A invisibilidade da cultura negra na midia capixaba

June 23, 2017 | Autor: Elice Santos | Categoria: Black feminism
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A invisibilidade da cultura negra na mídia capixaba
O processo de apagamento da cultura afro-brasileira acontece desde o período colonial. As danças, religiões, datas comemorativas, festas típicas, por exemplo, são invisíveis na mídia capixaba, o que promove a desigualdade entre as diversas culturas que existem no nosso Estado, bem como no resto do país. Em um trabalho feito em sala de aula para esta disciplina, percebemos a dificuldade de encontrar notícias sobre as comunidades africanas no território capixaba que não fossem consideradas "más", o que indiretamente, corroboram para o preconceito racial no Brasil, comprovando as heranças deixadas pelo período da escravidão. Mas, o contrário aconteceu quando pesquisamos por matrizes de origem europeia. Festas que comemoravam e saudavam a cultura deste povo são divulgadas com muito apelo na mídia, eventos que já são tradição em boa parte do Espírito Santo. Com essas questões surge o questionamento: porque algumas manifestações culturais são mais divulgadas e/ou preteridas em relação a outras? A seguir, um dos autores do livro "Africanidades – Produções Identitárias e Políticas Culturais" ressalta que não há superioridade de culturas, mas sim um sistema que privilegia determinadas culturas e que torna outras invisíveis.
"Sem pretender estabelecer uma relação de sobreposição entre culturas, é preciso, no entanto, ressaltar o valor da história e cultura, africana e afro-brasileira, que vem sofrendo um processo de apagamento durante todos esses séculos, promovendo, desta forma, a desvalorização da população negra em nossa sociedade". (SISS, ET al. 2013, pág. 105)
De maneira geral, as festas tradicionais são uma forma de resgate histórico, de modo que um povo está sempre a lembrar de sua cultura, seja ela qual for. Em especial, as festas africanas sempre foram símbolos de resistência, considerado uma das únicas situações em que podiam ter uma expressão própria, principalmente na época da escravatura. Era um momento em que aquele povo afirmava sua identidade, um "espaço no qual a liberdade de comunicação foi conquistada a partir da construção de uma linguagem própria", (SISS, et al. 2013, pág.106). A linguagem das festas estreitavam as relações entre os negros, sem a repressão do estado ou dos senhores de escravos. É importante ressaltar, que a invisibilidade do povo negro não acontece apenas em termos culturais. O mesmo acontece nas novelas, nos filmes e nos comerciais de TV onde a sua presença não se da de forma qualificada e na dimensão correta.
"Os avanços tecnológicos, marcando os processos da modernização e da pós-modernidade, aliados aos veículos de comunicação e á interferência do Estado caracterizaram um forte apagamento e a banalização da cultura popular brasileira. As expressões simbólicas e festas populares, que corporificam as questões de identidade e pertencimento aos grupos sociais, sofreram pressões desleais sob o avanço do Estado aos meios de comunicação, principalmente após o Golpe de 1964." (SISS, et al. 2013, pág.115)
Neste sentido, a mídia capixaba atua de forma omissa na divulgação das manifestações culturais africanas, e acaba reforçando o racismo institucional que existe no nosso país. Ela não cumpre o seu papel democrático e social de dar ao cidadão o direto à informação quando opta por omitir ou privilegiar determinados eventos culturais. A mídia ocupa um lugar importante na formação de hábitos da sociedade, é essencial que se entenda o papel que ela exerce na construção das identidades étnicas. A invisibilidade da questão racial é interpretada como um fato que não se nota, não se discute e nem se deseja notar ou discutir. É como se não existisse. A história narrada nas escolas é branca. A inteligência e a beleza mostradas pela mídia também o são. Assim, o que se mostra é que o lado bom da vida não é e nem deve ser negro. A representatividade midiática é importante para que haja uma identificação entre uma sociedade e uma cultura, e isso não pode se dar de maneira seletiva. Precisamos que haja maior diversidade e valorização das culturas afro-brasileiras no Espírito Santo, para que as identidades étnicas sejam reforçadas e que, de fato, a mídia cumpra seu papel social na prática.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARRETO, Maria Aparecida Santo Corrêa; RODRIGUES, Alexsandro; SISS, Ahyas. Africanidades: Produções Identitárias e Políticas Culturais. Espírito Santo, Edufes, 2013.
GELEDÉS, Instituto da Mulher Negra; CFEMEA, Centro Feminista de Estudos e Assessoria. Racismo Institucional: uma Abordagem Conceitual. Trama Design, 2013.



UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
CENTRO DE ARTES
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL




Elice Sena Santos




A INVISIBILIDADE DA CULTURA NEGRA NA MÍDIA CAPIXABA

Trabalho final para a disciplina Formação Social, Econômica, Política e Cultural do Espírito Santo








Vitória, 2015





Racismo institucional é um modo de subordinar o direito e a democracia às necessidades do racismo, fazendo com que os primeiros inexistam ou existam de forma precária, diante de barreiras interpostas na vivência dos grupos e indivíduos aprisionados pelos esquemas de subordinação deste último. Podemos perceber que, para que seja efetivo, o racismo institucional deve dispor de plasticidade suficiente para oferecer barreiras amplas - ou precisamente singulares - de modo a permitir a realização da hegemonia branca (...). Fonte: Racismo Institucional – uma Abordagem Conceitual, 2013, pág.16.

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