A inserção da comunicação organizacional na nova lógica midiática

Share Embed


Descrição do Produto

Comunicação e Mercado

A inserção da comunicação organizacional na nova lógica midiática The insertion of of the organizational communication in the new mediatic logic Eugenia Mariano da Rocha Barichello

Doutora em Comunicação pela UFRJ e Líder do Grupo de Pesquisa Comunicação Institucional e Organizacional - UFSM/CNPq Docente do Programa de Pós Graduação em Comunicação da UFSM [email protected]

Daiana Stasiak

Mestranda em Comunicação midiática na Universidade Federal de Santa Maria/RS Membro do grupo de Pesquisa de Comunicação Institucional e Organizacional - UFSM/CNPq [email protected]

Resumo A comunicação das organizações ainda é estudada teoricamente por meio de modelos lineares e instrumentais de comunicação, não contemplando a sua inserção em uma sociedade mais complexa. Nesse contexto, este artigo visa retomar alguns conceitos funcionalistas com intuito de demonstrar que sua utilização não é mais compatível com o modelo social vigente, que tem a midiatização como processo de referência e no qual a internet traz fluxos de comunicação e patamares de interatividade compatíveis com a atualização das práticas comunicacionais. Por fim, apontamos a midiatização como um conceito basilar para que as organizações internalizem os processos de mudança e se adaptem às demandas do seu tempo. Palavras-chave: teorias da comunicação; Comunicação organizacional; Midiatização.

Abstract Organizational communications is still theoretically studied through linear and instrumental communication models, not contemplating its insertion in a more complex society. In this context, this theoretical essay aims to revisit some funcionalist concepts in order to show its usage is not compatible anymore with the current social model. This model has mediatisation as its reference process, and internet brings communication flows and interactivity patterns that are compatible with the updating of communicative practices. Finally, mediatisation is pointed out as a basic concept for the organisations to internalise the change processes and adapt themselves to the current demands. Key words: theory of communication; organisational communication: mediatisation.

Resumen La Comunicación de las organizaciones aún es estudiada teóricamente por medio de modelos lineares e instrumentales de comunicación, no contemplando su inserción en una sociedad más compleja. En ese contexto, este ensayo teórico visa a retomar algunos conceptos funcionalistas con intuito de demostrar que su utilización ya no es compatible con el modelo social vigente, que tiene la mediatización como un proceso de referencia y en el que la internet trae flujos de comunicación y niveles de interactividad compatibles con la actualización de las prácticas comunicacionales. Por fin, señalamos la mediatización como un concepto basilar para que las organizaciones internen los procesos de cambio y se adapten a las demandas de su tiempo. Palabras clave: teorías de la comunicación, comunicación organizacional, mediatización.

A inserção da comunicação organizacional...

1. Introdução

cessidade de adaptação aos processos sociotécnicos contemporâneos, abordamos a internet como uma ambiência que abarca diversas mídias e caracteriza um espaço de fluxos rico em possibilidades de atualização para as ações organizacionais. Neste artigo, nossa reflexão teórica apresenta-se em três partes: a primeira objetiva resgatar teorias funcionalistas e abordar as características mais relevantes que as tornaram modelos em meio às hipóteses do seu tempo. A segunda parte visa caracterizar o fenômeno da midiatização e dar destaque à internet como a mídia mais representativa das transições ocorridas nos fenômenos da comunicação. A terceira visa contribuir com a renovação das concepções da comunicação organizacional em uso hoje, principalmente a partir das possibilidades oferecidas pelo espaço de fluxos proporcionado pela internet. Por fim, as considerações finais apontam para a midiatização como um conceito teórico que deve servir de base para as organizações internalizarem os processos de mudança e adaptarem-se às demandas do seu tempo.

E

ste artigo busca abordar a comunicação organizacional na perspectiva da midiatização contemporânea, tendo em vista a necessidade de um repensar teórico e prático acerca do tema com intuito de atualizar, dinamizar e aperfeiçoar a comunicação nas organizações sociais. A reflexão visa colaborar com o campo da comunicação, pois revisita determinadas teorias apresentadas no século XX, como o modelo matemático-informacional de Shannon e Weaver, o modelo teórico de Berlo e a teoria do meio como mensagem, de Marshall McLuhan. A proposta estabelece um paralelo teórico dessas teorias com a noção de midiatização de Sodré (2003), elaborada no século XXI. As transformações ocorridas a partir da metade do século passado nos apresentaram a uma esfera social de heterogeneidades na qual a evolução das tecnologias pode ser considerada um 2. Teorias da divisor de águas na conComunicação cepção dos paradigmas comunicacionais, pois esses A teoria da comunicação tem seu marevoluem de uma perspectico inaugural com a obra “Arte retórica”, de va linear e instrumental, na qual os meios Aristóteles, que tinha como objetivo explide comunicação eram vistos como meros car como ocorriam os modos de convencidisseminadores de informações, para mento das pessoas em um auditório. Nesse uma perspectiva que concebe a mídia modelo, o filósofo considerava o falante, o como centralidade nos processos sociais. discurso e o ouvinte como os componenSeguindo em grande parte a lógica da tes do processo de comunicação, em que mercantilização, a mídia é responsável a produção do discurso buscava prever a pela produção dos sentidos que circulam reação do ouvinte, visando à forma mais na sociedade, de modo a afetar nossa eficiente de persuadi-lo, característica cultura, educação e, sobretudo, nossas principal da arte da retórica. sociabilidades. O modelo aristotélico serviu como base Identificar e analisar como a midiapara a elaboração das primeiras teorias de tização altera as estruturas de ações da comunicação do século XX. Como exemcomunicação organizacional é nosso plo desse processo, pretendemos mostrar papel como estudiosos da comunicação. resumidamente as características dos moAo levantar questionamentos sobre a nedelos funcionalistas de Shannon e Weaver,

A teoria da comunicação tem seu marco inaugural com a obra “Arte retórica”, de Aristóteles

C

o

m

m

u

n

i

c

a

r

e

120

Eugenia M. da Rocha Barichello e Daiana Stasiak

David Berlo e Marshall McLuhan. receptor. Porém, essa interação entre comunicantes ainda é explicada de forma Em 1949, os engenheiros Shannon e Weaver apresentaram a teoria matemática linear, ou seja, a ação e a reação do ato da informação tida, por muito tempo, como comunicativo ainda rejeitam a proposta modelo de comunicação. Para essa teoria, da comunicação como um processo. numa comunicação entre duas pessoas, Para Peruzzolo (2006:20) “Tanto na o cérebro de uma é a fonte emissora da comunicação telegráfica de Shannon e Weinformação, enquanto o cérebro da outra aver quanto na comunicação interpessoal é o seu destino. Nesse contexto a voz é o de Berlo [...] comunicar é uma técnica”. emissor/transmissor e o aparelho auditivo Pode-se dizer que os modelos tecnicistas é o receptor, enquanto a outra pessoa é o preocupavam-se somente com a obtenção destinatário. A ênfase estava no canal e na da máxima eficácia e o feedback, por exemrestrição dos sentidos. Pontualmente os plo, servia apenas como um afirmador da autores acreditavam que: uma pessoa (A) se ação mecânica. As teorias expostas acima comunica com outra (B), quando esta, em são modelos de seu tempo, porém não conseus comportamentos de resposta, corressideram a comunicação como um processo ponde às intenções do indivíduo (A). que engloba também os sujeitos, suas reciNo modelo acima referenciado, a coprocidades, as culturas, a estrutura social, municação é abordada como um processo ou seja, um processo relacional. O caráter no qual a fonte produz uma mensagem, relacional do processo comunicativo tamou uma série delas, para serem comunibém não é claramente explicado no modelo cadas. Essas mensagens transformam-se de comunicação elaborado por Marshall em sinais que são adaptados a um canal McLuhan (1971), o qual propunha a comcom vistas a atingir o receptor; porém, preensão dos meios de comunicação como como os processos são mecânicos, podem extensões do homem, ou seja, próteses que ocorrer interferências caracterizadas como aumentam seu poder e influência. “ruídos” pelos autores. O filósofo canadense representa a Um desafio aos teóricos que o produtransição do modelo matemático informaziram, após a proposta do modelo matecional para o paradigma midiológico, e sua mático da informação, foi adaptá-lo para preocupação é com os efeitos do processo explicar a comunicação humana. Com de comunicação sobre os indivíduos. Daí esse objetivo, Berlo apresentou, em 1960, considerar a mensagem como uma “masum modelo no qual retomou a retórica sagem”, um conjunto dos resultados de alde Aristóteles e orientou-a ao modelo de guma tecnologia sobre o sensório humano. Shannon e Weaver. McLuhan não visou os efeitos ideológicos Polistchuk e Trinta (Polistchuk, Trinta, da mídia sobre as pessoas e sim o impacto 2002) explicam que Berlo concebe a comufísico e social das novas tecnologias. nicação como uma partilha, que é situada Em termos da era eletrônica, já se criou pelo quadro social e sistema cultural de um ambiente totalmente novo, o conteúdo cada um. Nesse quadro, o emissor e o redeste novo ambiente é o velho ambiente ceptor têm posições equilibradas, porém, mecanizado da era industrial... Hoje, as para que o ato comunicativo seja bem tecnologias e seus ambientes conseqüensucedido, deve haver alguma equivalêntes se sucedem com tal rapidez que um cia de códigos entre eles. Berlo considera ambiente já nos prepara para o próximo. que, nessa proposta de interação, ocorre As tecnologias começam a desempenhar a o feedback, ou seja, há uma retroalimenfunção da arte, tornando-nos conscientes tação que permite saber se houve ou não das conseqüências psíquicas e sociais da interferência na mensagem enviada ao tecnologia. (McLuhan, 1971:11,12). Vo l u m e

8

-



1

-



sem.

2008

121

A inserção da comunicação organizacional...

Por isso, para o autor, “o meio é a 3. Conceito de mensagem” assim, midiatização é o meio que configura e controla a Sodré (2002) trata as novas tecnologias proporção e a forma das ações e assocomo modos que transformam a pauta ciações humanas. O conteúdo ou usos de interesses rotineiros e proporcionam desses meios são tão diversos quanto uma qualificação virtualizante à vida, no ineficazes na construção da forma das qual a comunicação centralizada e linear associações humanas. Na verdade não é transformada pelos avanços técnicos deixa de ser bastante típico que o contecapazes de acumular dados, transmiti-los údo de qualquer meio nos cegue para a e fazê-los circularem rapidamente, ou seja, natureza desse mesmo meio. (McLuhan, a midiatização traz à tona novas formas de 1971:23). perceber, pensar e contabilizar o real. O pensamento de McLuhan segue O fenômeno da midiatização é caracatual, especialmente quando propõe terizado como tendência à telerrealização, que as mídias influenciam umas às o que significa a virtualização das relações outras e dão forma às estruturas da humanas. Nesse contexto, a mídia é vista sociedade; portanto, uma mídia não como a responsável pelos processos de destrói outra, apenas a interação social devido ao poder simbólico supera e traz consigo as de influência que exerce a partir de seus transformações sociais, meios e mensagens. Esse poder é dado, culturais e políticas da principalmente, pela prevalência da forma civilização. Ao antecipar sobre o conteúdo real no qual a imagem a questão dos meios como torna-se uma mercadoria a serviço de uma ambiência, a abordagem nova gestão da vida social. do teórico canadense leva A midiatização manifesta-se em um -nos a refletir sobre como cenário de heterogeneidades trazidas, em eram pensadas as ações de sua maioria, pelos avanços tecnológicos, comunicação nas organinos quais a natureza da organização social zações do século passado não é, de modo algum, linear e homogêe a procurar compará-las nea, mas descontínua. Essa asserção é às da atualidade. explicada por Fausto Neto ao propor que Ao analisar certas prápor muito tempo os paradigmas ticas de comunicação organizacional vigentes nas teorias comunicacionais de hoje, nos deparamos com ações que apostavam na idéia de que a convergência ainda utilizam um viés da comunicação das tecnologias nos levaria à estruturação linear e instrumental, que não enfatiza de uma sociedade uniforme, com gostos as transformações relacionadas aos e padrões, em função de um consumo avanços tecnológicos e ao papel que a homogeneizado... mas o que vemos é a mídia desempenha no contexto global geração de fenômenos distintos e que contemporâneo. Acreditamos que esses se caracterizam pelas disjunções entre fatores interferem diretamente nos moestruturas de oferta e de apropriação de dos como a comunicação organizacional sentidos. (Fausto Neto, 2005 : 3). acontece e propomos que o modelo da Esse conceito tem origem no próprio midiatização (Sodré, 2002) possa ajudar desenvolvimento de uma modalidade na reflexão das questões teóricas que prática da comunicação que leva a novas servirão de base para as práticas orgainterpretações, diferentes das propostas nizacionais poderem ser estruturadas por alguns modelos clássicos como os sob uma outra perspectiva.

Midiatização é caracterizado como tendência à telerrealização, o que significa a virtualização das relações humanas

C

o

m

m

u

n

i

c

a

r

e

122

Eugenia M. da Rocha Barichello e Daiana Stasiak

apresentados por Shannon e Weaver e militar fazem parte da origem da internet desenvolvida a partir de 1969 nos Estados Berlo, por exemplo. Ou seja, a midiatização abarca significados maiores do Unidos. Porém, no modo como a entendeque concepções lineares e instrumentais mos atualmente, ela se formou em 1994, que não consideravam a mídia em sua com o surgimento da World Wide Web. questão central. Manuel Castells considera a internet Sodré (Sodré, 2002) entende a micomo o tecido de nossas vidas neste diatização como um quarto âmbito da momento, qualificando-a como a rede existência no qual a esfera mercadológidas redes de computadores capazes de se ca predomina e dita regras que levam a comunicarem entre si. “Não é outra coisa. uma nova qualificação cultural e a novas Sem dúvida, essa tecnologia é mais que formas de sociabilidades. O bios virtual, uma tecnologia. É um meio de comunicacomo nomeia essa existência, cria uma ção, de interação e de organização social” ética baseada na mídia, a qual opera conte(Castells, 2004:255). A internet é e será údos e tem como finalidade a manutenção ainda mais um meio de comunicação de do sistema econômico global, o que leva relação essencial sobre o qual se baseia as pessoas a um novo regime social em uma nova forma de sociedade em que já que estão sistematicamente conectadas, vivemos e, porém fragmentadas em termos de contanesse sentido, a internet não é simtos humanos. plesmente uma tecnologia; é o meio Para Fausto Neto (2005), esse processo de comunicação que constitui a forma cria um novo ambiente – da informação e organizativa de nossas sociedades...A incomunicação – que, por meio de tecnoloternet é o coração de um novo paradigma gia, dispositivos e linguagens, produz um sociotécnico, que constitui na realidade a conceito de comunicação segundo a qual base material de nossas vidas e de nossas os meios são considerados pulsões que insformas de relação, de trabalho e de comutituem e fazem funcionar um novo tipo de nicação. O que a internet faz é processar real, em que as bases de interações sociais a virtualidade e transformá-la em nossa não se estabelecem por meio de laços sorealidade, constituindo a sociedade em ciais, mas sim por ligações sociotécnicas. rede, que é a sociedade em que vivemos. Desse modo, entendemos que existia (Castells, 2004:287). uma sociedade midiática baseada na Tais mudanças influenciaram vários centralidade dos meios de comunicação aspectos individuais e sociais, dentre os vistos como instrumentos disseminadores; quais podemos citar: as alterações nos moporém, com as mudanças trazidas, sobredos de sociabilidade e pertencimento dos tudo com o desenvolvimento tecnológico, sujeitos; as transformações nos modelos a mídia deixa de ser um instrumento e de gestão das instituições; as influências passa à qualidade de produtora de sennas relações de troca econômica e no âmtidos sociais capazes de transformar os bito político; a capacidade de estocagem modos de sociabilidade, caracterizando, de grandes volumes de dados e sua transassim, uma sociedade midiatizada. Nesse missão instantânea. Todas essas se atrelam contexto, consideramos a internet como a cada vez mais à vivência diária e passam mídia que melhor ilustra as possibilidades a constituir nossa realidade. da comunicação contemporânea. O campo econômico talvez seja o que melhor reflete as alterações trazidas 3.1. Internet como mídia pelo advento das redes. A mobilidade de grandes massas e capitais, por exemplo, A interação entre a ciência, a pesquisa influencia diretamente nos métodos e universitária e os programas de pesquisa Vo l u m e

8

-



1

-



sem.

2008

123

A inserção da comunicação organizacional...

gestões organizacionais. Assim, já se torna tecnologias que englobam o computador comum afirmar que o desenvolvimento e as redes virtuais, justificando que estas das redes digitais transforma radicalmente não modificam o conceito de medium, a vida do homem contemporâneo, tanto entendido como canalização e ambiênnas relações de trabalho quanto na sociacia estruturados com códigos próprios, bilização e no lazer. pois são apenas uma extensão linear das Para Dênis de Moraes, “a intensificação mídias tradicionais. midiática atravessa, articula e condiciona Segundo ele, o atual estágio do capitalismo, cujo pilar medium, entenda-se bem, não é o de sustentação é a capacidade de acumudispositivo técnico,(...) é o fluxo comulação financeira numa economia de internicacional, acoplado a um dispositivo conexões eletrônicas” (Moraes, 2006:34). técnico e socialmente produzido pelo Em adição, Sodré (2002) considera que mercado capitalista, em tal extensão que a mídia é a principal responsável pelos o código produtivo pode tornar-se “amprocessos de interação social, bem como biência” existencial. Assim, a internet, pela construção social em si. Desse modo, não o computador, é medium. (Sodré, a internet é considerada uma ambiência 2002:20). que permeia o indivíduo, Para Barichello (2007), a comunicação seus modos de vida e os vadigital permite não apenas o encontro de lores sociais, caracterizaninformações, mas também proporciona do uma nova qualificação que essas mesmas informações se tornem atual da vida, denominada a própria experiência, isso devido à conbios virtual. Nesse novo vergência técnica e às possibilidades intebios, a mídia, como poder rativas que podem ser estabelecidas entre simultâneo, instantâneo e os indivíduos (usuários). De modo que o global, manifesta-se através sistema de redes digitais se caracteriza das tecnologias da comupela integração de diferentes veículos em nicação, transformando os um único medium - a internet – construinmodos de acolher os fatos do um novo ambiente. Portanto, do ponto do mundo. de vista da comunicação nas organizações, Se antes o receptor acoesse contexto afeta diretamente os modos lhia informações reprede pensar estrategicamente as teorias e sentadas e isentas de seu fluxo original, práticas profissionais. agora há um novo regime de visibilidade pública na qual o mundo é acolhido em 4. A Comunicação seu fluxo de tempo real, configurando organizacional na uma nova modalidade de representação. perspectiva teórica da A maturação tecnológica resulta na hibrimidiatização dização dos processos de trabalho e dos recursos técnicos já existentes e, assim, Assim como os modelos teóricos as tecnologias da telefonia, televisão e referem-se às necessidades do seu tempo computação se unem e tornam possíveis específico ou, por vezes, vão além dele, as hibridizações discursivas (texto, som temos questionamentos com relação às e imagem) que resultam no hipertexto, o questões práticas da comunicação, pois, se modo através do qual as informações são os paradigmas se refazem e as teorias são apresentadas na internet. atualizadas, a comunicação organizacioSodré (2002) não concorda com a nal também deve adaptar-se ao contexto designação de pós-midiáticas para as do seu tempo.

A midiatização manifestase em um cenário de heterogeneidades trazidas, em sua maioria, pelos avanços tecnológicos

C

o

m

m

u

n

i

c

a

r

e

124

Eugenia M. da Rocha Barichello e Daiana Stasiak

Por isso, a proposta é repensar os fluxos de comunicação, considerandose a internet como uma ambiência que caracteriza o fenômeno da midiatização, pois dita a velocidade dos acontecimentos diários e transforma as lógicas de visibilidade, trazendo à comunicação organizacional a necessidade de se atualizar e de reorganizar suas ações a fim de se inserir no fluxo midiático. Podemos considerar alguns exemplos das rotinas diárias de comunicação, tais como: o uso do e-mail para o envio de mala direta e as múltiplas possibilidades interativas do portal institucional e da intranet, que moldam os relacionamentos com os públicos. Nesse contexto, conhecer o espaço de fluxos que a internet oferece pela possibilidade de convergência midiática também é, conforme Musso (2006), um processo relevante, como procura ilustrar a figura abaixo:

Figura 1: fluxos de comunicação na internet

Ao observarmos a figura acima encontramos em (a) o tradicional fluxo pontoa-ponto, de um emissor para um receptor determinado, que pode ser aplicado nas ações, ao utilizarmos, por exemplo, o e-mail. Já em (b), vemos o fluxo da internet como um ponto de emissão para muitos receptores (o emissor ainda domina e há resquícios de uma comunicação de massa). Como exemplos podemos citar os sites das organizações, os jornais, as revistas e as rádios on-line. O fluxo ilustrado em (c) mostra a possibilidade de um número indeterminado de emissores enviar mensagens para apenas um receptor, como ocorre nos SAC (Serviços de Atendimento ao consumidor on-line) e nas ouvidorias institucionais. Além disso, Vo l u m e

8

-



1

-



sem.

há a possibilidade de que exista o fluxo de um número indeterminado de emissores e receptores, como ocorre em (d), sem deixar de considerar a coexistência temporal desses fluxos na internet. Desse modo, acreditamos que a nova ambiência proporcionada pela internet, e seus inúmeros fluxos, deva ser utilizada como um caminho para a atualização das práticas de comunicação organizacional, principalmente pelo seu poder de convergência e possibilidades interativas com os públicos.

5. Considerações Finais Retomando a proposta desse artigo estabelecida em revisitar teorias para levantar questionamentos e motivar o debate de idéias, avaliamos que a midiatização deva ser considerada como perspectiva teórica adequada ao espaço de fluxos e às possibilidades interativas das organizações com seus públicos na contemporaneidade. Isso porque, tanto o modelo funcionalista de Shannon e Weaver, que visava à simples transmissão linear dos dados sem considerar os sujeitos da comunicação, quanto o modelo de Berlo, que apresentou o feedback apenas como uma resposta mecânica aos estímulos dados pelo receptor ou até mesmo o modelo de McLuhan, que prestou atenção aos meios, vendo-os como centro de tudo, não estavam baseados num pensamento que abarcasse a relevância e a complexidade do processo comunicacional. Talvez nem mesmo a mescla desses três modelos possa adequar-se a uma idéia que sinalize a compreensão do processo da midiatização hoje vivenciado. Na perspectiva da midiatização dois desafios podem ser destacados no âmbito da comunicação das organizações: a alteração dos fluxos comunicacionais proporcionados pela ambiência da internet e a transformação das lógicas de visibilidade, desafios esses que demandam um novo pensar estratégico para a área.

2008

125

A inserção da comunicação organizacional...

Urge, portanto, uma atualização das práticas de comunicação organizacional, na qual sejam consideradas as mídias contemporâneas como a internet. Ao mesmo tempo, é preciso repensar a utilização das mídias tradicionais,

ou seja, considerar os deslocamentos dos fluxos comunicacionais, oriundos do processo de midiatização, e incorporá-los às rotinas de planejamento, execução e avaliação da comunicação das organizações.

Referências bibliográficas BARICHELLO, Eugenia Mariano da Rocha. “Estratégias comunicativas interacionais nas organizações contemporâneas”. In: KUNSCH, M. M.K. Handbook de Comunicação Organizacional. São Paulo, 2007 (No prelo). _____ “Mídia, Territorialidades e sociabilidades”. In: XV Encontro da Compós. UNESP, Bauru, 2006. CASTELLS, M. A sociedade em rede. São Paulo, Paz e Terra, 1999. CASTELLS, M. “Internet e Sociedade em rede”. In: MORAES, Dênis de. (org) Por uma outra comunicação. Rio de Janeiro, Record, 2004. FAUSTO NETO, A. Midiatização, prática social-prática de sentido. Anais do Seminário sobre midiatização, Rede Prosul, São Leopoldo: UNISINOS, 2005. McLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação, como extensões do homem. Tradução de Décio Pignatari. São Paulo, Cultrix, 1971. MORAES, Dênis de (org). A sociedade midiatizada. Rio de Janeiro, Mauad, 2006. MUSSO, P. “Ciberespaço, figura reticular da utopia tecnológica”. In: MORAES, Dênis de (org). A sociedade midiatizada. Rio de Janeiro, Mauad, 2006 PERUZZOLO, Adair Caetano. A Comunicação como encontro. Bauru, Edusc, 2006. POLISTCHUK, Ilana, TRINTA, Aluízio Ramos. Teorias da comunicação: o pensamento e a prática da comunicação social. Rio de Janeiro, Campus, 2002. SILVA, Jaqueline Quincozes da, BARICHELLO, E. M. M. R. Representação das Organizações no Espaço Midiatizado. In: Anais do XXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, Brasília, 2006. SODRÉ, Muniz. “O ethos midiatizado”. In: Antropológica do Espelho. Por uma teoria da comunicação linear e em rede. Petrópolis, Vozes, 2002.

C

o

m

m

u

n

i

c

a

r

e

126

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.