A Língua e a Cultura Italiana em Portugal: uma visão de conjunto

May 26, 2017 | Autor: N. Alessandrini | Categoria: Portugal, Italy, Relazioni luso-italiane
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Descrição do Produto

Giochi di specchi Modelli, tradizioni, contaminazioni e dinamiche interculturali nei e tra i paesi di lingua portoghese a cura di

Monica Lupetti e Valeria Tocco con Valeria Carta, Sofia Ferreira Andrade, Mauro La Mancusa, Giuliana Paolillo

Edizioni ETS

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Volume pubblicato con il contributo dell’Ambasciata del Portogallo a Roma e del Camões, IP (Cátedra Antero de Quental - Pisa)

Contributi sottoposti a referaggio anonimo è di responsabilità esclusiva di ciascun autore (oltre, ovviamente, al contenuto del contributo) la scelta di seguire o meno l’Accordo Ortografico

© Copyright 2016 Edizioni ETS Piazza Carrara, 16-19, I-56126 Pisa [email protected] www.edizioniets.com Distribuzione Messaggerie Libri SPA Sede legale: via G. Verdi 8 - 20090 Assago (MI) Promozione PDE PROMOZIONE SRL

via Zago 2/2 - 40128 Bologna ISBN 978-884674536-1

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indice

Presentazione Monica Lupetti, Valeria Tocco

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I. Tra Italia e mondi di lingua portoghese

Rita Marnoto Relações culturais Portugal Itália: excentralidade, policentralidade 15 Davide Conrieri Sulle tracce della panthera redolens: variazioni attorno al dialogo tra Italia e Portogallo 33 Nunziatella Alessandrini A Língua e a Cultura Italiana em Portugal: uma visão de conjunto 37 Mariagrazia Russo O presente e o futuro da língua portuguesa na escola italiana 53 Sofia Ferreira Andrade A Embaixada de Agustina 69 Benedito Antunes O macarrônico na literatura brasileira do início do século XX 77 Patricia Peterle Ruínas Orme Manchas: às voltas com Murilo Mendes, Marco Lucchesi e Giorgio Caproni 87 Vera Lúcia de Oliveira Habitar Íntimo: a poesia de Eduardo Dall’Alba 97 II. modernismi

Silvano Peloso Fernando Pessoa e la quarta dimensione dell’arte e della mente 109 Filipa Freitas Fernando Pessoa e o espelho dos poetas 117

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Fabrizio Boscaglia Quem são os infiéis no Quinto Império de Fernando Pessoa? 129 Elisa Alberani Pessoa in Persona: il contributo italiano alla costruzione del “mito” letterario pessoano 151 Mauro La Mancusa La prosa onnivora della Engomadeira di Almada Negreiros 173 Valeria Tocco K4 e la geometria del nonsense 187 III. dialoghi intra e translusofoni

Sonia Netto Salomão Drummond revisita Camões: dos “olhos Gonçalves” ao “coração Mendes” 201 Giovanni Ricciardi Dal «suavíssimo Mondego» al «turvo» Ribeirão do Carmo: la poesia come conoscenza e costruzione sociale della realtà 211 Matteo Rei Olhando os longes: il desiderio della lontananza in Roberto de Mesquita e Camilo Pessanha 223 Duarte Barreiros Forma literária e processo social: semiperiferia do capitalismo na Literatura Brasileira e na Literatura Portuguesa 239 Danielle Corpas Guimarães Rosa e Dostoiévski: dois mestres na periferia do capitalismo 249 Marco Bucaioni Impossível Descolonização – Para um novo enquadramento das literaturas da África Lusofona: perspectivas críticas 259 Simone Celani Intertestualità lusofone: sulla lingua poetica di Rui Knopfli 273 Luca Fazzini Postmoderno e postcoloniale: nuova immagine di sé e dell’altro in Manuel Alegre e Pepetela 285

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Ada Milani Suggestioni lusotropicali: una rilettura di Gilberto Freyre in Africa. Il caso di Mário Pinto de Andrade e Amílcar Cabral 297 Marisa Mourinha O (im)possível regresso: As Naus de Lobo Antunes e O Retorno de Dulce Maria Cardoso 311 Roberto Francavilla L’inferno è più eterno del cielo. Una riscrittura del topos di Inês de Castro 321 Giorgia Casara António Pedro Lopes de Mendonça e a crítica literária moderna em Portugal 327 Federico Bertolazzi Teixeira de Pascoaes e Sophia de Mello Breyner Andresen – Un incontro di paesaggi 339 Elsa Rita dos Santos Contaminações interculturais: dois textos teatrais entre tradição e modernidade 349 Martina Matozzi Un asimmetrico gioco di specchi: Três Vidas ao Espelho di Manuel da Silva Ramos 361 IV. Transdisciplinarità

Caio Di Palma Por uma arquitetura do movimento poético na contemporaneidade 379 Rosa Maria Sequeira Jogo de espelhos no donjuanismo português 387 Roberto Bozzetti Samba e negror dos tempos: os diálogos de Paulinho de Viola nos anos de chumbo 399 Maria Caterina Pincherle Zucchero amaro, dolce inferno e le loro metamorfosi. Da António Vieira a Vik Muniz 411

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V. Traduzione

Andrea Ragusa «Essa aparição que transluz da matéria manufacturada»: sulla traduzione italiana di Frisos e Saltimbancos 429 Ivana Librici La traduzione portoghese de L’Annonce faite à Marie di Paul Claudel 437 Katia de Abreu Chulata Voci brasiliane nella costruzione di identità traduttive 451 Eleonora Ziller Em busca de um Dante à brasileira: a história de uma tradução 469 VI. lingua, lingue, linguistica

Marcos Bagno Por que uma gramática brasileira? 477 Roberto Mulinacci Uma gramática brasileira… e por que não? 489 Vanessa Castagna Opere letterarie e best-seller tra adattamento ortografico e traduzione intralinguistica 495 Cristina Gemmino I canti di capoeira: una ricerca sociolinguistica 505 Marilza de Oliveira Ênclise pronominal: um marcador social da elite política brasileira 523 Simone Gugliotta Paulo Freire & Dom Milani: breve análise textual de práticas pedagógicas revolucionárias 543 Gian Luigi De Rosa Luuanda no processo de elaboração do português angolano 551 Esperança Cardeira, João Paulo Silvestre, Alina Vilalva A especulação das cores 561 Monica Lupetti Teorie e prassi del portoghese nelle grammatiche per italiani, tra XIX e XX secolo 571

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Indice

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Barbara Gori Gli pseudo riflessivi in PE: una questione di inaccusatività? 587 Arlindo Castanho Para a desambiguação do conceito de embodiment 599 appendice. memoria del congresso

Maida Del Sarto Sinossi di un congresso 619 Roberto Francavilla La storia portoghese di Fausto Giaccone 621 Dalia Ghilarducci Memoria e cinema 625 Andrea Bianchini Libri e memoria 627 Mauro La Mancusa Venti Garofani Rossi: omaggio a Tabucchi tra teatro, musica e romanzo 629 Intervista a Isabella Mangani e Simona Baldelli 630

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A Língua e a Cultura Italiana em Portugal: uma visão de conjunto Nunziatella Alessandrini* CHAM - Universidade Nova de Lisboa e Universidade dos Açores

1. Introdução A península italiana, na variedade das suas cidades-estado, manteve com Portugal elos de ligação que, a partir da fundação do reino português (1147), se foram progressivamente estreitando criando relações muito próximas quer ao nível da língua, quer ao nível das relações sociais, económicas, diplomáticas. Estas páginas visam, sem pretensão de exaustividade, apresentar uma perspectiva bastante actualizada de como estas antigas relações levaram a um cada vez mais produtivo intercâmbio cultural e linguístico entre os dois países. De facto, quer do ponto de vista do ensino da língua italiana quer do ponto de vista do aprofundamento do estudo de diversos aspectos culturais, uma plêiade de investigadores italianos tem encontrado em Portugal terreno fértil para os seus estudos, verificando-se, nos últimos anos, um avanço significativo que tem aberto novas e proveitosas pistas de investigação. As fontes utilizadas para o presente contributo consistem quer em resultados de pesquisas efectuadas há alguns anos por professores de italiano a leccionar em Portugal, assim como na recolha e sistematização de eventos incontornáveis na divulgação dos percursos de pesquisa nos diversos campos do intercâmbio cultural luso-italiano. Foi preciosa a colaboração dos colegas que enviaram dados relativos ao estado de saúde do ensino do italiano em Portugal1.

2. A língua italiana nas Universidades portuguesas Em 2010 saiu o número 5 da nova série da revista Estudos Italianos em Portugal, editada pelo Istituto Italiano di Cultura de Lisboa, na altura sob direcção da D.ra Lidia Ramogida, inteiramente dedicado ao ensino da língua italiana em Portugal. Os artigos, coordenados pela professora doutora Rita Marnoto, da Universidade de Coimbra, desenham um amplo e bem definido percurso do ensino da língua italiana nas universidades portuguesas, salientando as di* Bolseira de pós doutoramento pela Fundação para a Ciência e Tecnologia/Ministério da Educação e Ciência. 1 Desejo aqui deixar um sincero agradecimento às professoras: Debora Ricci, Clelia Bettini, e aos professores: Marcello Sacco, Gaspare Trapani, Alberto Sismondini.

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ficuldades de difusão duma língua cuja presença não está prevista nos programas dos estabelecimentos do ensino do 1º, 2º e 3º ciclo. Gostava de lembrar, brevemente, os assuntos incorporados neste volume e integrá-los com alguns dados mais actualizados de modo a apreciar se houve um aumento ou um decréscimo no interesse da aprendizagem da língua italiana. No que diz respeito ao ensino do italiano na Universidade de Coimbra, os artigos de autoria de Rita Marnoto (2010a) e Clelia Bettini (2010) historiam o caminho do ensino da língua italiana em Coimbra desde 1911, altura em que foi criada a Faculdade de Letras, até 2010, completado por uma súmula legislativa normativa do ensino do italiano2. No percurso do ensino da língua e da cultura italianas na Universidade de Coimbra é destacado o prestígio que estas foram ganhando pelo contributo de Guido Battelli, incansável tradutor, editor e divulgador de poetas portugueses3 e estudioso das relações históricas entre Portugal e Itália. Impulsionador da cultura italiana em Portugal e viceversa, Battelli, como assinala Marnoto, introduziu no programa de História da Literatura Italiana que leccionou a partir de 1929, autores do calibre de Carducci, D’Annunzio, Pascoli, entre outros4. Contudo, e apesar dos esforços de personalidades quais Giacinto Manuppella5, foi só em 1978, com a criação da Licenciatura em Línguas e Literaturas Modernas, que a língua e literatura italiana entrou no plano curricular a par das outras disciplinas. Depois da aposentação de Manuppella, a Universidade de Coimbra ficou sem um especialista na área e o grupo de investigadores dispersou-se. Em 1987, no plano de estudos da licenciatura em Línguas e Literaturaturas Modernas, abriu-se a variante de Estudos Portugueses e Italianos na óptica do ensino. O paradoxo, todavia, revelava-se na impossibilidade de ensinar a língua italiana nas escolas. Com a aprovação, em 2006, do modelo de Bolonha por parte da Universidade de Coimbra, a licenciatura em italiano foi reaberta mantendo-se, todavia, o italiano a única língua excluída do ensino das escolas do 1º, 2º e 3º ciclo6. O número de estudantes chegava, no ano lectivo de 2010-2011, a 296, número que sobe para 318 no ano lectivo 2011-20127. A actividade do Instituto de Estudos Italianos da Faculdade de Letras de Coimbra é tratada no texto de Clelia Bettini8 que assinala o forte empenho 2

Marnoto 2010b. Foi o primeiro editor de Florbela Espanca e responsável pela edição de uma antologia da poesia portuguesa em Itália. Cf. Silva 2014. 4 Marnoto 2010a: p. 20. 5 Desde 1957 até 1975 ligado ao Instituto de Estudos Italiano em Coimbra, instituiu um Seminário de Literatura Italiana, que leccionou durante 3 anos lectivos de 1973 a 1975, no âmbito curricular da licenciatura em Filologia Românica. Cf. Marnoto 2010a: pp. 24-25. 6 Marnoto 2010b: p. 51. 7 Cf. Depperu, Ricci 2012: p. 152. 8 Clelia Bettini foi professora de língua italiana em Coimbra até 2010. 3

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do dito instituto na divulgação das iniciativas e no enriquecimento de novas propostas formativas. O ensino da língua italiana é previsto na licenciatura e no mestrado, estando activos seminários de tradução português-italiano (Mestrado em Tradução) e de Literatura e Cultura de Língua Italiana (mestrado em Línguas, Literaturas e Culturas). O doutoramento é previsto em Línguas, Literaturas e Culturas e em Tradução. A língua italiana mantém também um papel de forte atracção para quem está fora das instituições universitárias e que frequentam os cursos do Centro de Línguas da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, com consistente afluência para os níveis A1 e A2. No Centro de Línguas da Universidade de Coimbra houve, no ano lectivo 2013-2014, um total de 144 inscritos. A Universidade de Coimbra colabora no programa de intercâmbio Sócrates/Erasmus através de protocolos com algumas universidades italianas e mantém contactos com os centros DITALS (Certificazioni di Competenza in Didattica dell’Italiano a Stranieri) e CILS (Certificazione di Italiano come Lingua Straniera) da Università per Stranieri di Siena. Para além disso, importa destacar que o italiano é também língua opcional nos cursos de licenciatura em Turismo Lazer e Património e Estudos Europeus. Tabela 19 Universidade de Coimbra

Anno 2010-2011 2011-2012 2013-2014

Totale 296 318 1441

1

Os dados referem-se ao Centro de Língua da Universidade de Coimbra e foram indicados pelo professor Alberto Sismondini a quem agradeço.

O outro pólo de referência dos estudos italianos em Portugal é a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, cujo historial é percorrido por Maria João Almeida10 a partir de 1911. Uma primeira inovação aconteceu com a reforma de 1957 que previa agrupar numa só cadeira o ensino da Língua e da Literatura Italiana, criando, assim, a cadeira de Língua e Literatura Italiana cuja designação manteve até 1974. Tal como aconteceu com a Universidade de Coimbra, foi em 1978 que os Estudos Italianos apresentaram no plano curricular 4 níveis de língua italiana. Actualmente, é prevista a licenciatura com um Major ou Minor em Estudos Italianos no âmbito do curso Línguas Literaturas e Culturas, e no corrente ano lectivo estão activos 4 cursos A1, 1 curso A2; 2 cursos B1, 1 curso C1; os estudantes inscritos para o ano lectivo 2015-2016 somam a 193 no A1; 67 no A2; 6 no C1.1; 18 no 9 Todos os dados relativos aos anos 2010-2012 das tabelas aqui apresentadas foram extraídos do texto de Depperu, Ricci 2012. 10 Almeida 2010: pp. 53-63.

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B1. No centro de Estudos Comparatistas da mesma Universidade há dois investigadores de pós doutoramento, Daniela Di Pasquale e Francesca Negro e, em 2015, houve a apresentação da tese de doutoramento de Fabrizio Boscaglia intitulada A presença árabe-islâmica em Fernando Pessoa. Tabela 2 Universidade de Lisboa

Anno 2010-2011 2011-2012 2015-2016

Totale 415 486 2842

2 Agradeço a colaboração de Debora Ricci e Gaspare Trapani. No entanto, à data de fecho do presente texto, ainda faltam a 2ª e 3ª chamada de inscrições. Trata-se, portanto, de dados ainda muito provisórios. Não foi possível aceder aos dados do ano lectivo passado sendo o portal da Universidade não activo.

No norte do país, no Porto, como relata Giuseppe Mea11, os centros de difusão da língua e cultura italiana eram o Istituto Italiano de Cultura e o leitorado de italiano da Faculdade de Letras. No entanto, o Istituto Italiano foi extinto em 1994 e na Faculdade de Letras a aposentação de Giuseppe Mea e a falta de um novo leitor não permitiram a abertura, prevista em 2008, de um Minor em Estudos Italianos12. Actualmente, o ensino do italiano na Universidade do Porto, ministrado pelo professor Giovanni Battista Tedesco, funciona como Curso de Formação Contínua pós-laboral em número de 6 cursos: 3 cursos de nível elementar e 3 cursos de nível intermédio. Não seguem o quadro de referência europeu (QREN) e a média de inscrições é de 8-10 alunos cada curso13. Para além disso, o italiano no Porto é ensinado em institutos privados de línguas e um papel importante para a difusão da língua e cultura italiana está a cargo do ASCIP (Associazione Socio-Culturale Italiana Dante Alighieri) que organiza cursos de língua, de história e de culinária. Para além disso, promove conferências, excursões culturais, eventos artísticos e musicais. Participa em actividades que visam aumentar e ampliar a cultura italiana e é promotora de qualquer tipo de actividade que ilustre a importância da difusão da língua, da cultura e das tradições italianas. No que diz respeito aos cursos de língua do ano lectivo 2013-2014, foram realizados cursos A1, (127 alunos); A2, (4 alunos); B1 (15 alunos)14. A Universidade do Minho mantém um número considerável de alunos no Instituto de Letras e Ciência Humanas (ILCH) que ronda os 200 alunos no ano lectivo 2014-2015, repartidos aproximativamente nos níveis A1 (100 11

Mea 2010: pp. 65-67. Cf. Santos 2010: pp. 69-70. 13 Agradeço a informação ao professor Giovanni Battista Tedesco, professor auxiliar de Língua e Literatura Italiana e História da Arte na Universidade do Minho e docente de Língua Italiana na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. 14 Agradeço a informação a Simona Melis em nome do General Angelo Arena. 12

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alunos), A2 (50 alunos); B1 (30 alunos)15. Os dados revelam uma constante com anos lectivos mais antigos. Tabela 3 Universidade do Minho

Universidade do Porto ASCIP- Porto

Ano 2010-2011 2011-2012 2014-2015

Total 210 287 180 ca.

Ano 2014-2015

Total 60

Ano 2011-2012 2013-2014

Total 41 131

Um caso à parte é o dos Conservatórios onde o italiano é ensinado por óbvias razões16. O Conservatório de Lisboa mantém inalterado o número de 58 alunos para o ano lectivo em curso17. Tabela 4 Conservatório

Ano 2010-2011 2011-2012 2013 2014-2015

Total 58 58 58 58

No caso das Universidades privadas temos os dados da Universidade Católica onde se constata um decréscimo de presenças18. Tabela 5 Universidade Católica

Ano 2010-2011 2011-2012 2013-2014

Total 176 149 93

15 Agradeço a informação ao ASCIP enviada pelo professor Emanuele Ducrocchi responsável dos cursos ministrados. 16 Sobre o ensino do italiano nos Conservatórios cf. Mioni 2010; Sacco 2010. 17 Agradeço a informação ao professor Marcello Sacco que lecciona italiano quer no Conservatório de Lisboa quer na escola particular Academia de Santa Cecília na Ameixoeira. Para além da profissão de professor de italiano, Marcello Sacco é um notável divulgador da cultura italiana em Portugal e da cultura portuguesa em Itália. Entre a sua considerável produção mencionamos a tradução de Agustina Bessa Luís, Fanny Owen e o livro Salazar. Ascesa e caduta di un dittatore “tecnico”, Besa, 2014. 18 Agradecemos os dados ao professor Gaspare Trapani.

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Para além das Universidades, Conservatórios e Escolas de Línguas, o centro propulsor da divulgação da língua e cultura italiana é o Istituto Italiano di Cultura di Lisbona19. A promoção é efectuada através do ensino e da realização de eventos. Os cursos de Língua são articulados conforme o Quadro de Referência Europeu para as Línguas, estando previstas 480 horas para a conclusão do Curso e a obtenção do Diploma de Língua Italiana. Para além dos cursos de Línguas, o Istituto realiza cursos de conversação, laboratórios de escrita, cursos de Tradução, cursos de Civilização Italiana e cursos Temáticos: História da Literatura Italiana, História da Arte Italiana, História do Cinema Italiano (activo desde 2014), História da Ópera Italiana, História de Itália. Aos sábados realizam-se encontros com crianças italianas ou ítalo-portuguesas para aproximação à língua e à cultura italiana. No instituto realizam-se duas sessões anuais de exames para obtenção do certificado de conhecimento da língua italiana das Universidades de Siena e Perugia, é dada toda a informação sobre bolsas de estudo do governo italiano para cidadãos portugueses que queiram continuar os estudos em Itália e realizar investigações nos sectores mais variados. Dentro dos serviços prestados pelo Instituto assinala-se também o apoio dado às pré-inscrições dos estudantes portugueses nas universidades italianas. O instituto dispõe de uma biblioteca informatizada constituída por cerca de 18.000 livros, 900 videocassetes e DVDs, 180 CDs e CD-Roms assim como várias revistas que abordam áreas diferentes: literatura, narrativa, história, arte, ensaística, musica, cinema, teatro, fotografia e design, etc. Na hemeroteca é possível aceder aos mais conhecidos jornais diários italianos e portugueses. Outro ponto de força do IIC é a revista «Estudos Italianos em Portugal», fundada em 1939 pelo então director Aldo Bizzarri que, depois de uma pausa de 12 anos e na sequência das contínuas e numerosas solicitações do mundo cultural e académico luso-italiano e internacional, retomou a sua publicação em 2005, a fim de dar novamente continuidade a uma iniciativa editorial com mais de cinquenta anos. A coordenação editorial da revista está a cargo da Professora Doutora Rita Marnoto. A apresentação do número anual da Revista costuma ocorrer em Dezembro de cada ano no Istituto Italiano e o número 9 da nova série foi apresentado em Dezembro de 2014 sendo dedicado aos 40 anos do 25 de Abril. No que diz respeito à promoção e difusão da cultura italiana, o IIC promove, organiza e financia uma vasta gama de eventos culturais com o intuito de dar a conhecer ao público português os aspectos mais significativos da cultura contemporânea italiana através da apresentações literárias, ciclos 19 Os dados aqui apresentados referem-se ao ano passado aquando da direcção da D.ra Lidia Ramogida.

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cinematográficos, representações teatrais, espectáculos de dança, concertos de música clássica e contemporânea, exposições de arte, entre outros. Entre os eventos que se realizam com cadência anual, assinala-se: – A Semana da Língua Italiana no Mundo, promovida em 2001 pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros Italiano e pela Academia della Crusca com o alto patrocínio do Presidente da Republica Italiana. Cada ano, sempre no mês de Outubro, cada um dos IIC no mundo propõe durante uma semana uma série de eventos ligados ao tema escolhido para aquele ano. O tema da última edição da Semana, que decorreu entre 20 e 25 de Outubro de 2014, foi: Scrivere la nuova Europa: editoria italiana, autori e lettori nell’era digitale. – 8 ½ Festa do Cinema Italiano, que este ano chegou à 7ª edição e que teve lugar não apenas em Lisboa, mas também em Coimbra, Porto, Loulé, no Algarve, Funchal, Luanda, Maputo20. – O Dia Europeu das Línguas e a Noite Europeia da Literatura, organizados com os parceiros da rede EUNIC Portugal à qual o IIC pertence juntamente com o Goethe Institut, British Council, Institut Français du Portugal, Instituto Cervantes, Instituto Cultural Romeno, Instituto Ibero-Americano da Finlândia, Instituto Camões, Embaixada da Áustria e da República Checa e a representação portuguesa na UE. O Istituto Italiano di Cultura é também parceiro dos seguintes eventos cíclicos: - Ciclos de conferências Relações luso-italianas - Domenica al Cinema - Festival de Almada - Festival Jazz no Goethe Institut - IndieLisboa - Festival de música sacra do baixo Alentejo Terras sem sombras. No que diz respeito aos cursos de língua italiana ministrados no IIC: níveis de A1, A2, B1, B2, C1.1, C1.2, C2.1, C2.2 – cada um com 60 horas lectivas. Em 2013 houve um total de 369 e em Outubro de 2014 contavam-se 372 inscritos.

Istituto Italiano di Cultura Lisbona

Ano 2010-2011 2011-2012 2013 2014

Total 448 363 369 372

20 O 8 ½ Festa do Cinema Italiano é uma iniciativa da Associação Il Sorpasso cuja equipa é constituída por profissionais portugueses e italianos.

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3. Relações luso-italianas: o estado da arte O estudo das relações entre Itália e Portugal despertou o interesse de vários investigadores italianos e estrangeiros que podiam desfrutar da grande quantidade de documentos existentes em arquivos espalhados por toda a Europa. O facto de o reino de Portugal ter sido protagonista da primeira era global, com a abertura do caminho marítimo para a Índia, e os italianos – mercadores, marinheiros, viajantes – terem deixado testemunhos deste momento singular da história portuguesa, fez com que desde muito cedo se começasse a recolher e divulgar cartas, relatos de viagens, entre outros documentos21. Na Itália do Risorgimento, entusiasmada pelas promessas liberais, saiu, em 1842, o primeiro número da revista de história «Archivio Storico Italiano» devido a Giovan Pietro Vieusseux que, até falecer, foi director e editor da mesma. Sendo ainda hoje uma das revistas de História de referência, o «Archivio Storico Italiano», «ove tanto spesso si fece poi della critica storica eccellente»22, contou desde logo com a colaboração dos nomes mais significativos de historiadores italianos e estrangeiros, sendo o interesse pelas relações luso-italianas23 manifesto desde os primeiros números. A publicação de documentos inéditos, directa ou indirectamente relacionados com Portugal, permitiu proceder a um rápido desenvolvimento dos estudos das relações luso-italianas. Recordamos, entres outros, a publicação por Giovanni Scopoli e Iacopo Graber do manuscrito da relação de Lunardo da Cá Masser Relazione di Venezia, supra il commercio dei Portoghesi nell’India dopo la scoperta del Capo di Buona Speranza24, assim como a transcrição por A. Giorgetti25 de duas cartas de Giovanni da Empoli, duas cartas de Raffaello Galli e uma carta de Antonio Pucci, na altura Núncio do Papa Leão X, enviadas de Lisboa em 1514-1515. Além da riqueza da documentação inédita publicada, o «Archivio Storico Italiano» distinguiu-se, desde o século XIX, pela quantidade de informações provenientes do estrangeiro, nomeadamente de Portugal, revelando deste modo uma profunda ligação à produção portuguesa26 e à divulgação de ensaios e estudos que percorrem e aprofundam a história das relações comerciais e políticas luso-italianas nos séculos XV e XVI27. 21 Recordamos,

como exemplo, as colectâneas de Montalboddo e de Ramusio. Gubernatis 1894: p. 263. 23 Sobre o assunto, cf. Russo 1998. 24 «Archivio Storico Italiano», t. II, Appendice n. 10, 1845, pp. 13-48. 25 «Archivio Storico Italiano», t. VI, 1880, pp. 165-173. 26 Como exemplo, salientamos que no número 185 de 1892, é apresentado por José Ramos Coelho, membro da Academia Real das Ciências de Lisboa, o Corpo diplomâtico portuguez contendo os actos e relações políticas e diplomáticas de Portugal com as diversas potências do mundo desde o século XVI até aos nossos dias, publicado por ordem da Academia Real das Sciências de Lisboa (1891), cujo X volume diz respeito às relações de Portugal com a Santa Sé. 27 Para citar alguns exemplos, referimos apenas a recensão de alguns contributos de autores estrangeiros que, desta maneira, foram divulgados no meio italiano. Na secção chamada 22

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A utilização dum acervo documental inédito bem como de fontes impressas antigas produziu estudos que, apesar de parcelares, continuam e devem continuar a ser referenciados nos trabalhos contemporâneos que se debruçam sobre as relações entre a Itália e Portugal. É o caso do artigo de Carlo Canestrini, Intorno alle relazioni commerciali de’ fiorentini co’ portoghesi avanti e dopo la scoperta del Capo di Buona Speranza28, primeira tentativa de oferecer uma panorâmica das relações comerciais entre Portugal e Florença através dos testemunhos inéditos da correspondência dos grãoduques de Toscânia Francesco I e Ferdinando I juntamente com as Carte Strozziane conservadas no Archivio di Stato di Firenze. Historiadores contemporâneos continuam a referenciar as afirmações de Canestrini, evidenciando a actualidade das suas análises oitocentistas. A instituição em 1867 da Società Geografica Italiana, originariamente em Florença e dois anos depois transferida para Roma, ganha importância principalmente aquando das comemorações do IV centenário da Descoberta da América e, em 1898, por ocasião das comemorações da abertura do novo caminho marítimo para a Índia. O estudioso italiano Gustavo Uzielli publica em 1898 na Società Geografica Italiana um ensaio que visa corroborar a hipótese, avançada pelo mesmo historiador em 1894, de que o infante D. Pedro, durante a sua viagem a Itália em 1428 teria conhecido o famoso cosmógrafo florentino Paolo dal Pozzo Toscanelli29. Em 1887 Vincenzo Marchesi publica Le Relazioni tra la Repubblica Veneta e il Portogallo dall’anno 1522 al 179730. Este estudo assenta em documentos dos arquivos venezianos, associando o papel de Veneza no comércio do Mediterrâneo, a partir do fim do século XIV até à viagem de Vasco da Gama. Em 1893 o Visconde de Soveral debruça-se sobre as relações políticas e comerciais entre Veneza e Portugal desde a abertura do caminho para a Índia até à batalha de Alcântara em 1580, e, no início de 1900, Prospero Peragallo31 redige uma obra que continua a ser de referência para quem se quer aproximar a esta temática. Rassegne bibliografiche aparece em 1926, vol. V, anno LXXXIV, pp. 299-306, a informação dada por Arturo Segré do texto de G.A. Goris, Études sur les colonies marchandes méridionales (Portugais, Espagnois, Italiens) à Anvers de 1418 à 1587, Louvain, Librairie universitaire, 1925; em 1967, anno CXXV, disp. IV, pp. 549, a recensão dos Atti del V colloquio internazionale di Storia Marittima, Les aspects internationaux de la découverte océanique aux XVe et XVIe siécles, S.E.V.P.E.N., Lisboa 1966; em 1969, anno CXXVII, Giulio Prunai faz a recensão a Charles Verlinden, Draps des Pays-Bas et du Nord-Ouest de l’Europe au Portugal au XV siècle, 1969. 28 Cf., «Archivio Storico Italiano», 1846, Appendice t. III, pp. 93-110. 29 Gustavo Uzielli, Colloquio avvenuto in Firenze nel luglio 1459 tra gli Ambasciatori del Portogallo e Paolo dal Pozzo Toscanelli, La Società Geografica Italiana, Roma, 1898. 30 Vincenzo Marchesi, Le Relazioni tra la Repubblica Veneta e il Portogallo dall’anno 1522 al 1797, «Archivio Veneto», t. XXXIII e XXXIV, Venezia, 1887. 31 Cenni intorno alla colonia italiana in Portogallo nei secoli XIV, XV, XVI, Stabilimento Papini, Genova, 1907. Reitor da Igreja do Loreto em Lisboa onde entrou em 1865, Prospero Peragallo demitiu-se depois de quase trinta anos de exercício paroquial para regressar a Génova.

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Nas primeiras décadas do século XX, encontramo-nos, utilizando as palavras de Ilaria Luzzana Caraci, perante à «giustificazione nel bisogno politico di recuperare e rivalutare le glorie nazionali di ogni tempo»32. É verdade que entre 1928 e 1939 também a historiografia italiana está marcada pelo nacionalismo. Atente-se no ano de 1926 e na obra de Alberto Magnaghi33, o qual, ao propor uma releitura da documentação relativa a Amerigo Vespucci, reabilitava o navegador florentino utilizando, porém, um tom demasiado polémico que, sempre segundo Luzzana Caraci, foi prejudicial à divulgação do texto no estrangeiro34. Confirmando a peculiar conjuntura italiana destes anos, chamamos à atenção para a publicação de uma colecção exclusivamente dirigida a lembrar histórias de famosos viajantes italianos35. Em 1940 a Reale Accademia d’Italia em Roma publica Relazioni Storiche fra l’Italia e il Portogallo – Memorie e documenti, apresentado por Luigi Federzoni que na introdução expõe, como propósito da publicação do volume, a vontade de a Itália se associar às grandes celebrações de Portugal que «resta fedele alle sue stupende tradizioni ultramarine»36. Federzoni, de 1940 até 1943 Director do Istituto Italiano di Cultura em Lisboa, estabelece um paralelo entre as directivas italianas e portuguesas, evidenciando «posizioni etiche e ideologiche molto simili»37. Através da documentação do arquivo do Istituto Italiano di Cultura levantada por Laura Melania Rocchi38, afigura-se-nos que se assistiu a uma intensa cooperação que visava uma aproximação ideológica entre os dois países39, reforçada em 1939 com a edição do primeiro número da revista «Estudos Italianos em Portugal». Ao longo dos anos, colaboraram nesta revista conceituados autores portugueses e italianos, entre os quais recordamos Virgínia Rau, José da Costa Miranda, José V. de Pina Martins, que de32

Luzzana Caraci 1984: p. 147. Magnaghi 1926. 34 O texto de Magnaghi foi criticado pelos exageros apologéticos por Mota 1973 (p. 14). 35 Três volumes saíram em 1928, nomeadamente, Itinerario di Ludovico Varthema, a cura di P. Giudici, Alpes, Milano, 1928; Viaggio intorno al mondo di Antonio Pigafetta, a cura di Camillo Manfroni, Alpes, Milano, 1928; Le navigazioni Atlantiche di Alvise da Cà da Mosto Antoniotto Usodimare e Niccoloso da Recco, a cura di Rinaldo Caddeo, Alpes, Milano, 1928; Viaggi a’ Tartari di Frate Giovanni da Pian del Carpine (Historia Mongalorum), a cura di Giorgio Pullè, Alpes, Milano, 1929; Il Milione di Marco Polo, a cura di Ranieri Allulli, Alpes, Milano, 1929; Viaggi in Persia, India e Giava di Nicoló de’ Conti, Girolamo Adorno e Girolamo de Santo Stefano, a cura di Mario Longhena, Alpes, Milano, 1929; Historie della vita e dei fatti di Cristoforo Colombo per D. Fernando Colombo suo figlio, a cura di Rinaldo Caddeo, Alpes, Milano, 1930, 2 vols.; Viaggio del Beato Odorico da Pordenone, a cura di Giorgio Pullè, Alpes, Milano, 1931; Giornale di bordo di Cristoforo Colombo (1492-1493), a cura di Rinaldo Caddeo, Alpes, Milano, 1939. 36 AA.VV. 1940: p. V. 37 Idem, p. VII. 38 Cf. Rocchi 2007: pp. 361-362. 39 Em 1937, por exemplo, o embaixador italiano e o então ministro da Educação Português, Carneiro Pacheco, sublinharam as semelhanças entre os movimentos dos Balilla italianos e da Mocidade Portuguesa. Cf. Rocchi 2007: p. 373. 33

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ram um contributo extremamente valioso no desenvolvimento dos estudos luso-italianos. Sensivelmente na mesma altura, sob o patrocínio da Reale Accademia d’Italia são publicados os primeiros 3 volumes da obra de Arturo Farinelli (em 1942 o I e II; em 1944 o III; o IV volume só sairá em 1979), preciosa fonte para o estudo da presença italiana em Portugal através duma “sfilata di memorie” onde se elencam os momentos que marcaram as etapas mais significativas do percurso dos italianos no estrangeiro. Em 1946 um pequeno livro de A.A. Barany, Portogallo e Roma40, traça os contornos da Roma lusitana, debruçando-se sobre os ilustres portugueses que residiram ou viveram na capital italiana desde o século IV quando foi eleito o Papa Dâmaso, oriundo da cidade de Guimarães. Não podemos igualmente esquecer o grande impulsionador das relações culturais entre Itália e Portugal que foi o professor Giuseppe Carlo Rossi que publicou a primeira história da literatura italiana em Portugal41 e a primeira história da literatura portuguesa em Itália42. Estudos pioneiros, apesar das inevitáveis lacunas43. A partir de meados do século XX e usando todo o aparelho crítico de uma nova escrita historiográfica, estudos inovadores de reputados académicos forneceram novos dados para o estudo das relações entre os dois países, sendo os períodos privilegiados os séculos XV e XVI. Recordamos a produção da historiadora Virgínia Rau e a sua frequente colaboração com Federigo Melis que gerou um importante avanço no conhecimento das influências italianas, nomeadamente as influências florentinas, em Portugal nos séculos XIV e XV. Ainda no âmbito dos comércios luso-florentinos de meados do século XV, é de salientar o levantamento dos registos da companhia comercial Da Colle de Pisa efectuada por Marcello Berti no Archivio Salviati de Pisa44. Com os contributos de Marco Spallanzani, os mercadores florentinos envolvidos nas viagens asiáticas ganharam consistência através de fontes inéditas do Archivio di Stato di Firenze45.

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Bernardy 1946. Rossi 1946, sob a direcção de Bento de Jesus Caraça. 42 Rossi 1967. 43 É importante lembrar que Giuseppe Tucci quis que o Istituto Italiano per il Medio ed Estremo Oriente editasse uma série de textos e documentos relativos às relações entre Europa e Oriente intitulada “Nuovo Ramusio”. Publicados pelo Istituto Poligrafico dello Stato, entre outros, Viaggi di C. Federici e G. Balbi alle Indie Orientali, a cura di Olga Pinto (1962); Le navigazioni atlantiche del veneziano Alvise da Mosto (a cura di), T. Gasparrini Leporace (1966); I viaggi in Persia degli ambasciatori veneti Barbaro e Contarini (a cura di), R. Lockhart, R. Morozzo della Rocca e M.F. Tiepolo. 44 Berti 1994: pp. 57-106. No seguimento destes levantamentos, a investigadora portuguesa Joana Sequeira apresentou projecto de pós doutoramento à FCT e, já há 3 anos a trabalhar no arquivo Salviati, organiza conferências internacionais de divulgação da pesquisa. 45 Spallanzani 1997. 41

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No que diz respeito às relações luso-genovesas, Domenico Giuffrè46 compulsou uma série de documentos do Archivio di Stato di Genova e realçou o teor das relações entre Génova e Portugal no período entre 1493 até 1539. No caso de Veneza, é de extrema importância a publicação, em 1997, da colectânea de fontes históricas venezianas de autoria de Julieta Teixeira Marques de Oliveira47. É de realçar, no âmbito dos estudos italianos, o contributo da historiadora Carmen Radulet, incentivadora do diálogo intercultural luso-italiano48. Motriz incansável na realização de colóquios internacionais dedicados às relações luso-italianas Carmen Radulet presidiu, em Setembro de 1998, ao encontro intitulado Case commerciali, banchieri e mercanti italiani in Portogallo. O encontro, sob o patrocínio do Ministero degli Affari Esteri Italiano, teve lugar no Instituto Italiano de Cultura em Lisboa e reuniu investigadores italianos e portugueses no intuito de fazer o ponto da situação sobre um tema caro a Carmen Radulet. Esta breve panorâmica teve o objectivo de assinalar quanto rapidamente se desenvolveu o estudo das relações luso-italianas e, de facto, foi na senda do encontro de Carmen Radulet de 1998 no Istituto Italiano di Cultura que viram a luz os actuais Ciclos de Conferências Luso Italianas que, iniciados em 2011, vão hoje na sua 5ª edição. Organizado por Nunziatella Alessandrini, Mariagrazia Russo, Gaetano Sabatini e Antonella Viola, o 1º ciclo de 2011 foi instituído tendo em vista os 150 anos da União de Itália com o objectivo de fazer um balanço das investigações mais recentes e simultaneamente abrir novas pistas interpretativas e de abordagem. Constituído por 12 conferências, mensalmente cadenciadas (de Janeiro até Dezembro 2011), o 1º ciclo de conferências luso-italianas contou quer com a presença de jovens investigadores italianos, portugueses e brasileiros, quer com afamados estudiosos do calibre de Luís Filipe Barreto, João Paulo Oliveira e Costa, Gaetano Sabatini, Teresa Leonor Vale, Maria José Ferro Tavares, Mariagrazia Russo. A temática das conferências foi a mais variada: da história da arte à história económica, da medicina à religião. A participação dum público heterogéneo e a qualidade das suas intervenções levou-nos a preparar um 2º ciclo em 2012 em que a Arte 46

Gioffrè 1961: pp. 163-316. Salientamos também o contributo de Musso 1977: pp. 377-

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Oliveira 1997. Lembramos alguns contributos: Carmen M. Radulet, Girolamo Sernigi e a importância económica do Oriente, sep. «Revista da Universidade de Coimbra», 1985, pp. 67-77. Devemos também evidenciar a importância da publicação de cartas de Girolamo Sernigi e Guido di Tommaso Detti por parte da autora no volume Vasco da Gama. La prima circumnavigazione dell’Africa (1497-1499), Reggio Emilia, Diabasis, 1994, pp. 169-198. Sucessivamente em tradução portuguesa, Carmen M. Radulet e Luís Filipe F.R. Thomaz, Fontes italianas para a História dos Portugueses no Índico 1497-1513. Códice Riccardiano 1910 de Florença, «Mare Liberum», 18-19, 2000, pp. 247-340. 48

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e a História surgissem numa complementaridade apta a aproximar as duas historiografias. Na organização entrou o professor Pedro Flor do Instituto de História da Arte da Universidade Nova de Lisboa49. O 3º ciclo (2013) surgiu na sequência das problemáticas e do debate levantados nos dois ciclos precedentes e debruçou-se sobre a importância das rotas comerciais e culturais entre Portugal e Itália, rotas onde os cristãos novos portugueses tiveram um papel de relevo. Foi este, um ciclo com 20 conferências, o que bem assinala o interesse acerca da mobilidade de pessoas, mercadorias e ideias que da Península Itálica iam para Portugal e vice-versa, e contou com a presença, na organização, de Susana Mateus da Cátedra de Estudos Sefarditas da Universidade de Lisboa50. O 4º ciclo, (2014) com 15 conferências, foi dedicado inteiramente às relações diplomáticas entre Itália e a Península Ibérica – foi alargado o espaço à Península Ibérica – nas suas mais diversas vertentes e contou com a presença de conceituados estudiosos italianos, portugueses, espanhóis, como Manuel Herrero Sánchez, Marcella Aglietti, Luca Lo Basso, Cármen Sanz Ayán, entre outros. O tópico que iria ser caracterizador do 5º ciclo (2015) surgiu após a obtenção de fundos para a reabilitação e organização do acervo documental do arquivo da Igreja de Nossa Senhora do Loreto. O projecto51 foi apresentado por Nunziatella Alessandrini ao concurso da Fundação Calouste Gulbenkian na primavera de 2014. Após a resposta positiva da Fundação Gulbenkian, iniciaram-se os trabalhos de inventariação, descrição arquivística ao nível do documento e digitalização dos documentos dos séculos XVI e XVII que serão, brevemente, postos online para utilização pública. Uma ferramenta de trabalho imprescindível para quem queira estudar e aprofundar as relações entre Itália e Portugal sendo a documentação, na sua maioria, inédita. Por isso, resolveu-se focalizar o 5º ciclo, que ainda está a decorrer, na apresentação de arquivos portugueses e estrangeiros ou de fundos pouco conhecidos e explorados que possam ajudar na investigação. Os ciclos de conferências luso-italianas tornaram-se uma referência não apenas para quem se debruça sobre Itália e Portugal mas também para quem estuda a história de Portugal, tendo vindo a ser mencionados nos projectos de bolsas de pós-doc apresentados à FCT. Até ao presente saíram três volumes52 e o quarto está em preparação. Outro projecto que está a ser viabilizado, embora não apoiado por qual49

A organização do 2º ciclo foi a seguinte: Alessandrini, Flor, Russo, Sabatini. A organização do 3º ciclo foi a seguinte: Alessandrini, Mateus, Russo, Sabatini. Mantevese a mesma comissão organizadora no 4º e 5º ciclo. 51 500 anos de história luso-italiana: o arquivo da Igreja dos Italianos de Nossa Senhora de Loreto em Lisboa. 1ª fase: catalogação geral e digitalização dos documentos dos séculos XVI e XVII foi financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian e coordenado por Nunziatella Alessandrini. 52 Alessandrini, Russo, Sabatini, Viola 2012; Alessandrini, Flor, Russo, Sabatini 2013; Alessandrini, Mateus, Russo, Sabatini 2015. 50

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quer instituição, é o que tem como protagonistas a mulher de Antonio Tabucchi, a professora Maria José Lencastre, e a investigadora Clelia Bettini que a ajuda na organização do complexo acervo documental deixado pelo escritor italiano e que ainda se encontra parcialmente na posse da família, mas que irá integrar o já existente fundo Antonio Tabucchi da BNF em Paris. Para concluir, uma rápida referência aos investigadores italianos de doutoramento e pós doutoramento que operam em Portugal. É difícil contabilizar, considerando que em algumas Universidades não há listas dos investigadores integrados, mas pode-se afirmar que é uma presença não despicienda que actua em diversas áreas, quer das Humanidades quer das Ciências. Os exemplos que passo a citar querem ser meramente elucidativos da riqueza das suas actividades: Giulia Rossi Vairo e Carmine Cassino, respectivamente doutorandos no Instituto de História da Arte da Universidade Nova de Lisboa e no Centro de História da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, participaram como oradores no 2º e no 5º ciclo de conferências luso-italianas; no Centro de História d’Aquém e d’Além Mar, da Universidade Nova de Lisboa, contamos com a presença de 4 investigadores de pós doutoramento que dedicam o seu estudo sobre a cartografia e o Oriente, sobre a comunidade italiana em Lisboa nos séculos XVI-XVII e sobre as relações artísticas entre Portugal e Itália; no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, estão presentes 5 investigadores italianos de pós doutoramento com pesquisas relacionadas com a história do comércio, história política, estudos de género, entre outras temáticas.

4. Conclusão A abordagem, necessariamente sintética, dos percursos da história do ensino da língua e da difusão da cultura italiana em Portugal, evidencia um interesse sempre presente no conhecimento e aprofundamento destes estudos. A variedade de eventos e a vivacidade das múltiplas actividades, aqui muito sumariamente referidas, são indicador claro do campo imenso de possibilidades que se oferecem no âmbito do estudo das relações entre os dois países, marcadas por séculos de um fecundo diálogo e profícuas realizações.

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