A Integridade do herói em contraste à corrupção do assassino

May 26, 2017 | Autor: S. Ferreira de Souza | Categoria: Virtue Ethics, Virtues and Vices, Virtudes
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A Integridade do herói em contraste à corrupção do assassino.
Sávio Ferreira de Souza

Tive o prazer de assistir o excelente filme SULLY, que no Brasil recebeu o justo complemento - O HERÓI DO RIO HUDSON. O enredo retrata o acidente aéreo havido em New York em 2009 quando, inacreditavelmente, todas as 155 pessoas à bordo se salvaram. Chamo de justo o complemento ao título pelo fato de que todos os americanos sabem quem foi Sully, eis que desde pequeno se acostumaram a reverenciar seus heróis, enquanto no Brasil simplesmente os desprezamos. Seja por inveja ou manipulação política o fato é que embora tenhamos heróis como Oswaldo Cruz, Ana Nery e Sérgio Moro poucos os conhecem enquanto não faltam críticos que tentem sabotá-los.
Por ser um admirador da aviação sem ser piloto, conhecia a história, pois acompanhei pelos jornais os depoimentos e a situação da tripulação envolvida na tragédia. Fui ao cinema para contrapor o que a minha imaginação ditava como realidade com a dureza do fato real, ainda que dramatizado por Hollywood, a indústria dos sonhos. Minha percepção, ainda que paupérrima frente aos fatos, não estava enganada: Sully é, de fato, um grande herói.
O filme é fiel aos acontecimentos e a emoção vivida naqueles momentos é transposta à tela de forma realista e fiel à personalidade de Chesley "Sully" Sullenberger, piloto experiente, cioso de suas obrigações e responsável para com sua família, sua empresa e acima de tudo com seus passageiros e tripulantes. Em uma palavra: INTEGRO!
Após o acidente suas ações, decisões e certezas foram profundamente imiscuídas e analisadas por um staff de técnicos, pilotos, engenheiros e dezenas de outros profissionais que compunham o Conselho Nacional de Segurança de Transporte. O que eles buscavam? Conhecer quem foi o infiel! A máquina? O piloto ou sua tripulação? As condições externas sobre a qual não se tem controle? Esta foi a razão da investigação, mas, o que tem a virtude da FIDELIDADE com a apuração de um acidente aéreo?
Ora, esta indústria necessita passar confiabilidade acima de qualquer dúvida para seus passageiros ou deixará de tê-los como clientes. Pense! Se a cada 100 vôos um caísse, você embarcaria um filho seu nele? Não! Você até poderia se arriscar, mas não colocaria algo tão valioso em sua vida nesta balança. Não é a toa que se investem bilhões de Dólares para sanar as dúvidas de um desastre aéreo. Há de se saber quem foi o infiel...
A dúvida foi sanada, embora o enredo mostre a tentativa de se culpar os pilotos o que arruinaria a carreira de Sully e de seu companheiro. O jogo, que parecia ganho para a empresa aérea, foi rebatida de forma magistral pelo Comandante. De sua perspicaz e coerente defesa, nascida da raiz de sua personalidade, obtém-se a clarividência do que é ser um profissional íntegro.
Sully desde logo demonstra destreza na analise do parecer da Comissão que duvidou de sua competência como piloto. Ele não só se mostrou competente, como também fez florescer toda a integridade de sua consciência que o dotou de aptidão para perceber a manobra que buscava cercá-lo de culpabilidade. Sendo uma pessoa íntegra, tinha certeza de haver tomado a melhor decisão e quando confrontado à uma robusta prova contrária, vinda do simulador, não tremeu. Com experiência, tranquilidade e sagacidade destruiu a tese contrária e, ali mesmo, foi reconhecido como Herói. Não saiu carregado nos braços de ninguém, nem fizeram para ele uma estátua como tributo devido aos heróis. Sully é visto como um herói comum, forjado no dia a dia de um trabalho digno, bem feito, realizado com amor pela vida humana, à família, aos seus tripulantes e passageiros. Um herói do dia a dia pode-se assim dizer.
Impossível não fazer paralelo com o voo da LaMIa que destroçou milhões de sonhos e milhares de esperanças dos torcedores ( das duas torcidas), das centenas de famílias diretas e indiretas, amigos e conhecidos. Um acidente que consternou o mundo ao mesmo tempo em que o maravilhou quando se viu o esforço Colombiano, que também por Amor, fizeram todo o resgate e a identificação das vítimas em apenas 30 horas.
O País, o Continente, o Mundo enlutaram-se. Pelo acidente? Sim, mas, mais do que isso, pela tragédia em si, causada desnecessariamente por Miguel Quiroga, piloto da aeronave acidentada que por meros dólares (houve quem dissesse ser USD 3200) a serem economizados, trocou sua vida e a de mais 70 pessoas pela morte trágica, marcando para sempre os sobreviventes e os que aqui choram seus mortos.
O que leva uma pessoa a agir assim? – Autoconfiança! Respondeu-me um amigo. Mas, Sully também tinha confiança em seu trabalho, tanto que fez a opção certa de amerissar no rio Hudson, quando o histórico de vítimas em amerissagens é terrível. A explicação que encontro reside na alma humana. Sully era confiante em suas habilidades, mas também era prudente e cercou-se de todos os cuidados para enfrentar o risco e buscou nestas opções a decisão que haveria de tomar entre as poucas que lhes eram possíveis.
Miguel Quiroga também analisou as opções que tinha e sabia que o avião não poderia empreender aquela viagem sem o risco de sofrer pane seca, mas já havia feito isso outras vezes com sucesso, deixou-se levar pela soberba e desprezou a prudência. Nisto ele foi irresponsável e por melhor piloto que fosse jamais poderia colocar em risco seus passageiros. Foi, assim, o único causador do acidente que acabou em fatalidade para ele que deixou uma viúva com dois meninos e uma menina com 3 meses de vida e a morte de 70 passageiros e deixando 6 feridos.

Não se nega que ambos os pilotos demonstraram destreza e habilidade. Ambos haviam pilotado Caças em suas carreiras. Daí talvez veio a frieza de cada um individualmente ao tomar sua decisão. O avião da LaMIa já voava sem combustível quando Quiroga inicia o diálogo de 7 minutos que precedeu sua queda. A frieza no diálogo entre a nave e a torre de comando é de estarrecer e, na linguagem usual, de tirar o chapéu. Não fosse a montanha à sua frente (que ele pensava estar abaixo dele), certamente teria pousado sua aeronave apenas no planeio. Impressionante é que por um bom tempo Miguel, receando ser punido pelas autoridades Colombianas por declarar pane seca, enfrentou a situação com sua nave às escuras sob fortes chuvas, planando no silêncio para esperar a janela de pouso.

Em nenhum momento Miguel transpareceu medo ou emitiu algum sinal de estar sob risco de acidente, afora quando, ao saber que seria o terceiro na fila de pouso, sabendo não poder sustentar mais o risco, revelou sua corrupção, pedindo prioridade por pane seca. Talvez, ao avistar a montanha e clamar por Jesus, ele tenha tomado consciência de sua real inconsequência. Presume-se haver ele ainda tentado ultrapassar o monte, elevando o nariz da aeronave que colidiu com a barriga, deixando a cauda de um lado do morro, enquanto se espatifava do outro lado do cume. Era, de fato, excelente piloto, pena que sua moral era mais baixa que o sulco do pneu de sua aeronave.

Analisando-se as performances dos dois excelentes profissionais, percebe-se não haver sido por acaso que um deles foi alçado ao patamar do heroísmo, ainda vivo, enquanto o outro será jogado na baixeza do ostracismo, mesmo morto. Um será para sempre reverenciado como Herói, enquanto o outro, apelidado de assassino. Dois excelentes profissionais, mas enquanto um será lembrado e reconhecido como modelo de integridade, o outro será visto, por um tempo, entre a ralé dos corruptos, até que seja totalmente esquecido de ter, um dia, nascido.

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