A leitura de histórias em quadrinhos nas aulas de física

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Segundo Congreso Internacional Viñetas Serias: narrativas gráficas: lenguajes entre el arte y el mercado (Buenos Aires, Argentina, 26 al 28 de septiembre de 2012, Biblioteca Nacional). Libro de actas http://www.vinetasserias.com.ar/actas2012.html ISBN: 978-987-26204-2-4

A leitura de histórias em quadrinhos nas aulas de física Francisco de Assis Nascimento Junior, USP, SP, Brasil, [email protected] Luis Paulo C. Piassi, USP, SP, Brasil [email protected]

Resumen Instruir al estudiante con lo que la cultura humana produce, por lo que puede llevar a cabo proyectos y superar los desafíos es uno de los requisitos para la formación de ciudadanos activos y conscientes. El ejercicio de la lectura permite al estudiante a desarrollarse de una manera informal sus concepciones del mundo. La lectura de las historietas de ficción cientifica hoy en día juega un papel importante en la educación no formal de sus lectores y es parcialmente responsable por el desarrollo de una cultura particular, capaz de promover la popularización de la ciencia y la construcción de ciudadanía. En este trabajo se propone una discusión de cómo la ubicación de los elementos de las publicaciones de la física en la ficción cientifíca de las historietas puede contribuir a una mejor comprensión de si misma en el ámbito escolar. Como resultado, hemos observado la importancia de las actividades realizadas en el aula, capazes de dialogars con la información obtenida por el alumno en actividades extra-clase, el rescate de ellos a fin de complementarlas conceptualmente la manera correcta. Palavras-clave: libros de historietas, ciencia ficción, la educación, la física, la lectura, la escuela Abstract To instruct the student with the product of human culture is one of the requirements for the formation of a conscious and active citizen, capable of carrying out projects and overcoming challenges. The practice of reading allows the student to unfold, in an informal way, their conceptions of the world. The reading of science fiction comic books today plays a leading part in non-formal education of its readers, and is partially responsible for the development of a particular culture, able to promote the popularization of science and the construction of citizenship. In this paper we propose a discussion about how the elements of physics in the publications of comics science fiction can contribute to its better understanding at a school environment. As result, we note the importance of activities undertaken in the classroom that may be able to dialogue with the various kind of information acquired by the student in extraclass activities, rescuing and complementing them conceptually into the right way. Key words: comic books, science fiction, physics teaching, lectures activities, school.

Resumo Um pré-requisito para a formação de cidadãos ativos e conscientes é instruiílos com o que a cultura humana produz, para que desenvolvam a capacidade de realizar projetos e superar desafios. Neste sentido, o exercício da leitura dos quadrinhos permite aos jovens em idade de formação escolar o desenvolvimento informal de suas visões de mundo. A leitura de histórias em quadrinhos de ficção científica hoje desempenha um papel importante na educação não-formal de seus público consumidor, sendo parcialmente responsável pelo desenvolvimento de uma cultura particular, capaz de promover a popularização da ciência e da construção da cidadania. Este artigo propõe uma discussão sobre como a presença dos conceitos e fenômenos Físicos em publicações de histórias em quadrinhos de ficção científica pode contribuir para uma melhor compreensão de si mesma como disciplina escolar. Como resultado, observou-se a importância do planejamento de atividades em sala de aula que sejam capazes de dialogar com as informações obtidas pelo aluno em ambiente extra-classe, a fim de resgatá-los, complementando-os de forma conceitualmente correta. Palavras-clave: histórias em quadrinhos, ficção científica, ensino, Física, leitura, escola

INTRODUÇÃO As rápidas transformações de ordem tecnológica e social que tem ocorrido nas últimas décadas despertam para a necessidade de formar indivíduos com forte habilidade de adaptação, que sejam capazes de exercer sua cidadania de forma plena, lendo e compreendendo corretamente as informações presentes em sociedade. Neste sentido, entendemos a escola como espaço formativo, o que significa concebê-la como um espaço de socialização da cultura humana, que deve ser capaz de levar em conta os diversos aspectos de aprendizagem que influenciem a formação de seus alunos. Para que a escola alcance este objetivo, cabe aos professores delimitar estratégias didáticas capazes de aumentar a capacidade do aluno em ler e interpretar textos, despertando o estudante para o exercício de uma crítica racionalizada e incrementando seu processo de interpretação do mundo ao lhe proporcionar uma formação como cidadão ativo em sociedade. Incorporar o desenvolvimento de

atividades de leitura que se iniciem em sala de aula, estimulando a participação do aluno de forma a estabelecer laços de motivação e prazer com o aprendizado é possível caso o universo particular do aluno, ao qual Snyders se refere como cultura primeira, seja respeitado. O atual discurso sobre a insuficiência escolar brasileira decorre de sua forte instituição em formar indivíduos incapazes de atribuir significado prático ao que lhes é ensinado. Infelizmente, é uma crítica aplicável ao ensino de ciências de forma justa, em especial ao de Física, onde a dificuldade encontrada pelos alunos na solução de exercícios, já discutida em estudos recentes da área (SILVA, 2004), não representa o único impecilho para o aprendizado da disciplina: eliminar a dificuldade encontrada pelos estudantes na interpretação dos fenômenos naturais presentes nos exercícios trabalhados em sala de aula é necessário para que haja uma melhoria significativa no processo de formação do estudante. Com efeito, o professor de Física, é hoje levado a preparar suas aulas e atividades de acordo com um currículo estruturado em jargões, fórmulas e definições desvinculadas da necessidade de formação dos alunos e de conhecimentos científicos relevantes de sua parte, gastando a maior parte do tempo de suas aulas ao expor definições, fórmulas e exercícios desprovidos de significado para si mesmos e para os alunos, levando-os a memorizar definições e fórmulas como se isso apenas fosse “aprender Ciência” (PIASSI, 1995). "Ademais, todos os psicólogos estão acordes ao asseverar que só existe uma maneira de ensinar: suscitando o mais profundo interesse no estudante e, ao mesmo tempo, uma atenção viva e constante. Portanto, trata-se apenas disto: saber utilizar a força interior da criança em relação à educação. Isto é possível? Não apenas é possível, é necessário" (GADOTTI, 1996:152)

De modo geral, a cultura escolar atribui à disciplinas de Línguas a responsabilidade pela formação do aluno como leitor. Entretanto, professores das

demais disciplinas escolares não devem se omitir nesse sentido, delineando estratégias didáticas focadas em eliminar dificuldades apresentadas pelo aluno na leitura e interpretação de textos de qualquer gênero. A proposta vem dos trabalhos de Ezequiel Theodoro da Silva (1988), que afirma que “todo professor é um professor de leitura, independente da disciplina que lecione”. Em especial, essa afirmação se faz verdadeira ao referir-se aos professores da área de ciências. Por que as famílias enviam seus filhos para a escola? Para muitos propósitos, diríamos, entre os quais o "aprender a ler" e, em função desse trabalho, o "ler para aprender". Quer dizer, conseguir uma capacitação para compreender os diferentes tipos de texto que existem em sociedade e, assim, poder participar da dinâmica que é própria do mundo da escrita. Essa expectativa social deve ser assumida e cumprida pela escola através das ações docentes e das práticas curriculares, tendo os professores de observar criticamente o que ocorre em Sociedade. (SILVA, 1988:64)

Isso porque no ensino de Física, as atividades que envolvem a prática da leitura não diferem das demais disciplinas de Ciências: com raras exceções, não tornam explicitos seus objetivos, representando atividades descontextualizadas da teoria fenomenológica em questão. Trata-se de um exercícios desprovido de sentido prático, incapaz de despertar o interesse do aluno para o que a ciência pode lhe oferecer. Tenho afirmado que as questões práticas de leitura escolar, não nascem do acaso nem do autoritarismo ao nível da tarefa, mas sim de uma outra programação envolvendo e devidamente planejada, que incorpore, no projeto de execução, as necessidades, as inquietações e os desejos de alunos-leitores. Simplesmente "mandar o aluno ler" é bem diferente do que envolvê-lo significativamente e democraticamente nas situações de leitura, a partir de temas culminantes (SILVA, 1988:66)

Literatura recente tem defendido a interação entre aulas de Física e as demais áreas do saber. Para Zanetic (1989, 1997, 2006), a ligação entre o Ensino de Física e o enriquecimento cultural do aluno deve ser fortalecido, no sentido de que o desenvolvimento científico é indissociável das esferas sociais e culturais que o produzem. Seguindo este caminho, diversos autores tem discutido o papel da ficção

científica no ensino de Física como ferramenta pedagógica capaz de levar a processos de problematização ativa e investigação cultural por parte dos alunos (Piassi e Pietrocola, 2007). “Como as questões sociais não estão desvinculadas dos aspectos técnico-científicos, é necessário que o professor em formação científica tenha que participar desse debate, que é naturalmente intersdisciplinar. A ficção científica, mais do que se fixar no aspecto das leis naturais envolvidas na bomba atômica ou de qualquer outro tema, suscita um debate entre as implicações sociais das possíveis descobertas, invenções e fenômenos concebíveis. Põe em questão a tecnologia, que é fundamental a vida, que está visceralmente ligada à ciência. O uso da ficção científica é um meio de tratar de questões sociais e tecnológicas sem ensinar tecnologia, sem converter o ensino de ciências em um curso de tecnologia, mas enfocando-o como uma reflexão sobre o presente para um pensar-argir no futuro.” (Piassi e Pietrocola, 2007:143).

Não permitir que o conhecimento físico seja relegado ao simples ato reprodutor de fórmulas durante a resolução de exercícios cujo enunciado pouco tem a ver com o cotidiano do aluno, significa instruir o estudante com o que é produzido pela cultura humana, posicionando-o de forma ativa em sala de aula (Nascimento Jr e Piassi, 2011) para que desenvolva sua capacidade de realizar projetos e vencer desafios, uma das exigências na formação de cidadão plenos e capazes de desdobrar suas concepções de mundo. A capacidade das histórias de ficção científica em proporcionar ao leitor uma sensação de maravilhamento pode ser responsável por gerar interessantes abordagens de ensino: sua adoção como leitura pedagógica auxiliar ao ensino de Física vai ainda de encontro a análise fundamental de Brunowski sobre a atividade científica, comparandoa com a atividade artística, entendendo ambas como atividades culturais capazes de fornecer duas chaves usualmente pouco abordadas em aulas de Física - a imaginação e a criatividade. De diversas maneiras, delimitar estratégias didáticas capazes de apresentar uma

Física contemporânea, detentora de conteúdo cultural, filosófico e social pelo professor é possível, o que contribui para uma melhor assimilação de idéias e conceitos por parte dos alunos. Sua adoção como ferramenta pedagógica auxiliar também pode contribuir para que este objetivo seja alcançado, pois não há a necessidade de um repertório científico prévio por parte do leitor para que possa acompanhar o desenrolar das narrativas, ainda que suas tramas estejam entrelaçadas a fenômenos físicos que de forma comum não são abordados nas aulas de Ensino Médio, como é o caso dos modelos cosmológicos.

Os Quadrinhos na Aula de Física A segunda metade do século XX testemunhou uma proliferação no uso de imagens como fator de comunicação: dos sinais de trânsito aos manuais mecânicos, a leitura visual vem se tornando uma habilidade inseparável do convívio social (McCloud, 2004). Possuidora de uma linguagem que faz uso de mecanismos próprios para conduzir o ato narrativo, aliando imagens ao texto escrito, nem sempre as Histórias em Quadrinhos foram associadas ao ambiente escolar, mesmo constituindo um veículo de comunicação em massa de grande aceitação e popularidade entre jovens em idade escolar (Rama, 2006). Iniciativas para uso de histórias em quadrinhos em treinamento e educação remetem à década de 1940 (Eisner, 1989) e não se restringiram a época de publicação original das revistas: sob o ponto de vista comercial, tem sido uma estratégia eficiente fazer com que diferentes mídias venham a apresentar versões mais palatáveis de um mesmo personagem aos seus públicos, o que possibilita a continuidade de seu processo de consumo. Estudos recentes (Danton, 2005; Ramos, 2009; Vergueiro, 2009;) tem

sugerido a inserção de histórias em quadrinhos no ensino como ferramenta pedagógica auxiliar ao processo de ensino-aprendizagem, enquanto órgãos oficiais de educação vem reconhecendo a importância de inserí-las no currículo escolar, desenvolvendo orientações específicas para este fim e reconhecendo seu emprego pela LDB (Lei de Diretrizes e Bases) e PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais). Sua aplicação no ensino de física é também um assunto já abordado por estudos anteriores (Caruso, 2009; Testoni, 2004). Assim, a linguagem específica das Histórias em Quadrinhos, que usa mecanismos próprios na condução do ato narrativo, permite contextualizar tópicos tidos como de díficil entendimento pelo leitor, o que pode contribuir para tornar o interesse pelo conteúdo de uma disciplina mais prazeroso, sem detrimento de questões individuais que possam ser trabalhadas. Essa contextualização dos fenômenos físicos pelas Histórias em Quadrinhos pode permitir ao leitor acessar o conhecimento científico como ferramenta cultural, em um caminho que vai de encontro às Orientações Curriculares Nacionais de Ciência, Matemática e suas Tecnologias. [...] a escola teria de repensar seu ensino não para funcionar somente dentro de seus muros, mas para ultrapassálos e possibilitar aos seus alunos a continuidade de sua aprendizagem sem a presença do professor. Uma relação didática terá sucesso se modificar as relações com os saberes que o aluno tenha antes dela. (BRASIL, 2006:48)

No que diz respeito ao ensino de Física, incorporar as características distintivas de uma História em Quadrinhos ao viés escolar significa reconhecer seu papel de destaque no sistema global de comunicação, o que favorece sua aproximação com a prática pedagógica por revelar a realidade em que é produzida e consumida, o que convergindo para o caminho delineado por Zanetic (1989) de que a física deve ser transformada em um elemento cultural que trabalhe com o imaginário. “Na verdade, nem a arte nem a ciência são enfandonhas: não há

atividade imaginativa que seja desinteressante para quem estiver disposto a reimaginá-la para si mesmo. Naturalmente, há muitos cientistas que são pessoas pouco interessantes. Por outro lado, posso garantir que muitos artistas merecem a mesma crítica: sei disso por experiência própria, ao longo de toda a minha vida. O trabalho que realizam, contudo, não é aborrecido – nem o do artista, nem o do cientista. Ao trabalhar, os dois estão brincando, imaginando e criando novas situações, o que para eles é o que pode haver de mais divertido. Como será também para nós, se pudermos recriar a sua experimentação” (Bronowski, 1998:40)

Dadas as características próprias de sua linguagem sequencial nos meios visual e discursivo, Histórias em Quadrinhos de Ficção Científica constituem um material que pode ser capaz de desempenhar importante papel no letramento científico de seu público leitor (Nascimento Jr e Piassi, 2011), por apresentar em suas narrativas um retrato do mundo e da sociedade em que são geradas. “É justamente na sensação estranha e prazerosa, que nos permite descobrir coisas novas a cada leitura e que nos induz a querer falar, a conversar com os outros sobre aquele filme ou livro que encontramos a matéria-prima da dinâmica que uma obra é capaz de proporcionar”(Piassi, 2007:148)

Se todo conhecimento produzido é fruto de uma época e um lugar (Zanetic, 1989), pode-se então afirmar que autores de histórias em quadrinhos desempenham o importante papel de formadores de opinião, o que já torna necessário que seja discutido o modo como essa mensagem se transmite em seu meio de ação. É por trabalhar elementos constituintes da realidade que as Histórias em Quadrinhos de ficção científica pertencem ao contexto histórico-cultural em que são produzidas, não sendo geradas de forma isolada de influência por parte de seus autores (Rama, 2006). Abordam fenômenos e experiências científicas em suas histórias, remetendo o leitor à teoria verdadeira através de uma visão subjetiva que é a do artista. Levando em consideração a relação dos estudantes, sobretudo os mais jovens com o conhecimento, que depende diretamente do interesse que este lhes é capaz de despertar, o uso de narrativas gráficas sequenciais é compatível com a idéia de Snyders

de que é nos conteúdos, e não nos métodos, que se busca a fonte de satisfação. “É a renovação dos conteúdos que suscinta a renovação dos métodos, das relações entre professor e aluno, das obrigações e da disciplina”. (Snyders, 1988:187)

A Leitura nas Aulas de Ciências Assim, a leitura nas aulas de ciência pode operar como um instrumento de apropriação conceitual do mundo natural, apropriação essa que não é direta, mas socialmente mediada por palavras, conceitos e representações culturais que construímos a respeito do mundo e que estão expressas não apenas nos artigos científicos das revistas especializadas, mas em todo e qualquer texto em que a ciência esteja presente, explícita ou implicitamente. Isso inclui as obras de divulgação científica, veículos óbvios da conceituação científica com finalidades educacionais, mas também outros produtos culturais menos evidentes, como as revistas de histórias em quadrinhos que trabalhem a ficção e a fantasia. Mais que contribuir para uma melhor assimilação de idéias e conceitos, constituem um material capaz de fornecer um pano de fundo a partir do qual a Ciência passe a ser compreendida como uma atividade cultural humana com interinfluências culturais, políticas e econômicas em relação a outros âmbitos da vida social. Acreditamos que não haja uma história em quadrinhos ingênua, apenas leituras que assim se comportam: discutir o papel desempenhado pelas ciências (e a forma como elas são apresentadas ao leitor) nas histórias em quadrinhos é também discutir o mundo e a sociedade em que vivemos. Uma das características distintivas de cada Ciência é a manipulação de um universo próprio, e é na fronteira entre estes universos que a ficção científica faz suas incursões. Temas e conceitos científicos relacionados à Física são presença comum nas Histórias em Quadrinhos de Ficção Científica, que os apresenta ao

seu público-leitor abrindo a possibilidade de sua exploração como ferramenta didática pelos professores. Relacionar uma discussão

em sala de aula com uma situação

apresentada por uma História em Quadrinhos é possível caso o tema seja tratado de forma objetiva pelo professor, tornando clara ao aluno a relação entre o fenômeno real e sua representação artística (Testoni, 2000). “A história em quadrinhos, ao falar diretamente ao imaginário da criança, preenche suas expectativas e as prepara para a leitura de outras obras. A experiência de folhear as páginas de uma revista em quadrinhos pode gerar e perpetuar o gosto pelo livro impresso, independente de seu conteúdo. Além disso, o aprendizado pelo meio do uso de quadrinhos é mais proveitoso” (SANTOS, 2001:47)

Como veículo midiático, a popularidade das revistas de histórias em quadrinhos é comprovada pelo número de publicações do gênero comercializado mensalmente em bancas de jornais e livrarias, que já passam a disponibilizar uma seção exclusiva ao produto. De forma regular, novas revistas são lançadas para concorrer com as já existentes, explorando um processo de fidelização de seus leitores, o que faz com que os leitores mais antigos influenciem na chegada de novos. A leitura de revistas de histórias em quadrinhos, embora aparentemente descompromissada, é capaz de suscitar a reflexão, a pesquisa e a criação em seu público leitor. Seu poder de alcance como meio de comunicação em massa capaz de informar e educar seus leitores (Rama, 2009) tem levantado discussões no meio acadêmico a respeito da possibilidade

de sua

inserção no processo de ensino-aprendizagem (Ramos, 2009; Rama, 2007) em várias disciplinas do currículo escolar, incluindo a Física (Caruso, 2003; Testoni, 2000) e a Física (Nascimento Jr e Piassi, 2011). A linguagem das Histórias em Quadrinhos é uma ferramenta privilegiada para a condução de informações (Nascimento Jr e Piassi, 2011) dada sua particularidade em unir texto e imagem para narrar uma história. Entretanto, a possibilidade de apresentar um conceito de forma deturpada pode proporcionar a apropriação pelo leitor de uma

visão equivocada do fenômeno envolvido. Dificultar-se-ia assim o entendimento correto dos conceitos científicos inerentes às sua narrativas. Para que tal não ocorra, torna-se necessário investigar a forma com que a linguagem dos quadrinhos, em especial nas histórias que exploram o gênero da ficção científica) incorpora temas relacionados à Física no desenvolvimento de suas narrativas, para que possa ser analisado a melhor forma de explorá-las para contribuir na melhoria da compreensão desses conceitos pelo seu público leitor, comumente formado por jovens em idade de formação escolar. Os Quadrinhos de Ficção Científica Logo após seu surgimento, os quadrinhos de ficção científica adotavam a extrapolação dos limites da tecnologia de sua época como metáfora narrativa, apresentando ao leitor aparatos avançados, muitos dos quais ainda não vieram ainda a se tornar realidade nos dias de hoje. O segundo momento da ficção científica em Quadrinhos se desenvolveu durante a década de 1960, quando editores influenciados pelo ar de divulgação científica presente nas tiras dominicais dos jornais da década anterior buscaram dar ar de destaque à ciência de seus universos ficcionais, flertando de maneira próxima com a ciência: em suas identidades secretas, muitos dos personagens são cientistas ou figuras próximas a eles. Vivemos atualmente a terceira fase de representação da ciência nos quadrinhos (Nascimento Jr e Piassi, 2011), com autores se dedicando a divulgar teorias e antecipar seu avanço, em que as histórias não buscam a ciência apenas fundamentar seus roteiros ou extrapolar a tecnologia, mas apresentam uma reflexão ética e complexa da ciência. Este debate posiciona as revistas em quadrinhos no centro de uma grande discussão epistemológica atual, capaz de influenciar as futuras gerações de cientistas (atualmente, em idade de formação escolar) a novos pontos de vista.

Este terceiro momento, atual, demonstra um amadurecimento das histórias em quadrinhos como veículo de comunicação em massa, dirigido a um leitor crítico capaz de enxergar nos meambros da linguagem gráfica sequencial, aspectos que passariam despercebidos em uma leitura superficial. É necessário uma análise da relação entre as histórias em quadrinhos como fenômeno midiático, a divulgação científica e a necessidade do desenvolvimento de atividades de leitura em sala de aula, traçando pontos de contato ao estudar as possibilidades de sublimação de suas limitações, apresentando as questões sociais e tecnológicas sem ensinar tecnologia, sem desviar o enfoque do curso mas focando em uma reflexão sobre o presente para um pensar/agir no futuro.

A Ciência em Quadrinhos Ainda que aparentemente tênue, Histórias em Quadrinhos de ficção científica possuem uma relação com a Física que é impossível de ser excluída do corpus de cada história, um fato que não passa desapercebido pelo seu público leitor. Isto advém do fato que o conhecimento científico produz, ainda que de forma não-proposital, imagens e representações denominadas eikons e eidons (Klein, 2001) que se fazem necessárias à construção dos contrafactuais exigidos pela estruturação do roteiro das histórias em quadrinhos pertencentes ao gênero em foco. Assim, pode-se tomar a descoberta dos satélites de Júpiter pela luneta de Galileu como exemplo de eikon (imagem científica) que deu origem à sua representação (eidon): um massivo corpo central orbitado por satélites, que por sua vez originou a representação de um Sistema Solar com o sol no centro de órbitas concêntricas dos planetas, uma imagem representativa que se tornou de domínio público e continua a enriquecer a imaginação humana. O exemplo trata de um eidon (representação) que com o tempo se tornou bastante abstrato: a descoberta do modelo atômico de Rutherford-Bohr causou grande impacto nas Histórias em Quadrinhos de ficção científica, ainda que naquele tempo não fosse possível constatar o eikon do átomo. Nesse íterim, em 1933 as tiras dominicais de jornais apresentaram as aventuras de Brick Bradford ao interior de uma moeda de cobre, em uma sequencia de histórias em que o cientista Dr. Kopak orientava o herói ao desbravar os átomos da moeda, dispostos como sistemas solares em miniatura. As consequências desta concepção imaginária pode ter se tornado distante de sua observação científica inicial, além de contaminada por outras imagens e representações ideológicas e filosóficas. Porém, através delas é possível se retornar ào eikon científico original, sem a qual as idéias e a ficção não poderiam ter sido construídas.

Ainda que o eikon esteja diretamente conectado a teoria, possui um forte valor emocional e estético, que pode se tornar bastante abstrado quando incorporado pelo eidon. O que classifica uma História em Quadrinhos como pertencente ao gênero de Ficção Científica é a presença, em algum grau, de eikons e eidons sem os quais não funcionariam como ficção. Não é suficiente que a história apresente uma imagem originada pela ciência para que seja considerada ficção científica: se o eidon representa papel acessório

que pode ser excluído sem que o fio narrativo da história se

decomponha, ela não pode ser considerada ficção científica. É preciso que, ao contrário, o argumento, roteiro e a própria ação dependam dessa imagem para que a história em quadrinhos possa ser considerada ficção científica: um buraco negro é uma abstração físico-matemática difícil de ser propriamente representada, mas isso não o impediu de dar origem a representações populares e ter suas propriedades lógicas supostas ou extrapoladas em diversas histórias em quadrinhos de ficção científica. CONCLUSÕES A interação entre aluno e professor é essencial para que se possam criar as condições necessárias a compreensão de um texto. Entretanto, as poucas atividades relacionadas à leitura tendem a se nortear pela confecção de resumos, relatórios, fichamentos ou resolução de exercícios denominados nos livros didáticos como sendo de “interpretação de textos”, sem que se forneça estímulo suficiente para que o texto se torne compreensível ao aluno. É ainda possível que se encontre atividades “viciadas” que, no lugar de estimular o aluno à leitura do texto, o distancia da compreensão daquilo que lê. Esse questionamento, ao discutir temas de Físicas em texto de divulgação científica no geral, faz pensar no quanto a Ciência em geral e a Física no particular

podem parecer apavorantes quando vistos pelos estudantes em um contexto fora da sala de aula. Apontando em relação ao processo de desenvolvimento de estratégias de leitura eficientes o fato de que o professor é quem deve definir tarefas variadas (e não somente àquelas apresentadas pelo livro didático), criar maneiras de complicá-las significa contribuir para o aumento do nível de compreensão dos alunos, criando condições para que o estudante volte ao texto e o compreenda. É perfeitamente possível a aplicação do gênero história em quadrinhos como ferramenta de ensino para trabalhar o tema em sala de aula (RAMOS, 2009). Cabe ao professor olhar para o objeto e extrair dele tudo o que for pertinente e relevante para a realidade do ensino. Vistas como forma ativa e variada de sentido, temas, elementos e expressões, o leitor encontra nas histórias em quadrinhos motivos para melhor observar a sociedade e a natureza do universo ao seu redor, levando-o a avaliá-los e a se tornar capaz de melhor compreendê-las. Por se tratar de obra de ficção, não significa que os quadrinhos não apresentem conteúdo humano, científico ou social, pois ao tempo em que refletem a realidade vivida por seus autores, os quadrinhos representam ideais e expressam pensamentos por meio de palavras e imagens, características básicas de sua linguagemAs histórias em quadrinhos representam assim mais uma possibilidade de exploração da língua, para uma diversidade de fins e propósitos das palavras o que as torna capaz de desempenhar o papel de ferramenta auxiliar ao desenvolvimento da leitura. As histórias em quadrinhos representam assim mais uma possibilidade de exploração da língua, para uma diversidade de fins e propósitos das palavras, o que as torna capaz de desempenhar o papel de ferramenta auxiliar ao desenvolvimento da leitura necessária ao aprendizado da Física.

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