A LINGUAGEM DO FUNK: REINVENTANDO AS NORMAS DO PORTUGUÊS BRASILEIRO

June 8, 2017 | Autor: Mario Diniz | Categoria: Languages and Linguistics
Share Embed


Descrição do Produto

FACULDADES INTEGRADAS DE JACAREPAGUÁ




MÁRIO VITOR DE OLIVEIRA DINIZ












A LINGUAGEM DO FUNK: REINVENTANDO AS NORMAS
DO PORTUGUÊS BRASILEIRO












Rio de Janeiro
2014




MÁRIO VITOR DE OLIVEIRA DINIZ






A LINGUAGEM DO FUNK: REINVENTANDO AS NORMAS
DO PORTUGUÊS BRASILEIRO


Monografia apresentada à Faculdades
Integradas de Jacarepaguá como
requisito parcial para a obtenção do
título de especialista em língua
portuguesa.




Orientadora: Rosimeri Claudiano da
Costa











Rio de Janeiro
2014


MÁRIO VITOR DE OLIVEIRA DINIZ


A LINGUAGEM DO FUNK: REINVENTANDO AS NORMAS
DO PORTUGUÊS BRASILEIRO


Monografia apresentada à Faculdades
Integradas de Jacarepaguá como
requisito parcial para a obtenção do
título de especialista em língua
portuguesa.


Aprovado em ____/____/_____.


BANCA EXAMINADORA


___________________________________________________________________________
Rosimeri Claudiano da Costa - Especialista - Faculdades Integradas de
Jacarepaguá


CONCEITO FINAL: _____________________
AGRADECIMENTOS





Ao meu pai (in memoriam), à minha família, pelo amor e dedicação.
Aos amigos Alessandra Röpke, Anderson Paz, Rose Campos, Sônia Imaculada da
Silva e Stephen P. van Vlack, pelo incentivo e carinho.










































DINIZ, Mário Vitor de Oliveira. A linguagem do funk: Reinventando as normas
do português brasileiro. Faculdades Integradas de Jacarepaguá. Rio de
Janeiro, 34f, 2014.



RESUMO






O presente trabalho analisa a produção linguística na linguagem do
movimento da música funk no Brasil. Foram selecionados textos de músicas de
diversos compositores, principalmente das cidades do Rio de Janeiro e São
Paulo. Eles serviram de corpus para o reconhecimento das estruturas
gramaticais informais e dos processos de criação de novas palavras no
português predominante entre os falantes pertencentes às classes sociais
menos privilegiadas, e que foram adotados pelos compositores. O trabalho
teve como base algumas teorias e estudos de alguns gramáticos e linguistas
que estudam a língua portuguesa do Brasil. Em primeiro lugar, trataram-se
os aspectos morfológicos evidentes nos processos de formação de palavras,
assim como a reinterpretação das regras da flexão nominal da língua
portuguesa pelos compositores. Em segundo lugar, foram abordados os padrões
sintáticos próprios que não seguem os padrões da língua erudita, em
especial o da concordância, que é o mais predominante dentro de todo o
corpo analisado. Em seguida, sua diversidade lexical presente nas
conotações inspiradas no ambiente sociocultural de onde provêm, assim como
também nos estrangeirismos utilizados. A observação macro textual sugere
que a produção da linguagem do universo da música funk está ligada não
somente ao apelo poético de seus compositores, mas também assume uma função
agregadora entre os apreciadores deste gênero musical. Os resultados
mostram que a música funk, mais que qualquer outra manifestação cultural no
Brasil, ousa romper com toda a convenção formal da gramática portuguesa
para reafirmar seu espaço e ser reconhecida como parte integrante do idioma
e cultura nacional.


Palavras-chaves: Processos morfossintáticos. Arbitrariedade na flexão
das palavras. Posicionamento livre dos termos da oração. Reinvenção de
componentes lexicais.


















DINIZ, Mário Vitor de Oliveira. The language of funk: Reinventing the rules
of the Brazilian Portuguese. Faculdades Integradas de Jacarepaguá. Rio de
Janeiro, 34f, 2014.


ABSTRACT


The present work analyzes the linguistic production in the language of
the funk music movement in Brazil. The texts of songs from several
composers mainly from the cities of Rio de Janeiro and São Paulo have been
selected for analysis. They form the corpus for the identification of the
informal grammar structures and of the processes used in the creation of
new words in the Portuguese language which is prevalent among speakers
belonging to less privileged social classes and which have been adopted by
the composers. The work is based on some theories and studies of some
grammarians and linguists who study the Portuguese language of Brazil. In
the first place, the morphological processes evident in songs have been
identified and analyzed. This includes a reinterpretation by the composers
of the rules of noun inflection in Portuguese. A second major concern
centers on syntactic patterns, which do not follow the standards of
classical language. Those that are prevalent within the entire examined
corpus are discussed in the paper. Then the lexical diversity present in
connotations inspired by the sociocultural environment in which they arise,
as well as in used loanwords was examined. The macrotextual observation
suggests that the productivity of the language in the universe of Brazilian
funk music is tied not only to the poetic appeal of their composers, but
also takes an aggregating function among appreciators of this genre of
music. The results show that funk music, more than any other cultural
expression in Brazil, dare to break any formal convention of Portuguese
grammar to reaffirm its space and to be recognized as part of the national
culture and language.


Keywords: Morph syntactic processes. Arbitrariness in inflection of
words. Free positioning of sentence's terms. Reinvention of lexical
components.














































SUMÁRIO



"1 "INTRODUÇÃO "7"
" ".............................................................." "
" "......................................... " "
"1.1 "ASPECTOS NA MORFOLOGIA "8"
" ".............................................................." "
" ".............. " "
"1.1.1 "A formação de palavras "8"
" ".............................................................." "
" "............................ " "
"1.1.1."A abreviação vocabular "8"
"1 ".............................................................." "
" "............................... " "
"1.1.1."A derivação "1"
"2 ".............................................................."1"
" "................................................. " "
"1.1.1."A derivação sufixal "1"
"2.1 ".............................................................."2"
" "...................................... " "
"1.1.1."A derivação parassintética "1"
"2.2 ".............................................................."3"
" ".......................... " "
"1.1.1."A derivação imprópria "1"
"2.3 ".............................................................."4"
" "................................ " "
"1.1.2 "As novas regras da flexão nominal "1"
" ".............................................................."5"
" ".......... " "
"1.2 "ASPECTOS NA SINTAXE "1"
" ".............................................................."6"
" "........................ " "
"1.2.1 "A aleatoriedade na concordância "1"
" ".............................................................."6"
" "............. " "
"1.2.1."Concordância dentro dos sintagmas nominais "1"
"1 ".......................................................... "6"
"1.2.1."Concordância ente o verbo e o sujeito "1"
"2 ".............................................................."7"
" "........ " "
"1.2.2 "A colocação enfática "1"
" ".............................................................."9"
" ".................................. " "
"1.3 "ASPECTOS NA SEMÂNTICA "2"
" ".............................................................."1"
" ".................. " "
"1.3.1 "A força da conotação "2"
" ".............................................................."2"
" "................................. " "
"1.3.2 "Os estrangeirismos "2"
" ".............................................................."7"
" ".................................... " "
"2 "CONSIDERAÇÕES FINAIS "3"
" ".............................................................."3"
" "................... " "
" "REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS "3"
" ".............................................................."4"
" ".... " "


1 INTRODUÇÃO


O funk no Brasil tem ocupado ao longo dos últimos anos um papel de
destaque como forma de expressão de grande parte dos adolescentes e jovens
pertencentes a diversos estratos da sociedade brasileira. Este movimento
musical inspirado na música popular norte-americana e nascido nas
periferias e nas comunidades de muitas cidades brasileiras, tem tido sua
divulgação impulsionada pelos veículos de comunicação, rompendo com
preconceitos e popularizando-se acentuadamente. Os textos de suas canções
apresentam estruturas gramaticais oriundas de uma força de criação
desvinculada dos padrões da língua dita culta, espelhadas numa linguagem
própria que goza de plena autonomia de expressão.
A linguagem do funk é altamente criativa. Ao desconhecer suas normas,
ela produz ou recria regras e estruturas que vão desde a ortografia até a
sintaxe, e que surgem de um conhecimento prévio do sistema da língua, mesmo
quando não perceptível aos sentidos linguísticos de seus criadores.
Toda língua tem como característica seus traços multiculturais
presentes nas suas formas de representação que ultrapassam as imposições
linguísticas sistematizadas pela norma culta. É por isso que se pode dizer
que a língua é o espelho de uma sociedade plural, democrática. Prova disso
é o fato de o Brasil apresentar, além de suas variações dialetais
regionais, uma variação socioletal fortemente relacionada com a
hierarquização social do seu uso. Um bom exemplo desta variante é a
linguagem do funk brasileiro, representada nos textos de suas músicas.
Este trabalho visa apresentar a criatividade da linguagem do funk no
seu léxico, na sua morfologia e na sua sintaxe próprias que surgem do
conhecimento instintivo do sistema da língua, agindo em seus atos de
criação artística por intuição ou analogia com os processos criativos
incutidos na reflexão linguística de todo falante de um idioma.
Com vista nos aspectos coloquial e formal da língua, este trabalho
pretende depreender dos atos criativos na linguagem do funk, os traços que
negam, omitem ou ironizam - nos níveis semântico e morfológico – as normas
e regras da língua dita culta. Para exemplificá-los, serão apresentados
trechos de canções de diversos compositores deste gênero musical.







1.1 ASPECTOS NA MORFOLOGIA

1.1.1 A formação de palavras

Tomando como base a afirmação de Dubois et al. (1978) de que, "Chama-
se FORMAÇÃO DE PALAVRAS o conjunto de processos morfossintáticos que
permitem a criação de unidades novas com base em morfemas lexicais,
observamos que são utilizados os afixos de derivação ou os procedimentos de
composição", observa-se, na linguagem do funk, em maior predominância, a
utilização de um ou outro recurso. As novas palavras ou surgem dentro de um
contexto social e são utilizadas pelos funkeiros, ou são criadas por eles
mesmos. Lapa (1970, p.74) nos chama atenção para o fato de que toda criação
dentro de uma língua deve ser mais propriamente considerada como uma
transformação: "A criação, na língua, se criação se pode chamar, faz-se
sobretudo por transformação do material já existente ou sua utilização para
fins expressivos."
Nos textos das canções do funk, nota-se uma certa obediência aos
padrões gramaticais na formação de novas palavras (o uso dos sufixos
convencionais da língua, por exemplo). No entanto, podem-se criar novas
regras. Dentro de uma infinidade de possibilidades e exemplos no extenso
corpus dos textos da música funk, os casos expostos em seguida constituem
aqueles que se apresentam mais predominantemente nas canções e que mais se
impuseram no uso cotidiano da língua.

1.1.1.1 A abreviação vocabular

A maioria dos gramáticos trata o tema da abreviação vocabular como
recurso de formação de palavras sem detalhar muito o assunto, limitando-se
a justificá-lo pelo mero fato da economia linguística. Cunha e Cintra
(1985), por exemplo, afirmam que, "O ritmo acelerado da vida intensa de
nossos dias obriga-nos, necessariamente, a uma elocução mais rápida.
Economizar tempo e palavras é uma tendência geral do mundo de hoje." Maria
Apparecida S. de Camargo Ferreira, em seu estudo Estrutura e Formação de
Palavras, limita-se a enumerar a abreviação vocabular como um processo à
parte da composição e derivação:

Além dos processos de composição e derivação, podem ser
considerados ainda os seguintes processos de formação de
palavras: 1. Abreviação ou redução – as palavras
apresentam uma forma reduzida: auto (automóvel), foto
(fotografia), pneu (pneumático), moto (motocicleta), quilo
(quilograma) (FERREIRA, 1988, p.24).
Já Cegalla (2001, p.98) procura dividir o fenômeno da abreviação
vocabular em duas categorias: A primeira ele chama de redução, ou seja,
quando o uso da forma reduzida de certa palavra sobrepõe-se ao da forma
plena. Exemplos: auto (por automóvel); cinema (por cinematografia); moto
(por motocicleta); pneu (por pneumático), etc. Em seguida, chama de
simplificação casos como os das palavras zoo (por zoológico) e metrô (do
francês métro, redução de chemin de fer métropolitain, ou seja, estrada de
ferro metropolitano). No entanto, não especifica a diferença entre um e
outro.
Estas especificações gramaticais não bastam por si para explicar o
vasto uso deste recurso, comum a todos os idiomas, que não para de se
enriquecer ao longo dos tempos e vem sendo profundamente explorado pelos
compositores de funk. Esta nomenclatura, por assim dizer, de novas palavras
oriundas da abreviação de outras, reforça a ideia de particularidade, de
separação da linguagem usada em outros meios sociais.
Dentre os muitos exemplos encontrados, apresentam-se em seguida alguns
que se destacam por estarem presentes em canções de mais de um compositor:


AP (por apartamento)
"Vou ter que dar um rolé no AP em Miami."
(Mc Tikão, Festa na Mansão, letras.mus.br, 2014);


CAÔ, às vezes grafado K.O. (abreviatura do inglês knockout,
significando nocaute, por extensão traição, mentira, situação
difícil, etc.)
"O lema é paz, justiça, liberdade
100% humildade, sem neurose e sem caô...
vida de Mc que eu tô vivendo,
vou levando no talento pra vida melhorar."
(Mc Sapão, Diretoria, letras.mus.br, 2014)


"Para com esse K.O. de falar prá geral que eu tô deprimido,
falar que tu é minha vida,
e minha vida se você não faz mais sentido."
(Mc K9, Agora é na Frente, letras.mus.br, 2014)


"Ela não quer K.O.
Não quer briga, nem intriga
É por isso que eu fecho com ela
A minha amizade colorida."
(Mc G7, Amizade Colorida, letras.mus.br, 2014);


COMBO (abreviatura de combinado, kit de várias bebidas vendidas em
balde ou em combinação uma com a outra)
"Ela chega no pagode, junto com as amigas
Manda o segurança pegar 5 pulseirinhas
De área vip, camarote reservado
Pede 5 combo e deixa tudo dominado."
(Mc Tikão, Bloco das Solteiras, letras.mus.br, 2014);


PARÇA (abreviatura de parceiro):
"Deixa os parça de escanteio,
Sobra espaço pra mais seis mulher..."
(Mc Daleste, Angra dos Reis, letras.mus.br, 2014)


"E quando passar, chame atenção dos parça
Pega o Black Label e joga o Chandon na taça..."
(Mc Pikeno e Menor, Terrível, letras.mus.br, 2014);


TOP (abreviatura do inglês top model, top quality significando
legal, desejável, de boa índole, de boa qualidade)
"Ela quer Red Bull, quer Chandon
Big Apple e Absolut
Sabe que é a mais top
por isso tu não se ilude."
(Mc K9, Bandida Roba Cena, letras.mus.br, 2014)


"Mas agora pare, pense, escuta o que vou dizer
se ela te amasse, mano, não te faria sofrer
O pekeno no conselho aqui mano tá dizendo
Você é moleque top porra, tá esquecendo."
(Mc Pikeno e Menor, Conselho de Irmão 2, letras.mus.br, 2014);
SUSSU (abreviatura de sossegado, com alteração vocálica)
"Prá ficar sussu, estoura o Chandon, brinde que elas vêm,
cada qual com seu no bolso só nota de 100."
(Mc Samuka e Nego, Luxo e Camarote, letras.mus.br, 2014).

Na linguagem falada dos dias atuais, já se pode verificar o uso
contínuo dos exemplos citados, evidentemente concentrado em determinados
contextos e entre determinados grupos sociais. Muitos dos exemplos acima
surgiram em ambiente geográfico distinto, mas se espalharam devido à
popularidade das canções e de sua propagação pelos meios de comunicação.

1.1.1.2 A derivação

Coutinho (1970, p.167) refere-se à derivação como um processo de
formação de uma nova palavra por meio da adição de um sufixo, por meio de
uma supressão, ou mesmo pela mudança de sua classe gramatical: "DERIVAÇÃO é
o processo pelo qual de uma palavra já existente se forma uma nova com a
adição de um sufixo, ou supressão, e ainda pela sua transferência para
outra classe de palavras. É um meio comum de que se utiliza a língua para
aumentar o seu patrimônio léxico."
Praticamente em todo o corpus analisado, não foi identificado nenhum
caso de criação de novas palavras por meio da prefixação. No entanto,
seguindo o sistema de formação de novas palavras por meio da sufixação
(recurso de grande valor em diversas línguas), verifica-se na linguagem do
funk a tendência de readaptar as regras deste processo utilizando-se de
maior liberdade na combinação dos sufixos com as palavras primitivas. O
mecanismo de formação de palavras por meio da sufixação na língua
portuguesa representa um dado comum em muitas outras línguas, e nesta
vertente do português brasileiro verifica-se a semelhança com um fenômeno
social de transformação da língua já vivido historicamente: Na língua
latina, foi na sua variante vulgar que a formação de novas palavras se
processou mais intensamente: "A faculdade de formar palavras novas foi
muito limitada no latim, depois que ele atingiu a fase de esplendor, pelo
receio que tinham os escritores de incorrer na pecha de neologistas; no
latim vulgar, porém, ela se desenvolveu prodigiosamente." (COUTINHO, 1970,
p. 167).
No caso da variante brasileira do português, as maiores transformações
estão acontecendo justamente na língua falada pelas classes menos
privilegiadas com menor acesso à educação e aos meios de cultura. Muitas
delas vêm com uma carga de expressão tão forte que conseguem romper
barreiras e infiltrar-se em outras classes sociais, principalmente quando
são divulgadas pelos meios de comunicação.


1.1.1.2.1 A derivação sufixal


Sufixo –ÃO (formando aumentativos)
Nota-se um grande número de palavras formadas com o sufixo -ão, que é,
por excelência, o formador dos aumentativos em português, seja unindo-se a
substantivos ou a adjetivos. Nos adjetivos, geralmente serve para reforçar
seu significado, ou ampliá-lo, por vezes até para ressaltar seu sentido
pejorativo.


FIRMÃO (muito firme, muito seguro de si)
"Tô firmão de cabeça erguida,
cantando meu funk e eu sigo em frente."
(Mc Guimê, Você vale o que tem, letras.mus.br, 2014);
TRANQUILÃO (muito tranquilo, sossegado)
"Eu tô tranquilão, tô numa boa
tô curtindo o batidão."
(Mc Sapão, Tô tranquilão, letras.mus.br, 2014).


No entanto, em diversos contextos analisados, forma novos substantivos
aumentativos que, em alguns casos, servem mais para reforçar a ideia da
importância do que a da dimensão propriamente dita do objeto em questão:


CORDÃOZÃO (cordão grosso e de alto valor)
"O perfume é Paco Rabanne
Só cordãozão de ouro no pescoço."
(Mc Frank, Dinheiro não é problema, letras.mus.br, 2014);
LIVRÃO (referindo-se à Biblia e à extensão de seu conteúdo)
"Tá escrito no livrão, meu papo tem fundamento
Não cobiçai a mulher do irmão é um dos 10 mandamentos."
(Mc Frank, Mulher de amigo, letras.mus.br, 2014);


Sufixo -EIRO (formando adjetivos)
O sufixo de formação de adjetivos que mais predomina nos textos de
música funk é o sufixo -eiro. Percebe-se que não se usam outros prefixos
formadores de adjetivos predominantes na língua portuguesa (por exemplo,
-ário):


FUNKEIRO (aquele que compõe ou aprecia o funk)
"Eu sou brasileiro, sou do Rio de Janeiro, demorô
eu sou funkeiro sim, oi, por favor..."
(Os Hawaianos, Eu sou Brasileiro, letras.mus.br, 2014);
BALADEIRO (aquele ou aquela que curte sair à noite, sair nas
baladas)
"Esses são os meninos que as meninas gosta
Baladeiro mesmo e deixa que vai segurando, muleke..."
(Mc Pikeno e Menor, Os meninos que as meninas gosta, letras.mus.br,
2014);
CAOZEIRA (mulher que trai, que mente)
"Pras mulheres caozeiras do baile
Vai dançando e depois eu explico."
(Mc K9, Desce pra me convencer, letras.mus.br, 2014).


Sufixos formadores de substantivos (-AGEM, -ETE)


CROCODILAGEM (traição, quebra de confiança, mentira)
"Não é só tu bancar o bandido esperto
e na crocodilagem ferir os irmãos."
(Mc Orelha, Se deixou levar pelo poder, letras.mus.br, 2014);
PIRIGUETE (mulher fácil vai atrás de homens que paguem tudo para
ela)
"O meu amor de piriguete explodiu
Pega a sua inveja e vai..."
(Valesca Popozuda, Beijinho no ombro, letras.mus.br, 2014).


1.1.1.2.2 A derivação parassintética


A derivação parassintética, na língua portuguesa, pode ser nominal ou
verbal. Nos textos de música funk, há casos de derivação parassintética,
embora não sejam tão predominantes. Na maior parte das vezes, tratam-se de
verbos da primeira e segunda conjugação criados a partir de substantivos
acrescentando-lhes uma desinência de infinitivo, embora não dicionarizados
e fora dos padrões da língua culta. É curioso observar que a maioria dos
casos de para-sintetismo no português proveio da combinação do processo de
derivação sufixal, com o da prefixação (embarcar, anoitecer, envelhecer,
etc.).
"A PARASSÍNTESE é particularmente produtiva nos verbos, e a principal
função dos prefixos vernáculos a- e em- (en-) é a de participar desse tipo
especial de derivação." (CUNHA; CINTRA, 1985, p.101).
No entanto, na língua do funk, geralmente, a formação de novos verbos
comumente se processa sem a participação da prefixação. Aliás, no
dicionário de Ferreira (2007, p. 106), em referência ao substantivo
barulho, verificam-se seus derivados "barulhada, barulheira, barulhento,
sem ocorrência de "embarulhar", ou muito menos "barulhar:


BARULHAR (cortejar)
"Que te peguei, barulhei, botei, soltei
Só falei a realidade quando tu me satisfez."
(Mc Guimê, Ela é aquela, letras.mus.br, 2014).


1.1.1.2.3 A derivação imprópria

Fugindo ao padrão mais comum de derivação imprópria no português,
quando a substantivação dos vocábulos se processa por meio da anteposição
dos artigos, no caso dos textos das músicas funk observamos uma livre
substantivação sem uso de artigos:

PISTA, RUA (substantivos com valor de adjetivo: ágil, astuto,
vigilante)
"Tamo aí na atividade, pronto pro que vier
Nós é pista, nós é rua, malandragem e mulher."
(Mc Guimê, Na Atividade, letras.mus.br, 2014);
PATRÃO (substantivo com valor de adjetivo: poderoso)
"Tapa, tapa, tapa, tá patrão
Tênis Nike Shox, Bermuda da Oakley,
Camisa da Oakley, olha a situação."
(Mc Guimê, Tá patrão, letras.mus.br, 2014).


1.1.2 As novas regras da flexão nominal

Quanto à flexão nominal, verifica-se nos textos das músicas de ritmo
funk a predominância do livre arbítrio na flexão dos substantivos, fato
vastamente marcado pela não concordância entre determinantes e
determinados. Nota-se a preferência, quase universal, pelo morfema zero de
plural quase sempre nos determinados. São os termos determinantes que
geralmente registram a noção de plural nos sintagmas, com exceção dos
predicativos de sujeito nos períodos em que o sujeito já traz um
determinante com a marca do plural:


Morfema zero de plural no núcleo do sujeito muleque e no predicativo
dengoso
"Esse é a malha do funk
Os muleque são dengoso
Vem prá cá tchutchuca linda
Os muleque são dengoso."
(Malha Funk, Malha Funk, letras.mus.br, 2014);
Morfema zero de plural nos núcleo do objeto direto menina e parça
"Ninguém dorme hoje, e a noite é uma criança
Chama as menina e os parça da hora
Pode vim que a festa começa agora."
(Mc Pikeno e Menor, Os menino que as menina gosta, letras.mus.br,
2014).

Em todos estes casos verifica-se a não flexão dos substantivos,
talvez por se julgar redundante a ideia de plural já expressa na flexão dos
artigos.

Morfema zero de plural no núcleo do sujeito e do predicativo do
sujeito
"Se eu to no litoral, praia água de coco
E umas cachorra já no esquema envolvida
To com a maldade, geralmente muito louco..."
(Mc Boy do Charmes, Dinheiro e ousadia, letras.mus.br, 2014)


Neste caso o termo determinante flexionado é um artigo indefinido
(umas).


Morfema zero do núcleo do objeto indireto novinha
"E nas balada camarote e área vip
Tem absolut sem whisky
Onde só cola a gerência
E pra todas novinha a gente dá uma condição."
(Mc Boy dos Charmes, Dinheiro e ousadia, letras.mus.br, 2014)

Nestes casos, é o pronome indefinido (todas) o único termo flexionado
no plural, repetindo o fato verificado nos artigos definidos.
Verifica-se, enfim, como já mencionado, que os termos determinantes
são de importância fundamental para expressar a noção de plural dos
sintagmas nominais.

1.2 ASPECTOS NA SINTAXE

A sintaxe no português, como em outras línguas, garante a coesão das
ideias que são apresentadas dentro de um texto. Ela fornece esquemas
através dos quais a produção linguística é processada para a criação do
discurso. Pelo menos na língua dita culta, é assim que deve funcionar. Mas
quando são analisados textos provenientes de uma linguagem que, por meio do
estabelecimento de suas próprias regras sintáticas, quer se destacar,
percebe-se que neles formam-se novos esquemas sintáticos próprios e
coerentes com a linguagem a que se referem.
Os textos do funk brasileiro procuram realizar seu intento poético
baseado em recursos sintáticos que se destaquem dos convencionais. Há a
intenção de criar um idioma novo, próprio, que caracterize e legitime o
contexto social de onde provém. Os exemplos que serão expostos a seguir
constituem apenas uma pequena parte de todos estes recursos criados na
linguagem do funk.

1.2.1 A aleatoriedade na concordância

1.2.1.1 Concordância dentro dos sintagmas nominais

Talvez o traço mais característico da linguagem do funk esteja na
concordância nominal dos termos da oração. Como já foi exposto no tópico
sobre a flexão nominal, existe uma tendência por parte dos falantes a
determinarem por conta própria onde esta flexão será empregada ou não.
Observa-se esta tendência mais fortemente entre os falantes de português
nas comunidades das grandes cidades brasileiras.
O caso mais clássico é a não concordância dentro dos sintagmas
nominais, onde determinados e determinantes não concordam entre si. Neles,
é bastante comum a flexão do plural se processar apenas nos termos
determinantes, principalmente quando é um artigo definido, em negação à
concordância:

"Os preto da favela aqui virou linha de frente."
(Mv Bill, O Bonde não para, letras.mus.br, 2014);
"Contando os plaque de 100, dentro de um Citroën."
(Mc Guimê, Plaque de 100, letras.mus.br, 2014);
"Banheira de hidromassagem com as mina passando nua."
(Mc Catra, Mansão Thug Stronda, letras.mus.br, 2014);
"Tamo na picadilha pra esculachar os covarde."
(Mc Pikeno e Menou, Desacreditou, letras.mus.br, 2014).

Embora não se pretenda neste trabalho adentrar-se pelo campo da
sociolinguística, percebe-se que esta tendência muitas vezes parece ocorrer
de forma deliberada, já que num mesmo período observam-se sintagmas com
termos concordando entre si seguidos de outros que não obedecem à
concordância, sugerindo um certo tom depreciativo ou pejorativo ao grupo
não flexionado:

"Os caras saindo da favela e as bandida virou linha de frente."
(Mv Bill, O Bonde não para, letras.mus.br, 2014)

Também não é raro encontrar casos em que nem a força semântica dos
numerais influencie na concordância dos termos:


"Aqui o ritmo é insano e os pela entra em desespero
é tipo vinte mulher linda para cinco parceiro."
(Mr. Catra, Mansão Thug Stronda, letras.mus.br, 2014)

1.2.1.2 Concordância entre o sujeito e o verbo

Outra grande característica dos textos das músicas do ritmo funk é a
não concordância do sujeito com o verbo do predicado. Por exemplo, há a
preferência em exprimir um grau de intimidade usando-se o pronome de
tratamento tu, no entanto - assim como se verifica em outros linguajares do
português do Brasil - o verbo é conjugado predominantemente na terceira e
não na segunda pessoa do singular:

"6368/76 do artigo 16
se tu rodar o que tu pode pagar
e nem precisa explicar o que tu faz, o que tu fez."
(Mr Catra, Baseado na Lei do Samba, letras.mus.br, 2014);
"Essa é a aula de dança do grupo dos hawaianos
E primeiro pra aquecer tu tem que vir movimentando."
(Os Hawaianos, Só movimentando, letras.mus.br, 2014).

Quando o sujeito é introduzido pelo pronome nós, o verbo geralmente é
conjugado na terceira pessoa do singular, e não na primeira do plural.
Aliás, este fato é bem usual no linguajar brasileiro, onde ocorre entre os
falantes uma certa "hesitação", talvez por analogia, na escolha entre o
pronome nós e a expressão coloquial a gente, resultando na concordância
errada do verbo com o pronome de primeira pessoa do plural nós pela
expressão, onde o verbo conjuga-se na terceira pessoa do singular:

"Mas vem todas vocês,
que a responsa nós assume."
(Mc Guimê, Isso que é vida, letras.mus.br, 2014);
"A noite chegou, nós partiu pro baile funk."
(Mc Guimê, Plaque de 100, letras.mus.br, 2014).


Quando os sintagmas nominais apresentam um desvio de concordância
entre o termo determinante e determinado, a concordância verbal obedece à
flexão do termo determinado. O caso abaixo é um caso típico de
interpretação do sintagma inteiro como um sujeito coletivo:

"Os preto da favela aqui virou linha de frente."
(Mv Bill, O Bonde não Para, letras.mus.br, 2014)

No entanto, também a concordância entre sujeito e predicado se
processa de forma aleatória, ora obedecendo à norma culta, ora fugindo
dela:
"A pretinha e a loirinha
As morenas são demais
se amarra em coisa louca
Tão sempre pedindo mais."
(Bonde do Tigrão, Dança da Cabra Cega, letras.mus.br, 2014);
"É uma nova brincadeira
Vocês vão se amarrar
Fecha os olhos, vem brincar
Que o tigrão vai te ensinar."
(Bonde do Tigrão, Cobra Cega, letras.mus.br, 2014).

1.2.2 A colocação enfática

A linguagem do funk traz em si uma característica expressiva bem
tradicional na produção textual da poesia: a liberdade na escolha do
posicionamento dos termos dentro de uma oração. Como nos afirma Cegalla
(2001, p.484), sabemos que, "A colocação das palavras na frase, em
português, não é arbitrária, mas pode variar de acordo com o tipo e o
objetivo da mensagem falada e escrita."
Cegalla (2001) refere-se aos dois tipos de disposição dos termos na
frase em português: a ordem direta (quando os termos regentes precedem os
termos regidos), e a inversa (quando a sequência normal dos termos é
alterada), sendo esta última mais predominante na poesia e na linguagem
afetiva. A linguagem do funk procura sempre se opor a esta ordem, inclusive
na disposição das orações dentro dos períodos. Cegalla (2001, p.489)
conclui que, "Escrevendo, cumpre fugir à monotonia da ordem direta e
assegurar à frase harmonia e variedade de ritmo, usando, com equilíbrio e
bom gosto, ora uma, ora outra ordem."
No entanto, percebe-se um intuito maior por parte do compositor funk,
ele procura impor uma linguagem atípica para sinalizar a sua linguagem
própria, indicar sua particularidade, sobretudo dar força à sua expressão.
Percebe-se esta clara intenção, fato bem observado por Said Ali (1964)
quando diz que, "A deslocação é anomalia, e a anomalia aguça a atenção do
ouvinte."
Quanto aos inúmeros exemplos desta colocação enfática, serão
apresentados em seguida aqueles que ocorrem com maior frequência e, por
esta razão, merecem ser destacados:

Inversão da ordem dos adjuntos e complementos nominais.
"Usa e abusa, de tequila tá maluca."
(Mc Guimê, Isso que é vida, letras.mus.br, 2014)


"Rolê no shopping nós tá lá toda semana."
(Mc Boy do Charmes, Dinheiro e ousadia, letras.mus.br, 2014)


"De transporte nós tá bem,"
(Mc Guimê, Plaque de100, letras.mus.br, 2014)


"Com os brilhos das joias no corpo de longe elas mira."
(Mc Guimê/Plaque de 100)


"Nas horas mais difíceis me ajudou a superar."
(Mc Daleste, Em teu olhar, letras.mus.br, 2014)

Inversão da ordem das orações.
Nos textos da música funk, a ordem das orações dentro do período se
processa de maneira livre, principalmente quando se quer enfatizar a
oração que não é a principal.
"Chandon na mesa, quando estoura, cola as menina."
(Mc Boy do Charmes, Nós de nave, letras.mus.br, 2014)

Observa-se, também, a intercalação de orações que, à primeira vista,
parecem "soltas", "desconexas", dentro do período. O que se verifica,
no exemplo a seguir, são duas orações subordinadas não coordenadas
entre si, que se referem à mesma oração principal.
"Só porque o namorado terminou com ela
Que ela só pensava em chorar,
muito errado você tá."
(Mc Pikeno e Menor, Toda Toda, letras.mus.br, 2014)

No exemplo seguinte, também há a preferência em colocar as
subordinadas antepostas à principal, certamente para dar-lhes maior
ênfase.
"O que é meu, é meu
Ninguém tira, eu vou falar
Talento é talento
Impossível de explicar."
(Mc Dedé, Talento é Talento, letras.mus.br, 2014)


"A arte de um profissional
De um dançarino experiente
Pra chegar aonde chegou
Teve que fazer diferente."
(Os Hawaianos, Dançarino Experiente, letras.mus.br, 2014)

Em todos estes casos, a posição das orações não altera o significado
geral do período. Percebe-se, nestes casos, a intenção de, por meio deste
recurso estilístico, representar o domínio que o falante tem sobre a
flexibilidade da ordem que as orações têm dentro do período.

1.3 ASPECTOS NA SEMÂNTICA

Nas composições de música funk, observa-se uma trajetória na narração
de suas construções linguísticas que tem a finalidade de despertar a
atenção do público a quem se destinam. Sabe-se que as letras da música
surgem do contexto sócio-histórico da maioria de seus ouvintes, ou seja,
integrantes das camadas menos privilegiadas, geralmente concentradas nas
comunidades e periferias das cidades. O fato de sua popularidade ter se
propagado em outras camadas sociais deve-se puramente ao modismo, já que
neste caso não se pode afirmar que haja uma relação de referência cultural
entre a mensagem transmitida nos textos fora deste contexto sócio-
histórico.
Considerando que a semântica seja responsável pelo sentido do texto,
é importante não perder de vista a ideia de que o uso de palavras,
expressões, construções sintáticas, etc. que fujam aos padrões cultos de
uma língua, melhor sejam aceitos e transmitidos dentro de seu contexto
histórico-social. Somente a partir de sua divulgação pelos meios de
comunicação convencionais (rádio, televisão), e do âmbito do mundo digital,
é que passarão a ser entendidas e por vezes usadas fora dele. É o caso de
palavras como o exemplo piriguete, cujo uso se expandiu por todos os
estratos sociais após a palavra ter sido divulgada numa telenovela. Pode-se
falar, neste caso, de um empréstimo dentro da própria língua, ao qual,
Joaquim Mattoso Camara Junior se refere em seu Princípios de Linguística
Geral:

"Com efeito, já não nos circunscrevemos com isso ao
influxo das línguas estrangeiras rigorosamente ditas.
Dentro da própria coletividade, há uma interinfluência das
línguas locais, ou FALARES, em que se divide regionalmente
a língua de uma nação; e o sistema tradicional de cada um
deles assim sofre mudanças por empréstimo". (CAMARA
JUNIOR, 1964, p.192)


De fato, cabe ressaltar que a novidade do léxico na linguagem do funk
não só reside na criação de novas palavras, mas também na reinvenção de
componentes do léxico do idioma, que recebem novas conotações, ou muitas
vezes têm seus significados primários invertidos. Em geral, estes
componentes são adaptados à realidade linguística que os cercam. Neste
caso, seria possível classificar esta linguagem como um dialeto social,
desde que se entenda por essa designação um sistema de signos e regras
sintáticas que é usado por determinado grupo social, ou mesmo a
manifestação da vontade de pertencer ou de se referir a ele.
Nos tópicos seguintes, serão apresentados alguns exemplos destes
fatos linguísticos característicos na linguagem destes artistas que
procuram ser fiéis à reprodução da linguagem predominante no contexto sócio
cultural que servem de fonte inspiradora. Esta linguagem tem existido, é
necessário dizer, mais fortemente na linguagem falada. As letras das
músicas funk são o único registro escrito de que se tem notícia sobre esse
fenômeno linguístico cheio de modificações vigentes características desta
vertente do português brasileiro atual.

1.3.1. A força da conotação

Cegalla (2001, p.288) afirma que, "Como se vê, certas palavras têm
grande poder evocativo, uma extraordinária carga semântica: são capazes de
sugerir muito mais do que o objeto designado, desencadeando, conforme a
situação, ideias, sentimentos e emoções de toda ordem." Também Lapa (1970,
p.10) ressalta esta subjetividade de um falante, assim como sua
participação ativa no uso do léxico, quando diz que, "As palavras suscitam
em nós as imagens das coisas a que se referem; mas como essas coisas podem
revestir vários aspectos, cada um de nós apreende na palavra o seu aspecto
pessoal, aquele que particularmente lhe interessa."
E, mais adiante, Lapa (1970) complementa, "Já se tem afirmado que numa
simples palavra se pode resumir todo o universo. Quer isto dizer que um
vocábulo pode suscitar uma infinidade de imagens e ideias que abranjam
todos os domínios do pensamento e da vida."
De fato, na conotação entra em jogo uma associação subjetiva, cultural
e/ou emocional das palavras, além de seu significado objetivo e literal,
outorgando à língua a capacidade de estar em constante evolução, devido a
sua riqueza, versatilidade e criatividade. As palavras adquirem por meio da
conotação um sentido incomum, figurado, circunstancial que depende sempre
do contexto.
A conotação tem a propriedade de ampliar os significados das palavras,
dando-lhes um sentido simbólico, além de ter a função de destacar a atitude
linguística do falante quando ele as utiliza. Na música funk, além do apelo
afetivo conferido às conotações, também não se deve ignorar que venha como
recurso poético da linguagem, com o objetivo de estimular sua receptividade
por meio de um forte cunho expressivo. Seguem alguns exemplos:

BONDE é a palavra designada para especificar um grupo de amigos que
estão sempre juntos, ou que têm um objetivo em comum. É uma gíria
comumente usada pelos funkeiros quando querem ressaltar a estreiteza
de seus laços de amizade. O Dicionário inFormal online descreve bonde
como Gíria usada nos bairros da periferia como Clan, Grupos de amigos
quem sempre estão juntos quando precisar (DICIONÁRIO INFORMAL, 2009).
"Os cara saindo da favela e as bandida na garupa
O resto do bonde os cara tava de C3..."
(Mc Boy do Charmes, Dinheiro e ousadia, letras.mus.br, 2014)


"O bonde tá formado, Mv Bill, Kamilla cdd, junto e misturado, é lado a
lado."
(Mv Bill, O bonde não para, letras.mus.br, 2014)


"Chegou já parando a balada
Mandando beijinho para as recalcadas.
Se envolveu com o nosso bonde,
sabe qual é o transporte para casa."
(Mc Guimê, Isso que é vida, letras.mus.br, 2014)


PAPO RETO quer dizer falar diretamente e somente a verdade; não ter
medo de ser sincero e dizer a verdade. Em geral, para enfatizar que o
assunto dever ser levado muito a sério.
"Não adianta criticar neguim, eu mando um papo reto."
(David Bolado, Cidadão correto, letras.mus.br, 2014)


"Favela é só papo reto, não somos fãs de canalha,
sou guerreiro, sou certo e não admito falha."
(Mc Sapão, Diretoria, letras.mus.br, 2014)


"Pode crer, diz aí, quem diria o moleque cresceu,
cria da comunidade Cidade de Deus, pé no chão
olhos e sonhos acima das nuvens, das nuvens,
dinheiro não, só coração, humildade, disciplina e saúde,
diálogo certo, um papo reto espero que ajude."
(Os Hawaianos, Sou brasileiro, letras.mus.br, 2014)


PENTE o Dicionário inFormal online descreve pente como gíria,
significa "sexo", "transa" (DICIONÁRIO INFORMAL, 2010).
"Tá sozinha
Está carente?
Tá resolvida?
Quer tomar um pente?"
(Os Hawaianos, Crente que vai me enganar, letras.mus.br, 2014)


"Sabe aquela jura sempre dita em nosso ouvido?
Não há coisa melhor do que um pente escondido."
(Os Hawaianos, Crente que vai me enganar, letras.mus.br, 2014)


"a festinha tá rolando, só gente selecionada
as mulher são nacional, mas a bebida é importada
sacanagem rola na piscina, é um pente coletivo
tipo o filme pornô, mas com transmissão ao vivo."
(Mc Smith, Rotina de patrão, letras.mus.br, 2014)


BICHO designa que uma pessoa tem qualidades no que pensa, no que
faz, no que atua. Significa o mesmo que "muito bom, muito eficiente,
muito corajoso, etc."
"Sou rebolão, bandido
Na cama sou brabo, muito sinistro
Na hora do amor eu sou o bicho
Faço no talento e no capricho."
(Os Hawaianos, Agora é Chefe, letras.mus.br, 2014)


"Ela é discreta
E cultua bons livros
E ama os animais
Tá ligado, eu sou o bicho."

(Charlie Brown Jr, Ela vai voltar (Todos os defeitos de uma mulher
perfeita), letras.mus.br, 2014)


MORAL (confiança, respeito)
"Quando a gente dá moral pra elas
Elas vivem arrumando caô."
(Mc K9, Desce pra me convencer, letras.mus.br, 2014)


"Moleque desce a favela cheio de ódio
A conquistar o seu lugar em cima do pódio
Moleque foi crescendo, ganhou moral de cria
Fechou com o movimento e virou diretoria."
(Mc Chavero, Moleque da favela, letras.mus.br, 2014)


FEROZ significa alguém que tem resistência, que é valente, corajoso.
"Com a sagacidade de um animal veloz
Quem é pisoteado a vida ensina a ser feroz."
(Mv Bill, O Bonde não para, letras.mus.br, 2014)


"De ferro na cintura, autoritário e valente.
Ele mesmo se garante, bate de frente.
Segura o moleque que ele é bicho feroz.
Mas quando atraca com os monstro
rebola e muda a voz."
(Mc Barriga, Sacode do litoral, letras.mus.br, 2014)


PEIXE (dinheiro, valores)
"Bolso esquerdo só tem peixe
O direito tá cheio de onça
Ai meu Deus, como é bom ser vida loka."
(Mc Rodolfinho, Como é bom ser vida loka, letras.mus.br, 2014)


"Estou com o bolso cheio de peixe
Eu sou da família 013
Adiciona a gente lá no face
Pra gente conversar."
(Mc Lon, Talento raro, letras.mus.br, 2014)


PACOTE (grande quantidade de dinheiro)
"De Christian Audigier no porte porque nossa firma é forte
Gosta de gastar o pacote e as novinha já quer dar o bote."
(Mc Rodolfinho, Segunda a segunda, letras.mus.br, 2014)


"Se tu forga nois forga em dobro
Nois só contar se for de pacote
Falaram que nois tá louco
Choveu cifrão no camarote."
(Mc Kelvinho, Os meninos do torro (parte 2), letras.mus.br, 2014)


FIRMA (máquina do tráfico, facção criminosa, gangue criminosa)
"A firma é rica, paga tudo no dinheiro, manda
Fechar o camarote e chama as mina pro puteiro."
(Mc Smith, A firma é rica, letras.mus.br, 2014)


"De Christian Audigier no porte porque nossa firma é forte
Gosta de gastar o pacote e as novinha já quer dar o bote."
(Mc Rodolfinho, Segunda a segunda, letras.mus.br, 2014)
"Eu passei de nave, ela me viu.
Desacreditada ela pensava que a firma caiu, tá a mil, tá a mil
E outro dia viu nota de 100, na beira da praia pilotando a nova 1100."
(Neguinho do Caxeta, A firma tá a mil, letras.mus.br, 2014)


CIFRÃO (dinheiro)
"Os menino é mais mais
Vem gatinha, vem pro baile funk
E ainda novinha atrás do cifrão."
(Mc Daleste, Red Bull e Whisky, letras.mus.br, 2014)


"É o bonde do cifrão, que conta de milhão em milhão
E se o papo for ostentação
Esses cara tá aqui não é por ocasião."
(Mc Kelvinho, Bonde do Cifrão, letras.mus.br, 2014)


"Crime sexo amor ilusão, à procura do milhão
Inimigos da miséria, os amantes do cifrão
Mó vagabundo montado na falcon
Cheio do torro chamando atenção."
(Mc Dimenor DR, Os amantes do cifrão, letras.mus.br, 2014)

1.3.2 Os estrangeirismos

Em geral, os linguistas não discordam do conceito de que uma língua
viva está em processo de constante transformação (movimento), sofrendo
mutações provenientes de ações tanto internas quanto externas de seu espaço
geográfico. Sabe-se, também, que nos dias de hoje, com o aprimoramento dos
meios de comunicação e globalização dos mercados (que intensificou, desta
forma, as relações comerciais e, por conseguinte, sociais entre os diversos
povos do planeta), tenha se tornado mais favorável um ambiente de
intercâmbio e interação entre os diversos idiomas do mundo. Também sabemos
que atualmente o poder de mercado fala mais alto que as influências
culturais de uma determinada nação. É fato que dado o poderio econômico de
nações como a Inglaterra e os Estados Unidos, o inglês tenha se firmado
como língua internacional para a comunicação global (especialmente no que
se refere às relações político-econômicas), desbancando o francês deste
posto desde que os Estados Unidos se firmaram como maior potência econômica
do mundo.
Algumas palavras, especialmente do inglês, já incorporadas no
linguajar popular pela sociedade em geral, são retomadas pelos funkeiros e
incluídas no seu repertório musical. São palavras que surgiram nos meios de
comunicação e por modismo se fixaram no léxico português:

NIGHT para designar balada, saída de lazer à noite.
"Na night ela desfila
Forgando com as amigas
De longe eu avistei
Ganhei, falei, isso que é vida."
(Mc Guimê, Isso que é vida, letras.mus.br, 2014)


"Na night, eu saio de patroa
Do lado do homem que tu sonha ter
Mas é comigo que ele encontra
Puro amor, verdadeiro prazer."
(Mc Pocahontas, Mulher do cara, letras.mus.br, 2014)


"Ela gosta de dinheiro, de andar de carro
Dar rolé na night nas custas do otário
Ela gosta de dinheiro, de mordomia
Fazer compras no shopping, só acorda meio-dia."
(Das Quebradas, Ela gosta de dinheiro, letras.mus.br, 2014)


LOOK para designar a aparência física.
"Ela não anda, ela desfila
Ela é top, capa de revista
É a mais, mais, arrasa no look
Tira foto no espelho pra postar no facebook."
(Mc Bola, Ela é top, letras.mus.br, 2014)


"Ela no rasante alucinante com nego blue
Mercedes importada e nota de cem da mesma cor
Como seus olhos azuis
Ei da dama de vermelho me amarrei nesse seu look."
(Mc Nego Blue, Rasante Alucinante, letras.mus.br, 2014)


TOP significa bom, de boa qualidade, assim como para designar que
alguém tem beleza, qualidades.
"Eu sou mina top
Tipo que eles adora
Na boca das recalcada eu sou famosa até umas hora."
(Mc Menorzinha, Mina top, letras.mus.br, 2014)


"Que essa mina ela é requisitada
Ela é a mais top da balada."
(Mc João, Mina responsa, letras.mus.br, 2014)


"É desse jeitin que é, seleciona as mais top
Tem 3 portas, 3 lugares pra 3 minas no Veloster."
(Mc Guimê, Plaque de 100, letras.mus.br, 2014)

Como se vê, a língua portuguesa do Brasil também não escapa das
influências desse mundo globalizado, onde a informação e a distribuição dos
produtos de mercado atravessam as fronteiras continentais e
intercontinentais num piscar de olhos. Os produtos mais cobiçados na China,
são os mesmos preferidos por americanos, brasileiros, indianos: celulares,
tablets, book-readers, carros, motos, bolsas, sapatos, roupas, bebidas,
etc. As multinacionais se espalharam pelo mundo e unificaram os povos numa
filosofia comum a todos: satisfazer os anseios de uma vida alinhada com o
capitalismo.
Toda esta gama de novos produtos invadindo os mercados dentro de uma
nação traz consigo, inevitavelmente, uma nova terminologia estrangeira que
para a propaganda exerce no consumidor um poder apelativo mais forte do que
se estivesse no seu próprio idioma. Parece que fomos habituados a não
estranhar esta nova nomenclatura, mas sim a dar-lhe maior valor que sua
correspondente traduzida. O que parece ser manha dos puristas da língua,
que combatem o uso de palavras estrangeiras, principalmente inglesas, no
idioma nacional, fato é que aos ouvidos dos falantes parece que um book-
reader, ou e-book, é melhor (senão "mais chique") que um mero "leitor de
livros". Adiante, seguem exemplos de palavras incorporadas no linguajar
cotidiano dos funkeiros que representam as marcas e modelos destes
produtos.
Realmente, esta ideia está intimamente ligada com os estrangeirismos
mais utilizados nos textos das músicas funk. É muito grande o número de
palavras estrangeiras que nomeiam marcas dos produtos que mais são
cobiçados pela população jovem capitalista que busca atingir um status
social a partir da posse destes produtos, com o intuito de se igualar às
classes sociais mais elevadas. A seguir uma lista de exemplos encontrados.
Vale destacar, que a maioria destes produtos está relacionada com artigos
do vestuário, modelos de automóveis e motocicletas, marcas de roupas e
perfumaria, bebidas, assim como modelos e nomes de artigos da indústria de
armas:

Marcas e modelos de automóveis e motocicletas
"De transporte nóis tá bem, de Hornet ou 1100
Kawasaky, tem Bandit, RR também."
(Mc Guimê, Plaque de 100, letras.mus.br, 2014)


"Ela gosta da Hornet
Gosta da Bandit
Kawasaki 1100
Chama que elas vêm."
(Mc Yoshi, Chama que elas vêm, letras.mus.br, 2014)


"Vamo imaginando nóis de Porsche ou de Mercedes Benz
De Captiva, de BMW ou de 1100."
(Mc Boy do Charmes, Nós de nave, letras.mus.br, 2014)


"Vem, pode chamar que ela vem
De Captiva ou Citroen, de Hornet ou de mil e cem."
(Mc Nego Blue, Pode chamar que ela vem, letras.mus.br, 2014)


"Elas são bandida intelectual
Estilo brasileiro, top nacional
Chega de Veloster, Capitiva, elas que banca
Cabelo bem pranchado, a prancha é californiana."
(Mc Dedé, As Mina do Camarote, letras.mus.br, 2014)


Marcas de peças do vestuário (roupas, calçados, etc.)
"No baile (HAHA) nóis porta o kit
Tem Hollister e Abercrombie Fitch."
(Mc Dedé, Rolê de Hayabusa, letras.mus.br, 2014)


"Elas perdeu quando o bonde atracou no baile
Tava mó chave, elas percebeu no traje
Um de Armany, outro de Oakley, Quicksilver
Até de Hollister, outro portando Ed Hardy,
eu trajando Lacoste."
(Mc Neguinho da Comporta, Elas perdeu, letras.mus.br, 2014)


"Polo de grife, Juliet no rosto
Nike Air Max no pé
O perfume é Hugo Boss
Que parece um ímã atraindo mulher
Relógio Rolex de ouro no pulso
O boné da Oakley virado pra trás."
(Mc Guimê, Nós é 24 horas, letras.mus.br, 2014)


Marcas de bebidas
"Gatinha você gosta mais
de Red Label ou Ice."
(Mc Sapão, Red Label ou Ice, letras.mus.br, 2014)


"E nas balada, camarote e área vip
Tem Absolut sem Whisky
Onde só cola a gerência
E pra todas novinha a gente dá uma condição."
(Mc Boy do Charmes, Dinheiro e ousadia, letras.mus.br, 2014)


"Confunde ficar afim com o que é solteira
Eu quero mais, traz a taça de Chandon para nós
Faz o que você quiser quando nós tamo a sós, paz."
(Mc Guimê, Na atividade, letras.mus.br, 2014)


Marcas e modelos de armas
"Junta os malote, monta na Hornet
juju no rosto e Glock na cintura."
(Mc Guimê, Especialista em fuga, letras.mus.br, 2014, letras.mus.br,
2014)


"Um vai de URU na frente escoltando o camburão
Tem mais dois na retaguarda mas tão de Glock na mão."
(Mc Cidinho e Doca, Rap das armas, letras.mus.br, 2014)


"Mas em horário de ataque
Nóis tá pesadão, tem Coleção de AK
Sniper igual do Counter Strike
Oposição que tá na mira
E se desacreditar PAPUM."
(Mc Guimê, Nós é 24 horas, letras.mus.br, 2014)


"E eu vou estar te esperando de AR, de Ruger, Meiota e AK
Sô do bonde que é conhecido de não abandonar
E é o bonde do Lins que bota bala pra voar."
(Mc Orelha, Eu vou estar, letras.mus.br, 2014)


















2 CONSIDERAÇOES FINAIS



A pesquisa tratou de apresentar uma breve análise da produção
linguística na linguagem do movimento da música funk no Brasil, que faz uso
da criatividade não só como recurso poético da linguagem, como também se
apresenta como expressão artística para registrar protestos, afirmar
valores, significados, etnias e condições sociais. Partindo do princípio de
que a linguagem tem uma função de exteriorização emocional, reconhece-se
nas composições da música funk uma forma de resistência à língua dita
culta, criando-se produções verbais baseadas nos ambientes e realidades
socioculturais onde se originam e se propagam. A eficácia discursiva dos
seus textos se explica quando se constata que cada contribuição linguística
inventada, em geral a partir da subjetividade de seus compositores, passa a
ser reconhecida e valorizada, assumindo um caráter agregador de indivíduos
com as mesmas referências espelhadas em seus gostos e aspirações.
Quando se propõe desenvolver uma análise com um caráter ilustrativo
maior que o investigativo, devem-se evitar situações que sugiram atitudes
de caráter linguístico-cultural imperialista, sabendo-se que vivemos numa
sociedade brasileira plural e democrática calcada em seu multiculturalismo,
onde sua língua, principalmente, tem a característica de um espelho
multifacetado de identidades e culturas. Obedecendo a este princípio,
procurou-se trabalhar com aqueles exemplos que têm maior ocorrência nas
músicas e maior aceitação entre os falantes. Uma vez adotados por grande
parcela da população, mesmo que isolada numa classe social, verifica-se sua
presença no linguajar cotidiano destas pessoas. E é neste "universo
funkeiro" que se verificam na atualidade modificações na estrutura e no
léxico do português do Brasil que, sem sombra de dúvidas, também têm grande
participação nos processos evolutivos da língua.










REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAMARA JUNIOR, Joaquim Mattoso. Princípios de Linguística Geral: como
introdução aos estudos superiores da língua portuguesa. 4. ed. rev. e aum.
Rio de Janeiro: Acadêmica, Livraria Acadêmica, 1964.

CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. 44.
ed. São Paulo: Companhia Editorial Nacional, 2001.

COUTINHO, Ismael da Lima. Gramática Histórica. 6. ed. rev. Rio de Janeiro:
Livraria Acadêmica, 1970.

CUNHA, Celso; CINTRA, Luís Filipe Lindley. Nova Gramática do Português
Contemporâneo. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1985.

DICIONÁRIO INFORMAL. Bonde. 2 de jul. 2009. Disponível em:
. Acesso em: 14 de fev. 2014.

DICIONÁRIO INFORMAL. Pente. 21 de fev. 2010. Disponível em:
. Acesso em: 10 de jan. 2014.

DUBOIS, Jean. et al. Dicionário de Linguística, São Paulo, Cultrix, 1978.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Aurélio: O dicionário da língua
portuguesa. Curitiba: Editora Positivo, 2007.

FERREIRA, Maria Apparecida S. de Camargo. Estrutura e Formação de Palavras.
12. ed. São Paulo: Atual, 1988.

LAPA, M. Rodrigues. Estilística da Língua Portuguesa. 6. ed. Rio de
Janeiro: Livraria Acadêmica, 1970.

letras.mus.br. Disponível em: .
Acesso em: 15 de jan. 2014.

SAID ALI, Manuel. Gramática Histórica da Língua Portuguesa. 3. ed. São
Paulo: Edições Melhoramentos, 1964.
Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.