A literatura cabo-verdeana e o olhar dos escritores

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UNIVERSITÉ RENNES 2 20-2 j oelobre 2000

( l-OOz.)

Maria Felisa RODRÍGUEZ PRADO Université de Santiago de Compostela ~ GaTice

A LITERATURA CABO-VERDEANA E O OLHAR DOS ESCRITORES

1. Ponto(s) de partida Quando se fala em comemorações de independência a respeito de Cabo Verde, pensando em política impõe-se o ano de 1975, associado ao acontecimento transcendente que foi a portuguesa Revolução cios Cravos. Tratando-se de literatura, hoje parece igualmente pacífica a aceitação do ano 1936, da revista Claridade e dos três impulsionadores como arautos de independência, tanto por pat1e dos escritores como da crítica e da instituição literária do arquipélago, mas também por pmie dos elementos cabo-verdeanos que no campo do poder passaram da posição de dominados à de dominantes, em vÍliude das mudanças acontecidas na metrópole e das suas lutas. Podemos observar, no entanto, se passearmos por tempos e por textos que precedem os actuais ou se sairmos dos espaços críticos centrais, 110S quais as vozes discordantes não encontram muito eco, que tão clara e alta afirmação de independência pode não aparecer e mesmo pode deixar de existir. a que aqui nos interessa é ler alguns dos escritores cabo-verdeanos não na qualidade de autores de textos considerados literários, senão como responsáveis por outros produtos culturais -não literários- cujo tema-objecto é o campo literário em/de Cabo Verde. Isto porque, debruçando-nos sobre certos ensaios de relativa dimensão, artigos mais ou menos extensos, breves reflexões críticas Oll depoimentos em entrevistas feitos por alguns dos produtores caboverdeanos, captamos olhares que, apesar de individuais, são significativos e reveladores de uma tomada de posição a respeito dessa realidade não apenas literária na qual se inserem e em que, não se limitando a observar, intervêm.

2. "Palavra de produtor" Seja qual for o lugar ou autor onde procuremos informações a respeito de literatura e Cabo Verde, encontraremos necessmiamente a referência ao facto de esta ter sido a primeira colónia portuguesa em África a "voar" com as suas próprias asas nesse campo, através das realizações da chamada geração dos c1aridosos; afirma-se, também, a permanência, tanto em termos de ideátio como de estética. da pegada da Claridade. A partir daqui. tentaremos reflectir algumas considerações tecidas por celtos produtores em forma de avaliação ou de análise do percurso literário, diversas e, por vezes, mesmo divergentes.

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Sistema literário: (in)existência?

o que podemos chamar debate ou ponto de inlerrogação sobre a (in)existência de uma literatura cabo-verdeana encontramo-lo entre produtores das ilhas na sequência de uma celta divulgação exterior -associada, no início, aos nomes de Osório de Oliveira e Augusto Casimiro - que conseguiu importante projecção na metrópole e ecoou no longínquo arquipélago, Assim, noS anoS cinquenta, figuras destacadas da produção do arquipélago situam-se face aos críticos metropolitanos que admitem a existência dessa literatura, apoiando-se nas suas características originais -temáticas, sobretudo o António Aurélio Gonçalves (1956:174-176) considera que se traIa de uma afirmação precipitada, tendo em vista a escassez da produção, enquanto Manuel Lopes (1959:4), nas Reflexões sobre a literatura cllbo-verdiana, intitula significativamente a primeira epígrafe "Da existência ou não existência de uma literatura" . Já anteriormente, na própria revista Claridade de Dezembro de 1949, na última página, junto com o anúncio da publicação dos Poemas de quem ficou de Manuel Lopes, lê-se o seguinte: Oportunamente (se o tão desoLadoramente desinteressado público do arquipélago permitir que esta revista tenha um mínimo de condições de vida e saúde) publicaremos um estudo em que será tratado o problema da existência, viabilidade e perspectivas de uma poesia

caboverdiana. Em todos os casos a questão que se coloca -em termos de "problema" e de necessidade de reflexão não precipitada- é a de uma nova e diferente (id)entidade: a cabo-verdeana, Claro que -pelo menos no ponto de pmtidadesenhada no interior do espaço literário português." Vejamos o Em 1955, na inauguração dos trabalhos do Centro de Cullura ele Cabo Verde, Anlónio Aurélio Gonçalves (1956:160) afirma que a cultura das suas ilhas "ê estruturalmente portuguesa" e, perante um público entre o qual se encontrava o então chefe de estado, apresenta Cabo Verde como "departamento da cultura portuguesa", Fá-lo realizando uma análise de grande visão do campo cultural no arquipélago, onde sublinha o adiamento do "labor intelectual" -que resulta em escassez da produção-, a carência de um nível desejável de "personalidades da mais alta envergadura" e, sobretudo, a inexistência de um público ilhéu e de instituições que funcionem como centros de atracção e de coordenação. Em certo modo Gonçalves refere, por outras palavras, alguns dos principais macrofactores que Even-Zohar (1990:31) estabelece na sua teoria polis sistémica: o produto, o produtor e o consumidor -que se completam com instituição, repertório e mercado. Contudo, falando erll Cabo Verde eles aparecem como insuficiência (os dois primeiros) ou como inexistência (o terceiro), ou seja, impossibilitando a afirmação de um sistema cultural -literário, portanlo- caboverdcano independente, e justificando que se reduza a "departamento" da cultura portuguesa.

De facto, focando os produtores 'd' Verde, Gonçalves (1956'176)0 I I e os consunu ores hterários em Cabo . (esen la, por um lado a rela - "outro, a identificação deles com as caluada S econonucamente '. < çao entre pares c, por " < fav ,'d E camadas reCCIJtivar;;" geralmellt d o d as, ssas , " < e eSlgna as como p"bl' < OleCl I' mUito limitadas no arquipélago' a . ( ,pmecem com um míni U ICO, ' 1a em' de serem " ' mo pape motivador para os produtores, também escassos~ . ' que Idlamente apresentam um elevado volume de produção3, Quanto ao repertório como conjunto de 1'e ' reconhecidos e reconhecíveis o b glas e, sobretudo, de materiais como ca o-verdeanos o ," (1956: 174) aponlapa falta de um elemenlo ln o dOlspensave , l', a tradlçao, p,~pnoconcluindo' Gonçalves

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