A Informacao O Cientista A Ciencia e o Conhecimento - CINFORM 2011

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X CINFORM – Encontro Nacional de Ensino e Pesquisa em Informação 19 a 22 de setembro de 2011 ● Porto Bello Hoteis & Resorts ● Salvador – Bahia Responsabilidade social na representação, preservação e disseminação de conteúdos

A Informação, a Ciência, o Cientista e o Conhecimento Luiz Carlos Flôres de Assumpção Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação - PPGCInf – Faculdade de Ciência da Informação - UNB-DF [email protected] Mônica Regina Peres Mestre e Prof. da Faculdade de Ciência da Informação – UNB-DF [email protected] André Porto Ancona Lopez Doutor Prof. do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação - PPGCInf – Faculdade de Ciência da Informação - UNB-DF [email protected]

Resumo: O presente estudo é uma busca do entendimento da visão filosófica e científica de alguns dos pensadores contemporâneos sobre a informação, a ciência, o cientista e o conhecimento. Quando falamos de ciência, tem-se a idéia de que tudo que se faz está baseado em métodos e técnicas regidas e controladas e de forma impessoal, no entanto, ao aprofundarmos percebemos que não é exatamente assim que o conhecimento é estruturado na ciência. Ou seja, o conhecimento científico, este está arraigado pela formação cultural, vivência, experiências e informações acumuladas no decorrer da formação pessoal e profissional de cada indivíduo, vindo a influenciar os resultados e as formas em que os resultados das pesquisas são conclusos e apresentados. Em se tratar das questões epistemológicas, a abordagem não será de forma generalizada sobre outras áreas do conhecimento, e sim de forma específica sob o foco de cada autor pesquisado, ou seja, suas colocações, colaboração, contraposição ao tema tratado em relação à informação como coisa. Palavras Chaves: Informação, Conhecimento, Ciência, Cientista.

The Information Science, the Scientist and Knowledge Abstract: This study is a quest for understanding the scientific and philosophical view of some contemporary thinkers on information, science, scientists and knowledge. When we speak of science, there is the idea that everything we do is based on methods and techniques governed and controlled and impersonal way, however, to delve realize that is not exactly the way knowledge is structured in science. In other words, scientific knowledge, this is rooted in the cultural background, experience, experience and information accumulated over a personal and professional development of each individual, come to influence the results and the ways in which research results are inconclusive and presented. In the case of epistemological questions, the approach is not widely on other areas of knowledge, but the specific form the focus of each author studied, ie, its investments, collaboration, opposed to the theme in relation to information as thing. Keywords: Information, Knowledge, Science, Scientist.

1 INTRODUÇÃO

Ao abordar a informação, a ciência, o cientista e o conhecimento, precisaremos entender de que ponto de vista será embasado estes temas. Então, para

isso,

iremos fazer

uma

incursão

na

visão

de

alguns

pensadores

contemporâneos sobre a filosofia da ciência e da informação, já que essa visão poderia ser tratada por pontos de vista de outros autores de várias áreas do conhecimento, no entanto, não é o foco deste estudo abordar de forma ampla uma resposta sobre o tema, mas sim a de analisar sob a visão de Popper, Kuhn e outros autores que apóiam ou até se contrapõem a eles. Assim, a estrutura deste estudo aborda no primeiro momento o que é a informação e a ciência, onde passamos a discorrer sobre a visão de Popper e de Kuhn quanto à ciência, o cientista e o conhecimento do tipo senso comum e, do tipo científico. Finalizamos com uma breve reflexão quanto ao entendimento sobre o tema tratado. O que estamos trabalhando em relação à epistemologia da ciência será a questão de como (fundamento da ciência) a tangibilidade é fundamental – que o raciocínio científico é que se presta a ser entendido do ponto de vista da informação como coisa conforme Buckland (1991).

2 O QUE É INFORMAÇÃO? De acordo com Buckland (1991), “a ambigüidade da "informação", enfrenta dificuldades desde que a informação imediata tem a ver com tornar-se informado, com a redução da ignorância e da incerteza, o termo "informação" é em si mesmo é ambíguo e usado de diferentes formas”. Podemos perceber que a palavra informação, é um tanto complexa na sua descrição, já na concepção de Robredo (2007), “a 'informação' pode ser: registrada, duplicada, transmitida, armazenada,

organizada, processada e recuperada”. Ainda, de acordo com Robredo (2007, p. 22), a representação da informação ocorre quando extraída da mente e codificada, pela linguagem natural (falada ou escrita), seguindo normas e padrões (gramática, sintaxe) próprios de cada língua, ou de outras linguagens criadas pelo homem (linguagens de programação, que também têm suas gramáticas e sintaxes) (ver autores). A interpretação da informação de fato gera, um processo de transformação do conhecimento (dentro da mente) em 'informação' fora da mente. Então, 'informação' seria o

conhecimento 'externalizado', mediante algum tipo de codificação. Observese que isso somente se aplica ao conhecimento já existente na mente.

Buckland (1991) nos traz três significados de "informação": "Informação como processo", "informação como conhecimento" e "informação como coisa", ainda diz que o uso atributivo de "informação" para designar as coisas consideradas informativas. A natureza e as características de "informação como coisa" são discutidos, utilizando uma abordagem indireta ("Que coisas são informativas?"). Buckland (1991 – Tradução livre) ainda diz que “há uma variedades de "informação como coisa" inclui dados, textos, documentos, objetos e eventos”.

Ainda

complementa, “seja qual for o armazenamento da informação e sistemas de recuperação o ato de armazenar e recuperar é necessariamente "informação-comocoisa" (BUCKLAND, 1991). Neste estudo, vamos abordar a informação como coisa, que se baseiam em dados (informação registrada), estes utilizados pelos cientistas para que a informação possa ser usada como meio de prova da captação dos resultados de seus estudos. Aprende-se a partir da análise de vários tipos de coisas. A fim de aprender, os textos são lidos, os números são computados, objetos e imagens são inspecionados, tocado, ou percebido. Em um sentido importante de informação é usado como prova na aprendizagem - como base para o entendimento. Um conhecimento e as opiniões são afetados pelo que se vê, lê, ouve e experiências. Livros didáticos e enciclopédias fornecem material para uma introdução, textos literários e comentários fornecem fontes para o estudo da língua e literatura; matrizes de dados estatísticos são para fornecer informações e cálculos de inferência; estatutos e os relatórios indicam lei a lei, as fotografias mostram que as pessoas, lugares e acontecimentos pareciam; citações e fontes são verificadas, e assim por diante. Em cada caso, é razoável para ver informação como coisa, como prova, mas sem que tal implique que o que foi lido, visto escutado ou visto ou observado era necessariamente preciso, útil, ou mesmo pertinentes para fins do usuário. Nem precisa ser assumido que o usuário fez (ou deve) acreditar ou concordar com o que foi percebido. "Evidência" é um termo apropriado porque denota algo relacionado à compreensão, algo que, se encontrado e corretamente entendido, poderia mudar de conhecimento, suas crenças, sobre algum assunto (BURCKLAND, 1991).

Assim, a informação não é uma entidade física, não é um objeto tangível, visível, audível (O que se toca se vê ou se ouve é o documento escrito, gravado, etc. contendo conhecimento registrado, em geral, mediante um código de representação). Estamos nos referindo sobre a informação não ser considerada um objeto tangível, se trata da questão da interpretação do que está exposto num texto – documento escrito, numa

música, numa imagem (ROBREDO, 2007, p. 23). Ou seja, a informação é o que o indivíduo interpreta dos dados e ou da coisa em si.

Depreendemos que a informação é composta de dados no qual constitui o substrato, este substrato de acordo com Ferreira (2004)1 é "o que constitui a parte essencial do ser; a essência, na Filosofia, o que serve de suporte a outra existência, considerada esta outra como modo ou acidente” e conforme Abbganano (1998, p. 927) “deriva as qualidade da coisa: derivar no sentido de que deveriam ser deduzíveis dessa

constituição, de tal modo que pudessem ser explicadas e

compreendidas em virtude dela”. Já os dados2 em estado bruto são um conjunto de números, caracteres, imagens ou outros dispositivos de saídas para converter quantidades físicas em símbolos, num sentido muito extenso. E na Filosofia3, é “o que se apresenta à consciência como imediato, não construído ou não elaborado”. Na informação4, elemento de informação, ou representação de fatos ou de instruções, em forma apropriada para armazenamento, processamento ou transmissão por meios automáticos. Assim, os dados podem ser processados de forma manual pelo ser humano ou de forma automatizada por entrada em um computador, armazenados e tratados ou transmitidos (saída) para outro computador ou humano. A palavra "dados" é um termo relativo, e o tratamento de dados comumente ocorre por etapas, e os "dados processados" a partir de uma etapa podem ser considerados os "dados brutos" do próximo. Assim, vamos ver o Reducionismo5, em filosofia, é “o nome dado a teorias correlatas que afirmam, a grosso modo, que objetos, fenômenos, teorias e significados complexos podem ser sempre reduzidos”, ou seja, expresso em unidades diferentes, a fim de explicá-los, nas suas partes constituintes mais simples. E é no reducionismo metodológico que há a idéia de que as explicações, como as científicas, devem ser continuamente reduzidas às entidades mais simples possíveis. E, complementado pelo reducionismo científico que tem sido usado para descrever todas as idéias acima no que se refere à ciência, entretanto é mais

1

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Eletrônico Aurélio versão 5.0, 3ª. ed. São Paulo: Editora Positivo, 2004. 2 3 4 5

Ibid.; Ibid.; Ibid.; Ibid.

freqüentemente usado para descrever a idéia de que todos os fenômenos podem ser reduzidos a explicações científicas. Assim, as bases iniciais para o desenvolvimento de qualquer pesquisa em todas as áreas do conhecimento, estão apoiadas nas informações construídas através da representação dos dados, pois, o que o cientista faz, é justamente a coleta e uso dos dados transformando-os em informação e gerando conhecimento sobre as mais variadas áreas do conhecimento científico. De acordo com Marconi e Lakatos (2004, p. 35) o conhecimento científico é comunicável à medida que: a) Sua linguagem deve poder informar a todos os seres humanos que tenham sidos instruídos pra entendê-la – a maneira de expressar-se deve ser principalmente, informativa e não expressiva ou imperativa: seu propósito é informar e não seduzir ou impor; b) Dever ser formulado de tal forma que outros investigadores possam verificar seus dados e hipótese – em razão direta da quantidade de investigadores independentes que tomam conhecimento das hipóteses e técnicas, mutiplicam-se as possibilidades de confirmação ou refutação das mesmas; c) Dever ser considerado como prioridade de toda humanidade – pois a divulgação do conhecimento é mola propulsora do progresso da Ciência.

Desta forma, buscaremos entender o que seria o uso da informação para o cientista nas ciências e no conhecimento.

2.1 A CIÊNCIA E O CIENTISTA

De acordo com Popper (2009), a ciência é uma construção racional exatamente por ser histórica. “Sua construção se dá com base no enfrentamento, pelo homem, de problemas que lhe surgem ao longo da vida, sendo, portanto, irrecusável sua estreita vinculação com a realidade externa e com os fenômenos culturais de cada época” (SCHMIDT E SANTOS, 2007). Contudo, Popper (2009, p. 31) diz que o trabalho do cientista consiste em elaborar teorias e pô-las à prova. Desta forma Popper, considera que os cientistas, são solucionadores de problema; toda investigação científica parte de problemas, este seria o caminho inicial para o desenvolvimento da ciência. Porém, Popper diz que, não existe observação pura,

todas as observações são sempre realizadas à luz de pressupostos e de teorias prévias que o cientista traz consigo (RODRIGUES, 2010) e que a ciência, não pode ser alinhada pelo indutivismo empiricista e sim pela dedução lógica. Além do mais, “a indução não pode levar à certeza e sim a um ciclo constante de incertezas” (SCHMIDT E SANTOS, 2007). No entanto, Popper salienta que “a ciência é feita através de uma permanente construção de hipóteses e de seu cotejamento com a realidade. Sendo que as teorias científicas são enunciados universais. Como todas as representações lingüísticas, são sistemas de signos ou símbolos” (POPPER, 2009, p. 61), diante de tal colocação podemos observar que se trata justamente do uso da informação registrada a qual estamos abordando. De acordo com Popper (2006) as tórias são fontes de denominação, essas definidas em seus métodos e conceitos, ou seja, “o conhecimento humano consiste em teorias, hipóteses e conjecturas que nós formulamos como produto de nossas atividades intelectuais” (POPPER, 2009, p. 61-62). Ainda concebe a ciência como uma sucessão de pensamentos, frutos da imaginação criadora do homem, que historicamente se aproxima cada vez mais da verdade (ao mesmo tempo em que, num certo grau, transforma essa mesma verdade), ao transformar o mundo que nos cerca, parecendo afastá-la para uma fronteira cada dia mais distante, sempre capaz de uma explicação cada vez mais abrangente dos fenômenos observáveis, movida sempre pela crítica de nossos erros e pela refutação sucessiva das teorias, uma após a outra, refutações estas que colocarão novos problemas a serem enfrentados, novas perguntas a serem respondidas. Contudo, Popper (2009) afirma que o progresso científico demonstrou consistir, não em acumulação de observações, mas em superação de teorias menos satisfatórias e sua substituição por teorias melhores, ou seja, por teorias de maior conteúdo. Além de contestar a indução, sustentou que toda e qualquer teoria científica assenta-se sobre uma série de pressupostos metafísicos que, mesmo não sendo refutáveis, podem ser discutidos criticamente, o que significa que são inteligíveis e, portanto, possuem significados. Por isso, “pode ser levada a justificação ou falseamento” (POPPER, 2009). Ainda, afirma que “a ciência é crítica e falível”, desta forma o falseamento popperiano é o resultado de uma demarcação entre o que ainda é aceito como correto cientificamente e o que já não possui este

mesmo crédito na metafísica - Metafísica6 – no aristotelismo, subdivisão fundamental da filosofia, caracterizada pela investigação das realidades que transcendem a experiência sensível, capaz de fornecer um fundamento a todas as ciências particulares, por meio da reflexão a respeito da natureza primacial do ser; filosofia primeira. No kantismo7, estudo das formas ou leis constitutivas da razão, fundamento de toda especulação a respeito de realidades suprassensíveis (a totalidade cósmica, Deus ou a alma humana), e fonte de princípios gerais para o conhecimento empírico. Empirismo8 - doutrina segundo a qual todo conhecimento provém unicamente da experiência, limitando-se ao que pode ser captado do mundo externo, pelos sentidos, ou do mundo subjetivo, pela introspecção, sendo descartadas as verdades reveladas e transcendentes do misticismo, ou apriorísticas e inatas do racionalismo, atitude de quem se atém a conhecimentos práticos. Nessa definição de empirismo, podemos observar que há uma divergência da utilizada dentro das ciências, pelos cientistas, pois dizem que o empirismo são estudos sob o uso coordenado de métodos e técnicas de forma prática na execução das pesquisas para os problemas que enfrentam. Porém, Popper (2009) questiona que determinado sistema científico é válido até o momento em que é refutado, mostrando sua falsidade. Desta forma, relata que a invenção de uma nova teoria ou de um novo sistema científico pressupõe que, em qualquer hipótese, para sua validade, devam ser submetidos à prova em um processo de "reconstrução racional". "Ora, eu sustento que as teorias científicas nunca são inteiramente justificáveis ou verificáveis, mas que, não obstante, são suscetíveis de se verem submetidas à prova" (POPPER, 2009). Assim, a objetividade dos enunciados científicos reside na condição deles poderem ser submetidos a teste, e além do mais irá depender da forma como as informações foram registradas, de que formas vão ser reinterpretadas para execução de um novo teste, ou seja, a re-utilização da informação. Além do que, a utilização da informação por qualquer um que não tenha conhecimentos ou formação dentro da área de estudos na qual a pesquisa foi desenvolvida poderá fazer uso e interpretação dessa informação registrada, porém não se poder garantir que essa sua interpretação e descrição será a mesma. Desta forma, no posicionamento de Popper em que os resultados de um estudo poderão 6 7 8

ABBAGNANO, Nicola. DICIONÁRIO DE FILOSOFIA, 3 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. Ibid.; Ibid.

ser ou não aceito se for conjecturado, refutado ou falseado pelos seus pares sendo ele publicado tornando acessível às informações. De acordo com Popper (2009), este processo de construção de uma nova teoria ou sistema científico inicia-se com uma comparação lógica entre as conclusões obtidas pela teoria construída, buscando uma coerência interna do sistema, com o registro das informações obtidas do decorrer da pesquisa, com uso de signos e símbolos – aqui observamos que o registro é onde se usa a interpretação dos dados transformando-os em informação, então, já que a informação é registrada em um suporte físico para interpretação, ela “é uma coisa” (grifo nosso) de acordo com o que diz Buckland (1991). O segundo momento, a prova é da investigação lógica da teoria para verificar se ela apresenta o caráter de uma teoria empírica ou científica. O terceiro momento é o do confronto com outras teorias, com o objetivo de determinar se a teoria construída representa um avanço de ordem científica. Finalmente, há a comprovação da teoria por meio de aplicações empíricas das conclusões que dela se possam deduzir. Quando Popper se refere a uma teoria construída, subentende-se uma revisão da literatura buscando identificar quem ou quais cientistas está desenvolvendo estudos parecidos, já a verificação empírica, podemos inferir que seria uma dedução ou formalidade dos métodos cientifico se realmente a teoria não está alicerçada nas definições científicas com metodologia e técnicas que possam dar conta da solução do problema a qual se definiu tal teoria. Para Popper (2009) há convicção no sentido de que toda teoria há de se passar pelo teste de falseamento para sua validação, de certa forma percebemos que nem sempre isso será possível dependendo de que tipo de objeto o cientista está estudando e principalmente se tratando das ciências sociais, esse ponto de vista é corroborado por Tomanik (2004). Outro modelo de ciência, defendido por Kuhn, também nos permite melhor entender a acepção da informação como coisa. Para Kuhn (2009), a ciência esta alinhada ao indutivismo empiricista, pois, sempre haverá interferência ou inferência por parte do cientista na pesquisa. A reflexão de Kuhn sobre a natureza da atividade científica articula-se em três conceitos fundamentais: os conceitos de "paradigma", "ciência normal" e "ciência revolucionária". Às diversas formas de ver o mundo, Kuhn (2009) chamou paradigmas. O conceito de paradigma tornou-se conhecido de forma geral a partir das propostas de Kuhn e hoje significa, mesmo na linguagem

corrente, uma maneira diferente de ver a mesma realidade. Trata-se de um conceito particularmente importante para compreender, não apenas a ciência, mas a própria vida em sociedade. De fato, muitos dos conflitos que hoje em dia são gerados, resultam de choques entre pessoas que vêm à realidade de maneiras antagônicas. Este fato é mais importante quando acontece, quando se vê a realidade de uma determinada maneira tende-se a ser incapaz de vê-la de outra, possivelmente mais correta. Vamos analisar o fenômeno do paradigma, a partir da análise do fenômeno sobre uma imagem, conforme figuras abaixo. Figura 01 e 02: Imagens de duplo sentido.

Fig. 01 Fig. 02 Fonte: Disponível em: Na figura 01, algumas pessoas acham que ela representa um homem tocando sax. Outras acham que representa o rosto de uma moça. Ambas têm razão. Na realidade, a mesma imagem representa as duas coisas. Porém, depende de quem vê nela uma coisa ou a outra. Já na figura 02, temos um rosto de um velho ou um casal se beijando? Isso depende de quem observa, pois uns conseguirá ver o velho e não o casal, outros poderão ver o casal e o velho, outros não conseguem ver as imagens separadas uma da outra. Isso nos demonstra que quando estamos presos a um paradigma, raramente conseguimos aceitar outro paradigma que concorra com o anterior. Apresentamos essas ilustrações a título de entendimento de paradigma,

pois, para mudarmos a visão, só se fizermos um esforço grande para nos situarmos no outro paradigma é que, então, subitamente, passaremos a ver as coisas de uma forma

completamente

diferente.

Assim,

o

que

podemos

pré-concluir

na

apresentação destas figuras, é que a informação visual percebida pelo espectador vai depender do seu ponto de vista e de que paradigma ele está se apoiando para poder definir o que está representado. Sendo que a definição esteja ou não de acordo com as explicações acima, ainda poderão apresentar outra e tentar convencer daquilo – imagem decifrada - que está percebendo. Segundo Kuhn (2009, p. 24), “a ciência normal, freqüentemente suprime novidades

fundamentais,

porque

estas

subvertem

necessariamente

seus

compromissos básicos”, ou seja, em algumas vezes um problema comum, que deveria ser resolvido por meio de regras e procedimentos conhecidos, resiste ao ataque violento e reiterado dos membros mais hábeis do grupo em cuja área de competência ele ocorre. Além do mais, Kuhn (2009, p. 29) afirma que “a ciência é firmemente baseada em uma ou mais realizações científicas passadas” e a define “como uma ciência normal”. Ou seja, o mundo ao qual essa ciência se aplica, é visto por todos os seus praticantes segundo uma mesma perspectiva, ainda “essas realizações são reconhecidas durante algum tempo por alguma comunidade científica específica como proporcionando os fundamentos para sua prática posterior” (KUHN, 2009, p. 29). Em suma, de acordo com Kuhn (2009) a ciência evolui por etapas que ora são de evolução normal, ora de rotura revolucionária, sendo as roturas revolucionárias que mais contribuem para o progresso dessa ciência. O exemplo disso é a revolução copernicana apresentada por Kuhn (2002, p. 17) onde diz que “a Revolução Copernicana foi uma revolução de idéias, uma transformação do conceito que o homem tinha do universo e da sua própria relação com ele”. E “para as outras ciências, a sua sugestão levantou simplesmente novos problemas e, até estarem resolvidos, o conceito dos astrônomos sobre o universo era incompatível com o dos outros cientistas” (KUHN, 2002, p. 18)9, nesta época deu-se então a revolução científica10.

9

KUHN, Thomas. A REVOLUÇÃO COPERNICA (2002) aborda o contexto histórico das descobertas de Copérnico e as suas conseqüências no campo das ciências e dos cientistas, tornando-se foco das tremendas controvérsias de religião, filosofia e teoria social. 10 KUHN, 2002, loc. cit.

A ciência normal desorienta-se seguidamente. E quando isso ocorre – isto é, quando os membros da profissão não podem mais se esquivar-se das anomalias que subvertem a tradição existente da prática científica – então começam as investigações extraordinárias que finalmente conduzem a profissão a um novo conjunto de compromissos, a uma nova base para a prática da ciência (KUHN, 2009, p. 24).

Assim, “para ser aceito como um paradigma, uma teoria deve parecer melhor que suas competidoras, mas não precisa (e de fato isso nunca acontece) explicar todos os fatos com os quais pode ser confrontada” (KUHN, 2009, p. 38), já “o novo paradigma implica uma definição nova e mais rígida do campo de estudos. Aqueles que não desejam ou não são capazes de acomodar seu trabalho a ele têm que proceder isoladamente ou unir-se a algum grupo” (KUHN, 2009, p.39). Contudo, uma vez encontrado um primeiro paradigma com a qual conceber a natureza, já não se pode mais falar em pesquisa sem qualquer paradigma. Rejeitar um paradigma sem simultaneamente substituí-lo por outro é rejeitar a própria ciência (KUHN, 2009). Segundo Schmidt e Santos (2007) na visão de Kuhn, os Cientistas, são solucionadores de enigmas, os grandes progressos da ciência não resultam de mecanismos de continuidade, mas sim de mecanismos de rotura. Na definição do próprio Kuhn (2009), o cientista está circundado de problemas que precisa resolver e ele, não a teoria, está em dificuldade para encontrar uma solução para o problema. Resolver um problema de pesquisa normal é alcançar o antecipado de uma nova maneira. Isso requer a solução de todo tipo de complexos quebra-cabeças instrumentais, conceituais e matemáticos. O Indivíduo que é bem sucedido nessa tarefa prova que é um perito na resolução de quebracabeças. O desafio apresentado pelos quebra-cabeças constitui uma parte importante da motivação do cientista para o trabalho (KUHN, 2009, p. 59)

Assim, percebemos no caso do cientista, “o que incita ao trabalho é a convicção de que, se for suficientemente habilidoso, conseguirá solucionar um quebra-cabeça que ninguém até então resolveu ou, pelo menos, não resolveu tão bem” (KUHN, 2009, p. 61), ele obedece a regras que limitam tanto a natureza das soluções aceitáveis como os passos necessários para obtê-las, ou seja, aqui podemos ver que Kuhn (2009) se refere a métodos/metodologias e teoria aceitas pela comunidade científica, no entanto, isso poderá ser verificado, e aí podendo ser refutado ou falseado dentro da proposta de Popper sobre a lógica da pesquisa, ele esclarece que “a tarefa da lógica da pesquisa científica, ou da lógica do

conhecimento, é, segundo penso, proporcionar uma análise lógica desse procedimento, ou seja, analisar o método das ciências empíricas” (POPPER, 2009, p. 27). De acordo com Schmidt e Santos (2007), Kuhn indaga se o falseamento popperiano não é uma refutação concludente. Para nós, a partir do estabelecimento dos critérios de refutação, uma teoria pode ser falseada ou corroborada. Se ela for falseada, certamente poderá ser de forma concludente, se não, virão novas situações que colocarão seus conteúdos a prova novamente. O falseamento é, sem dúvida, uma contenda entre a teoria e a observação – aqui sendo a contestação dos dados considerados como “coisa” de acordo com Buckland (1991), interpretada e transformada em informações registradas, estas tidas como teoria do que se sucedeu ao resultado do estudo ou experiência tido como conhecimento científico. No entanto, o próprio Kuhn busca demonstrar a necessidade do cientista em ter uma flexibilidade ao buscar desenvolver as soluções para os problemas de acordo com a as suas técnicas ou teorias abordadas. O cientista deve preocupar-se em compreender o mundo e ampliar a precisão e o alcance da ordem que foi imposta. Esse compromisso, por sua vez, deve levá-lo a perscrutar com grande minúcia empírica (por si mesmo ou através de colegas) algum aspecto da natureza. Se esse escrutínio revela bolsões de aparente desordem, esses devem desafiá-lo a um novo refinamento de suas técnicas de observação ou a uma maior articulação de suas teorias (KUHN, 2009, p. 65)

No entanto faz um alerta de que a ciência normal é uma atividade altamente determinada, mas não precisa ser inteiramente determinada por regras (KUHN, 2009, P. 66). Diante da visão de Popper e Kuhn, percebemos que há dualidade na forma de cada um dos autores, ou seja, existe oposição em determinados pontos de vista, mas também concordam em outros, ou seja, eles têm pontos comuns do que é ciência para sociedade. Com isso, vemos que a ciência está em transformação constante e o cientista faz parte deste contexto com a geração de informações e conhecimentos registrados – novas teorias - que poderão ou não superar as existentes, mas desde que sejam contestadas e colocadas à prova dentro de um rigor lógico e científico, através recuperação da informação como “coisa” na forma de textos, artigos, dissertações ou um livro com descrição dos resultados das pesquisas para um novo conhecimento. É neste ponto que observamos uma convergência comum e pacífica em todas as ciências, pois, em todo contexto

científico vemos que a informação é transmitida nas formas de apresentação oral e escrita nos congressos, seminários, na publicação dos artigos científicos em revistas, livros e periódicos, ou seja, fazendo uso da informação como coisa, conforme colocada por Buckland (1991) no contexto da Ciência da Informação. O próprio Kuhn (2009, p. 41) faz um alerta, “o cientista que escreve um livro tem mais probabilidade de ver sua reputação comprometida do que aumentada”. Neste alerta, vemos a consideração no qual ao tornar público um determinado resultado, este poderá passar pela avaliação dos pares podendo ser refutado ou conjecturado de acordo com Popper, porém percebemos que isso não deve comprometer a evolução tanto do cientista quanto da ciência em si, essa colocação encontra respaldo em Kuhn na qual todo cientista está sempre fazendo uso de um referencial e “a cada nova teoria científica conserva o âmago do conhecimento fornecido pelas suas predecessoras e acrescenta-o. A ciência progride substituindo as teorias antigas por novas” (KUHN, 2002, p. 20), assim, o cientista a partir do momento que trabalha com a ciência e registra seus resultados de pesquisa e os torna público disponibilizando a informação registrada, essa poderá ser acessada, conjecturada ou refutada por qualquer um que se detenha a fazer uma análise e revisão

dos

procedimentos

adotados

para

conclusão

de

determinado

estudo/pesquisa. Daí, poderá então surgir novos conhecimentos e novas teorias embasadas nas existentes.

2.2 O CONHECIMENTO A abordagem será sobre a visão do conhecimento chamado de senso comum e a do conhecimento científico, conforme a visão dos autores pesquisados (POPPER, 1999, 2004, 2006, 2009; KUHN, 2002, 2006, 2009; TOMANIK, 2004; CHALMERS, 1993), podemos perceber o aparecimento de alguns termos que vão estar presentes nesta análise da formação do conhecimento: indutivismo/indução, empirismo, empiricista, objetividade, falseamento, conjectura e refutações. Usamos estes termos no item anterior, mas são termos recorrentes na linguagem destes autores, pois há momentos em que corroboram entre si ou se contrapõem e às vezes.

Assim, vamos fazer uma delimitação dos termos – indução11, objetividade12, refutação13. Diante destas colocações, passaremos a fazer uma análise nesta linha de pensamentos para podermos formar um ponto de vista. De acordo com Popper (2009) desde os tempos mais remotos, os filósofos como Descartes, Hobbes, Locke, e sua escola, que inclui não só Daivd Hume, mas também Thomas Reid, a teoria do conhecimento humano tem sido amplamente subjetiva: “o conhecimento humano tem sido encarado como um tipo especialmente seguro de crença humana, e o conhecimento científico como um tipo especialmente seguro de conhecimento humano” (POPPER, 1999, p.7), entendemos por “conhecimento seguro” o fato de o conhecimento científico ser registrado, validado e não ter sido refutado. A análise dessa questão impõe um aprofundamento na visão de Popper sobre a base do conhecimento do tipo Senso Comum e Conhecimento Científico, complementadas por Chalmers (1993) e Kuhn (2002, 2009). Os seres humanos individuais têm duas maneiras de adquirir conhecimento a respeito do mundo: pensando e observando. Se dermos prioridade ao primeiro modo chegaremos numa teoria do conhecimento racionalista clássica, ao passo que se dermos prioridade ao segundo chegaremos a uma teoria empirista (CHALMERS, 1993, p. 139). Chalmers (1993, p.139-140) nos traz uma explicação no qual diz que: Para o empirista clássico, os verdadeiros fundamentos do conhecimento são acessíveis aos indivíduos através dos sentidos. Os empiristas supõem que os indivíduos possam estabelecer como verdadeiras algumas afirmações confrontando o mundo através de seus sentidos. As afirmações assim estabelecidas constituem os fundamentos sobre os quais é construído o conhecimento adicional por algum tipo de inferência indutiva. John Locke foi um dos primeiros empiristas modernos. O ponto de vista indutivista da ciência, [...], representa um tipo de empirismo.

Essas colocações estão em consonância com Popper (1999, p. 16) quando argumenta que Russell asseverando que se a indução (ou princípio de indução) for 11

- indução é um processo mental por intermédio do qual, partindo de dados particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou universal, não contida nas partes examinadas (MARCONI E LAKATOS, 2005, P. 85). 12 - objetividade, o conhecimento científico é objetivo à medida que procura concordar com seu objeto – isto é busca alcançar a verdade factual por intermédio dos meios de observação, investigação e experimentação existentes (MARCONI E LAKATOS, 2004, P 31). 13 - [...] Casos ou circunstâncias que pudessem refutar a teoria, ou os enunciados que constituem uma teoria devem prestar-se (no todo ou em parte) à verificação empírica. Do contrário, não seria possível planejar testes genuínos e poder-se-ia considerar a teoria como logicamente verdadeira, isto é, como verdadeira, já o que houver – portanto, como empiricamente vazia (MARCONI E LAKATOS, 2004, P. 132).

rejeitada, “qualquer tentativa para chegar a leis científicas gerais partindo de observações particulares é ilusória e o ceticismo de Hume é inevitável para um empírico”. De acordo com Popper (1999, p. 66) “o Senso Comum, é sempre nosso ponto de partida, mas deve ser verificado”. Pois, “o considera uma atrapalhada”. Mas, diz que o mesmo “tem fornecido o alicerce sobre o qual se erigem até mesmo as mais recentes teorias filosóficas”. Ainda explica que “é uma teoria comum e simples”, vejamos: Se você ou eu quisermos conhecer alguma coisa ainda não conhecida a respeito do mundo, temos de abrir os olhos e olhar ao redor. E temos de aguçar nossos ouvidos e ouvir os ruídos, especialmente feitos por outras pessoas. Assim nossos vários sentidos são nossas fontes de conhecimento – as fontes ou os acessos para nossas mentes (POPPER, 1999, p.66).

Chalmers (1993, p.48-49) nos dá explicação próxima a de Popper, mas com certa ênfase sob o ponto de vista do observador em relação à visão como uma das principais fontes de acesso na percepção humana para formação do conhecimento, então vejamos: Em parte porque o sentido da visão é o sentido mais extensivamente usado na prática da ciência, e em parte por conveniência, restringirei minha discussão de observação ao domínio da visão. [...]. Assim, o funcionamento do olho é muito semelhante ao de uma câmera. Uma grande diferença está na maneira como a imagem final é registrada. Os nervos óticos passam da retina para o córtex central do cérebro. Eles transportam a informação relativa à luz que incide sobre as várias regiões da retina. É o registro dessa informação pelo cérebro humano que corresponde à visão do objeto pelo observador humano. Muitos detalhes poderiam ser acrescentados a esta descrição simples, mas o relato oferecido capta a idéia geral. Dois pontos são fortemente sugeridos pelo esboço que se segue da observação via sentido da visão, que são pontos-chave para o indutivista. O primeiro é que um observador humano tem acesso mais ou menos direto a algumas propriedades do mundo externo à medida que essas propriedades são registradas pelo cérebro no ato da visão. O segundo é que dois observadores normais vendo o mesmo objeto ou cena do mesmo lugar “verão” a mesma coisa. Uma combinação idêntica de raios de luz vai atingir o olho de cada observador, vai ser focada em suas retinas normais pelas suas lentes normais e produzirá imagens similares. Informação similar vai então alcançar o cérebro de cada observador via seus nervos óticos normais, e daí podermos concluir que os dois observadores “vêem” a 14 mesma coisa.

Assim, o que podemos pré-concluir é que a o conhecimento do tipo senso comum está baseado na forma como vemos e aceitamos as coisas da qual tomamos conhecimento pelos nossos órgãos dos sentidos, e principalmente pela visão conforme colocações de Chalmers e Popper. Esta posição é corroborada 14

- O fato de os observadores “verem” os mesmos raios luminosos, não significa que irão dar a mesma interpretação de sentido conforme Deregowsky (1969).

quando Popper (1999, p. 66) nos apresenta a teoria do “balde mental” que é conhecida no mundo filosófico de “teoria da tabula rasa”, porém faz uma distinção entre elas, ao dizer que “na teoria do balde nossa mente é um balde que primitivamente se acha vazio ou mais ou menos assim, e nesse balde entra material através de nossos sentidos (ou talvez por um funil para enchê-lo ou atingi-lo por cima), e se acumula, e é digerido”. Já quanto a tabula rasa, informa que a “nossa mente é uma lousa vazia na qual os sentidos gravam suas mensagens”. Todavia ao fazer tais colocações, acrescenta que “o ponto principal da teoria da tabula rasa vai além da teoria do senso comum do balde: “refiro-me à sua ênfase sobre a perfeita vacuidade da mente do nascimento” (POPPER, 1999, p. 66). Contudo, afirma que a tese importante da teoria do balde é que “aprendemos a maior parte, se não tudo, de quanto aprendemos por meio da entrada da experiência pelas aberturas de nossos sentidos; de modo que toda experiência consiste de informação recebida através de nossos sentidos” (POPPER, 1999, p. 67). Na sua crítica a teoria de Senso Comum do conhecimento, Popper (1999, p. 71) apresenta sete pontos de discordância e alega que ela está radicalmente errada em todos os pontos. Diante de todos os argumentos, podemos inferir que o conhecimento do senso comum é baseado na observação de um ou mais seres humanos e aceitos como verdade subjetiva, sem uma análise crítica e sem o registro da informação – a subjetividade aqui pode ser entendida como “caráter de todos os fenômenos psíquicos, enquanto fenômenos de consciência, que o sujeito relaciona consigo mesmo e chama de "meus" (ABBAGNANO, 1998, p. 922). Assim, tendo a aceitação pelos outros seres humanos como verdade objetiva. Neste sentido não podendo ser refutável. Portanto essa é uma forma de conhecimento bastante questionada em termos de ciência, pois o objetivista dá prioridade, em sua análise do conhecimento, às características dos itens ou corpos de conhecimento com que se confrontam os indivíduos, independentemente das atitudes, crenças ou outros estados subjetivos daqueles indivíduos. Desta forma “o conhecimento é tratado como algo exterior, antes que interior, às mentes ou cérebros dos indivíduos” (CHALMERS, 1993, p. 140). Partindo do princípio de que o conhecimento do Senso Comum não tem uma aceitação no campo da ciência por não tratar a formação do conhecimento de forma estruturada, com normas e métodos/metodologias, técnicas e instrumentos – registro e sistematização dos dados para geração da informação ou teoria - nos quais poderia se aproximar da verdade objetiva, a que os cientistas

estão em busca, vamos assim, passar a ver o conhecimento objetivo, também conhecido como “conhecimento científico”.

2.2.1 A VISÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO DAS CIÊNCIAS

Os cientistas estão sempre se apoiando no contexto metodológico da ciência, em métodos com estruturas e regras que buscam dar conta do conhecimento, esse conhecimento é qualificado como científico, contudo nunca é dominado como um todo, sempre em partes/fração, isso, pelo fato de cada cientista tratar de um problema específico – uma parcela de um determinado contexto - dentro de cada área das ciências não sendo generalista, Tomanik (2004), vai nos dar uma visão deste contexto no qual ele define como a atuação dos empiristas. Hoje devem ser muito poucos os cientistas que ainda acreditam na possibilidade de que um dia se possa atingir o conhecimento pleno da realidade e com isso dar por encerrada a tarefa da ciência, mas não são poucos os que postulam que esta tarefa consiste exclusivamente na descrição, classificação e descoberta de relações entre os fatos - ou seja, entre acontecimentos naturais, concretos e mensuráveis. Este são os que estou denominando de empiricistas (TOMANIK, 2004, 57).

Porém, Tomanik (2004, p. 59) diz que ao optar pelo termo “empiricismo”, esclarece que ele engloba todas aquelas linhas de pensamento que se propõem a trabalhar com base exclusivamente nos fatos. De outro lado, optamos pelo uso do empiricismo ao invés do empirismo já que este último termo vem sendo usado para indicar o mero conjunto de experiências individuais, não intencionais e nem coordenadas. Ainda, diz que o “empiricismo exige de quem pretende se dedicar aos estudos, um verdadeiro espírito científico. [...] Sendo que “o espírito científico, na prática, se traduz por uma mente crítica, objetiva e racional” (TOMANIK, 2004, P. 59 - 60). Para Tomanik (2004, P. 60), “a busca da objetividade é o ponto central na definição da ciência para o empiriscismo”. Assim, descreve que “a ciência é um conjunto de conhecimento que se dá através da utilização adequada de métodos rigorosos, capazes de controlar os fenômenos e fatos estudados”. Ainda, afirma que o método científico, dentro do empiricismo, “é um conjunto de procedimentos, cada vez mais elaborado e rigoroso, que visa garantir que os conhecimentos obtidos possuam as necessárias condições de neutralidade, precisão e verificabilidade que

lhes garantam a objetividade” (TOMANIK, 2004, p. 64). Na questão da percepção, também concorda de que neste processo intervêm não só “as grandezas física dos estímulos e as capacidades fisiológicas do organismo, como, também, e principalmente, as estruturas psicológicas do indivíduo percebedor, decorrentes de seu passado, do seu estado atual e, possivelmente influenciado por suas expectativas para o futuro” (TOMANIK, 2004, p. 64). Observa-se que há uma sintonia com os autores pesquisados no sentido de haver a influência da bagagem cultural e da formação na atuação do cientista. Tomanik (2004) assinala que os objetos de estudos científicos só podem ser fenômenos naturais, tendentes à repetição e acessíveis aos procedimentos experimentais, há aí um processo de dependência entre o objeto e o método. Contudo, ao estudarmos o comportamento humano, temos vários pontos que não podem ser desconsiderados conforme apresentados por Tomanik (2004, P. 73) advindos da complexidade do ser humano em si. Embora haja evidentes dificuldades em enquadrar os objetos de estudos das ciências sociais nos parâmetros da metodologia empiricista, que tem base nos objetos físicos, estas dificuldades devem ser encaradas apenas como obstáculos a ser superados, e não como provas da

impossibilidade de

se

realizarem

estudos objetivos do

comportamento humano (TOMANIK, 2004, p. 74). Assim,

“estudar

os

processos

humanos

de

maneira

rigorosamente

experimental não é apenas uma possibilidade colocada pelo empiricismo, é também uma necessidade para quem, como os empiristas, que se propõem a construir uma ciência que tem como objetivo” (TOMANIK, 2004, p. 75) o homem em seu meio. O próprio Popper (2004) demonstra a complexidade de se aplicar os métodos das ciências naturais nas ciências sociais. Contudo, os objetivos de compreensão, previsão e controle estão presentes igualmente nas ciências sociais. Desta forma a ciência não apenas possibilitaria ao ser humano o domínio sobre a natureza, como poderia se constituir, e de fato se constitui, num instrumento de previsão e de controle sobre as ações dos próprios homens (TOMANIK, 2004, P. 75-76). Não obsta a uma visão relativista da qual nos dá outros pontos de vista que são esclarecedores, Chalmers (1993, p. 132) comenta que o relativismo de Kuhn está enfatizado nas sentenças de conclusão do pósescrito à Estrutura das Revoluções Científicas. “O conhecimento científico, como a

linguagem, é intrinsecamente a propriedade comum de um grupo ou então não é nada. Chalmers (1993) concorda com Kuhn e Popper e indica um melhor entendimento sobre a forma do conhecimento científico e do quanto cada resultado das pesquisas estão sob a influência de outros contextos além relação método/metodologia definidos para o desenvolvimento de um estudo/pesquisa, então vejamos: As caracterizações de progresso e as especificações de critérios para julgar os méritos das teorias serão sempre relativas ao indivíduo ou às comunidades que aderem a elas. As decisões e as escolhas feitas por cientistas ou grupos de cientistas serão governadas por aquilo a que aqueles indivíduos ou grupos atribuem valor. Em uma dada situação não há um critério universal que dite uma decisão logicamente convincente para o cientista “racional”. Uma compreensão das escolhas feitas por um cientista específico requererá uma compreensão daquilo que o cientista valoriza e envolverá uma investigação psicológica, enquanto as escolhas feitas por uma comunidade dependerão daquilo que ela valoriza e uma compreensão destas escolhas envolverá uma investigação sociológica (CHALMERS, 1993 p.140).

Esse esclarecimento, busca nos mostrar o quão impregnado se encontra as teorias (teorias, entendidas aqui como informações registradas, ou seja, a formação do conhecimento científico junto aos seus pares e interesses – grifo nosso) disponibilizado para os não cientistas, assim, podemos perceber ou pré-concluir que a ciência propriamente dita não está isenta da formação e convívio cultural (conhecimento do convívio social), ética, moral na formação do indivíduo quando se faz a pesquisa e o seu registro em um suporte físico, este se tonando informação como coisa, pois passa a ser tangível, passivo de reinterpretação e reutilização na geração de um novo conhecimento, ou seja, de uma nova coisa. Isso está claramente definido por Popper (2004, p. 22), [...] é um erro admitir que a objetividade de uma ciência dependa da objetividade do cientista. É um erro acreditar que a atitude do cientista natural é mais objetiva que a do cientista social. O cientista natural é tão partidário quanto às outras pessoas, e a não ser que pertença aos poucos que estão, constantemente, produzindo novas idéias, ele está, infelizmente muito inclinado, em geral, a favorecer suas idéias preferidas de um modo parcial e unilateral. Vários físicos contemporâneos de maior projeção têm fundado também escolas que estabelecem uma resistência poderosa a novas idéias

A despeito das divergências teóricas dos autores abordados, Popper, Kuhn, Tomanik e Chalmers, coincidem quanto a não isenção e a não imparcialidade absoluta no contexto do desenvolvimento do conhecimento científico, cada qual com

suas razões específicas. Contudo, de acordo com Bursztyn, Drummond e Nascimento (2010), Publicar artigos em periódicos é, em quase todas as áreas da ciência, é um imperativo profissional tanto dos cientistas iniciantes quanto para os que estão em meio de carreira ou já estabelecidos. [...]. O meio de comunicação acadêmica por excelência é o texto escrito. Na vida de um pesquisador, oralidade rima com perecibilidade. Só os escritos podem aspirar a algum grau de permanência ou, mais ambiciosamente, durabilidade e impacto, dependendo do seu embasamento e da sua qualidade textual.

De acordo com as colocações acima, vêm de encontro com o que estamos abordando até aqui, quanto ao fato da informação como coisa, passível de registro para uso posterior, armazenamento e recuperação da informação conforme definido por Buckland (1991).

3 CONSIDERAÇÕES Ao fazer a leitura de Popper, percebemos que ele trata da visão e do trabalho do cientista como uno, ou seja, cada um trabalha dentro do seu ponto de vista, faz os seus testes e submete-os à apreciação de seus pares – através da informação registrada, tida como coisa - no qual defende a lógica dedutiva sendo totalmente contra ao empirismo. Contudo, nesta caminhada temos um cientista solitário no qual aguarda a refutação de seus resultados de pesquisa através da crítica e falseabilidade de seu trabalho – interpretação da informação dos textos, onde diz que a ciências progridem com a solução de problemas e geração de novas teorias, aqui entendidas como informações registradas em suporte físico – uma coisa. Porém, no trabalho de Kuhn ele trata da questão da ciência quanto o cientista em nível de comunidade, esta de cientistas, que estão engajados nos estudos de linhas bem parecidas. Ou seja, que já seguem uma corrente teórica pré-estabelecida no que ele considera de ciência madura ou revolucionaria. E que a evolução das ciências evoluem quando um conceito deixa de ser válido para um determinado tipo de problema no qual define como enigma. Tomanik, por sua vez, assume deliberadamente o papel isento, porém parcial do pesquisador e coloca a evolução das ciências no quadro político/ideológico de transformação das sociedades e das forças sociais que operam em tal processo. Observa-se um alinhamento tanto com o pensamento de Popper quanto ao de Kuhn; onde apóiam empiricismo – coleta e

uso da informação registrada sob normas, métodos e técnicas - e faz um esclarecimento sobre essa visão empiricista na qual tem tanto os elementos de Popper na questão da verificação da validade ou não de uma teoria, mesmo abordando os princípios do indutivismo defendido por Kuhn. Podemos entender que a princípio o conhecimento não pode ser feito por empiristas ou racionalistas sozinhos, mas por uma combinação, além do documento histórico das origens das teorias com o uso da informação registrada – armazenamento, recuperação de uma coisa - e considerando os objetivos e os valores humanos e isso tanto Popper, Kuhn e Tomanik parecem concordar neste sentido. Ou seja, o que percebemos é que o conhecimento científico é construído de forma coletiva – por haver uma necessidade de se consultar as teorias já existentes em determinada área do conhecimento trabalhada por outros – assim, os resultados das soluções dos problemas propostos nas pesquisas são solucionados pelos cientistas onde a informação é interpretada e disponibilizada/publicada, daí, vai ser interpretada por outro indivíduo, este também agregará conhecimento com seus valores e princípios. No entanto, este conhecimento, poderá ser demonstrado de forma diferenciada do inicial, pois irá conter a soma das informações e valores e da formação desse indivíduo. Porém, ao fazer uma reinterpretação da informação fazendo registro dela – o uso da escrita e de documentos – este é quem irá demonstrar a composição e a contextualização do novo conhecimento – estamos nos referindo das conclusões que o cientista traz a tona dos seus estudos. Ou seja, o registro propriamente dito para uso, de posterior acesso e recuperação da informação por parte da comunidade científica ou para o público em geral através de seus relatórios, da publicação de artigos ou de livros. Portanto, a distinção entre a ciência e a não-ciência torna-se fácil de compreender, pois de acordo com Chalmers (1993) são científicas apenas aquelas teorias capazes de ser claramente avaliadas em termos do critério universal (registro e recuperação das informações) e que sobrevivem ao teste falseabilidade ou refutação proposto por Popper. É assim que um racionalista indutivista poderá decidir que a astrologia não é uma ciência por não ser derivada indutivamente dos fatos da observação, enquanto um falsificacionista poderá decidir que o marxismo não é científico por não ser falsificável. O racionalista típico aceitará como evidência que se deva dar um alto valor ao conhecimento desenvolvido segundo o critério universal, mas se compreendermos o processo como meio de se chegar à verdade.

Então, a verdade seria a racionalidade e a ciência, está verdade seria vistas como sendo intrinsecamente boas. Assim, podemos concluir que as teorias científicas informações registradas e documentadas - de acordo com Chalmers (1993) são um tipo especial de produto social, embora a extensão em que são capazes de lidar com o mundo físico, que não é um produto social, não seja determinada socialmente, pois o trabalho de cientista mesmo feito deforma coletiva por pesquisar o conhecimento de outros autores boa parte dele é feito de forma individual. Cada área do conhecimento deve ser julgada pelos próprios méritos, pela investigação de seus objetivos, e, em que extensão é capaz de alcançá-los. Mais ainda, os próprios julgamentos relativos aos objetivos serão relativos à situação social e o nível do resultado de cada estudo/pesquisa e da informação que será disponibilizada. Desta forma, temos como entendimento que o conhecimento e a ciência são produtos do ser humano na tentativa de se conhecer os fenômenos da natureza e os fenômenos sociais a fim de compreendê-los no sentido de adquirirmos melhores informações e conhecimento na tentativa prever as conseqüências dos problemas e de melhorar o mundo em que vivemos. No entanto, seria isso verdadeiro?

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