os preços da cana e do álcool hidratado. Neste contexto, os preços do setor sucroalcooleiro passaram a ser determinados de acordo com as regras de livre mercado e, desde então, o setor açucareiro tem passado por profundas transformações em um período relativamente curto de tempo. Os preços do açúcar brasileiro passaram a apresentar maior inter-relação com os preços do mercado internacional, mediante a desregulamentação das exportações (mantidas até 1994 sob um sistema de quotas tarifárias) e o aumento acentuado das exportações brasileiras de açúcar. Esses fatores têm indicado o estabelecimento de mecanismos de arbitragem entre os preços domésticos e externos de açúcar (CARUSO, 2002). A produção de veículos a álcool no Brasil apresenta índices crescentes e a demanda por carros flex-fuel já representa 90% dos veículos novos fabricados no país em 2007 (MAPA, 2008). Assim, a análise do processo de formação de preços e oferta do setor açucareiro brasileiro incorpora duas hipóteses básicas. A primeira trata da relação entre os mercados doméstico e internacional do açúcar que se tornou mais acentuada na década de 1990. A segunda diz respeito ao elevado grau de relacionamento com o mercado de álcool combustível, uma vez que o açúcar e o álcool correspondem à mesma matéria-prima. A pressuposição utilizada neste trabalho é de que a oferta de açúcar no Brasil sofreria influência direta da transmissão dos preços internacionais do setor e a da crescente produção brasileira de veículos a álcool. Todavia, observou-se que o setor, em se tratando Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009 Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

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de um produto, é significativamente influenciado pelo comportamento dos preços interno e externo. A estimação da equação de oferta do setor açucareiro no período analisado possibilitou não apenas a obtenção das elasticidades de preço e níveis de produção, mas também se constitui em um instrumento de previsão, uma vez que possibilita inferir os impactos de medidas políticas no mercado açucareiro. O presente trabalho está dividido em duas seções: na primeira seção são apresentados aspectos referentes à caracterização do setor sucroalcooleiro e o desempenho das variáveis do setor; na segunda seção descreve-se a metodologia econométrica empregada para a realização do presente estudo, bem como as estimações do modelo proposto e os resultados obtidos da análise.

2 A EVOLUÇÃO DO COMPLEXO AGROINDUSTRIAL CANAVIEIRO NO BRASIL O complexo agroindustrial canavieiro constitui-se na mais antiga atividade econômica do Brasil. O cultivo da cana-de-açúcar e a fabricação do açúcar eram atividades econômicas tradicionais no Brasil colonial, sendo esse o primeiro produto básico de exportação a partir dos fins do século XVI de acordo com Suzigan (2000). Entre os séculos XVI e XIX, toda a atividade econômica atinente ao setor sucroalcooleiro restringia-se quase que exclusivamente à Região Nordeste, onde quase toda a produção do setor era desenvolvida próxima à úmida zona litorânea conhecida como Zona da Mata, o que permitiu o surgimento de área de monocultura na região, propiciando assim uma grande oferta que permitiu ao Brasil se tornar o líder do mercado mundial durante a segunda metade século XVI até fins do século XVII, segundo Baer (2002) e Furtado (2000). Esse destaque deveu-se às condições climáticas favoráveis e à vasta expansão territorial próxima dos mercados europeus. A partir do século XVIII, inicia-se a produção de aguardente, subproduto de grande consumo interno, que era exportado principalmente para Angola, servindo como escambo de escravos (FURTADO, 2000). As destilarias de aguardente eram instaladas, junto à moenda, nos engenhos de açúcar. Com a expansão da produção, o engenho passou a ser denominado de complexo agroindustrial, compreendendo moendas1, caldeiras, casa de purgar, além de outras instalações como a residência do senhor do engenho, a senzala dos escravos e as oficinas. Como explica Furtado (2000), o funcionamento do engenho dependia de: a) grandes canaviais, capazes de abastecê-los nas quantidades necessárias e na época prevista; b) florestas próprias e próximas, de onde pudesse ser extraída a lenha para alimentar o fogo das caldeiras; c) recursos primários suficientes para assegurar o funcionamento das unidades produtivas; d) rebanho de gado que satisfizesse as necessidades de transporte e, em alguns casos ao funcionamento da moenda. No final do século XIX, conforme explicou Suzigan (2000), a indústria de cana brasileira começou a sofrer a concorrência do açúcar de beterraba e também em razão da concorrência do açúcar de maquinaria moderna decorrente de grandes países produtores como Cuba. No entanto, no início do século XX, o açúcar passou a ter destaque nacional, 1

As moendas dos engenhos eram movidas, na sua grande maioria, por água, havendo, também, as movidas por bois, dependendo das disponibilidades hídricas (FURTADO, 2000).

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desenvolvendo-se também na Região Centro-Sul, especificadamente em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. O aumento da produção de açúcar nessa região, principalmente no estado de São Paulo, ocorreu simultaneamente a uma redução da demanda externa, resultante da crise mundial do anos trinta. A partir do ano de 1930, o governo passa a desempenhar um papel de extrema importância no desenvolvimento do setor agroindustrial sucroalcooleiro. Conforme Costa (2003), a Crise de 1929 encontrou no Brasil uma superprodução de açúcar, o que fez com que os preços recuassem. A década de 1930 vivenciou uma corrida de usineiros por terras em o todo o território nacional, surgindo às primeiras grandes usinas de cana no interior de São Paulo o que mais tarde implicaria a redução dos custos de produção do açúcar. O marco fundamental da intervenção do governo para o setor sucroalcooleiro foi a criação do Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA), em 1933, tendo como objetivo resolver o problema da superprodução da indústria canavieira através do planejamento e controle da produção, adequando-os às necessidades de consumo interno e externo (ALVES, 2002). O IAA foi considerado favorável à produção de açúcar, favorecendo o crescimento dos investimentos, bem como facilitando a importação de tecnologias produtivas. Segundo Suzigan (2000), a política do IAA também ajudou a Região Centro-Sul (particularmente São Paulo) a conseguir a auto-suficiência na produção de açúcar e ao Nordeste destinar o excesso de produção para os mercados estrangeiros. No final da década de 1940, a Região Centro-Sul já produzia mais açúcar de usina que a Nordeste. Conforme Costa (2003), em dezembro de 1941 foi promulgado o Decreto-Lei 3855/41, disciplinando rigidamente as relações entre os fornecedores de cana e os produtores de açúcar e álcool. Criava-se o Estatuto da Lavoura Canavieira, o qual passaria a regular as relações entre usineiros e fornecedores. A segunda Guerra Mundial prejudicou o transporte marítimo brasileiro, Alves (2002) esclareceu que era utilizado basicamente nas importações e exportações de açúcar, gerando problemas de abastecimento na Região Centro-Sul. A partir de 1942, observa-se a grande inversão política de contingenciamento da produção de açúcar, o resultou no aumento da produção nacional e no deslocamento da produção do Nordeste para o CentroSul. Até 1946 prosseguiu o IAA mantendo a política econômica do setor sucroalcooleiro, com fundamento no Estatuto da Lavoura Canavieira e na legislação complementar. Na década de 19602, alguns fatores conjunturais3 alteraram as perspectivas do setor, influenciando a atuação estatal. Apesar das intensas flutuações nas ofertas e nos preços mundiais a curto prazo, os excedentes nordestinos não seriam suficientes para atender às crescentes demandas, interna e externa, em relação ao açúcar, conforme Costa (2003) apontou. No início da década de 1970, verificou-se grande fomento estatal às exportações, assim como programas de melhoria de produtividade e de racionalização de produção. Neste intuito, vários programas foram criados, dentre eles o Programa de Racionalização da Agroindústria Açucareira no ano de 1971, que foi substituído no ano de 1973 pelo Programa de Apoio à Agroindústria Açucareira e, em seguida, pelo Programa Nacional do Álcool – Proálcool4, em novembro de 1975. 2

Mais informações sobre a década de 1960 podem ser encontradas em Costa (2003). Dentre os fatores conjunturais, destaca-se, a Revolução Cubana que, estabelecendo o regime socialista em 1959, exclui Cuba do mercado preferencial norte-americano, abrindo mercado para os produtores nordestinos, até então dependentes da demanda do Centro-Sul e demanda externa (ALVES, 2002). 4 Mais informações sobre Proálcool e a evolução da agroindústria canavieira podem ser encontradas Furtado (2000) e em Costa (2003). 3

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Segundo Alves (2002), o Proálcool deu ênfase para o aproveitamento da capacidade ociosa. Já Furtado (2000) revelou que esse tornou-se o maior projeto de energia alternativa do mundo, a participação do álcool carburante anidro e hidratado na área de combustíveis líquidos cresceu de 1,2% em 1978 para 8,1 % em 1984. A partir de 1985, o governo brasileiro passou a executar uma política de controle da inflação, onde o maior controle estava ancorado na contenção de preços de combustíveis e, consequentemente, do álcool, assim como os preços do açúcar e da cana-de-açúcar. Conforme Costa (2003), a década de 1980 vivenciou os altos e baixos do Programa Proálcool, cujos problemas, especialmente de abastecimento, vieram a intensificar-se após a promulgação da Constituição de 1988. A partir de 1989, inicia-se o processo de desregulamentação do setor sucroalcooleiro no Brasil. No início da década de 1990, o controle excessivo das atividades da agroindústria canavieira passa a exercer menos influência. Dentre os principais fatos de liberação do setor sucroalcooleiro, destacam-se: a liberação das exportações, a extinção do IAA, término dos planos de safra e liberação dos volumes e preços de comercialização. Diante disso, o setor sucroalcooleiro tem passado por profunda transformação, cujas principais mudanças ocorrem na produção e nas formas comercializar os produtos, uma vez que o governo passa a exercer função secundária na regulação do setor de acordo com Alves (2002). Dessa forma, as empresas do setor sucroalcooleiro passaram a depender mais de sua eficiência econômica, em relação à concorrência e políticas de preço do açúcar e do álcool. 2.1 A evolução da produção de açúcar no Brasil a partir de 1990 Atualmente, a produção de cana-de-açúcar no Brasil concentra-se nas regiões Centro-Sul e Norte-Nordeste, onde se concentram as plantações e as usinas produtoras de açúcar, etanol e bioeletriciadade, segundo IBGE (2008). Com a liberação dos volumes e dos preços de comercialização do açúcar a partir de 1990, o setor açucareiro brasileiro passou a ocupar destaque internacional. O Brasil destaca-se como o maior produtor e exportador mundial de açúcar, sendo um dos países mais competitivos nesse mercado. A produção de açúcar de 1990/1991 a 1999/2000 apresentou crescimento de 163,2%, observou-se que na safra de 1999/2000 a Região Centro-Sul detinha cerca de 87% da produção total. Na safra de 2000/2001, devido a fatores climáticos, como seca e geada, e ao sucateamento do canavial provocado pela crise setorial, a produção açucareira registrou uma queda de aproximadamente de 18% em relação à safra anterior. Entretanto, mesmo considerando a quebra de safra, observa-se que na safra de 2001/2002 a 2006/2007, a produção açucareira apresentou crescimento considerável, atingindo um índice de 54%. Já no período de 1990/1991 a 2006/2007, destaca-se o avanço de 468% da produção açucareira na Região Centro-Sul, que passou de 4,5 milhões de toneladas para 25,58 milhões de toneladas, enquanto no mesmo período a Região Norte-Nordeste passou de 2,8 milhões de toneladas para 4,0 milhões de toneladas, representando um crescimento de 42%. A evolução crescente da produção brasileira está sustentada no grande aumento da produção paulista de açúcar ao longo desses últimos anos (CARUSO, 2002). Do total de 29,68 milhões de toneladas produzidas de açúcar na safra de 2006/2007, a Região CentroSul, principalmente o estado de São Paulo, foi responsável por 86% da produção total.

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O crescimento da produção açucareira no Brasil acentua-se a partir da década de 1990 devido a dois estímulos de origens distintas, derivados da demanda do mercado interno e externo, respectivamente. No mercado interno, o crescimento da produção decorre do crescimento da demanda de açúcar após 1994 com o Plano de Estabilização Econômica (Plano Real) e pelo aumento da demanda por produtos alimentícios, em cuja fabricação o açúcar é matéria-prima essencial. Quanto ao mercado externo, Caruso (2002) ressalta que os preços vigentes no mercado internacional nos anos noventa, a elevação das exportações para a Rússia e, recentemente, o aumento das exportações brasileiras de açúcar para a região asiática garantiram maior demanda do açúcar brasileiro no mercado externo. 2.2 O mercado internacional de açúcar e o desempenho das exportações brasileiras O açúcar é produzido em mais de 100 países e, segundo dados da UNICA (2008), mais de 70% da produção de açúcar mundial foi consumida domesticamente, implicando que uma pequena porção da produção é comercializada internacionalmente. Do volume mundial produzido de açúcar, aproximadamente, 70% origina-se da cana-de-açúcar e 30% da beterraba (IEA, 2008). O Brasil destaca-se como maior produtor e exportador mundial de açúcar, sendo um dos países mais competitivos nesse mercado. Estima-se que a cada 10 quilos de açúcar exportados no mundo quatro saem de usinas brasileiras. Os dados da tabela 2 demonstram que o Brasil obteve uma evolução crescente nas exportações de açúcar. As exportações de açúcar no Brasil de 1990 a 2007 apresentaram um crescimento de 1.156,19%, obtendo um preço médio por tonelada de U$ 259,06. Tabela 1: Exportações brasileiras de açúcar no período 1990 a 2007 Ano-Safra 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Fonte: Secex (2008).

US$ milhões F.O.B 440,30 440,30 598,47 778,94 991,47 1.918,20 1.611,00 1.771,00 1.943,00 1.911,00 1.199,00 2.278,00 2.090,00 2.140,00 2.640,00 3.919,00 6.167,00 6.789,00

Ton. (milhões) 1.541,00 1.484,00 2.413,00 3.058,00 3.433,00 6.239,00 5.379,00 6.372,00 8.371,00 12.100,00 6.502,00 11.168,00 13.344,00 12.914,00 15.764,00 18.147,00 18.870,00 19.358,00

Preço Médio 341,11 266,03 248,23 257,09 268,84 307,47 299,50 277,93 232,15 157,91 184,41 203,92 156,65 165,71 167,49 215,95 326,81 326,81

Devido à crise no setor sucroalcooleiro na safra de 2000/2001, as exportações brasileiras de açúcar registraram uma queda de aproximadamente 46% em relação à safra anterior. Entretanto, depois de superada a crise, no ano de 2001 as exportações registraram um crescimento de aproximadamente 72%. Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009 Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

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Segundo dados do MAPA (2008), atualmente, as exportações brasileiras de açúcar destinam-se a mais de 50 países e, dentre eles, a Rússia é atualmente é o maior importador. Também merecem destaques, como importadores de açúcar brasileiro, Egito, Irã, Emirados Árabes, Índia, Romênia, Canadá e EUA. No que tange à formação do preço do açúcar, no mercado interno o preço é obtido pelas cotações do contrato de açúcar negociado na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), expresso em dólares por saca e transformado em reais pelas cotações do contrato futuro do dólar negociado na mesma bolsa. Do valor projetado para cada mês é descontado o PIS/COFINS (3,65%) e o resultado é multiplicado por 1,0343, resultando no preço do açúcar PVU à vista sem impostos. A projeção do preço do açúcar para o mercado externo é a combinação de dois valores: das cotações do produto na bolsa de Nova York (produto spot ou disponível para comercialização) e dos valores médios de contratos já realizados pelas usinas. O preço do produto spot se refere às cotações do produto na Coffee, Sugar and Cocoa Exchange (CSCE), bolsa de mercadorias em Nova York que é referência internacional para a comercialização do açúcar para exportação. Nesta bolsa o açúcar é cotado em centavos de dólar por libra-peso, valores que são convertidos em dólares por saca de 50 kg e sofrem um ágio de 3,75% que é o prêmio médio de exportação para o açúcar brasileiro. O valor em dólares é convertido em reais por saca através das cotações do dólar futuro na BM&F. Deste valor são descontados os custos portuários (US$ 5,38/tonelada) e o frete que, em 2008, era de R$ 49,40/tonelada, resultando no preço do açúcar PVU à vista sem impostos (CONSECANA, 2008). 2.3 A evolução da produção de álcool anidro e hidratado e a produção de veículos a álcool no Brasil a partir de 1990 A produção de álcool no Brasil foi incentivada a partir da implementação do Proálcool em 1975, em decorrência da elevação dos preços e da instabilidade de fornecimento do petróleo no mercado internacional. Além de estimular o crescimento da renda e a geração de empregos (CARUSO, 2002). Desde o início do desenvolvimento do Proálcool, a produção de álcool apresenta índices crescentes. O álcool anidro vinha sendo produzido em menor quantidade que o álcool hidratado até a safra de 1999/2000, porém, essa posição inverteu-se a partir de 2000/2001 devido ao comportamento do consumo da mistura álcool/gasolina. A produção de álcool no Brasil cresceu 51,36% entre o período de 1990/1991 a 2006/2007. Ressalta-se que a partir do ano de 2001/2002, o consumo de álcool vem aumentando significativamente, devido ao crescimento da indústria automobilística. As destilarias brasileiras no ano de 2006/2007 produziram 17,83 bilhões de litros de álcool (anidro/hidratado), um crescimento de 55% em relação ao ano de 2001/2002 quando foram produzidos 11,47 bilhões de litros de álcool. A evolução da produção brasileira de álcool pode ser observada na figura 1. Nesse contexto, a evolução no mercado de álcool indica que nos últimos nove anos, agentes de mercado adequaram-se ao eminente cenário após a desregulamentação no final dos anos noventa e definiram estratégias de gestão empresarial tendo em vista o livre mercado, a concorrência e a necessidade dos ganhos produtivos, financeiros e mercadológicos (CEPEA, 2008).

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Figura 1: Evolução da produção brasileira de álcool período 1990/1991 a 2006/2007 Fonte: UDOP (2008).

Conforme os dados da tabela 2, nota-se que a produção de veículos a álcool no Brasil apresentou um declínio até o ano de 1998, devido ao sucateamento da frota existente e do inexpressivo aumento das vendas de veículos movidos a álcool. Tabela 2: Produção de veículos a álcool – mercado interno – 1990-2007 (unidades) Produção - Ano 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Fonte: ANFAVEA (2008).

Total Álcool/Flex-Fuel 83.259 150.877 193.441 264.651 142.760 40.484 7.732 1.273 1.451 11.314 10.106 19.032 55.961 84.183 383.519 686.889 1.382.414 1.932.905

Apesar da desestruturação do aparato estatal conforme existia desde a década de 1930, a atividade canavieira ainda é acompanhada de maneira próxima pelas autoridades devido à característica estratégica do álcool combustível e a prioridade de seu fornecimento ao mercado interno. A conquista do mercado nacional por meio dos automóveis flex-fuel desde seu lançamento em 2002 (figura 2) e a importância do álcool como um combustível limpo, produzido por biomassa contribuem para a atenção do mercado internacional, das autoridades e da própria opinião pública que acompanham os movimentos desse mercado.

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Figura 2: Venda de veículos a álcool/flex-fuel 1990 a 2007 Fonte: UDOP (2008).

A venda de carros movidos a álcool e/ou bicombustível passou de 10.947 unidades, em 1999, para 379.329 unidades em 2004, como mostra a tabela 3, o que representa um crescimento do setor de 3.365%. A demanda externa desse produto cresce a cada ano em virtude da necessidade de reduzir a emissão de poluentes na atmosfera, de tal forma que o Brasil exportou 2,4 bilhões de litros de álcool em 2004, com crescimento superior a 200% (ANFAVEA, 2008). Tabela 3: Venda de veículos a álcool/flex-fuel no Brasil de 1990 a 2007 (unidade) Produção - Ano 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Fonte: UDOP (2008).

Álcool 81.996 150.982 195.503 264.235 141.834 40.706 7.647 1.120 1.224 10.947 10.292 18.335 55.961 36.380 50.950 32.357 1.863 107

Flex-Fuel

48.178 328.379 812.104 1.430.334 1.995.090

Total Álcool/Flex-Fuel 81.996 150.982 195.503 264.235 141.834 40.706 7.647 1.120 1.224 10.947 10.292 18.335 55.961 84.558 379.329 844.461 1.432.197 1.995.197

A demanda externa por veículos movidos a álcool cresce a cada ano em virtude da necessidade de reduzir a emissão de poluentes na atmosfera, de tal forma que o Brasil exportou 2,4 bilhões de litros de álcool em 2004, com crescimento superior a 200% ANFAVEA(2008).

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3 METOLOGIA E ANÁLISE DOS RESULTADOS Este artigo apresenta o modelo utilizado para expressar a oferta do mercado de açúcar brasileiro no período de 1990 a 2006. A obtenção de estimativas da formação do preço internacional e da produção brasileira de veículos a álcool possibilita a realização de análises sobre a oferta do mercado açucareiro no Brasil, o que se torna útil para definição de políticas setoriais como para o planejamento da tomada de decisões pelos agentes que participam desse mercado. Ao calcular a estimação da função oferta de açúcar no mercado brasileiro, considera-se um modelo básico de teoria microeconômica de mercados competitivos. As equações que compõem o modelo de oferta são representadas pelo processo de maximização de lucro da firma. A partir da descrição do modelo econométrico, apresentam-se os procedimentos aplicados a sua estimativa e as inter-relações das variáveis com a oferta do setor açucareiro brasileiro. 3.1 Referencial Metodológico A base teórica deste trabalho está fundamentada na teoria microeconômica de oferta da firma. A oferta é a relação direta entre preços e quantidades produzidas de um bem que uma firma estaria disposta a colocar no mercado por unidade de tempo. Devido ao estudo direcionar-se a produção agrícola, a função oferta que evidencia a relação corresponde diretamente ao curto prazo. Conforme Gárofalo e Carvalho (1995), a função oferta de curto prazo para determinado produto ou serviço corresponde ao período de tempo em que alguns fatores produtivos da firma são mantidos constantes. 3.1.1 Modelo de oferta de açúcar Nesse item apresenta-se a função oferta de açúcar no Brasil. O modelo compõe-se da função básica de oferta da firma, analisando as variáveis mais relevantes para a determinação da oferta em um mercado competitivo. O modelo de oferta parte do principio microeconômico de maximização dos lucros da firma, o que relaciona a quantidade ofertada de açúcar como uma função direta dos preços. Além da variável preço, pressupõese que o crescimento da produção de veículos a álcool no Brasil impacta diretamente na oferta de açúcar. Essa relação acentua-se devido à matéria-prima do açúcar e do álcool combustível utilizarem a mesma matéria-prima. A função oferta de açúcar no mercado brasileiro pode ser composta pela seguinte forma: Qst = f ( Pmet , Pit , Qat , Crt , Cat , Qpct, Qpvat + et) Onde: Qst = quantidade de açúcar produzida no período t-1; Pmet = preço do açúcar no mercado internacional no período t-1; Pit = preço do açúcar no mercado interno no período t-1; Qat = quantidade produzida do álcool combustível no período t-1; Crt = média cambial no período t-1; Cat = coeficiente de abertura do mercado de açúcar no período t; Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009 Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

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Qpct = quantidade produzida de cana-de-açúcar no período t-1; Qpvat = quantidade produzida de veículos a álcool no período t-1; e et = erro aleatório. 3.2 Fonte dos dados Com a finalidade de analisar a oferta de açúcar no Brasil no período pósdesregulamentação do setor sucroalcooleiro, utilizaram-se séries econômicas com dados anuais. As variáveis de preço do açúcar no mercado interno, quantidade produzida de canade-açúcar, quantidade produzida de açúcar e preço do álcool combustível referem-se aos indicadores levantados e divulgados pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), Usinas e Destilarias do Oeste Paulista (UDOP) e pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). A quantidade produzida e vendida de veículos a álcool foi obtida através da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA). A média anual cambial foi obtida no banco de dados do Banco Central do Brasil (BACEN). Os preços para o mercado externo foram levantados através da Divisão Macroeconômica do Banco Real com base nos preços da Bolsa de Nova Iorque. Esses preços foram convertidos em moeda nacional, multiplicando-se os preços em dólar pela média mensal da taxa de câmbio. Com base nesses dados, descrevem-se os métodos econométricos que possibilitam alcançar os objetivos propostos. 3.3 Modelo econométrico 3.3.1 Estimação do modelo de oferta de cana-de-açúcar Para proceder à estimação, foi necessário averiguar a identificação do modelo, que apresenta quatro variáveis explicativas (quantidade produzida de açúcar, quantidade produzida de veículos a álcool, quantidade produzida de álcool e preço do açúcar no mercado internacional). Dentro das variáveis testadas observa-se que a equação de oferta de cana-de-açúcar é determinada pela seguinte equação: log Quant _ cana = α 0 + α 1 log Quant _ açucar + α 2 log Quant _ veic + α 3Quant _ alcool + α 4 log(

p1t xCamb) + υ t Pt

Os sinais esperados para o modelo proposto são os seguintes: tendo em vista a relação direta entre as variáveis, espera-se que o modelo de oferta de cana-de-açúcar seja influenciado pelo aumento da produção de açúcar, pelo aumento da quantidade de veículos álcool e pelo aumento de consumo de álcool combustível, nesse caso o álcool combustível e a frota veicular podem ser considerados como bens complementares que influenciam na quantidade oferta de cana. Já, em relação ao preço, partiu-se da expectativa de que em um mercado não regulado, a relação de preço seria uma razão entre o preço interno, o preço externo, corrigidos pela taxa de câmbio.

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3.3.2 Resultados obtidos do modelo de oferta de cana-de-açúcar De acordo com os resultados apresentados na tabela 4, observa-se que no teste estatístico de Durbin-Watson, o valor da distribuição amostral apresenta-se satisfatório em 2,33, indicando ausência de autocorrelação no modelo estimado. Após a ausência de autocorrelação, verificou-se que todas as variáveis nesse modelo são H (1), ou seja, são significativas ao modelo. O coeficiente da variável quantidade de açúcar apresentou um sinal negativo não esperado no modelo, a razão para tal fato pode ser explicada em função de que nesse modelo tanto o açúcar como o álcool são bens que disputam a mesma matéria-prima que é a cana-de-açúcar, razão pela qual os sinais apresentados são contrários entre as variáveis. Já as variáveis quantidade de veículos e quantidade de álcool apresentam uma relação direta entre ambos e positiva ao modelo como era esperado. A variável de preço do açúcar (mercado interno e externo) foi desenvolvida para representar uma Proxy da volatilidade no mercado e seu sinal foi coerente com o sinal esperado. Notase que os resultados obtidos no teste de probabilidade são satisfatórios na média de 99% em relação às todas as variáveis testadas. Tabela 4:Resultados da estimativa da equação de oferta de cana-de-açúcar no Brasil de 1990 a 2006 Variáveis Intercepto Quant_acucar Quant_veic Quant_alcool Preço_int_ext R2 = 0,94 Durbin-Watson = 2,33 Fonte: Tabela elaborada pelos autores5.

Coeficiente -1.639.585 -4.032.773 7.044.459 5.301.832 1.704.239

Estatística "t" -4.116.706 -4.026.266 4.078.068 4.199.864 3.886.819

O coeficiente de determinação R2 explica que em 94%, as variáveis relacionadas explicam o comportamento da oferta de cana-de-açúcar no Brasil. O valor obtido pela estatística “t” rejeita a hipótese nula e a estimação passa a assumir a hipótese alternativa, ou seja, assume-se H1 e, logo, pode-se dizer que quaisquer alterações nas variáveis acima implicam em alterações na oferta de cana-de-açúcar. Logo, se definiu a função oferta de cana-de-açúcar: Quant _ cana = −1,639α 0 − 4,032αQuant _ açucar + 7,044αQuant _ veic + 5,301αQuant _ alcool + 1,704αpreco _ int_ ext + υt

Observa-se que o intercepto da equação apresenta sinal negativo (log =-1,639), logo, ele indica que se o preço praticado for zero haverá escassez do produto, representando a elasticidade negativa da oferta, ou seja, ele representa a variação nas variáveis explicativas de preço. Dessa forma, seguindo o procedimento analítico de Gujarati (2006), as variáveis explicativas da função demonstram-se significativas, devido ao fato de que qualquer choque nos preços (internos e externos) ou nas quantidades de açúcar, álcool e na produção de veículos a álcool influenciam diretamente na oferta

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Os testes econométricos foram realizados através do software Eviews 5.0.

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brasileira de cana-de-açúcar, determinando níveis de safra e produções dos produtos originados pela cana. 3.3.3 Estimação do modelo de oferta de açúcar Neste item discutem-se os resultados obtidos referentes à estimativa do modelo teórico proposto para analisar a oferta de açúcar no Brasil, bem como verificar o grau de intensidade que o mercado internacional e a produção de veículos álcool exercem sobre o setor açucareiro. Com base nas mesmas condições aplicadas na ordem 3.1.1, buscou-se através do método dos mínimos quadrados, a expectativa de que a variável explicativa produção de veículos a álcool fosse elástica em relação à produção açucareira, ou seja, o crescimento acelerado da indústria automobilística de veículos flex-fuel6 fosse um fator impactante da produção açucareira. Devido a essa ótica estimava-se que o aumento da demanda de carros a álcool demandasse maior produção de álcool e este, por consequência, resultaria em um direcionamento menor da quantidade produzida de açúcar. Em relação ao mercado internacional, a expectativa de influência do setor externo na produção açucareira partia do princípio de que em grande parte o setor é direcionado para as exportações. Devido a esse contexto, assume-se que o setor em consideração é um price-taker7, o que resulta no fato de que no Brasil o açúcar exportado possui uma curva de oferta elástica, em relação ao preço internacional. De um modo geral, com base nas variáveis relacionadas nos itens acima, a função oferta de açúcar parte da seguinte equação: log Quant _ acucar = α 0 + α 1 log Quant _ cana + α 2 log preco _ ext + α 3 preco _ int + α 4 log Quant _ veic + υt

Onde: Quant_acucar é a quantidade produzida de açúcar; Quant_cana é a quantidade de cana produzida; Preco_ext é o preço do açúcar no mercado externo; Preco_int é o preço do açúcar no mercado interno; e Quant_veic é a quantidade produzida de veículos á álcool. 3.3.4 Resultados obtidos do modelo de oferta de açúcar Inicialmente, estimou-se o modelo explicitamente teórico de oferta, considerando todas as variáveis no modelo. De maneira geral, verificou-se que os resultados obtidos com essa estimativa não se apresentaram satisfatórios, pois a variável explicativa quantidade de veículos a álcool não se mostra estatisticamente significativa e apresenta sinais contrários ao esperado. A tabela 5 apresenta resultados relativos à equação da oferta de açúcar no Brasil.

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Flex-fuel: sistema mecânico automobilístico que permite o uso de mais de um combustível. Price-taker: tomador de preço relacionado ao Mercado.

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Tabela 5: Resultados do teste de estimativa da equação de oferta de açúcar no Brasil de 1990 a 2006 Variáveis Intercepto Quant_cana Preço_ ext Preço_int Quant_veic R2 = 0,97 Fonte: Tabela elaborada pelos autores.

Coeficiente -9.421.189 2.224.164 3.008.290 -2.966.877 0.698428

Estatística "t" 1.014.057 1.600.432 4.895.651 4.884.390 0.818440

Em relação à equação de oferta de açúcar, obteve-se um valor considerável do coeficiente de determinação R2, porém, Matos (2000) alerta que em modelos simultâneos de análises econométricas, mesmo que seu valor seja alto, não significa que a qualidade do ajustamento das equações seja satisfatória. De acordo com análise de Student, dos resultados obtidos na estatística “t”, apenas as variáveis preço do açúcar no mercado externo e preço do açúcar no mercado interno apresentaram sinais coerentes com o teste. Em relação às demais variáveis, o teste de Student rejeita a hipótese alternativa e os resultados passam a assumir a hipótese nula, indicando que não há nível de significância com a relação. Os resultados apresentados no teste de probabilidade reprovam todas as variáveis inseridas no modelo devido à baixa significância percentual. Todavia, devido à variável produção de veículos a álcool não apresentar relação significativa com modelo, isola-se a mesma da equação e testa-se novamente as variáveis explicativas (produção de cana-de-açúcar, preço interno do açúcar e preço externo do açúcar). O modelo estimado não considera o intercepto devido a melhor precisão nos resultados. Logo a equação pode ser descrita da seguinte forma: log Quant _ acucar = α 1 log Quant _ cana + α 2 log preco _ ext + α 3 preco _ int + υ t

Aplicando-se, novamente, a condição analítica dos métodos dos mínimos quadrados, nota-se que os resultados probabilísticos apresentam-se satisfatórios com a relação estabelecida. No teste analítico de Durbin-Watson, o resultado apresentado (2,01) indica de que não há presença de autocorrelação no modelo estimado. Portanto, observa-se que a quantidade de cana-de-açúcar e as séries de preço externo e interno do açúcar são de características significativas, conforme os dados da tabela 6. Tabela 6: Resultados da estimativa da equação de oferta de açúcar no Brasil – 19902006 Variáveis Quant_cana Preco_ext Preco_int R2 = 0,98 Durbin-Watson= 2,01 Fonte: Tabela elaborada pelos autores.

Coeficiente 0.790182 -1.091.500 1.106.278

Estatística "t" 2.617.323 -2.272.041 2.181.989

Probabilidade 0.0203 0.0394 0.0466

Em relação à variável preço do açúcar no mercado internacional, pode-se dizer que à medida que há um aumento de preço no mercado externo, parte do açúcar que seria Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009 Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

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ofertado no mercado interno é deslocado para o mercado externo, apresentando uma relação inversa entre a quantidade ofertada de açúcar e o preço internacional. Esse resultado mostra que o aumento de 10% no preço do açúcar no mercado internacional causa uma redução de 10,91% na oferta de açúcar no Brasil. O coeficiente da variável preço do açúcar no mercado interno apresentou alto grau de relação com a oferta estimada (1,106), o que indica que a uma elevação de 10% no preço do açúcar no mercado interno provoca um aumento na oferta de açúcar na ordem de 11,06%, comprovando a elasticidade da oferta em relação ás séries de preço. O coeficiente da variável quantidade produzida de cana-de-açúcar (0,79) apresentou uma relação positiva com a equação. Esse resultado indica que um aumento de 10% na produção de cana-deaçúcar provoca um aumento de 7,9% na oferta de açúcar no mercado interno. Os resultados obtidos pela estatística “t” encontram-se de acordo com o teste de Student fora da região nula, ou seja, passa-se assumir a condição de hipótese alternativa. Matos (2000) ressalta que quando todas variáveis estimadas que apresentam-se na região alternativa, os resultados obtidos estatisticamente possuem alto grau de confiabilidade. Em relação à equação de oferta de açúcar, obteve-se um alto valor do coeficiente de determinação R2. Com base nessas afirmações, conclui-se que 98% das variações ocorridas na variável dependente podem ser explicadas por variáveis independentes incluídas no modelo. De acordo com a comprovação dos resultados acima, a função oferta de açúcar no Brasil período 1990 a 2006 é formada pela seguinte equação: Quant _ acucar = 0 , 79 α Quant _ cana − 1, 09 α preco _ ext + 1,106 α preco _ int + υ t Portanto, a fim de se obter os fatores que influenciam produção de açúcar no Brasil, estimou-se uma equação de oferta de açúcar através do método dos mínimos quadrados, o qual concluiu que a variável dependente não possui grau significativo com a indústria de veículos álcool. Logo, definiu-se que a oferta de açúcar brasileira é relativa da variação dos preços internos e externos e da quantidade produzida de cana-de-açúcar. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste trabalho buscou-se analisar o complexo agroindustrial açucareiro e os fatores determinantes do modelo de oferta de açúcar no Brasil. Determinou-se o grau de intensidade do preço internacional do açúcar, bem como testar a relação de influência que a produção brasileira de veículos a álcool exerce na oferta de açúcar no Brasil. A análise compreendeu o período de 1990 a 2006. Através da teoria microeconômica da função de oferta e da teoria de oferta agrícola, analisou-se os fatores determinantes da curva de oferta das equações relacionadas. As variáveis utilizadas para a formulação da função oferta de açúcar no mercado brasileiro foram: quantidade ofertada de cana-de-açúcar, preço do açúcar no mercado interno, preço do açúcar no mercado externo, preço do álcool combustível e quantidade produzida de veículos a álcool no Brasil. Os procedimentos econométricos utilizados na análise consideram as propriedades de integração das séries temporais utilizadas. O modelo proposto para analisar as interrelações dos preços do setor açucareiro e da produção de veículos a álcool foi implementado através do método dos mínimos quadrados. Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009 Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

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A estimação da equação oferta de açúcar apresentou resultados satisfatórios com análise. As variáveis testadas para explicar a oferta de açúcar no Brasil (produção de canade-açúcar, preço interno e externo do açúcar) apresentaram sinais coerentes aos esperados, entretanto, a variável produção de veículos a álcool apresentou-se não significativa. O valor obtido da elasticidade quantidade produzida de cana-de-açúcar (0,79) apresentou relação direta com a estimação. O resultado da elasticidade indica que a oferta de açúcar é elástica a variações na produção de cana-de-açúcar, ou seja, dada uma variação de 10% na produção de cana-de-açúcar no Brasil, a quantidade de açúcar ofertada irá variar 7,9% no mesmo sentido. O coeficiente da variável preço do açúcar no mercado interno (1,106) apresentou resultado expressivo com a variável dependente, indicando que uma elevação de 10% no preço do açúcar no mercado interno motiva uma variação no mesmo sentido de 11,06% na oferta de açúcar. Na caracterização do complexo agroindustrial açucareiro ficou evidenciada a crescente participação do Brasil no comércio internacional dessa commodity, o que justifica o grau de influencia dessa variável. O coeficiente da variável preço do açúcar no mercado internacional (-1,091) indica que com o aumento de 10% no preço do açúcar no mercado internacional, a oferta de açúcar no mercado interno varia 10,91% em sentido oposto, indicando que, provavelmente, parte do açúcar ofertado internamente será deslocado para o mercado externo. Os coeficientes das variáveis produção de álcool e produção de veículos a álcool apresentaram sinais positivos somente na estimação da equação de oferta da cana-deaçúcar. Essas variáveis quando relacionadas na estimação da equação de oferta de açúcar não apresentaram sinais significativos e distorceram a formulação do modelo. Conclui-se, então, que as inter-relações de preço interno e externo de açúcar e da produção de cana-deaçúcar determinam de forma significativa a oferta de açúcar no Brasil, podendo inferir diretamente nas variações de produção e preço.

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