A Internet é apenas um suporte para a EAD e não sinônimo. TV Digital e os desafios de um novo suporte

June 7, 2017 | Autor: Josias Pereira | Categoria: Produção de Vídeo Estudantil
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A Internet é apenas um suporte para a EAD e não sinônimo. TV Digital e os desafios de um novo suporte Josias Pereira 1 – Facnopar Resumo: Neste trabalho levantamos algumas questões sobre a Educação à distancia e o seu provável uso na TV digital. Analisaremos dados do Comitê Gestor da Internet (CGI) sobre o número de brasileiros conectados a grande rede mundial de computadores, mesmo em avanço, ainda é abaixo do esperado, então como democratizar o ensino superior com o uso da EAD se a mesma apresenta como base a Internet ? Se educação a distancia não é sinônimo de Internet, mas apenas um dos seus suportes, porque não explorar a TV digital na democratização da alfabetização. As regiões com maior numero de analfabetos do Brasil apresenta baixo numero de computadores em domicilio, por isso achamos que apostar na democratização do ensino superior através da informática não pode ser o único caminho. EAD no Brasil A educação a distancia tem apresentado um crescimento vertiginoso nos últimos anos, segundo os dados oficiais do Anuário Brasileiro de Educação a Distância, publicado pela ABED 2 (Associação Brasileira de Educação a Distância) pelo menos 1.278.022 de brasileiros estudaram por EAD em 2005, tanto pelos cursos oficialmente credenciados quanto por grandes projetos nacionais públicos e privados. Segundo o anuário o número de instituições que ministram EAD de forma autorizada pelo sistema de ensino cresceu 30,7%. Mesmo em pleno crescimento, ela convive com o “pré-conceito” de diversas áreas do conhecimento. Necessitamos de educação a distancia? Qual a vantagem que a mesma apresenta? O “pré”-conceito com a nova modalidade esta arraigado na sociedade intelectual brasileira que ainda usa o nível superior para se diferenciar do cidadão comum. Estes anos de exclusão e proteção do ensino superior criou um pensamento coletivo de que apenas um grupo social pode ter acesso ao grau superior, tendo assim vantagens não apenas financeiras

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Roteirista e diretor de TV, Mestre em Tecnologia educacional e pesquisador da Facnopar http://www2.abed.org.br

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como jurídicas 3. Criando assim um “habito”, que esta indo contra a universalização do ensino superior no Brasil. Tomando como referência o conceito de habitus de Bourdieu, ”o habitus é uma subjetividade socializada” (1983, p. 101). Para o autor, na medida em que o habitus é produto das relações sociais, ele tende a assegurar a reprodução das mesmas relações objetivas que o engendraram. A interiorização pelos agentes de valores, normas e princípios sociais assegura a adequação entre as ações do sujeito e a realidade objetiva da sociedade como um todo. Mantendo a reprodução social. Por outro lado, a mídia que hoje se apresenta como um instrumento que contribui para a socialização esta na mão de poucos. Dados do Instituto de Estudos e Pesquisas em Comunicação 4 (UNB) revelam que 271 políticos brasileiros são sócios ou diretores de 348 emissoras de radiodifusão (rádio e TV). 5 Segundo Elvira Lobato 6 no Brasil, apenas nove famílias detêm mais de 90% de toda a circulação de informação e de produtos culturais. Estes mesmo detentores do poder hegemônico criaram na sociedade através de vários aparelhos ideológicos a supremacia de um grupo sobre os demais. E apenas a universalização do saber, do conhecimento pode contribuir para mudanças significativas no Brasil. Com a universalização do ensino fundamental e médio a mudança esta chegando ao ensino superior, este grupo alfabetizado não encontra nas faculdades as vagas que necessita; muitos candidatos para poucas vagas. E a EAD pode ser uma alternativa para este contingente reprimido. Em 2001 a UFPR (Universidade Federal do Paraná) teve 48 mil inscritos no concurso do vestibular para 3.500 vagas. Segundo dados do INEP 7 (2006) o numero de candidatos inscritos no vestibular em 2006 foi de 4.763.165 para um numero de 2.337.488 vagas, o que representa apenas 49,07% do número de pessoas que procuram o nível superior presencial. Segundo Dilvo Ristoff, diretor de estatísticas e avaliação da educação superior do Inep, houve uma evolução da taxa de escolaridade líquida dos alunos matriculados em curso de educação superior sem distorção de idade, jovens que estão matriculados entre 18 3

Prisão especial para quem possui graduação. Pesquisa realizada pelo professor Venício de Lima 5 Este ato é inconstitucional (artigo nº 54, capítulo I) 6 Lobato, Elvira. Concessões crescem em família. SP. Folha de S.Paulo, 16/9/2000, TV brasileira 50 anos, p. 4-5. In Nascimento, Iracema Santos do, op.cit. p. 39. 7 Número de Vagas Oferecidas, Candidatos Inscritos e Ingressos por Vestibular, nos Cursos de Graduação Presenciais 4

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e 24 anos, passou dos 10,9% para 12,1%. Ainda é tímida as mudanças para se universalizar a educação superior no Brasil, se olharmos nossos irmãos latinos a Argentina apresenta 39% e nas Américas o Canadá apresenta 62%. Na América Latina, só o Haiti apresenta taxas mais baixas que as do Brasil. É necessário uma “revolução” no ensino superior, deixar de ser privilegio de um grupo social e ser um direito de todo cidadão. Uma das mudanças ocorridas se apresenta nas políticas publicas, foi o reconhecimento do MEC dos cursos de pós graduação e de graduação a distancia. Segundo João Carlos Teatini 8 , Secretário de Educação a Distância da SEED/ MEC. “ Quando a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional determinou, no artigo 80, que o Poder Público incentive cursos e programas a distância e de educação continuada, deu o sinal político-institucional e legal para a implementação da educação a distância no nosso país. Os Decretos n. 2.494/98 e n. 2.561/98, embora instrumentos ainda muito tímidos de regulamentação desse artigo da Lei, abriram espaço para os primeiros pedidos de credenciamento de instituições e de autorização de cursos superiores a distância”. (2003)

Porem, desejo debater outro problema que esta sendo silenciado; vemos que a EAD virou sinônimo de Internet, pelas facilidades que o meio apresenta e o número de usuários crescente no Brasil. Mas não podemos deixar de pensar que nem todo brasileiro tem acesso a grande rede mundial de computadores, que é só chegar em casa e desfrutar das comodidades que o aparato tecnológico disponibiliza, sempre a um certo custo. Outras alternativas devem ser pensadas para universalizar o ensino superior e não colocar todas as expectativas em cima do suporte Internet, até para não cometermos o erro de privilegiar apenas um grupo social. Analisando os dados do Comitê Gestor da Internet 9 (CGI) vemos que o nordeste apresenta um número de aparelhos de televisão como as outras regiões do Brasil, acima de 90% ( figura 01). Porém, quando analisamos o item “computador de Mesa” vemos que a região cai para mais da metade da região sul e sudeste. 8

texto : Educação a Distância na universidade do século XXI

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O Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.) foi criado pela Portaria Interministerial nº 147, de 31 de maio de 1995 e alterada pelo Decreto Presidencial nº 4.829, de 3 de setembro de 2003, para coordenar e integrar todas as iniciativas de serviços Internet no país, promovendo a qualidade técnica, a inovação e a disseminação dos serviços ofertados. Composto por membros do governo, do setor empresarial, do terceiro setor e da comunidade acadêmica, o CGI.br representa um modelo de governança na Internet pioneiro no que diz respeito à efetivação da participação da sociedade nas decisões envolvendo a implantação, administração e uso da rede.

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PROPORÇÃO DE DOMICÍLIOS QUE POSSUEM EQUIPAMENTOS TIC Figura 01 - Percentual sobre o total de domicílios Percentual Televisão Antena TV por Rádio Telefone Telefone Computador (%) parabólica assinatura fixo celular de mesa TOTAL REGIÕES DO PAÍS Sudeste

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Nordeste

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65

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Sul

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6

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48

80

29

Norte

96

18

1

76

25

68

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CentroOeste

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16

4

85

40

85

25

Por outro lado se analisarmos os dados do Pnad 10 (2006) , vemos que o Brasil tem 15,5 milhões de pessoas acima de 15 anos que não são alfabetizados (figura 03) Figura 03 Taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de idade – Brasil e Grandes Regiões 2004 Norte 10,2 Nordeste 22,4 Sudeste 6,6 Sul 6,3 Centro-Oeste 9,2 Brasil 11,2 Fonte: Pnad/IBGE; Elaboração: Disoc/Ipea

2005 9,4 21,9 6,5 5,9 8,9 10,9

2006 9,1 20,7 6,0 5,7 8,3 10,2

Entre os maiores de 25 anos, as taxas de analfabetismo são ainda mais altas: chega a 26,8% no Nordeste e 15% no Norte. Cruzando os dados do CGI com os do Pnad, vemos que a região Norte e Nordeste apresentam as maiores taxas de analfabetismo e as menores taxas no uso de computador de mesa. Assim, como usar o suporte “Internet” para

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Pesquisa Nacional Por Amostra de Domicílios, realizado pelo IBGE

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universalizar a educação superior? A região nordeste representa 27,6% de toda população nacional é a segunda maior região populacional do Brasil e apresenta a maior taxa de analfabetismo, por motivos políticos e sociais. Analisando a figura 04, dados Pnad (2006), vemos que o norte e a região nordeste apresentam a maior porcentagem de pardos, e a região sul e sudeste as menores concentrações de Pardos, sendo as regiões mais alfabetizadas, com maior concentração de Brancos e com maior concentração de computadores de mesa. Figura 04 Grandes Regiões, Unidades da Federação e Regiões Metropolitanas

População

Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

Total 184 388 620 14 726 059 51 065 275 78 557 264 26 999 776 13 040 246

Distribuição percentual, por cor ou raça (%) Amarela ou Branca Preta Parda indígena 49,9 6,3 43,2 0,7 24,0 3,8 71,5 0,6 29,5 7,0 63,1 0,3 58,5 7,2 33,4 0,9 80,8 3,6 15,0 0,6 43,5 5,7 49,9 0,9

E segundo dados do CGI a região sul apresenta o maior numero de computadores em domicilio, superando ate a região sudeste tradicional líder no aspecto”benfeitorias sociais”. (figura 05) Figura 05 - Proporção de Domicílios com Computador - Percentual sobre o total de domicílios 11 Percentual (%) Sim Não TOTAL 24 76 REGIÕES DO PAÍS Sudeste 30 70 Nordeste 11 89 Sul 31 69 Norte 13 87 Centro-Oeste 26 74

11 Base: 17.000 domicílios entrevistados em área urbana.

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Será que existe um real interesse em universalizar o ensino superior e o médio ou apenas usamos a tecnologia para capacitar, melhorar os profissionais para o mercado de trabalho, principalmente nos grandes centros? Nossa preocupação vai além de uma mão de obra qualificada, mas abordar a educação de modo sistêmico e contribuir para melhoria de qualidade de vida da população. O suporte preferido pela EAD não se apresenta o mais indicado para diminuir as desigualdades educacionais no Brasil , a Internet é um meio, mas não pode ser a única solução para a EAD. Comunicação de Massa e a EAD "As pessoas vão ficar cansadas de olhar para uma caixa de madeira todas as noites" Darryl Zanuck, produtor de cinema, sobre o futuro da TV (1946)

Fazendo uma pequena analogia a EAD, às vezes, parece uma criança que troca de brinquedo novo, sem perder o velho de vista. Surge o livro usa o livro, surge o rádio usa o rádio, surge a TV usa a TV, surge a Internet usa a Internet, então naturalmente, imaginamos, que a TV digital será utilizada de alguma forma, assim que a população tomar consciência e uso da mesma e for financeiramente viável o seu uso paras as “empresas” educacionais. Os meios de comunicação são apenas um meio, suporte, entre a informação e o destino, entre o enunciador e o enunciatário. O que é a escola afinal? Um espaço de socialização? Um espaço de saber socialmente produzido? Troca de informação ? No fundo “A escola é chata porque é dirigida por burocratas” 12 essa é a opinião do professor Rubem Alves. E a EAD o que seria? Segundo Moran 13 “Educação a distância é o processo de ensino-aprendizagem, mediado por tecnologias, onde professores e alunos estão separados espacial e/ou temporalmente.” Neste caso a mídia é apenas um meio, um elo. E diversas mídias foram utilizadas sempre com o intuito de melhorar a relação enunciador e enunciatário e efetivar a construção do conhecimento. 12

Entrevista concedida ao jornal Folha de São Paulo na série de sabatinas (2006). Rubem Alves é psicanalista e professor emérito da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) 13 José Manuel Moran. Texto “O que é educação a distância”

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Nosso intuito aqui não é realizar uma abordagem histórica sobre a EAD, mas fazer um levantamento dos suporte utilizados pela educação para criar um modo de ensino não presencial. Segundo o pesquisador João Roberto Moreira Alves 14 (2001): “ A Educação a Distância - EAD começou no século XV, quando Johannes Guttenberg, em Mogúncia, Alemanha, inventou a imprensa, com composição de palavras com caracteres móveis. Com a criação, tornou-se desnecessário ir às escolas para assistir o venerando mestre ler, na frente de seus discípulos, o raro livro copiado”

Porém o livro apresentava um problema, a necessidade de conhecer e decodificar as letras do alfabeto, o que impossibilita muitas pessoas de compreendê-la. Assim foi o inicio da EAD em diversas regiões do mundo. Segundo Alves “Em 1840 tem-se notícias da EAD na Inglaterra, na Alemanha foi implementado em 1856 e nos Estados Unidos, notou-se o ensino por correspondência em 1874”. Com o avanço tecnológico e o surgimento do rádio 15 , a EAD começa a se modificar, universalizar, pois agora o protocolo é de fácil entendimento, a voz. O rádio devido a seu baixo custo, facilidade de operação e penetração nas camadas mais populares foi utilizado desde o inicio como uma ferramenta que poderia contribuir para melhorar o nível cultural da população. O que contribuiu para um salto na EAD no Brasil. Na comemoração do centenário da independência do Brasil empresários americanos demonstravam os avanços da radiodifusão. Para realizar o teste foi transmitido um discurso do então presidente Epitácio Pessoa. Ao ouvir a transmissão Roquete Pinto ficou intrigado com a nossa tecnologia. Segundo a pesquisadora Sonia Virgínia Moreira 16 (2002) “ Naquele momento, Roquette-Pinto percebeu que ali estava um meio de comunicação importante para educar o povo brasileiro. Foi com este intuito que, em 1923, 14

Educação a Distância e as Novas Tecnologias de Informação e Aprendizagem

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Segundo alguns autores, a tecnologia de transmissão de som por ondas de rádio foi desenvolvida pelo italiano Guglielmo Marconi, no fim do século XIX. Outros advogam que foi desenvolvida pelo sérvio Nikola Tesla. Na mesma época em 1893, no Brasil, um padre chamado Roberto Landell de Moura também buscava resultados semelhantes, em experiências feitas no Brasil.

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texto - Roquette Pinto, empreendedor de mídia educativa

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fundou a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. ... Para ele, o rádio era o meio de democratizar a educação e a cultura, em suas próprias palavras transcritas no texto de Rui Castro. O rádio é a escola dos que não tem escola. É o jornal de quem não sabe ler; é o mestre de quem não pode ir à escola; é o divertimento gratuito do pobre; é o animador de novas esperanças, o consolador dos enfermos e o guia dos sãos - desde que o realizem com espírito altruísta e elevado. (CASTRO, 2002, p. 10).Ao conceber a necessidade de se democratizar a educação brasileira, Roquette-Pinto não poderia deixar de participar do Movimento de Renovação Educacional do País que, em 1932, publicou o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, assinado por ele juntamente com outros 25 intelectuais que acreditaram na possibilidade de se ofertar uma educação de qualidade para a população brasileira” Entre os programas educativos que fizeram uso do rádio encontra-se o “Projeto Minerva” que chegou a atingir um público matriculado em telepostos da ordem de 120.000 alunos. O Projeto Minerva 17 nasceu no Serviço de Radiodifusão Educativa do Ministério da Educação e Cultura em 1970. Até 1971 participaram do Projeto um total de 174.246 alunos. Surge nesta época a idéia do radioposto 18 para atender os alunos. A idéia principal do projeto era desenvolver conteúdos de nível primário e capacitação de docentes. Estes dados demonstram a importância do uso da comunicação de massa para disseminar projetos educativos. Gostaríamos também de aproveitar e prestar uma homenagem relembrando a importância de Roquete Pinto, que contribuiu com o uso do rádio na educação do País. As pesquisas de propagação radiofônica começou na Inglaterra, passando pela Itália e pelo Brasil com o Padre Landell de Moura 19 no inicio do século XX. . A TV surge no Brasil em 1950, ela é inaugurada pelas mãos de Assis Chateaubriand, no inicio só uma camada da população tinha acesso a este aparato tecnológico. Com as mudanças ocorridas e com o crediário a partir da década de 1970 a TV se populariza como meio de informação e a EAD, se utiliza da mesma como mais um suporte para a Educação.

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O nome Minerva é uma homenagem a deusa grega da sabedoria. Encontros em escolas, quartéis, clubes, igrejas e outros locais. 19 Padre Landell de Moura foi precursor nas transmissões de vozes e ruídos. 18

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A Fundação Roberto Marinho apostou no projeto “Telecurso”, usando a midia TV como mais um suporte da EAD. Aproveitando o hábito do brasileiro de assistir novela e telejornal. Com a TV a EAD ganha alem do texto, do áudio a imagem e a emoção que o meio propicia. “A educação a distância teve início no Brasil em 1939, quando foi criado o Instituto Rádio Técnico Monitor. Em 1941, surgiu o Instituto Universal Brasileiro, seguido por outras instituições que utilizaram o ensino a distância por correspondência a partir de 1950” (Niskier, 1999). Os principais movimentos: ¾ ¾ ¾ ¾ ¾ ¾

Projeto Minerva (1970) Logos (1977) Telecurso de 2º grau (1978) Um Salto para o Futuro (1991) Telecurso 2000 (1995) TV Escola (1996)

A TV não é dialógica. Uma das criticas feitas à comunicação de massa do século XX é que não permitiam o dialogo com o espectador/ Enunciatário. É uma forma de comunicação monologica. relembrando Bakhtin 20 “monologia é a qualidade dos discursos autoritários em que um único sentido sobressai impedindo que os demais venham à tona; as partes são dicotomizadas em emissor (enviário da mensagem) e receptor (receptáculo acrítico do primeiro)”. Segundo a professora Raquel de Almeida Moraes: as “velhas mídias” dos meios de comunicação de massa – rádio, cinema, imprensa e televisão – são consideradas veículos unidirecionais de informação por meio dos quais a mensagem percorre apenas uma direção – do emissor ao receptor” (2006) A Internet

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(aput. Raquel Almeida Moraes) Texto:

As Tecnologias da Informação e Comunicação na Educação: as

perspectivas de Freire e Bakhtin - 2006

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A vantagem da Internet é que ela “leva” o espectador / enunciatário da posição de receber para uma posição mais dialógica com o meio, criando a interação. Para Lima 21 “as novas tecnologias propiciam o diálogo entre esses dois pólos da comunicação, possibilitando que ambos interfiram na mensagem”. O desenvolvimento tecnológico, novos processadores, banda larga, edição, editoração e as políticas publicas contribuíram para o crescimento da EAD. A incorporação destas tecnologias computacionais de comunicação, possibilitou o desenvolvimento dos ambientes virtuais de aprendizagem (AVA) 22 . Em 1996 é criado a Secretaria Especial de Educação a Distância (SEED) para contribuir no uso dos processos de ensino-aprendizagem,com ênfase a incorporação das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) e da educação à distância. A Universidade Virtual Pública do Brasil (UniRede) 23 , foi formada inicialmente por instituições de ensino superior com o objetivo democratizar o acesso à educação de qualidade. O consórcio conta com o apoio do Ministério da Educação (MEC) e do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT). TV Digital A idéia da TV digital surge nos estados unidos em função de uma necessidade técnica, aumentar o tamanho do monitor sem perder qualidade, pois quando se ampliava a imagem no padrão americano M de 525 linhas e 30 quadros por segundo a imagem distorcia. Com o avanço da tecnologia alem da qualidade técnica melhor, imagem com o dobro da resolução, vieram varias vantagens como poder enviar vários canais na mesma freqüência, áudios diferentes, Internet e uma melhoria na comunicação, já que a Tv digital trás a interatividade. O que a faz ter tudo o que o computador tem na pratica. Segundo o professor Mauro Coutinho (2007): “Nos Estados Unidos, priorizou-se a qualidade da imagem e do som com a adoção do padrão ATSC (Advanced Television Systems Committee). No Japão, o requisito mais importante foi a mobilidade e o padrão adotado foi o ISDB (Integrated Services Digital Broadcast). 21

Aput Raquel de Almeida Moraes os AVA's são softwares educacionais via internet, destinados a apoiar as atividades educacionais, eles oferecem um conjunto de tecnologias de informação e comunicação, que permitem desenvolver as atividades no tempo, espaço e ritmo de cada participante 23 A UniRede, é um consórcio de 80 instituições públicas de ensino superior 22

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Já na Europa o cerne das atenções ficou com a interatividade, explorada pela plataforma MHP (Multimedia Home Platform) do DVB (DigitalVideo BroadCasting)”

No Brasil, por exemplo, são mais de 65 milhões de aparelhos receptores, presentes em 90% dos lares. O que faz a TV digital ser uma excelente meio para divulgar a educação e ser usada pelo EAD. Em junho de 2006 o Brasil adotou o como base o padrão ISDB-T (Integrated Services Digital Broadcasting Terrestrial ). Usando uma variante do elemento codificação usando o MPEG-4 24 para codificação e MPEG-2 para transmissão. Com o canal de retorno será possível o espectador mudar a relação com as emissoras, que podem, se desejarem, deixar de ser monologica, e ser um pouco mais interativas. Segundo o professor Mauro Coutinho (2006) 25 “O modelo tradicional, caracterizado pelo formato unidirecional, cede lugar a um modelo interativo, capaz de promover a inclusão digital do usuário através da uma gama de novos serviços, entre os quais, o comércio eletrônico, o governo eletrônico, a educação à distância e os jogos interativos” Com a TV digital podemos diminuir o número de brasileiros que ainda tem dificuldade de acessar a grande rede e desejam se atualizar ou realizar uma educação de qualidade a distancia. Há comunidades como no interior do amazonas, Piauí, Roraima, Acre dentre outros que não há interesse do setor privado de investir em equipamentos para distribuição de dados da grande rede, pelo alto custo do investimento em equipamentos e a baixa lucratividade. Por isso, a importância de usar o espectro da TV digital para o acesso a Internet. O que é possível com a ajuda do canal de retorno 26. O problema é que as emissoras a principio irão permitir que o usuário entre no seu site e possa explorar comprar, mas para ir a grande rede mundial de computadores é necessário um canal de retorno para o usuário poder navegar, e quem pagara este canal de retorno ? As emissoras so irão permitir o acesso a sua grade de programação e a seu site. Outro ponto a ser debatido é se a

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O MPEG-4 necessita de uma maior capacidade de processamento, porem, pode ser usado uma banda menor na transmissão. 25 Canal de Retorno para TV Digital com Interatividade Condicionada por Mecanismo de Sinalização Contínua e Provisionamento de Banda Orientado a QoS 26

Canal de retorno é o que permitira a TV Digital ser interativa que pode ser desde o acesso a programação da emissora a possibilidade a navegar na grande rede.

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navegação será a mesma que no computador? Terá teclado ou tudo no controle remoto? Não seria mais fácil assistir TV pelo computador? Já existem placas digitais que permitem que o usuário assista TV no computador com qualidade analógica e em breve teremos as com qualidade digital. Assim o usuário poderá também escolher TV digital meio computador ou computador meio TV.

Conclusão As pesquisas falam das NTIc e a geração net, pessoas que já nascem com Internet, e-mail, Facebook, CDs, DVDs, câmeras digitais, aparelhos de MP3, MP4, MP6, celulares, videogames, MSN, transmissão instantânea de mensagens etc, porém e os que estão fora deste nicho tecnológico, o que fazemos com eles? Apenas descartamos e falamos que estão fora do novo padrão internacional? Porque não usar a TV para melhorar o nível intelectual destas pessoas ? Afinal a função da escola é só para arrumar trabalho ? Educação é muito mais do que isso, porem a mídia só coloca a escola como um passo para um bom emprego, bom salário. Essa visão tem que ser modificada. A EAD não pode ser vista apenas como concorrente da presencial, mas complemento, contribuição, atuando em momentos que a presença do aluno não é tão necessário. “Um país se faz com homens e livros” 27 , já dizia o poeta. Um livro nada mais é do que um suporte onde o autor desloca as letras dentro de um protocolo, no nosso caso o protocolo da língua portuguesa e os seus pensamentos e sua visão de vida são colocadas ali, expressas naquele papel, ou seja, o livro é apenas um suporte que separa o autor do leitor. Seguindo este raciocínio os meios de comunicação não se diferenciam do processo de aquisição de informação. Na verdade ao ler um texto na tela do computador, estamos realizando o mesmo processo, decodificando as letras dentro de um protocolo definido e através da junção da mesma, adquirir e entender o raciocínio e as idéias que o autor desejou passar. O livro como o computador, só servem como meio para interligar dois pontos, no caso o autor do leitor, ( Enunciador / enunciatário) o autor do internauta, o espectador do roteirista. São apenas meios, não produzem nada, apenas reproduzem. E a TV digital ira contribuir sendo apenas mais um suporte, mas que este suporte seja mais 27

Monteiro Lobato

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democrático e universal do que a Internet que como vimos ainda é exclusividade de um grupo social. Talvez no futuro do presente, a EAD contribua para fazer uma escola diferente, onde poderemos fazer apenas disciplinas e ir aprendendo, se especializando e depois de alguns anos a união destas disciplinas cursadas correspondam a um tipo de formação. Vivemos ainda o modo positivista na educação, estudamos a parte e nunca o todo, porem aos poucos esta visão esta saindo e dando lugar a uma educação sistêmica, onde as partes estão interligadas a um todo. Para que ensinar a nossos jovens sobre física e química de modo separado da vida e da realidade? Por que “aprender” normas e nomes sem a pratica com o dia a dia. . Por que não colocá-los em uma oficina de automóvel e ensinar como um carro funciona e na oficina, virtual ou presencial o aluno ira ter contato com física, com química, além de aprender algo que pode utilizar no seu futuro. Talvez a educação a distancia possa contribuir para fazer o que a academia presencial não conseguiu, mudar efetivamente a educação, pautá-la no dia a dias da população. Colocá-la na realidade da sociedade e tirá-la do altar que se encontra hoje, não muito agradável, necessária e intocável. Educação para todos, informação para todos é o caminho para uma sociedade mais justa social e politicamente.

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