A insercao uruguaia na globalizacao/ nova ordem mundial e o seu modelo de neodesenvolvimentismo

May 29, 2017 | Autor: Samuel Decresci | Categoria: Regional Integration, Uruguay, Neodesenvolvimentismo
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GT 10 - REGIONALISMO, INTEGRAÇÃO E ATORES INTERNACIONAIS






A INSERÇÃO URUGUAIA NA GLOBALIZAÇÃO/ NOVA ORDEM MUNDIAL E SEU MODELO
DE NEODESENVOLVIMENTISMO


SAMUEL DECRESCI
MESTRANDO EM CIÊNCIAS SOCIAIS- FCL ARARAQUARA








WWW.XVSEMANA.COLETIVANDO.ORG


A INSERÇÃO URUGUAIA NA GLOBALIZAÇÃO/ NOVA ORDEM MUNDIAL E SEU MODELO
DE NEODESENVOLVIMENTISMO


Samuel Decresci[1]


Palavras-chave: Uruguai; integração; neodesenvolvimentismo


O presente trabalho tem por objeto a inserção do Uruguai dentro da
Nova Ordem Mundial, marcada pela globalização e a efetivação de blocos
econômicos/ Projetos Integracionistas, no qual o país é sócio fundador do
MERCOSUL (Mercado Comum do Sul). Além, apresentar dentro do cenário "macro"
latinoamericano, o modelo de "neodesenvolvimentismo" uruguaio com suas
especificidades. Em geral, tendo em mente o recorte mencionado atrás, o
objetivo do trabalho é apresentar aspectos básicos do país na divisão
internacional do trabalho, na política externa e seus trunfos econômicos.
Ademais, qual tem sido a nova política econômica do governo do "Frente
Amplio" (no poder desde 2005) marcada por uma nova forma de
"desenvolvimentismo" em que o Estado e os atores econômicos internacionais
e nacionais têm um protagonismo destacado e em conjunto.




1 O Uruguai dentro da Nova Ordem Mundial, marcada pela globalização e
a efetivação de blocos econômicos/ Projetos Integracionistas


1.1 Apresentação


Dentre os países da América do Sul, o Uruguai é certamente o que
mais foi influenciado pelo liberalismo clássico britânico. Desde o seu
despontar como nação autônoma, a República Oriental funciona, a partir do
seu principal porto, o de Montevidéu, como um entreposto comercial aberto
ao mundo (CAETANO; RILLA, 1994). Isto posto, desde a conjuntura de
transição do século XX para o XXI, marcada pela hegemonia do capital,
globalização e efetivação de blocos econômicos, esta vocação não tem sido
alterada ou perdida.
Tais postulados, defendidos acima, baseiam-se em uma série de fatos
e variáveis, tais como a vigência de um regime de liberdade econômica e
cambial (o ingresso de divisas e pessoas é absolutamente livre). Além, há
um sistema de portos livres e zonas francas; a infraestrutura de transporte
e comunicação são consideradas uma das melhores da América do Sul,
sobretudo relacionada à internet. Entretanto, importante mencionar que o
crescimento econômico das últimas três décadas esteve baseado na demanda e
inversão externa[2]. Logo, sua economia está (e tem a necessidade de estar)
aberta para o mundo (por mais que o MERCOSUL venha atualmente limitar tal
fato). Por outro lado, um fato que será explorado ao longo desse trabalho é
que a balança comercial uruguaia coleciona déficits, sobretudo porque suas
exportações estão baseadas em commodities[3] e suas importações em produtos
de maior valor agregado (e também pela ausência de recursos energéticos de
base fóssil, como o petróleo). Finalmente, na idéia das vantagens
comparativas, o Uruguai a partir de uma posição estática, especializa-se em
determinados segmentos produtivos de baixo valor agregado (BÉRTOLA;
BITTENCOURT, 2005) e sofre, dentro da divisão internacional do trabalho, do
que os economistas chamam de deterioração dos termos de troca.


1.2 A inserção do Uruguai no regionalismo da Nova Ordem Mundial


Desde o segundo terço do século XX, o Uruguai esteve, assim como
tantas outras nações latinoamericanas, sob uma política econômica
"keyneseana" promovida pela CEPAL (Comissão Econômica para a América
Latina) conhecida por "substituição de importações". Seus principais
objetivos eram promover a industrialização, fortalecer o mercado interno,
nos diferentes países, e, a reboque, promover desenvolvimento, alterar os
papeis dos países na divisão internacional do trabalho e reduzir a
dependência dos países centrais (CORAZZA, 2005). Tal política econômica
ficou marcada, ao longo do século, pelo caráter intervencionista e
protecionista:


(...) é importante ressaltar que, nesse contexto, a
CEPAL acreditava na possibilidade de alterar os
mecanismos econômicos e estruturais que geravam o
subdesenvolvimento da periferia latino-americana através
de uma ação consciente e planejada do Estado, e, dessa
forma, ser alcançado um desenvolvimento nacional autônomo
(CORAZZA, 2005, p. 140).


Voltando ao ponto de foco deste trabalho, que é a emergência e
colocação do Uruguai, na Nova Ordem Mundial, tal política
"desenvolvimentista" da CEPAL se esgotou muito em função do endividamento,
falta de recursos do Estado e da ausência de um mercado interno efetivo,
que sustentasse tal política econômica (BÉRTOLA; BITTENCOURT, 2005). Com
isso, foi perdendo força, ao longo das décadas de "70" e "80", para outras
matrizes, sobretudo a de caráter neoliberal. No Uruguai, no contexto
aludido:


O [4]Partido Colorado e o Partido Nacional
('Blanco') tomaram a iniciativa de levar a cabo a
transição liberal. Atuando como 'agenda setters',
promoveram a reforma política, estatal e econômica
através das ações de governo, do debate ideológico e das
campanhas eleitorais e por meio de políticas 'negativas'
e 'positivas': ajuste fiscal, privatização, mudanças nas
funções do Estado e liberalização econômica, com novas
formas de regulação da economia e da sociedade. Dessa
forma, os partidos precisaram, ao mesmo tempo,
reconverter-se e deixar de lado sua condição de partidos
'keyneseanos'. (LANZARO, 2003, p. 57)


Ademais, é dentro dessa conjuntura que o projeto do MERCOSUL é
implementado. E de certa forma, atende a certas demandas típicas do
momento. Por outro lado, destoa em partes do modelo antigo proposto pela
CEPAL:


O preâmbulo do Tratado de Assunção, que criou
oficialmente o Mercosul, afirma que a integração
promovida por esse mercado é vista formalmente como uma
resposta adequada ao objetivo de se alcançar uma também
adequada inserção internacional para os países-membros
face à evolução dos acontecimentos internacionais,
especialmente a formação de grandes espaços econômicos.
Pelo disposto no seu artigo 1°, os países-membros
comprometem-se a promover a livre circulação de bens e
fatores produtivos, bem como o estabelecimento de uma
tarifa externa comum e a adoção de uma política comercial
comum em relação a terceiros Estados ou agrupamentos de
Estados e a coordenação de posições em foros econômicos e
comerciais regionais e internacionais (CORAZZA, 2005, P.
144).


O surgimento do MERCOSUL assim, insere-se, dentro de uma nova
estratégia de desenvolvimento da CEPAL, a do "regionalismo aberto", que, de
certa forma, concilia elementos que aparentam ser opostos:


A CEPAL (1994) define o 'regionalismo aberto' como
'(...) um processo de crescente interdependência no nível
regional, promovida por acordos preferenciais de
integração e por outras políticas, num contexto de
liberalização e desregulação capaz de fortalecer a
competitividade dos países da região e, na medida do
possível, constituir a formação de blocos para uma
economia internacional mais aberta e transparente' (CEPAL
apud CORAZZA, 2005, P. 145).


Destarte, o bloco surge para atender a crescente interdependência
regional resultante dos acordos preferenciais, inserir os países
internacionalmente e a tendência do mercado em promover a liberalização
comercial. Assim, não se trata mais de promover a industrialização pela
substituição de importações, mas de fomentar as exportações e conquistar
gradativamente acesso amplo a mercados altamente dinâmicos e competitivos.
Na prática, o "regionalismo aberto" promoveu a abertura, a liberalização, a
privatização, as reformas estruturais de cunho liberalizante e as políticas
macroeconômicas propostas pelo Consenso de Washington e implementadas na
América Latina, nos anos 90. Assim, pode-se dizer que a CEPAL adotou um
discurso liberal tingido por suas antigas teses estruturalistas (CORAZZA,
2005).
Voltando ao terreno mais estrito do Uruguai, as implicações da
política-econômica neoliberal, após uma década, foram tenebrosas:


En el año 1999 Uruguay entraba en la mayor crisis en
su historia, una travesía por el desierto de la que no
comenzaría a salir hasta entrado el año 2003. En el
período 1999-2002 el PIB cayó un 18,6% acumulado,
retornando así a niveles equivalentes a los del año 1993.
Los salarios reales retomaron su senda descendente a
partir del año 1999, en un declive continuo que no se
revertiría hasta el año 2005, con una caída acumulada del
23,2% en el período 1999-2004. Esta reducción salarial no
impidió un fuerte crecimiento del desempleo, con tasas
nunca vistas que llegaron a alcanzar un 17% en el año
2002, aunque hay que señalar que la pérdida neta de
empleo ya venía desde el año 1995. Pero el problema era
ya más bien una grave situación de pobreza, polarización
y exclusión social de quien pasaba por ser la nación
menos desigual de toda América Latina (BUENDÍA; SANABRIA,
2013, P. 65).


Como efeito, desde a execução desta política econômica foram
sentidas sérias implicações no terreno da política uruguaia. E uma delas
tem a ver com a ascensão do "Frente Amplio" (FA), um partido de esquerda
"catch all" (de coalizão em si mesmo) que capitalizou parte do eleitorado
insatisfeito com a perda de poder aquisitivo, desemprego, pelo
"descontentamento" geral e também pelas dissidências políticas quanto às
orientações do governo dos partidos tradicionais nos últimos tempos
(LANZARO, 2003). Em 2004, nas eleições nacionais, o FA pela primeira vez
vence e dá novos rumos ao Estado uruguaio.
A partir da plataforma da plataforma ideológica e das políticas
implementadas a partir de 2005 com Tabaré Vazquez, Lanzaro (2010)
classifica o FA como um partido de esquerda social-democrata moderado,
plural que se faz notar pela institucionalização, com vínculos estreitos
com o movimento sindical, socialista histórico e que busca reformas visando
com isso atender a demandas urgentes no âmbito da sociedade.
Finalmente, ao chegar ao fim dessa primeira etapa, cabe mencionar
que desde então, o FA venceu três eleições presidenciais tendo por base
grande parte dos movimentos sociais e população urbana do Uruguai. Dito
isso, a seguir, vamos analisar o modelo econômico (ou matriz econômica)
utilizado pelo FA desde então. Cabe destacar que ele se enquadra dentro de
um modelo amplamente utilizado na América Latina desde a emergência da
"Onda Esquerdista" de final dos anos 90 e começo do século XXI: o
"neodesenvolvimentismo" ou novodesenvolvimentismo.


2 A respeito do Neodesenvolvimentismo[5]


2.1 Uma visão geral da matriz econômica "Neodesenvolvimentista"


A partir do artigo de Rodrigo Castelo (2009), presente na obra
"Encruzilhadas da América Latina" (2010), uma visão geral sobre os
objetivos e base da matriz econômica "Neodesenvolvimentista" será, nesta
etapa do trabalho, lançada.
Segundo o autor:


O objetivo dos neodesenvolvimentistas nos parece
claro: entrar, como uma espécie de Terceira Via, na
disputa pela hegemonia ideopolítica para a consolidação
de uma estratégia de desenvolvimento alternativa aos
modelos em vigência na America do Sul, tanto ao
"populismo burocrático", representado, na sua opinião,
por setores arcaicos da esquerda e partidários do
socialismo, quanta a ortodoxia convencional, representada
por elites rentistas e defensores do neoliberalismo
(CASTELO, 2010, P. 94).


Ademais, o "neodesenvolvimentismo" tem por objetivo:


(...) delinear um projeto nacional de crescimento
econômico combinado com uma melhora substancial nos
padrões distributivos do país. A consecução desse
objetivo passa, necessariamente, por um determinado
padrão de intervenção do Estado na economia e na 'questão
social': principalmente no tocante a redução da incerteza
inerente as economias capitalistas. (CASTELO, 2010, P.
94).


Trata-se, em geral, de uma matriz "keyneseana" que tem por meta
geral aumentar a demanda agregada; de, a partir de uma atuação estatal,
reguladora e interventora, criar um ambiente de segurança econômico que
venha atrair investimentos, fomentar empregos e gerar consequentemente
desenvolvimento. Ademais, é papel do Estado, a partir de investimentos,
constituir um sistema avançado de educação básica e inovação tecnológica
para atender as demandas do mercado em expansão. Cabe assim destacar que,
dentro desses postulados econômicos, a maior forma de combate à pobreza não
se dá simplesmente por políticas assistencialistas, mas, sobretudo, por
crescimento econômico (CASTELO, 2010). Em síntese:


(...) o Estado deve garantir condições
macroeconômicas e salvaguardas jurídicas que reduzam a
incerteza do ambiente econômico, propiciando um horizonte
mais previsível do cálculo de risco do investimento
privado e aumentando, por sua vez, a demanda por fatores
de produção, o emprego e os ganhos dos trabalhadores.
Assim, (...) reduzirá a pobreza e a desigualdade social.
O projeto novo-desenvolvimentista de intervenção na
"questão social": portanto, baseia-se no crescimento
econômico e na promoção da equidade social via a
igualdade de oportunidades (CASTELO, 2010, p. 97).


Feita essa pequena apresentação, analisar-se-á na próxima etapa o
modelo uruguaio de "Neodesenvolvimentismo", o contexto/conjuntura de
aplicação, as especificidades e as críticas.


2.2 O modelo uruguaio de "Neodesenvolvimentismo" e suas
especificidades


Em seção anterior foi dito que nos anos 80-90 foram implementadas
reformas de receituário neoliberal, na economia uruguaia. Além, que os
efeitos dessas foram ruins para a sociedade, com a perda de empregos,
salários e poder aquisitivo. Assim, as mazelas do período ficaram como
herança política dos partidos que levaram a cabo as reformas (caso de
"Colorados" e "Blancos"). Com isso, em 2004, o Frente Amplio (FA) vence as
eleições com propostas que destoavam das ações de seus precedentes. A
partir de então, com a implementação de uma nova política econômica
progressista ("neodesenvolvimentisma"), no Uruguai, mudanças e permanências
foram percebidas. Entretanto, cabe destacar que a aplicação dessa nova
matriz não implicou uma ruptura com a conjuntura financeira internacional
(SANTOS; NARBONDO; OYHANTÇABAL; GUTIÉRREZ, 2013). Ao contrário disso, o
país tem recebido elogios por parte dos atores políticos e econômicos
internacionais.
Carlos Santos, Ignacio Narbondo, Gabriel Oyhantçabal e Ramón
Gutiérrez (2013) em artigo lançam seis teses sobre o que vem a ser
atualmente o "Neodesenvolvimentismo" uruguaio[6], uma espécie de mediação
-articulada pelo Estado- entre o capital (financeiro e produtivo) e o
trabalho. Como dito acima, as teses representam mudanças e permanências.
Dito isto, eis uma síntese das teses:


Tesis 1. El neodesarrollismo profundizó un régimen
de acumulación favorable al capital transnacional que no
alteró en lo sustancial el modo de regulación económica
forjado durante el período neoliberal (SANTOS; NARBONDO;
OYHANTÇABAL; GUTIÉRREZ, 2013, p. 15).
(…) Tesis 2. El neodesarrollismo estableció un nuevo
modo de regulación social basado en el incremento de
derechos y en políticas sociales compensatorias (SANTOS;
NARBONDO; OYHANTÇABAL; GUTIÉRREZ, 2013, p. 18).
(…) Tesis 3. El neodesarrollismo sustentó su
legitimidad social en la consecución de avances
socioeconómicos de carácter coyuntural que le garantizan
al mismo tiempo amplio apoyo popular y respaldo por parte
del capital (SANTOS; NARBONDO; OYHANTÇABAL; GUTIÉRREZ,
2013, p. 19).
(…) Tesis 4. A pesar de los logros de los últimos
siete años, el modelo neodesarrollista no modificó, sino
que agudizó dos problemas estructurales centrales: la
desigualdad y la dependencia (SANTOS; NARBONDO;
OYHANTÇABAL; GUTIÉRREZ, 2013, p. 21).
(…) Tesis 5. En el plano de la conflictividad
social, el neodesarrollismo marcó el fin del ciclo de
luchas contra el neoliberalismo, abriendo paso al
consenso liberal progresista e impidiendo configurar por
el momento um nuevo ciclo de lucha (SANTOS; NARBONDO;
OYHANTÇABAL; GUTIÉRREZ, 2013, p. 25).
(…) Tesis 6. Los conflictos sociales que se dan en
el marco del neodesarrollismo responden a la lógica dual
de la acumulación capitalista: reproducción ampliada y
acumulación por desposesión (SANTOS; NARBONDO;
OYHANTÇABAL; GUTIÉRREZ, 2013, p. 26).


Lançadas tais teses, percebe-se que o governo do Frente Amplio (FA)
se preocupa em buscar legitimidade e apoio em todos os setores da política,
economia e sociedade do país. Contempla o grande capital (nacional e
internacional) com desonerações, isenções, liberalismo comercial,
flexibilidades na atração de investimentos e na forma de gerar e contratar
trabalho. E por outro lado, fortalece órgãos de proteção ao trabalhador,
abre-se para negociações com sindicatos e movimentos sociais, gera
programas de assistência, fortalece política de salário mínimo, procura
incrementar renda e investir no social (SANTOS; NARBONDO; OYHANTÇABAL;
GUTIÉRREZ, 2013); (BUENDÍA; SANABRIA, 2013). Entretanto, tal modelo tem
algumas limitações e pontos preocupantes!
O primeiro diz respeito às condicionantes externas. SANTOS,
NARBONDO, OYHANTÇABAL e GUTIÉRREZ (2013) colocam que o cenário externo
favorável contribuiu para que houvesse crescimento econômico (a partir de
constantes inversões e alta demanda externa por commodities - sobretudo
entre 2004-10), acumulação por parte do empresariado nacional e
internacional e, por outro lado, que os trabalhadores também fossem
contemplados com empregos e incremento de renda (melhora da situação
econômica). Ademais, como efeito, um aumento da receita por parte do
Estado. Entretanto, os autores lançam uma indagação: dado o atrelamento da
economia uruguaia ao exterior, em momentos de crise conjuntural, esse
modelo se sustenta?
O segundo ponto diz respeito à afirmação da reprimarização da
economia e uma falta de incentivo à indústria (desvinculada ao
agronegócio). Tal coisa tem implicado em uma desindustrialização do país:


Por otra parte, lejos de atenuarse, se consolidó el
carácter primarizado de la economía uruguaya,
especializada en la producción de bienes agroindustriales
de bajo valor agregado, que la ubica de manera
subordinada en la división internacional del trabajo. El
perfil de las exportaciones muestra que cerca del 70% de
los productos son commodities de origen agropecuario o
agroindustrial, encabezados por la soja, la carne bovina,
el arroz, el trigo, derivados de la leche y pasta de
celulosa. Mientras, las importaciones tienen un claro
sesgo hacia bienes industriales de media a alta
tecnología: autos y autopartes, teléfonos, insecticidas y
máquinas automáticas (Uruguay XXI, 2013).


Um terceiro aspecto tem relação com a permanência da dependência,
estrangeirização da economia e dos recursos naturais no Uruguai. Lourtet
(2015) aponta que sem a inversão estrangeira não seria possível manter o
modelo "Neodesenvolvimentista" no país, pois é o "carro-chefe" no que toca
aos investimentos. Além, que tem acontecido uma "estrangeirização" e
concentração do campo-terra uruguaia. Muitos argentinos –fugindo das
políticas dos Kirchner- compraram terras no Uruguai. Seus investimentos e
chegada tiveram boa receptividade por diversos setores da sociedade.
Entretanto, as terras em mãos de uruguaios passaram de 90% a 54%!
Um quarto aspecto tem relação com a permanência das desigualdades
estruturais (por mais que a pobreza e a miséria foram reduzidas), a
dependência e dívida:


(…) el intercambio desigual que padecen las
economías dependientes en el mercado mundial conduce a
las burguesías locales a buscar un incremento de
ganancias a través del incremento absoluto de la
plusvalía y de la super-explotación del trabajo. Ello,
sumado a estructuras de propiedad (fundamentalmente de la
tierra) mucho más concentradas, configura un escenario de
desigualdad y concentración de la riqueza mucho más
acentuada en las economías periféricas. En este marco,
América Latina sigue siendo el continente más desigual
del planeta (MARINI apud SANTOS, NARBONDO, OYHANTÇABAL e
GUTIÉRREZ, 2013, p. 22).
(…)
Uruguay, aún con sus particularidades, no escapa a
los fenómenos de la dependencia y la desigualdad. El
modelo neodesarrollista, si bien ha matizado algunas de
sus peores consecuencias socioeconómicas (como el
estancamiento y la pobreza absoluta), no ha afectado sus
características fundamentales. El carácter dependiente no
se ha modificado, aún en un contexto de crecimiento
económico y precios internacionales favorables. En
particular, el pago de intereses de la deuda externa
sigue operando como mecanismo de transferencia de
excedentes hacia los acreedores y limitando el espacio
fiscal para impulsar políticas (SANTOS, NARBONDO,
OYHANTÇABAL e GUTIÉRREZ, 2013, p. 22).


Isto posto, tem-se como síntese, na visão de SANTOS, NARBONDO,
OYHANTÇABAL e GUTIÉRREZ (2013):


Todos estos elementos dan cuenta de que el
neodesarrollismo se constituyó como un nuevo modo de
regulación del capitalismo en Uruguay, con un marco
macroeconómico y normativo tendiente a favorecer la
acumulación de capital, con la suma de políticas sociales
compensatorias y una mayor intervención del Estado en el
mercado de trabajo, pero sin modificar las
características estructurales de la formación social
uruguaya. Se ha consolidado una economía con clara
orientación agroexportadora, con intensos procesos de
concentración y extranjerización de su aparato
productivo, que tiende a perpetuar su inserción
dependiente en la economía mundial. A su vez no se han
producido avances que supongan la reducción del espacio
del mercado como ordenador de las relaciones económicas,
el cuestionamiento de la propiedad privada, y un mayor
control popular de la economía. Por el contrario, aún en
un contexto de mejora absoluta de la situación de amplios
sectores de la población y de gran dinamismo económico,
la tendencia ha sido a reproducir la desigualdad social,
manteniendo casi inalterada la proporción de la riqueza
que es apropiada por los sectores populares, y por tanto
su situación relativa con respecto al capital (p. 23).


Finalmente, parece unanimidade, no meio jornalístico e acadêmico,
neste ano de 2016, que esse modelo genérico chamado de
"Neodesenvolvimentista" se esgotou. Tendo como referência o Uruguai, que é
o objeto de estudo desse artigo e do pesquisador, as razões para tal
afirmação se baseiam na fraca demanda chinesa (promotora do boom das
commodities de anos atrás), na crise econômica e política de Brasil e
Venezuela, na crise econômica argentina e na disfuncionalidade do MERCOSUL.
Andrés Malamud, especialista em América Latina, em entrevista[7] ao Jornal
da Universidade do Porto afirma que tais crises (apontadas acima) já trazem
reflexos nas eleições, na América do Sul. Está em curso uma guinada para a
"direita", com a vitória em eleições de partidos de orientação neoliberal
(Maurício Macri na Argentina e Pedro Pablo Kuczynski no Peru). Logo, deduz-
se que, junto com tais candidatos, uma nova agenda econômica neoliberal
(com desregulações, privatizações, liberalizações e flexibilizações) se
efetivará!
























Referências


BUENDÍA, Luis Garcia; SANABRIA, Antonio Martin. Estructura productiva,
ciclo político y desigualdad: el caso de Uruguay (2004-11). Universidad
Complutense de Madrid, 2013.


BÉRTOLA, Luiz; BITTENCOURT, Gustavo. Veinte años de democracia sin
desarrollo económico. IN: 20 años de democracia: Uruguay 1985-2005: miradas
múltiples. Taurus: Montevideo, 2005. (Direção: Gerardo Caetano)


CAETANO, Gerardo; RILLA, José. Historia Contemporânea del Uruguay. De
la colonia al MERCOSUR. Colección CLAEH. 1994.


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eletrônica "Comercio Exterior" da Universidad de la Empresa. Artigo
coletivo. Pode ser acessado pelo link:
http://www.uruguayexporta.com/Documentos%20generales/downloadables/Inserci%C
3%B3n%20del%20Uruguay%20al%20mundo%20globalizado.pdf . Acesso em 11-07-
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LANZARO, Jorge. Os partidos uruguaios: a transição na transição.
Opinião Pública, Campinas, v. IX, n.2, p.46-72, out. 2003. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/op/v9n2/v9n2a03.pdf . Acesso em: 07 jul. 2016.


LANZARO, Jorge. Uruguay: un gobierno social democrático en América
Latina. Revista Uruguaya de Ciencia Política - Vol. 19 N°1 - ICP –
Montevideo, 2010. Disponível em
http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=52028250008 . Acesso em 15 de julho
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LOURTET, Andrea Montano. El neodesarrollismo en Uruguay. Una primera
aproximación al actual modelo de desarrollo en un momento de redefiniciones
políticas en América Latina. Trabajo final. 2015.
Disponível em http://politicaspublicas.flacso.org.ar/produccion-
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modelo-de-desarrollo-en-un-momento-de-redefiniciones-politicas-en-america-
latina_78 .


CASTELO, Rodrigo. O novo-desenvolvimentismo e a decadência ideológica
do estruturalismo latino-americano. IN: Encruzilhadas da América Latina no
século XXI. Rio de Janeiro: Pão e Rosas, 2010.


SANTOS, Carlos; NARBONDO, Ignácio; OYHANTÇABAL, Gabriel; GUTIÉRREZ,
Ramón. Seis tesis urgentes sobre el neodesarrollismo en Uruguay. 2013.
Disponível em: http://www.contrapunto.edu.uy/uruguay/31-seis-tesis-urgentes-
sobre-el-neodesarrollismo-en-uruguay.html . Acesso em 15 de julho de 2016.


Uruguay XXI Informe de comercio exterior de Uruguay Febrero 2013.
URUGUAY XXI Instituto de Promoción de Inversiones y Exportaciones,
Montevideo. 2013.


-----------------------
[1] Mestrando em Ciências Sociais pela Faculdade de Ciências e Letras
(UNESP) de Araraquara. E-mail: [email protected] .
[2] Atualmente, mais precisamente na data de 15 de julho de 2016, o
governo do Frente Amplio celebra o acordo da maior inversão estrangeira no
país. A transnacional do ramo de celulose UPM vai investir 5 milhões de
dólares no país. O investimento se direcionará na produção, logística e
infraestrutura da planta e entorno. Disponível em:
http://www.frenteamplio.org.uy/index.php?Q=articulo&ID=2104 .
[3] Tais dados foram coletados do artigo "Inserción del Uruguay al
mundo globalizado" presente na revista eletrônica "Comercio Exterior" da
Universidad de la Empresa. Artigo coletivo pode ser acessado pelo link:
http://www.uruguayexporta.com/Documentos%20generales/downloadables/Inserci%C
3%B3n%20del%20Uruguay%20al%20mundo%20globalizado.pdf . Acesso em 11-07-
2016.
[4] Os mesmos partidos, sobretudo o "Colorado", estiveram à frente da
implementação da política "keyneseana" de substituição de importações no
passado.
[5] Padronizo para "Neodesenvolvimentismo".
[6] "Neodesarrollismo" em espanhol.
[7] https://jpn.up.pt/2016/04/20/america-do-sul-esquerda-crise/.
Acesso em 15 de julho de 2016.
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