A Joaquim de Dalton Trevisan: a Curitiba dos anos 1940 na visão dos moços

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Anais Eletrônicos do III Congresso Internacional de História Regional (2015) – ISSN 2318-6208

A JOAQUIM DE DALTON TREVISAN: A CURITIBA DOS ANOS 1940 NA VISÃO DOS MOÇOS Gabriel Elysio Maia Braga*

O artigo aqui apresentado originou-se da pesquisa intitulada Literatura e Sociabilidade na Curitiba de Dalton Trevisan, a qual foi desenvolvida em 2012 pelos integrantes do PET História1 da UFPR, do qual ainda faço parte. A fonte selecionada foi a Revista Joaquim, publicada entre os anos de 1946 e 19482. Seus editores eram de uma geração de jovens que buscava, principalmente através da arte, uma mudança na sociedade. O escritor Dalton Trevisan era o principal deles. Suas contribuições eram, sobretudo, na forma de contos, ainda que estes não ocupassem um papel central na revista. Trevisan também trabalhava com entrevistas e imprimia as revistas com o apoio da fábrica de seu pai, a Louças Trevisan. A Revista Joaquim inclui-se em um conjunto de revistas jovens que surgiram após o fim do Estado Novo. Na opinião de Sanchez Neto (1998) ela é o periódico que melhor retrata o momento que “o periférico começa a ganhar visibilidade”3. Para explicar melhor essa colocação devemos fazer algumas considerações sobre o Modernismo de 1922. Esse movimento propôs uma abertura para o mundo – no entanto, como aponta Sanchez Neto, a França continuou sendo vista como o grande monopólio da cultura – e a partir dela, “descobrir os brasis”4. Um dos feitos modernistas foi romper com certa hegemonia metropolitana e dar visibilidade às outras localidades – um descentramento, podemos dizer. Essa ênfase, contudo, pretendia traçar melhor uma identidade nacional, ou seja, elevar a província, a “periferia”, à condição de parte integrante e importante da unidade nacional. Esse reconhecimento das pequenas partes que compõe a unidade acabou causando uma recusa ao que vinha de fora. Pode-se observar, portanto, uma centralização cultural. Durante o Estado Novo, foi proposta por Vargas também uma centralização

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Aluno do quarto ano do curso de graduação em História – Licenciatura e Bacharelado da Universidade Federal do Paraná 1 Programa de Educação Tutorial. 2 É interessante ressaltar que as 21 edições da revista, em versão fac-similar, encontram-se disponíveis na Biblioteca Pública do Paraná, para consulta. 3 SANCHEZ NETO, 1998, p. 15. 4 Ibidem, p. 19.

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política. Entretanto, foi durante o seu governo que ocorreu um grande processo de industrialização do Brasil, o que acabou por criar uma burguesia industrial presente não só na metrópole, mas também nas províncias. Essa burguesia aspirava uma melhor representação tanto na política quanto na cultura5. Isso corroborou com a participação dos jovens em publicações de cunho artístico que começavam a surgir. Essa nova geração acompanhou a transição da província de uma localidade agrária para uma urbe6 e percebeu as diferenças culturais de cada localidade. Tal noção desmantelava a ideia de uma unidade nacional. Tendo isto em mente fica menos abstrato o surgimento da Joaquim em 1946. Não poderíamos deixar de dar atenção ao fato de que, além de tentarem elevar a província e liga-la ao nacional, os editores aspiravam uma conexão com o resto do mundo, pois sentiam que a guerra os havia conectado, balizado seus interesses. Para isso utilizavam sempre o conceito de geração, sobre o qual é importante discorrermos, ainda que brevemente.

Sobre o conceito de geração

Antes de discorrer mais propriamente sobre o periódico seria interessante tecer alguns rápidos comentários o conceito de geração. A Joaquim traz em suas edições o conceito de geração da segunda guerra, o qual se referia aos jovens do mundo inteiro no período pós-guerra que partilhavam de certos pensamentos e angústias, e até mesmo um senso de responsabilidade, em comum. Ao ligar sua geração a guerra, o periódico de Trevisan aproxima-se muito da abordagem de Mannheim, o qual rompeu com preceitos positivistas e do romantismo. A geração para Comte tinha forte relação com a visão de progresso, o qual deveria vir pela sucessão destas, aliada à estabilidade das gerações precedentes. O pensador francês compara o corpo social como um biológico. Ambos possuem partes que se desgastam e necessitam ser substituídas. Dilthey recusou a teoria Comteana e dizia não ser importante a questão da sucessão. Para este autor as gerações definiam-se a partir da partilha de um conjunto de experiências7. 5

SANCHEZ NETO, 1998, pp. 28 – 34. Ibidem, p. 39. 7 FEIXA & LECCARDI, 2010, pp. 187 – 188. 6

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Mannheim foi, na opinião de Feixa e Leccardi (2010), um grande marco no que diz respeito ao conceito de geração, pois distanciou-se das duas abordagens já citadas. “Seu maior interesse foi o de incluir as gerações em sua pesquisa sobre as bases sociais e existenciais do conhecimento em relação ao processo histórico-social”8. O autor utilizava as gerações como um modo de estudar as mudanças sociais. Assim como Dilthey, Mannheim também fala em compartilhamento de experiências. Para ele o que marcaria fortemente esta partilha seriam dois fatores: a presença de um evento de ruptura a partir do qual possa-se demarcar um antes e um depois e o

fato que estas descontinuidades são experienciadas pelos membros de um grupo etário em uma conexão constitutiva particular, quando o processo de socialização não foi concluído, pelo menos no seu período crucial, e os esquemas utilizados para interpretar a realidade não são ainda totalmente rígidos ou – como coloca Mannheim – quando essas experiências históricas são “primeiras impressões” ou “experiências juvenis”9

Ao observarmos o conceito de geração da segunda guerra, constatamos claramente o evento evocado pelos editores para demarcar sua geração. Tal evento os conectava com o resto do mundo. Essa demarcação permitia com que seus anseios e dúvidas extrapolassem os limites – geográficos e intelectuais – que a província lhes estabelecia. Tendo isso sido discutido, podemos nos ater aos objetivos da revista e às discussões que ela promoveu a respeito da guerra e sobre a sociedade, através dos contos de Trevisan.

Sobre a Joaquim Com a vontade manifesta de ser destinado a todos – já expressada no editorial da primeira edição – o periódico procurou apresentar discussões de âmbito mundial à população paranaense, em especial aos jovens. Percebe-se, portanto, através da revista, uma grande vontade de mudança. A diferente concepção de arte e uma diferente ideia sobre o futuro eram expressas em entrevistas, poemas, contos, traduções de textos filosóficos, artes gráficas de Poty Lazzarotto, dentre outros. 8 9

Ibidem, p. 189. FEIXA & LECCARDI, 2010, p. 190.

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É perceptível o desejo de envolver o Paraná em um contexto maior, tanto nacional quanto internacional. Curitiba era por eles referenciada como “província”. A capital paranaense possuía forte tradição Simbolista, a qual buscava desenvolver uma identidade ao estado que ainda não possuía um século de existência10. Assim, buscando na natureza, alguns símbolos do estado foram definidos: a Araucária, o Rio Iguaçu e a abundante natureza, por exemplo. A principal crítica dos editores da Joaquim ao Simbolismo dizia a respeito ao afastamento da realidade promovido por este – retratava pinheiros e esquecia das pessoas. Devido a isso os editores da revista classificaram o Simbolismo como rico na forma, mas pobre no conteúdo. Mas acima de tudo – e esse era o maior pecado –, esse movimento desligava a arte do estado do restante do país e do mundo. Muitas vezes pode-se observar a crítica ao espírito provincianista paranaense. Os moços11 da Joaquim, acordo com Sanches Neto (1998), não queriam deixar de valorizar o local, mas sentiam a necessidade de se ligar ao exterior, pois possuíam anseios próprios à sua geração, o que os aproximavam dos jovens de outros países. Possuindo uma preocupação mais social esses jovens teciam críticas as identidades regionais e olhavam para os problemas das cidades e para as pessoas nas ruas. A Joaquim, como afirma Nicolatto (2002), foi para Dalton como um laboratório de experimentos para sua formação enquanto artista. Na revista encontramos uma pluralidade de temas, contudo serão aqui analisados dois deles: Guerra e Curitiba Marginal, representada pelos contos. A partir do tema da Guerra procurou-se entender a visão da juventude curitibana a respeito dos conflitos e das consequências da II Guerra, como também as discussões artísticas e filosóficas se colocaram em torno dessa questão. O que denominamos “Curitiba marginal” englobou a análise dos contos de autoria de Trevisan, procurando assim, compreender a cidade por meio dos universos ficcionais oferecidos pelo escritor, assim como suas correspondências com o contexto da época. Esses temas nos auxiliaram na reflexão sobre o pensamento dos editores da revista e as discussões que pretendiam trazer à província. Percebemos a decepção desses jovens com a ideia de modernização, uma consequência da II Guerra, e os conflitos a que isto levava, considerando que eram moradores de uma cidade que se modernizava 10 11

Até 1853, o Paraná fazia parte de São Paulo. Nomenclatura utilizada pelos próprios editores para se denominarem.

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rapidamente. Os jovens da Joaquim realizaram um verdadeiro apanhado de ideias contemporâneas e de crítica às ideias e discursos tradicionais, e transportaram isso para a Curitiba da época. Explorar os significados deste transporte é o objetivo central desse artigo. Tendo em vista esse grande enfoque da revista ao recente acontecimento bélico, focaremos aqui na relação dos jovens editores com a temática da Segunda Guerra e as mudanças que ela causou nas concepções de mundo, juventude e humanidade. Também comentaremos como essas mudanças são explicitadas nos contos de Trevisan, o qual por meio deles, procura retratar algumas aflições de seu tempo.

Sobre a Guerra

Um tema que era constantemente citado nas edições da Joaquim era a Segunda Guerra Mundial. Este acontecimento era o que ligava os paranaenses aos jovens do resto do mundo. Os que publicam na revista Joaquim dizem-se filhos deste conflito e o colocavam como marco de sua geração. Marco este que simbolizava a indignação com o que a Guerra produziu. Uma forma de romper com geração precedente – determinando um marco que defina o antes e o depois – a qual era por eles responsabilizada pelo conflito12. Os moços da Joaquim pretendiam uma diferenciação em relação aos simbolistas e à geração precedente como um todo, não desejando assim, repetir os erros que levaram à Segunda Guerra. Isto criou uma identidade em torno dessa “geração da segunda guerra”. Esses jovens agora teriam a difícil tarefa de apontar novas perspectivas à humanidade ao mesmo tempo que renegavam a herança das gerações precedentes. É possível perceber isto na revista através das críticas aos simbolistas devido à sua maneira de fazer – ou ao menos pretender – uma arte apolítica. Tais críticas representavam o posicionamento político dos editores diante da arte paranaense da época, enfatizando o que consideravam negativo e apresentando outra proposta. Para eles, a nova geração não poderia alienar-se ou mesmo ignorar os recentes acontecimentos que a cercavam. Estes questionamentos estão presentes em grande parte das entrevistas e editoriais. 12

SANCHES NETO, 1998, pp. 243 – 254.

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A guerra teve um importante papel na formação dessa geração, que foi testemunha e mesmo vítima da violência, miséria e todo tipo de dificuldades por ela impostas. A guerra e suas consequências se tornam elementos unificadores – uma experiência comum – dessa jovem geração, reforçando a necessidade dos editores de lutar contra a alienação, a falta de articulação com questões internacionais e o provincianismo que rodeavam o meio artístico e político de Curitiba nos anos 1940. Esses jovens apoiavam uma arte que de fato retratasse de maneira crítica e politizada temáticas humanas tais como a miséria, a prostituição e os marginalizados. Essas eram as questões que permeavam as publicações. Quanto à arte, a proposta apresentada na Joaquim era a de uma abertura do meio artístico, estadual e nacional, para que certo alinhamento político com os questionamentos e reflexões de outros jovens da geração do pós-guerra pudesse ser realizado. Esse intercâmbio é representado pela viagem de Poty Lazzarotto à França. Ao retornar apresentou o que observou em relação aos impactos da recém-terminada guerra na urbanidade e no cenário artístico parisiense/europeu. O artista declarou ter visto vestígios da guerra por todos os lados. Contudo, sua principal preocupação abrangia o campo artístico. Lazzarotto escreveu que os temas mais comuns dessa arte eram a miséria e o sofrimento humanos. Contudo, afirmou ser ainda cedo para definir com exatidão no que se constituía a arte do pós-guerra. Em sua análise, aponta para os desdobramentos da arte europeia como importantes colaboradores à arte brasileira – sobretudo a paranaense. Não que aquela fosse mais importante ou mais bela, mas sim possuía aspectos que auxiliariam em uma construção da arte local. Este sentimento de cosmopolitismo e preocupação com a falta de aspectos políticos e sociais na arte paranaense era o que movia muitas discussões da revista. Não se pode ignorar o fato de que os idealizadores da Revista Joaquim eram jovens que estavam ligados ao mundo das artes. Isso permite entender melhor o porquê de sua proposta de utilização da arte enquanto um instrumento político. No caso do sentimento pós-guerra, esta questão se ligava a um conflito de gerações que se explicitava através da tentativa de romper com os velhos valores, de denunciar os abusos no conflito e de propor uma solução humanista para a crise de valores vivenciada naquele momento.

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Além dessa discussão sobre a Guerra e a arte que nela se inspirou, há uma preocupação em expor o pensamento filosófico que estava em debate, o qual não era desligado da arte. Não apenas uma preocupação de caráter estético surgiu no pós-guerra, mas também uma mudança ideológica apontada por Hobsbawm (1995): os prováveis causadores de uma revolução social não seriam mais os proletários, mas sim a juventude13. Sobretudo a partir do filósofo francês Jean-Paul Sartre, uma nova visão teórica foi aos poucos se construindo: o existencialismo. Esse pensamento passou a questionar como a razão enquanto definidora da existência poderia gerar profundas destruições. O próprio Sartre definiu o existencialismo enquanto um humanismo, ou seja, uma forma de pensar o local do humano dentro da relação da natureza. A Joaquim, portanto, se colocava enquanto uma revista capaz de pensar os grandes problemas do seu tempo e realizar uma reflexão sobre como solucioná-los. Era importante, na visão dos editores, refletir sobre caminhos possíveis à razão, já que esta não mais poderia ser aquela razão instrumental, do progresso rumo a um mundo universalmente cosmopolita. Todo aquele modelo iluminista que defendia ideais de civilização estava se desmantelando, assim como o caráter provinciano, condenado pela Joaquim. A revista trazia a seus leitores uma nova reflexão: o homem enquanto existência devia propor sua melhor forma para o mundo. A Joaquim colocou em circulação questões de indagações do mundo pós-guerra, que o pensamento existencialista suscitou. O pensamento de Sartre propôs colocar o ser humano como responsável por suas ações14. Era defendido que a existência do homem construía sua essência e criticada a concepção de uma essência humana pré-definida. Os questionamentos existencialistas presentes na Joaquim eram percebidos principalmente no que se referia à responsabilidade que a geração da segunda guerra possuía de um agir político. A revista questionava o papel dos artistas e dos jovens em relação a uma mudança social. O sentimento de angústia causado por esta liberdade de ação política também estava presente nas publicações. Considerando que o mundo pósguerra dissolveu preceitos e valores morais, é possível perceber no periódico um questionar da função que o jovem teria de repensar esses valores e recriá-los com base 13 14

HOBSBAWM, 1995, pp. 282 – 313. O que legitimava a culpa que a nova geração impunha à precedente no que diz respeito à guerra.

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na humanidade. É aqui que se faz presente a angústia, pois a liberdade implicaria uma escolha a estes jovens, que, por sua vez, deveriam agir no mundo, tendo consciência de que suas ações modificá-lo-iam. Uma outra questão que se fez presente no periódico foi a representação da sociedade e da degradação da mesma a partir dos contos. Trevisan possuía uma visão pessimista de sociedade e retratava com frequência tragédias, sofrimentos e angústias humanas, além de decepções amorosas.

Contos de Trevisan

Em todas as edições da revista são encontrados contos, sendo que a maior parte era de autoria de Trevisan. Podemos observar que neles, a alegria e o amor não eram temas recorrentes. Mais comum era ler sobre a transformação de menino em homem, a dor e o sofrimento. Mesmo quando o amor era abordado ele aparecia como que intrínseco ao sofrimento e à tragédia, como no conto Revista de Jornal15 no qual Trevisan, a partir de uma notícia sobre um assassinato real, desenvolveu uma história de amor entre assassino e vítima. Focaremos aqui em um tema específico: o espaço. Este se mostrou como um tema recorrente nas histórias. O espaço é uma categoria importante na constituição de uma obra, e sua análise denomina-se de Topoanálise16, uma investigação dos significados que os lugares possuem na história. A descrição da cidade e da sociedade curitibana parece ter sido o objeto dos contos de Dalton, que foi testemunha do grande crescimento que a capital paranaense teve em poucas décadas. Nicolatto (2002) o apresenta como um flâneur curitibano. Em muitos de seus contos são descritos reconhecíveis de Curitiba. Isso se dá por sua vocação a observação da vida urbana, da sociabilidade curitibana e pela construção de personagens populares. De acordo com Nicolatto (2002), Trevisan buscou romper com o Simbolismo, questionar o modernismo e se ater à questão da crônica enquanto estrutura narrativa principal. Seus contos e, principalmente a Joaquim, foram uma grande mistura de autores e diferentes projetos literários. Nos contos analisados, os lugares retratados são mais imaginativos do que reais, como por exemplo, a igreja, a casa e o bar. Estes lugares 15 16

Publicado na segunda edição da revista. Baseamos nossa análise na definição de Ozíres Borges Filho (2008)

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carregam significado tanto para a narrativa, quanto para o social. Um conto que pode exemplificar essa análise é Eucáris a dos olhos doces – publicada na primeira edição do periódico. Nele, é narrada uma triste história: um garoto perde sua amada. O conto inicia-se com o menino observando um corvo e pedindo para ser levado para perto de sua amada, já falecida. Eucáris era uma menina que temia seu próprio pai, um alcóolatra agressivo, do qual o garoto aspirava protegê-la. Após declararem seu amor na igreja, Eucáris adoece e falece17. Tamanho era o sofrimento do menino, que este desejava o pior si mesmo. O corvo que aparece no início do conto, passa a acompanhá-lo. O protagonista decide por encarar o seu destino e tornar-se homem. Ele então dirige-se a um bar e lá encontra sua maturidade. Isso é recorrente em muitos dos contos. O pai da família bebia e isso possuía muitas consequências. Os jovens iam ao bar à procura de algo que os legitimasse enquanto homens, enquanto pertencentes àquela sociedade. A igreja já se constituía em um espaço mais feminino, de ternura e conforto, enquanto o bar prepararia estes futuros homens para a dura vida que encarariam em diante.

Considerações Finais

A partir destas duas frentes de análise pudemos destacar algumas preocupações e ambições dos jovens editores paranaenses, como por exemplo, a necessidade de situar Curitiba em um contexto mundial, lutando assim contra o provincianismo. A Joaquim impôs para si mesma a função de realizar esse intercâmbio de ideias e reflexões a partir dos textos de autores estrangeiros e da contribuição de Potty enquanto correspondente internacional. Observamos também uma crítica à sociedade e as ideias de progresso e civilização. Se todos os antigos valores e ideais levaram a humanidade à guerra, a sociedade e suas ambições deveriam ser repensadas e seria a geração da segunda guerra a responsável por esse trabalho, através da arte. O contexto pós-guerra constitui-se em outra preocupação. Qual o papel desta geração que emergiu do conflito? Como pensar a arte após a guerra? Perguntavam-se os editores. A solução encontrada estava na politização da arte na luta contra o 17

Ela pega Tifo – doença que teve surtos famosos durante a segunda guerra mundial.

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progressismo e no ato de enfatizar as sensibilidades humanas e a realidade social como uma forma de repensar essa sociedade civilizada que teria desembocado em um grande conflito bélico. Essa nova geração, condenando os erros da predecessora, possuía também diferentes anseios. Nem sempre tendo suas metas bem esboçadas, os moços buscavam o novo, buscando um futuro deveria diferente do presente vivido. Por tal motivo, discutiam arte, filosofia, literatura e formulações advindas dessas áreas que os incomodavam e os motivavam a buscar novas alternativas. Podemos perceber, portanto, sob vários pontos de vistas diferentes, que a revista Joaquim foi testemunha de uma cidade em transformação na qual a nova geração buscou estabelecer seu espaço e novas tendências encontram o seu caminho em meio às vielas da tradição. Por esse motivo, a Revista Joaquim permite o traçado um mapa sentimental da cidade daquela época, a partir da visão dos idealizadores da mesma.

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