A influência no peso de Psittacara leucophthalmus (Statius Muller, 1776) (Psitaciformes: Psitacidae) causada por dietas controladas em ambiente de cativeiro

June 1, 2017 | Autor: B. Corrêa Barbosa | Categoria: Zoology, Ecology, Etology
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A influência no peso de Psittacara leucophthalmus (Statius Muller, 1776) (Psitaciformes: Psitacidae) causada por dietas controladas em ambiente de cativeiro Roberta Melhim Magalhães1, Mariana Paschoalini Frias2 & Bruno Corrêa Barbosa2 Introdução Os psitacídeos evoluíram e se adaptaram quanto ao armazenamento de energia de acordo com a disponibilidade de alimentos de seu ambiente natural, sendo que as espécies provenientes de climas áridos, por apresentarem menor oferta de alimentos, são capazes de estocar maiores reservas de nutrientes quando comparadas às de climas tropicais (Weston & Memon 2009). A alimentação dos psitacídeos em seu ambiente natural é bastante variada e com altos teores de ácidos graxos, moderados teores de proteínas, e pouco teor de carboidratos (Saad et al. 2007). No entanto, quando criados em cativeiro, de forma similar ao que acontece com outras aves, existem vários fatores que contribuem para que ocorram erros na sua alimentação, e o fato de extrapolar os hábitos alimentares da natureza para o cativeiro pode causar uma superestimativa do fornecimento de energia (Fotin 2005). A literatura sobre a nutrição de psitacídeos em cativeiro é muita escassa (e.g., Kill et al. 2008; Francisco & Moreira 2012), razão pela qual as dietas comerciais são formuladas com critérios muito mais empíricos do que científicos. Esta carência de informações deve-se, em parte, à dificuldade de se obter um número suficiente de aves uniformes para conduzir trabalhos de pesquisa que tenham credibilidade estatística. Apesar das dificuldades enfrentadas pelos pesquisadores da área, os resultados desses trabalhos, juntamente com as reformulações que já estão ocorrendo, são de suma importância para os criadores de psitacídeos (Kamwa 2002). Psittacara leucophthalmus (Statius Muller, 1776), psitacídeo conhecido popularmente como periquitão-maracanã, é considerado frugívoro e consumidor de sementes e flores. No entanto é visto como importante predador de sementes, pois, ao consumir frutas, as sementes raramente são mantidas intactas, tendo assim, um impacto negativo na reprodução das plantas (Mendonça, 2010). Esta espécie não está ameaçada de extinção, embora o comércio internacional (tráfico) venha afetando suas populações, assim como a destruição do seu habitat natural (Sick 2001). Devido a sua exuberante cor e beleza e a sua capacidade relativa de imitar a voz humana, psitacídeos são comumente criados em cativeiros (Ribeiro & Silva 2007) sendo Psittacara leucophthalmus o preferido entre os criadores por 8

apresentar alta adaptação às condições de cativeiro (Borges et al. 2009; Gogliath et al. 2010). O presente trabalho teve como objetivo, avaliar a influência na grandeza do peso da espécie Psittacara leucophthalma em cativeiro, testando três tipos de alimentos: frutas, sementes de girassol e ração, visando destacar a importância da alimentação em futuras elaborações de alimentação balanceada. Material e Métodos O trabalho foi desenvolvido nos meses de março e abril de 2011 no Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) na cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais (21°47’42”S, 43°22’53”W). Foram selecionados 12 indivíduos de Psittacara leucophthalmus, oriundos de cativeiros, sem idade e gênero definidos. As aves foram distribuídas aleatoriamente em viveiros, sendo que em cada local foram colocados dois indivíduos. Os viveiros, com 100 cm de altura por 80 cm de comprimento e 100 cm de largura, cercados com arame tipo tela, tinham sua parte superior coberta por telha do tipo amianto. Cada viveiro possuía bebedouro e vasilha padronizada e dois níveis de altura de poleiro. Para as pesagens dos indivíduos, dos alimentos e das sobras alimentares foi utilizada uma balança digital. As observações tiveram esforço amostral total de 24 dias divididos em três campanhas. Cada campanha contemplou um tipo de alimento e teve duração de oito dias, sendo três dias de adaptação das aves aos alimentos e cinco dias de coleta de dados. Com base nos dados nutricionais encontrados na literatura os alimentos oferecidos foram: sementes de girassol (Helianthus annuus), ração industrializada própria para psitacídeos (Megazoo ®: Ração para Calopsitas e Maritacas) e uma mistura de frutas, como banana (Musa sp.), mamão (Carica papaya) e maçã (Mallus sp.), sempre na quantidade de 350 g. As frutas foram picadas e oferecidas nas mesmas proporções, sempre com água à vontade. Os alimentos foram trocados diariamente sempre às 09:00 h. As sobras dos alimentos recolhidas foram pesadas diariamente durante cada campanha. Ao final de cada campanha foram calculadas as médias de consumo e de ganho ou perda de peso do animal. As aves foram pesadas no primeiro e no último dia de cada campanha, sendo que cada dupla teve seu peso somado para se obter uma média final de cada viveiro. Atualidades Ornitológicas, 190, março e abril de 2016

Para a diferença estatística entre os dados de ganho e perda de peso assim como quantidade de alimento consumido, foi utilizado o Teste Kruskal-Wallis realizado pelo programa Bioestat 5.0. Resultados e Discussão A partir da pesagem das aves, foi observado que, de modo geral, não houve variação significativa (H= 0,0361; p= 0,8494) em relação ao ganho ou perda de peso para cada alimento, devido talvez ao curto período de experimentação. A variação de ganho foi de 16g e de perda de 30g. Também não houve diferença significativa (H= 3.0215; p= 0.2207) na quantidade de alimentos consumida: 3079 g de sementes de girassol, 3569 g de frutas e 3021 g de ração. Quando alimentadas à base de sementes de girassol, a amplitude de variação do peso das aves foi de -8 g a +0,5 g, tendo indivíduos com 4,4% de perda da sua massa levando em consideração o peso médio dos indivíduos. As sementes de girassol são ricas em gorduras e pobres em vitaminas, quando usadas como base de alimentação para aves mantidas em cativeiro, podem desencadear hipovitaminose A e perda de peso (Da Silva 2008; Teixeira et al. 2013). Na campanha com alimentação à base de frutas, houve amplitude de -3,5 g a +14 g no peso das aves, com perda equivalente a 2% e ganho de 7,5% do peso médio, evidenciando que existe uma tendência por se alimentar mais com esse tipo de alimento. Esse resultado, corroborando o trabalho de Ullrey et al. (1991) que diz que em vida livre os psitacídeos se utilizam de uma grande variedade de alimentos na sua maior parte frutas e folhas, desmente a fama desses animais serem basicamente comedores de sementes. Com a alimentação apenas com ração, a amplitude do peso das aves foi a que mais variou: de -30 g a +16,5 g, com indivíduos tendo perda equivalente a 16,5% e ganho de 9% do peso corporal médio. O resultado pode ser justificado por três razões: 1ª – pouco tempo de habituação dos animais ao alimento, fazendo com que alguns indivíduos não se tenham se alimentado adequadamente perdendo até 16,5% do peso médio; 2ª – o tempo de experimento foi de curto; 3ª – rações mal elaboradas devido a falta de estudo, corroborando os resultados de Ullrey et al. (1991). Os resultados do presente trabalho mostraram que as frutas pareceram se mostrar mais saudáveis em relação aos demais alimentos devido ao aumento de massa corpórea. O estudo de Joffily (2010) que também avaliou o comportamento alimentar de Psittacara leucophthalma em cativeiro, registrou preferência alimentar pela semente de girassol, seguido pela ração comercial quando os alimentos eram oferecidos juntos. Saad et al. (2007) em estudos com Amazona aestiva (Linnaeus, 1758) também registraram preferência por sementes de girassol, que ao se comparar com outras rações foi a que obteve a maior digestibilidade. Vale ressaltar que as frutas contêm muita água, enquanto que as sementes de girassol são muito gordurosas e, apesar de serem bem aceitas pelos animais, podem ser prejudiciais à saúde e à longevidade das aves quando consumidas em excesso (Kamwa 2002). Não houve variação significativa em relação ao ganho ou perda de peso das aves considerando-se os alimentos oferecidos e isto pode ser devido ao Atualidades Ornitológicas, 190, março e abril de 2016

curto período de experimentação, o que leva a resultados inconclusivos. Destaca-se a importância do presente estudo, para futuros trabalhos relacionados à alimentação de psitacídeos em cativeiro, que possam preconizar uma alimentação adequada para esses animais. Referências bibliográficas

Borges, R.C., A.D. Oliveira, N. Bernardo & R.M.M.C. Costa (2006). Diagnóstico da fauna silvestre apreendida e recolhida pela Polícia Militar de Meio Ambiente de Juiz de Fora, MG (1998 e 1999). Revista Brasileira de Zoociências 8(1):23-33. Da Silva, V.R.F. (2008) Hipovitaminose A em papagaio verdadeiro (Amazona aestiva). Monografia de Especialização. Florianópolis: Universidade Castelo Branco. Fotin, C.M.P. (2005) Levantamento prospectivo dos animais silvestres, exóticos e não convencionais, em cativeiro domiciliar, atendidos em clínicas particulares no Município de São Paulo: aspectos do manejo e principais afecções. Dissertação de Mestrado. São Paulo: Universidade de São Paulo. Francisco, L.R., & N. Moreira (2012). Manejo, reprodução e conservação de psitacídeos brasileiros. Revista Brasileira Reprodução Animal 36(4):215-219. Gogliath, M., E.L. Bisaggio, L.B. Ribeiro, A.E. Resgalla, & R.C. Borges, (2010). Avifauna apreendida e entregue voluntariamente ao Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS) do IBAMA de Juiz de Fora, Minas Gerais. Atualidades Ornitológicas 154:55-59. Joffily, D. (2010) Soltura monitorada de exemplares do periquitão-maracanã, Aratinga leucophthalma (Statius Muller, 1776) apreendidos pelo IBAMA no estado do Rio de Janeiro e aspectos da alimentação de indivíduos da Famíla Psittacidae. Dissertação de Mestrado. Seropédica: Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Kamwa, E.B. (2002) Níveis crescentes de lípase exógena em dietas para papagaios verdadeiros (Amazona aestiva) com diferentes taxas de inclusão de óleo de girassol. Tese de Doutorado. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais. KILL, J.L., D. Haese, C.H.F. Vasconcellos & D. Del Puppo (2008) Avanços na nutrição de pássaros: quebrando paradigmas. Natureza On Line 6:53-54. Mendonça, T.P. (2010) Predação e dispersão de sementes pelos psitacídeos Aratinga leucophthalma e Aratinga aurea. Monografia de Graduação. Universidade Federal do Rio de Janeiro: Rio de Janeiro. Ribeiro, L.B. & M.G. Silva (2007) O comércio ilegal põe em risco a diversidade das aves no Brasil. Ciência e Cultura 59(4):4-5. Saad, C.E.P., W.M. Ferreira, F.M.O. Borges & L.B. Lara (2007) Digestibilidade e retenção de nitrogênio de alimentos para papagaios verdadeiros (Amazona aestiva). Ciência e Agrotecnologia 31(5):1500-1505. Sick, H. (2001) Ornitologia Brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. Teixeira, A.P., L.V. Schons, L. Gruchouskei, A.L. Carvalho & A.M. Viott (2013) Hipovitaminose a em papagaio verdadeiro (Amazona aestiva). Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária 20(1):1-11. Ullrey, D.E., M.E. Allen, & D.J. Baer (1991) Formulated diets versus seed mixtures for psittaccines. Journal of Nutrition 121(115):193205. Weston, M.K. & M.A. Memon (2009) The Illegal Parrot Trade in Latin America and its Consequences to Parrot Nutrition, Health And Conservation. Bird Populations 9:76-83.

Curso de Ciências Biológicas, Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora, Juiz de Fora, MG, Brasil. 2 Laboratório de Ecologia Comportamental e Bioacústica (Labec), Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, MG, Brasil. E-mail: [email protected] 1

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